Você está na página 1de 4

ABORTO ANENCEFÁLICO

Comentários a Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal

RESUMO: O presente trabalho possui o escopo de discutir o entendimento


jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal no tocante ao Aborto Anencefálico face a
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54. Outrossim, as orientações
incorporadas ao logo do texto, trazem um respaldo, objetivando-se a explicação e
conceituação da temática.

INTRODUÇÃO

A priori, a Anencefalia segundo Saul Cypel e Aron Judka Diament, estudiosos da


área médica, corresponde “a malformação congênita decorrente do não fechamento do
neuróporo anterior, o qual deve se fechar no 26º dia de gestação; o período crítico varia
do 21º ao 26º dia”. (CYPEL, Saul e DIAMENT, Aron Judka. Neurologia Infantil. 3ª ed.
São Paulo: Atheneu, 1996, p. 745).
Nesse liame, a discussão em torno da interrupção voluntária de gravidez (aborto)
de feto, trouxe bastante repercussão no âmbito jurídico e levantou questionamentos éticos
na sociedade brasileira.
O ápice da polêmica decorre do fato de o aborto ser conduta criminalizada no
Brasil, conforme previsto nos artigos 124 e 126 do Código Penal. No entanto, em duas
hipóteses a lei admite a sua realização, afastando a ilicitude do crime praticado: gestação
que apresente risco de vida para a gestante e gravidez resultante de estupro.
Destarte, a o aborto anencefálico surgiu como uma nova modalidade onde não
existe ilicitude, nesse viés diversas decisões judiciais foram proferidas em todo o país,
assim, o Supremo Tribunal Federal manifestou-se sobre o caso em tela, vejamos ao logo
do texto seu entendimento voto a voto.

DISCUSSÕES

A Arguição de Descumprimento de Preceito fundamental – ADPF nº 54 foi


proposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, cuja atuação foi
representada por Luís Roberto Barroso e que sustentou, em resumo, as seguintes
alegações:

1. A hipótese em julgamento não configura aborto, que pressupõe potencialidade de vida


do feto. A interrupção da gravidez de feto anencéfalo não configura hipótese prevista
no artigo 124 do Código Penal;
2. O sistema jurídico pátrio não define o início da vida, mas fixa o fim da vida (com a
morte encefálica, nos termos da Lei de Transplante de Órgãos). Na hipótese em
julgamento não haveria vida e, portanto, não haveria aborto;
3. As normas do Código Penal que criminalizam o aborto são excepcionadas pela
aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1º da Constituição).

Assim, o STF, por maioria de votos (8x2), julgou procedente o pedido veiculado
na ADPF 54. Em resumo, foram utilizados os seguintes fundamentos:

 Ministro Marco Aurélio (Relator): O feto anencéfalo é incompatível com a vida


e por isso não é proporcional defender o feto – que não vai sobreviver – e deixar
sem proteção à saúde da mulher – principalmente a mental;
 Ministra Rosa Weber: Deve-se proteger a liberdade individual e de opção da
gestante, pois não há interesse jurídico na defesa de um feto natimorto;
 Ministro Luiz Fux: O Código Penal é da década de 1940 e na época não era
possível prever e identificar um feto anencéfalo. Atualmente, trata-se de uma
questão de saúde pública que deve ser respeitada em prol da mulher.
 Ministra Cármen Lúcia: Considerando que o feto não tem viabilidade fora do
útero, deve-se proteger a mulher, que fica traumatizada com o insucesso da
gestação.
 Ministro Ayres Britto: Afirmou que todo aborto é uma interrupção da gestação,
mas nem toda interrupção de gestação é um aborto, de modo que não se pode
impor à mulher o martírio de gestar um feto anencéfalo.
 Ministro Gilmar Mendes: A interrupção da gestação, no caso, tem por finalidade
proteger a saúde da gestante e o legislador do Código Penal não possuía elementos
para a identificação da anencefalia na gestação.
 Ministro Lewandowski: Votou pela improcedência do pedido, entendendo que
o STF não possui legitimidade para deliberar sobre o caso, apenas o Congresso
Nacional, por meio de lei.
 Ministro Joaquim Barbosa: Acompanhou o voto do relator.
 Ministro Celso de Mello: Não se trata do aborto previsto no Código Penal, pois
o feto sem cérebro não está vivo e sua morte não tem por origem alguma prática
abortiva.
 Ministro Cezar Peluso: Votou pela improcedência do pedido, afirmando que o
feto anencéfalo é um ser vivo e, por conseguinte, a interrupção da gestação
caracteriza o aborto.
 Ministro Dias Toffoli: Não participou do julgamento, pois atuara na condição de
Advogado-Geral da União.
RESULTADOS

I – A dignidade da pessoa humana da gestante:


 Análise dos argumentos fornecidos pela CNTS;
 Sob o olhar da bioética.

II – A proteção do direito à vida do feto:


 Proteção à vida e à dignidade da pessoa humana;
 Democracia: A participação social em audiência pública.

CONCLUSÃO

Considerando todas as questões inseridas no texto do presente trabalho, verificou-


se que o entendimento do Supremo Tribunal Federal em descriminalizar o aborto
anencefálico, sustenta-se nos fundamentos da medicina, uma vez que considera o feto
anencéfalo um natimorto cerebral.
Outrossim, é valido ressaltar a laicidade e o desprendimento religioso do Estado
Democrático de Direito, nesse liame a preservação da dignidade da pessoa humana da
gestante e a proteção a sua saúde física e emocional surge, também, como base
motivadora do julgamento favorável a descriminalização do aborto anencefálico.
Por fim, a decisão tomada nos autos da Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental nº 54, contribui significativamente para as discussões sobre o aborto e suas
modalidades, assim, iniciando uma nova corrente de precedentes e fundamentos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição Federal, artigo 5°, inciso LIV, 1988.

BECKER MA. Anencéfalo: um natimorto cerebral. In: Anis: Instituto de Bioética,


Direitos Humanos e Gênero. Anencefalia: o pensamento brasileiro em sua pluralidade.
Brasília: Anis: Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, 2004.

CYPEL, Saul e DIAMENT, Aron Judka. Neurologia Infantil. 3ª ed. São Paulo: Atheneu,
1996.

Você também pode gostar