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A construção "gay". Gays em análise? É o nosso título.

*
Este não foi facilmente nosso título, porque componava um significante novo, que nos
cabia aintla saber o que queria dizer Havíamos previsto, a propósito deste título, um ponto de
interrogação, que ressaltou no cartaz. Talvez tenhamos concordado a respeito em um dado
momento. Agimos como se, de uma só vez, gay quisesse dizer homossexual, como se gay
fosse o jeito moderno de dizer homossexual.
Por que não? Talvez nos caiba fazê-lo de maneira que assim o seja. Talvez seja o bom uso
deste significante novo. Mas, lembremo-nos tle que, no momento era bem o motivo da
-

reticência com que inserimos este significante em nosso título -, o significante gay é uma
elucubraçâo para sabermos sobre o fato homossexual como pane de um coletivo, ou de vári-
os coletivos homossexuais.
Ate o momento, gay foi uma construção, uma construção metódica que produziu o que
chamamos de uma "subcultura". Estas produções, por mais barrocas, literárias, ultrajantes,
apaixonatlas que possam parecer, avultam, entretanto, de uma subcultura que teve seus efei-
tos. Isto pode nos dar esperanças, pois trata-se de nossa subcultura.
A cultura dos homossexuais que realizaram e adotaram a constmção gay conseguiu -
constatamo-lo desalojar do tliscurso clínico o significante "pewerso".
-

Há quarenta anos, teríamos podido convocar - talvez o tenhamos feito - um coló-


quio sobre "Perversos em análise?". Neste colóquio, o termo perverso só circulou de
maneira extremamente discreta e, antes, com o trac;o de união que aí colocou Lacan', o
qual ainda temos tle saber o que quer dizer. Ao substituir o termo gay na cultura que o
promoveu, creio que o ideal do gay é uma outra solução, e melhor, para o problema
sexual: ou para a condição humana, ou, então, vai-se a análise, e o faz com um analista
gay, como em São Francisco.
Eis a verdade de nosso tema. Quais analistas para os gays?Para analisandos gays, que analis-
tas? Há, com efeito, uma cena noção de análise, segundo a qual isto procederia, por reconheci-
mento narcísico. O mesmo analisa o mesmo. Seria preciso, por exemplo, uma mulher para
compreentler uma mulher. É o princípio transcendenral tlo idealismo: só o mesmo pode agir
sobre o mesmo. O que ai se manifesta - senão o desejo de reduzir o Outro?Entretanto, pode ser
que seja uma via obrigatória para alguns. Não é impossível que a escalada de poder, a entrada
em cena - que ainda não se cumpriu na França - do princípio "o gay se analisa com um analista
gay" torne possível a entrada em análise de gays que, senáo, não teriam acesso a ela.

Opçio Lacaniana no 47 15 Dezembro 2006


A sociedade dos celibatários
Este colóquio privilegiou o caso clínico, mas somente abordou a direção da cura de viés ou
implicitamente, até que Éric Laurent extraísse os princípios que operavam no que nos apre-
sentaram. Esta discrição em direção à cura só colocou mais em evidência a posição do analis-
ta, tal qual se estabelece, hoje, no lugar do paciente homossexual macho. É possível - ao
menos eu me disse isto ao escutar as exposições de hoje - que a incidência de homossexuais
tenha sido muito maior em relação à evoluçio recente da análise do que o percebemos até
aqui e - por que não? - com respeito a elaboração de Lacan. Ihr que não sustentar que o
avesso de "Encore", o avesso da reelaboração de Lacan sobre o gozo feminino é a preocupa-
ção com a questáo da homossexualidade masculina?
A figura do analista emergiu no começo tlo século vinte, a panir do discurso da histeria, e
ela foi infantilizada no quadro da ideologia do progresso, do cientismo. A figura do gal: outra
construGo, emergiu ao final do século vinte e no contexto de uma outra ideologia - no seio
do estruturalismo, ou após o estmturalismo, ou através do estrururalismo, no contexto de
uma renegação da antiga ideologia do progresso.
O analista clássico era rebelde à análise. O perverso freudiano era aquele do qual o analista
nada tinha a conhecer, a não ser marginalmente. Ora, hoje, nosso colóquio mostra que o
analista se fez dócil ao homossexual, como se fez à histérica, diante de sua emergência. O
homossexual se mostrou, subitamente, disponível a análise, o que, por si só, abalou a catego-
na do perverso. O gay o verdadeiro, aquele do movimento gay o gay militante, o que faz
nesse contexto? É um resistente. O movimento gay é uma SAiMCDA, uma Sociedade de Assis-
tência hlútua Contra o Discurso Analítico. É assim que emergiu primeiramente. O gay é um
efeito do discurso analítico, que procede do fato de que o discurso analítico se toma disponi-
vel ao homossexual.
O momento atual da civilização contemporânea que tentamos cercar, vai em direção ao
gay. Ele se deseja, aliás, ou se desejou no fim do século vinte, sintonizado com o momento
atual da civilização. O gay é da época deste individualismo democrático de massa, em que
assinalamos os traços emergentes de uma sociedade de celibatários.
A fórmula de Lacan "não há relaçáo sexual", que se tomou para nós um refrão, é da época
da sociedade de celibatários. Ela teve este eco porque traduziu no âmbito clínico este mo-
mento em que percebemos o que podia haver de dissolvente, diminuidor do liame social que
havíamos conhecido, na época do individualismo de massa.
Não é sua única faceta, mas é a que sublinho. E é porque Lacan pode formular "não há
relação sexual", que pôde dizer, em seu lugar, "há liame social". É porque não há, entre os dois
sexos, uma relação fvca, estabelecida e programada, que há liame social. Não o liame social, mas
liame social, o que implica a possibilidade de que o liame social tome várias formas, seja plural.
No animal, há relação sexual e, também, social. O social não é estranho ao animal; há
sociedades animais. Salvo que, no reino animal, a relação é fxa, o social recobre o sexual.
A ausência e l'ab-sem,a ausência de sentido da relação seuual, de sentido moral, de sentido
comum ou estabelecido, esta ausência que se impóe a partir do individualismo democrático de

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massa e que Iacan soube traduzir, é bem o que abriu caminho para se considerar a homossexu-
alidade como uma invenção, uma construção, até mesmo uma festa. É nestes temos que o
movimento gay começou a se afirmar.

Um "por todosn
O primeiro ganho de saber obtido no fim de uma análise é, segundo Lacan nos anos seten-
ta, que o diálogo é proibido de um sexo para outro. Este dito não deixa de ter relação com o
que se afirmava simultaneamente, não somente da reivindicação feminista,mas da coletivização
dos homossexuais machos em comunidades gays. Por que a relação intersexual não saberia
tomar forma de diálogo? Porque é no interior do mesmo sexo que há compreensão em rela-
ção ao gozo.
O inconveniente é isto mesmo: compreender-se. A análise supòe o mal-entendido. É por
esta razão que não podemos ser favoráveis ao principio do qual decorre o "gay analisa gay", o
princípio que faz do narcisismo o motor de uma análise. Não é proibido, cerramente, é mes-
mo constante que o analisando reconheça no analista um traço de si mesmo, e é estrutural
que situe seu "objeto pequeno a" no campo do Outro. A base de operações é a relação de
alteridade, não o enredo das conveniências. O que é que a análise aprendeu com os homosse-
xuais?A questão homossexual, no começo do século vinte e um, não é mais o que era há vinte
anos. É o que queremos medir com este colóquio.
Primeiramente, a questão homossexual constituiu-se, como tal, como uma questão social,
o que não é indiferente para a clínica. Erranamos se congelássemos nossa clínica na eternida-
de da estrutura, enquanto o reconhecimento social, a demanda do Outro social, suas varia-
ções, as formas mutantes da censura social s2o outros tantos fatores que condicionam tanto a
clínica quanto a experiência analítica. Isto nos obriga a ser absolutamente contemporâneos.
Não há homossexual que não tenha - em panicular quando está em análise - se situado
em relação à comunidade gay Acontece que o fato de não aderir à comunidade g a de ~ ser
rebelde a ser capturado por seus ideais e práticas é, para um homossexual, ocasião de ter um
sentimento de culpabilidade reforçado.
Antes, não havia a questão homossexual. Havia a questão dos homossexuais "um por um".
Nasceu, hoje, um "por todos", um discurso que promove o "por todos" dos homossexuais.
Isto tem incidências sobre a cura de cada um, um por um.
Esta mudança toma forma na ordem do direito. Os "bomos", ao menos seus precursores -

eles estiveram, ou estão, ainda, numa problemática precursora - apresentam-se como


cristalizadores dos homossexuais como minoria, formando, assim, um grupo de pressão, de
c'lobbies",a partir dos quais vimos alguns recentes resultados, principalmente no final do
governo Jospin. É um fator de evolução clínica a escalada do discurso da queixa contra a
discriminação. Os porta-vozes deste movimento colimam a psicanálise, como uma força de
conservação social e ideológica.
Foi a psicanálise que abriu o caminho do gay e, ao fazê-lo,foi Pandora, abrindo sua famosa
caixa. O gay se voltou contra ela.

Opção Lacaniana no 47 17 Dezembro 2006


No começo do século vinte, a hossexualidade, ainda e muito frequentemente, via-se
envolvida com certas proibições, legais ou implícitas, de divulgação; era estigmatizada,ao menos
publicamente,cercada de vergonha, ficava confinada no segredo, ou devia ser apresentada litera-
riamente, e constituía o que, ao menos para Proust, era apresentado como conspiração, seita.
Esses elementos que se acreditava que fossem intnnsecos ao fenômeno homossexual não
desapareceram como por encanto e, no entanto, o contexto era todo diferente. A referência a
uma ordem natud da sexualidade cessou enormemente de ser crível; a despeito dos valorosos
esforços dos fundamentalismos,vê-se cada vez menos motivos para não aceitar a homossexuali-
dade como um estilo de vida, uma escolha de objeto, minoritária, é certo, mas tão defensável
como qualquer outra, e pode-se seriamente encarar a erradicação da infâmia.
Parece-me assegurado que a psicanálise teve sobre a homossexualidade este efeito que
tem sobre toda coisa neste mundo, toda significação que captura - um efeito de absolução.
Houve esta absolução pela análise, independentemente do que podiam pensar os próprios
psicanalistas. É a lição do relacionamento entre psicanálise e homossexualidade.
Na experiência psicanalítica, da qual podemos fazer uma descriçào sumária -convidamos
os analisandos a falar de tudo o que queiram, escutamo-los, aguentamos os seus bifetons e
depois reconduzimo-los à pona - já opera uma função imanente de absoluçio. A absolução
que libera, pela estrutura, o discurso analítico é mais forte que a contratransferência da análi-
se, que se verifica ser, bem aqui, a soma de seus preconceitos. Cenamente os analistas eram,
como os vemos de onde hoje est:imos, patriarcais, reacionários, machos, tudo o que se quei-
ra, mas eram, também, servos do discurso que operavam, que os ultrapassava e que, nele
próprio, comportava uma absolução.
De uma só vez - é a licão do relacionamento entre psicanálise e homossexualidade - ve-
mos, retrospectivamente, que a psicanálise tinha umacontradição entre suaestmtura discursiva
e a norma social. A clínica analítica teve necessidade, para se constituir, do conceito de "nor-
mal", quer dizer, de referenciar os fenômenos da cura a partir de um ideal de maturaçáo, de
integração. Karl Abraham forneceu-lhe o manual, com o Déueloppements de lu libido.
É preciso constatar que, no inicio, os analistas tiveram necessidade de referenciar o que
ocorria na cura com, precisamente, o conceito de desenvolvimento da libido, quer dizer, com
a noção de progresso normativo. Foram obrigados a ser progressistas porque eram - se segui-
rem o paradoxo - reacionários. Progressistas, no sentido em que há um desenvolvimento
normal em relação a um estado de maturação, a partir do qual se julgam as paradas, as futa-
çóes, as regressões, os desvios. Conservamos, ainda, qualquer coisa desse vocabulário.
Os analistas somente puderam funcionar - é um fato histórico - com a noção cle um certo
"ser para a norma", para a norma sexual, em nome de uma causa final.

Um progresso privatizado
Lacan, no início, foi ao fim desta perspectiva.Com Lacan, a norma tomou-se a lei, a metáfora

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paterria tornou-se a lei, a estmtura tornou-se a lei. A escolha do objeto homossexual apareceu
como uma falsa saída, uma saída má do Édipo. Era reescrever, em [ermos de lei de estmrura, o
que, para os analistas, era a noma do desenvolvimento.
O primeiro esforso de Lacan foi, com efeito, fundar e formalizar a clínica corrente no seu
tempo, no inicio dos anos cinqüenta, em parricular para conciliar Freud e Klein, para traduzir,
na estrutura, a teoria do desenvolvimento - em seu esquema R de 1956, se olharem de peno,
o desenvolvimento está lá - e, ao mesmo tempo, para radicalizar esta clínica. Formalizando,
conciliando, radicalinndo, ele não foi além de sua época. A prova é o que não podemos ler
sem surpresa hoje: ele fala de curar o homossexual em seu Seminário As Jormações do In-
consciente, vangloriando-se, mesmo, de consegui-lo sem saber como. Fez, inclusive, a mesma
coisa com os psicóticos em uma nota dos Escritos, se me lembro bem - a foraclusáo é reversí-
vel, mas náo sabemos como chegamos a ela.
A idéia de cura é a marca que ficou na configuração antiga. Podemos supor que, precisa-
mente porque operou uma radicalização da clínica antiga, é que se deu conta tiesta impossibi-
lidade de curar. Havia a escolha: ou falar da impotência da psicanálise, ou tla incurabilidade do
paciente, quer dizer, do impossível. Imaginemos Lacan enfrentando a dificuldade do real que
encontra, como analista, na homossexualidade, e reconfigurando, em seguida, a psicanálise:
passagem de uma clínica do progresso para uma clínica da posição, ou seja, disjunção da
estrutura e da lei.
Usarei, para dizê-lo,termos políticos. Há muito tempo os Estados Unidos não faziam ver-
dadeiramente a guerra. Até no Afeganistáo, se deixarmos de lado a guerra aérea em Kosovo,
não faziam guerra havia trinta anos. Tinham perdido o hábito. Desde o Vietnam, tinham, por
assim dizer, uma inibição de guerrear. Isto é a psicologia social. Existem, hoje, os terapeutas,
que estão com o poder político e acham que podem curar os Americanos de sua inibição,
dizendo-lhes de maneira muito decidida e pensada: "Vejam como isto anda bem. Tnnta anos
são suficientes para o trabalho de luto do Vietnam".
Digo isto para introduzir o modo como Lacan, tendo-se obstinado com a inadequaçáo
do seu "curar o homossexual", reconfigurou a clínica, passando da clínica unipolar do es-
quema progressista da maturação a uma clínica multipolar do gozo. Isto não nos impede de
examinar quais sáo os progressos do sujeito na análise, mas, de qualquer forma, privatizamos
esses progressos.
Em Karl Abraham, o progresso era da espécie, estando os sintomas indexados a escala do
progresso da espécie. Vimos isto nas exposições de hoje, é bem o que mudou para nós. A
posição do analista mudou em quarenta anos. Hoje, o que podemos chamar de progresso do
paciente é um progresso privatizado. Procuramos o ponto de acordo do paciente consigo
mesmo, com o seu ser, e consideramos que cada posição subjetiva é suscetível tle achar seu
ponto de equilíbrio para aceder ao seu melhor impasse, para conquistar seu melhor saber
para o sintoma. O que nos orienta é obedecer a melhor das posições possíveis para esse
sujeito. Dizemos que desenvolve suas possibilidades, que chega a trabalhar, a amar, a gozar
etc. Consideramos o progresso estritamente no nível deste, sem mais nos preocuparmos em
indexá-lo a uma escala universal.

Opção Lacaniana no 47 19 Dezembro 2006


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.ela mos ~e5wequiaas wed 'uraq
-WEI 'a e l - p q e ~ e dfraqlnui euin ap ednso as oiuenbua !ed o e ~ e dleilon wa euqd!pa eln v
.oesJahiad e anb ezalnieu euisaui ep eia ewJou e i ~ ep anb no 'ewrou e!neq oeu anb 'oes~a~uad
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O .od!px op eueqwoz emn uesq ap ,,a!&! aisa :ui!sse opuaardwos e n3 juo,s.ta.?-a~ad
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'e~!aueuieuin o-uas oeu anb 'od!px o 'emaied eJojFiaui ep - as!Fue e eu!lnssew apep![enx
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oiis18a~ ou ~eânlnas opuai 9s fraqes ou ie4nl nas opuai oeu ouros olej o auyap a13 .apepJaa a
iaqes anua oe51sodens eni!s a o:Se[anar ap souuai wa olej op oinieisa op elej uesel 'aew ep
s~uadop eilej e a olej o 'os!ssqs apuw8 wn wos eu!uiJai anb 'sol!.r3sgsop leuy ou epuw
'O[-yiii!W 0[-?Jpenbua
eied 'esnes e 'euiçeiuej o 'oiaíqo o xiunle aql e uesq eneS!rqo 's?![e 'anb o '!a1 uias a ~ ~ ! I E J J ~
oeSuy ewn 'aiuauipiuauiepury 'a olasap o anb oisy 'oiuaui@[o~uasapap oeSou ep e i q e
sou anb ouuai wn ap sou-ow!~as',,o[asap,,ouiJai op sow!hias sou opuenb wai o oeu o!
-asap o oiuenbua 'oiuaui!~lonuasapuin uiai es!sqls op!q!q e anb eSuaiaj!p apuw8 v .olasap
op es!u![s ewn e 'uieqe~qv1iey ap elanbe eJa epu!e anb 'op!q![ ep es!u![s ep nossed u e ~ q
,ses!os sei!nlq j[a~!ssodois! nouioi anb O
que o termo perversão era simplesmente "ridículo" - é reclassificar o Édipo como uma forma de
perversão. É o fim do privilégio do "Nome-do.Pai".É bem porque Lacan chegou, desde o come-
ço dos anos sessenta,até o plurai dos "Nomes-do-Pai".O "Nome-do-Pai"não é a lei, não passa de
um instmmento útil. Dizendo de outra maneira, é a passagem da idade dogmática da psicanálise
à sua idade pragmática.

Do gay ao "queer"
Dito isto, a operação gay é uma operação que visa instituir um novo significante-mestre.
Ela coloca sobre o mercado dos valores e das figuras ideológicas uma representação social do
homossexual como minoria, tendo seus direitos para reivindicar Ela age por identificação
metódica, quer dizer, por sugestão.
É uma sugestão como a que opera no Bom Again, nos Estados Unidos, que nos valeu o
presidente atual deste país. Sensacional! Quando pensamos, como ele disse, que poderia
ainda ser umpoiurot rolando pelo chão num bar do Tesas, o que tinha menos de vinte anos -

literalmente - é o que havíamos perdido! Ele foi salvo por Jesus, iny Snuior. E bem, gay é
alguma coisa feito isto. Égq! my Sauior. É o mesmo procedimento dos ';llcoólicos Anôni-
nios"- tratar a angústia de castração por um significante-mestre.
Isto supõe construir e incansavelmente denunciar a figura do homófobo. Via de intimida-
ção, certamente, mas via inevitável, mesmo compreendendo seus excessos, como o de incluir
Lacan no número dos homófobos, é preciso dizé-lo, sem verossimilhança! A afirmação da
Gaypnde, "lá onde era a vergonha", vai combinada com a suspeita generalizada de discrimi-
naçáo sexual. Os analistas são estigmatiiados como reacionários, quando são progressistas -
edipianos: e suspeitos, quando não o são, de serem inarraizes, falsamente convertidos ao
pluralismo das maneiras de lidar com o gozo.
Qualquer que seja a boa-vontade dos analistas, qualquer que seja o seu reconhecimento
quanto ao lugar do movimento gay em relação as suas verdadeiras contribuições - e por que
não dizer a sua contribuição para o ensino de Lacan?- é certo que a prática da análise vai de
encontro à prática da identificação. Os militantes gays e os analistas são, então, fadados a ser
como cães e gatos.
E porque não é sem prazer que pudemos sublinha. no curso deste colóquio, que o mo-
mento gay de homossexualidade talvez esteja passando.
Vimos com que agitação pudemos evocar oqueer como sendo já o que sobreclassifica o
gay Com efeito, o queer objeta ao gay que o gay fica nos limites do Édipo, nos limites do
regime do significante-mestre,enquanto oqueer sublinha que há homossexualidades onde o
gozo é estar em infração. Depois de tudo, o gozo é sempre vizinho da sujeira do objeto a ,
como o exprime Iacan. Oqueer ressalta que, no fundo, o gozo é rebelde a toda uni\~ersalização,
à lei, não é um Soberano Bem.
O discurso gay é uma operação de psicologia social, que' se propõe a manipular, em seu
próprio terreno, a demanda social que se apresenta sob a forma de censura e discriminação.
O discurso gay propõe uma resposta ao desejo do Outro, enquanto angustia o sujeito. O

Opçáo Lacaniana nu 47 21 Dezembro 2006


sujeito pode dizer: "não sei o que sou no desejo do Outro", ou: "No desejo do Outro, sou
infame". E o gay traz a resposta: "tu és gay".
Mas o que o queer sublinha é que há uma inquietante estranheza do homossexual com
relação a si mesmo, e que este apotropaicoJe suisgay, que é destinado a distanciar a angústia
do desejo do Ouuo, tem um preço, que é o preço da inautenticidade.
O que isto quer dizer? Talvez seja necessário objetar aos militantes gays que o gay cede a
seu desejo homossexual. Cede a seu desejo porque o modela sobre o que imagina ser o
desejo hétero. Procura tornar legal o desejo homo. Outros homossexuais objetam-lhe que a
lição mais profunda da homossexualidade é a de pór em evidência o que há no desejo, não de
ilegítimo, mas de ilegal.
Genet ressaltava isto quando intitulou seu IivroJownal du Voleur. Quem deseja é sempre
um ladrão.
*lntervençáo deJ. A. Miller no Colóquio daECF eni Wce, em 22 de marçode 2003. Texio e nolas estabelecidos porcaiherine
Ronningue. Publicado coni a anuéncia do autor.
Tmo traduzido por hna Lúcia Paranhos Pessoa

'Oautor ~ i e r e aotraso
~ x dc união (hiien) i w r i d n em " p 4 ~ ~ w o i o n ' .
!Eribon, D. (2001). "Uni imoraledu minoriMrc", Paris: Fayard, cas raposbd'A. Ando e H. Castanet. na rwistaÉlrdddalim.(2002).bis: Éd. Verdier(l).

Dezembro 2006 Opção Lacaniana no 47

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