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1.

Controle de combustível

Os combustíveis podem ser, genericamente, classificados como gasosos, líquidos ou sólidos,

Para que se tenha uma queima adequada, deverá haver um manuseio cuidadoso do combustível. A
forma de manusear o combustível ira variar, principalmente, em função do estado físico deste
combustível, ou seja, se o combustível é solido, liquido ou gasoso.

Um combustível é definido como sendo gasoso, liquido ou solido em função da razão de seus dois
ingredientes químicos primários, ou seja, carbono e hidrogénio. Gás natural tem razão H/C maior
que 0,3, óleo combustível tem razão H/C maior que 0,1 e o carvão tem razão H/C menor que 0.07.
como o peso molecular do carbono é aproximadamente seis vezes maior que o do hidrogénio, um
decimo na razão H/C significa um aumento na densidade do combustível. (BEGA 2003)

A função principal do controle de combustível é fornecer ar e combustível aos queimadores numa


taxa apropriada para satisfazer a demanda da combustão de modo que o processo seja realizado de
forma eficiente e segura. (FERREIRA /2008)

Um fornecimento insuficiente de ar provoca baixo rendimento no processo devido a uma


combustão incompleta dos combustíveis e pode ocasionar ainda um acumulo de combustível que
pode ocasionar explosões internas na caldeira. Excesso de ar desperdiça combustível, pois
ocasiona maior troca de calor na caldeira promovendo a necessidade de utilização de maior
quantidade de combustível. Entretanto, o sistema de controle de combustão deve operar com um
pequeno excesso ar para garantir a combustão completa e minimizar a formação de monóxido de
carbono.

Três métodos de controle são apresentados nesta seção: controle com ponto único de
posicionamento, controle com posicionamento paralelo, controle por medição completa em
conjunto com controle por limite cruzado.

1.2.Controle com Ponto Único de Posicionamento

É a técnica mais simples que pode ser aplicada ao controle de caldeiras. É usualmente utilizada em
caldeiras com poucas tubulações de água. A figura 1 mostra o esquema de controle com
realimentação utilizado.
Figura 1 Controle com ponto único de posicionamento (FERREIRA /2008)

O Controle com ponto único de posicionamento utiliza um acoplamento mecânico para manipular
a válvula de controle de combustível e o damper de ar de combustão numa relação pré-fixada. O
alinhamento entre a válvula de controle de combustível e o damper de ar de combustão é critico
neste tipo de controle. Devido às diferentes características de vazão apresentadas pela válvula de
controle dos combustíveis e pelo damper de ar de alimentação é necessária a linearização destas
características de vazão. Tipicamente as características de vazão de ar são linearizadas primeiro, e
a característica de vazão de combustível é linearizada depois para se adequar aos valores de vazão
de ar. Depois de adequadamente alinhados, as percentagens de vazão de ar e combustível irão se
enquadrar com as percentagens demandadas pela saída de controle.
Na estratégia de controle com ponto único de posicionamento somente uma variável é utilizada: a
pressão principal de vapor. Assim tanto a válvula de controle de combustível quanto o damper de
ar de combustão são posicionados baseados neste sinal.

1.3.Controle com Posicionamento Paralelo

Para regular a taxa de combustão da caldeira o controle com posicionamento paralelo emprega
uma estratégia similar a utilizada no controle com ponto único de posicionamento. A principal
diferença é que o actuador da válvula de combustível e o damper de ar de combustão são
controlados separadamente. Novamente somente uma variável é utilizada e a válvula de controle
de combustível e o damper de ar de combustão são posicionados baseados neste sinal.

Diferentemente do controle com ponto único de posicionamento o controle com posicionamento


paralelo apresenta duas saídas de controle. Uma controla a válvula de controle de combustível e a
outra controla a posição do damper de ar de combustão. Como as duas vazões controladas
apresentam características não lineares a vazão de combustível é mecanicamente linearizada
através de um dispositivo chamado de seguidor. A vazão de ar é linearizada através de um
controlador digital.

O controle com posicionamento paralelo permite uma optimização da vazão ar/combustível. A


figura 2 mostra o esquema do controle com posicionamento paralelo.

Figura 2 Controle com posicionamento paralelo (FERREIRA /2008)


1.4.Controle por Medição Completa com Controle por Limite Cruzado

O controle por medição completa é uma estratégia de controle em cascata que utiliza três variáveis
do processo. A variável medida para a malha primária é a pressão de vapor. Existem duas malhas
secundárias, sendo que a vazão de combustível e vazão de ar são as variáveis utilizadas na malha
secundária. Neste método tanto as vazões de combustível quanto a vazão de ar são medidas e
controladas separadamente. O sistema de controle reconhece que variações na alimentação de
combustível afecta a vazão de combustível e variações na pressão de arraste afectam a vazão de ar
de combustão. No controle por posicionamento paralelo a válvula de combustível e o damper de
ar respondem a taxa de queima numa relação fixa. O problema é que quando a vazão de
combustível é alterada o sistema de controle tenta compensar mudando a vazão de ar, muitas vezes
resultando em perda de rendimento da caldeira. Variações na vazão de ar afectam directamente a
taxa ar/combustível. O controle por medição completa permite um ajuste independente do ar de
combustão e da vazão de combustível de modo a manter uma taxa óptima de ar/combustível. O
beneficio desta estratégia de controle é o aumento do rendimento da caldeira. (FERREIRA /2008)

O Controle por limite cruzado é um intertravamento lógico de segurança imposto ao controle por
medição completa. Em caso de alguma falha mecânica, como, por exemplo, problemas na válvula
de combustível ou bloqueio no damper de ar, é possível criar uma rica mistura comburente. O
controle por limite cruzado previne que a vazão de ar de combustão se torne menor que a vazão
de combustível e previne também que a vazão de combustível exceda a vazão de ar. O controle
por medição completa com controle por limite cruzado é uma estratégia de controle largamente
utilizada em aplicações de controle de caldeiras de vapor. O diagrama da figura 3 mostra a lógica
de controle empregada. O controle por medição completa é uma arquitectura de controle em
cascata onde a malha de controle da taxa de queima é a malha primária e a malha de controle da
vazão de combustível e a malha da vazão de ar são as malhas secundárias.

1.4.1. Malha de Controle da Taxa de Queima

A malha de controle da taxa de queima regula a taxa de queima da caldeira de modo a satisfazer a
demanda por vapor e a manter a pressão da caldeira no set-point. Isto é possível através de um
controle com realimentação e utilização de controlador PID. A variável de processo é a pressão da
caldeira, com o set-point definido manualmente. A variável controlada é a taxa de queima
demandada (FRD). O FRD é um set-point em cascata para as malhas da vazão de combustível e
da vazão de ar de combustão. Ganhos proporcionais e acções integrativas e derivativas são
usualmente empregados. Fisicamente, FRD representa a demanda de energia. Em aplicações de
combustível único é mais fácil definir FRD como percentagem do fundo de escala ou 0-100%FRD.
Esta técnica facilita a lógica de controle da taxa ar/combustível. (FERREIRA /2008)

1.4.2. Malha de Controle de Vazão de Combustível

A malha de controle de vazão de combustível entrega o FRD especificado da malha de controle


da taxa de queima. Variações na pressão de alimentação de combustível afectam a taxa da vazão
e a malha de controle de vazão compensa estas variações. A variável do processo é a vazão de
combustível e é definida em unidades de %FRD. Fisicamente, %FRD é o percentual do fundo de
escala da taxa de vazão de massa de combustível. Transmissores de vazão de massa tipicamente
apresentam um sinal de saída linear para vazão. Em aplicações de vazão de ar onde a vazão é
medida por medidores diferenciais, um extractor de raiz quadrada é utilizado para linearização do
sinal.

O diagrama da figura 3 mostra a vazão de combustível medida através de um transmissor


diferencial. Quando vazão é medida, uma malha de controle com realimentação é estabelecida e
um controlador PID é utilizado. Esta é uma malha em cascata onde o set-point é o FRD proveniente
do controle de taxa de queima. Usualmente a malha de controle de vazão utiliza somente ganho
proporcional e acção integrativa. A variável controlada é a percentagem de abertura da válvula e
isto modula o actuador da válvula de combustível. Ajustado mecanicamente, o actuador da válvula
de combustível fornece vazão linear com a percentagem de abertura da válvula melhorando a
resposta da malha de controle de vazão de combustível.

1.4.3. Malha de Controle da Taxa de Vazão de Ar de Combustão

A malha de controle de vazão de ar de combustão fornece uma determinada quantidade de ar de


modo a atender o FRD especificado pela malha de controle de queima. Variações na pressão de
arraste afectam a taxa de vazão de ar e a malha de controle de vazão compensa estas variações. A
variável do processo é a vazão de ar e é definida em %FRD. Na malha de controle de ar a
percentagem de FRD é o equivalente de ar requerido para percentagem de FRD de vazão de
combustível. Durante o comissionamento, a caldeira é submetida a diversas situações de carga e
as taxas de vazões de ar/combustível correspondentes são registradas. Gases combustíveis são
monitorados de modo a determinar a óptima vazão de ar. Os dados da vazão de ar são utilizados
para configurar os blocos de funções. O perfil caracterizado define a óptima taxa de vazão
ar/combustível. Mudanças climáticas modificam a umidade e densidade do ar e isto afecta a
quantidade de ar requerido para queimar determinada quantidade de combustível. Pelo fato das
medições de ar serem volumétricas é necessário o ajuste da taxa ar/combustível.

Figura 3 Controle de combustão por medição completa e por limite-cruzado (FERREIRA /2008)

1.4.4. Controle por Limite Cruzado

O controle por limite cruzado garante que a vazão de combustível não exceda a vazão de ar de
combustão. Na malha de controle de vazão de combustível o set-point FRD é comparado com o
valor real de vazão de ar em %FRD e o menor valor é seleccionado utilizando o selector passa-
baixa. Isto previne que a demanda de combustível exceda a vazão de ar disponível. Na malha de
controle de ar de combustão, o set-point FRD é comparado com o valor real de vazão de
combustível em %FRD e o maior valor é seleccionado utilizando o selector passa-alta. Isto previne
que a quantidade de ar demandada fique abaixo da quantidade de combustível. Por questões de
segurança uma vazão mínima de ar de combustão é permanentemente fornecida. Esta estratégia
de controle é frequentemente chamada de “avanço-atraso” uma vez que a vazão de ar vai sempre
adiantar o combustível em um aumento do FRD (o selector passa-baixa no set-point de
combustível exige que a vazão de ar aumente antes da vazão de combustível) e atrasar o
combustível em um decréscimo do FRD (a vazão de combustível deve ser menor que a vazão de
ar para que set-point de ar diminua) . (FERREIRA /2008)

Esse sistema garante que, no caso de aumento na demanda por queima, a abertura do damper de
ar se adiante à abertura da válvula de combustível, ou seja, o aumento do fornecimento de ar ocorre
antes do aumento de fornecimento de combustível e garante também que no caso de uma redução
na demanda por queima a válvula de combustível comece a ser fechada antes da diminuição de
fornecimento de ar.

2. Controle do ar de combustão
2.2. Ar de combustão

Em todos os tipos de combustível, combustão é feita pelo processo de oxidação do hidrogénio e


do carbono contidos no combustível, com o oxigénio existente no ar atmosférico. O ar atmosférico
é composto, basicamente, de 23% de oxigénio e de 77% de nitrogénio em peso ou, de 21 % de
oxigénio e 79% de nitrogénio em volume. (BEGA 2003)

Conhecendo-se a composição do combustível e com base na estequiometria da combustão,


consegue-se calcular o ar teórico necessário a queima do combustível.

Se utilizar-se somente o ar teórico, parte do combustível não será queimado, a combustão será
incompleta e o calor disponível no combustível não queimado será perdido através da chaminé.
Para garantir que a combustão seja completa, utiliza-se uma quantidade de ar superior ao teórico
calculado; procura-se, assim garantir que as moléculas do combustível possam encontrar o numero
apropriado de moléculas de oxigénio para completar a combustão. Este ar adicional é chamado
de excesso de ar, sendo normalmente expresso como percentagem do ar teórico. (BEGA 2003)

O excesso de ar mais o teórico, é chamado de ar total. (BEGA 2003)


Vê-se na figura 4, que as perdas por excesso de ar aumentam em proporção muito menor que as
perdas com combustível não queimado; por isto, sempre se trabalha com ar em excesso nos
processos de combustão industrial.

Figura 4 curva de perdas na combustão. (BEGA 2003)

Conforme mostrado na figura 5, um outro factor importante a considerar é que o aumento da


percentagem de excesso de ar reduz a temperatura da chama e reduz a taxa de transferência de
calor da caldeira. O resultado é o aumento da temperatura dos gases da combustão e a diminuição
do rendimento da caldeira.

A redução do excesso de ar reduz a massa dos gases da combustão e aumenta a transferência de


calor para geração de vapor, melhorando o rendimento da caldeira.

O valor óptimo de excesso de ar a ser utilizado depende, principalmente, do tipo de combustível,


tipo de queimador, características e preparação do combustível, tipo de camara de combustão,
carga (como percentagem da carga máxima), da malha de controle de combustão utilizada e de
outros factores. O excesso de ar adequado a instalação particular devera ser determinado testando-
se a instalação.
Figura 5 efeito de excesso de ar na temperatura dos gases da combustão. (BEGA 2003)

2.3. Controle de ar de combustão

A vazão de ar de um ventilador pode ser controlada alterando-se a rotação do ventilador ou, no


caso de ventilador que opera com velocidade constante, alterando-se uma das características do
sistema de ventilação.

Os sistemas de ventilação que operam com rotação variável são mais eficientes (controlam a vazão
sem introduzir perda de carga no processo ) e menos ruidosos, porem, em função do custo
relativamente alto de implementação deste tipo de sistema, sua utilização tem se restringindo a
aplicações especificas/particulares. O alto custo da energia electrica e a queda dos preços dos
componentes electrónicos, com a consequência diminuição dos custos de implantação dos
conversores de frequência ( variadores de velocidades de motores eléctricos), aumentou a
competitividade deste tipo de equipamento, viabilizando sua utilização em aplicações para
controle da vazão do ar de combustão em caldeiras e em diversos outros processos industriais.
Os sistemas de ventilação que operam a velocidade constantes geralmente são baratos e simples,
embora tendam a ser menos eficientes ( controlam a vazão introduzindo perda de carga no
processo), mais ruidosos e ter menor vida útil que os sistemas que operam com velocidade variável.

Os sistemas com velocidades constante tem sido os mais utilizados em caldeiras. Neste caso, a
vazão do ar pode ser controlada através de dampers localizados na saída ou na entrada do
ventilador figura 6.

O damper de saída actua no ar de combustão, apos a sua passagem pelo ventilador, aumentado a
resistência do sistema. Como resultado desta actuação, ocorre um deslocamento do ponto de
operação do ventilador ao longo de sua curva característica, fazendo com que o ventilador opere
com maior pressão na sua descarga e haja menor volume de ar em sua saída.

O damper de entrada actua no ar de combustão, antes de sua passagem pelo ventilador, fazendo
uma rotação neste ar, na mesma direcção de rotação do ventilador. A adição desta rotação afecta
a característica do sistema, de forma semelhante as aplicações em que se varia a velocidade de
rotação do ventilador. Como resultado desta actuação, tem-se uma diminuição no volume de ar na
saída do ventilador.

Embora o damper de saída seja mais barato que damper de entrada, o damper de entrada é mais
adequado para aplicações que tenham graves variações de capacidade e é de manutenção mais
fácil.

Os dampers de entrada e de sada podem ser utlizados em conjunto, como forma de se obter
melhores características de controle.
Figura 6 dampers de controle de vazão de ar. (BEGA 2003)

2.4. Vazão Mínima do ar de combustão

A vazão do ar de combustão enviado a caldeira não devera ser inferior a 25% ( vinte e cinco por
cento) da vazão volumétrica total pois, tanto na partida como em qualquer situação de carga o
fluxo de ar devera ser tal que evite o acumulo de combustível gasoso retido na fornalha, nas
passagens de gás da caldeira, nas tubulações e ductos associados. (BEGA 2003)

Nos casos de caldeiras que utilizam malha de controle de combustão com limites cruzados, a
vazão mínima do ar de combustão é garantida colocando-se um sinal de vazão mínima, ajustado
através de actuação na HIC, como terceira entrada do selector de sinal alto (FY), da malha limites
cruzados figura 7. Assim, se os outros dois sinais recebidos pelo selector de sinal alto (demanda e
vazão total de combustível) forem menor que o limite ajustado na HIC, a saída do selector de sinal
alto ( que é o ponto de ajuste do controlador do ar de combustão) será igual ao sinal de vazão
mínima Garantindo-se assim, a vazão mínima do ar de combustão para a caldeira.
Figura 7 controle de vaza mínima do ar de combustão. (BEGA 2003)

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