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Universidade Católica de Pernambuco

Unicap

Resenha: voto e decisão da Arguição de Descumprimento de


Preceito Fundamental 54 Distrito Federal

Aluna: Amanda Nunes Silva

Direito Constitucional II

Prof. º: Carlos Jair Jardim

Sala: 209 – manhã

Março -2018

Recife – PE
Título da Resenha: Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental 54 Distrito Federal

Referência: Voto e Decisão da Arguição de Descumprimento de


Preceito Fundamental 54 Distrito Federal

Autor: Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, magistrado brasileiro


e ministro do Supremo Tribunal Federal desde 1990, tendo sido
nomeado pelo então presidente da República Fernando Collor de
Mello.

A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 54,


votada em 2012, e relatada pelo ministro Marco Aurélio, tem por
objetivo a declaração de inconstitucionalidade dos artigos 124,126 e
128, incisos I e II, do Código Penal, que impedem a antecipação
terapêutica do parto na hipótese de gravidez de feto anencéfalo,
previamente diagnosticada por profissional habilitado.

O relator afirma durante o seu voto que, em 2005, juízes e


tribunais de justiça formalizaram cerca de três mil autorizações para
a interrupção gestacional em razão da incompatibilidade do feto
com a vida extrauterina. Diante desse número de autorizações por
ano, o Brasil é o quarto país no mundo em casos de fetos
anencéfalos, uma quantidade alarmante e penosa.

Com a ADPF busca-se tão somente que a situação referida seja


interpretada conforme a constituição e os direitos fundamentais que
estão em choque diante da confusão entre parto terapêutico de feto
anencéfalo e o aborto. Nessa situação o Supremo não examinará a
descriminalização do aborto, tipificado nos artigos 124,126 e 128
como crime contra a vida humana, mas a antecipação terapêutica
do parto em caso de feto anencéfalo, a fim de preservar a
dignidade, o usufruto da vida, a liberdade, a autodeterminação, a
saúde e o reconhecimento pleno de direitos individuais intrínsecos a
mulher.
O ministro ainda reintera que a tipificação penal da interrupção da
gravidez do feto anencéfalo está em dissonância com a
constituição, notadamente com os preceitos que garantem o Estado
laico e com todas as garantias individuais presentes no artigo 5º e
seus incisos. A formalidade do Estado laico presente na
Constituição brasileira não desligou a noção de “Nação Católica”
impregnada no povo brasileiro advindo de um colonizador que
disseminou o catolicismo no país como forma de salvação
mascarada de exploração e conservadorismo. Porém, o Estado é
laico e há uma separação entre Estado e Religião que determinam
que os dogmas da fé não estabeleçam o conteúdo de atos estatais,
ou seja, o direito não se submeterá a religião.

A anencefalia, segundo o relator, é uma anomalia que consiste na


malformação do tubo neural, caracterizando-se pela ausência do
encéfalo e do crânio, resultante de defeito no fechamento do tubo
neural durante a formação embrionária. A ausência desses
elementos determina a anencefalia, diante do fato que, não haverá
atividade cortical no feto anencéfalo, faltarão não somente os
fenômenos da vida psíquica, mas também a sensibilidade, a
mobilidade e a integração de quase todas as funções corpóreas,
semelhante a um morto cerebral.

Essa malformação configura doença congênita letal, pois não há


possibilidade de desenvolvimento da massa encefálica em
momento posterior, inexistirá presunção de vida extrauterina. Diante
disso, não haverá direito a vida, questionado pelos votos contrários
à ADPF. O feto não terá vida extrauterina impossibilitando a
imputação dos direitos e garantias do individuo – pessoa que se faz
destinatário dos direitos fundamentais.

O ministro Marco Aurélio também afirma que não há caráter


absoluto do direito a vida, diante do artigo 5º, inciso XLVII, que
admite a pena de morte em caso de guerra declarada. E
fundamenta que o Código Penal exclui ilicitude ou antijuricidade em
caso de aborto ético ou humanitário, ressaltando que os direitos da
mulher não podem ser ignorados e que a saúde ( mental e física), a
dignidade, a liberdade, a autonomia e a privacidade devem ser
garantidos. Ao Estado competirá apenas o dever de informar e
prestar apoio médico e psicológico à paciente e à família, antes e
depois da decisão.

Então, assim relatado pelo ministro Marco Aurélio, “... Compete ao


STF assegurar o exercício pleno da liberdade de escolha situada na
esfera privada, em resguardo à vida e à saúde total da gestante, de
forma a aliviá-la de sofrimento maior, porque evitável e infrutífero.”.

E enfim, “...Ante o exposto, julgo procedente o pedido formulado


da inicial, para declarar a inconstitucionalidade da interpretação
segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é
conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do
Código Penal brasileiro.”.

A votação a favor da declaração de inconstitucionalidade da


interpretação dos artigos do Código Penal que tipificavam a
interrupção da gravidez de feto anencéfalo foi uma decisão histórica
e revolucionária diante da visão conservadora que está impetrada,
inclusive nos códigos. Essa decisão mostra o cenário ativista
político-judicial do Supremo Tribunal Federal em um Estado
Democrático a fim de atender melhor as demandas e os anseios da
sociedade de forma mais efetiva, mesmo que em longo prazo.

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