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ADPF 54

ABORTO DO FETO ANÉNCEFALO


1) Conceito de feto anencéfalo
2) Tipificação geral do aborto no Código Penal
3) Histórico/evolução da lei e jurisprudência
4) Posicionamento do Supremo Tribunal Federal
5) Argumentos jurídicos favoráveis e contrários
6) Panorama internacional da (des)criminalização
7) Referências Bibligráficas
CONCEITO DE FETO ANÉNCEFALO
O feto anencéfalo/anencefálico é o que possui
malformação do tubo neural, a qual se caracteriza
pela ausência total ou parcial do encéfalo e do
crânio, resultante de defeito no fechamento do tubo
neural durante a formação embrionária (já nas
primeiras 4 semanas de gestãção).

Em outras palavras, o anencéfalo seria um morto


cerebral, com batimento cardíaco e respiração.
TIPIFICAÇÃO DO ABORTO NO CP
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho
provoque: (Vide ADPF 54)
Pena - detenção, de um a três anos.

[...]

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante
legal.
HISTÓRICO/EVOLUÇÃO
DA LEI E JURISPRUDÊNCIA
 Regulação principal do aborto pelo Código Penal (1940);
 Ausência de previsão legal até hoje acerca da
possibilidade de aborto no caso de feto anencéfalo;
 Até o julgamento da ADPF 54 pelo STF, prevalecia a
completa ausência de qualquer proteção jurídica para
tutelar o aborto nessa hipótese;
 Discussão acerca da compatibilidade do Código Penal
com a CF/88 fora dos limites estreitos da ADI 
julgamento da ADPF.
POSICIONAMENTO DO STF
JULGAMENTO DA ADPF 54, DE 13 DE ABRIL DE 2012
RELATOR: MINISTRO MARCO AURÉLIO MELLO

O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou


procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da interpretação
segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta
tipificada nos artigos 124, 126, 128, incisos I e II, todos do Código Penal,
contra os votos dos Senhores Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello
que, julgando-a procedente, acrescentavam condições de diagnóstico de
anencefalia especificadas pelo Ministro Celso de Mello; e contra os votos
dos Senhores Ministros Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso (Presidente),
que a julgavam improcedente. Ausentes, justificadamente, os Senhores
Ministros Joaquim Barbosa e Dias Toffoli. Plenário, 12.04.2012.
POSICIONAMENTO DO STF
A TÍTULO DE CURIOSIDADE
VOTARAM FAVORAVELMENTE À VOTARAM CONTRA A
DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO
DE FETO ANENCÉFALO DE FETO ANENCÉFALO
Min. Marco Aurélio Mello (relator)
Min. Joaquim Barbosa
Min. Luis Fux
Min. Ayres Brito Min. Ricardo Lewandowski
Min. Gilmar Mendes Min. Cezar Peluso
Min. Celso de Mello
Min. Rosa Weber
Min. Carmem Lúcia
O ministro Dias Toffoli não participou do julgamento por julgar-se impedido, considerando que, na
época em que era Advogado-Geral da União, atuou na elaboração do parecer da AGU em favor da ADPF.
POSICIONAMENTO DO STF
EFEITO PRÁTICO
A decisão do Supremo Tribunal tornou desnecessária
a autorização judicial para o aborto (interrupção
terapêutica) no caso de fetos anencéfalos.

Reconhece-se, nestes casos, o direito de escolha da


gestante, que poderá optar em realizar o
abortamento ou não, sendo necessário apenas laudo
médico simples autorizando.
ARGUMENTOS JURÍDICOS
FETO NATIMORTO

O feto anencefálico é considerado morto, tanto pela


legislação quanto pela medicina e não há que se falar na
ofensa do Principio da Dignidade Humana do feto.

Segundo Marco Aurélio, a interrupção da gestação do feto


anencéfalo NÃO consubstancia aborto eugênico:

"O anencéfalo é um natimorto. Não há vida em potencial.


Logo não se pode cogitar de aborto eugênico, o qual
pressupõe a vida extrauterina de seres que discrepem de
padrões imoralmente eleitos."
ARGUMENTOS JURÍDICOS
DIREITO À VIDA

"Aborto é crime contra a vida. Tutela-se a vida em


potencial. No caso do anencéfalo, não existe vida
possível. O feto anencéfalo é biologicamente vivo,
por ser formado por células vivas, e juridicamente
morto, não gozando de proteção estatal“
(Marco Aurélio Mello)
ARGUMENTOS JURÍDICOS
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

“Não se coaduna com o princípio da proporcionalidade


proteger apenas um dos seres da relação, privilegiar aquele
que, no caso da anencefalia, não tem sequer expectativa de
vida extrauterina, aniquilando, em contrapartida, os direitos
da mulher, impingindo-lhe sacrifício desarrazoado. A
imposição estatal da manutenção da gravidez cujo resultado
final será irremediavelmente a morte do feto vai de encontro
aos princípios basilares do sistema constitucional, mais
precisamente à dignidade da pessoa humana, à liberdade, à
autodeterminação, à saúde, ao direito de privacidade, ao
reconhecimento pleno dos direitos sexuais e reprodutivos de
milhares de mulheres”
(Marco Aurélio Mello)
ARGUMENTOS JURÍDICOS
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

“A mulher, portanto, deve ser tratada como um fim em si


mesma, e não, sob uma perspectiva utilitarista, como
instrumento para geração de órgãos e posterior doação".
(Marco Aurélio Mello)

Não se pode obrigar, com fundamento na solidariedade, a


manutenção de uma gravidez apenas para viabilizar a
doação de órgãos, sob pena de "coisificar a mulher e
ferir, a mais não poder, a sua dignidade". O relator ainda
destacou a impossibilidade de se aproveitar os órgãos de
um feto anencéfalo.
ARGUMENTOS JURÍDICOS
SAÚDE FÍSICA E PSÍQUICA

“O ato de obrigar a mulher a manter a gestação,


colocando-a em uma espécie de cárcere privado
dentro do próprio corpo, desprovida do mínimo
essencial de autodeterminação e liberdade,
assemelha-se à tortura ou a um sacrifício que não
pode ser pedido a qualquer pessoa ou dela exigido”
(Marco Aurélio Mello)
ARGUMENTOS JURÍDICOS
DIREITO DE ESCOLHA

"Está em jogo o direito da mulher de autodeterminar-se, de


escolher, de agir de acordo com a própria vontade num caso de
absoluta inviabilidade de vida extrauterina. Estão em jogo, em
última análise, a privacidade, a autonomia e a dignidade humana
dessas mulheres. Hão de ser respeitadas tanto as que optem por
prosseguir com a gravidez - por sentirem-se mais felizes assim ou por
qualquer outro motivo que não nos cumpre perquirir - quanto as que
prefiram interromper a gravidez, para por fim ou, ao menos,
minimizar um estado de sofrimento.“
(Marco Aurélio Mello)
ARGUMENTOS JURÍDICOS
DIREITO DE ESCOLHA

"Está em jogo o direito da mulher de autodeterminar-se, de


escolher, de agir de acordo com a própria vontade num caso de
absoluta inviabilidade de vida extrauterina. Estão em jogo, em
última análise, a privacidade, a autonomia e a dignidade humana
dessas mulheres. Hão de ser respeitadas tanto as que optem por
prosseguir com a gravidez - por sentirem-se mais felizes assim ou por
qualquer outro motivo que não nos cumpre perquirir - quanto as que
prefiram interromper a gravidez, para por fim ou, ao menos,
minimizar um estado de sofrimento.“
(Marco Aurélio Mello)
ARGUMENTOS JURÍDICOS
VOTO DO MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI

 Aspecto processual: Destaque para os elementos


objetivos do controle de constitucionalidade. Para o
ministro, o STF só pode exercer o papel de legislador
negativo. Nesse aspecto, ele entendeu que o Congresso
Nacional, se assim o desejasse, poderia ter alterado a
legislação para incluir os anencéfalos nos casos em que
o aborto não é criminalizado, o que não foi feito. O
ministro assinalou que o tema é extremamente
controvertido e ambos os lados defendem suas posições
com base na dignidade da pessoa humana.
ARGUMENTOS JURÍDICOS
VOTO DO MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI

O segundo aspecto analisado pelo Ministro foi o da


possibilidade de uma decisão favorável ao aborto de
fetos anencéfalos tornar lícita a interrupção da gestação
de embriões com diversas outras patologias que
resultem em pouca ou nenhuma perspectiva de vida
extrauterina.
Para o Ministro, uma decisão judicial isentando de
sanção o aborto de fetos portadores de anencefalia, ao
arrepio da legislação penal vigente, abriria a
possibilidade de interrupção da gestação de inúmeros
outros casos.
ARGUMENTOS JURÍDICOS
VOTO DO MINISTRO CEZAR PELUSO

Segundo o Ministro, o anencéfalo morre e ele só pode morrer


porque está vivo (crença na possibilidade de sobrevivência
extrauterina).
O ministro defende a análise da questão “cautela redobrada”, diante
da imprecisão do conceito, das dificuldades do diagnóstico e dos
dissensos em torno da matéria.
Para o ministro, os apelos para a liberdade e autonomia pessoais
“atentam contra a própria ideia de um mundo diverso e plural”. A
discriminação que reduz o feto “à condição de lixo”, a seu ver, “em
nada difere do racismo, do sexismo e do especismo”. Todos esses
casos retratam, de acordo com o voto, “a absurda defesa e
absolvição da superioridade de alguns sobre outros”.
ARGUMENTOS JURÍDICOS
VOTO DO MINISTRO CEZAR PELUSO

No mesmo sentido que o Ministro Ricardo Lewandowski,


o Ministro Cezar Peluzo entende (aspecto processual) que
não cabe ao STF atuar como legislador positivo e que o
Legislativo não incluiu o caso dos anencéfalos nas
hipóteses que, no art. 124 do Código Penal, autorizam o
aborto.
PANORAMA INTERNACIONAL
 3 em cada 10 gestações
 45% de abortos inseguros
 97% em países em desenvolvimento
 13,2% dos óbitos femininos
 30 em casa 100 mil
 220 em cada 100 mil
PANORAMA INTERNACIONAL

 Totalmente proibido
 Para Salvar a Vida da Mulher
 Para preservar a saúde da mulher
 Motivos sociais ou econômicos
 Sob solicitação da mulher
PANORAMA INTERNACIONAL
• América Latina
• Salvar Vida x
Preservação da
Saúde Integral
• 44 a cada 1.000
mulheres
• 06 Países – Aborto
Legal
• 04 Países –
Totalmente Proibido
• El Salvador –
Homicídio Agravado
PANORAMA INTERNACIONAL
• Dados Pesquisa Nacional do Aborto – 2016
• 1 para cada 5 mulheres – 40 anos
• Ministério da Saúde – 04 mulheres/dia
• Acesso ao Atendimento
• Barreiras Processuais – Caso HC 220431

https://www.youtube.com/watch?v=2XKxHbR2a8s
PANORAMA INTERNACIONAL
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 Centro de Direitos Reprodutivos, c 1992 – 2022. Disponível em:
<https://reproductiverights.org/>. Acesso em: 19 out 2022.

 Dizer o Direito. Decisão do STF na ADPF 54: não existe crime de aborto de fetos
anencéfalos. 2012. Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2012/04/decisao-
do-stf-na-adpf-54-nao-existe.html. Acesso em: 20 out 2022.

 FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Salvador, BA:


JusPodivm, 2017, 9ª ed.

 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado (Coleção Esquematizado). São


Paulo, SP: Saraiva, 2017, 21ª ed.

 MIGALHAS. Marco Aurélio Mello: Decisão histórica do STF permite aborto de feto
anencéfalo. 2015. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/quentes/221398/marco-aurelio-mello--decisao-historica-
do-stf-permite-aborto-de-feto-anencefalo. Acesso em: 20 out 2022.

 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. São Paulo, SP: SaraivaJur, 2022,
20ª ed.
Obrigado!
Isaque Samuel
Lauriene de Albuquerque
Pedro Henrique
Taís Portugal
Yasmin Farias

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