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DOṢA e SUBDOṢA de acordo com o Aṣṭāṅgahṛdaya

Ślokas do Aṣṭāṅgahṛdaya, Sutrasthāna, sobre doṣas:

Capítulo 1: Āyuskāmīya (O desejo por uma longa vida)

Os 3 doṣas e suas funções

vāyu: pittaṃ kaphaśceti trayo doṣā: samāsata: || vikṛtā’vikṛtā dehaṃ ghnanti te varttayanti ca |

Vāyu (Vāta), Pitta e Kapha são os três doṣas, resumidamente; eles destroem e dão suporte (sustentam, mantém) o
corpo quando estão anormais e normais, respectivamente. [6,2 – 7,1]

“(...) doṣas podem ser vistos como bioprogramas tentando manter e equilibrar o corpo, harmonicamente.
Quando eles estão corrompidos, como os programas em um computador são corrompidos por vírus, a
harmonia na homeostase do corpo estará em jogo, e então, a doença ocorre. Você não consegue ver ou
pesar os programas de computador feitos de muitas ‘linguagens’; eles só podem ser percebidos por meio
de suas funções; da mesma forma, os doṣas ficam por ‘trás das cortinas’, invisivelmente, dia e noite, na
saúde e na doença. Não é por isso que é dito que os doṣas são as causas da saúde e das doenças?”

T. Sreekumar, MD (Ay), PhD, comentarista do Aṣṭāṅgahṛdaya

Predominância dos Doṣas

te vyāpino’pi hṛnnābhyoradhomadhyordhva saṃśrayā: ||

vayo’horātribhuktānāṃ te’ntamadhyādigā: kramāt |

Apesar de estarem presentes em todo o corpo, eles se encontram predominantemente na região inferior, média e
superior, respectivamente, da área entre o coração e o umbigo. [7,2]
Eles são predominantes, respectivamente, durante o último estágio, o estágio intermediário e o primeiro estágio
da vida, do dia, da noite e do processo de digestão do alimento. [8,1]

“(...) kapha, em geral, é responsável pelos processos construtivos no corpo (anabolismo), agindo como
substrato e produto; pitta, envolvido em processos catabólicos e atividade enzimática, e vāta com a
regulação do metabolismo e transporte de subprodutos metabólicos. Em outras palavras, kapha se ocupa
da conservação da energia (“adicionando”), enquanto pitta ajuda a liberar a energia (“usando-a”), e
‘quanto’ disso é feito é decidido por vāta. As atividades dos grandes sistemas do corpo – nervoso e
endócrino, são então, mediadas por vāta.”

T. Sreekumar, MD (Ay), PhD, comentarista do Aṣṭāṅgahṛdaya

Efeito dos doṣas no agni

tairbhavedviṣama: tīkṣṇo mandaścāgni: samai: sama: ||

Por causa deles (dos doṣas), agni (fogo digestivo) se torna, respectivamente, visamāgni, tikṣṇāgni e mandāgni,
enquanto samāgni é produzido em seu equilíbrio. [8,2]

koṣṭha: krūro mṛdurmadhyo

madhya: syāttai: samairapi |

Koṣṭha (a natureza do trato alimentar ou a natureza dos intestinos) pode ser krūra (difícil, preso), mrdu (solto,
mole) e madhyama (moderado), dependendo de cada um (dos doṣas: VPK), respectivamente. Pode ser madhyama
também quando todos os doṣas exercem sua influência uniformemente. [9,1]

Obs: Suśruta diz que krūrakoṣṭha é caracterizado por predominância de V e K

śukrārtavasthai: janmādau viṣeṇaiva viṣakṛme: ||

taiśca tisra: prakṛtayo hīnamadhyottamā: pṛthak |

samadhātu: samastāsu śreṣṭhā nindyā dvidoṣajā ||

Desde o momento da fertilização, prakṛti (constituição individual) é determinada pelos doṣas (unidades funcionais
do corpo) localizados em śukra e ārtava, da mesma forma que o veneno de um organismo venenoso é inofensivo
para ele. Os três doṣas influenciam śukra e ārtava no momento da fertilização fornecendo três constituições de
predominância de um único doṣa. Essas são Vātadoṣa Prakṛti [de qualidade hīna, inferior], Pittadoṣa Prakṛti [de
qualidade madhyama: intermediária] e Kaphadoṣa Prakṛti [de qualidade uttama: superior]. No entanto, entre
todas as constituições, Prakṛti portadora dos traços dos três doṣas [samadoṣa Prakṛti] é considerada a melhor, e
constituições com dois doṣas juntos são nindya (condenadas). [9,2 – 10]

Geralmente, doṣas causam duṣṭi, ou seja, dano. Mas aqui, no contexto da fertilização, os doṣas localizados
no sêmen e no óvulo, no momento da união, orquestrada por tantos outros fatores, são inofensivos, na
medida em que não causam nenhuma doença, mas são quem determina a própria constituição do
indivíduo. A analogia dos organismos venenosos é usada aqui para levar à ideia de que, apesar de o
veneno ser prejudicial, ele é inofensivo em um dado contexto ao organismo no qual está localizado.”

T. Sreekumar, MD (Ay), PhD, comentarista do Aṣṭāṅgahṛdaya

“O estado de existência dos doṣas em dominância em śukra (sêmen) e ārtava (óvulo), em garbhiṇi
(grávida), em bhojya (a dieta dela), ceṣṭa (suas atividades), garbhāśaya (útero) e durante o ṛtu (período da
ovulação) são determinantes em decidir os sete prakṛti.”

Aṣtāṅgaṛdaya Śārīrasthāna – 3/83

Qualidades dos doṣas

tatra rūkṣo laghu: śīta: khara: sūkṣmaścalo’nila: ||

Rūkṣa (secura), Laghu (leveza), Śīta (frio), Khara (aspereza), Sookshma (sutileza), Chala (mobilidade); essas são as
qualidades de Vāta [11,1]

pittaṃ sasneha tīkṣṇoṣṇaṃ laghu visraṃ saraṃ dravam |

Sasneha (levemente “oleoso”, untuoso), Tīkṣṇa (penetra profundamente), Uṣṇa (quente, produtor de calor), Laghu
(leve), Visra (com mau cheiro), Sara (flui livremente) e Drava (liquidez) são as propriedades de pitta [11,2]

snigdha: śīto gururmanda: ślakṣṇo mṛtsna: sthira: kapha: ||

Snigdhna (oleosidade, untuosidade), Śīta (frio, produz frieza), Guru (pesado), Manda (lento na ação), Ślakṣṇa
(macio, suave), Mṛtsna (viscoso, pegajoso), Sthira (estável, estático) são as propriedades de Kapha [12,1]

“Guṇas também estão embutidas na composição constitucional de cada indivíduo. As características


físicas e fisiológicas de cada pessoa são coletivamente referidas como a prakṛti do indivíduo. Quando a
prakṛti individual é estudada, nós podemos entender que até a prakṛti não é nada mais que uma coleção
dos viṃśatiguṇās e qualquer semelhança ou diferença entre cada indivíduo se deve a uma diferença entre
os guṇas com os quais cada indivíduo é formado.”

T. Sreekumar, MD (Ay), PhD, comentarista do Aṣṭāṅgahṛdaya

Tabela 1: Guṇas e traços físicos dos indivíduos, em função da Prakṛti

Guṇa Doṣa primário na Traços físicos do indivíduo


(atributo) Prakṛti

Rūkṣa Vāta Pele e cabelos rachados/quebrados, sem brilho.

Produz sons nas articulações ao caminhar

Laghu Vāta Fala muito, reduzida expectativa de vida, esguio e alto

Śīta Vāta Detesta o frio

Cala Vāta Sempre se movendo, movimentos desnecessários das partes do corpo

Sneha Pitta Coloração clara da pele

Uṣṇa Pitta Olhos rapidamente avermelhados pela raiva, álcool e exposição ao sol

Snigdha Kapha Articulações e músculos untuosos e densos

Guru Kapha Marcha parecida com a de um elefante

Sthira Kapha Consome menos comida, permanece forte

saṁsargaḥ sannipātaśca taddvitrikṣayakopataḥ

A combinação de dois doṣas, em seus estados aumentados ou reduzidos, é conhecida como saṁsarga, e a
combinação de todos os três, como sannipāta [12,2]

vṛddhi: samānai: sarveṣāṃ viparītai: viparyaya: |


O vṛddhi (aumento) de todos eles (doṣas, dhātus e malas) é causado pela utilização de samāna (semelhantes), e o
oposto (redução) é causado pela utilização de viparīta (dessemelhantes) [14,1]

tatrādyā mārutaṃ ghnanti traya: tiktādaya: kapham |

kaṣāya tikta madhurā: pittamanye tu kurvate ||

Os primeiros três sabores, svādu, amla e lavaṇa, aliviam (mitigam, causam redução em) māruta (vāta); os três
seguintes, começando por tikta, a saber, tikta, uṣṇa (kaṭu) e kaṣāya, aliviam kapha; e kaṣāya, tikta e madhura
aliviam pitta, enquanto os outros sabores causam seu aumento (desequilíbrio dos doṣas) [15,2]

rogastu doṣavaiṣamyaṃ doṣa sāmyaṃ arogatā |

Roga (doença) é o (efeito do) desequilíbrio dos doṣas, enquanto saúde é o (resultado do) equilíbrio dos doṣas
[19,2]

Rajaḥ tamaḥ ca manasaḥ dvau doṣau ca udāhitau

Rajas e tamas são considerados doṣas de manas (da mente) [21,1]

“A mente humana possui 3 qualidades, satva, rajas e tamas. Satva guṇa representa as qualidades de
conhecimento e felicidade. Rajas simboliza luxúria, raiva, orgulho, aversão e ação, enquanto tamas é
indicativo de ajñāna (medo, ignorância, inércia e moha – confusão). Satva indica felicidade. Em outras
palavras, rajoguṇa é facilitatório, enquanto tamoguṇa é inibitório. Rajoguṇa e tamoguṇa são suscetíveis
de serem perturbados, e por isso são conhecidos como poluentes da mente (manodoṣas). Quando esses
manodoṣas regem o intelecto, levam a várias desordens mentais.”

T. Sreekumar, MD (Ay), PhD, comentarista do Aṣṭāṅgahṛdaya

Bhumidehaprabhedena deśamāhuriha dvidha

jaṇgalaṁ vātabhuyiṣṭhamanupam tu kapholvaṇam

sādharaṇaṁ samamalaṁ tridha bhūdeśamādiśeta

Deśa (habitat), nesta ciência, pode ser de dois tipos, bhūmi (deśa), que pode ser traduzido como uma
região, e deha (deśa), que significa o corpo. Bhūmideśa, a região, é de três tipos: jāṇgala, que tem
predominância de vāta; anupa, que tem predominância de kapha; e sādhārana, na qual todos os malas
(doṣas) estão em condições normais [22,2-23]
śarīrajānāṃ doṣāṇāṃ krameṇa paramauṣadham |

basti: vireko vamanaṃ tathā taila ghṛtaṃ madhu: ||

Basti (enemas), vireka (purgações) e vamana (eméticos) são as melhores terapias do tipo śodhana
(purificação/eliminação) para doenças causadas por agravamento de vāta, pitta e kapha,
respectivamente. No regime śamana (paliativo), as melhores drogas utilizadas para esses doṣas são,
respectivamente, taila (óleo de gergelim), ghrta (ghee) e madhu (mel) [25]

Dhīdhairyātmādi vijñānaṁ paraṁ manodoṣauṣadhaṁ (bhavati) |

No caso dos doṣas da psique, a terapia definitiva é educar o paciente com dhī (inteligência,
discernimento), dhairya (confiança, força de vontade), ātma (conhecimento do “self”, correta orientação
de si em relação ao tempo, local e pessoa) e tais aspectos.

Capítulo 11: Doṣādi Vijñaniya Adhyaya (O conhecimento dos Doṣas, etc)

Doṣadhātumalā mūlaṁ sadā dehasya

Os doṣas, dhātus e os malas (resíduos) são sempre as raízes (causas, constituintes principais) do corpo (no decorrer
de todo o tempo de vida) [1,1]

Funções dos doṣas em estado normal

taṁ calaḥ

Utsāhocchvāsa niśvāsa ceṣṭāvegapravartanaiḥ

Samyaggatyā ca dhātūnāṁ akṣāṇām pātavena ca

Anugrahaṇāti avikrataḥ

Cala (vāta), em seu estado normal, abençoa o corpo, governando funções como entusiasmo (ímpeto, desejo),
expiração e inspiração, as atividades motoras, pelo início (e também pela execução) das necessidades (de defecar,
urinar, etc), pela manutenção dos dhātus em um estado de normalidade e um adequado funcionamento dos
órgãos sensoriais
pittaṁ paktyūṣmadarśanaiḥ

Kṣuttran ruciprabhāmedhā

dhīśauryatanumārdavaiḥ

Pitta, em seu estado normal, cuida da digestão, da manutenção da temperatura corporal, é responsável pela
visão, pela produção de fome, sede, apetite/sabor, pela compleição/lustre, inteligência/percepção, retenção da
memória, coragem, força e suavidade (maciez) do corpo

Śleṣmā sthiratvasnigdhatva

sandhibandhakṣamādibhiḥ

Śleṣma (kapha) confere estabilidade, untuosidade, compactação (firmeza) das articulações, é responsável pelo
autocontrole/paciência (capacidade de resistir ou conter as emoções, a tensão, etc) e outras funções [1,2-3]

Sintomas dos Doṣas aumentados

Vṛddhastu kurute anilaḥ

Kārśyakārṣṇyauṣnakāmitvakampānādtaśakṛtgrahan

Balanidrendriyabhraṁśāpralāpabhramadīnatāḥ

Vāta, quando aumentado (acima do seu normal), produz emagrecimento (kārśya), alteração da coloração (preta,
kārṣṇya), desejo por coisas quentes (uṣṇakamitva), tremores (kampa), distensão abdominal (anaha), constipação
(śakṛtgraha), perda do vigor (balabhraṁśa), do sono (nidra bhraṁśa) e das funções sensoriais (indriya bhraṁśa),
fala sem significado ou relevância (pralāpa), vertigem (bhrama) e timidez/miséria/mau humor (dīnatāh) [6]

pītaviṇmūtranetratvakkṣuttṛaṇdāhālpanidratāḥ

pittam

Pitta (aumentado) provoca coloração amarela nas fezes, na urina, nos olhos e na pele; excesso de fome e sede,
sensação de queimação e sono reduzido [7,1-7,2]

Śleṣmā agnisadanaprasekālasyagauravam

śvaityaśaityaślathāṇgatvaṁ śvāsakāsātinidratāḥ
Śleṣman (kapha), aumentado, produz debilidade da atividade digestiva (agnisadana), excessiva salivação
(praseka), preguiça (alasya), sensação de peso (gaurava), coloração branca (das fezes, etc; śvaitya), frio (śaitya),
frouxidão das partes do corpo (ślathāṇgata), dispneia (śvāsa), tosse (kāsa) e excesso de sono (atinidrata) [7,2-8,1]

Sintomas dos doṣas reduzidos

liṇgaṁ kṣīṇe anile aṇgasya sado alpa bhāṣite hitam

Saṁjñāmohastathā śleṣmavṛddhyuktāmāśāyasambhavaḥ

Os sintomas de vāta, quando este está reduzido, são debilidade do corpo (aṇgasada), debilidade da fala (alpa
bhāṣite hitam), poucas atividades (físicas), há perda da sensação e da consciência (saṁjñāmoha) e manifestam-se
todos os sintomas causados por aumento de kapha[15]

Pitte mando analaḥ śītaṁ prabhāhāniḥ

A redução de pitta produz enfraquecimento da atividade digestiva (mande anala), sensação de frio (śītaṁ) e perda
do brilho (da compleição, prabhāhāni) [16,1]

Kaphe bhramaḥ

śleṣmāśayanāṁ śūnyatvaṁ hṛddravaṁ ślathasandhitā

A redução de kapha causa vertigem (bhrama), sensação de vazio dos locais de kapha (śunyatva), palpitação
(hṛddrava) e frouxidão nas articulações (ślathasandhitā) [16,2]

doṣādīnāṁ yathāsvaṁ ca vidyād vṛddhikṣayau bhiṣak

kṣayeṇa viparītānāṁ guṇānāṁ vardhanena ca

vṛddhiṁ malānām saṇgācca kṣyam cāti visargataḥ

A redução dos doṣas e demais constituintes pode ser observada pelo aumento de suas qualidades opostas

O aumento dos doṣas e demais constituintes pode ser observado pelo aumento de qualidades similares

O aumento dos malas pode ser observado por sua não eliminação (para fora do corpo), e sua redução, pelo
excesso de eliminação [24-25,1]
Tatrāsthāni sthito vāyuḥ pittaṁ tu svedaraktayoḥ

Śleṣmā śeṣeṣu tenaiṣāṁ āśrayā āśrayiṇāṁ mithaḥ

Yedakasya tadanyasya vardhanakṣapaṇauṣadham

Asthi mārutayoḥ naivaṁ

No asthi (osso) reside vāyu (vāta), em sveda (suor) e rakta (sangue) reside pitta e nos demais (dhātus e malas)
reside śleṣman (kapha), em íntima relação, como o āśraya (a residência, o continente) e o āśrayī (o que reside, o
conteúdo), respectivamente. Os medicamentos ou as terapias que causam aumento e redução de um, também
causarão aumento e redução no outro, respectivamente, exceto no caso de asthi e vāta [26-27]

Prāyo vrddhirhi tarpaṇāt

Śleṣmaṇā anugatā tasmāt saṇkṣayaḥ tadviparyayāt

Vāyunā anugato tasmācca vṛddhikṣaya samudbhavān

Vikārān sādhayet śīghram kramāt laṅghanabṛmhaṇaiḥ

Vāyonyatra tajjāmstu taireva utkramayojitaiḥ

O aumento (dos doṣas, dhātus e malas) deve-se geralmente a santarpana (terapia de nutrição), seguido pelo
aumento de śleṣman (kapha), enquanto a redução deve-se à falta de nutrição, seguido pelo aumento de vāyu
(vāta).

Portanto, as doenças originadas do aumento e redução da residência (continente) e do que reside (conteúdo)
devem ser tratadas rapidamente adotando-se as terapias langhana (terapia que causa emagrecimento do corpo,
redução) e bṛmhana (terapia que produz corpulência, aumento), respectivamente.

No caso de vāyu (vāta), utiliza-se outro meio. Suas doenças são tratadas com as mesmas terapias, mas na
ordem oposta (no aumento de vāta deve-se adotar a terapia brmhana e na redução de vāta, a terapia
langhana) [28-29]

Os doṣas que estão desequilibrados (em decorrência de vṛḍdhi ou kṣaya) causam desequilíbrio do rasa e de outros
dhātus próximos; ambos (doṣas e dhātus), juntos, desequilibram os malas(produtos residuais) que, por sua vez,
desequilibram os malāyanās (canais para eliminação dos malas) que são: dois na região inferior, sete na cabeça e
os canais de suor. A partir desses canais desequilibrados desenvolvem-se doenças relacionadas. [35,2-36]
O aumento ou redução (dos doṣas) devem ser controlados evitando-se e ingerindo alimentos que são indesejáveis
e desejáveis, respectivamente, se tais alimentos não forem insalubres/contraindicados [42]

Os doṣas que sofreram aumento e redução produzem geralmente desejos por alimentos que são dessemelhantes e
semelhantes (aos doṣas em termos de propriedades), respectivamente; mas a pessoa que não é inteligente não os
reconhece. [43]

Os doṣas, quando aumentados, produzem suas respectivas características (sinais e sintomas) dependendo de seu
vigor; quando reduzidos, não se manifestam, e quando normais, realizam suas funções normais. [44]

Os mesmos doṣas, quando em estado de normalidade, são causas para o desenvolvimento (saudável) do corpo, e
tornam-se as causas de sua destruição quando em estado anormal. Portanto, adotando-se medidas saudáveis
(alimentos, atividades, etc) o corpo deve ser protegido de suas reduções assim como de seus aumentos. [45]

Capítulo 12: Doṣabhediya (Clarificação sobre os Doṣas)

Locais de Vāta

Pakvāśaya (“intestino grosso”), quadris, membros inferiores, ouvidos, ossos e os órgãos do tato (pele) são os sítios
de vāta, especialmente o pakvāśaya. [1]

Locais de Pitta

Nābhi (umbigo), āmāśaya (“estômago”), suor, lasīka (linfa), sangue, rasa (“plasma”), olhos e os órgãos do tato
são os sítios de pitta, especialmente nābhi (região em torno do umbigo). [2]

Locais de Kapha

Tórax, garganta, cabeça, kloman (pâncreas), articulações, āmāśaya (“estômago”), rasa (plasma), gordura, nariz e
língua são os sítios de kapha, especialmente o tórax. [3]

Subdoṣas

Vāyu (vāta) tem cinco divisões, começando com prāna, etc (prāna, udāna, vyāna, samāna e apāna). [4,1]
Prāna está localizado na cabeça e movimenta-se no tórax e na garganta; ele sustenta o funcionamento da
inteligência, o coração, os órgãos sensoriais e a mente, cuida da expectoração, dos espirros, arrotos, a respiração
e a deglutição do alimento. [4]

O tórax é o sítio de udānavāta, ele se movimenta do nariz ao umbigo, passando pela garganta; suas funções
incluem a fala, a força, o entusiasmo, a energia/vigor (a capacidade de trabalhar), a coloração (da compleição) e a
memória (consciência). [5]

Vyāna está localizado no coração (hṛdaya), movimenta-se por todo o corpo em grande velocidade, cuida de
funções motoras como movimento rápido, caminhar, trazer partes do corpo para baixo, suspender partes do corpo
para cima (flexão/extensão), abrir e fechar os olhos, etc., em geral, todas as atividades relacionadas com o corpo.
[6-7]

Samāna está localizado próximo ao fogo (atividade digestiva), movimenta-se por todo o koṣtha (trato alimentar).
Ele recebe e segura o alimento (no trato alimentar por algum tempo), cozinha (ajuda no cozimento ou digestão),
separa a essência e os resíduos (dos alimentos) e elimina (os resíduos). [8]

Apānavāyu está localizado no apāna deśa (região do períneo), movimenta-se na pélvis/cintura, bexiga, órgãos
genitais e coxas e cuida de funções como a eliminação de sêmen, fluido menstrual, fezes, urina e feto. [9]

Pitta tem cinco divisões. Aquele localizado entre pakvāśaya (intestino grosso) e āmāśaya (estômago),
apesar de ser composto por todos os pañcabhūtas, possui (qualidades predominantes de) tejas bhūta
sendo destituído de liquidez, não possui snigdha, śīta e outras propriedades de ap bhūta. É conhecido pelo
termo anala (fogo) por causa de sua função de pāka (digestão e transformação da matéria alimentar). Ele
cozinha o alimento, divide-o em essência e resíduos separadamente. Estando aí localizado, ele concede
graça (ajuda) aos outros pittas ali presentes (rañjaka pitta) e também aos demais (dhātvagnis presentes
nos dhātus) dando-lhes vigor (poder de funcionamento). Este pitta é conhecido como pācaka. [10-12]

O pitta localizado no āmāśaya (“estômago”) é conhecido como rañjaka, porque ele transmite a coloração
vermelha para rasa (e o converte em rakta, o próximo dhātu). [13.1]

Obs: “de acordo com Suśruta, rañjaka pitta é localizado no yakṛt (fígado) e plīha (baço)”
T. Sreekumar, MD (Ay), PhD, comentarista do Aṣṭāṅgahṛdaya

O pitta localizado no hṛdaya (coração; ou, no contexto, sistema límbico e áreas associativas do córtex
cerebral) é conhecido como sādhaka, porque cuida das funções (mentais) tais como conhecimento,
inteligência, habilidade discriminativa, autoconsciência, auto-estima etc, apoiando assim os propósitos
(objetivos) da vida. [13.2-14.1]

Aquele (pitta) localizado nos olhos é conhecido como ālocaka (pitta) porque fornece o poder de percepção
visual com a discriminação dos objetos (identificação e interpretação) que são vistos.

O pitta localizado na pele é bhrājaka porque auxilia na exibição da coloração (ou compleição) natural. [14]

Obs.: “Cakrapāṇidatta mencionou que a produção de temperatura normal e anormal do corpo, assim
como a coloração normal ou anormal da pele são devidas a esse pitta”

Śleṣman (kapha) também é dividido em cinco tipos. Aquele kapha localizado no tórax é conhecido como
avalambaka, já que forma o suporte (avalamba) de trika (o encontro entre ombro, pescoço e dorso), por
sua própria força, de hṛdaya (coração) através do poder da essência do alimento (rasa), sustenta (os
outros locais de kapha) através de ambukarma (fluidos corporais), ficando em seu próprio lugar. [15-16.2]

Aquele localizado no āmāśaya (“estômago”) é kledaka, pois umedece (kledana) as massas mais duras de
alimento (misturando-as com muco). [1.2-17.1]

Aquele localizado na língua é conhecido como bodhaka pois ajuda na percepção do paladar. [17.2]

Aquele localizado na cabeça é conhecido como tarpaka, pois nutre os órgãos sensoriais.

Aquele localizado nas articulações é conhecido como śleṣaka, pois lubrifica (mantém a integridade das) as
articulações. [17.2-17.3]

Apesar desses (doṣas) estarem presentes em todo o corpo, estes aspectos são considerados como sítios e
funções (especiais) de cada um deles (dos doṣas) em geral quando (estão) normais.
Quando qualidades de vāta como Rūkṣa e outras (laghu, cala, khara, etc), são associadas com uṣṇa (calor),
causam caya (ligeiro aumento) de vāta,

Associadas com śīta elas causam seu prakopa (profundo aumento).

Snigdha e outras qualidades opostas a vāta (guru, picchila, sthira, etc.) associadas com Uṣṇa levam vayu ao
seu praśama (redução ao nível normal). [19.2-20.1]

 Rūkṣa (“seco”), etc + Uṣṇa (“quente”) = Caya

 Rūkṣa (“seco”), etc + Śīta (“frio”) = Prakopa

 Snigdha (“untuoso”), etc + Uṣṇa (“quente”) = Praśama

Tīkṣṇa e outras qualidades (rūkṣa, laghu, sara, drava, etc) associadas com śīta (frio) causam caya (leve
aumento) de pitta.

Associadas com Uṣṇa, causam prakopa (grande aumento)

Manda e outras qualidades (guru, snigdha, picchila, sthira, etc) associadas com śīta levam pitta ao seu
praśama (redução ao estado normal). [20.2-21.1]

 Tīkṣṇa (“penetrante”), etc + Śīta (“frio”) = Caya


 Tīkṣṇa (“penetrante”), etc + Uṣṇa (“quente”) = Prakopa
 Manda (“lento”), etc + Śīta (“frio”) = Praśama

Snigdha e outras qualidades (guru, picchila, manda, śīta, ślakṣṇa, sāndra, mṛḍu) associadas com śīta (frio)
causam caya (pouco aumento) de śleṣman (kapha) [por causa de sua propriedade de solidificação:
skannatva]

Associadas com uṣṇa (calor) elas causam prakopa (grande aumento) de śleṣman

Rūkṣa e outras qualidades (khara, rūkṣa, laghu, visada, cala, sara, laghu) associadas com Uṣṇa levam ao
seu śama (redução ao estado normal). [21.2-22.1]

 Snigdha (“untuoso”), etc + Śīta (“frio”) = Caya


 Snigdha, etc + Uṣṇa (“quente”) = Prakopa
 Rūkṣa (“seco”), etc + Uṣṇa (“quente”) = Praśama

Caya designa o aumento que ocorre em seus próprios sítios (localizações) e este aumento produz aversão
pelas coisas que são as causas do aumento e preferência por coisas que possuem qualidades opostas
(capazes de pacificar). [22.2-23.1]
Kopa designa a difusão dos doṣas aumentados para diferentes locais. Isto provoca o aparecimento de suas
características próprias (sinais e sintomas dos doṣas em estado aumentado), sensação de mal estar,
aparecimento de sintomas prodrômicos e a manifestação das doenças. [23]

Śama designa o estado de normalidade (dos doṣas) em seus sítios específicos e a não-manifestação de
anormalidades. [24.1]

Caya, prakopa e praśama de vāyu (vāta) ocorrem nas três estações começando com grīṣma,
respectivamente. Os de pitta ocorrem nas três estações começando com varṣā e os de śleṣman, nas três
estações começando com śiśira. [24.2-25.1]

Tabela 2: Períodos de aumento e equilíbrio dos doṣas segundo as estações

Em grīṣma (verão), a vegetação obtém aumento nas propriedades de laghu (leveza), rūkṣa (secura) etc. O
uso de tais vegetais causa caya (acúmulo/leve aumento) de vāta, devido à similaridade de propriedades
que é intensificada pelo aumento (característico dessa estação) de tais propriedades no corpo humano,
mas ele (vāta) não sofre prakopa (grande aumento) por causa do calor da estação (o calor de grīṣma age
como impedimento).

Da mesma forma, pitta sofre caya (leve aumento) em varṣā (estação chuvosa) por causa da produção de
amla vipāka (que causa acidez na digestão) na água e nos alimentos, mas não sofre prakopa (grande
aumento) por causa do frio da estação (que atua como impedimento).

Kapha sofre caya, por causa do uso de água e plantas (alimentos) que atingem qualidades como snigdha e
śīta, na estação śiśira (inverno). Apesar de o corpo humano e as condições ambientais favorecerem o
aumento de kapha devido à similaridade de propriedades, ele não sofre prakopa (agravamento) porque
ele (kapha) torna-se solidificado (em decorrência do frio severo desta estação: “skannatva”). [25.2-28.1]
O caya (acúmulo), prakopa (agravamento) e praśama (pacificação) dos doṣas de acordo com as estações
foi descrito aqui. Novamente, os doṣas também podem atingir tais estados instantaneamente como
consequência da ingestão dos alimentos, atividades etc. Às vezes, eles podem não atingir (estes estados)
mesmo durante estas estações específicas (por influência da comida, regime, etc). [28.2-29.1]

Os malas aumentados (doṣas) espalham-se por todo o corpo dos pés à cabeça (o corpo inteiro)
subitamente (e produzem as doenças), mas são eliminados lentamente, assim como as inundações (dos
rios). [29.1-30.1]

Os malas aumentados (doṣas) produzem doenças de vários tipos, com inúmeras características, e
perturbam o corpo. Como não é possível descrever as causas, os sintomas e o tratamento de todas,
separadamente, elas serão descritas apenas de um modo geral. [30.2-31]

Os doṣas são as causas principais de todas as doenças. Assim como o pássaro que voa o dia inteiro através
de todo o céu não é capaz de violar sua própria sombra e assim como todas as coisas do universo não
podem existir desprovidas dos três guṇas (sattva, rajas e tamas), da mesma forma todos os diferentes
tipos de doenças não podem existir sem os doṣas. Assim, aquilo que é causado por (ou se origina de)
anormalidades dos dhātus não pode existir sem o (envolvimento) dos doṣas. [32-34.2]

Causas para o aumento dos doṣas

As causas para que (os doṣas) aumentem são:

Artha: correlação inadequada dos objetos sensoriais com os respectivos órgãos dos sentidos;

Kala: o tempo, as estações;

Karma: as ações realizadas inadequadamente.

Cada uma dessas causas pode ser de três tipos, a saber, hīna (inadequada, insuficiente, fraca), ati
(demasiada, excessiva, grande) e mithyā (imprópria, irregular, incorreta, oposta). [34.2-35]

A associação hīnayoga de artha constitui o contato deficiente (inadequado, insuficiente) ou a falta de


contato com os objetos dos sentidos (som, tato, visão, sabor e cheiro) com seus respectivos órgãos
sensoriais (ouvidos, pele, olhos, língua e nariz).
O atiyoga de artha consiste no contato excessivo

(demasiado, intenso).

A visão de objetos que são extremamente pequenos (minúsculos), brilhantes, aterrorizantes, muito
próximos, muito distantes, desagradáveis, anormais, etc., constitui a terrível mithyāyoga (associação
inadequada) para o órgão da visão. Da mesma forma, ouvir sons muito altos, sentir odores de
decomposição, etc., pelos respectivos órgãos dos sentidos deve ser considerado (como associação
inadequada). [36-38.2]

Kāla é de três tipos: frio, quente e chuvoso. O hīna yoga de kāla é o aparecimento (manifestação) de frio,
etc. (calor e chuva) em um grau muito leve.

Atiyoga é a manifestação em um grau elevado.

Mithyāyoga é a manifestação de qualidades opostas daquelas que são próprias da estação. [38.2-39]

O karma (as ações) também são de três tipos, a saber, aquelas ações pertencentes ao corpo, à fala e à
mente;

hīnayoga constitui a ausência (falta ou deficiência) de atividade de cada um dos três;

o excesso de atividade de cada um deles constitui atiyoga;

Forçar as necessidades do corpo, voluntariamente, em momento inadequado, a supressão das


necessidades quando se manifestam, posturas inadequadas, maneira de agir imprópria (relacionada com
esta vida e com o futuro), modo inadequado de cair, de pular, etc., falar enquanto come, luxúria, medo,
desprezo etc., exercer as dez atitudes não-virtuosas (descritas no capítulo 2), como um assassinato
realizado nesta vida ou nas vidas anteriores – todas essas atividades constituem mithyāyoga de karma
(conduta inadequada). [40-43.1]

Estas são as causas para o (aumento dos) doṣas; assim aumentados eles produzem muitos tipos de
doenças em śākha (os 6 dhātus de rakta em diante + pele), koṣṭha (“trato gastrointestinal”) e asthi sandhis
(articulações). [43.2-44.1]
Doṣas aumentados

Prolapso, dilatação, dor penetrante, dormência, fadiga, dor contínua, dor em cóica, dor intermitente, dor
como se estivesse quebrando, estagnação (de urina e fezes), dor muscular, espasticidade, contrações, dor
localizada, arrepios, sede, tremor, aspereza, porosidade, atrofia, emaciação, dor pulsante, dor em
compressão ou constrição, rigidez (dureza, retenção, perda dos movimentos), sensação de sabor
adstringente na boca, aparecimento de coloração preto esfumaçado ou marrom avermelhado – estas são
as funções (sinais e sintomas anormais) de vāta em estado aumentado. [49.2-51.2]

As funções de pitta em agravamento (vikṛti) são sensação de queimação, coloração avermelhada, calor,
cozimento (digestão aumentada), formação de pus, ulceração, etc., perspiração, umidade, exsudação,
putrefação (decomposição, gangrena), debilidade, desmaios, intoxicação, sabor picante e azedo na boca,
aparecimento de cores diferentes da coloração pálida e marrom avermelhado. [51.2-52]

As funções (sinais e sintomas anormais causados pelo aumento) de kapha são oleosidade, dureza, prurido
(coceira), frieza, sensação de peso, obstrução e formação de crostas/cobertura dentro dos canais, perda
dos movimentos, edema, indigestão, excesso de sono, coloração branca/pálida, sensação de sabores doce
e salgado na boca e ritmo lento em todas as atividades. [53-54.1]

Origem das doenças

As doenças originadas de aspectos específicos (que dão origem ao aumento dos doṣas) são conhecidas
como doṣottha rogas (originadas dos doṣas).

Aquelas que surgem sem qualquer causa (aparente) são conhecidas como karmaja rogas (originadas dos
efeitos das más ações das vidas anteriores). {ou da vida atual; geralmente causas desconhecidas}

Doṣakarmaja rogas (oriundas da combinação dos doṣas com as más ações das vidas anteriores) são
aquelas doenças graves que surgem devido a causas insignificantes [58]

As primeiras (as doenças que se originam dos doṣas) podem ser curadas por procedimentos terapêuticos
que sejam contrários às qualidades dos doṣas aumentados (em alimentos, drogas ou atividades que
possuem qualidades opostas aos doṣas aumentados);
As doenças karmaja (as doenças que se originam de ações das vidas anteriores) são curadas por práticas
(ações nobres) que possam reduzir os efeitos dos “pecados” acumulados/ após o fim (o término ou a
redução dos efeitos de tais ações);

Aquelas que se originam da combinação de ambos são curadas pela aplicação combinada de drogas e práticas de
ações meritórias. [59]

Referências Bibliográficas

Aṣṭāṅga Hṛdaya de Vāgbhaṭa, Sūtrasthāna, Capítulos 1, 11 e 12

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