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Miller, Jacques-Alain - Gays em Análise PDF
Miller, Jacques-Alain - Gays em Análise PDF
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Este não foi facilmente nosso título, porque componava um significante novo, que nos
cabia aintla saber o que queria dizer Havíamos previsto, a propósito deste título, um ponto de
interrogação, que ressaltou no cartaz. Talvez tenhamos concordado a respeito em um dado
momento. Agimos como se, de uma só vez, gay quisesse dizer homossexual, como se gay
fosse o jeito moderno de dizer homossexual.
Por que não? Talvez nos caiba fazê-lo de maneira que assim o seja. Talvez seja o bom uso
deste significante novo. Mas, lembremo-nos tle que, no momento era bem o motivo da
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reticência com que inserimos este significante em nosso título -, o significante gay é uma
elucubraçâo para sabermos sobre o fato homossexual como pane de um coletivo, ou de vári-
os coletivos homossexuais.
Ate o momento, gay foi uma construção, uma construção metódica que produziu o que
chamamos de uma "subcultura". Estas produções, por mais barrocas, literárias, ultrajantes,
apaixonatlas que possam parecer, avultam, entretanto, de uma subcultura que teve seus efei-
tos. Isto pode nos dar esperanças, pois trata-se de nossa subcultura.
A cultura dos homossexuais que realizaram e adotaram a constmção gay conseguiu -
constatamo-lo desalojar do tliscurso clínico o significante "pewerso".
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Um "por todosn
O primeiro ganho de saber obtido no fim de uma análise é, segundo Lacan nos anos seten-
ta, que o diálogo é proibido de um sexo para outro. Este dito não deixa de ter relação com o
que se afirmava simultaneamente, não somente da reivindicação feminista,mas da coletivização
dos homossexuais machos em comunidades gays. Por que a relação intersexual não saberia
tomar forma de diálogo? Porque é no interior do mesmo sexo que há compreensão em rela-
ção ao gozo.
O inconveniente é isto mesmo: compreender-se. A análise supòe o mal-entendido. É por
esta razão que não podemos ser favoráveis ao principio do qual decorre o "gay analisa gay", o
princípio que faz do narcisismo o motor de uma análise. Não é proibido, cerramente, é mes-
mo constante que o analisando reconheça no analista um traço de si mesmo, e é estrutural
que situe seu "objeto pequeno a" no campo do Outro. A base de operações é a relação de
alteridade, não o enredo das conveniências. O que é que a análise aprendeu com os homosse-
xuais?A questão homossexual, no começo do século vinte e um, não é mais o que era há vinte
anos. É o que queremos medir com este colóquio.
Primeiramente, a questão homossexual constituiu-se, como tal, como uma questão social,
o que não é indiferente para a clínica. Erranamos se congelássemos nossa clínica na eternida-
de da estrutura, enquanto o reconhecimento social, a demanda do Outro social, suas varia-
ções, as formas mutantes da censura social s2o outros tantos fatores que condicionam tanto a
clínica quanto a experiência analítica. Isto nos obriga a ser absolutamente contemporâneos.
Não há homossexual que não tenha - em panicular quando está em análise - se situado
em relação à comunidade gay Acontece que o fato de não aderir à comunidade g a de ~ ser
rebelde a ser capturado por seus ideais e práticas é, para um homossexual, ocasião de ter um
sentimento de culpabilidade reforçado.
Antes, não havia a questão homossexual. Havia a questão dos homossexuais "um por um".
Nasceu, hoje, um "por todos", um discurso que promove o "por todos" dos homossexuais.
Isto tem incidências sobre a cura de cada um, um por um.
Esta mudança toma forma na ordem do direito. Os "bomos", ao menos seus precursores -
Um progresso privatizado
Lacan, no início, foi ao fim desta perspectiva.Com Lacan, a norma tomou-se a lei, a metáfora
Do gay ao "queer"
Dito isto, a operação gay é uma operação que visa instituir um novo significante-mestre.
Ela coloca sobre o mercado dos valores e das figuras ideológicas uma representação social do
homossexual como minoria, tendo seus direitos para reivindicar Ela age por identificação
metódica, quer dizer, por sugestão.
É uma sugestão como a que opera no Bom Again, nos Estados Unidos, que nos valeu o
presidente atual deste país. Sensacional! Quando pensamos, como ele disse, que poderia
ainda ser umpoiurot rolando pelo chão num bar do Tesas, o que tinha menos de vinte anos -
literalmente - é o que havíamos perdido! Ele foi salvo por Jesus, iny Snuior. E bem, gay é
alguma coisa feito isto. Égq! my Sauior. É o mesmo procedimento dos ';llcoólicos Anôni-
nios"- tratar a angústia de castração por um significante-mestre.
Isto supõe construir e incansavelmente denunciar a figura do homófobo. Via de intimida-
ção, certamente, mas via inevitável, mesmo compreendendo seus excessos, como o de incluir
Lacan no número dos homófobos, é preciso dizé-lo, sem verossimilhança! A afirmação da
Gaypnde, "lá onde era a vergonha", vai combinada com a suspeita generalizada de discrimi-
naçáo sexual. Os analistas são estigmatiiados como reacionários, quando são progressistas -
edipianos: e suspeitos, quando não o são, de serem inarraizes, falsamente convertidos ao
pluralismo das maneiras de lidar com o gozo.
Qualquer que seja a boa-vontade dos analistas, qualquer que seja o seu reconhecimento
quanto ao lugar do movimento gay em relação as suas verdadeiras contribuições - e por que
não dizer a sua contribuição para o ensino de Lacan?- é certo que a prática da análise vai de
encontro à prática da identificação. Os militantes gays e os analistas são, então, fadados a ser
como cães e gatos.
E porque não é sem prazer que pudemos sublinha. no curso deste colóquio, que o mo-
mento gay de homossexualidade talvez esteja passando.
Vimos com que agitação pudemos evocar oqueer como sendo já o que sobreclassifica o
gay Com efeito, o queer objeta ao gay que o gay fica nos limites do Édipo, nos limites do
regime do significante-mestre,enquanto oqueer sublinha que há homossexualidades onde o
gozo é estar em infração. Depois de tudo, o gozo é sempre vizinho da sujeira do objeto a ,
como o exprime Iacan. Oqueer ressalta que, no fundo, o gozo é rebelde a toda uni\~ersalização,
à lei, não é um Soberano Bem.
O discurso gay é uma operação de psicologia social, que' se propõe a manipular, em seu
próprio terreno, a demanda social que se apresenta sob a forma de censura e discriminação.
O discurso gay propõe uma resposta ao desejo do Outro, enquanto angustia o sujeito. O
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!Eribon, D. (2001). "Uni imoraledu minoriMrc", Paris: Fayard, cas raposbd'A. Ando e H. Castanet. na rwistaÉlrdddalim.(2002).bis: Éd. Verdier(l).