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1.1. Introdução
A secagem está entre as operações mais usuais na indústria química. Em uma boa parte
das situações é o último processamento do produto antes de sua classificação e embalagem.
A qualidade do produto seco, a quantidade de energia gasta e o tempo utilizado neste
processo são parâmetros primordiais para a rentabilidade do bem submetido a esta operação.
Os fenômenos de transferência de calor, remoção de umidade e alterações de dimensões,
cor, sabor, resistência mecânica e outros, envolvidos em uma operação de secagem são
complexos.
Por outro lado, a diversidade de tipos de secadores oferecidos no mercado coloca o
gerente industrial freqüentemente questionando se o seu secador ou aquele que pretende adquirir
seria o mais adequado para o seu processo.
Este texto faz uma revisão dos aspectos fundamentais envolvidos no fenômeno de
secagem e nos secadores sem a pretensão de ser exaustivo.
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A fase gasosa chamada de meio de seca deve ser insaturada para que possa receber a
umidade como vapor.
O mecanismo de vaporização térmica para a remoção da umidade distingue a secagem
dos processos de filtração e centrifugação.
A umidade mais comum é a água e o sistema comumente encontrado é o de um sólido
úmido exposto ao ar em uma certa temperatura e umidade.
Define-se umidade de um sólido na base úmida (Ww) como o quociente entre a massa de
umidade (Ma) e a massa do sólido úmido (Md+Ma):
Ma
Ww = (2)
Ma + Md
Ww pode ser expresso por exemplo em kg de água por kg de sólido úmido.
A transformação da umidade de uma base para outra pode ser obtida pelas seguintes
expressões e pela Figura 1.1:
Wd
Ww = (3)
1 + Wd
Ww
Wd = (4)
1 − Ww
2
Umidade - Base úmida (% ) 100
80
60
40
20
0
0 100 200 300 400 500 600
Umidade - Base seca (% )
Nestas condições, a regra das fases de Gibbs nos mostra que a Variância do fenômeno de
secagem é 3. Portando, fixada a pressão, a temperatura e a umidade relativa do ar, todas as
demais propriedades do sistema estarão determinadas, inclusive a umidade que o sólido
apresentará nesta condição de equilíbrio.
O conhecimento da umidade de equilíbrio tem uma importância prática muito grande.
Como exemplo imagine que o sólido em processamento deixe o secador com uma umidade
abaixo da umidade de equilíbrio do recinto em que será armazenado. Durante sua permanência
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no estoque ele iria incorporar água até atingir o valor da umidade de equilíbrio para as condições
do ar de armazenagem. Neste caso, teríamos gasto no secador mais energia e tempo de
permanência do que o necessário, o que só aumentaria os custos além de reduzir a capacidade de
produção.
A umidade de equilíbrio é a umidade limite a que um sólido pode ser seco para uma
determinada condição de temperatura e umidade do ar.
Mantida a temperatura do sistema e variando-se a umidade relativa do ar de seca (existem
câmaras próprias para este experimento) obter-se-ão valores diferentes para a umidade de
equilíbrio. O conjunto dos pontos de umidades de equilíbrio em diferentes umidades relativas do
ar é denominado isóterma de equilíbrio.
A Figura 1.2 representa uma isóterma de equilíbrio e dela pode-se aprender uma série de
conceitos fundamentais.
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Inicialmente, à medida que for perdendo água, a sua umidade vai se aproximando daquela
do ponto B. Neste trecho AB, a umidade exerce uma pressão de vapor igual àquela da água pura.
A vaporização ocorre como se o sólido não existisse mas sim um corpo apenas formado por
água.
Esta umidade é denominada Água Não-Ligada e exerce uma pressão de vapor igual
àquela da água pura.
No ponto B a umidade é igual àquela de equilíbrio do sólido com ar saturado e é a menor
umidade que o sólido pode conter exercendo uma pressão de vapor igual àquela da água pura.
Abaixo do ponto B e até o ponto D, a umidade exerce diferentes pressões de vapor, todas
menores do que a pressão de vapor da água pura para a temperatura do sistema.
Esta umidade no trecho BD é denominada de Água-Ligada e exerce uma pressão de
vapor menor do que aquela da água pura.
Uma água torna-se ligada por diferentes motivos dependendo do material: ficar retida em
pequenos capilares sujeitos a fortes efeitos de tensão superficial; ser constituinte de uma solução
celular ou compor uma solução homogênea através de todo o sólido; pertencer a uma parede
fibrosa, etc.
Como sabemos o processo mostrado na Figura 1.2 se detém no ponto C, umidade de
equilíbrio para a condição considerada. A umidade que podemos retirar do sólido na condição
apresentada é denominada de Umidade Livre (W) e pode ser composta por água não-ligada e
água ligada.
W = Wd − Wde (6)
Fica evidenciada portanto a importância de se definir no processo de secagem quais são
os limites de umidade em que o material seca. Se o ponto final da secagem puder se dar com o
sólido ainda contendo apenas água não ligada esta secagem usará menos tempo do que outra que
embora venha retirar a mesma quantidade de água se processa em uma faixa de umidade com
água ligada.
A Figura 1.3 mostra a curva de umidade de equilíbrio para diversos materiais.
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g água/
100 g sol
seco
I- Gel de sílica
II- Couro curtido a crômio
III- Lã fiada
IV- Alumina ativada
V- Viscose
VI- Tecido de algodão
VII- Polpa de sulfito, recente,
sem branqueio
VIII- Papel gomado
IX- Seda de acetato de celulose
X- Caolino (Flórida)
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1.5. Secagem sob condições constantes do meio de seca
Até o momento foram elaborados conceitos e tiradas algumas conclusões relativas a um
sistema composto por um sólido úmido em equilíbrio com um meio de seca em temperatura e
umidade determinados.
Para que a secagem ocorra, este sistema evidentemente não pode estar em equilíbrio. É
necessário que o meio de seca esteja a uma temperatura superior àquela do sólido úmido
permitindo que exista um fluxo de calor para o mesmo que possibilitará a vaporização da
umidade.
Ao observarmos a operação da maioria dos secadores, percebe-se que a temperatura e a
umidade do ar de secagem variam no interior do secador. Todavia é muito esclarecedor observar
o fenômeno de secagem sob condições em que o sólido úmido fica sujeito a um ar com
temperatura e umidade invariáveis com o tempo. Esta situação é denominada secagem sob
condições constantes do meio de seca. O estudo desta situação é possível de ser realizado em
escala de laboratório e fornece conhecimentos fundamentais para a compreensão do fenômeno
de secagem.
A Figura 1.4 mostra um esquema representativo das condições deste estudo em
laboratório.
Ar
V
T A
Wr
SÓLIDO ÚMIDO
No esquema apresentado na Figura 1.4, existe um sólido úmido exposto a uma corrente
de ar com temperatura T e umidade relativa Wr que escoa em torno do sólido com uma
velocidade V. O sólido pode receber calor e perder umidade pela face superior com área A, as
faces laterais e a inferior estão isoladas.
Este experimento se inicia com o sólido na temperatura ambiente e com umidade livre
inicial W1. A partir do instante de início do experimento, mede-se a umidade livre do sólido em
diferentes instantes subseqüentes de maneira a se obter na forma de uma tabela ou gráfico a
função mostrada na Figura 1.5
W = f (t) (7)
7
W
t
Figura 1.5: Umidade do sólido em função do tempo em um processo de secagem sob condições
constantes do meio de seca.
Define-se Velocidade de Secagem (N) para um sólido de massa Md na base seca, com
uma área A exposta ao meio de seca, como o fluxo de massa de umidade que deixa o sólido por
unidade de área e por unidade de tempo.
Matematicamente a Velocidade de Secagem (N) pode ser representada pela expressão:
Md dW
N=− (8)
A dt
A velocidade de secagem N pode ser medida por exemplo em [kg de água/(m2h)].
A velocidade de secagem varia no decorrer do tempo e as conclusões destes experimentos
são usualmente representadas exprimindo-se a velocidade de secagem em função não do tempo
mas da umidade W que o sólido apresentava naquele instante.
As Figuras 1.6, 1.7 e 1.8 apresentam curvas típicas de velocidade de secagem em função
da umidade livre do sólido.
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N
B A
Figura 1.6: Curva típica de velocidade de secagem para um sólido Higroscópico Não-Poroso.
B A
Figura 1.7: Curva típica de velocidade de secagem para um sólido Não-Higroscópico Poroso
B A
Figura 1.8: Curva típica de velocidade de secagem para um sólido Higroscópico Poroso.
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Durante este período, o sólido está com uma umidade tal que um filme de água existe
sobre toda a superfície de secagem e esta água atua como se o sólido não estivesse presente.
A velocidade de secagem nesta situação é totalmente controlada pelas condições
externas. Aumentos na temperatura do ar ou em sua velocidade conduzem a um correspondente
aumento na velocidade de secagem. A temperatura do sólido aproxima-se da temperatura de
bulbo úmido do ar de secagem se não houver troca de calor por radiação ou condução por
contato direto.
O valor de umidade que marca o final do período de velocidade de seca constante é
denominado de Umidade Crítica.
Este ponto assinala a situação em que a água superficial é insuficiente para manter um
filme contínuo cobrindo a área de seca.
A umidade crítica não deve ser confundida com o valor de umidade de equilíbrio para o
sólido em contato com um ar saturado, pois ocorre em situação de não equilíbrio e depende
inclusive das condições de secagem não sendo uma propriedade do material.
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W2
Md dW
t 2 − t1 = − ∫ N
A W1
(9)
Esta expressão pode ser integrada graficamente sendo que para alguns casos existem
expressões analíticas.
B A
W
W2 WC W1
Figura 1.9 Curva da velocidade de secagem para um sólido higroscópico não poroso
poder-se-ia construir a Fig. 1.10, onde a área A abaixo da curva assinalada é numericamente
igual à integral da Eq. (9):
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1/N
W2
dW
A= ∫
W1
N
W2 WC W1 W
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