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editorial
Gláucia Viola, editora

Aspectos da ‚

G

e da virtualização de G

A
INlDELIDADEÏUMADASCOISASMAISTEMIDASEMUMARELA¥ÎOAFETIVA0ORESSA
RAZÎO APsique Ciência&VidaSEDEBRU¥ASOBREOASSUNTONO$OSSIÐDESTA
EDI¥ÎO!OLONGODASDÏCADAS INÞMEROSESTUDOSFORAMREALIZADOSSOBREAS
RAZÜES QUE LEVAM Ì INlDELIDADE %NTRE ALGUNS FATORES  DESTACAM SE A DINÊ
MICAPATOLØGICADOCASAL AFALTADEQUALIDADEDACOMUNICA¥ÎOENTREOSDOIS APOUCA
EXISTÐNCIADEAlNIDADES DEVALORESEDECREN¥AS AINmUÐNCIADO
COMPORTAMENTOAMOROSOSOCIALQUEPASSAPORTRANSFORMA¥ÜES
CONSTANTEMENTE5MFATOASERLEVADOEMCONTA POREXEMPLO 
Ï O ADVENTO DA TECNOLOGIA E PRINCIPALMENTE DA INTERNET  QUE
MUDOUASRELA¥ÜESCONSIDERAVELMENTE
(OJENÎOÏMAISPOSSÓVELSERELACIONARSEMALGUMTIPODEINTE
RATIVIDADEVIRTUAL/ENCONTROAMOROSOTEMLUGARCATIVONAREDE 
NACIVILIZA¥ÎODAVIRTUALIZA¥ÎODOSAFETOS

SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL


-AS  APESAR DOS AVAN¥OS  A TRAI¥ÎO AINDA Ï CERCADA DE MITOS
TRADICIONAIS TAISCOMOQUEMAMANÎOTRAI QUEMCONSEGUESEPA
RARAMORDESEXONÎOVÐPROBLEMASEMTRAIR MULHERESSØTRAEM
POR VINGAN¥A  HOMENS SÎO MAIS INlÏIS 0ARA ESTE último tópico 
DESTACA SE UMA RECENTE PESQUISA QUE EVIDENCIA SIMILARIDADE NA
PROPOR¥ÎO DA INlDELIDADE ENTRE HOMENS E MULHERES  O QUE DE
MONSTROU UMA ALTERA¥ÎO DE ATITUDE SE COMPARADO A ESTUDOS DAS DÏCADAS DE  E
 QUEDEMONSTRAVAMPREDOMINÊNCIAENTREOSHOMENS
/UTRAPESQUISAAPONTAFATORESQUELEVAMÌTRAI¥ÎORELACIONADOSÌINSATISFA¥ÎOCOMO
RELACIONAMENTOCONJUGALEOUCOMOCÙNJUGE2ESSALTA AINDA ASPECTOSRELACIONADOSÌ
SEXUALIDADEEÌPROCURAPELOAMORROMÊNTICO
4ODOSESSESASPECTOSAPRESENTADOSPELOSESTUDOSREVELAMUMACOMPLEXIDADENODE
BATE MASUMACARACTERÓSTICACOMUMNAINlDELIDADEOEGOÓSMO3EGUNDOOSAUTORESDO
ARTIGO ATRAI¥ÎOGERADAPELABUSCADOAMORROMÊNTICOÏUMPO¥OPROFUNDODEFRUSTRA¥ÎO
NARELA¥ÎO!lNALhOROMANCE PELASUAPRØPRIANATUREZA ESTÉFADADOADEGENERARPARAO
EGOÓSMO POISELENÎOÏUMAMORDIRIGIDOAOUTROSERHUMANO!PAIXÎODOROMANCEÏ
SEMPREDIRIGIDAÌSNOSSASPROJE¥ÜES ÌSNOSSASEXPECTATIVAS ÌSNOSSASFANTASIASv
0ORTANTO CUIDADO.ÎOSEENGANEå
"OALEITURAå
“Das grandes traições iniciam-se as
'LÉUCIA6IOLA grandes renovações.”
www.facebook.com/PortalEspacodoSaber Vassili Rozanov
sumário

CAPA
DOSSIÊ:
Infidelidade conjugal
Até onde as redes sociais
podem trazer efeitos negativos
para uma relação e caracterizar
comportamento ambivalente?
35
SHUTTERSTOCK

22/02/2019 16:08

MATÉRIAS
08 Alegria motivadora
Descobrir como levar
a vida com otimismo

24 e bom humor é
fundamental para
o bem-estar emocional
ENTREVISTA
Psiquiatra Mario Louzã aborda
questões relacionadas ao transtorno do
pânico, semelhanças e diferenças em
relação à ansiedade considerada normal Transtorno
opositivo desafiador 56
SEÇÕES Frequentemente, os
05 NA REDE primeiros sintomas do TOD
06 RELAÇÕES EM PAUTA surgem durante a pré-escola
14 UTILIDADE PÚBLICA e, raramente, mais tarde, após
16 IN FOCO o começo da adolescência
18 PSICOPOSITIVA
20 PSICOPEDAGOGIA
22 IN FOCO
32 COACHING
Sete pecados
72
34 LIVROS
50 NEUROCIÊNCIA capitais
52 PSICOLOGIA JURÍDICA A intensidade e a frequência
54 RECURSOS HUMANOS dos sentimentos são o que
64 DIVÃ LITERÁRIO diferencia os delitos bons
66 CINEMA dos ruins e assombra a
70 PSICOLOGIA SOCIAL consciência do ser humano
76 PERFIL
80 EM CONTATO
82 PSIQUIATRIA FORENSE
na rede por Nicolau José Maluf Jr.

A internet,
uma ALDEIA DE ÓDIO
AS REDES SOCIAIS ACUMULAM EVENTOS DE DISSEMINAÇÃO
DA RAIVA EXACERBADA NA DEFESA DE UM POSICIONAMENTO,
MAS HÁ UMA GRANDE DIFERENÇA ENTRE POSIÇÃO
FIRME DE OPINIÃO E MANIFESTAÇÃO DE FÚRIA

A
o receber o título honoris causa vigia dos usos e costumes,
na Universidade de Turim, na a propagadora das maledi-
Itália, Umberto Eco disse que cências sobre a vida sexual
“o drama da internet é que ela da vizinhança. Um protó-
promoveu o idiota da aldeia a portador tipo da combinação de
da verdade”. Para o autor, antes das re- frustração afetiva sexual1
des sociais, os “idiotas da aldeia” tinham e da necessidade de des-
direito à palavra “em um bar e depois truir a vida e a felicidade
de uma taça de vinho, sem prejudicar a em quaisquer de suas mo-
coletividade”. dulações enquanto busca
Fora de contexto, pode parecer uma entregar a sua existência
atitude elitista, antidemocrática. Mas às mãos de uma liderança
ele parece fazer referência a atividades dominadora.
como as dos haters, que não só postam São irrupções da ca-
e viralizam mensagens de ódio, mas mada da personalidade
também são conhecidos pela forma rasa portadora do que Reich
com que manejam supostas informações, DElNIU COMO impulsos se-
sem checagem. Duas obras podem nos cundários, subjacentes à fachada apresen- Essa é uma das sementes da radicali-
ajudar nesse panorama. Uma do pró- tada socialmente. ZA¥ÎO DOEXACERBAMENTOVERIlCADONAS
pria Eco. Na criação literária O Nome da Existe diferença entre um posi- redes sociais, quando das postagens com
Rosa há um embate entre os personagens CIONAMENTO lRME E A RAIVA E O ØDIO  A ataques a personalidades e nas manifes-
Jorge de Burgos, monge e bibliotecário, destrutividade e a negação de qualquer tações político-partidárias de qualquer
e Willian de Baskerville, franciscano: “O positividade no outro. Há aí, nesse caso, tribo. Aí, essas redes merecem realmente
riso é a fraqueza, a corrupção, a insipidez a ação de um mecanismo (inconscien- a adjetivação “esgotosfera”.
DENOSSAALMAv AlRMA*ORGEDE"URGOS te) em que projetamos no outro toda Detalhe importante: na obra de Eco
O riso seria o contrário da fé. Fé que, no e qualquer imperfeição que possamos mencionada, a biblioteca (simbolizando
viés do monge, implica atitude constrita portar, e nos tornamos exemplares. o conhecimento) termina consumida por
e abandono da razão. Num plano mais profundo, o “zé nin- um incêndio provocado. O idiota da al-
Em paralelo, no desabafo em forma guém” tenta anular a dor insuportável deia vence.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ARQUIVO PESSOAL

de livro Escuta, Zé Ninguém!, Reich des- que a vitalidade no outro, vivida como
creve a gênese e o modo de ser do Homo inalcançável para ele, evoca. Nicolau José Maluf Jr. é
normalis e sua comezinha existência pau- psicólogo, analista reichiano,
tada pelo rancor, ressentimento, inveja e
1
O conceito de frustração afetiva sexual, doutor em História das
na obra reichiana, não guarda relação Ciências, Técnicas e
destrutividade, tanto no plano pessoal unicamente com o fator quantitativo, Epistemologia (HCTE/UFRJ)
quanto no social. É o falso moralista, o não é meramente atividade sexual.

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relações em pauta por Elaine Cristina Siervo

A escolha do PARCEIRO
EM GERAL, A BUSCA É
PELO QUE NOS FALTA E
NA MAIORIA DAS VEZES
FAZEMOS ISSO DE FORMA
INCONSCIENTE. O
COMPANHEIRO JÁ CHEGA
COM O PESO DE SUPRIR
TODAS AS LACUNAS
EXISTENTES

A
final, quais são os fatores que
determinam a escolha de
um parceiro amoroso? Para
começar a responder essa
indagação, precisamos olhar para a
nossa família de origem, pois é de lá
que derivam os primeiros exemplos de
relacionamento e de identificação com
as figuras masculina e feminina.
A família sempre será o ponto de
partida para modelos ou contramode-
los pessoais. Se admiramos qualidades
nos pais ou em outros que fizeram esse
papel, provavelmente haverá identifi-
cação. O indivíduo passa a desenvolver
essas qualidades em si, o que interfere
na busca de um parceiro de forma in-
consciente, porque vai buscar encon-
trar os mesmos aspectos no outro.
As heranças familiares estão longe
de limitar-se a transferência de bens
e dinheiro. É transmitida também,
através das gerações, toda uma gama
de valores morais, hábitos, cultura e
crenças. Durante toda nossa vida, po-

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demos observar e identificar os pa- em Eco. Ela continuaria tendo a últi- uma relação de muita desigualdade,
drões herdados na convivência com as ma palavra, mas nunca mais a primei- na qual o outro sacrifica seus projetos
pessoas. Como em um espelho, o nos- ra. Eco poderia apenas repetir a última pessoais, desejos e sonhos priorizan-
so “eu” é refletido pelo outro e as re- palavra ou frase que escutasse de al- do os de seu companheiro. Quando
lações de qualquer tipo são oportuni- guém, impossibilitada assim de comu- existe uma patologia narcísica grave,
dades de reconhecimento dos padrões nicar-se de outra forma. Um dia viu a relação pode conter abuso e violên-
de comportamento e outros aspectos Narciso em caçada pelas montanhas cia física e psicológica.
saudáveis e patológicos. Geralmente e apaixonou-se por ele. Desejava lhe Sempre tentaremos buscar em um
os conflitos e problemas relacionais dizer palavras de afeto, mas não po- parceiro o que nos falta, e na maio-
agem como denunciantes dos aspectos dia, só podia repetir o que ele lhe dizia. ria das vezes faremos isso de forma
mal resolvidos em nossa psique. Narciso tentou conversar com ela em inconsciente. O companheiro afeti-
Existem duas formas básicas de vão, pois somente ouvia de sua boca a vo será designado a suprir todas as
escolha do parceiro: a escolha por última palavra que tinha pronunciado. lacunas existentes ou resgatar o pa-
semelhança ou por complementarie- Desprezou Eco assim como todas as raíso perdido das primeiras relações
dade. As semelhanças entre os casais outras ninfas, também atraindo para si objetais e eliminar o vazio existen-
podem ser por idade, escolaridade, uma maldição que o levou a definhar, cial. Deposita-se no parceiro a árdua
origem cultural, área profissional, as- pois ficou enfeitiçado por sua imagem e difícil tarefa de sanar as mazelas
pectos físicos, hobbies, entre outros refletida nas águas de um rio. emocionais, resultado de falhas do
aspectos. De forma geral, a opção desenvolvimento e amadurecimen-
por um companheiro com mais seme- to, iniciadas desde o nascimento. A
lhanças e afinidades é considerada um DEPOSITA-SE NO trajetória do desenvolvimento e ama-
facilitador para a harmonia PARCEIRO A ÁRDUA durecimento pode estar contida por
no relacionamento. As vários fatores: doenças físicas e men-
relações complemen- E DIFÍCIL TAREFA DE tais na família, situações de privação
tares, ou seja, aque- SANAR AS MAZELAS afetiva, pobreza extrema, negligência
las em que algumas nos cuidados básicos, violência fami-
características da
EMOCIONAIS, liar, abuso e dependência de álcool
personalidade são RESULTADO e drogas na família. As figuras ma-
bem diferentes en- terna/paterna introjetadas, e a forma
tre o casal, têm sua
DE FALHAS DO com que foi vivenciada a conflitiva
forma específica de DESENVOLVIMENTO E edípica, irão ditar o papel que se es-
funcionamento, e pera que o parceiro ocupe na relação
AMADURECIMENTO,
essa escolha reve- e também a maneira como o indiví-
la motivações mais INICIADAS DESDE O duo adulto se relaciona com sua fa-
profundas do que NASCIMENTO mília de origem.
podemos imaginar. Os conflitos gerados decorrentes
O que pode ilus- do relacionamento afetivo são uma
trar esse ponto é o Esse mito fala sobre a escolha do boa oportunidade de autoconheci-
mito grego de Eco e parceiro de uma forma muito ideali- mento. A partir da angústia e dor emo-
Narciso. Eco era uma zada, prenhe de características narcí- cional provocadas pelos problemas de
ninfa muito falante que an- sicas acentuadas. Na relação, o outro relacionamento, muitas pessoas bus-
dava pelos bosques. A últi- precisa funcionar como um eco para a cam a psicoterapia e iniciam aí uma
ma palavra tinha sempre que manutenção de seu narcisismo, isto é: grande jornada em busca de si mes-
ser a dela. Um dia a deusa precisa “refletir” e ecoar sua persona- mas. O campo relacional é uma ótima
Juno procurava pelo marido, lidade. Em maior grau, essa pode ser oportunidade de individuação.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL

desconfiada de que o mesmo


se divertia entre as ninfas. Eco Elaine Cristina Siervo é psicóloga. Pós-graduada na área Sistêmica – Psicoterapia
resolveu distraí-la enquanto de Família e Casal pela PUC-SP. Participa do Núcleo de Psicodinâmica e Estudos
suas amigas se escondiam. Transdisciplinares da SBPA (Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica). Atuou na
área de dependência de álcool e drogas com indivíduos, grupos e famílias.
Juno percebeu o ardil e, com
raiva, lançou uma maldição

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MARIO LOUZÃ

O psiquiatra Mario
Louzã destaca que a
síndrome do pânico
está, geralmente,
relacionada
a estresse,
independentemente
de sua origem

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E N T R E V I S T A

O transtorno
do PÂNICO
não está sozinho
O psiquiatra Mario Louzã explica
que, em muitos casos, ele pode estar
associado a outras patologias, como
a bipolaridade, por exemplo; por isso,
o tratamento é longo e, em algumas
situações, para a vida inteira
Por Lucas Vasques Peña

“U
ma das piores sensações do de extremo estresse: falecimento ou a descoberta
mundo.” “A sensação é que vou de uma doença grave de uma pessoa próxima; mu-
morrer.” Essas são apenas algu- danças constantes na vida, experiências traumáti-
mas descrições de pessoas que cas, como um assalto ou um acidente de carro.
sofrem de síndrome do pânico e do que acontece “O tratamento pode envolver psicoterapia e o
durante as crises. uso de medicações para redução dos sintomas”,
Trata-se de um transtorno de ansiedade, no explica Louzã, médico psiquiatra, especialista
qual são registradas crises inesperadas de deses- em Psiquiatria Geral, com pós-graduação (dou-
pero e medo intenso, mesmo que não haja motivo toramento) na Clínica Psiquiátrica da Univer-
algum para isso ou sinais de perigo iminente. sidade de Würzburg, Alemanha, e pós-douto-
Além dessas crises, a pessoa sente extrema rado no Instituto Central de Saúde Mental em
preocupação com a possibilidade de ter novos Mannheim, Alemanha.
ataques (o chamado medo do medo) e com as É médico assistente e coordenador do Progra-
consequências desses ataques, pois isso dificulta a ma de Esquizofrenia (Projesq) e do Programa de
FOTO DO ENTREVISTADO: DIVULGAÇÃO/ DEMAIS: SHUTTERSTOCK

rotina do dia a dia. Déficit de Atenção e Hiperatividade (Prodath) do


De acordo com o psiquiatra Mario Louzã, a Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
síndrome do pânico se manifesta, geralmente, em da FMUSP, além de bacharel em Filosofia pela
consequência do estresse, seja qual for a origem. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Huma-
“Pessoas podem desencadear crises em situações nas da USP.

Lucas Vasques Peña é jornalista e colabora nesta publicação

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AS CAUSA S DO TR A NSTOR NO DO PÂ -
N ICO A I N DA NÃO F OR A M BEM E SCLA -
R ECIDA S , POR ÉM ACR EDITA - SE QU E
FATOR E S GEN É TICOS E A MBIENTA IS ,
E STR E SSE ACENTUA DO , USO A BUSI VO
DE CERTOS MEDICA MENTOS (A N FE TA -
MI NA S , POR EX EMPLO), DROGA S E Á L -
COOL POSSA M E STA R EN VOLV IDOS . É
COR R E TA E SSA I N F OR M AÇÃO ?
L OUZÃ : A síndrome do pânico está,
geralmente, relacionada a estresse,
independentemente de sua origem.
Este é um desencadeante comum dos
ataques de pânico que constituem a
síndrome. Além deste, outros fato-
res relacionados são: predisposição
genética, fatores emocionais (pesso-
as mais vulneráveis ou mais sensí-
veis aos fatos da realidade) e fatores As pessoas podem desencadear crises de pânico em situações de extremo estresse, como falecimento
externos/ambientais (alterações no ou a descoberta de uma doença grave, acidente de carro etc.
modo como o cérebro reage a deter-
minadas situações). Possivelmente, a de uma pessoa próxima; mudanças ansiedade intensa, uma sensação de
presença de outros distúrbios, como constantes na vida (seja de casa, de morte iminente ou de um ataque car-
depressão e bipolaridade, pode estar cidade, de trabalho etc.); experiên- díaco. A ansiedade intensa é acom-
relacionada com os transtornos. cias traumáticas, como um assalto panhada de sintomas f ísicos como
ou um acidente de carro. Vale frisar aceleração da frequência cardíaca,
Q UA IS SÃO OS CH A M A DOS GATILHOS que cada pessoa reage de forma dife- falta de ar, sudorese excessiva, ver-
M A IS FR EQU ENTE S PA R A A S CR ISE S DA rente a determinadas circunstâncias tigem, tontura, náuseas, tremores.
SÍ N DROME DO PÂ N ICO ? da vida. Portanto, uma situação es- Alg umas pessoas falam sobre a sen-
L OUZÃ : Pessoas com as caracterís- tressante é relativa. Uma viagem de sação de “perda de controle” ou de
ticas citadas acima podem desenca- férias pode ser uma grande alegria “sair de si mesmo”. Os ataques usu-
dear crises de pânico em situações para alg uém. Mas para outra pessoa almente duram de 10 a 15 minutos.
de extremo estresse: falecimento ou pode signif icar um estresse enorme,
a descoberta de uma doença grave já que qualquer detalhe gera ansie- D U R A NTE OS CA SOS DE SÍ N DROME DO
dade e nervosismo. PÂ N ICO , O MEDO DO MEDO POTENCI A -
LI ZA A S CR ISE S ?

Uma vez que a P OR QU E R A ZÃO U M A PE SSOA PA SSA L OUZÃ : O primeiro ataque de pâni-
M U ITOS A NOS DE SUA V IDA SEM TER co, geralmente, leva a pessoa a um
pessoa recebe o NA DA E U M DI A , POR TER FICA DO FE - pronto-socorro, devido à intensi-

diagnóstico de CH A DA DENTRO
QU EBR A DO , POR
DE UM
EX EMPLO ,
ELEVA DOR
PA SSA A
dade dos sintomas. Uma vez que
a pessoa recebe o diagnóstico de
transtorno do M A N IFE STA R O PROBLEM A ? transtorno do pânico, sabendo que
L OUZÃ : Os ataques de pânico ge- aquelas sensações são passageiras,
pânico, sabendo que ralmente acontecem de repente, ela pode “mentalmente” tentar se
em qualquer período do dia e em controlar, sabendo que, apesar de
aquelas sensações são qualquer situação. Pode ser fazen- muito desagradáveis, os sintomas

passageiras, ela pode do compras no shopping, lavando


a louça, dirigindo, em uma reunião
não colocam sua vida em risco. No
entanto, é dif ícil ser racional nesse
“mentalmente” de trabalho ou, acredite, até mesmo caso, ainda mais sabendo que po-
dormindo. Um ataque de pânico co- derá surgir outra crise. Então, sim,
tentar se controlar meça, em geral, abruptamente, com a pessoa começa a ter medo de

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novos ataques de pânico e, muitas A crise aparece em risco. De qualquer forma, até pe-
vezes, qualquer sintoma é confun- las sensações r uins que as cr ises de
dido com uma possível nova cr ise. subitamente, mas pânico causam, o ideal é consultar
Não tem como prever, pois, como já um médico que, mesmo já prevendo
dito, o ataque aparece subitamente, APESSOAPODElCAR se tratar de transtor no do pânico,
em qualquer lugar e situação. Mas a
pessoa pode f icar traumatizada, por
traumatizada, deverá solicitar exames clínicos para
se certif icar de que não há alg um
exemplo, com viagem aérea, caso o por exemplo, com problema associado.
ataque de pânico tenha sido dentro
de um avião. viagem aérea, caso Q UA L O PA PEL DO SISTEM A N ERVOSO
CENTR A L NA SÍ N DROME DO PÂ N ICO ?
E X ISTEM SEMELH A NÇA S ENTR E A S CA -
o ataque de pânico L OUZÃ : No organismo, o glutamato e
R AC TER ÍSTICA S DA A NSIEDA DE CONSI -
DER A DA NOR M A L E DA SÍ N DROME DO
tenha sido dentro o óxido nítr ico atuam como mensa-
geiros químicos – são os chamados
PÂ N ICO ?
Q UA IS SÃO ELA S E O QU E DI - de um avião neurotransmissores –, conduzindo
FER E A MBA S ? infor mações de uma célula ner vo-
L OUZÃ : A ansiedade é um sintoma AS PE SSOA S COM SÍ N DROME DO PÂ N ICO sa (neurônio) a outra. É dessa co-
normal do ser humano. Quando A FIR M A M QU E A SENSAÇÃO É TER R Í - municação entre os neurônios que
vamos realizar uma prova dif ícil V EL .M U ITOS ACH A M QU E R EA LMENTE depende todo o funcionamento do
ou par ticipar de uma entrevista de VÃO MOR R ER . É POSSÍ V EL QU E O ME - organismo, do pensamento e ações
emprego, por exemplo. No caso de TA BOLISMO DA PE SSOA , DU R A NTE A S conscientes, como os movimentos da
ansiedade gener alizada, os sintomas CR ISE S , POSSA R EA LMENTE SE A LTER A R mão, até os processos involuntários,
são mais for tes e incluem ir r itabili- A PONTO DE ELA MOR R ER ? como a respiração. No sistema ner-
dade, dif iculdade de concentr ação, L OUZÃ : Apesar de muito desagradá- voso central, formado pelo cérebro e
insônia e fadiga. No tr anstor no do veis, os sintomas não colocam a vida por órgãos agregados, como o tronco
pânico, a pessoa tem uma súbita an-
siedade intensa, acompanhada de
palpitação, sensação de desmaio,
falta de ar, sudorese excessiva, ver-
tigem, tontur as e for migamentos no
cor po.

EM F U NÇÃO DA S SEMELH A NÇA S , COMO


EFE TUA R O DI AGNÓSTICO COR R E TO ?
L OUZÃ : Se os sintomas estiverem
tão for tes a ponto de interferir na
sua vida social e prof issional, é
hora de buscar ajuda médica. Ape-
nas o especialista poderá realizar o
diag nóstico e indicar o tratamento
cor reto. Tanto no tr anstor no de an-
siedade gener alizada como na sín-
drome do pânico.

EM QU E MOMENTO A PE SSOA CHEGA À


CONCLUSÃO DE QU E O QU E SENTE NÃO
É A PENA S A NSIEDA DE E SI M SÍ N DROME
DO PÂ N ICO ?
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

L OUZÃ : Apenas o médico especia-


lista poderá analisar os sintomas e Os ataques de pânico acontecem de repente, em qualquer período do dia e em qualquer situação,
diagnosticar o transtorno. fazendo compras no shopping, lavando a louça ou até dormindo

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encefálico, o cerebelo e a medula es- estudo, trabalho, relacionamentos... A ansiedade é
pinhal – responsáveis, em conjunto, Há quem cheg ue ao ponto de não
pela manutenção geral do organis- sair mais de casa. um sintoma normal
mo –, há outros neurotransmissores:
a serotoni na, a noradrenali na e o C OMO VOCÊ OR IENTA O TR ATA MEN - do ser humano.
ácido gama-aminobutírico (GABA).
Todos inf luenciam o funcionamen-
TO DE U M A PE SSOA QU E A FIR M A TER
CR ISE S DE PÂ N ICO EM DE TER MI NA DA S
Quando vamos
to dos neurônios, e, quando há fal- SITUAÇÕE S ? realizar uma
ta ou excesso de qualquer um deles, L OUZÃ : Só quem pode orientar o tra-
a sensação de prazer e bem-estar é tamento é o médico que iniciou o prova difícil ou
afetada. Daí a importância do uso de acompanhamento e realizou o diag-
antidepressivos inibidores seletivos nóstico. Apesar de a síndrome do participar de uma
de receptação da serotonina. pânico ser relativamente conhecida,
poucos sabem exatamente o que é
entrevista de emprego,
C OMO COSTU M A M EVOLU IR OS CA SOS e o que gera na pessoa acometida. por exemplo
NÃO TR ATA DOS DE TR A NSTOR NO DO Portanto, palpites e conselhos sem
PÂ N ICO ? fundamento podem mais atrapalhar para redução dos si ntomas. Os me-
L OUZÃ : Quando a pessoa não realiza que ajudar. dicamentos mais indicados são os
o tratamento indicado pelo médico, antidepressivos inibidores seletivos
é possível que o quadro evolua para O TR ATA MENTO EX IGE QU E U M A PA RTE de receptação da serotonina, even-
depressão. Ai nda que não haja essa SEJA MEDICA MENTOSA E OUTR A COM - tualmente associados aos ansiolí-
evolução, as cri ses de pânico causam PORTA MENTA L . Q UA IS OR IENTAÇÕE S ticos, os quais são usados por pra-
prejuízo na qualidade de vida da pes- DEV EM SER DA DA S AOS PACIENTE S ? zo limitado. A medicação é muito
soa. Se não tratada, a síndrome pode L OUZÃ : O tratamento pode envolver relativa, pois depende do perf il do
afetar todas as áreas de sua vida: psicoterapia e o uso de medicações paciente e do diag nóstico de cada
caso. Já a psicoterapia visa ajudar o
paciente a lidar melhor com as si-
tuações que potencialmente podem
trazer/aumentar as cri ses.

Q UA NTO TEMPO , EM MÉDI A , DEV E DU -


R A R O TR ATA MENTO ?
L OUZÃ : O transtorno do pânico,
geralmente, não está sozi nho. Em
muitos casos, pode estar associado
a outras patologias como a bipola-
ridade, por exemplo. Sendo assim,
o tratamento é longo e, em alg umas
situações, para a vida inteira. Para
ter uma boa recuperação e ef icácia
nos resultados, é necessário o uso da
medicação por, no mínimo, um ano
após o controle total dos ataques de
pânico.

É COR R E TO A FIR M A R QU E O TR ATA -


MENTO LEVA DE DUA S A TR Ê S SEM A NA S
PA R A COMEÇA R A PRODUZIR EFEITOS ?
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

L OUZÃ : Sim, pois é o período que os


A ansiedade intensa é acompanhada de sintomas físicos como aceleração da frequência cardíaca, falta antidepressivos levam para começar
de ar, sudorese excessiva, tontura, náuseas e tremores a fazer efeito.

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OS MEDICA MENTOS I N DICA DOS PRODU -
ZEM EFEITOS COLATER A IS ?
L OUZÃ : Os principais (mais comuns)
são: dor de cabeça, insônia, sonolên-
cia, nervosismo, ansiedade, cansaço
(fadig a), tremor, diminuição da libi-
do (desejo sexual), diarreia, náusea,
boca seca, diminuição do apetite.

A DEMOR A EM SU RTIR EFEITO E OS


EFEITOS COLATER A IS DOS MEDICA -
MENTOS PODEM I N DUZIR A PE SSOA A
A BA N DONA R O TR ATA MENTO PR ECO -
CEMENTE ?
L OUZÃ : Dif icilmente, pois, uma vez
realizado o efeito, a pessoa se sente
tão bem que o retorno da sensação de
paz e tranquilidade supera os efeitos
colaterais. Além do mais, os efeitos
variam de pessoa. Há quem não sinta
absolutamente nada de anormal com
a medicação.

TER A PI A S A LTER NATI VA S COMO ME -


DITAÇÃO E YOGA SÃO ACONSELH ÁV EIS
PA R A AU X ILI A R O TR ATA MENTO ?
L OUZÃ : Qualquer atividade que dê
prazer à pessoa ajuda no tratamento,
desde que faça bem à saúde.

OS EX ERCÍCIOS FÍSICOS SÃO I MPORTA N - Terapias alternativas, como meditação e yoga, ajudam no tratamento, assim como qualquer outra
TE S NA SÍ N DROME DO PÂ N ICO ? atividade que dê prazer à pessoa
L OUZÃ : Sim, pois a atividade f ísica
estimula a produção da serotonina
e da dopamina, neurotransmissores
No caso de ansiedade generalizada, os sintomas
responsáveis pela sensação de prazer são mais fortes e incluem irritabilidade,
e bem-estar.
DIlCULDADEDECONCENTRA¥ÎO INSÙNIAEFADIGA
Q UA L O PA PEL DA FA MÍLI A NO PROCE S -
SO DE TR ATA MENTO DE U M PACIENTE Departamento de Farmacolog ia da sobre as mudanças comportamentais
COM SÍ N DROME DO PÂ N ICO ? Faculdade de Medicina de Ribeirão induzidas em ratos na presença de um
L OUZÃ : É preciso ter paciência, com- Preto e do Centro Interdisciplinar de predador – um g ato vivo –, simulando
preensão e incentivo para que a pes- Pesquisas em Neurociências Aplicadas modelos de resposta diante de uma
soa vá retomando suas atividades aos da Universidade de São Paulo (USP), crise de pânico. A conclusão sugere
poucos. publicado pelo The International Jour- que o seg redo é o tratamento à base
nal of Neuropsychopharmacology, desco- do sistema endocanabinoide, trazen-
A M ACON H A PODE TR A ZER A LGU M BE - briu os benefícios do tratamento para do a sensação de “paz” e tranquilidade
N EFÍCIO PA R A O TR ATA MENTO DE PA - a síndrome do pânico com o uso dos para o paciente. Novos estudos estão
CIENTE S COM E SSE PROBLEM A ? canabinoides, substâncias presentes sendo feitos para comprovar ainda
L OUZÃ: Estudo dirig ido por um g ru- na maconha. A pesquisa investigou mais a utilidade dessa propriedade te-
po de pesquisadores brasileiros do os efeitos dos canabinoides naturais rapêutica da erva.

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utilidade pública por Denise Maria Perissini

Para transcender
a função de PERITO
A PSICOLOGIA JURÍDICA GANHA ESPAÇO
NA ÁREA DE ATUAÇÃO QUE EXIGE QUE
O PSICÓLOGO CONHEÇA ASPECTOS
DO DIREITO COM O PRINCIPAL FOCO
DE INTERVIR PARA PROTEGER A
INTEGRIDADE DOS INDIVÍDUOS

A
Psicologia Jurídica é uma psicopatologia, sexologia, parafilias,
das especialidades da Psi- toxicologia, comportamentos coletivos
cologia que vem ganhando POREXEMPLO BRIGASDETORCIDASDEFU-
destaque nos últimos tebol, terrorismo, desastres).
tempos, frequentemente chamada a O objetivo básico do serviço de
OPINAR ACERCA DE CONmITOS FAMILIARES Psicologia Jurídica é o de elaborar
ENVOLVENDOGUARDADElLHOSPORVEZES  um esboço, o mais fidedigno possível,
guarda compartilhada, alienação paren- acerca da situação das pessoas envol-
TAL  ACUSA¥ÜES DE ABUSO SEXUAL VERDA- VIDAS EM SITUA¥ÜES PROCESSUAIS QUES-
deiro ou falso) e outras manifestações do tões familiares, atos infracionais, deli-
comportamento humano, como os atos tos) e suas famílias, que se consolida
criminais, o sofrimento das vítimas, a no laudo pericial. Esse perfil auxilia a
veracidade dos testemunhos, o dano psí-
quico decorrente do abandono afetivo,
dentre outros.
O QUE SE OBSERVA
É uma área que se destaca pela NA MAIOR PARTE
interdisciplinaridade porque exige que decisão do juiz em casos de disputa
o profissional conheça aspectos do
DAS SITUAÇÕES pela guarda dos filhos, adoção e ou-
$IREITO CIVIL  PENAL  FAMÓLIA  E NO¥ÜES É QUE O TRABALHO tros, de modo a que se respeitem as
DE PROCESSO PRAZOS  TIPOS DE RECURSO  características psicológicas de cada
PERICIAL DO
impedimento/suspeição de perito, di- caso, visando principalmente a saúde
ferenças entre perito e assistente téc- PSICÓLOGO SE mental das pessoas, especialmente se
nico), acompanhamento do trâmite de TORNA LIMITADO for criança ou adolescente.
LEIS E JURISPRUDÐNCIAS SABER O CONTEÞ- Mas o que se observa na maior par-
do das leis em vigor e qual o entendi- AO LAUDO QUE te das situações é que o trabalho peri-
mento dos juízes e tribunais acerca do FORNECERÁ cial do psicólogo se torna limitado ao
assunto), bem como conhecimentos de laudo que fornecerá subsídios à deci-
avaliação psicológica, desenvolvimento
SUBSÍDIOS À são do juiz. O que muitos profissionais
infantil, relações vinculares familiares, DECISÃO DO JUIZ lutam para conseguir é um espaço em

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que possam ampliar seu campo de comprometida. Através da orientação, O grande problema é que as pesso-
atuação, transcendendo a mera fun- busca-se amenizar as consequências as que acorrem ao Judiciário desejam
ção estrita de perito para buscar uma NEFASTASDASDIlCULDADESEPROBLEMASE ser atendidas imediatamente, através
intervenção que, além do diagnóstico, intervir, de forma sutil, visando um in- de uma decisão legal. Não estão inte-
traga algum retorno ou implicação te- tercâmbio saudável, que possa preser- ressadas ou preocupadas em realizar
rapêutica, seja por interpretações, seja var a família e especialmente os direitos uma reflexão acerca de seu papel na
por um conteúdo que envolva aspec- da criança em seu núcleo familiar. dinâmica familiar ou sua conduta e
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL

tos psicodinâmicos em benefício da


estrutura familiar.
O trabalho não é preventivo, uma
Denise Maria Perissini é psicóloga clínica e jurídica, mestre em Ciências
vez que as pessoas já chegam com uma Humanas (Unisa) e coordenadora e professora da pós-graduação em
problemática de intensa gravidade, e Psicologia Jurídica na Unisa. Contato: psicojur@unisa.br
com uma dinâmica psíquica bastante

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repercussão na realidade interna ou A PSICOLOGIA existem diversas ramificações, práticas
externa, e por isso consideram o tra- que se aprimoram a todo momento!
balho do psicólogo judiciário como
JURÍDICA VEM A graduação e a pós-graduação em
uma mera função burocrática que re- AVANÇANDO MUITO Psicologia Jurídica são fundamentais
tarda o andamento do processo. Em para que os alunos sejam estimulados
determinadas situações limites com
NO CAMPO DAS a desenvolver um raciocínio crítico e
alto nível de comprometimento emo- PESQUISAS, MAS REmEXIVO SOBRE AS PRÉTICAS PSICOLØGICAS
cional e com as relações afetivas muito nas diferentes especialidades do Direi-
NUNCA SE PODE
deterioradas, as pessoas buscam solu- TO ! FORMA¥ÎO DO PROlSSIONAL DEVE
ções rápidas – mesmo que extremadas CONSIDERAR SEU oferecer a capacidade de vislumbrar
– para eliminar o sofrimento e rejeitam TRABALHO COMO a transformação social e promover o
qualquer tipo de intervenção, tendo a protagonismo e a autonomia das pes-
intenção de manter a situação como se “DEFINITIVO”: SOASENVOLVIDASNOSCONmITOSFAMILIARES 
encontra, não a reconhecendo como ESTÁ SEMPRE compreendendo que os litígios familia-
PROBLEMÉTICA"ERNO   res são uma forma patológica de vín-
A Psicologia Jurídica está muito
ACOMPANHANDO AS culo e uma das fontes de adoecimento
vinculada aos direitos humanos, pois TRANSFORMAÇÕES DO INDIVÓDUO E DA PRØPRIA FAMÓLIA  E
se por um lado há práticas que violam por isso a Psicologia Jurídica deve atuar
SOCIAIS
DIREITOSHUMANOSPOREXEMPLO ATOR- auxiliando na compreensão e condução
tura de presos), por outro há situações das estratégias de prevenção, promo-
em que os profissionais de Psicologia vem avançando muito no campo das ção, tratamento, tomadas de decisão e
são chamados a intervir para proteger pesquisas, mas nunca se pode conside- conscientização. Deve ainda propiciar
a integridade dos indivíduos, como no rar seu trabalho como “definitivo”: está UMA REmEXÎO ACERCA DAS RELA¥ÜES DE
caso de crianças abandonadas que pre- sempre acompanhando as transforma- poder e responsabilidades recíprocas
cisam de lares acolhedores, crianças ções sociais e as modificações contí- entre o Judiciário e a sociedade, anali-
vítimas de abuso sexual ou mulheres nuas do comportamento humano. Por sando instrumentos e tecnologias que
vítimas de violência doméstica ou ra- isso, embora já tenha obtido avanços possam ser utilizadas de modo ético e
cismo/xenofobia etc. significativos, ainda há muito a se fa- compatíveis com a realidade social.
Obviamente, a Psicologia Jurídica zer. É uma área sempre em expansão, !S PESQUISAS CIENTÓlCAS SÎO IMPOR-
tantes para observarmos o comporta-
mento social e pensarmos nas políticas
públicas e modos de atuação que melhor
atendam as necessidades da sociedade.
Por exemplo, vemos o aumento dos ca-
sos de feminicídio, então precisamos de
PROlSSIONAIS QUE ENTENDAM O QUE ESTÉ
acontecendo na sociedade a ponto de
chegar a essa situação, e de que modo
OSPROlSSIONAISPODEMINTERVIR
Mesmo aqueles que não são psi-
cólogos mas se interessam pela área
podem contribuir nessa análise inter-
disciplinar dos fenômenos sociais e
participar, por exemplo, de audiências
públicas ou de projetos de leis que vi-
sem atender aquela necessidade social.
Por exemplo, existe a Lei da Alienação
0ARENTAL ,EI NŽ   CUJO
anteprojeto de lei foi disponibilizado
Psicólogos que atuam na área jurídica buscam uma intervenção que vá além de um diagnóstico e on-line para contribuições diversifica-
traga retorno ou até implicação terapêutica, em benefício da estrutura familiar ou do indivíduo das, até chegar ao texto que foi apre-

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sentado na Câmara dos Deputados e o momento propício para conscienti- ciário se depara com funções distintas,
que, após a tramitação legislativa, ob- zação da realidade, e de quais provi- porque representa uma instituição dife-
teve o formato atual. DÐNCIAS OS PROlSSIONAIS E A SOCIEDADE rente do consultório e precisa se fazer
A formação e as práticas integrativas podem/devem tomar para proteger as compreender na sociedade.
em Psicologia Jurídica visam a participa- crianças/adolescentes. Além disso, hoje em dia não pode-
ção ativa dos alunos de Psicologia em No que tange à questão do curso mos mais pensar em produção cien-
momentos de discussão de ideias, ativi- de especialização em Psicologia Jurí- tífica sem o inglês instrumental. Os
dades em grupo e aprendizagem base- DICA VEJA DETALHES EM http://www. periódicos científicos de referência no
ada em problemas, em uma perspecti- unisa.br/CURSOS/Pos-Graduacao/ mundo têm pelo menos o Abstract, po-
va crítica e analítica do contexto legal Presencial/Especializacao/Cienciasda- rém o ideal é que os alunos e egressos
e sociopolítico brasileiro. A formação sejam capazes de redigir não apenas o
deve ter um caráter demonstrativo e Abstract, mas todo o artigo científico
ATIVO  CAPACITANDO OS PROlSSIONAIS PARA AS PESQUISAS em inglês. Além disso, ele deve saber
uma visão interdisciplinar da Psicologia CIENTÍFICAS SÃO como fazer uma apresentação em in-
Jurídica, que enfoca a complexidade dos glês, que será fundamental para a di-
CONmITOSHUMANOSNOÊMBITOJUDICIÉRIO
IMPORTANTES PARA vulgação de pesquisas em congressos e
As práticas integrativas, atividades OBSERVARMOS O eventos científicos internacionais.
extracurriculares desenvolvidas ao lon- A ênfase dos cursos presenciais em
COMPORTAMENTO
go do curso, são extensivas aos egressos Psicologia Jurídica decorre do fato de
EX ALUNOSQUEQUEIRAMPROSSEGUIR SÎO SOCIAL E QUE EMQUEPESEMASDIlCULDADESDOS
grupos de estudos, grupos de pesquisa, PENSARMOS alunos em comparecer todas as vezes,
elaboração da Revista de Psicologia Jurídi- o fato de as atividades em sala de aula
ca QUEPODESERGERALABARCANDOTEMAS NAS POLÍTICAS serem dinâmicas amplia não apenas a
DIVERSIlCADOS EM UM MESMO NÞMERO  PÚBLICAS E MODOS rede de contatos de cada aluno como
como adoção, feminicídio, guarda com- TAMBÏM DIVERSIlCA O DEBATE  TORNANDO
partilhada, abuso sexual infantil etc.) ou
DE ATUAÇÃO QUE os assuntos muito mais enriquecidos
TEMÉTICAUMDOSSIÐ EMQUESERÉESCO- MELHOR ATENDAM com a participação direta de alunos que
LHIDOUMTEMAESPECÓlCOPARATODOSOS têm formações diferentes e podem tra-
que quiserem contribuir com artigos. Im-
AS NECESSIDADES zer “olhares” diferenciados. Por exem-
portante é que as produções acadêmicas DA SOCIEDADE plo, alunos de Letras ou Jornalismo, ou
SEJAMINDEXADASPELA3CI%,/3CIENTIlC da área de Comunicação, podem trazer
Electronic Library Online). 3AUDE0SICOLOGIA *URIDICA ), con- importantes contribuições à linguagem
O abuso sexual infantil também é FORMEPARÊMETROSDElNIDOSPELO-%# DOSPROlSSIONAISDE0SICOLOGIAQUANDO
outro tema sempre polêmico. Há quem e CFP, há que se ressaltar que a tarefa estivermos debatendo sobre laudos e
defenda que as denúncias devam ser de ampliação dos cursos cabe às uni- pareceres redigidos para processos ju-
apuradas, tomando-se as providências VERSIDADES PARAREmETIRACERCADOPAPEL DICIAIS POISESSESPROlSSIONAISVÎOCON-
preventivas e punitivas com urgência do psicólogo jurídico e diferenciá-lo tribuir para mostrar a importância da
contra os abusadores, e há quem defen- do modelo clínico, regulamentando e CLAREZA  CORRE¥ÎO ORTOGRÉlCA  INTENCIO-
da que, dependendo do contexto de li- organizando suas funções, pois o psi- nalidade da comunicação no momento
tígio entre os pais, a acusação de abuso cólogo que atua no/para o Poder Judi- da redação.
pode surgir repentinamente como um
recurso extremo de afastamento de um Referência:
ANAF, Cláudia. Formação em Psicologia Jurídica, p. 101-103. III Congresso Iberoamericano de
dos genitores, quando todos os recur- Psicologia Jurídica. São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, 1999.
SOS ANTERIORES PARA DIlCULTAR AS VISITAS BERNO, Roseli. O trabalho dos psicólogos nas Varas da Infância e da Juventude. In: RAMOS,
fracassaram, e que a criança pode es- Magdalena (Org.). Casal e Família como Paciente. 2. ed. São Paulo: Escuta, 1999.
tar sendo manipulada e inautêntica. De MARTINS, Sheila Regina de Camargo. Psicologia Jurídica – campos de atuação e questões sobre
qualquer forma, são opiniões polariza- a formação e pesquisa. III Congresso Iberoamericano de Psicologia Jurídica, p. 362-364. São Paulo,
Universidade Presbiteriana Mackenzie, 1999.
das que despertam paixões e discussões
SILVA, D. M. P. Psicologia Jurídica no Processo Civil Brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
acaloradas. Nesse sentido, um evento
SOUZA NETO, Zeno Germano. O que é um psicólogo jurídico? Contextualização e atualidade
CIENTÓlCO QUE OFERE¥A UM DEBATE ENTRE de uma prática em Rondônia. In: SOUZA NETO, Zeno Germano (Org.) Olhares e Fazeres: Teoria e
os alunos e o grande público pode ser Pesquisa em Psicologia Jurídica, p. 17-24. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2018.

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psicopositiva Por Mônica Portella

CONHECER a si mesmo
QUEM DESENVOLVE O AUTOCONHECIMENTO POSSUI
UMA VISÃO CLARA DE SUAS APTIDÕES, CAPACIDADES
E FRAQUEZAS E CRIA ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM
SUAS CARACTERÍSTICAS POSITIVAS E NEGATIVAS

É
possível observar nos dias de monia com sua proposta de vida (ou modalidades terapêuticas. Em primeiro
hoje, em algumas ruínas de SIGNIlCADO  !LÏM DISSO  A 0SICOLOGIA lugar, as terapias positivas (como a te-
templos, teatros e estádios Positiva incentiva o conhecimento de sua rapia da esperança, a terapia focada em
originários da Grécia Antiga, singularidade e respeito a essa, o que sig- metas e a terapia cognitiva-comporta-
resquícios da inscrição original do NIlCAFOCALIZARNOQUESEÏEMVEZDE mental positiva) trabalham com o foco
Oráculo de Delfos. Segundo arqueólo- se comparar e preocupar-se constante- nas metas e não nos problemas e quei-
gos, essa inscrição tinha o objetivo de mente com os outros. xas do cliente.
lembrar ao cidadão grego a importân- $EPOIS DE IDENTIlCAR E TRABALHAR Em segundo lugar, as terapias po-
cia do autoconhecimento, por isso a valores, crenças, virtudes e forças, o sitivas mapeiam e desenvolvem as
inscrição vigorava nos locais públicos indivíduo estará pronto para respon- forças, enfatizando o lado saudável e
mais importantes das cidades-estado der à pergunta: “O que vou fazer com funcional do indivíduo. Por mais doen-
gregas. Conhecer a si mesmo não sig- minha vida?” Isto é, pode, a partir daí, te que uma pessoa possa estar, sempre
NIlCA DESCOBRIR SEGREDOS PROFUNDOS estabelecer e alcançar metas que pos- terá um lado saudável e pelo menos
e\ou motivações inconscientes. Au- sam melhorar sua qualidade de vida e algum aspecto da vida que esteja mi-
TOCONHECIMENTO SIGNIlCA DESENVOLVER desempenho em diversas aspectos. nimamente funcional.
uma compreensão sincera e honesta A terapia positiva constitui uma A orientação positiva incentiva e
sobre você mesmo (conhecer forças e proposta de prevenção secundária e desenvolve o autoconhecimento e a
fraquezas, administrando as mesmas possui diferenciais em relação às outras autogestão, uma vez que estimula a
adequadamente). Envolve procurar responsabilidade pessoal no conduzir
respostas para uma das questões hu- A TENTATIVA DE da vida, levando o indivíduo a mapear
manas mais difíceis e fundamentais: e lidar com suas características (posi-
“Quem sou eu?” A Psicologia Positiva
TRANSFORMAR-SE tivas e negativas). As terapias positivas
possui uma série de instrumentos e NAQUILO QUE NÃO reconhecem que os traços positivos e
técnicas que pode auxiliar o indivíduo os comportamentos adaptativos ser-
a responder essa questão fundamental.
SE É PODE LEVAR vem como fatores protetores contra
Esta disciplina dispõe de vários ins- AO ESTRESSE, ESTRESSORESEDIlCULDADESFUTURAS FUN
trumentos para ajudar na jornada em cionando assim como prevenção pri-
DESENCADEANDO
busca do autoconhecimento, como por mária de problemas. Dessa maneira, ao
exemplo exercícios com o objetivo de ATÉ MESMO tomar conhecimento dos aspectos po-
IDENTIlCARFOR¥ASTALENTOS PONTOSFOR DOENÇAS QUE O sitivos e funcionais, os indivíduos po-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ACERVO PESSOAL

tes, forças de caráter, habilidades), ca- dem lidar melhor com seus problemas e
racterísticas de personalidade, valores, ORGANISMO ESTÁ DIlCULDADES±MEDIDAQUEDESENVOLVE
BEM COMO PONTOS FRACOS )DENTIlCAR GENETICAMENTE o autoconhecimento, a satisfação com
e manejar crenças autolimitadoras e a vida aumenta consideravelmente. O
apoiadoras, desenvolver o engajamen-
PROGRAMADO PARA autoconhecimento ajuda o indivíduo
to, encontrando e vivendo em har- DESENVOLVER a alcançar muitos benefícios, como:

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resilientes e conseguem lidar melhor
com as adversidades e crises.
Os relacionamentos profundos po-
dem potencializar a felicidade, e, para
isso, o autoconhecimento é fundamen-
tal, pois auxilia na descoberta de pes-
soas com as quais podemos estabelecer
RELA¥ÜESPROFUNDASESIGNIlCATIVAS6ALE
lembrar que esse tipo de relacionamen-
to não se limita aos relacionamentos de
sangue, como prega parte da cultura
a satisfação com a vida dispara; uma valores, em geral, fazem escolhas que ocidental. Momentos psicológicos de
maior propensão a alcançar metas pes- os levam a decisões acer tadas e mais pico muitas vezes envolvem importan-
SOAISEPROlSSIONAISRECONHECERSITUA felizes a médio e longo prazo. tes conexões humanas profundas.
¥ÜES E OPORTUNIDADES BENÏlCAS  TANTO O autoconhecimento pode tam- Portanto, podemos concluir que o
NA VIDA PESSOAL QUANTO PROlSSIONAL bém aumentar a intensidade e frequên- autoconhecimento oferece ao indiví-
)DENTIlCAEMANEJAASTENDÐNCIASLIMI cia de emoções positivas, aumentando duo a proposta de uma vida com mais
tadoras (como, por exemplo, de pontos o bem-estar e a satisfação. SIGNIlCADO  COM METAS REAIS QUE PO
fracos, crenças autolimitadoras, tra- Além disso, o autoconhecimento dem ser alcançadas e uma vida mais
ços de personalidade negativos, entre ajuda o indivíduo na busca de um sen- funcional e feliz. E hoje os consultó-
outros); diminui danos; gera conheci- tido ou propósito de vida, e, de acordo rios estão repletos de pessoas que bus-
mento do que se quer (metas) e das es- com as pesquisas em Psicologia Positi- cam encontrar propósito e felicidade
tratégias de como alcançá-lo. VA PESSOASQUECONHECEMOSIGNIlCA em sua vida, seja em qualquer aborda-
O autoconhecimento pode ser ex- do ou propósito de sua vida são mais gem terapêutica.
plorado na prática. Por exemplo, a pes-
soa que conhece seus talentos, pontos
fortes, força de caráter e pontos fracos +G:G:(Ï IG+Gd GI ^‚IG
I
Ô
+!¢ %
pode escolher trabalhos que tenham
+-$¡:+`G+ I GG+/¢ %:G+ I G-I GG
RELA¥ÎO COM ESSE PERlL !SSIM  MA /! %:+G G
G+`¢"G
GhÔ+ I G+  G IG
GG
-Gb
9)`I 
IGhÔ.G GI  IGGG
 
ximiza as chances de sucesso e reali- G GGG: +d;@­====D: d: G :I:H
zação. Aqueles que reconhecem seus

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psicopedagogia por Maria Irene Maluf

Estimulação do
MEIO AMBIENTE
O CÉREBRO E TODO O SISTEMA NERVOSO SÃO PARTES
INDISSOCIÁVEIS DO PROCESSO CULTURAL HUMANO, POIS EM
ESPECIAL, GRAÇAS A ESSE IMPORTANTE ÓRGÃO, SE REALIZA
A APRENDIZAGEM QUE ENRIQUECE A CULTURA HUMANA

A
tualmente, são frequentes as Conrad Röntgen, entre outros exemplos. trapassar etapas sequentes de desenvol-
discussões sobre a melhor ida- Objetivavam esses cientistas, em suas vimento. Além disso, coloca parâmetros:
de para submeter as crianças ao pesquisas, descobrir outras coisas, mas determina o que pode ser aprendido,
aprendizado formal da leitura e foi o seu poder de observação bem de- quando e com que velocidade. E aí entra
da escrita. Alguns pais se sentem aparen- senvolvido que os fez distinguirem entre a educação!
TEMENTELESADOSSEAESCOLADOSlLHOSNÎO material inútil e uma descoberta gran- O conhecimento de como nosso
os insere no mundo das letras e números diosa para a humanidade. cérebro aprende é o objetivo de muitos
ainda na pré-escola. A ideia é que quanto A aprendizagem, seja qual for, requer cientistas e educadores, já que a neuroci-
mais cedo as crianças aprenderem essas amadurecimento biológico, estimulação ência é a ciência do cérebro e a educação
habilidades culturais, ainda que em de- neuronal e formação de sinapses, num pode ser compreendida como a ciência
trimento de horas de brincadeiras, mais processo contínuo que depende em gran- da aprendizagem, o que correlaciona
preparadas chegarão à faculdade. de parte das trocas do material genético ambas de modo incontestável.
Melhor que insistir no erro dessa pre- com o meio ambiente. Não se aceita mais Não é novidade a investigação da
missa é explicar por que o exemplo dos que a criança será aquilo que sua gené- neurociência em contextos educativos,
países onde a educação é considerada a tica determinou, mas se sabe que será e, embora esta ainda não traga todas as
melhor do mundo deve ser analisado e aquilo que a estimulação ambiental fará respostas para os educadores, já revelou
adotado por nós. com essa genética. descobertas importantes sobre a biologia
O desenvolvimento da cultura huma- O cérebro nos deixou enquanto espé- quanto aos processos cognitivos envolvi-
na ao longo dos séculos é indubitavelmen- cie humana, e ao longo dos milênios, al- dos na aprendizagem.
te impressionante, especialmente se pen- cançar o estágio de grande crescimento Tais conhecimentos induziram ao
SARMOSSOBREASMODIlCA¥ÜESHAVIDASNOS CIENTÓlCOQUEHOJEVIVEMOS%NOSPER conceito de períodos críticos e sensíveis
últimos 100 anos, trazidas especialmente mite como pessoas pensantes a suplan- do desenvolvimento, quando as mudan-
pelas ciências. Sem dúvida alguma, a edu- tar nossas condições de nascença, pois é ças estruturais do cérebro, incluindo a
cação é a grande promotora dessa cultura através de seu incrível potencial que am- sinaptogênese e a poda neuronal, consti-
que se supera a cada dia a uma vertiginosa pliamos recursos que nos possibilitam ul- tuem fatos relevantes na educação.
velocidade, ainda que muitas vezes desco-
bertas importantes foram aparentemente
feitas pelo acaso, como a descoberta da
NÃO SE ACEITA MAIS QUE A CRIANÇA SERÁ
penicilina, em 1928, feita pelo médico AQUILO QUE SUA GENÉTICA DETERMINOU, MAS
Alexander Fleming; a insulina em 1889,
por Oscar Minkowski e Joseph von
SE SABE QUE SERÁ AQUILO QUE A ESTIMULAÇÃO
Mehring; o raio X em 1895, por Wilhelm AMBIENTAL FARÁ COM ESSA GENÉTICA
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Há períodos críticos e períodos sen- explorar as novidades, brincando, jogan- sariamente a uma estimulação exagerada
síveis no processo de amadurecimento do, socializando-se. E depois tenha um e fora da idade adequada.
cerebral: assim, sabe-se que em qualquer tempo adequado para incorporá-las aos O respeito às etapas do desenvolvi-
lugar do mundo, por volta dos 12 aos 16 seus conhecimentos anteriores. Ou seja: mento neurológico e uma estimulação
meses, a grande maioria das crianças já que enriqueça e amplie suas sinapses ce- adequada a essas fases levam a uma verda-
anda. Sabemos também que o período REBRAIS QUElCARÎOCADAVEZMAISAPTASA deira vantagem na corrida pelo sucesso na
em que há maior facilidade de aprender receber novos estímulos e os transformar aprendizagem não apenas nos primeiros
uma segunda língua como se fosse a lín- em novas aprendizagens. anos, mas nos anos escolares, pois a crian-
gua mãe vai até os 7 anos. Ou seja, nos Isso não nos leva a acreditar, muito ça desenvolve e consolida amplamente as
períodos sensíveis o cérebro é mais su- pelo contrário, que seja útil estimular de bases cognitivas que a apoiarão intelec-
jeito à estimulação do meio ambiente e forma exagerada as crianças, pois há um tualmente e as afetivas, que multiplicarão
NELESAEDUCA¥ÎOTEMENORMEINmUÐNCIA limite que esbarra nas etapas do neuro- as oportunidades de realmente aprender e
só por esse motivo já se pode ter ideia da desenvolvimento normal, que é sequente, desenvolver novos conhecimentos.
imensa importância da educação na vida não pula etapas. Os exageros não apenas Brincando se aprende na primeira in-
das crianças. E falo aqui da educação vi- são inúteis como contraindicados, pois fância. Letras e números podem até entrar
venciada, aquela que envolve também as os aspectos afetivos emocionais também na brincadeira, sem qualquer formalidade
brincadeiras infantis. são importantes na aprendizagem. E estes ou exigência pedagógica. Criança forma a
É claro que as pessoas podem apren- acabam sempre por serem prejudicados base de seu aprendizado tendo o cérebro
der durante toda a vida, mas a facilida- quando a criança é submetida desneces- respeitado no seu desenvolvimento.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ARQUIVO PESSOAL

de oferecida pela plasticidade cerebral é


especialmente maior nos três primeiros
Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e
anos de vida. Assim, um meio ambiente Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de
rico de estímulos variados, ofertados pau- Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos em
latinamente, é o mais recomendado: é im- publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de
especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
portante que a criança tenha tempo para

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in foco por Michele Müller

O comprometimento
com a VERDADE
AS PEQUENAS MENTIRAS COSTUMAM SER RECRUTADAS
NAS RELAÇÕES QUE NASCEM E SOBREVIVEM NA
FINA CAMADA DA APARÊNCIA E CUMPREM UM PAPEL
NA MANUTENÇÃO DOS RELACIONAMENTOS

O
s puxões de orelha levados na /S EXAGEROS  FALSAS CONlRMA¥ÜES E que a função da mentira nesses casos seja
INFÊNCIA ENSINAM QUE  PARA ELOGIOS FAZEM PARTE DE UMA BAJULA¥ÎO superestimada: há evidências de que men-
QUE A FRANQUEZA NÎO SEJA IN- SUPERlCIALQUESUSTENTAVAIDADESnPRÉTI- tir geralmente não é uma boa estratégia
TERPRETADACOMORISPIDEZ AL- ca aparentemente inofensiva e frequente- nem mesmo quando a intenção e as ex-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL

GUMASMENTIRINHASSEFAZEMNECESSÉRIAS mente usada no amparo de uma autoesti- pectativas nos levam a crer que sim.
)SSOlCAMAISCLAROÌMEDIDAQUEPERCE- ma mal construída. Uma série de pesquisas da Univer-
bemos os próprios sentimentos feridos Aprendemos que as pequenas menti- sidade de Chicago constatou que a sin-
COM A SINCERIDADE ALHEIA  O QUE TORNA RASNÎONOSFAZEMMENOSHONESTOS POIS ceridade tem mais valor do que costu-
A TROCA DE MENTIRAS NÎO APENAS ACEITA  cumprem um papel na manutenção dos mamos dar a ela e torna a comunicação
como desejada em muitas situações. RELACIONAMENTOS .O ENTANTO  Ï POSSÓVEL MAIS ElCAZ %M UM DOS EXPERIMENTOS 

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os participantes foram divididos em três !"!*5,!—§/350%2&)#)!,3534%.4!6!)$!$%3 
grupos. Um deles recebeu instruções
para agir da forma mais sincera possí- UMA PRÁTICA APARENTEMENTE INOFENSIVA
vel em interações sociais durante alg uns E FREQUENTEMENTE USADA NO AMPARO
DIAS/UTRO PARASIMPLESMENTESERAGRA-
dável com as pessoas e o terceiro grupo
DE UMA AUTOESTIMA MAL CONSTRUÍDA
foi instruído a apenas prestar atenção EM QUE ELA NÎO FARIA DIFEREN¥A Ì OUTRA O comprometimento com a verda-
NASPRØPRIASATITUDES$EPOIS TODOSAVA- PESSOAnCOMOCONFESSARQUENÎOGOSTOU de dá aos outros a seg urança de saber
liaram seu próprio desempenho e o im- da roupa de seu parceiro depois que ele QUE VOCÐ NÎO FALA PELAS COSTAS  QUE
pacto de seu comportamento. JÉESTÉNAFESTA,OGICAMENTE NÎOÏVÉLI- AQUILOQUEDIZÏDEFATOOQUEPENSAE
3URPREENDENTEMENTE  ELES PERCEBE- da se usada como forma de ofensa e sim que seus elog ios não são bajulações va-
ram maior conexão social nas interações quando achamos que uma pessoa pode se ZIAS4UDOISSO LEMBRA(ARRIS AOCUSTO
g uiadas pela honestidade. Não era o que BENElCIARDAINFORMA¥ÎOnOQUEPODESER DEUMDESCONFORTODECURTOPRAZO QUE
esperavam. Os participantes predisse- feito em um breve exercício de empatia. PODE SER SUAVIZADO SE NOS COLOCARMOS
RAM QUE ISSO SERIA PREJUDICIAL ÌS RELA- %M GERAL  A HONESTIDADE NOS SALVA no lugar da pessoa que recebe a infor-
¥ÜES  COMO FORAM LEVADOS A ACREDITAR A dos pequenos danos e das irrecuperáveis mação na hora de se comunicar com
vida inteira. Os resultados se repetiram destruições que a mentira provoca. Sua sinceridade.
NASEGUNDAPARTEDAPESQUISA EMQUEA injusta má reputação está muito mais re- As mentiras são como escudos dos
instrução era ser honesto com alg uém LACIONADAÌforma como a verdade é dita FRACOSnVÐMAOSMONTESEDETODOSOS
próximo em perg untas pessoais e nor- do que ao conteúdo em si. TAMANHOS MULTIPLICAM SERAPIDAMENTE
malmente difíceis de responder aberta- Não mentir pode ser um exercício bas- À medida que surgem empurram para
MENTE !SSIM CONSEGUIRAM VERIlCAR O tante difícil e doloroso. Um dos adeptos da um futuro temido e assombroso a coli-
impacto da verdade tanto em situações VERDADEACIMADETUDOÏOlLØSOFOENEURO- SÎOCOMAREALIDADE PROVOCANDOESTRA-
em que pode ser vista como o oposto de CIENTISTA3AM(ARRIS%LETOMOUADECISÎO gos em seu caminho ao enfraquecerem
GENTILEZA OU SIMPATIA  QUANTO NAQUELAS de evitar qualquer tipo de mentira depois e distanciarem as relações.
em que se opõem a segredos. de estudar análise ética e constatar que !VERDADE POROUTROLADO VEMSEM-
%MTODASASCIRCUNSTÊNCIAS AHONES- INlNITASFORMASDESOFRIMENTOEVERGONHA PRE NO SINGULAR n NINGUÏM PEDE PARA
tidade parece sair em vantagem. Para os poderiam ser evitadas com o uso da ver- ouvir “as verdades”. É única e poderosa.
PESQUISADORES AOEVITARAVERDADEPERDE- dade. Ele concluiu que mesmo as mentiras &IGURAANTIPÉTICAEÌSVEZESTEMIDA ELA
mos oportunidade de criar relações mais CONSIDERADAS INOFENSIVAS  FREQUENTEMENTE não gosta de adulações nem de meias
PRØXIMASESIGNIlCATIVAS ditas com a intenção de não desagradar o palavras. Pode vir com um leve descon-
Existem outras pesquisas indicando OUTRO  SÎO ASSOCIADAS Ì pouca qualidade forto ou uma dor intensa e por isso re-
que a expressão das emoções está relacio- dos relacionamentos. “Muitos de nós pas- quer coragem de quem revela e de quem
nada a níveis mais saudáveis de pressão samos a vida marchando em direção ao enxerga. Mas sempre tem o poder de
sanguínea e ao desenvolvimento de graus ARREPENDIMENTO REMORSO CULPAEDECEP- NOSFAZERMELHORES
MAIS ALTOS DE INTIMIDADE 3RIVASTAVA  ção. E em nenhuma outra circunstância
  E QUE  POR OUTRO LADO  O HÉBITO DE ESSASFERIDASPARECEMMAISAUTOINmIGIDAS  Referência:
guardar segredos pode ser negativo para ou a dor que criamos mais despropor- SRIVASTAVA, S. et al. The social costs of
emotional suppression: a prospective study of
a saúde (Slepian; Chun;-ASON   CIONAL ÌS NECESSIDADES DO MOMENTO  QUE the transition to college. J. Pers. Soc. Psychol., n.
0ARA !RT -ARKMAN E "OB $UKE  AU- quando mentimos aos outros. A mentira 4, p. 883-897, 2009.
tores de Two Guys in Your Head AHONES- Ï A PRINCIPAL ESTRADA PARA O CAOSv  ESCRE- SLEPIAN; CHUN; MASON. The experience of
tidade é desnecessária apenas nos casos veu em seu livro Lying (Mentindo EMkindle secrecy, J. Pers. Soc. Psychol., n. 1, p. 1-33, jul. 2017.
e-book EMQUENARRASUASPRØPRIASEXPE- LEVINE, E. et al. You can handle the truth:
mispredicting the consequences of honest
riências a partir da decisão de viver da for- communication. Journal of Experimental
ma mais transparente possível. Psychology, set. 2018.

Michele Müller é jornalista, pesquisadora, especialista em Neurociências,


Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica
estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos
estão reunidos no site www.michelemuller.com.br

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BEM-ESTAR

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CORPO E
MENTE
EM BOA
HARMONIA
Vitimização e revolta podem afetar a saúde
física e mental, por isso é importante exercitar
o bom humor e superar a negatividade,
tão presente em tempos de crise
Por Daniele Vanzan

S
e tudo já anda difícil ultima- Temos que enfrentar muitas situa-
mente com a crise mundial, ções sofridas e desagradáveis na vida, nas
refletida na crise financeira, quais não temos como modificar ou evi-
na crise profissional, na crise tar os percalços do caminho. Nesses ca-
pessoal constatada pela geral sos, o caminho a percorrer tenderá a ser o
crise de valores e na crise social diante mesmo. Não se terá muito do que fugir. E
da degradação das relações familiares o que fará a grande diferença no percurso
e interpessoais, imagine se levarmos a desse caminho será a forma como esco-
vida com mau humor e negatividade! lheremos ultrapassá-lo.
Somente nos serviria para tornar Poderá ser mais árduo se escolhemos
mais pesada e difícil a caminhada e de passar com pessimismo, desesperança,
nada ajudaria a resolver nossos proble- vitimização ou revolta. Ou será ameni-
mas e desafios. zado, caso escolhamos ou consigamos

Daniele Vanzan é psicóloga e especialista em Psicologia Jurídica. Formou-se posteriormente em Terapia de Vida
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

Passada (Terapia Regressiva) e Constelação Sistêmica. Atualmente atende e ministra cursos para terapeutas
interessados nessas áreas de atuação. Autora de dois livros infantis (Editora Boa Nova): Não Consigo Desgrudar
da Mamãe, que aborda a ansiedade de separação, e Eu Sou o Rei de Todo o Mundo, que trata da problemática
das crianças que têm dificuldade de aceitar limites.

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BEM-ESTAR

Será que as pessoas


tóxicas, no fundo,
não sabem ou não se
permitem aproveitar
coisas boas da
vida devido a um
mecanismo de culpa
ou autossabotagem?
Seria esse padrão
de comportamento
uma espécie de
autopunição gerada
por uma estrutura
Levar a vida de uma forma negativa serve apenas para tornar mais pesada e difícil a caminhada e de nada interna culpada?
ajuda a resolver os problemas e desafios

aprender a passar com a manutenção


do bom humor, da positividade, da
PARA SABER MAIS
aceitação e da gratidão. Já que precisa-
remos passar por aquilo, por que não CONSCIÊNCIA DO
encarar de forma madura e aprender COMPORTAMENTO NEGATIVO
as lições que a situação difícil nos vem
convidando a enfrentar?
À medida que vamos nos conhe- U ma vez que a pessoa toma consciência do seu quadro, precisa dar algum
passo em direção à mudança da realidade atual. Seja o passo que for!! Pois
quando a pessoa dá o primeiro passo e consegue mudar minimamente sua visão
cendo e nos desenvolvendo enquanto
dos fatos, seu pensamento ou algum hábito ou comportamento negativo e pode
seres humanos, mais tranquila e praze-
sentir o bem-estar e o alívio que o simples passo já lhe trouxe, isso acaba re-
rosa se tornará nossa vida. E uma lição
forçando o continuar a se empenhar no
fundamental para uma vida mais tran-
caminho da transformação e a motiva
quila e feliz talvez seja a maneira como
a continuar modificando o que precisa
nos habituamos a encarar e lidar com
para viver cada vez melhor. Além disso,
as situações do nosso cotidiano.
que tal passar a se perguntar com mais
Quem de nós nunca conviveu com
frequência: o que eu gosto de fazer? O
pessoas que chegam tão críticas, “recla-
que, realmente, me dá prazer? O que vai
monas” e pesadas que acabam conta-
me satisfazer nesse momento? E afas-
minando o ambiente e as pessoas pre-
tar da mente todo pensamento que não
sentes, trazendo um clima de mal-estar faz bem? Se podemos criar o hábito de
e peso? São pessoas que, independen- pensar e sentir de forma negativa, por
temente de chegarem falantes, questio- que não nos treinar e nos manter na po-
nando e expondo suas ideias e opiniões sitividade, cuidando de nosso bem-es-
pessimistas e controversas, ou apenas tar, do bom humor e da disposição para
chegarem carrancudas e fechadas em ser feliz e agir com motivação, gratidão
seu próprio mundinho pessimista, já e confiança nesse mundo de possibilida-
nos trazem um impacto negativo for- des diversas? Fica a dica.
te. Nos deprimem, nos cansam, nos

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abatem e nos sugam, mesmo que não O sofrimento poderá ser mais árduo se
tenhamos consciência disso.
E quem não se recorda da convi- escolhemos passar com pessimismo,
vência leve e fácil com pessoas “sola- desesperança, vitimização ou revolta.
res”? Aquelas pessoas que chegam tra-
zendo alegria, bem-estar e otimismo? Ou será amenizado, caso escolhamos
Pessoas que nos fazem sentir melhor, ou consigamos aprender a passar com a
que nos fazem acreditar no que preci-
samos para ter a força necessária para manutenção do bom humor
passar pelas provações da vida? Pes-
soas que, despretensiosamente, espa- o ser tóxico. Isso porque a pessoa, quan- pessimismo e mal-estar, não se conten-
lham uma sensação boa pelo simples do é tóxica, muitas vezes não tem cons- tam enquanto não perturbam e descar-
fato de estarem ali em nossa vida com ciência ou ingerência sobre o mal-estar regam parte de sua energia de pertur-
sua forma positiva de ser. que carrega e o lixo emocional que aca- bação sobre algo externo.
Temos esses dois tipos de pes- ba despejando nos circundantes. Para os que convivem com isso, in-
soas: as positivas e bem-humoradas Para piorar a situação, não é difícil felizmente, o fato de se abater, pertur-
na maior parte do tempo e as pessoas constatarmos que, quando a pessoa bar-se e pegar parte da carga negativa
negativas, pessimistas e predominan- tóxica consegue despejar sua negativi- da pessoa tóxica não representa nem de
temente mais mal-humoradas. Cabe a dade e contaminar o ambiente e os cir- longe uma maneira viável de ajudar essa
cada um de nós avaliar nossa forma de cundantes, ela se sente melhor e alivia- pessoa. Já que o simples fato de dividir
ser e de pensar sobre as coisas e tentar da. Como se pudesse dividir um pouco com ela aquela carga ruim e difícil não
nos ajustar, da forma que nos é possí- da carga e do peso da negatividade e a ajudará a tomar consciência do seu
vel, para poder viver sem tanto desgas- pessimismo carregados por ela naque- padrão de comportamento e, muito me-
te, sofrimento e pesar. le momento; o que acaba reforçando nos, a modificá-lo, para que não conti-
ainda mais esse tipo de mecanismo e nue sofrendo e causando o sofrimento a
Pessoas tóxicas atitude inconsciente. quem convive com ela.

P ara as pessoas que convivem com-


pulsoriamente ou não com as pes-
soas chamadas “tóxicas” alguns cuida-
É comum que essas pessoas não
tenham consciência de todo o proces-
so de descarga e alívio do peso e nega-
Por mais estranho que pareça, o
mais indicado é se proteger daquela
carga e perturbação e deixar que a pes-
dos devem ser aprendidos para que não tividade. Mas é fato que, muitas vezes, soa tóxica possa chegar a um nível tão
sejam sacrificadas ou prejudicadas por quando se apresentam no auge de seu elevado de negatividade e perturbação
essa convivência estreita e duradoura.
Seja pela convivência pessoal, incenti-
vada pelo amor sentido por essa pessoa,
ou pela obrigatoriedade da convivência Uma característica comum
profissional, por exemplo, há que se to- às pessoas pessoas
mar algumas medidas para preservar o pessimistas é o fato de
apresentarem dificuldade de
bem-estar na relação e a saúde emocio-
aceitar elogios. Isso ocorre
nal e física dos envolvidos. pelo fato de, normalmente,
A convivência com esse tipo de possuírem a autoestima
pessoa nos traz a necessidade de desen- comprometida
volver uma série de aprendizados para
com o outro e para conosco, no senti-
do de não sermos contaminados ou
lesados por essa convivência. Deve-se
procurar a melhor forma de lidar sem
se deixar contaminar mentalmente,
emocionalmente ou energeticamente
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

pela pessoa tóxica.


Essa é uma decisão e uma atitude
que devem partir de quem convive com

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BEM-ESTAR

que deseje ou necessite fazer algo para À medida que negatividade e, por vezes, depressão. E
modificar aquele padrão negativo de isso lhe é trazido de forma intrínseca,
pensamento/comportamento. vamos nos como uma característica pessoal que
E esse desafio, muitas vezes, vai pas- conhecendo, não aparenta ter sido herdada ou apren-
sar pela necessidade de aprendermos a dida de nenhum dos genitores, respon-
aceitar nossa impotência diante dessa mais tranquila sáveis ou circundantes.
realidade, já que nenhum esforço feito e prazerosa se É natural termos pensamentos ne-
do lado de fora será suficiente para mo- gativos ou nos sentirmos mal-humora-
dificar o estado mental ou emocional tornará nossa dos, desesperançosos ou pessimistas
pessimista se o tóxico não desejar se es- vida. E uma lição diante de determinados momentos ou
forçar para tal. situações em nossa vida. Por si só, não
fundamental para se trata de um problema. O problema
Por trás da negatividade ser mais feliz é quando esse estado se prolonga por

M as o que será que nos faz ser mais


negativos ou mais positivos? Será talvez seja a
mais tempo do que deveria, causando
mais pessimismo, desmotivação, de-
um hábito adquirido ou aprendido em maneira com que sistência, baixa de energia, isolamento
nossa história pregressa? Ou seria algo social e consequências bioquímicas re-
intrínseco em nós, como uma predispo- nos habituamos lacionadas a alterações do sono, do ape-
sição da pessoa? a lidar com as tite e até da produção hormonal.
É fato que cada caso deve ser avalia-
do de forma isolada. E dentre os diversos situações do Características
casos de pessoas predominantemente
negativas e pessimistas encontraremos
alguns em que podemos observar a exis-
nosso cotidiano
D entre as principais características
podemos encontrar a tendência a
ser uma pessoa “pesada”, que costuma
tência desse mesmo padrão nos pais ou que passa a ser introjetado e repetido, ter por hábito fazer críticas ou reclamar
circundantes próximos, que serviram muitas vezes, sem que o descendente de tudo e de todos, tendendo a desapro-
como modelo ou exemplo, e ensinaram, deseje, concorde ou admire aquilo nos var ou desanimar os que com ela con-
mesmo que indiretamente, as pessoas seus ascendentes. vivem por não acreditar que nada bom
tóxicas a assumirem esse tipo de postu- Entretanto, também podemos en- ou positivo vá acontecer, tendendo a
ra e forma de funcionar diante da vida. contrar casos em que a pessoa tóxica ser uma pessoa encrenqueira, que pro-
Quando se fala em comportamen- parece não ter tido contato com pessoas blematiza tudo a sua volta. São pessoas
to aprendido, não falamos de algo que negativas durante sua infância e juven- que se apresentam constantemente com
é escolhido e recebido de forma cons- tude, mas, mesmo assim, traz em sua mau humor e não aceitam brincadeiras
ciente. Fala-se de um comportamento personalidade os traços de pessimismo, com facilidade.
Esse tipo de pessoa, geralmente,
apresenta relações interpessoais e afeti-
Quem nunca conviveu com pessoas
que chegam críticas e pesadas, que vas comprometidas, já que comumente
acabam contaminando o ambiente e tem dificuldade de convivência com os
as pessoas presentes? demais e uma inaptidão para estabe-
lecer relações mais íntimas e afetuosas
com as pessoas.
Dizemos que essas pessoas são do
tipo “reclamonas” se não externa, no
mínimo internamente, pois apresentam
uma mente conturbada, focada no pior:
no medo, no negativo, na falha, sem
conseguir paz e descanso.
Suas mentes estão sempre a apon-
tar coisas negativas acerca delas mes-
mas e do mundo – das situações e pes-
soas com quem convivem. E isso as faz

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sentirem de forma pesada e negativa e
se comportarem de forma igualmente
desagradável, criticando, desaprovan-
do, bufando ou desvalorizando tudo o
tempo inteiro.
Outra característica que é comum
nessas pessoas é o fato de apresentarem
dificuldade de aceitar elogios. Isso ocor-
re pelo fato de, normalmente, possuí-
rem a autoestima comprometida. Já que
o hábito de enxergar e julgar as coisas
e pessoas de forma negativa se estende
também, inevitavelmente, à maneira
como elas se encaram e enxergam suas
capacidades, conquistas e aptidões.
Dessa forma, percebemos já nas
crianças que apresentam essa maneira
de ser em sua estrutura pessoal uma Seja pela convivência pessoal como também pela convivência profissional, há que se tomar algumas medi-
certa tendência a desqualificar as coi- das para preservar o bem-estar em todas as relações
sas boas ou positivas que se apresen-
tam em sua vida. Parecem pessoas que Os chamados “reclamões” são aqueles que,
vivem insatisfeitas consigo e com as
coisas ao seu redor o tempo todo, pois independentemente de chegarem falantes e
estão sempre focando e valorizando o expondo suas ideias e opiniões pessimistas,
que lhes chega de pior e desqualifican-
já trazem um impacto negativo forte,
cansando os outros, causando abatimento
do ou minimizando as coisas boas e O que ela pode ou precisa fazer para
agradáveis de seu dia a dia. modificar essa sua estrutura e passar pe-
Há quem diga que lhes falta gra- los revezes da vida de forma mais tran-
tidão. Uma vez que apresentam esse quila e amena?
comportamento, no qual se maximiza O negativo/mal-humorado tende a
o negativo e se desconsidera o positivo se colocar como vítima da sua vida e dos
das situações ou pessoas com quem se circundantes ao invés de se responsa-
relacionam. bilizar enquanto agente de sua própria
E eis que surge uma nova ques- vida. Isso não os ajuda a reverter seu
Existência da dor tão que pode ser levantada: será que as mal-estar.
Acredita-se hoje, em algumas cor- pessoas tóxicas, no fundo, não sabem Pode ser que a pessoa negativa te-
rentes do saber, na existência da ou não se permitem aproveitar coisas nha em si, mesmo que não aparente, um
dor como oriunda da necessidade boas da vida devido a um mecanismo traço maior de insegurança diante das
de aprendizagem e ampliação da de culpa ou autossabotagem? Seria esse coisas, e seu medo de tentar e não dar
consciência do ser humano. Ela seria padrão de comportamento uma espécie conta pode fazer com que ela desista an-
apenas uma viabilizadora do proces- de autopunição gerada por uma estru- tes mesmo de tentar e acabe se tornando
so de crescimento e desenvolvi- tura interna culpada? Essa é uma ques- alguém frustrado e amargurado.
mento do ser. E uma vez aprendida
tão primordial no tratamento de pesso- O fato nos aponta a importância de
a lição necessária, a dor se dissipa e
as negativas. O que parece que as leva a cuidar de nossa cabeça e nos libertar de
o alívio vem.
adotarem essa postura na vida, que leva crenças limitantes sobre nós mesmos
à degradação de sua realização pessoal e que acabamos introjetando ao longo
das relações que elas possam ter com o da vida. Resultado de nossa mente in-
mundo a sua volta? segura, associada a falas e situações

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BEM-ESTAR

vivenciadas com pessoas que nos são


caras e nos fizeram acreditar em nossa
incapacidade a ponto de desistirmos de
nós mesmos e aceitarmos a máscara que
nos imputaram sem que a questionás-
semos. Crenças que nos limitam e nos
reduzem a algo diferente do que somos.
O negativo pode ter aprendido
esse comportamento com seus pais
ou pessoas importantes em sua histó-
ria pregressa. Quando convivemos ou,
pior do que isso, quando fomos criados
por pessoas negativas, podemos nos
contaminar com esse difícil modo de
funcionar. E por mais que reconheça-
mos o padrão mal-humorado ou ne-
gativo de nossos circundantes, e nos
incomodemos ou prejudiquemos com O mais indicado é deixar que a pessoa tóxica chegue a um nível tão elevado de negatividade que queira fazer
isso, podemos acabar reproduzindo in- algo para mudar o padrão negativo. O tratamento terapêutico pode ajudar no processo
conscientemente o mesmo padrão pes-
simista. E quando nos damos conta, já Quem não recorda um esforço mínimo. Observam-se, em
estamos reproduzindo a desistência, a geral, problemas do sono e diminuição
vitimização, a desmotivação em nossa da convivência do apetite. Existe quase sempre uma di-
vida e tornando nosso caminhar cada leve com seres minuição da autoestima e da autocon-
vez mais duro e frustrante. fiança e, frequentemente, ideias de cul-
“solares”, aqueles pabilidade e/ou de indignidade, mesmo
Transtornos de humor que chegam nas formas leves. O humor depressivo

T ranstornos do humor  são aqueles


nos quais o sintoma central é a alte- trazendo alegria e
varia pouco de dia para dia ou segundo
as circunstâncias e pode se acompa-
ração do humor ou do afeto. Ele influen- otimismo? Que nos nhar de sintomas ditos “somáticos”, por
cia diversas áreas da vida do indivíduo exemplo, perda de interesse ou prazer,
(profissional, familiar, social...). Segun- dá o prazer de sua despertar matinal precoce, várias ho-
do a Classificação Internacional de Do-
enças atual, o CID-10, podemos dividir
companhia. Sujeitos ras antes da hora habitual de despertar,
agravamento matinal da depressão, len-
o transtorno de humor em diversas ca- que nos fazem tidão psicomotora importante, agita-
tegorias, que vão desde uma depressão/ sentir melhores, mais ção, perda de apetite, perda de peso e
diminuição a uma elevação do estado perda da libido. O número e a gravidade
de humor e da atividade realizada pelo confiantes e, como dos sintomas permitem determinar os
portador do referido transtorno. três graus do episódio depressivo: leve,
1) Episódio maníaco: Consiste em
consequência, moderado e grave.
algumas ocasiões de elevação do humor mais felizes Além desses tipos principais, en-
e aumento da energia e da atividade (hi- contramos algumas outras variações
pomania ou mania). sódios típicos de cada um dos três graus do transtorno de humor, tais como: os
2) Transtorno afetivo bipolar: de depressão, leve, moderado ou grave, transtornos de humor [afetivos] persis-
Consiste em algumas ocasiões de ele- o paciente apresenta um rebaixamento tentes, a ciclotimia e a distimia.
vação do humor e aumento da energia do humor, redução da energia e dimi-
e da atividade (hipomania ou mania) nuição da atividade. Existe alteração da Mudança de padrão
e, em outras, de um rebaixamento do
humor e de redução da energia e da ati-
vidade (depressão).
capacidade de experimentar o prazer,
perda de interesse, diminuição da capa-
cidade de concentração, associadas, em
B uscar uma terapia para ajudar a
transformar o padrão mental ha-
bitual negativo em neutro ou positivo
3) Episódios depressivos: Nos epi- geral, a fadiga importante, mesmo após e modificar a leitura que se faz da vida

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Temos esses dois tipos de pessoas:
as positivas e bem-humoradas na
maior parte do tempo e as negativas,
pessimistas e predominantemente mais
mal-humoradas. Cabe a cada um
de nós avaliar nossa forma de ser
Qualidade de vida
e das situações que nos cercam é sem- e comportamentos que mantemos e Quando os pensamentos negativos se
pre uma saída eficaz. Faz-se necessário nos trazem sentimentos destrutivos e prolongam por muito tempo podem
acabar se tornando um hábito pernicio-
um aprendizado sobre a forma de en- desgastantes, baixando nossos níveis
so e prejudicial a quem os apresenta e
carar as coisas, para que haja uma mu- de alegria, motivação e nossa imunida- podem desencadear transtornos psico-
dança de valores e de comportamento de, inclusive. lógicos leves ou severos. Nesse caso
do indivíduo diante da vida. E a base Isso não quer dizer que precisa- são precisos atenção especial e ajuda
disso tudo está na identificação e na remos “viver numa bolha”, mas, sim, profissional adequada para que a pessoa
mudança do padrão mental e de com- evitar a excessiva exposição a situações tóxica e os que convivem com ela te-
portamentos antigos que alimentam a maléficas e desnecessárias para nossa nham qualidade de vida.
criação de pensamentos tóxicos. sobrevivência. Além disso, podemos
Uma nova Psicologia, conhecida ser grandes cobradores quando quere-
como Psicologia Positiva, nos ensina mos. Então, deixar de criticar a si e aos
que é possível aumentar nosso nível de outros, evitar o cinismo, as mentiras e
satisfação com nossa vida, nos tornan- as relações que podem trazer negati-
do mais positivos e diminuindo nossa vidade são outras formas de diminuir
exposição ao que pode nos trazer ne- esse mal-estar. de, poderemos nos beneficiar de um
gatividade (como noticiários, jornais Segundo essa vertente, o melhor maior bem-estar se aumentarmos a po-
e mídias negativas, pessoas e situações mesmo seria aumentarmos a positivi- sitividade em nossa vida.
tóxicas – que nos trazem algum prejuí- dade. Pois mesmo que não consigamos Para isso, há alguns facilitadores
zo ou mal-estar), além de pensamentos evitar algumas atitudes de negativida- importantes como:
– Fazer atividades físicas regulares,
com o intuito de, além de cuidar do cor-
po, cuidar principalmente da mente.
– Adotar práticas de  meditação,
de yoga, dentre outras práticas que
trazem grandes benefícios para nosso
bem-estar e nossa qualidade de vida.
– Praticar relaxamento, a respira-
ção consciente, manter contato com a
natureza, com as artes – como a músi-
ca, a dança, o canto, pintura etc., pra-
ticar a gratidão ou uma atividade de
caridade são algumas das coisas que
podem trazer positividade, bem-estar
e qualidade de vida para as pessoas.
Às vezes, é muito difícil mudar sozi-
nho. Nesse caso faz-se necessária a acei-
tação de algum tipo de ajuda, por menor
que seja, até que a pessoa consiga tomar
Há casos em que se observa a existência do padrão tóxico nos pais, que serviram como modelo e passaram consciência do seu quadro e fazer o pri-
para o filho essas características repetindo o padrão meiro movimento de mudança.

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coaching por Júlio Furtado

Dê visão ao seu EU CEGO!


NÓS SOMOS SERES COMPLEXOS POR VÁRIAS RAZÕES. MAS
EM ESPECIAL PORQUE FORMAMOS NOSSA AUTOIMAGEM
POR MEIO DO QUE OS OUTROS VEEM EM NÓS

P
recisamos do feedback das mente somos e do quanto percebemos o que realmente veem em cada um, fa-
outras pessoas para que nos- o outro como realmente é. lando o que gostariam de ouvir.
sa autopercepção possa ser o Preocupados com essa questão, Baseados nisso, eles criaram um
mais real possível. Precisamos dois psicólogos norte-americanos gráfico dividido em quatro quadrantes
também nos mostrar para os outros criaram, na década de 1950, um gráfi- (muito parecido com uma janela) em
para que eles possam ter a percep- co cujo objetivo era analisar como as que os dois quadrantes da esquerda
ção mais acertada sobre nós, logo, ser pessoas se relacionam com as outras representam a consciência que tenho
transparente é, também, uma atitude e consigo mesmas. Foi batizado como de mim mesmo (aquilo que sei sobre
fundamental para a saúde de nossa “a janela de Johari”, nome que deriva mim). Os dois quadrantes da direita
personalidade. O problema é que não da junção de parte dos primeiros no- representam tudo que não tenho cons-
nos mostramos por inteiro nem dize- mes dos dois criadores (Joseph Luth e ciência sobre mim mesmo. Os dois de
mos aos outros tudo o que percebe- Harrington Ingham). Eles partiram da cima definem o que os outros percebem
mos neles. A saúde da nossa relação observação de que, em grupo, as pes- em mim e os dois de baixo o que não
com as outras pessoas se dá em função soas tendem a mostrar o que os outros percebem em mim. Dessa forma, cada
do quanto nos mostramos como real- querem ver e a não revelar aos outros um dos quatro quadrantes representa

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uma das quatro partes da nossa per-
sonalidade. O quadrante superior da PARA SABER MAIS
esquerda representa a área aberta do
nosso eu, o “eu público”. Aí estão to- A JANELA DE JOHARI
G
das as características que conhecemos ráfico criado por Joseph Luth e Harrington Ingham, que mostra as quatro
e que as pessoas também conhecem de partes da nossa personalidade.
nós. O quadrante superior direito sim-
boliza o nosso “eu cego” e contém a EU CONHEÇO EU NÃO CONHEÇO
parte de nossa personalidade conheci-

OS OUTROS
CONHECEM
da pelos outros, mas desconhecida por
ÁREA ABERTA ÁREA CEGA
nós. O quadrante inferior esquerdo re-
presenta o nosso “eu oculto”. Tudo que
está nessa parte nós conhecemos, mas
NÃO CONHECEM
OS OUTROS
os outros não. Finalmente, o quadran-
te inferior direito representa nosso in- ÁREA OCULTA ÁREA POTENCIAL
consciente, ou seja, nem nós nem os
outros conhecem. Preferimos chamar
essa parte de nosso eu de área poten-
cial, pois guarda coisas que podem nos
tornar pessoas melhores e mais livres. A SAÚDE DA NOSSA olhar. Por isso, precisamos aprender
Queremos dar destaque ao “eu a suportar o desconforto de receber
cego”, representado pelo quadrante RELAÇÃO COM AS um feedback que não nos agrada em
superior direito na janela de Johari. OUTRAS PESSOAS nome de nos tornarmos pessoas mais
Ele representa tudo que não sabemos inteiras, cada vez mais donas de nossas
sobre nós, mas que as outras pessoas
SE DÁ EM FUNÇÃO próprias rédeas, pois, quando não nos
sabem. É a área que nos expõe para o DO QUANTO NOS percebemos plenamente, colocamos
mundo e sobre a qual nossa ingerência nossas rédeas em mãos alheias.
é reduzida por falta de conhecimento
MOSTRAMOS COMO É igualmente importante darmos
de seu conteúdo. A única maneira de REALMENTE SOMOS feedbacks honestos e bem-intenciona-
reduzir a influência dessa área é abrir- dos aos outros que nos cercam. Não
E DO QUANTO
-nos para receber feedback dos outros. tenha medo de fazer isso! O outro
É uma atitude difícil, pois esses feed- PERCEBEMOS O pode não aceitar muito bem o que vai
backs podem afetar a imagem positi- OUTRO COMO ouvir. É humano. Saiba, porém, que
va que temos de nós mesmos e exigir quanto melhores intenções tivermos
que nos empenhemos na reconstrução REALMENTE É com nossos feedbacks, mais ficará cla-
daquilo que pensávamos estar pronto. ro nosso esforço em ajudar e mais fa-
Puramente a título didático, pensemos possível enxergar tudo, pois tendemos cilmente o outro se abrirá a rever sua
na situação de termos uma casca de a “não ver” coisas que irão nos desa- postura. Façamos a nossa parte, dando
feijão no dente ou termos esquecido gradar. Logo, a maneira mais eficaz feedbacks maduros e construtivos para
de fechar o zíper da calça. As pesso- de diminuir nosso “eu cego” é estar quem nos cerca e acolhendo os feed-
as veem, mas nós não. Agimos nor- abertos a receber o feedback construti- backs espontâneos que nos derem e,
malmente por não percebermos algo vo, que o outro está disposto a nos dar até mesmo, requisitando-os às pessoas
que somente os outros podem ver. A de presente. O outro que me ameaça bem-intencionadas. O ato de amadu-
IMAGENS: 123RF E SHUTTERSTOCK E ACERVO PESSOAL

menos que nos observemos detalhada- é o mesmo que me liberta, pois está recer é, também, o ato de reduzir cada
mente diante do espelho, dependere- nas mãos dele a ampliação do meu vez mais nosso “eu cego”.
mos de alguém disposto a nos ajudar
que nos diga o que está acontecendo
para que tomemos uma providência. Júlio Furtado é professor, palestrante e coach. É graduado em
Psicopedagogia, especialista em Gestalt-terapia e dinâmica de grupo.
É útil e possível passarmos horas É mestre e doutor em Educação. É facilitador de grupos de desenvolvimento
diante do espelho, analisando deta- humano e autor de diversos livros. www.juliofurtado.com.br
lhadamente o que vemos, mas é im-

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livros Da redação

Superar dificuldades Processo Psicologia e educação


(momentos de tensão e choque) educacional viável (saberes baseados em evidências)
(aprendizado funcional)
O livro Resiliência tem o objetivo Uma boa relação entre ensinar
DEAJUDARAENFRENTARDIlCULDADES O livro Transtornos do e aprender é o objetivo do livro
e adversidades abordando essa Neurodesenvolvimento – Conhecimento, Abordagens Cognitivo-comportamentais
TEMÉTICADEFORMAPRÉTICAEREmEXIVA Planejamento e Inclusão Real tem no Contexto Escolar. A obra integra
Emprestado da Física, o termo COMOPROPOSTAUMAREmEXÎOEUM conhecimentos e técnicas da Psicologia
resiliência é a propriedade que os aprendizado sobre a real condição APLICADOSNAEDUCA¥ÎO AlMDE
materiais têm de voltar ao estado da pessoa com transtornos do FOMENTARACAPACITA¥ÎODOSPROlSSIONAIS
normal depois de submetidos a neurodesenvolvimento no processo da área. O material mistura estudos
momentos de tensão ou choque. Hoje de desenvolvimento da aprendizagem. teóricos e práticos da neurociência
essa palavra ganhou notoriedade É uma abordagem adequada aos e educação, constituindo um viés
na Psicologia, na educação e até PROlSSIONAISDAEDUCA¥ÎO BEMCOMO histórico, conceitual e de diálogo
na administração. Todo mundo uma orientação pedagógica desde da Psicologia do desenvolvimento
precisa ter resiliência, ou seja, precisa OPLANEJAMENTOATÏAEXECU¥ÎODAS com as abordagens cognitivo-
desenvolver a capacidade de lidar com etapas de ensino. A área da educação -comportamentais. Analisa também
PROBLEMASESUPERARDIlCULDADESSEM vem passando por sérias mudanças. ASINTERVEN¥ÜESNOCONTEXTOESCOLAR 
SEDEIXARABALAR A principal delas é a inclusão das trazendo as temáticas e ferramentas
A obra pretende levar o leitor a pessoas com necessidade educacional dessa abordagem de forma prática, com
pensar sobre os momentos difíceis ESPECIAL.%% UMDESAlODIÉRIO EXEMPLOSDENTRODESITUA¥ÜESDODIA
da vida, como lidar com eles e como AOSPROlSSIONAISPARAAPREPARA¥ÎO a dia das escolas. O livro é essencial
não ceder às pressões do dia a dia, e o conhecimento das patologias. para a formação de professores, com o
ALÏMDESERFERRAMENTAAUXILIARPARA /DIRECIONAMENTODASFORMASElCAZES objetivo de empoderar-se com saberes
PROlSSIONAISDETERAPIA de adaptação educacional é de suma baseados em evidências.
prioridade para uma inclusão real
Livro: Resiliência e qualitativa. Livro: Abordagens Cognitivo-comportamentais
Autor: Fernando Fernandes no Contexto Escolar
Editora: Matrix Organizadora: Juliana Mendes Alves
Número de páginas: 50 Livro: Transtornos do Neurodesenvolvimento – Editora: Sinopsys
Conhecimento, Planejamento e Inclusão Real Número de páginas: 320
Autora: Emanoele Freitas Silva
Editora: Wak
Número de páginas: 184

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Infidelidade
dossiê

Os efeitos da
INFIDELIDADE

A traição conjugal se constitui


como uma das experiências
mais temidas e devastadoras
de um relacionamento amoroso.
Geralmente traz consequências
ao casamento e ao equilíbrio
emocional do casal
Por Fabiane Matias

Fabiane Matias é psicóloga clínica e


psicoterapeuta de família. Especialista em
Psicologia Hospitalar e da Saúde pela Santa
SHUTTERSTOCK

Casa de Misericórdia de São Paulo e em


Terapia de Família e Casal pela Unifesp. É
membro titular da Associação Paulista de
Terapia Familiar de São Paulo.
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ê
dd oo s s i

A Entender a
infidelidade conjugal tal- A fase aguda dessa experiência
vez seja um dos temas é caracterizada pela revelação do
mais complexos no âmbi- infidelidade conjugal comportamento de infidelidade e
to das relações afetivas. e as circunstâncias nesse momento tudo é vivenciado
Carregado de intensa reati- de forma intensa e ambivalente,
vidade emocional, sofrimento e ao qual ela emerge num processo de grande sofrimen-
forte apreciação negativa, tanto se torna um grande to, estranhamento de si e do outro.
no aspecto moral quanto no as- A infidelidade pode ter efeitos
pecto religioso, a infidelidade é desafio para os negativos no casamento e se cons-
um comportamento que ocorre profissionais que titui como uma das experiências
com frequência nos relaciona- mais temidas e devastadoras de
mentos amorosos. trabalham com um relacionamento amoroso, po-
No consultório, a infidelidade casais que vivenciam dendo levar à ruptura do vínculo
aparece representada por um tur- (Pittman, 1994).
bilhão de sentimentos intensos e essa experiência. De acordo com Scheeren,
desorganizadores. Raiva, tristeza, O tratamento Apellániz e Wagner (2017), as ra-
ciúmes, dor, desesperança, impo- zões para a infidelidade são as mais
tência, vergonha, culpa, mágoa, requer um olhar variadas, podendo-se notar um
ansiedade, confusão em relação aos sistêmico ponto em comum entre os estudos.
próprios sentimentos e à vida que A maioria das pesquisas aponta
se construiu, dúvida em relação a si A infidelidade conjugal é vi- para fatores relacionados à insatis-
mesmo, sensação de perda de con- venciada como um trauma sendo fação com o relacionamento conju-
trole, medo de perda do cônjuge, comum, na tentativa de nomear, de gal e/ou com o cônjuge. Ressaltam,
desejo de morrer ou de desaparecer representar ou de buscar entendi- ainda, a busca de amor romântico;
e desejo de vingança são emoções mento para essa dor, a equiparação aspectos relacionados à sexualida-
que se misturam. dessa vivência a acidentes e catás- de, como busca de novas experiên-
Desejo de isolamento e de não trofes ambientais como forma de cias sexuais ou insatisfação sexual,
querer ver o cônjuge alterna-se aos demonstrar seu potencial destruti- busca de liberdade e quebra da roti-
desejos de proximidade e de expli- vo e desorganizador. Surgem falas na, infidelidade como uma resposta
cações minuciosas sobre o ocorri- como: “de repente, tudo desmo- à traição sofrida e oportunidade ou
do, associado ao medo de perder o ronou”, “eu vivi um tsunami”, “me um contexto propício à traição.
cônjuge e todos os projetos e cons- sinto devastada, parece que vivi Na pesquisa realizada por es-
truções que decorrem da união. um terremoto”. sas autoras, que teve como objetivo
conhecer a vivência da infidelida-
de em homens e mulheres, foram
entrevistados 237 sujeitos que re-
ferenciaram terem sido infiéis ao
companheiro atual, sendo a amos-
tra composta de 106 homens e 131
mulheres com idade entre 21 e 73
anos. Ficou evidenciada similarida-
de na proporção dos comportamen-
tos de infidelidade entre homens e
 ‚

G

I GG mulheres, o que demonstrou uma
 G
G mudança se comparado com os es-
G I tudos das décadas de 1980 e 1990,
ËH 
GGh€ que demonstravam que a infidelida-
G G9 
de era um comportamento que pre-
IGG
G

GG 
G
 dominava nos homens. A pesquisa
I G mostrou, ainda, que os homens
justificam a infidelidade na busca

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Infidelidade
de novas experiêncas em relação ao PARA SABER MAIS
comportamento sexual. Já as mu-
lheres alegam a procura por envol-
vimento emocional. CONTEXTO SOMBRIO
O levantamento demonstrou,
também, que a motivação do com- PARA RELAÇÕES
portamento de infidelidade tem EXTRACONJUGAIS
como pano de fundo a insatisfação
afetiva, seja com a relação, seja com
o companheiro, corroborando com
A s produções literárias e cinematográ-
ficas sempre nos apresentaram, com
grande maestria, por meio de suas narra-
as pesquisas acerca do tema.
tivas, como os valores morais e sociais
Os resultados do estudo apon-
influenciaram as relações íntimas entre o
taram para a necessidade da com-
homem e a mulher e contribuíram para
preensão da infidelidade como um
dissociar o amor, a paixão e a atração
fenômeno relacional, emergindo
sexual, emergindo dessa trama as rela-
daí também a necessidade de um ções extraconjugais. Gabriela, Cravo e
enfoque relacional para o trata- Canela, de Jorge Amado, nos mostra um
mento dos casais que vivenciam enredo de valores e crenças característi-
essa experiência. cos do início do século XX, em um cenário
Entender a infidelidade conju- de bares, bordéis, esposas, prostitutas ou
gal e as circunstâncias ao qual ela amantes e uma sociedade patriarcal domina-
emerge se torna um desafio para os da pelos coronéis. Tal cenário, onde a paixão,
profissionais que trabalham com a sensualidade e o desejo sexual estiveram fora
casais e requer um olhar sistêmico. do casamento e do campo afetivo, desenvolvia um
Compreender a infidelidade contexto sombrio para as relações extraconjugais e os segredos familiares.
conjugal, sob o enfoque da aborda-
gem sistêmica, perpassa tanto pela
compreensão dos contextos sociais A fase aguda é do agente)  traditor  significa tan-
e culturais e como tais contextos to “traidor” como “quem ensina”
influenciam os valores, as crenças e caracterizada (Carotenuto, 1997).
os modelos relacionais vigentes, em pela revelação do A ref lexão aponta para o caráter
cada época. E como requer a com- ambíguo do significado da palavra e
preensão das histórias individuais e comportamento de propõe pensar a infidelidade distan-
familiares de cada cônjuge na bus- infidelidade e nesse ciada dos valores morais, religiosos
ca pela compreensão dos seus mo- e da conotação negativa que esses
delos afetivos e pela construção de momento tudo é valores impregnam. Na perspectiva
um sentido ou significado para esse vivenciado de forma desse autor, o distanciamento das
comportamento na história do casal. díades complementares “traidor-
Nessa perspectiva, compreen- intensa e ambivalente, -traído” e “culpado-vítima” pode
der a infidelidade requer olhar para num processo de apresentar ensinamentos a ambos
três pontos de vista: do cônjuge os envolvidos e à própria relação.
traído, do cônjuge que traiu e para grande sofrimento, No setting terapêutico, tra-
o ponto de vista da relação. estranhamento de balhar a infidelidade conjugal se
No livro Amar e Trair, constitui uma tarefa complexa, da-
Carotenuto propõe ref letir sobre si e do outro das as apreciações morais e carre-
tal comportamento usando a pers- gadas de preconceitos acerca desse
pectiva etimológica e semântica dade”. O substantivo correspon- comportamento, a polarização dos
do verbo “trair”. dente,  traditio, significa “entrega”, papéis que se estabelecem no triân-
Na forma ref lexiva,  o verbo “ensinamento”, “narração”, “trans- gulo amoroso, os padrões afetivos
SHUTTERSTOCK

tradere significa “abandonar-se a missão de narrações”, “tradição”. disfuncionais e, ainda, pelo fato
alguém”, “dedicar-se a uma ativi- Note-se que o nomem agentis (nome de que o enfrentamento de uma

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dossiê

No consultório,
G ‚

G

GGIIG G9
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GhG9
 G9IG9
PG9G 
G
9

 

experiência traumática requer um Toda crise pressupõe mudança e se


tempo maior de processamento
quando comparado a outras situa- constitui como ameaça ou oportunidade.
ções clínicas. A crise provocada por uma relação
Abordagem terapêutica extraconjugal também segue essa perspectiva
O enfrentamento de uma vivência
de infidelidade ocorre de ma-
neira gradual sendo considerados três
estágios: assimilar o impacto da infor-
mação, elaborar a vivência e, por fim,
Nessa fase, como o pensamen-
to lógico e a capacidade de ref lexão
a tomada de decisão ao que se refere estão comprometidos, é importan-
manter ou romper com o relaciona- te que seja constituída uma rede de
mento (Baucon, 2009; Prado, 2012). apoio ao cônjuge magoado como
O primeiro estágio de enfrenta- forma de favorecer o restabeleci-
mento está associado à fase aguda da mento do seu equilíbrio emocional
vivência e impõe ao casal assimilar o e garantir seu autocuidado.
impacto da descoberta e lidar com os Passada a fase aguda, a elabo-
sentimentos negativos que emergem. ração da situação é imprescindível
Apoio emocional, acolhimento à e se torna possível quando o casal
dor e ao sofrimento e contenção das apresenta disponibilidade emocio-
reações emocionais intempestivas e nal para identificar e compreender
destrutivas são estratégias de inter- os aspectos da relação que culmina-
Psicologia sistêmica venção fundamentais para assegurar ram para a existência de conf litos
No campo da Psicologia e da saúde
o cuidado a todos os envolvidos e, de lealdade.
mental, a abordagem sistêmica se
assim, evitar que ocorram situações Se essa tomada de consciência
constitui como intervenção terapêu-
tica na década de 1950, pressupondo sem possibilidade de reparação e que não acontece e a separação passa a
a compreensão dos fenômenos hu- venham fragilizar ainda mais o rela- ser a única solução para o conf lito,
manos a partir da inter-relação e da cionamento. é muito provável que, futuramente,
interdependência das variáveis físicas, Negação, instabilidade emocio- essa história seja reeditada, porém
biológicas, psicológicas, sociais e nal, ansiedade, desesperança, sinto- com personagens diferentes.
culturais. O advento da teoria sistê- mas somáticos, pensamentos intru- A reedição pode ocorrer, ain-
mica forneceu uma visão interdiscipli- sivos do tipo flashbacks, pesadelos, da, quando o casal faz a opção
nar e criou a possibilidade de diálogo medo, desmotivação, prejuízo do pelo esquecimento. Uma caracte-
a partir das múltiplas perspectivas das
sono, comprometimento da capaci- rística do comportamento huma-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

diferentes áreas do conhecimento


dade funcional são reações naturais no é a busca por minimizar even-
(Grandesso, 2002).
e esperadas nesse período de assi- tos dolorosos e desagradáveis. A
milação da informação. negação e o não enfrentamento da

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Infidelidade
situação levam à constituição de O enfrentamento conf litos, organização dos papéis e
segredos familiares. das funções na família, divisão de
Os segredos estão relacionados de uma vivência de tarefas, entre outros aspectos con-
a eventos dolorosos de vida e que
ocorrem fora das normas sociais e
infidelidade ocorre de siderados importantes pelo casal. A
proposta desse exercício pode tra-
culturais (Mason, 1994). maneira gradual, sendo zer esclarecimentos dos fatores que
considerados três motivaram o distanciamento emo-
Lealdade cional e a deterioração da relação.
estágios: assimilar o
A constituição de segredos fa-
miliares, frequentemente,
ocorre por lealdade ou alianças
impacto da informação,
Analisar os aspectos não pro-
põe estabelecer uma comunicação
acusatória para nomear culpados.
entre os membros de uma família, elaborar a vivência e, Ao contrário, auxilia o casal a iden-
com o intuito de assegurar prote- tificar comportamentos abusivos,
ção e perpetuação da família. Pode
por fim, a tomada de negligências, situações de desres-
ter em sua base aspectos positivos, decisão, manter ou peito e desligamento emocional
mas por outro lado abre preceden- para que, assim, possa repensar seus
tes para a repetição de padrões dis-
romper a relação padrões de vinculação e interação,
funcionais, uma vez que o que é bem como as crenças relacionadas
negado permanece obscuro e sem importante dessa fase de enfrenta- ao amor que alimentam padrões
possiblidade de resolução saudável mento para entender o contexto que disfuncionais na relação.
(Imber-Black, 1994). conduziu ao relacionamento extra- A avaliação exige de cada côn-
A fase de elaboração preconi- conjugal (Prado, 2012). juge a necessidade de reconhecer a
za a busca de um sentido para a Nessa avaliação devem ser con- sua contribuição nas dificuldades
experiência dolorosa, por meio da siderados elementos estruturantes do relacionamento e na configura-
avaliação e compreensão dos fatores da dinâmica relacional do casal, ção do conf lito.
que contribuíram para a instalação como: comunicação, respeito e ad- Outra estratégia de intervenção
do comportamento de infidelidade. miração, amizade, companheiris- importante nessa fase é propiciar o
Nessa fase, o diálogo respeitoso mo, intimidade, qualidade do ca- conhecimento do funcionamento
e acolhedor, mediado por um tera- rinho e do sexo, saúde emocional emocional de cada cônjuge, auxi-
peuta de casal, torna possível legiti- e humor, existência de afinidades liando-os a examinar suas histórias
mar o sofrimento de ambos os côn- de valores e crenças, capacidade de pregressas de relacionamento afeti-
juges nessa vivência e dimensionar apoio, habilidades para resolução de vo e os modelos de relacionamentos
as consequências para a relação e
para as pessoas envolvidas, conside-
rando filhos, família, amigos, entre
outras redes.
O espaço de escuta proposto
pela psicoterapia favorece a acomo-
dação dos sentimentos e a reorgani-
zação da vivência, agora com a pers-
pectiva do cônjuge que traiu. Isso
abre possibilidades para a compre-
ensão, para o perdão e para a repara-
ção de elementos da relação que fo-
ram deteriorados, como a confiança
e o respeito.
Avaliar o relacionamento, como
fazer uma espécie de “radiografia
do casamento”, no momento em
que se instalou o comportamento  ‚

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de infidelidade, é uma estratégia G GGhÔIGI
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dossiê

PARA SABER MAIS Atribuir um significado para a


vivência dolorosa, seja simbólico ou
concreto, marca o fechamento da
REVOLUÇÃO SEXUAL fase de elaboração.
TRANSFORMA A VIVÊNCIA AMOROSA Aprendizado
A inserção da mulher no mundo profissional, com a conquista de novas po-
sições sociais e econômicas, associada à revolução sexual, marcada pelo
advento da pílula anticoncepcional e a regulamentação do divórcio, alteraram,
O processo de autoconhecimen-
to, o entendimento da dinâ-
mica relacional, as possibilidades
de forma significativa, o modo de vivenciar a relação amorosa. Novos arranjos de aprendizado e as transformações
afetivos surgem e abrem espaço trazidas por meio da infidelidade
para relações mais voláteis, carac- abrem caminho para seguir adiante
terizadas pelo afrouxamento dos com essa vivência ou apesar dela e
vínculos afetivos e pela aproxi- se configuram como o último está-
mação baseada na atração sexual gio de enfrentamento.
sem envolvimento emocional. O Pensar nas repercussões e nos
modelo contemporâneo ou pós- desdobramentos concretos da in-
-moderno de relacionamento se fidelidade para o relacionamento
apresenta de forma mais inte- faz parte dessa fase, que tem como
grada, considerando os diversos fechamento a tomada de decisão ao
elementos que compõem um en- que se refere manter o casamento
lace afetivo: escolha, amor, sexo, ou optar pela separação.
intimidade emocional, condições Toda crise pressupõe mudança
mais igualitárias em relação aos e se constitui como ameaça e/ou
papéis e gênero, e tem como pre- oportunidade. A crise provocada
missa para o vínculo emocional a por uma relação extraconjugal se-
satisfação mútua dos cônjuges. gue essa perspectiva.
A literatura apresenta posiciona-
mentos distintos entre teóricos do
vivenciados na família de origem também impõem desafios e mudan- tema, quando falamos das repercus-
para identificar repetições ou, ain- ças adaptativas desencadeando es- sões de uma relação extraconjugal.
da, a existência de tentativas in- tresse e desajustes na relação do ca- Pitt man (1994), em seu livro
conscientes de reparar alguma situ- sal (McGoldrick; Carter, 1995). Mentiras Privadas, defende a vi-
ação vincular mal resolvida. Fatores externos relacionados são de que a infidelidade é con-
Analisar a fase do ciclo vital que a hábitos sociais ou hobbies com tra o casamento e enfatiza as suas
o casal se encontra também pode frequência significativa de eventos consequências disruptivas à relação.
trazer elucidações importantes para sociais, que estabelecem distância As autoras Nabarro e Ivanir
entender fatores negativos que in- física do cônjuge, uso de bebida al- (2003) reconhecem o caráter de-
fluenciaram o comportamento de coólica ou de outras substâncias são vastador e caótico trazido pela in-
infidelidade. A presença de eventos fatores que geram oportunidades fidelidade, mas reconhecem tam-
impredizíveis no curso de vida da e, portanto, favorecedores para o bém, nessa situação, um potencial
família, como perda do emprego comportamento de infidelidade. de desenvolvimento para a relação.
por um dos cônjuges, uma morte
prematura, existência de dúvidas na
relação e confl itos de lealdade ou o O primeiro estágio de enfrentamento da
diagnóstico de uma doença física ou
emocional, traz desafios e, por vezes,
infidelidade conjugal está associado à fase
mobiliza ou acentua confl itos na re- aguda da vivência e impõe ao casal assimilar
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

lação conjugal. As próprias crises


normativas do desenvolvimento da
o impacto da descoberta e lidar com os
família, como a chegada de um fi lho, sentimentos negativos que emergem
40 psique ciência&vida www.portalespacodosaber.com.br
Infidelidade
Para elas, a ampliação da consciên-
cia do casal, para reconhecer partes
suas que tenham sido renunciadas
ou negligenciadas na relação, abre
espaço para que ambos passem a
considerar e satisfazer suas próprias
necessidades.
Na perspectiva sistêmica, cada
situação de infidelidade é única,
particular e cumpre funções e efei-
tos distintos, podendo, em alguns
casos, colaborar para a aproximação
do casal e, em outros, gerar ansieda-
de, distanciamento, mudanças não
suportadas e ruptura do vínculo.
Para alguns casais, a iminência
de ruptura e de dissolução permite
ref letir as vicissitudes do vínculo e
cria a possibilidade de reformula- ` GI 

 
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G
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ção, produzindo novas maneiras de G
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vivenciar a sexualidade, a atração,
a ternura, a confiança e estabeleci- Apoio emocional, Nesse cenário, apesar da família
mento de acordos de fidelidade. e da Igreja exercerem grande inter-
A literatura referencia que a acolhimento à dor ferência na intimidade dos casais,
marca da infidelidade na história e ao sofrimento restringindo a vida sexual, tanto
de um casal ativa, em momentos de dos casados quanto dos solteiros, ao
fragilidade do vínculo, conteúdos e contenção das casamento com objetivo exclusivo
imaginários que se conectam com a reações emocionais da procriação, as relações extracon-
experiência vivida no passado e cria jugais surgiram como forma de dar
um estado confusional no cônjuge intempestivas vazão ou espaço ao desejo, à atração
que foi traído. e destrutivas sexual e ao afeto na relação.
Esse fator aponta para a neces- Observa-se que, originalmente,
sidade de precaução e cuidado do são estratégias no casamento aspectos importantes
vínculo, sendo necessário, por par- de intervenção da relação afetiva, como amor, atra-
te do casal, buscar estratégias para ção, afeto, paixão, sexualidade e inti-
o fortalecimento do vínculo. fundamentais para midade, não podiam ser vivenciados
Na perspectiva terapêutica, o assegurar o cuidado a de forma integrada, necessitando ser
elemento essencial para o fecha- destinados a pessoas diferentes.
mento do processo de enfrentamen- todos os envolvidos O sexo, permeado de preconcei-
to é a construção de um significado to, vivenciado como tabu e de forma
para a vivência. Entender a função o homem e a mulher, não represen- reprimida, favorecia uma espécie de
desse comportamento para a rela- tava um relacionamento amoroso. distinção entre as mulheres na so-
ção confere a ambos os cônjuges co- O casamento era restrito à clas- ciedade. De um lado, tínhamos as
nhecer o seu padrão de vinculação se social dominante e concebido mulheres que pertenciam à classe
e ampliar seu repertório emocional. como um arranjo decorrente das dominante e que lhes cabia o papel
expectativas dos pais dos noivos. de “esposa ideal”, às quais estavam
Compreensão Essas alianças familiares tinham destinados os afazeres domésticos,
sociocultural como objetivo assegurar a trans- a educação dos filhos e a prática

D a Antiguidade à Idade Média,


o casamento, logo, as relações
de proximidade e intimidade entre
missão de patrimônio e poder por
herança e a procriação de filhos le-
gítimos (Dupuis, 1989).
religiosa. De outro lado, tínhamos
as “prostitutas” ou a “boa amante”,
às quais era permitido o contato

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dossiê

sexual mais íntimo, sendo vista Negação, instabilidade Um novo modelo social e rela-
como um mero objeto de prazer. cional é instaurado, e no âmbito das
Na década de 1930, a Revolu- emocional, ansiedade, relações afetivas o amor conjugal
ção Industrial colocou o mundo desesperança, ganha novos contornos pelo direito
urbano no centro, surgindo assim o de escolha do cônjuge e do consen-
fenômeno da migração da massa de sintomas somáticos, timento mútuo.
trabalhadores para os grandes cen- pensamentos É apenas na Modernidade, em-
tros urbanos, em busca de melhores basado pelas inf luências da ideolo-
oportunidades e condições de vida. intrusivos do tipo gia burguesa, que o casamento as-
Esse fenômeno abriu espaço para flashbacks, pesadelos, sume a dimensão afetiva integrando
duas novas classes sociais, os em- amor, escolha pessoal e sexo na rela-
pregadores e os empregados. As re- medo, desmotivação ção conjugal.
lações de poder, que na antiga aris- são reações naturais Esse modelo de relacionamento
tocracia se estabeleciam por meio trouxe aos casais muitas expectati-
da herança, na sociedade burguesa no período de vas acerca do amor e da felicidade
industrial passam a ser conquista-
das, e é a profissão que confere sta-
assimilação da conjugal e familiar.
Baseado no amor romântico,
tus e espaço social (Galano, 2006). informação esse modelo tinha como premis-
sas: o amor à primeira vista, o
Exigências O casamento abandona o cará- amor eterno, a noção de par com-

E ssa mudança faz novas exigências


às pessoas em relação ao estudo
e ao trabalho e, consequentemente,
ter funcional, pragmático e rígido e
passa a ser direcionado pela afinida-
de entre as pessoas, pelos sentimen-
plementar, a busca de validação
de si no outro, a fidelidade, a mo-
nogamia e a distinção dos papéis
no âmbito das relações afetivas. tos e pelas emoções (Galano, 2006). e funções baseados em gênero.
Nessa nova organização social, A emergência do capitalismo e Nesse espaço, homem e mulher
o distanciamento entre o campo e o da sociedade burguesa favoreceu, assumiam o papel de pai e mãe,
local de trabalho favoreceu uma fra- também, a descentralização do po- marido e esposa e masculino e fe-
gilidade nos laços com as famílias e der da Igreja e, com isso, diminuiu minino (Giddens, 1993).
comunidades de origem, emergindo o alcance e o controle sobre a vida Apesar de todas as transforma-
novas formas de aproximação entre das pessoas, conferindo-lhes maior ções na conjugalidade, o vivenciar
as pessoas. autonomia e liberdade de escolhas. da sexualidade e do prazer, por meio
do sexo, era algo, basicamente, diri-
gido ao homem, dada a sua posição
social lhe conceber poder, maior li-
berdade e trânsito social. À mulher
era restrito o ambiente doméstico
e religioso, o que dificultava o seu
acesso à sociedade.
Logo, esse modelo de amor e sua
idealização conduziram homens e
mulheres a decepções decorrentes
da quebra de expectativas, trazendo
um elemento importante a ser con-
siderado e que, mais tarde, se torna-
ria balizador das relações amorosas:
a satisfação. 
Ao longo do século XX, diver-
sas transformações foram determi-
nantes para as mudanças nos papéis
ÈI G
IG G GIG
IG GhÔ


G$ G9I 9
   de gênero e, logo, para as transfor-
GIGIIHG
G
GG mações nos padrões relacionais.

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Infidelidade
Passada a fase aguda, a elaboração da situação
é imprescindível e se torna possível quando o
casal apresenta disponibilidade emocional para
identificar e compreender os aspectos que
culminaram com os conflitos de lealdade
missa ao marido. Joe, representado casa perfeita, e possibilita repensar
Arranjo amoroso por Barnard Hill, é um homem rí- suas decisões e escolhas na vida.
No livro A Família em Desordem, gido e pouco afetivo. O casamento Nesse contexto, a relação ex-
Roudinesco (2003) refere para o fato vivido por eles é caracterizado pela traconjugal permanece cumprindo
de o primeiro momento de união e en- falta de atenção, de companheirismo um papel integrador à medida que
contro íntimo do homem e da mulher, e de carinho por parte do marido. possibilita que partes renunciadas
pelo casamento arranjado, apesar de Solidão e vazio marcam a vida sejam, agora, consideradas, na for-
primar pela monogamia, estava fun- dessa mulher de meia-idade, até que o ma de se relacionar consigo mesma
damentado em uma exigência social convite de uma amiga para uma via- e com o marido. Em uma de suas
sem que fossem levados em conside-
gem à Grécia leva Shirley a encontrar ref lexões, Shirley expressa: “Eu não
ração os interesses afetivos e sexuais
novos significados para a vida e para me apaixonei por ele. Eu estou me
dos futuros cônjuges.
sua existência. apaixonando pela ideia de viver”. 
No fi lme, a relação com o amante Na proposta de Carotenuto
grego possibilita que Shirley vivencie (1997), Shirley se deu a chance de
não somente a satisfação sexual, mas ser fiel a si mesma e de resgatar par-
proporciona o contato com seu femi- tes suas renunciadas pela dedicação
nino, esmaecido no papel de dona de ao outro.
Nas décadas de 1970 e 1980, a in-
serção e a participação da mulher na REFERÊNCIAS
sociedade ganharam expressão, des-
/*(9:#e-)3 9:&e"* *)9&::Helping Couples Get Past the Affair: G
tacando-se a conquista da autonomia   I Gn"
:)G3d" 
+9=;;D:
e da independência fi nanceira.  *. )/.*9:Amar e Trair®,GG G
G.G hÔ:-Ô+Gd
G
Esses fatores contribuíram para +G9<DDB:
alterar a hierarquização dos papéis /+/$-9%:Em nome do pai:G ` G
GG
G
:-Ô+Gd(G !9<DCD:
de gênero, no qual as relações assu- "')*9(:#:!G^ G ` GdG ` G
GG^ G:$d 0 )39:‡*:ˆ:Família e
miram uma condição mais igualitá- GG G9È9GG
G
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`I 9G G9 ` G9G9
ria, tanto no espaço social quanto violência, intervenção sistêmica, rede social. -Ô+GdGG
+ I`9=;;A:
no espaço privado das relações. "$ )-9:A Transformação da Intimidade:-Ô+Gd/9<DD>:
" ) --*9(::-HG IhÔ
-  ‚IG
dGP   ` IG
Metáfora #È IG
G+P IG^ IG:-Ô+GdGG
+ I`9=;;=:

O fi lme Shirley Valentine repre-


senta uma metáfora que traduz
a mulher e seus anseios, na década
(-*)9(:%:0 GdG` GG
GG^ G:$d$( ¢'&9 :‡*:ˆ:
Os Segredos na Família e na Terapia Familiar. +d(\
IG9<DD?:
("*' $&9(:e . 9:
GhGI I

GG  G®GGGG
GG GG  G:$d . 9:e("*' $&9(:‡*:ˆ:As Mudanças no Ciclo de Vida
de 1980, em um cenário de repressão
Familiar:+d(\
IG9<DD@:
sexual, de aprisionamento ao am-
) *9): :e$0)$ 9-:G G
IGG 
 G¢
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biente doméstico e solidão, na busca GI G:$d)*'!$9(:‡*:ˆ:A Crise do Casal: uma Perspectiva Sistêmico-relacional.
por transformações e vislumbrando +d
9=;;=:
ressignificar seu papel e sua forma de +$..()9!:( G+ G
Gd$‚

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G.G hÔ
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se relacionar afetivamente. (\
IG9<DD?:
No fi lme, Shirley, representada + *9'::(b G!GI
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 G:+d
hÔ+G 9=;<=:
por Pauline Collins, é uma dona de */$) -*9 :A Família em Desordem: 
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casa aprisionada ao papel de esposa, -# )9+:e+ ''R)$49$::(:e1") 9:$‚

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mãe e dona de casa exemplar e sub-  :.G
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ê
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O ciberespaço pode ser



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Infidelidade
Um coração que
PULSA e POSTA
Em tempos atuais,
E
nquanto experimentamos escorregar montanha abaixo, escapan-
a velocidade das transfor- do de certezas que tendem a substituir
não há dúvidas de mações, pausas são neces- a realidade. Convidamos o leitor a ver
sárias para a compreensão o fenômeno do relacionamento virtu-
que as experiências do caminho das necessidades daquilo al a partir de outros olhos e com isso
advindas com que chamamos de progresso não ser
subentendido como um caminho a
relativizar a centralidade que damos
a este e tantos outros hábitos “emer-
a internet, e ser percorrido a qualquer custo. Se
hoje nos encontramos na chamada
gentes” da cibercultura, inaugurando
olhares e perspectivas para uma possí-
especialmente “sociedade líquida”, espécie de termo vel apropriação simbólica do fenôme-
guarda-chuva para definir o tempo no e sua interação com o real e o dese-
com as redes presente e de onde repousam fenô- jo pulsante de alcançar a vida em toda
sociais, impactaram menos de profundas mudanças no
comportamento humano, dentre eles
sua riqueza e múltiplas perspectivas.
Nossa esperança é que a Psicologia
nosso imaginário um impulso generalizado de precari-
zação e velocidade, ausência de senso
venha contribuir para a superação da
“doença da literalização” e da perda das
acerca do amar de propósito, inconsistência e efemeri- potências imaginativas e as redes de in-
dade nas relações (o famoso “nada foi terdependência do real: cada aborda-
e influenciaram feito para durar”), não seria exagero gem vem iluminar alguma região som-
a forma como perguntarmos: o que podemos sentir
enquanto efeito colateral dessa “revo-
bria, trazer alguma contribuição a um
ponto diferente e alimentar a esperan-
nos relacionamos lução antropológica” em termos de ça de que gradativamente possamos ta-
relacionamento interpessoal? Como
socialmente interpretar as novas necessidades do Ao tratar de um
amar em tempos digitais?
Por Thiago Domingues Adiantamos ao leitor amigo que fenômeno tão múltiplo
neste curto artigo não conseguiremos e potencialmente
dar conta dessas perguntas. É muito
provável que outras perguntas surjam dimensionável como
no processo. Ao tratar de um fenô-
meno tão múltiplo e potencialmente
relacionamento virtual,
dimensionável como relacionamento não nos colocaremos
Thiago Domingues é psicólogo junguiano,
professor de orientação vocacional,
virtual e, tampouco, sobre a infidelidade, na posição (delicada)
atualização profissional em transtorno seja ela dada no meio virtual também.
ansioso e depressivo. Especialista em Não nos colocaremos na posição (de- de projetar o
Filosofia Contemporânea e História.
licada) de projetar o impacto ou for-
Tem treinamento profissional avançado
mular efeitos deterministas nos pro-
impacto ou formular
em Integral Somatic Psychology (ISP). É
practitioner Emotional Freedom Techniques cessos imaginativos e sociais. efeitos deterministas
(EFT). Atende em consultório e coordena Como Sísifo e sua pedra,
nos processos
SHUTTERSTOCK

grupos de estudos e supervisão clínica.


Thiago.cdomingues@gmail.com evoluímos para nos aproximar dessas
perguntas e as perguntas continuam a imaginativos e sociais
www.portalespacodosaber.com.br psique ciência&vida 45
dossiê

pois ultrapassa as categorias “segu-


ras” da razão instrumental, lançando
o homem imerso na reprodução do
cotidiano até o encontro das forças
inconscientes que regem sua vida para
além do “o que você está pensando”
do Facebook e sua forma amistosa de
amenizar o ar robotizado desse terre-
no digital, onde uma das poucas saídas
para o modelo binário de curtir e com-
partilhar é postar.
Acompanhamos de perto a negli-
gência dos usos das redes sociais em
libertar a consciência individual da
psique coletiva, seja no âmbito clínico
como também no cotidiano mais co-
mum. Mesmo muito antes da expan-
são dos domínios tecnológicos essa foi
!GIHGGG G
G GGH G


 G9
G
GIG uma das maiores preocupações do psi-
G^
GGG
H P 
I IG  G\G quiatra Carl Gustav Jung. Trata-se da
necessidade, para o desenvolvimento
Nossa esperança encontrado no virtual e vice-versa. da personalidade, da diferenciação da
Podemos falar em ciberbullying ou psique coletiva, dos modismos e ou-
é que a Psicologia cibertraição com a mesma precisão
venha contribuir para a de definição e sentidos, sendo a única
coisa que os diferencia é o contexto
superação da “doença de seu aparecimento. Como ambos
da literalização” e da acontecem no âmbito do ciberespaço
seguiremos com uma breve definição:
perda das potências “O ciberespaço (que também cha-
imaginativas e as redes marei de ‘rede’) é o novo meio de co-
municação que surge da intercomuni-
de interdependência cação mundial dos computadores. O
do real termo especifica não apenas a infraes-
Mestre da malícia
trutura material da comunicação digi-
tal, mas também o universo oceânico Albert Camus considera Sísifo o “pro-
tear menos no escuro dos preconceitos de informações que ela abriga, assim letário dos deuses” pela razão de estar
imerso em um trabalho sem senti-
e ignorâncias e diminuir nossas ilhas como os seres humanos que nave-
do, metáfora do homem moderno de
de incoerência interna e superficiali- gam e alimentam esse universo. ‘Ci-
consciência entorpecida pelo poder e
dade. Se cada abordagem psicológica bercultura’ especifica aqui o conjunto alienação de si. No emaranhamento de
der a mão, as contribuições aparecerão de técnicas (materiais e intelectuais), posts, curtidas e compartilhamentos, o
de forma inevitável como ponto de en- de práticas, de atitudes, de modos de homem moderno rola a timeline com-
contro original na busca de um sábio pensamento e de valores que se desen- pulsivamente em busca de um senti-
caminhar em direção a um equilíbrio volvem juntamente com o crescimen- do para a sua vida que não pode ser
psíquico sustentável. to do ciberespaço” (Lévy, 1999, p. 22). confundido com o seu “perfil” nas re-
Trilhando o universo da cibercul- des sociais e que exige um sentido de
A cibertraição tura, o que nos move é seguir a trilha consciência ainda mais profundo para

C
se libertar da ilusão e da desesperança.
onsideramos o virtual como e acompanhar a compreensão de que
algo em sua potência de existir. tudo aquilo que recebe a alcunha de
Se algo pode ser encontrado no terre- “humano” continua sendo um misté-
no do real, assim também poderá ser rio para nós. Esse numen é misterioso,

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Infidelidade
tras tantas tentativas de padronização PARA SABER MAIS
e obstrução das condições individuais
de construção da individualidade. É
muito comum observarmos, com pe- O FIM DAS UTOPIAS E A “SOCIEDADE LÍQUIDA”
sar ou constrangimento, a quantidade
de pessoas que constantemente acaba
se identificando com seus perfis nas
O conceito de “sociedade líquida” foi criado pelo sociólogo e filósofo po-
lonês Zygmunt Bauman (1925-2017). Segundo o pensador, a sociedade
líquida não consegue traduzir seus desejos em um projeto de longa duração
redes sociais. A esse segmento e rea-
e de trabalho duro e intenso para a humanidade. Para ele, os maiores proje-
lidade bidimensional Jung
tos de novas sociedades se
chamou de persona, pois...
perderam e a sociedade não
...“Como seu nome
é mais voltada para atingir
revela, ela é uma simples
um objetivo. A utopia, que
máscara da psique coletiva, tinha um papel fundamental,
máscara que aparenta uma pois era a maneira de perce-
individualidade, procurando ber que a realidade do mo-
convencer aos outros e a si mento precisava ser altera-
mesma que é uma individu- da, se perdeu. Até o século
alidade, quando na realidade XX, havia a constatação de
não passa de um papel, no que o mundo precisava ser
qual a psique coletiva” ( Jung, mudado e interações so-
O. C. vol. VII, § 245). ciais suficientes para criar
Assim, ao analisarmos grupos, para engajar pes-
o conceito de persona e sua soas para isso. Ainda de
amplificação com o tema em acordo com o sociólogo, o
questão, encontramo-nos fim das utopias é a perda do
com aquela que talvez seja uma das caráter reflexivo em relação à sociedade e, por consequência, a perda da no-
profecias mais irônicas do grande es- ção de progresso como um bem que deve ser partilhado. A busca do prazer
critor Machado de Assis, quando em individual é o objetivo principal da sociedade líquida.
seu conto Fulano nos apresenta a his-
tória de um indivíduo sem notorieda-
de, que à custa de sua autopromoção precisamos organizar essas experiên- seu berço nossos tesouros de enge-
acaba por se tornar um sujeito de des- cias de alguma forma que consigamos nhosidade, gritou-vos violentamente:
taque, porém logo cai novamente no nos situar entre elas e que a experiên- ‘Não é disso que precisamos! Quere-
esquecimento. cia humana do existir não seja redu- mos viver, queremos que nossa vida
Não sabemos se os progressos zida a apenas 140 caracteres. Porém, tenha sentido’” (Perrot, 1998, p. 19).
científicos aproximam ou criam ain- a advertência de Ettienne Perrot não Rompendo a rigidez do “certo ou
da mais barreiras entre as pessoas, ex- deve ser negligenciada: errado” ou dos julgamentos de que “no
pandindo de forma compulsória um “À medida que nossos progressos meu tempo era assim”, o ânimo des-
modelo de vida baseado na padroni- técnicos multiplicaram os objetos em sa nova sabedoria multitasking pode
zação de comportamentos e unifor- torno de nós, sentimos nosso mundo também personificar um domínio em
midade de ideias e estilos de vida. interno empobrecer, e finalmente a que toma forma o uso responsável
Fato é que esses progressos existem e nova geração, à qual oferecemos em das redes sociais e de toda gama de
possibilidades dos recursos tecnológi-
cos. Um apelo sincero para deslocar a
Se cada abordagem psicológica der energia vital e a jornada individual de
cada um do mundo externo e seu afã
a mão, as contribuições aparecerão de padronizador para o mundo interno
forma inevitável como ponto de encontro da originalidade e a amplificação da
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

consciência e imaginação. A supera-


original na busca de um sábio caminhar em ção do ego cristalizado e autocentrado
direção a um equilíbrio psíquico sustentável em suas convicções irredutíveis para o

www.portalespacodosaber.com.br psique ciência&vida 47


dossiê

Não sabemos se os progressos científicos


aproximam ou criam ainda mais barreiras
entre as pessoas, expandindo de forma
compulsória um modelo de vida baseado
na padronização de comportamentos e
uniformidade de ideias e estilos de vida
trocas simbólicas, ressonâncias e reno- interage com o protagonista vem de
vações advindas dos celulares conecta- Scarlett Johansson). Aqui o mal-estar
dos à rede não seria exagero dizer que contemporâneo a respeito do amar e
nos tornamos sujeitos on-lines, captu- das relações interpessoais, de forma
rados pelas exigências do tempo ins- geral, é agudizado. O amor para ser
tantâneo e midiático, do database e do legitimado precisa da confirmação do
gerenciamento das fantasias a partir outro (no caso do filme, de um sistema
*IFulano9
(GI G

 9G das redes sociais, que tendem a regular operacional), e com isso Jonze mostra
 
^
 
G
9OIG a orgia dos desejos em valores cada vez que o personagem Theodore não está

GGhÔG G
G9G
mais idealizados. tão descolado do real como podería-
IG I 
mos conceber em outras ficções. Ao
Amor operacional oscilar na busca do olhar de aprovação
encontro vigoroso com o self, o arqué-
tipo da totalidade psíquica e fonte da
experiência originária do viver, pode-
N ão há dúvida de que as
experiências advindas com a
internet também impactaram nosso
pela perspectiva do outro, seja ele fru-

ria ser considerada, através das redes imaginário acerca do amar. O que dis-
sociais, uma forma medial de estabele- tinguimos em nossa vida como amar
cer relações criativas e dinâmicas. é uma coexistência legítima e ancora-
Hoje, não é mais possível se re- da no presente com outro alguém, já
lacionar sem algum tipo de interati- que a “intenção de amar no amar nega
vidade virtual. Desde a forma com o amar, e a conduta que queremos
que se procura a pronúncia de uma seja amorosa aparece manipuladora
palavra sueca até a expectativa de um (Maturana, 2009, p. 83).
encontro amoroso, tudo tem lugar na Um dos últimos exemplos des-
rede, na civilização da virtualização sa realidade sobre o amar em tempos
dos afetos. on-line, e talvez por isso superando Personalidade
extrovertida e introvertida
Se existe algo que mudou muito qualquer tentativa caricata de descre-
Fundador da Psicologia Analítica, o
em tão pouco tempo certamente foi ver o avanço de onde chegamos em psiquiatra e psicoterapeuta suíço
o telefone. termos de avanços tecnológicos, é o Carl Gustav Jung (1875-1961) formou
Mudamos as formas de nos rela- filme Her (Ela/2014). Ao explorar a os conceitos de personalidade ex-
cionar com o telefone e a partir dele. realidade dos relacionamentos on-line trovertida e introvertida, arquétipo e
Nessa hibridez comportamental pe- com a lente dos símbolos e metáforas, inconsciente coletivo, o complexo,
dimos comida pelo telefone com a o diretor Spike Jonze nos apresenta o a sincronicidade. A classificação ti-
mesma rapidez com que é possível escritor Theodore ( Joaquin Phoenix), pológica de Myers Briggs (MBTI), um
“fazer amizades”. script do homem moderno em que instrumento popular psicométrico, foi
desenvolvida a partir de suas teorias.
Das grandes cabines, operadas o mundo interno deixa de ser uma
Seu trabalho continua influenciando a
por telefonistas, aos pequenos e cada zona privilegiada de experiências para
Psiquiatria, Psicologia, Ciência da Reli-
vez mais velozes smartphones, esse apostar, com certa dose de constrangi-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

gião, Literatura, entre outras áreas.


aparelho pode ser considerado um mento, em um relacionamento (ide-
dos mais importantes regentes socio- alizado e virtualizado) com um siste-
culturais na atualidade. Das inevitáveis ma operacional (a voz intimista que

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Infidelidade
to da inteligência artificial ou humana,
o filme destaca de forma sensível a
lógica desse movimento, que é tornar
aqueles que compartilham dessa di-
nâmica uma espécie de ator inseguro,
cujo palco das redes sociais acaba se
tornando até mesmo mais importan-
te que a própria vida vivida em sua
plenitude no tempo presente.
O desdobrar de toda continuida-
de do filme Her, que não merece ser
pormenorizada, pois o filme é de rara
beleza e profundidade, é o questiona-
mento: até que ponto na atualidade as
formas de amar são influenciadas pelo
universo digital, confundindo o desejo
de conexão com o estar conectado?
Se muitas vezes as redes sociais *GG 
G 
I
G
I
G  G
contribuem para criar uma falsa no- I IG GGG
G

ção de mundo com projeções cruza-
das acerca de assuntos como política,
Se muitas vezes as redes sociais contribuem
por exemplo, a ela incide essa bolha para criar uma falsa noção de mundo com
fantasiosa a respeito do amar e do re-
lacionar. O sujeito que não distingue
projeções cruzadas acerca de assuntos como
um verdadeiro amor está centrado e política, por exemplo, a ela incide essa bolha
reverenciando suas próprias proje-
ções, reafirmando um amor reflexivo,
fantasiosa a respeito do amar e do relacionar
circular e retroalimentado, do ponto relações. As relações amorosas quando empaticamente e com o compromisso
de vista do imaginário, nos ideais do conseguem estabelecer comunicações de uma comunicação clara e respeitosa
amor romântico. efetivas, e não “tabus” e proibições, com vistas à satisfação e expressão das
Por isso criticamos o amor român- quebram barreiras significativas a pon- necessidades emocionais de cada um.
tico, e esta é a principal distinção entre to de delimitar fronteiras confortáveis Lembremos que o ciberespaço
o amor humano e o amor romântico: para todos que estão ali inseridos. O também é um espaço e que os rela-
o romance, pela sua própria natureza, fortalecimento da presença, dos afe- cionamentos, independentemente do
está fadado a degenerar para o egoís- tos, da carícia e de tantos outros pon- contexto em que se configuram, preci-
mo, pois ele não é um amor dirigido tos pode encontrar concordância com sam ser retroalimentados com o cons-
a outro ser humano. A paixão do ro- o universo virtual, contanto que seu tante compromisso criativo dos gestos
mance é sempre dirigida às nossas impacto seja avaliado e considerado espontâneos do amor.
projeções, às nossas expectativas, às
nossas fantasias. Na verdade, não é REFERÊNCIAS
o amor que se sente por uma pessoa, %*#)-*)9 H:We:G G
G+ I G
 Ë I:-Ô+Gd
G
mas o que sentimos por nós mesmos (I9<DCB:
( Johnson, 1987, p. 258). %/)"9G"G:*HGG:0:2¤$$$:Estudos sobre Psicologia Analítica.+` d
O amor é uma das grandes forças
G09Ö<D<A×<DC<:
psicológicas que têm o poder de trans- 'U039+ :Cibercultura.-Ô+Gd
G>?9<DDD:
formação sobre o ego e situá-lo em (./ )9#He3Q) 492 G:Habitar Humano. -  G 
  G¢
uma existência e em novas perspec- G:-Ô+Gd+GG G9=;;D:
tivas de ver o mundo e os relaciona- + *.9  :O Caminho da Transformação Segundo C. G. Jung e a Alquimia.-Ô+Gd
mentos. O grande desafio dos dias de
G+G9<DDC:
hoje é aliar essa força arquetípica aos -)!* 9% :Os Parceiros Invisíveis.-Ô+Gd+G9<DCB:
novos modelos de subjetivação e de (/-9H:O Mito de Sísifo. 
%G d
G I
9=;<C:

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neurociência por Marco Callegaro

MINDSET de crescimento
MINDSET OU MENTALIDADE É UM CONCEITO IMPORTANTE,
PODENDO SER ENTENDIDO COMO UM CONJUNTO GERAL
DE CRENÇAS, REGRAS E VALORES QUE É CONSTRUÍDO AO
LONGO DA VIDA E INFLUENCIA NOSSA VISÃO DE MUNDO

C
arol Dweck é uma psicóloga IMUTABILIDADE DAS COISAS FAZ COM QUE Podemos relacionar as ideias de
norte-americana que estu- resistam à aquisição de novos conheci- Carol Dweck com uma série de outras
da há décadas a motivação mentos e habilidades. teorias que convergem na mesma dire-
HUMANA $WECK SINTETIZOU O mindset de crescimento está fun- ção. A teoria da autodeterminação, por
pesquisas na área de Psicologia social, dado na ideia de que a inteligência exemplo, surgiu nas décadas de 1970 e
do desenvolvimento e da personalida- pode ser desenvolvida, o que leva ao 1980 a partir do trabalho dos pesqui-
de para construir uma teoria poderosa desejo de aprender e, portanto, a uma sadores Edward L. Deci e Richard M.
sobre a mente humana, descrita em seu tendência a enfrentar desafios. Por ado- Ryan sobre motivação. É uma teoria que
best-seller Mindset – a Nova Psicologia do tarem crenças pessoais, nas quais a ca- liga personalidade, motivação humana
Sucesso (publicado no Brasil em 2017 pacidade humana é mutável, as pessoas e ótimo funcionamento, propondo que
pela Editora Objetiva). Mindset signi- com mindset de crescimento estão mais existem dois tipos principais de motiva-
fica “mentalidade” na tradução literal abertas ao desenvolvimento de novos ção, a intrínseca e a extrínseca, e que am-
da língua inglesa. Basicamente, Dweck comportamentos e habilidades, através bos são forças poderosas na formação de
acredita que existem dois tipos funda- do esforço e da experiência. Tendem a quem somos e como nos comportamos.
mentais de mentalidade. enxergar erros como oportunidades de De acordo com a teoria da autode-
O mindset fixo é uma mentalidade APRENDIZADOEAPERSEVERARMESMOME terminação, a motivação extrínseca é
que se opõe à capacidade de transfor- diante adversidades. São mais flexíveis um impulso para se comportar de cer-
mação do ser humano. A inteligência é e engajadas na busca de soluções para tas maneiras que vem de fontes externas
vista como estática, levando a um de- desafios diversos. As pessoas com min- e resulta em recompensas externas. As
sejo de parecer mais esperto e levando dset de crescimento aprendem com as FONTES PODEM SER EXEMPLIlCADAS COM
à tendência de evitar desafios, desis- críticas e descobrem lições e inspiração prêmios e elogios, avaliações de fun-
tir com facilidade frente a obstáculos no sucesso dos outros. cionários, pontos ou sistemas de classi-
e de ver o esforço como infrutífero. Ao contrário das pessoas que ado- lCA¥ÎOEMORGANIZA¥ÜES ADMIRA¥ÎOEO
O mindset fixo leva a ignorar feedback tam um mindset FIXO QUEREALIZAMME respeito dos colegas ou amigos. Já a mo-
útil e se sentir desafiado pelo sucesso nos do que seu potencial possibilita tivação intrínseca está ligada a impulsos
dos outros. As pessoas de mentalidade por terem uma visão determinística da de origem interior, que nos motivam a
fixa têm tendência a ser rígidas consi- vida, os indivíduos com o mindset de agir de certas maneiras. Os motivos são
go mesmas e com as demais. Tendem crescimento estão sempre a se superar internos, como nosso senso pessoal de
a criar uma expectativa de fracasso, em termos de performance, e como moralidade, nossos interesses e nossos
mesmo antes de tentar algo, e são fo- decorrência têm um grande senso de valores fundamentais. A autodetermina-
cadas no problema, com baixa motiva- livre arbítrio, acreditando no poder da ção, portanto, se refere à capacidade ou
ção para solucioná-lo. A premissa da vontade e da autodeterminação. AOPROCESSODEFAZERASPRØPRIASESCOLHAS

50 psique ciência&vida www.portalespacodosaber.com.br


e gerir suas decisões, o que é um compo- PODEMOS MODIFICAR UM MINDSET FIXO,
nente crucial do bem-estar psicológico,
que está sempre associado a sentir-se no EM QUE A INTELIGÊNCIA É VISTA
controle de sua própria vida. COMO ESTÁTICA, PARA UM MINDSET
No aspecto do componente da mo-
tivação, a psicóloga positiva Barbara
DE CRESCIMENTO, EM QUE A
Fredrickson defende a teoria que chamou INTELIGÊNCIA PODE SER DESENVOLVIDA
de “ampliar e construir”, segundo a qual
as emoções agradáveis ampliam o reper- nísticos de incapacidade e fracasso, as cimento, pois as consequências são
tório de recursos de uma pessoa, levando EMO¥ÜESNEGATIVASREDUZEMCAPACIDA- poderosas em nosso desempenho, mo-
AMELHORDESEMPENHOEREALIZA¥ÎO des cognitivas de atenção e foco, além tivação e bem-estar mental. Enxergar a
Segundo Fredrickson, as emo- de diminuir a motivação e o estímulo. vida como um processo de crescimen-
¥ÜES POSITIVAS INDUZEM AO AUMENTO Portanto, vários estudos e fontes TO E APRENDIZAGEM Ï FUNDAMENTAL E
dos níveis de dopamina no cérebro. apontam a importância de nutrirmos PODEMOSCADAVEZMAISNOSBENEFICIAR
A dopamina é um neurotransmis- uma mentalidade ou mindset de cres- dessa mentalidade.
sor excitatório que está associado ao
Referência:
PRAZER  E CUJO AUMENTO PRODUZ UMA
DWECK, C. S. Mindset – a Nova Psicologia do Sucesso. 1. ed., 311 p. São Paulo: Objetiva, 2017.
ORGANIZA¥ÎO MAIS AMPLA E FLEXÓVEL DO
FREDRICKSON, B. L. The broaden-and-build theory of positive emotions. Philosophical
funcionamento cerebral, ampliando a Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, n. 359, p. 1367-1378, 2004.
cognição e elevando a capacidade de DECI, E. L.; RYAN, R. M. Self-determination theory: a macrotheory of human motivation,
atenção e foco de uma pessoa. Dito de development, and health. Canadian Psychology/Psychologie Canadienne, n. 49, p. 182-185, 2008.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL

doi:10.1037/a0012801
outra forma, ao alimentar expectativas
positivas de sucesso de forma otimis- Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento,
ta, é mais fácil persistir na busca dos diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto
objetivos e ter maior disponibilidade Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo
Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o
de recursos para atingi-los. Por outro
Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).
lado, ao nutrir pensamentos determi-

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psicologia jurídica por Renata Bento

Quando se pode ter um


PERITO da parte

O CENÁRIO E O CLIMA CONFLITUOSOS QUE


SE INSTAURAM NOS PROCESSOS EM VARAS
DE FAMÍLIA IMPRIMEM A NECESSIDADE DE
OLHAR MAIS APROFUNDADO PARA SE BUSCAR
ALTERNATIVAS À CRONIFICAÇÃO DO LITÍGIO

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E
xiste na atualidade uma desor- O ASSISTENTE TÉCNICO / MAGISTRADO  COMO LEIGO NO ASSUN-
dem que perpassa as relações TO MUITASVEZESPODERÉNÎOSABERSOBREO
FAMILIARESNÎOSØNESSAESFERA HÉ
TEM SIDO CADA VEZ #ØDIGODE¡TICADOPSICØLOGO ENTRETANTO
ainda uma dimensão maior a esse MAIS CONVOCADO OPROlSSIONALINTERESSADODEVEESTARBEM
RESPEITO QUANDO OBSERVAMOS A PRØPRIA ALINHADOCOMASNORMASELIMITESÏTICOS
A ASSESSORAR NOS
SOCIEDADECOMOUMTODO%SSESCONmITOS DESUAPROlSSÎO
MUITASVEZESESCAPAMDOÊMBITODOMÏS- PROCESSOS EM /TRABALHODOASSISTENTETÏCNICONAELA-
TICOEACABAMPORDESAGUARNO*UDICIÉRIO VARAS DE FAMÍLIA; BORA¥ÎODEQUESITOSPARAOPERITODEVERÉSER
Felizmente assistimos a uma maior PAUTADONACOLHEITADAHISTØRIAFAMILIARPOR
cooperação e integração do trabalho em O PROFISSIONAL IRÁ meio de entrevistas e na leitura do processo.
EQUIPE MULTIPROlSSIONAL E DE PROlSSIO- REPRESENTAR A PARTE 0ARA ELABORA¥ÎO DESSES QUESITOS Ï FUNDA-
nais de saúde mental que se juntam a uma MENTALCOMPREENDEROSCONmITOSEXISTENTES
maior humanização do âmbito jurídico. INTERESSADA NA naquela família. Uma diferença importante
/PSICØLOGOJURÓDICOMILITANTENESSECAM- PERÍCIA ATRAVÉS ACERCADOTRABALHODEAVALIA¥ÎOTÏCNICADO
PO ESTÉ HABILITADO TECNICAMENTE COM SUA PERITO E DO PARECERISTA  QUE Ï O ASSISTENTE
escuta especializada com sensibilidade e
DE UM PARECER TÏCNICO  Ï QUE SUA ATUA¥ÎO NÎO SE DÉ POR
entendimento acerca da personalidade e PROlSSIONAL  MAS TAMBÏM COM AS RESOLU- meio de avaliação da personalidade e sim
DOS CONmITOS HUMANOS E PODE CONTRIBUIR ções sobre atuação como perito e assisten- POR INTERMÏDIO DA ANÉLISE NO LAUDODOCU-
de forma a iluminar pontos que frequente- TETÏCNICONO0ODER*UDICIÉRIO MENTOESCRITODEOUTROPSICØLOGO¡ATRAVÏS
mente não são observados dentro da dinâ- É importante mencionar que com intui- dos dados fornecidos no laudo que o assis-
mica familiar. to de preservar a intimidade e equidade de TENTETÏCNICOPODERÉSEDEBRU¥ARPARAAVA-
/ASSISTENTETÏCNICO QUEÏOPERITODA CONDI¥ÜES OASSISTENTETÏCNICODECONlAN¥A LIARSOBREAVALIDADEDODOCUMENTOTÏCNICO 
PARTE TEMSIDOCADAVEZMAISCONVOCADOA da parte que o contratou não pode ser na abrindo novos questionamentos.
assessorar nos processos em Varas de Fa- ATUALIDADE  OU TER SIDO NO PASSADO  PSICO- .OCAPÓTULO)) SOBREPRODU¥ÎOEANÉLISE
MÓLIAOPROlSSIONALIRÉREPRESENTARAPARTE terapeuta das partes envolvidas no litígio; DEDOCUMENTOS NOARTCONSTAh/SDOCU-
INTERESSADANAPERÓCIAATRAVÏSDEUMPARE- ESSADUPLAFUN¥ÎOESTÉVEDADAAOPSICØLOGO MENTOSPRODUZIDOSPORPSICØLOGOSQUEATU-
CER.ESSECASO OPSICØLOGOÏCONTRATADO como consta no art. 10 da resolução referida. AMNAJUSTI¥ADEVEMMANTERORIGORTÏCNICO
PELASPARTESEMLITÓGIOnUMASSISTENTETÏC- É muito comum encontrar pareces exigido na Resolução CFP no QUE
NICOPARACADAPARTEn QUEEMVIRTUDEDE TÏCNICOS CONTESTADOS POR ESBARRAREM NO institui o Manual de Elaboração de Docu-
SUACAPACIDADETÏCNICAFARÉAAVALIA¥ÎODO #ØDIGODE¡TICADOPSICØLOGOQUANDOSÎO MENTOS%SCRITOSPRODUZIDOSPELOPSICØLOGO 
TRABALHOPERICIALPORMEIODAANÉLISEEDA elaborados por psicoterapeutas das pesso- DECORRENTESDAAVALIA¥ÎOPSICOLØGICAv
conclusão do laudo do mesmo. Cada um AS ENVOLVIDAS NO LITÓGIO %SSE CONmITO DE A competência legal quanto ao julga-
DENTRODESEUESPA¥ODELIMITADOSERÉPE¥A PAPÏIS  OU SOBREPOSI¥ÎO DE DUAS FUN¥ÜES  MENTODOCASOSEMPRECABERÉAOJUÓZO NÎO
fundamental na atuação cooperativa com poderia colocar em risco tanto o trabalho SENDOESTEOPAPELDOPSICØLOGOEMNENHU-
intuito de realizar sua função de modo a PROlSSIONAL  QUE lCA CONTAMINADO PELA MA DAS ESFERAS #ABERÉ AO ESPECIALISTA NA
buscar uma melhor condução do caso. função que se tem nas relações quanto a FUN¥ÎO DE ASSISTENTE TÏCNICO DISCRIMINAR E
/PSICØLOGOPERITO DIFERENTEDOASSIS- RESPEITODAAUSÐNCIADERESPALDOÏTICOLE- avaliar criticamente no laudo do perito os
TENTETÏCNICO ÏOPROlSSIONALDECONlAN¥A GAL DEISEN¥ÎOENEUTRALIDADE.O#ØDIGO FATORESPSICOLØGICOSTÎOSOMENTEDESCRITOSE
do juízo designado a fazer a perícia no in- DE¡TICA ART ÏVEDADOAOPSICØLOGOhSER VERIlCARNÎOSØAIMPARCIALIDADECOMOONÓ-
tuito de auxiliar a justiça dentro dos limi- PERITO  AVALIADOR OU PARECERISTA EM SITUA- vel de coesão e congruência do documento
TES DE SUAS ATRIBUI¥ÜES E O PSICØLOGO  NA ções nas quais seus vínculos pessoais ou apresentado e reencaminhar ao juízo atra-
FUN¥ÎODEASSISTENTETÏCNICO DEVERÉSERDE PROlSSIONAIS ATUAISOUANTERIORES POSSAM VÏSDOADVOGADODAPARTE%SSAINTEGRA¥ÎO
CONlAN¥ADAPARTEQUEOCONTRATOU GARAN- afetar a qualidade do trabalho a ser realiza- DEEXPERIÐNCIASPROlSSIONAISFAZCOMQUEOS
TINDOASSIMODIREITOAOCONTRADITØRIOEM DOOUAlDELIDADEAOSRESULTADOSDAAVALIA- fechamentos dos processos que envolvem
uma determinada questão-problema. Os ¥ÎOvITEM+DOARTDOCØDIGO  famílias tenham melhores resultados.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ARQUIVO PESSOAL

PROCEDIMENTOS ÏTICOS SOBRE OS LIMITES DA


ATUA¥ÎODOASSISTENTETÏCNICOCONSTAMDES-
Renata Bento é psicóloga e psicanalista, membro da Sociedade
critos na Resolução CFP de no 008/2010. Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Perita em Vara de Família
¡DESUMAIMPORTÊNCIAAOPSICØLOGOQUE e assistente técnica em processos judiciais. Filiada à IPA – International
Psychoanalytical Association, à Fepal – Federación Psicoanalítica de
ATUANAESFERAJURÓDICAESTARAlNADONÎOSO-
América Latina e à Febrapsi – Federação Brasileira de Psicanálise.
MENTECOMOSLIMITESDO#ØDIGODE¡TICA

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recursos humanos por João Oliveira

Não esqueça o
TEMPERO
BRASILEIRO
REFERÊNCIAS INTERNACIONAIS
SÃO MUITO VALIOSAS, MAS ANTES DE
USAR CONHECIMENTOS QUE DERAM
CERTO NO MUNDO É NECESSÁRIO
CONSIDERAR AS PECULIARIDADES
DO NOSSO MERCADO

E
stamos acostumados a ver, ler Ocorre que, muitas vezes, nos es-
e ouvir grandes mestres do RH quecemos que nenhuma receita de bolo
mundial com ideias, protocolos CONTÏM O SABOR DO RESULTADO lNAL )SSO
de atendimento, histórias moti- porque o que lá se aplica aqui pode não
VACIONAISEUMINlNITOVOLUMEDECON- funcionar. Como exemplo, podemos
teúdo voltado para o desenvolvimento APRESENTARDUASPOTÐNCIASlNANCEIRASQUE gócios que, pelo visto, impera até hoje
PESSOALEPROlSSIONAL aportaram no Brasil e, com o seu modo em muitos setores comerciais.
Isso é ótimo! Como professor univer- de operação padrão, não resistiram à lei Desde a promoção da Black Friday,
sitário utilizamos os Cases de Harvard do Gerson que impera por aqui. O HSBC que no Brasil é metade do dobro de on-
em sala de aula com nossos alunos de E O #ITIBANK lNALIZARAM OU MUDARAM tem, até a impossibilidade de se ter um
pós-graduação. A instituição onde atua- sua forma de interagir com o mercado atendimento digno na hora de cancelar
mos mantém essa parceria que enrique- lNANCEIRO NO MESMO LUGAR ONDE OUTRAS um plano de telefonia ou pacotes de TV
ce de forma fantástica nosso ambiente instituições – nacionais – possuem fatu- por assinatura. Algumas empresas não
de troca de conhecimentos. ramento recorde a cada ano. se colocaram no século XXI e estão pra-
Também é possível entrar em qual- Para quem não está familiarizado, ticando um ritual de harakiri (suicídio
quer boa livraria e sair com as bolsas a lei do Gerson se refere a um antigo ritualístico japonês) em câmera lenta.
cheias de volumes e mais volumes de comercial de TV sobre uma marca De fato, nossa cultura inverte a fal-
livros voltados para esse tema em parti- de cigarros que oferecia um tamanho ta de estrutura e de responsabilidades,
cular; acessar canais do Youtube e assis- maior no produto pelo mesmo preço. dando a quem se submete a sacrifícios
tir a aulas muitas vezes em tempo real O famoso jogador de futebol Gerson dotes heroicos. É comum encontrar nas
E  PARA lNALIZAR O PERlL MIDIÉTICO ATU- lNALIZAVA O ANÞNCIO DIZENDO h0ORQUE REDESSOCIAISTEXTOSQUEGLORIlCAMPES-
al, temos os podcasts que nos trazem os brasileiro gosta de levar vantagem em soas que andam quilômetros para ir à
gurus direto para o nosso cérebro en- tudo. Certo?”. ESCOLA lLHADEFAXINEIROQUEVIRAVANOI-
quanto estamos nos transportes públi- Emblemático slogan que não caiu tes estudando para passar no vestibular
cos, indo e vindo todos os dias de casa SOMENTENOGOSTOPOPULAR ERAOREmEXO de Medicina, pessoas afrodescendentes
para o trabalho. da cultura nacional das relações de ne- que conseguiram cargos de alta remune-

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HÁ QUE CONSIDERAR
FATORES QUE
ENVOLVEM MAIS QUE
PLANEJAMENTOS
h0,!.),(!$/3v
EM NÚMEROS,
ESTATÍSTICAS E
ESTRATÉGIAS DE
NEGÓCIO. O POVO
E SUA CULTURA
DEVEM FAZER PARTE
DA EQUAÇÃO

mercado deve conhecer as armadilhas e


facilidades criadas pelos seus concorren-
tes em busca de ampliação de sua base
de clientes. Receitas de bolo feitas em
outras fronteiras não trazem o tempero
brasileiro que precisa ser traduzido em
NOVAVERSÎO#OMODISSE4OM*OBIMh/
Brasil não é para principiantes”.
Há que considerar uma série de fa-
tores que envolvem muito mais que
PLANEJAMENTOS FRIOS E hPLANILHADOSv EM
RA¥ÎO%LASNÎOSÎOHERØISSÎOVÓTIMAS ética. Maquiavel diz em seu livro O Prín- números, estatísticas e estratégias de ne-
Como grande parte da nossa população. cipe ESCRITO EM   hPOIS  UM HO- gócio. O povo e sua cultura devem fazer
Independentemente das questões mem que queira fazer em todas as coisas parte da equação ou até serem a princi-
políticas envolvidas e do tipo de atua- PROlSSÎO DE BONDADE DEVE ARRUINAR SE pal chave de análise. As referências in-
ção no mercado que temos, é necessário entre tantos que não são bons” (Maquia- ternacionais são válidas, mas o recurso
separar o joio do trigo e saber que pro- vel, Nicolau. O Príncipe. Tradução de verdadeiramente humano nacional não
tocolos podem funcionar aqui ou como -ARIA*ÞLIA'OLDWASSER ED3ÎO0AULO PODE lCAR Ì MARGEM ! ADAPTA¥ÎO Ì
podemos adaptá-los à nossa realidade. Martins Fontes, 2004). nossa realidade, em geral, se faz muito
Uma vez tivemos uma situação no Na visão simplista do comerciante necessária para o sucesso efetivo.
interior do México, onde o vendedor se sem escrúpulos esse é o dito de maior Antes de usar conhecimentos fantás-
recusou a vender um produto pelo pre- valor, lhe dá o direito de agir como qui- ticos que deram certo no mundo todo,
ço que ele mesmo havia apresentado. ser sobre a sociedade – mercado consu- faça ao menos uma pequena pesquisa de
Ele disse que esperava uma negociação, midor – se ele detém monopólios. mercado que envolva áreas exatas, mas
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR

um diálogo, e não apenas uma relação A verdade oculta nesse trecho é que também humanas. Fórmula mágica só
fria comercial. Da mesma forma que a O PROlSSIONAL QUE DESEJA SUCESSO NO existe em conto de fadas.
cultura comercial em alguns países da
África e em quase todos os mercados João Oliveira é doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de
Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br). Entre seus livros estão: Relacionamento em
existentes na Índia, todos esperam uma Crise: Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções!; Jogos para Gestão
boa conversa com o cliente, criar um elo de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional; Mente Humana: Entenda
emocional, nem que seja aos gritos. Pen- Melhor a Psicologia da Vida; e Saiba Quem Está à sua Frente – Análise Comportamental
pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).
sar sobre isso requer amadurecimento e

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SÍNDROME

O crescimento do
TRANSTORNO
OPOSITIVO
DESAFIADOR
A prevalência do TOD em diagnóstico
isolado atualmente é de aproximadamente
6% a 16%; a incidência como comorbidade
secundária no TDAH é de 50%, e no autismo
esse percentual é de 29%
Por Emanoele Freitas

Emanoele Freitas é neurocientista, especializada em autismo, transtornos psicopatológicos e do


neurodesenvolvimento e autora do livro Mediador Escolar – Recriando a Arte de Ensinar e Transtornos do
Neurodesenvolvimento, Conhecimento, Planejamento e Inclusão Real (Wak Editora).

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IMAGENS: SHUTTERSTOCK

psique ciência&vida 57
SÍNDROME

T
ranstorno opositivo de- A prevalência do TOD em diag- Pesquisas recentes
safiador (TOD) é um nóstico isolado hoje é de aproxi-
transtorno do neurode- madamente 6% a 16%; a incidência demonstraram
senvolvimento de diag- como comorbidade secundária no que os níveis
nóstico independente, TDAH é de 50%, e no autismo esse
mas é frequentemente estudado em percentual é de 29%. de andrógenos
conjunto com o transtorno do déficit de O quadro é de maior incidência adrenais dos
atenção com hiperatividade (TDAH) nos meninos, para a primeira e segunda
ou com o transtorno de conduta (TC). infância, e de incidência igualitária em pacientes com
Novos estudos indicam que o TOD meninas e meninos na adolescência. TOD são mais
consiste em múltiplas dimensões, e es- Hoje, os números de casos vêm
sas diferentes dimensões podem estar subindo, mas sugere-se que tais dados altos que os dos
associadas a transtornos externalizantes sejam mais relevantes porque os testes escritos como
e internalizantes, posteriormente. específicos, bem como o conhecimento
A característica principal do TOD dos profissionais, estão favorecendo o controle ou até
é estar incluído nos transtornos dis- reconhecimento dos sintomas princi- mesmo de crianças
ruptivos, cujos sintomas principais pais, que em sua grande maioria podem
são a criança apresentar um padrão de ser detectados de forma eficaz por meio com outros
comportamento negativo, desafiador, de protocolos específicos. diagnósticos,
desobediente e hostil, todos com inten-
sidade, frequência e duração acima do Correlatos incluindo o TDAH
esperado para sua idade, e, em alguns Hormônios e neurotransmisso-
casos, o descontrole emocional pode le- res – Uma das linhas atuais de maior que possam correlacionar fatores espe-
var à agressividade e a alguns episódios investigação são os estudos com base cíficos para a etiologia do TOD.
de violência verbal e física. nos hormônios e neurotransmissores, Pesquisas recentes demonstraram
que os níveis de andrógenos adrenais
dos pacientes com TOD são mais al-
tos que os dos escritos como controle
ou até mesmo de crianças com outros
diagnósticos, incluindo o TDAH. Ou-
tra alteração encontrada é na frequência
cardíaca, que pode chegar a ser muito
alta após provocação e frustração, mes-
mo comparada à de outras crianças na
mesma situação.
Genéticos – Recentemente, estu-
dos levaram a associarem genes espe-
cíficos para o TOD aos sintomas desa-
fiadores de oposição. Trata-se dos genes
receptores para andrógeno DAT, DRD2
e D-beta-H.
A criança com TOD Uma série de marcadores neurobio-
apresenta um padrão lógicos, da condutância da pele, reativi-
de comportamento

G‚G
9
dade do cortisol basal reduzida, anor-
desobediente e hostil, malidades no córtex pré-frontal e na
com intensidade amígdala são fatores que continuamen-
e frequência acima te estão sendo estudados e reavaliados
do esperado para se chegar a um aspecto específico
que explique melhor o TOD.
Cognitivos, emocionais e ambien-
tais – Fatores temperamentais relaciona-

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PARA SABER MAIS

DETECTANDO SINTOMAS
A primeira etapa é a observação e anotação dos sinto-
mas em três etapas: frequência, duração e intensidade
dos comportamentos disruptivos. A criança não apresenta
de uma faixa normativa para o nível de desenvolvimento,
o gênero e a cultura do indivíduo.
B – A perturbação no comportamento está associada a
tais sintomas somente em casa, vai apresentar em todos sofrimento para o indivíduo ou para os outros em seu
os locais que frequenta e, dependendo do fator causador, contexto social imediato (p. ex., família, grupo de pares,
poderá apresentar maior intensidade ou não. colegas de trabalho) ou causa impactos negativos no fun-
Outro meio de detecção é através do quadro de diagnós- cionamento social, educacional, profissional ou outras áre-
tico clínico do DSM-V, que nos orienta com os critérios as importantes da vida do indivíduo
para diagnóstico. Código 313.81 (F91.3) C – Os comportamentos não ocorrem exclusivamente
durante o curso de um transtorno psicótico, por uso de
A – Um padrão de humor raivoso/irritável, de comporta-
substância, depressivo ou bipolar. Além disso, os critérios
mento questionador/desafiante ou índole vingativa com
para transtorno disruptivo da desregulação do humor não
duração de pelo menos seis meses, como evidenciado por
são preenchidos.
pelo menos quatro sintomas de qualquer das categorias
seguintes exibido na interação com pelo menos um indiví- ESPECIFICAR A GRAVIDADE ATUAL:
duo que não seja irmão. Leve: Os sintomas limitam-se a apenas um ambiente (p. ex., em
casa, na escola, no trabalho com os colegas).
HUMOR RAIVOSO/IRRITÁVEL
Moderada: Alguns sintomas estão presentes em pelo menos dois
– Com frequência perde a calma. ambientes.
– Com frequência é sensível ou facilmente incomodado. Grave: Alguns sintomas estão presentes em três ou mais am-
bientes.
– Com frequência é raivoso e ressentido.
COMPORTAMENTO QUESTIONADOR/ DESAFIANTE
Fonte: Manual
4 – Frequentemente questiona figuras de autoridade ou, Diagnóstico e
no caso de crianças e adolescentes, adultos. Estatístico de
5 – Frequentemente desafia acintosamente ou se recusa a Transtornos
Mentais – DSM-5.
obedecer as regras ou pedidos de figuras de autoridade. 5ª. ed. Porto Alegre:
6 – Frequentemente incomoda deliberadamente outras Artmed, 2014.
pessoas.
7 – Frequentemente culpa outros por seus erros ou mau
comportamento.
ÍNDOLE VINGATIVA
8 – Foi malvado ou vingativo pelo menos duas vezes nos
últimos seis meses.
NOTA: A persistência e a frequência desses comporta-
mentos devem ser utilizadas para fazer a distinção entre
um comportamento dentro dos limites normais e um com-
portamento sintomático. No caso de crianças com 5 anos
ou mais, o comportamento deve ocorrer pelo menos uma
vez por semana durante no mínimo seis meses, exceto se
explicitado de outro modo (critério A8). Embora tais cri-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E FREEPIK

térios de frequência sirvam de orientação quanto a um ní-


vel mínimo de frequência para definir os sintomas, outros
fatores também devem ser considerados, tais como se a
frequência e intensidade dos comportamentos estão fora

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SÍ NDROME

não haja um treinamento parental. Em


sua grande maioria, para evitar que a
criança tenha uma “crise”, os pais res-
pondem ao comportamento do filho
cedendo às suas exigências para obter
breves adiamentos da hostilidade, das
discussões e desobediência. No en-
tanto, esse comportamento somente
reforça e aumenta a intensidade e fre-
quência dos atos.
O TOD não afeta somente a crian-
ça, mas todos ao seu redor. Infelizmente,
os sintomas só começam a ser levados
a sério e não classificados como birra,
falta de educação ou falta de corretivo
quando a criança já está moldada num
O quadro é de maior incidência nos meninos, para a primeira e segunda infância, e de incidência círculo vicioso e destrutivo.
igualitária em meninas e meninos na adolescência A desobediência, normal ou pa-
tológica, é um comportamento ca-
Atualmente, vem se buscando distinguir os racterizado por incapacidade de se-
guir regras ou acatar ordens, sendo
dois subtipos do TOD e suas dimensões, ela ocasional, reativa (endereçada ou
que foram abordados por pesquisadores da não), impulsiva/constante, oposito-
ra/desafiadora, transgressora.
Universidade de Calgary, no Canadá Também navega por aspectos so-
cioeducativos, desde novos padrões de
dos a problemas de regulação emocional, o desenvolvimento do TC, mas em interação pais/autoridades x crianças/
como baixa tolerância a frustração, eleva- números mínimos também pode pre- adolescentes às manifestações sinto-
da reatividade emocional. ceder o transtorno de ansiedade e de- máticas de momento evolutivo, déficits
Ambientais: Práticas agressivas, pressivo maior, e os que possuem sua cognitivos, transtornos neuropsicoló-
inconsistentes ou negligentes de cria- classificação dentro dos sintomas de gico/psiquiátricos, reações conflitivas
ção dos filhos são comuns em famílias humor raivoso/irritável respondem diversas (aspectos psicológicos).
de crianças e adolescentes com TOD. pela maior parte dos riscos para os A criança de 3 a 5 anos atinge o es-
transtornos emocionais. tágio do personalismo (Wallon) e ocor-
Prognóstico Atualmente vem se buscando re incremento da emoção, objetivando

A causa do TOD é desconhecida


ainda, mas pesquisadores identi-
ficaram diversas linhas de abordagem.
distinguir os dois subtipos e suas di-
mensões, que foram abordados por
pesquisadores da Universidade de
a aquisição da identidade.
A criança se expressa em oposição
ao outro, dizendo não a tudo e aprende
Um dos estudos mais atuais sugere que Calgary, no Canadá, que relatam que a delimitar o que é ela e o que é o ou-
a exposição pré-natal a álcool, nicotina, há dois subtipos: 1- Sintoma de afe- tro, iniciando o uso dos pronomes (eu,
entre outros teratógenos aumenta as to negativo (ODDNA) – Sensível, meu, teu), ao mesmo tempo em que
chances de a criança vir a ter o TOD. raivoso, rancoroso e ou vingativo; 2- deseja diferenciar-se dos demais, per-
Muitos pais de crianças com TOD so- Sintoma comportamento oposição cebe a profunda dependência que tem
frem de transtornos emocionais, como (ODDB) – Argumentador, desafia- em relação à sua família. Momentos de
transtornos de ansiedade e depressão. dor, intolerante. oposição se alternam com atitudes de
Geralmente, os primeiros sinto- A criança TOD é difícil de ser tra- sedução, quando a criança busca aceita-
mas surgem durante os anos de pré- tada. Tende a exibir o comportamento ção e amor dos pais.
-escola e, raramente, mais tarde, após desafiador com maior frequência com Quando a criança já conhece a au-
o começo da adolescência. É uma pessoas do seu convívio diário do que toridade do adulto ela não oculta sua
comorbidade de início e curso contí- com terceiros. E esse comportamen- falta, compreende intelectualmente a
nuo. Com frequência, o TOD precede to, infelizmente, tende a piorar caso proibição, sabe da necessidade de aca-

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A criança com TOD tende a exibir o
comportamento desafiador com maior
frequência com pessoas do seu convívio
diário do que com terceiros. E esse
comportamento tende a piorar caso não
Padrão patológico haja um treinamento parental
Não podemos classificar tudo como
um padrão patológico. A criança pas- que lhe foi pedido; 5- Porque as ordens menta, principalmente a intensidade
sa por fases e, com isso, apresenta
tão pouco razoáveis e, portanto, incom- dos atos, não ficando só restrito ao am-
certos níveis de desobediência. Até
preensíveis para a criança. biente familiar, pois começa a se esten-
os 5 anos não podemos classificar
como TOD. Mesmo que os sintomas der ao convívio social. Quando a crian-
já estejam presentes, devemos tra- A evolução do TOD ça chega aos 5 anos de idade é quando
çar um perfil sempre com base na O bebê, por instinto, usa o choro geralmente esse comportamento se
frequência e intensidade das ocorrên- para conseguir o que quer. Confor- torna preocupante para os pais, pois
cias, mas o quanto antes começarem me ele vai crescendo e aprendendo as nesse período 60% dos pais de crianças
as abordagens de eliminação mais rá- questões sociais, vai modulando esse com TOD não “conseguem” controlar
pido pode-se enquadrar se é um pa- comportamento e utilizando a comu- as crises. Uma das primeiras coisas a
drão normal do desenvolvimento ou nicação para ter suas demandas atendi- ser eliminada não são os sintomas da
se é uma situação patológica.
das. Mas até os 3 anos esse comporta- criança, e sim o convívio social. Os
mento vai se intensificando. À medida pais deixam de frequentar locais pú-
que vão sendo alcançados seus feitos, a blicos, festas, reuniões e atividades em
criança tende a querer chamar a aten- que lhes possa causar algum tipo de
ção de qualquer forma, e para tal grita, transtorno emocional.
chora, em alguns momentos se joga no
tar as ordens, já experimentou conse- chão. Mas, ao ser direcionada, ela con- Tratamento
quências: irritabilidade dos pais, casti- segue se moldar ao querer dos pais. Es- A agressão é um importante pre-
gos, privações etc. ses comportamentos tendem a sumir ditor de incapacidade e resultados psi-
E mesmo assim mantém compor- até os 4 anos e meio de idade numa cossociais negativos em crianças com
tamento opositor. Este comportamento criança neurotípica, o que não aconte- TDAH, TOD e TC. Estes estão entre os
pode ser classificado como “desobe- ce numa criança com TOD, muito pelo diagnósticos psiquiátricos mais comuns
diência patológica” com as seguintes contrário. Esse comportamento só au- na infância, com 4,1% das crianças
características: 1- A criança comete a
falta repetidas vezes: tão logo é admoes-
Um dos estudos mais atuais
tada, volta a fazer o que lhe foi proibido:
sugeriu que a exposição
“Não registra o que se lhe diz”; 2- Pare- pré-natal a álcool,
ce não compreender por que é castigada nicotina, entre outros
e demonstra sentir que é injustamente teratógenos, aumenta
tratada; 3- Não há eficácia nos castigos, as chances de a
criança ter TOD
sejam físicos, sejam de privação; 4- Rea-
ge “catastroficamente”, com reações exa-
geradas frente aos limites, repreensões e
castigos impostos.
É importante considerar as condi-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E FREEPIK

ções da desobediência antes de conside-


rá-la patológica, sendo: 1- Como meio
de se autoafirmar; 2- Para manipular o
adulto; 3- Porque não entende as or-
dens; 4- Por que não sabe executar o

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SÍ NDROME

PARA SABER MAIS em idade escolar diagnosticadas com


TDAH, 1% a 6% das crianças, com
TOD e 0,2% a 2%, com TC. Na ado-
FAMÍLIA E ESCOLA lescência e na idade adulta influenciam
negativamente a qualidade de vida das
E m um primeiro momento pode parecer completamente difícil lidar com os
comportamentos e sintomas do TOD, principalmente quando se iniciam as
atividades escolares. Mas se todos realmente se prepararem verão que existem
crianças e famílias. O tratamento far-
macológico entra em associação com
o tratamento terapêutico como forma
várias possibilidades de se alcan-
de reduzir, tornar o tratamento eficaz
çar êxito.
e seguro. Nesse ponto de vista, reduzir
A – COMPREENDA O COMPOR- e/ou eliminar os sintomas de agressão
TAMENTO e outros comportamentos disruptivos é
1 – Identifique os sintomas do de extrema importância.
TOD. As abordagens são específicas
para cada caso. O tratamento com
2 – Converse sempre com a crian-
fármacos inclui estudos de eficácia na
ça sobre suas reações.
redução dos sintomas e aponta alguns
3 – Reconheça a necessidade de como mais eficientes. Em casos de
manter o controle. crianças com quadro grave de TOD e
4 – Comece a ensinar formas po- TC, os estudos mostraram que o uso
sitivas de lidar com a frustração. de Metilfenidato diminuiu os sinto-
mas de oposição; que Haloperidol
B – AJUSTAR E INICIAR AS TÉCNICAS PARENTAIS e Lítio demonstraram eficácia nos
1 – Aprenda a se comunicar de forma clara e eficiente. casos de agressão, não aderência ao
2 – Não reaja de maneira raivosa. tratamento e explosões de raiva; que
3 – Não culpe a criança/jovem ou o veja como um problema na sua vida. a Risperidona foi verificada em eficá-
cia na melhoria da “calma ou adesão”.
4 – Assuma a responsabilidade pelos seus próprios sentimentos e atitudes, torne-
Outro em linha de uso e verificação
-se um exemplo.
da eficácia é a Quetiapina, com a qual
5 – Seja consistente, não é não, regras e limites devem ser claros e obedecer ao
único comportamento aceitável.
6 – Ajuste seus pensamentos, pois são eles que comandarão suas reações, subs-
O TOD não afeta
titua os negativos pelos positivos, veja que a criança/jovem precisa de ajuda e somente a criança,
você é a referência.
mas todos ao seu
7 – Identifique os estressores tanto familiares como ambientais.
8 – Ajude a identificar as emoções, tanto as suas como as da criança, não tente redor. Os sintomas
ser forte o tempo todo. só começam a ser
9 – Deixe sempre claro a importância do respeito e dos limites.
levados a sério e
C – PROCURE AJUDA não classificados
1 – Comece o tratamento o mais breve possível, pois estudos mostram que 67%
das crianças com TOD se tornam assintomáticas no prazo de três anos caso ini-
como birra ou
ciem o tratamento correto. falta de educação
2 – Trate outros problemas de saúde mental, investigue se há outras comorbidades
além do TOD.
quando a
3 – Participe sempre de palestras, programas e atividades de treinamento, esteja criança já está
preparado para realmente compreender e ajudar. moldada num
4 – Entre em grupos de apoio.
círculo vicioso e
5 – Caso seja necessário, não relute em iniciar tratamento farmacológico.
destrutivo
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A primeira etapa
para detectar
o problema é
observação dos
sintomas em três
etapas: frequência,
duração e
intensidade dos
comportamentos
disruptivos.
O bebê usa o choro para conseguir o que quer, mas
A criança não conforme vai crescendo, e aprendendo as questões

apresenta tais sociais, vai modulando esse comportamento

sintomas somente
gue realmente compreender que tais de medicação para controlar os sinto-
em casa esforços são para sua mudança e re- mas pertinentes ao TDA-H e minimizar
dução dos sintomas. O TOD não tem os efeitos coligados dos transtornos.
se verificaram a redução da irritabili- uma cura específica, mas uma redução O que mais ouvimos, quando se
dade e o controle da frustração. significativa dos sintomas, chegando inicia um atendimento terapêutico, e
Ainda não há estudos que com- à possibilidade de autorregulação por isso é em quase 90% dos casos, é que
provem efetivamente a eficácia real de parte da criança/jovem. somente a criança necessita de aten-
nenhum dos fármacos, mas, sim, uma Quando a criança apresenta o TOD dimento, pois os pais visam apenas
redução dos sintomas, levando em como uma comorbidade concomitante corrigir o que está visível. Entretanto,
consideração cada caso. Analisando- ao TDAH se faz necessária a introdução se esquecem que todos são afetados
-se os efeitos adversos, alterando-se as pelo transtorno. Muitos casais não
dosagens e monitorando-se o processo compreendem que suas ações e atos
pode-se chegar ao fármaco mais propí- interferem de forma crucial no desen-
cio à criança. volvimento e eficácia do tratamento.
Infelizmente, os sintomas do TOD, A criança/jovem, em todos os mo-
em sua grande maioria, não são reduzi- mentos, sente o que de fato aconte-
dos somente com a terapia e o treina- ce na família e se ele(a) é realmente
mento parental. Em 2,7% a 40% de ocor- compreendido(a) ou não.
rência do caso é necessário o tratamento O treinamento parental é a base
farmacológico conjunto para que se al- Sintomas para compreender o que realmen-
cancem os resultados esperados. Aspectos sintomatológicos psiquiá- te acontece com a pessoa com TOD,
tricos. Como diferenciar os sintomas como eles se sentem, reagem e inter-
Em conjunto nas comorbidades: Sintomas – hos- pretam o seu entorno. O treinamento
O transtorno opositivo desafiador, tilidade com os pais (TDAH - e TOD consiste em preparar os pais e respon-
quando isolado, é tratado com terapia +); destrutividade (TDAH - e TOD sáveis para intervir de forma eficaz,
+); distração/desatenção (TDAH + e
psicológica específica para modelação com controle da situação. O primeiro
TOD -); dificuldade escolar (TDAH ++
de comportamento. É a cognitiva- passo é reconhecer os sintomas do
e TOD - ou +); sentimento de culpa
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E FREEPIK

-comportamental. Outro aspecto é o (TDAH + e TOD -); comportamento TOD, saber quando é uma birra (por-
treinamento parental em conjunto, antissocial na família (TDAH - e TOD que toda criança faz birra) e quando é
para que todos os procedimentos que - ou +). uma crise, saber essa diferença facilita
são utilizados nas terapias sejam refor- muito o segundo passo, que é saber
çados em casa. Assim, a criança conse- qual a atitude a ser tomada.

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divã literário por Carlos São Paulo

Nenhum homem é uma ILHA


QUANDO MERGULHAMOS COMO A PARTE DA PENÍNSULA QUE
AVANÇA PARA O MAR, PRECISAMOS DA RELAÇÃO DE SOLIDÃO
COM A LITERATURA. AMÓS OZ USA DESSA PROFUNDA
REFLEXÃO SOCIAL EM COMO CURAR UM FANÁTICO

A
leitura de uma obra literá- Fanáticos são pessoas que abra- põem sua tribo para esconjurar todo
IMAGENS: SHUTTERSTOCK, DIVULGAÇÃO E ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR

ria pode nos levar a mergu- çam uma causa, ou uma ideia, de o mal que enxergam.
lhar nas águas profundas de forma a acolher todos os indivíduos O escritor premiado Amós Oz fa-
onde emergem nossas emo- que comunguem com essas mesmas leceu em dezembro de 2018, aos 79
ções e processos imaginativos que ge- crenças. Formam tribos com uma anos. Por ser um judeu israelense, par-
ram um melhor conhecimento da na- visão apaixonada e, em lugar da f le- ticipou do movimento “Paz Agora”.
tureza humana. Essa ação nos ajuda a xibilidade, def inem sua predileção Nele, ministrou palestras para cons-
estruturar o pensamento lógico para, cega em direção ao que foi concebi- cientizar seu povo e os árabes palesti-
em lugar das certezas, construirmos do como uma verdade incontestável. nos de um combate “entre o certo e o
ideias que possam ser alteradas à me- Exaltados, multiplicam sua paixão certo” que ele denominou de “Guerra
dida que evoluímos. pelo número de indivíduos que com- imobiliária”. Para Amós, o fanatismo é

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o combustível que alimenta essa luta, AMÓS NÃO
já que ambos os lados merecem ter o
seu território. Ele deixou suas pales-
ESCREVE COMO Como Curar um
Fanático
tras publicadas em sua obra literária UM CIENTISTA Autor: Amós Oz
Como Curar um Fanático.
Amós não escreve como um cien-
POLÍTICO MAS Editora: Companhia
das Letras
tista político mas como um linguista COMO UM LINGUISTA Páginas: 104
que entende que há algo de comum
QUE ENTENDE
na natureza humana. É por aí que es- A boa obra literária cria mais per-
tamos unidos, o que Jung chamou de QUE HÁ ALGO guntas e deixa que os vazios sejam
inconsciente coletivo. Quanto mais DE COMUM NA preenchidos pela singularidade de
evoluímos, mais deixamos de seguir cada leitor. Já os livros que vêm, como
as trilhas da vida de forma incons- NATUREZA HUMANA. os fanáticos, na forma de clichês, pre-
ciente e descobrimos as ilusões que É POR AÍ QUE enchendo os vazios como se soubes-
nos empurram muitas vezes para vi- sem da necessidade particular de cada
ver à beira de um abismo. Toda histó-
ESTAMOS UNIDOS, um, a exemplo dos de autoajuda, são
ria contada pelo homem já traz em si O QUE JUNG os mais lidos na atualidade e não ser-
a arquitetura desse inconsciente. vem para nos transformar.
CHAMOU DE
Quando não estamos atentos ao Sabemos que a atualidade, época
que somos e como somos, embarca- INCONSCIENTE marcada por relações apressadas e su-
mos na experiência de odiar o que COLETIVO perf iciais por conta da tecnologia, faz
acreditamos ser o mal sem notar o essa questão ser um desaf io. Assistir
quanto essa abominação a uma cau- a um f ilme sobre uma obra poética
sa ou ideia nos leva irracionalmente Para amadurecerem e tornarem-se subtrai as imagens que o leitor criaria
a procurar tudo que represente o seu penínsulas em vez de um arquipéla- se estivesse em uma demorada e soli-
contrário para abraçar, de forma pas- go constituído de ilhas isoladas, não tária leitura.
sional, tudo que simule ser esse aves- basta terem mais “informações” ou É por meio dessas obras que com-
so. Essa é a ilusão de vencer o mal. usarem a racionalidade, precisam ces- preendemos as matrizes ou os arqué-
Amós cita uma frase do poeta John sar a desumanização, combatendo o tipos que nos levam a viver as emo-
Donne, “nenhum homem é uma ilha”, e fanatismo. O fanático é aquela f igura ções de um processo imaginativo,
aproveita a metáfora para dizer que so- singular que vive sem saber nada de si empático, que naturalmente se ins-
mos como penínsulas, em parte conec- mesmo, longe da empatia e da imagi- taura em nós como efeito terapêutico
tados com o continente que é a família, nação, ingredientes citados por Amós da leitura de uma boa obra literária,
a cultura, a tradição e outros laços etc. como necessários para resolver con- como os clássicos.
– e em parte lançados ao mar em seu f litos quando queremos ser humanos. A psicodinâmica de um cliente nos
silêncio profundo para viver o que é O fanático generaliza e unif ica a faz entender o que se passa em seu uni-
ser um “in-divíduo”. Para ele, qualquer causa em uma ideia ou crença para lu- verso interior, mas só com a linguagem
sistema de governo que transforme o tar com ódio e vontade de vingança. das metáforas poderemos provocar-
homem em uma ilha é cruel. Não treina a possibilidade de colocar- -lhe a emoção do insight. A solução
Árabes e judeus, vítimas de pre- -se no lugar do outro; faltam-lhe ima- de Amós Oz para o homem sair dessa
conceitos dos europeus, agem como ginação e empatia. Como a literatura condição de fanático está em fazê-lo
dois irmãos vítimas de um mesmo é antiunif icadora ou generalista, ela imergir nas suas profundezas por meio
pai opressor. A história mostra o não aponta os f ins para justif icar os da literatura que carrega as metáforas
quanto, nessas situações, cada um meios, como fazem os fanáticos. Por poéticas, ou seja, utilizar-se da nature-
dos irmãos projeta no outro a opres- essas razões, Amós aponta a literatu- za da psique mostrada na forma como
são sofrida. Enquanto não puderem ra como meio de curar um fanático. o inconsciente se expressa.
sair da fase “infantil” de consciência,
vão reproduzir um para o outro a
opressão que sofreram e, dessa for- Carlos São Paulo é médico e psicoterapeuta junguiano.
ma, manter-se-ão numa relação beli- É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia.
carlos@ijba.com.br / www.ijba.com.br
gerante por meio do fanatismo.

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cinema Por Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps

Faxina da alma
A VIDA EM SI É UMA PRODUÇÃO
3).'5,!215%35202%%.$%
0%,!32%6%,!—š%3!/,/.'/$/
%.2%$/2%#(%!$/$%42!'¡$)!3 
!-/2%3).4%.3/3%2%&,%8š%3
3/"2%!).#%24%:!$!6)$!
h!VIDAEMSINOSPREGAPE¥AS%LANOSINDUZAERROSv
CITA¥ÎODOlLME

F
ilme dirigido e com roteiro escrito por Dan Fogelman, que
também dirige o aclamado seriado This Is Us (recomendadíssi-
mo). Daqueles que chamamos de “faxina da alma”, como disse
na atual quinta temporada a personagem Brianna (June Diane
Raphael) de Grace and Frankie PARAJUSTIlCAROTEMPOQUEDEVEZEM
QUANDOTIRAPARAVERlLMEShDECHORARv
É preciso lenço de papel para acompanhar essa singular produção
que começa em um clima “homenagem a Tarantino” e prossegue entre
SUSTOSEREVELA¥ÜES MUITASTRAGÏDIAS AMORESINTENSOSEREmEXÜESSOBRE
AINCERTEZAQUEVIVERTRAZ EPRINCIPALMENTEBRINCACOMAQUESTÎODO
MITO DO HERØI QUE  TRADUZIDO PARA O QUE Ï REALISTICAMENTE HUMANO 
não se encaixa em nada que não contenha uma enorme ambiguidade
EAMARCANTEAMBIVALÐNCIAQUECARACTERIZAQUALQUERSUJEITO¡SABIDO
O QUANTO A ESTRUTURA DA NARRATIVA DO HERØI SE CONSTITUI UMA FØRMULA
PROPULSORADASPRODU¥ÜESCINEMATOGRÉlCAS
!TRAMACOME¥AASEDESENVOLVERAPARTIRDOCASALPROFUNDAMENTE
APAIXONADO7ILL/SCAR)SAAC E!BBY/LIVIA7ILDE QUESERÎONOFU
TUROOSAVØSDE%LENA$EMPSEY 'ONZÉLEZ,ORENZA)ZZO QUENARRAA
HISTØRIA/ESPECTADORSØDESCOBREANARRADORANASCENASlNAIS QUANDO
ELAESTÉLAN¥ANDOSEULIVROEFAZENDOALEITURAEMUMALIVRARIA/ROTEIRO
ENTÎOPASSEARÉPORDIFERENTESÏPOCAS CONTANDOOSELEMENTOSQUELIGAM
VÉRIOSPERSONAGENSENVOLVIDOSAPARTIRDATRAGÏDIAQUEOCORRECOMO
APAIXONADO CASAL E QUE DETERMINA A VIDA DE SUA lLHA $YLAN /LIVIA
#OOKE !PØSAMORTETRÉGICADOSPAIS AMENINAACABASENDOCRIADA
PELOAVÙ INTERPRETADOPELOATORQUEFAZOQUERIDO3AULDEHomeland,
Mandy Patinkin.
/ INÓCIO ABSURDO Ï NARRADO POR 3AMUEL , *ACKSON  QUE FAZ UMA
RÉPIDAAPARI¥ÎOCOMOELEMESMO MARCANDODEFORMAINQUESTIONÉVEL
AHOMENAGEMA4ARANTINO QUESERÉCITADOPELOCASALPROTAGONISTAQUE
SONHAFAZERUMlLMEBASEADONOSCONCEITOSDOCINEASTA%MUMAFESTA 
7ILLE!BBYVÎOCOMOOCASALPERSONAGEMDEPulp Fiction (1994). É o

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momento em que ele pede a mão da moça
EM CASAMENTO  DANDO INÓCIO Ì SEQUÐNCIA
DEFATOSQUEDEPOISANETAIRÉNARRARCOMO
história de sua família.

42!5-!3%35202%3!3
h4ALVEZ OS HERØIS E VILÜES DE NOSSAS
HISTØRIAS  NA VERDADE  SEJAM SØ lGURANTES
EMUMlLMEMUITOMAIORv%SSACITA¥ÎODO
lLME MOSTRA A TESE CENTRAL DESSE ROTEIRO 
do mesmo criador de Amor a Toda Prova
(Crazy, Stupid, Love/2011), em que os per-
sonagens apresentam lados encantadores e
outros nem tanto ou até mesmo assustado-
RES#ADAUMVIVESEUPRØPRIOTORMENTODE
MANEIRAPRØPRIA.ÎOSEPODESEQUERDIZER
QUEÏUMlLMESOBRECAPACIDADEDERESILI
ÐNCIA POISALGUNSENFRENTAMSUASQUESTÜES A trama começa a se desenvolver a partir do casal Will (Oscar Isaac) e Abby (Olivia Wilde), que
e outros desistem ou fogem delas, mos- serão no futuro os avós de Elena Dempsey-González (Lorenza Izzo), que narra a história do longa
TRANDOhAVIDAASSIMCOMOELAÏvOUA Vida
em Si  COMO ESCOLHE SEU AUTOR ,OGO DE ZÉLEZ$ÓAZ QUE AINDACRIAN¥A EMPASSEIO CANCELADA OU REALIZADA  UM MOMENTO DE
INÓCIO VEREMOSSERTOCADOOTEMANAQUE A .OVA )ORQUE  ACABARÉ SENDO ESPECTADOR extrema alegria ou de desespero lancinan-
le que costuma ser o maior receio de um DOACIDENTEOCORRIDOCOM!BBY%SSEFATO TE  UMA HISTØRIA QUE SE PENSAVA DE LONGA
psicoterapeuta, o suicídio de um paciente, LHE RENDERÉ UM GRANDE TRAUMA  QUE POR CONTINUIDADEESEVÐDEREPENTEINTERROM
o que acontece com a dra. Cait Morris SUA VEZ INmUENCIARÉ NOS ACONTECIMENTOS PIDA  DEIXANDO UM VAZIO INSUPORTÉVEL OU
(Annette Bening), que, bem-intencionada, POSTERIORESCOMSEUSPAIS *AVIER'ONZÉLEZ CAPAZDESERUMPROPULSORDOATODEhSE
OQUETALVEZACEGUE ACOMPANHA7ILLPARA 3ERGIO0ERIS -ENCHETA E)SABEL$ÓAZ,AIA GUIR ADIANTEv ! VIDA Ï ISSO  ELA DERRUBA E
FAZÐ LO ENFRENTAR SEU TRAUMA E A NEGA¥ÎO #OSTA EOPATRÎO -R3ACCIONE!NTONIO FAZ SURGIR UMA DESISTÐNCIA  UMA MUDAN¥A
diante da morte de Abby. "ANDERAS  QUE ASSUMIRÉ O PAGAMENTO DO de rota ou seguir com coragem em busca
!S SITUA¥ÜES EXTREMAS TOCAM QUASE tratamento do menino. Todo esse emara- de alguma esperança e alegria. Como disse
O RISO NERVOSO NESSA PRODU¥ÎO &ICA CLARA NHADO AINDA DETERMINARÉ  MAIS ADIANTE  A ANTESOESCRITOR%RNEST(EMINGWAYEMSUA
a intenção de mostrar como histórias se TRAJETØRIADEVIDADE2ODRIGO/RAPAZ DE obra Adeus às Armash/MUNDODESPEDA¥A
ATRAVESSAM  GERANDO LA¥OS E ENCONTROS  POISDECRESCIDO VOLTAA.OVA)ORQUEPARA todas as pessoas e, posteriormente, mui-
DETERMINANDO RUMOS DE VIDA QUE SEQUER ESTUDAREVIVEOACASODEENCONTRAR$YLAN  tos se tornam fortes nos lugares partidos”.
CONHECEM AQUILO QUE AS ATRAVESSA  COMO ACRIAN¥AQUE AGORAJÉMO¥AEMEIOPERDI / lLME SE APROPRIA DESSA CONCLUSÎO COM
OQUESEDÉCOMOMENINO2ODRIGO'ON DA SOBREVIVEUAOACIDENTEDAMÎE !BBY bastante propriedade, sem cair na armadi-
“É estranho pensar como um momen- LHA DE FAZER PENSAR QUE ISSO Ï TAREFA FÉCIL
to tão aleatório poderia moldar toda a mi- OURÉPIDA ÌSVEZESLEVA SETODAUMAVIDA
/2/4%)2/0!33! NHA VIDAv !O OUVIR ESSA CITA¥ÎO FEITA NO para que se possa entender um momento
0/2$)&%2%.4%3 lLME  PENSAMOS QUEM NUNCA OLHOU PARA de extremo sofrimento.
suas lembranças e se deu conta de que algo
¡0/#!3 #/.4!.$/
que caiu inesperadamente no curso dos $/2%3)-%.3!3
/3%,%-%.4/3 DIASALTEROUUMAROTAQUEJÉPARECIATÎODE !LGUMAS CORRENTES lLOSØlCAS PRO
15%,)'!-6£2)/3 terminada? Uma escolha que foi mudada, PÜEMPENSAROSENTIDODAVIDA OUTRASDI
UMAMORTROCADOPOROUTRO UMAVIAGEM ZEMQUEAVIDANÎOTERIAQUALQUERSENTIDO
0%23/.!'%.3
IMAGENS: DIVULGAÇÃO E SHUTTERSTOCK

%.6/,6)$/3!0!24)2
Prof. dr. Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor
$!42!'¡$)!15% em Saúde da Criança e da Mulher. Denise Deschamps é psicóloga e
psicanalista. Autores do livro Cinematerapia: Entendendo Conflitos.
/#/22%#/-/#!3!, Participam de palestras, cursos e workshops em empresas e
universidades. Coordenam o site www.cinematerapia.psc.br
02/4!'/.)34!
www.portalespacodosaber.com.br PSIQUECIÐNCIAVIDA67
#!$!0%23/.!'%-6)6%3%502œ02)/ LUTAINCESSANTE INTERROMPIDA ALGUMAS VE
ZESPORMOMENTOSDEFELICIDADE/FATOÏ
4/2-%.4/$%-!.%)2!02œ02)!.§/ QUEOSUJEITOPSÓQUICOVEMMUNIDODEUM
3%0/$%3%15%2$):%215%¡5-&),-% impulso que quer garantir a continuidade
3/"2%#!0!#)$!$%$%2%3),)º.#)! 0/)3/3 DAVIDA AUTOCONSERVA¥ÎO QUE EMSUADE
lNITIVATEORIAPULSIONAL &REUDINCLUIUESSE
%.&2%.4!-%.4/33§/-5)4/$)&%2%.4%3 ASPECTONAPULSÎODEVIDA %ROS QUEQUER
agregar, unir, amar. Como ele mesmo dis-
e que seria uma bobagem tentar entender PRAZERETODADOR QUEEQUILIBRAMOSOQUE SEEMUMADESUASPOUCASENTREVISTASCON
QUESENTIDOELATERIA!LBERT#AMUSPROPÜE Freud chamou de “alma” por falta de outro CEDIDASEM JÉNOlNALDESUAVIDA
QUEOSENTIDODAVIDAÏVIVERMAIS ENTEN TERMOÌÏPOCAEQUEHOJESEDISCUTETALVEZ h.ÎOPERMITOQUENENHUMAREmEXÎOlLO
dendo isso como mais longamente, e suge- COMO hMENTEv %SSE JOGO DE EMO¥ÜES E SØlCAESTRAGUEAMINHAFRUI¥ÎODASCOISAS
re que a grande questão a se entender seria PERCEP¥ÜESCONSCIENTESEINCONSCIENTESQUE SIMPLESDAVIDAv-ASSEMAAGRESSIVIDADE
ADOSUICÓDIO!VIDAQUEQUEREMOSSEMPRE CONSTROEMNOSSOSATOSEEXPERIÐNCIAS4ODO de Thanatos e a pulsão de morte não serí-
PENSARCOMOBELA MAS COMODIZOlLME  SERCHEGAAOMUNDOCOMPLETAMENTEFRÉGIL  AMOSCAPAZESDASMAISFUNDAMENTAISCON
IRÉSEMPRENOSAPRESENTARADORESIMENSAS  enfrenta desde o início um certo descon- QUISTAS3OMOSEMNOSSAINDIVIDUALIDADEO
MESMOAQUELASQUESØFAZEMPARTEDANOR FORTODOQUEÏVIVER ATÏOPRIMEIROATODE GRANDEPARADOXOQUEÏAVIDA
MALIDADE MAIS BANAL DA VIDA  ATÏ PORQUE  RESPIRARTRAZATEMIDADOR DEPOISSACIA SEE
COMOAPONTOU&REUD UMADASTRÐSFONTES ASSIMCONHECEOPRAZEREAFALTA SUPÜE SE &)/3$%!&%4/
de sofrimento seria nossa relação com os CAPAZ DE MOVER O MUNDO E LOGO SE DARÉ %LENA CONTA TODA A TRAJETØRIA DE SEUS
SEMELHANTES EAINDAFRISOUQUETALVEZESSA conta de que não é bem assim que as coisas ANTEPASSADOS  COME¥A LÉ PELOS AVØS  7ILL
seja a mais dura. Ao acompanhar a traje- se dão. Os adultos, frente ao que Freud cha- E !BBY  PRECISA IR UM POUCO MAIS ATRÉS
tória dos personagens, o espectador acaba MOUDEBEBÐ MAJESTADE REVISITAMSEUNAR FALANDOSOBRESEUSBISAVØS PAISDE7ILL E
PORSEDEPARARCOMAQUESTÎOQUEANGUSTIA cisismo, engendram fantasias de que serão ATRÉGICAHISTØRIADOSPAISDE!BBY.ARRA
SERIAAVIDAUMTRA¥ADODEALEGRIACOMAL CAPAZESDEPROTEGERAQUELESERTÎOINDEFE ONASCIMENTODESUAMÎE $YLAN QUELEVA
guns acidentes pelo caminho ou uma luta so de todas as dores, ou pelo menos das esse nome por conta de Abby ser fã total
incessante com raros momentos de extre- MAIS FORTES  E A VIDA SEGUE ENSINANDO SEU de Bob Dylan. Precisa contar sobre os pais
MOCONTENTAMENTO-AISUMAVEZRECOR poder, quase nunca se pode cumprir a de- DOMENINO2ODRIGO QUEESTÉDIRETAMENTE
RENDOA&REUD SOMOSOBRIGADOSAREmETIR terminação tomada com orgulho quando ligado ao acidente que marca seu nasci-
que nosso aparelhamento psíquico guarda SEERGUEACRIAN¥APELAPRIMEIRAVEZ3ERÉ MENTOEVIDAAOFALARDOSPAISDE2ODRIGO
uma estranha relação com o que entende- A VIDA UMA ALEGRIA INTERROMPIDA ÌS VEZES tem de falar do “tio”, patrão de seu pai, Mr.
MOSPORPRAZER COMODIRIAOFUNDADORDA por pequenas ou grandes tragédias ou uma 3ACCIONE ATÏPODERREVELARQUEAVIDA EM
0SICANÉLISE DEBRU¥ANDO SE SOBRE O TEMA
de O Mal-estar na Civilização h1UANDO
qualquer situação desejada pelo princípio
DOPRAZERSEPROLONGA ELAPRODUZTÎOSO
mente um sentimento de contentamento
MUITO TÐNUE 3OMOS FEITOS DE MODO A SØ
PODERMOS DERIVAR PRAZER INTENSO DE UM
contraste, e muito pouco de um determi-
NADOESTADODECOISASv%STARVIVOÏESTAR
INSATISFEITO EMBUSCA DESESTABILIZADOEFRÉ
gil (e forte). Insistir nos dias, como aconse-
LHAA2ODRIGOSUAMÎE)SABEL JÉEMSEUS
ÞLTIMOSDIASDEVIDA COMASAÞDEPERDIDA
FRENTEAUMCÊNCER DIZENDO LHEPARAQUE
SEMPRESIGAADIANTE ULTRAPASSEOSSOLAVAN
cos do caminho, acreditando sempre que
NOlNALSEENCONTRAOAMOR
É nessa ambiguidade presente desde Em uma festa, Will e Abby vão como o casal personagem de Pulp Fiction (1994). É o momento em
cedo nesse nosso corpo, palco de todo que ele pede a mão da moça em casamento, dando início a uma sequência de fatos surpreendentes

68PSIQUECIÐNCIAVIDA www.portalespacodosaber.com.br
sua ironia, uniu seus pais, Dylan e Rodrigo,
em uma história de amor tão intensa como
ADOSSEUSAVØS MASFELIZMENTENÎOINTER
rompida abruptamente como a deles. A
VIDA SEGUIU REALMENTE SEU CURSO E GEROU
MUITOAMOREVIDA/lLMETRAZUMAMEN
sagem de esperança diante dos misteriosos
ACONTECIMENTOS TERRÓVEIS QUE PODEM ESTAR
presente em histórias familiares. Os dife-
RENTESlOSDEAFETOSEENLA¥AM TRAN¥AMO
tecido da história, formam em sujeitos que
AINDANEMNASCERAMMUITASDETERMINA¥ÜES
profundas. Procurar conhecer os contos
FAMILIARESPODESERPORVEZESUMBOMCA
minho para o próprio entendimento, para
ODESCORTINARDEPADRÜESREPETITIVOSQUESE
SUCEDEMEMGERA¥ÜES AlNALOINCONSCIEN O menino Rodrigo é o elo entre o casal protagonista e a história dos pais, Javier González e Isabel
TETEMMUITOSTENTÉCULOSESEPLANTAAPARTIR Díaz, e ainda do patrão, Mr. Saccione interpretado por Antonio Banderas
DE IMENSOS hDESCONHECIDOSv DA CONSCIÐN
CIA(ÉAGORACIRCULANDONO"RASILUMLIVRO !33)45!—š%3 CESSÎO DE MÉGOAS %NTÎO SEMPRE Ï PURA
QUE OS lLHOS TÐM DADO ÌS MÎES QUANDO esperança quando alguém transforma
LHESNASCEMOSNETOS UMLIVROEMBRANCO
%842%-!34/#!- TUDO ISSO EM FOR¥A MOTRIZ E  CHAMADO Ì
CONVIDANDO ASACONTARSUASHISTØRIAS1UE 15!3%/2)3/ VIDA OROTEIROALCAN¥AISTO
TERAPÐUTICOPODERÉSERISSO QUEOSAVØSSE .%26/3/.%33!
incluam e contem também o que sabem $%3!&)!2/3$%3!&)/3
SOBRE SUA VIDA 4ODA HISTØRIA INTERESSA AO PRODUÇÃO. FICA A Vida em SiNÎOÏUMlLMEASSIMTÎO
presente e ao futuro, mesmo a que pensa #,!2!!).4%.—§/ PALATÉVEL  PODE DESAGRADAR MUITOS PELA
QUESEOCULTAEMmOREIOS!ONARRARHISTØ SUCESSÎODETRÉGICOSACONTECIMENTOS MAS
$%-/342!2
RIASALENDAPODERÉSERQUESTIONADA nos lembra de um acordo que um dia to-
/ ESCRITOR %RNESTO 3ÉBATO  EM SUA #/-/()34œ2)!3 DOSOSADOLESCENTESlZERAMEMRELA¥ÎOÌ
grande obra intitulada Sobre Heróis e Tum- 3%!42!6%33!-  PRØPRIAVIDAEQUE$YLANDIZAOSEUAVÙ
bas VOLTANDOAQUIÌREmEXÎOSOBREOHE h%UQUEROVIVERUMAVIDAGRANDE INCRÓVEL
RØI DISSEALGOQUESERVEMUITOBEMPARA
'%2!.$/,!—/3 EFANTÉSTICAv!CONTE¥AOQUEFOR ÏPRECI
PENSARMOSSOBREESSElLMEESUASPERSO %%.#/.42/3  SO ACIONAR AQUELE IMPULSO %ROS  DESAlAR
NAGENS $ISSE ELE h0ORQUE FELIZMENTE O $%4%2-).!.$/ OS DESAlOS E SEGUIR  COMO DIRIA  EM UM
homem não é feito só de desespero mas trecho de sua obra Ano Comum, outro es-
TAMBÏMDEFÏEESPERAN¥ANÎOSØDEMOR
25-/3$%6)$! CRITORCONTEMPORÊNEO QUEVAMOSCHAMAR
TE MAS TAMBÏM DE DESEJO DE VIDA TAM SIMCOMOAPAISAGEM ELANÎOESTÉLÉPARA PARA lNALIZAR NOSSAS REmEXÜES SOBRE ESSE
pouco unicamente de solidão mas tam- indicar escolhas, apenas preenche o que lLMEh/SONHOÏ ESERÉSEMPREEAPENAS 
bém de comunhão e de amor”. TENTAMANTER SEDEPÏ0ARTEQUECOMPÜE DOSVIVOS DOSQUEMASTIGAMOPÎOAMA
$AN&OGELMANSEDESCREVECOMOUMA o caminho não é necessariamente aquilo DURECIDODADÞVIDAEACARNEDESLUMBRADA
criança que cresceu dentro de uma família QUELEVAÌSUPERA¥ÎOnMUITASVEZESTRAZ DASPUPILAS%STOUENTREVAZIOSEPLENITU
judia disfuncional, e seus roteiros parecem AOSUJEITOAPENASOTRAVOAMARGODORES des, encho as mãos com uma fragilidade
sempre muito empenhados em descorti- sentimento, que passa a transbordar para QUE Ï UM PÉSSARO SÉBIO E DISTRAÓDO QUE
NAR O QUE SE VÐ POR DETRÉS DE PORTAS FE todo canto que olha, impossibilitando que se aninha no coração e se alimenta de
IMAGENS: DIVULGAÇÃO E SHUTTERSTOCK

chadas. A série This Is Us, na atualidade, AVIDASEJAMAISDOQUEUMAREPETIDASU amor...” (Joaquim Pessoa)


mostra essa abordagem de maneira bri-
LHANTE ÏREALMENTEIMPERDÓVEL INDOPARA
sua terceira temporada. A Vida em Si. Título original: Life Itself. Gêneros: Comédia dramática,
Certo é saber que a dor agiganta al- GI:

hÔd=;<C:GhÔd< @B :G ‚IGhÔd<A
anos. Nacionalidade: EUA
guns e apequena outros tantos, e que, as-

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psicologia social por Luiza Elena L. Ribeiro do Valle

A MULHER do século XXI


(parte 1)

A QUESTÃO DE GÊNERO
SEMPRE DESPERTA POLÊMICAS.
AS MULHERES MUDARAM E
GANHARAM CADA VEZ MAIS
ESPAÇO. MAS COMO FICOU
AFINAL A SUA IDENTIDADE?

E
m tempos globalizados, con- de casa, porque as gerações sofreram parates e elas surgem em reportagens
quista feminina chega a ser um abismo no aspecto comportamen- recorrentes nos noticiários porque
quase comum... Só que não! tal. A mulher deve ser independente não se retraem diante de um possível
Também em termos globais e ativa e se manter distante dos gru- constrangimento de julgamento so-
existem a violência, a discriminação e pos masculinos dominantes? Não faz cial e assumem desaf ios à altura de
uma disputa desleal que atrela à mu- sentido! Entretanto, alguns chegam a seus sonhos.
lher expectativas de épocas passadas, comentar, quando uma jovem bonita O mundo feminino passa por
ainda somadas aos novos desaf ios, ou é molestada, que a culpa é dela, por enorme transformação! Nos últimos
seja, uma missão impossível quando ser uma pessoa tão atraente que ou- 30 anos, as mulheres galgaram mais
se trata de corresponder a tudo! Com sou se mostrar! Parece absurdo? Mas liberdade do que ao longo de toda a
a rapidez das transformações, algu- é real! No entanto, a mulher do século história. A elevação do seu nível edu-
mas comparações se fazem até dentro XXI vem vencendo também esses dis- cacional e a redução do tamanho da

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família (coincidentes com as necessi- A POSIÇÃO acordo com a Organização Mundial
dades econômicas de contribuir para da Saúde, a ansiedade atinge mais de
o orçamento familiar) f izeram da
FEMININA ATUAL 10 milhões de pessoas no mundo e é
mulher um elemento fundamental na EM DIVERSOS mais comum entre as mulheres. Elas
sociedade e não simplesmente no lar. (ou nós) têm uma f isiologia diferen-
A inserção da mulher no merca-
ASPECTOS GERA te da dos homens e em conjunto com
do de trabalho a torna bem-sucedida UM GRANDE os hormônios são afetadas pelo es-
e assustadora. A forte entrada das tresse de outro modo. Nas situações
IMPACTO NAS
mulheres nas universidades produziu estressantes é liberado o cortisol e as
um impacto em carreiras prestigia- RELAÇÕES SOCIAIS, mulheres são mais sensíveis a este gli-
das, que eram predominantemente POIS IMPLICA cocorticoide, por isso a sintomatolo-
dos homens. Hoje, a mulher ocupa gia é mais ampla. Quando a situação
posições cada vez mais elevadas em NUMA MUDANÇA de estresse é intensa e persistente, a
empresas e se insere nas carreiras DE “PARADIGMA” mulher pode ser afetada por doenças
técnicas e científ icas. Na política, como anorexia ou bulimia ou sofrer
ela pode participar dos quadros de
FAMILIAR E depressão ou síndrome do pânico. As-
candidatos, sendo exigido, no Brasil, CULTURAL sim, a importância de discutir as con-
como mais uma conquista, uma pro- quistas e riscos da mulher atual pode
porção feminina signif icativa. Votar outras áreas, como a demograf ia e a ser uma forma de contribuir com a
já não é uma vitória, a mulher é ele- política, passam a se preocupar com sua qualidade de vida na sociedade.
gível, ganhando status de reconheci- o sexo, construindo novos conceitos As transformações e as desarti-
mento por seus méritos. e imagens sobre a mulher, que são culações da vida social no contex-
Essa posição feminina em diver- estendidos ao gênero feminino como to atual deslocam radicalmente as
sos aspectos gera um grande impac- um todo. Se no passado o valor femi- identidades sociais. A identidade da
to nas relações sociais, pois implica nino voltava-se à procriação e o ca- mulher é dominada pela incomple-
numa mudança de “paradigma” fami- samento era o seu melhor futuro, es- tude, multiforme e inconstante. A
liar e cultural. Não menos grave é a pecialmente se ela fosse capaz de dar nova identidade da mulher se des-
discriminação de gênero, que persis- um herdeiro masculino ao mundo, cobre num tempo instável, com cri-
te, tanto em relação a diferenciais de esse destino foi se tornando menos se de valores e de direção sobre ser,
salário quanto a postos de trabalho. essencial. No casamento atual sequer fazer e pensar numa vida plenamente
Apesar das reestruturações no mun- é preciso alterar o nome da mulher e realizada. O novo contexto criado
do do trabalho com relação às mu- o homem já não detém os poderes de pela pós-modernidade coloca a mu-
lheres, ainda encontramos segrega- chef ia do lar, sem contar a tendência lher diante de uma multiplicidade de
ção por gênero. à tolerância de que o sexo seja uma oportunidades e, também, de análise,
Dessa forma, a proposta, nesse escolha e que é um fato encontrar do autoconhecimento de seu corpo,
momento, é discutir a mulher do sé- muitos lares sendo providos por mu- sentimentos e escolhas nas relações
culo XXI. E surge a questão: houve lheres. Será mesmo uma mudança de com o outro.
mesmo uma evolução da mulher? Ou valores contemporâneos? É pertinente lembrar, com Simone
houve uma perda de identidade que a Entender o mundo feminino atual de Beauvoir, que “não se nasce mu-
deixa em situação frágil em qualquer justif ica-se, não só por seu papel in- lher”. A mulher é feita, é uma espécie
perspectiva, já que nas relações fami- contestável na sociedade, mas porque de mundo em construção e mudança.
liares, nos cuidados com o lar e com as mudanças provocadas nas últimas ! SUA IDENTIDADE REmETE O CENÉRIO DA
os f ilhos ela continua a ser exigida décadas trouxeram, paralelamen- sociedade contemporânea com quali-
e, por que não dizer, def inida como te aos avanços, graves sequelas. De dades, erros e fragilidades.
culpada por todos os imprevistos, es-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ACERVO PESSOAL

tando ou não presente.


A partir do século XV III e, espe- Luiza Elena L. Ribeiro do Valle é psicóloga, doutora em Ciência no
Departamento de Psicologia Social (USP/SP). Mestre em Psicologia Escolar e
cialmente, do século XIX, o discur- Educacional (PUC-Campinas), MBA Executivo em Psicologia Organizacional
so sobre sexo, antes restrito à Igreja, (AVM-Brasília), extensão em Gestão de Pessoas (FGV). Formação em Coaching
dispersa-se por diferentes áreas do (Lambent), especialização em Psicologia Clínica (CFP) na linha
Cognitivo-Comportamental, consultora em Psicopedagogia, autora de livros.
conhecimento. Além da Medicina,

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CÉREBRO

SETE PECADOS
CAPITAIS
Como os sentimentos gerados pelos pecados refletem-se
em nossa mente e influenciam a vida cotidiana. Alguns
deles podem motivar a criação de boas habilidades
Por Marta Relvas

D
urante toda a sua vida, tros indivíduos. Isso acontece porque o e se comparar, projetar constantemente
você ouviu dizer que indivíduo está acostumado a lidar com em relação ao outro. Esse fato pode es-
de todos os “pecados” questões mais imediatas e a perceber timular seu crescimento pessoal. Afinal,
que o ser humano detalhes que possam satisfazer o outro quem não quer os melhores resultados?
pode cometer, há sete rapidamente. Isso também significa uma melhora na
que lhe darão passagem direta para o PREGUIÇA � Não se sinta culpado(a) criatividade e na autoestima. A inveja
“inferno”. Os chamados sete pecados por ser um preguiçoso(a). Afinal, dor- só não pode ser patológica. A questão
capitais assombram a consciência hu- mir melhora sua memória e o(a) torna é observar a intensidade e frequência
mana há muito tempo, mas parece que muito mais sagaz – além de dar aquela desse sentimento e se está atrapalhando
eles não são tão mortais assim. disposição extra quando necessário. o seu convívio e as suas relações nos as-
O humano precisa um pouco deles Estudos informam que pessoas que an- pectos gerais na vida.
para o seu desenvolvimento. O que irá dam mais devagar são as que mais pa- ORGULHO � Se você se considera
diferenciar se são bons ou ruins são a ram para ajudar ao próximo. acima dos demais, nada mais natural do
intensidade e a frequência desses senti- IRA � O cérebro do(a) raivoso(a) está
mentos no cotidiano da vida. Os peca- mais disposto a confrontar ideias opos-
dos capitais instituídos na Era Medieval tas às suas, criando o debate. Nesse caso,
ganham novos significados, valores e o indivíduo tem maior poder de nego-
gravidades através dos séculos. ciação, pois terá uma facilidade maior
Assim, no mundo contemporâneo, ao argumentar a favor de seu interesse.
as bases morais antigas perdem sua va- GANÂNCIA � Você provavelmente já
lidade. Com um novo homem, surgem ouviu que dinheiro não traz felicidade,
novos pecados, e pecados antigos pas- porém, com uma outra concepção, a
sam a ser vistos como virtudes. Vejamos: riqueza realmente pode tornar alguém Dano e prazer
LUXÚRIA � O pecado mais criticado mais feliz, contanto que ela seja investi- Schadenfreude na tradução literal:
é o da luxúria, pois a pessoa é conside- da de maneira correta e com qualidade. alegria ao dano. A palavra é de origem
rada mais esperta do que as outras. O INVEJA � Por incrível que pareça, a in- alemã e serve para designar o senti-
cérebro da pessoa com sentimento da veja é um “pecado” que pode ajudar o mento de alegria ou satisfação diante
do dano ou infortúnio de uma outra
luxúria consegue resolver problemas desenvolvimento pessoal, pois uma pes-
pessoa. Deriva de schaden – “dano,
analíticos mais facilmente do que ou- soa pode sentir admiração por alguém prejuízo” – e freude – “alegria, prazer”.

Marta Relvas é psicóloga, professora de Neuroanatomia e Neurofisiologia Cognitiva e Emocional e autora


do livro Cérebro, Contexto, Nuances e Possibilidades (Wak Editora).
Os
chamados
pecados
capitais, que
que fazer com que foram instituídos na
seu trabalho também Era Medieval, ganham
  ‚IG
9G
seja o melhor de todos,
gravidades através dos séculos
certo? O orgulho faz com que
DETALHE DE HIERONYMUS BOSCH OR FOLLOWER (CIRCA 1450 –1516) THE SEVEN DEADLY SINS AND THE FOUR LAST THINGS/WIKIMEDIA COMMONS

as pessoas sejam mais persistentes,


pois não pouparão seus esforços para ou internos, estas fornecem “ingredien-
chegar aonde desejam, além de poder as áreas do cérebro ligadas à dor fisica, tes” básicos como neurotransmissores,
desenvolver um perfil de liderança. A porém ao ver a situação ou imagem da que ativam o córtex pré-frontal a de-
questão é observar o momento para “pessoa-alvo” se dar mal, estruturas as- codificar os sinais sensoriais, transfor-
não deixar “subir à cabeça”, humildade sociadas ao prazer é que são acionadas. mando-os em memórias, podendo ser
faz parte da vida. Para a neurobiologia comportamental, interpretados como uma experiência
GULA – O fato de ser apaixonado por as emoções provocadas por esses sen- emocional (boa ou ruim).
comida pode desenvolver um sentimen- timentos são consideradas vícios com- As conexões que partem das amíg-
to de caridade maior do que na maioria pulsivos, e geram tanta dor física quanto dalas cerebrais para o córtex permitem
dos indivíduos. O que se precisa é ter emocional, e no final não se tem nenhum que as redes neurais das defesas emo-
uma orientação nutricional correta para ganho positivo para o corpo físico e men- cionais influenciem a atenção, a percep-
não ingerir alimentos que possam com- tal com relação a esses sentimentos. ção e a memória nas situações em que
prometer a saúde física. Influências diretas das amígdalas nos defrontamos com um determinado
cerebrais sobre o córtex cerebral nos perigo. Sendo assim, podem provocar
Estruturas associadas levam à interpretação das emoções e ao uma variedade de reações comporta-

A o considerar os estudos neurocien-


tíficos, os sentimentos relaciona-
dos aos “sete pecados capitais” ativam
reconhecimento desses sentimentos.
Quando as amígdalas cerebrais são ati-
vadas, por meio de estímulos externos
mentais específicas, como imobilização,
fuga, luta, expressões faciais; reações do
sistema nervoso autônomo (alterações

psique ciência&vida 73
CÉREBRO

PARA SABER MAIS da região pré-frontal direita. Segundo


Richard Davidson, existem bons argu-
mentos que defendem a ideia de que o
ESTÍMULOS EMOCIONAIS córtex pré-frontal poderia ser o corre-
lato neural das emoções relacionadas
D e acordo com LeDoux, as amígdalas
cerebrais têm projeções em muitas
áreas corticais, sendo consideradas
com a aproximação e o afastamento em
humanos. Todas as emoções que senti-
mos se enquadram, ao menos em parte,
mais frequentes as projeções do
em uma dessas duas categorias.
córtex para as amígdalas. Além de
projetar-se de volta às regiões sen-
Vejamos a correlação das estru-
soriais corticais de onde recebe infor-
turas cerebrais e o contexto sobre os
mações, as amígdalas também se proje- sete pecados capitais. Estes são emo-
tam para algumas áreas de processamento ções consideradas como ressentimen-
sensorial. Como resultado, uma vez ativadas, são tos em relação a alguém que tem algo
capazes de influenciar as áreas corticais responsáveis como dinheiro, beleza, uma promoção
pelo processamento dos estímulos emocionais, o que pode ou a admiração excessiva em algo. É um
ser muito importante no direcionamento da atenção para impulso vício que poucos podem evitar. Experi-
emocionalmente relevante. As amígdalas também estabelecem um conjunto im- mentá-las é se sentir menor e inferior,
pressionante de conexões com as redes de memória de longa duração, que en- um(a) perdedor(a) envolvido(a) em
volvem o sistema do hipocampo e as áreas do córtex. Essas estruturas também sentimentos de maldade.
têm a função de armazenar as informações de longo prazo. Essas vias podem A pessoa com esses sentimentos
contribuir para a ativação de memórias antigas e significativas, mesmo sendo tem dificuldades de apreciar as coisas
ativadas num determinado momento presente. Embora as amígdalas tenham co- boas em outras pessoas, pois está sem-
nexões relativamente escassas com o córtex pré-frontal lateral, seus elos com pre preocupada sobre como esses refle-
o córtex cingulado anterior são bastante fortes, pois estabelecem uma ligação tem-se nela mesma.
importante no circuito executivo da memória de trabalho no lobo pré-frontal e, Por exemplo, você já ouviu fa-
com o córtex órbitofrontal, a função de interpretação das funções conativas/ lar nesse sentimento denominado
emocionais, no que se refere a recompensas e punições. schadenfreude. É a relação de prazer
quando se vê aquela pessoa que o indi-
víduo inveja perder tudo, ou se dar mal
na pressão sanguínea e nos batimentos Todos nos âmbitos materiais e/ou afetivos.
cardíacos, piloereção, suor); e reações Um outro exemplo muito comum
hormonais (liberação de hormônios do provavelmente é quando a criança percebe que tem ir-
estresse, como a adrenalina e os esteroi- já ouviram que mão ou irmã, e sua vida se torna domi-
des produzidos pelas glândulas suprar- nada por um sentimento forte de inveja.
renais, bem como uma série de peptíde- dinheiro não traz Por que ela(e) sempre se senta na jane-
os na corrente sanguínea). felicidade, porém, la? O pedaço de bolo dele(a) é maior!
Por meio das imagens pode-se ob-
servar que quando o cérebro é ativado com uma outra Prazer
por emoções positivas ou negativas a
área estimulada é o córtex pré-frontal.
Vejamos um exemplo de emoções posi-
concepção, a
riqueza realmente
E studos em neuroimagens revelam
que os sentimentos dos sete pe-
cados capitais são reações ativadas nas
tivas. Esperar a pessoa amada desembar- pode tornar áreas do prazer do sistema límbico, que
car no aeroporto e correr para abraçá-la. se ativam nas regiões cerebrais e são
A estrutura cerebral associada à ativa- alguém mais feliz, próximas da região da dor física. Quan-
ção da região pré-frontal é a esquerda. to mais alto os participantes classificam
Por outro lado, o afastamento, como o
contanto que ela sua percepção, mais reações neuronais
ato de desviar o olhar da cena de um seja investida de respondem nas áreas dos sulcos cere-
acidente horrível ou de nos encolher- brais da dor no córtex dorsal anterior
mos de medo diante de uma situação
maneira correta e e áreas relacionadas. Ao mesmo tem-
de perigo, estaria associado à ativação com qualidade po que os circuitos de recompensa do

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Por incrível que
pareça, a inveja é
um “pecado” que
pode ajudar o
desenvolvimento Dormir melhora
pessoal, pois uma a memória e
torna a pessoa
pessoa pode muito mais sagaz,
além de dar
sentir admiração aquela disposição

por alguém e se extra quando


necessário
comparar, projetar
constantemente
em relação ça a ser ameaçado pelo gatilho da ira. Recompensa
ao outro
Este encontra-se no plano do sistema
límbico, responsável pelas emoções, e
se manifesta a partir de fenômenos in-
O s combinados neurais do pra-
zer estimulam conjuntamente
outros sistemas, como o da recom-
cérebro são ativados, reações vigorosas conscientes. A área que provavelmente pensa. O mesmo relacionado ao cen-
são estimuladas nos centros de prazer, é afetada durante a raiva é novamente tro das necessidades da fome e da
produzindo a dopamina na área do a das amígdalas cerebrais e, aí, o indi- sede (gula e saciedade). Quanto mais
striatum ventral. víduo é acionado para o ataque, pro- fome ou sede o indivíduo sentir, mais
Para ilustrar essa consideração cien- vocando uma avalanche de hormônios prazeroso será quando finalmente
tífica, existe um ditado japonês que diz: do estresse. Porém, ainda bem que o beber ou comer.
“As desgraças dos outros têm gosto de córtex pré-frontal cerebral ajuda a co- Uma reflexão importante: o sen-
‘mel’”, segundo Hidehiko Takahashi, locar um pouco de controle e razão timento dos sete pecados capitais é
ou seja, o striatum ventral é a estrutura nessa emoção.  um imposto cobrado pela civilização,
neurobiológica que processa esse “mel”, todos precisam pagar. O importante é
naturalmente. aprender e buscar ajuda de profissio-
Para o sentimento do orgulho, o nais especializados na saúde emocio-
córtex pré-frontal medial e o lobo tem- nal e sentimental.
poral esquerdo, especialmente áreas O importante é realizar a “escuta”
próximas ao sulco temporal superior, das emoções como um estímulo para
são ativados. Alguns estudos até apon- mudar, pois o que prejudica é o exa-
tam que psicopatas também teriam “de- gero. Um pouco (pouquinho!) de ava-
feito” nessas áreas. Uma das explicações reza, luxúria, gula, inveja, orgulho, ira
para a soberba: nos primórdios, ela sur- Virilidade e preguiça pode ser que todo mundo
giu como forma de intimidar ameaças, Sobre as batatinhas fritas serem tão já tenha dito ou tenha. O fundamen-
principalmente na disputa de poder. melhores que os brócolis, o sucesso é tal é usar a inteligência cognitiva para
Um outro pecado que tem lugar no considerado reprodutivo. Na Antigui- gerenciá-los melhor!
dade, o uso da gordura e dos açúcares
cérebro é a ganância, e a estrutura rela-
estava mais relacionado à aquisição da REFERÊNCIAS
cionada, amígdalas cerebrais. Pessoas
virilidade. Mas não se alegre: antigamen- http://www.actamedicaportuguesa.
com essa região danificada arriscam te essa adaptação podia ser considerada com/revista/index.php/amp/article/
bem mais, inclusive em apostas nas benéfica. Hoje, o resultado maior da gula view/337
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E FREEPIK

quais as probabilidades de perder eram é a obesidade, considerada pela Organi- http://www.brasil.gov.br/


iguais às de ganhar. zação Mundial da Saúde (OMS) uma epi- saude/2014/11/ministerio-da-saude-
Vejamos uma outra situação. Ima- demia global do século XXI. lanca-guia-alimentar-para-a-populacao-
gine um jogo de futebol em que o seu brasileira
time está perdendo! Seu cérebro come- http://vyaestelar.uol.com.br/avareza.htm

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PERlL Por Anderson Zenidarci

Um poeta Sua obra pioneira


enriqueceu para sempre
o universo da música

LÍRICO
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RANZ 0ETER 3CHUBERT NASCEU PRIMIDO PELA RÓGIDA FORMA¥ÎO FAMILIAR óperas, música sacra, música de câma-
EMEMUMAFAMÓLIAPOBRE e acadêmica. ra e canções.
NOSUBÞRBIODE6IENA3EUPAI /SANOSEFORAMBASTAN- %SCREVEU  ØPERAS  MAS REVELOU SE
ERAPROFESSOREMÞSICOAMADOR TE PRODUTIVOS COM OBRAS DE TODOS OS UM EXÓMIO COMPOSITOR DE UM GÐNERO
EOINICIOUNOVIOLINO$ESDEAINFÊNCIA GÐNEROS  MAS ESTAVA INFELIZ  SENTIA SE QUEAPERFEI¥OOUACAN¥ÎOLÓRICAlieder).
DEMONSTROUGRANDEINTERESSEEAPTIDÎO MUITO PRESO %LE PRECISAVA DE LIBER- %MUMANOCOMPÙSCERCADEOBRAS 
PARAAMÞSICA!OSANOSPARTICIPOU DADEPARAVIVEREPORISSOROMPECOM BASEADAS EM TEXTOS DE 3HAKESPEARE E
DE CONCURSO PARA TORNAR SE CORISTA DA O PAI RÓGIDO E CASTRADOR  E COME¥A A 'OETHE ENTREOUTROSAUTORESCONSAGRA-
CAPELA IMPERIAL 3UA VOZ DE SOPRANO LEVARUMAVIDABOÐMIA#OMDINHEIRO DOS /S lieder DE 3CHUBERT GANHAM RIT-
LHE GARANTIU UM LUGAR NO CORO E UMA INSUlCIENTE PARA SE SUSTENTAR  PASSOU MOEVIDAPRØPRIA SÎOPOESIASLÓRICASEM
BOLSADEESTUDOSEM3TADTKONVIKT UM A CONTAR COM A AJUDA DE AMIGOS MÞ- FORMA DE MÞSICA  TOTALMENTE REVOLUCIO-
DOS MELHORES COLÏGIOS DE 6IENA  MAS SICOS CONHECIDOSPORSEREMhLIBERAISv NÉRIAS E BELAS ¡ PRINCIPALMENTE NA ES-
NÎO FOI CONSIDERADO UM BOM ALUNO  ! BOEMIA E A POBREZA MARCARIAM OS COLHADOSTEXTOSEEMSUAORNAMENTA¥ÎO
POIS PASSAVA GRANDE PARTE DO TEMPO ANOS SEGUINTES -INISTRAVA ALGUMAS MUSICALQUESEREVELAOROMANTISMOEA
FAZENDO COMPOSI¥ÜES MUSICAIS %STU- AULAS  EDITAVA UMA OU OUTRA OBRA DE GENIALIDADEDOCOMPOSITOR
DOUALIATÏSEUSANOS QUANDODEIXA TERCEIROSEASSIMRESOLVIAOSPROBLEMAS -AS A GRANDIOSIDADE E IMPORTÊNCIA
O CONSERVATØRIO E COME¥A A LECIONAR  DESOBREVIVÐNCIA/SDEZANOSSEGUIN- DESUAOBRAMUSICALNÎOFORAMRECONHE-
OFÓCIOEXERCIDOPORDOISANOS%RAUM TESFORAMOAUGEDESUACARREIRA ISTOÏ  CIDAS DE IMEDIATO  POIS TEVE A hINFELICI-
JOVEMEDUCADO BASTANTECONTIDOERE- PERÓODO EM QUE COMPÙS AS SINFONIAS  DADEvDESERCONTEMPORÊNEOEVIVERNA

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MESMA CIDADE QUE O GÐNIO "EETHOVEN  SÎO GRAVE  O DESLEIXO COM A APARÐNCIA
QUEATRAÓATODASASATEN¥ÜESEERASUCES- EAREBELDIACOMASRESTRI¥ÜESIMPOSTAS
SOABSOLUTO REJEI¥ÎOAOMANDODOPAI DIlCULTAVAM
&RANZ FAZIA MUITO SUCESSO ENTRE OS SUARECUPERA¥ÎO COMOTAMBÏMFAVORE-
MÞSICOSEARTISTASEMGERAL PORÏMNÎO CIAMNOVASRECAÓDAS
ATINGIAOGRANDEPÞBLICO QUENÎOTINHA  "EBIAEFUMAVAAINDAMAIS!OLON-
NAQUELE MOMENTO  PREPARO PARA ENTEN- GODOTEMPO PASSOUAAPRESENTARCOM-
DER SUA GRANDIOSIDADE 4AMPOUCO ERA PORTAMENTOSAGRESSIVOSEINTEMPESTIVOS
VALORIZADO PELA CRÓTICA  QUE SØ TINHAM OFENDER AS PESSOAS CONHECIDAS  GRITAR

JOSEPH WILLIBRORD MÄHLER/WIKIMEDIA COMMONS


OUVIDOSPARA"EETHOVENEOMENOSPRE- COMQUEMNÎOFOSSERÉPIDOEMATENDÐ-
ZAVA 0ROVA DISSO Ï QUE DURANTE TODA A LO  QUEBRAR OBJETOS  SENDO QUE SEMPRE
SUA VIDA APENAS UMA VEZ UM CONCERTO FOI CONHECIDO PELA CORDIALIDADE  GALAN-
PÞBLICO COM OBRAS ESCRITAS POR ELE FOI TEIOSEBONSMODOS
ORGANIZADOEM6IENA 1UANTOÌCOMPLEXIDADEDASUAPER-
!OS POUCOS 3CHUBERT VAI SENDO TO- SONALIDADE PERCEBE SE UMA CICLOTIMIA 
MADO POR DESGOSTOS  GASTAVA O POUCO POIS A HIPOMANIA DE 3CHUBERT SE MA-
QUE TINHA NA VIDA BOÐMIA  SUA VIDA SE- NIFESTOU EM PERÓODOS DE HUMOR EXPAN- A grandiosidade de sua obra não foi
XUAL ERA BASICAMENTE COM PROSTITUTAS SIVO CRIATIVIDADE MAIOR QUE O HABITUAL reconhecida de imediato, pois era
ABUSAVA DO USO DE BEBIDA  DE TABACO E  PRODUZIUMAISDEOBRASEMPOUCOS ofuscada pela fama de Beethoven
EVENTUALMENTE TAMBÏMDEØPIO/NÎO ANOS LOQUACIDADE AUMENTODAATIVIDA- (imagem), que viveu na mesma
RECONHECIMENTO DE SUA VASTA OBRA E  DESEXUALEDECISÜESABSURDASEMRELA¥ÎO época e cidade que o compositor
CONSEQUENTEMENTE AFALTACRÙNICADEDI-
NHEIROlZERAMCOMQUEELEhAFUNDASSEv
NADEPRESSÎO
.ESTE MESMO PERÓODO   CON- UMA NOITE COM VÊNUS E
TRAIU SÓlLIS  DOEN¥A VERGONHOSA SOCIAL- UMA VIDA INTEIRA COM MERCÚRIO
MENTE E DE CURA IMPOSSÓVEL NAQUELE
TEMPO EQUEIRIAMODIlCARTOTALMENTE
SUA HISTØRIA DE VIDA !S CONSEQUÐNCIAS
DESSEMAL DEQUEELENUNCASELIVRARIA 
S chubert sofria de sífilis, uma doença sexualmente transmissível causada
pela bactéria Treponema pallidum e bastante frequente na população até
finais do século XIX, e comum na biografia de vários compositores, escritores
APESAR DE MOMENTÊNEAS MELHORAS  FO- e poetas da época (Oscar Wilde, James Joyce, Charles Baudelaire, Robert Schu-
RAMTERRÓVEISPARASUAVIDA0ASSOUPOR mann, Paul Gauguin e Toulouse Lautrec, entre outros). Era incurável e letal até a
VÉRIAS INTERNA¥ÜES PARA SE RECUPERAR descoberta da penicilina, em 1928. Hoje, o tratamento é relativamente simples
lSICAMENTE  ALGUMAS CRISES DE DEPRES- e rápido, porém nem sempre foi assim. Antigamente, o tratamento consistia na
utilização de mercúrio (Hg) na forma de vaporizações, injeções subcutâneas
ou aplicação tópica de unguentos de sais de mercúrio (o primeiro registro
3#(5"%24 deste tratamento foi do médico persa Ibn Sina, em 1025). Havia, contudo, um
2%6%,/5 3%5- “pequeno problema”, os efeitos tóxicos do Hg suplantavam frequentemente os
“benefícios” do seu uso. Por isso, há quase um século o uso desse metal pesado
%8°-)/#/-0/3)4/2
foi abolido como remédio para a sífilis.
$%5-'º.%2/15% As manifestações neurotóxicas do uso do Hg são amplas e devastadoras
!0%2&%)—//5! e incluem alterações em nível psicológico (depressão, comportamentos antis-
sociais e agressivos, delírios, alucinações) e físico (fraqueza, anemia, tremores,
#!.—§/,°2)#!%- turvamento da visão, descoordenação motora, lapsos de memória), que com-
5-!./ #/-0 3 põem um quadro sintomatológico conhecido como “mercurialismo” ou sim-
plesmente a “doença do chapeleiro louco”. Este último nome deve-se ao fato
#%2#!$%/"2!3 de o envenenamento por Hg ser comum entre os chapeleiros (fabricantes de
"!3%!$!3%-4%84/3 chapéus) que usavam Hg para curar e tratar o feltro dos chapéus que fabri-
cavam. Não é por acaso que a personagem de Alice no País das Maravilhas, de
$%3(!+%30%!2%
Lewis Carroll, é o “Chapeleiro Maluco”.
%'/%4(%

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PERlL
ÌSSUASPOUCASlNAN¥AS SEMPREGASTAN- %M  MORRE "EETHOVEN  SEU
DOMAISQUEPODIA0ASSAVAPORPERÓODOS GRANDEÓDOLO PORQUEMNUTRIAUMSEN-
EMQUEERAMETØDICOEORGANIZADO ATÏ TIMENTOMISTODEADMIRA¥ÎOETEMOR/
OBSESSIVOACORDAVAÌSCINCODAMANHÎ  DESAPARECIMENTODAQUELEQUEERARECO-
ESCREVIAMÞSICADASSEISAUMADATARDE  NHECIDOCOMOOGRANDEGÐNIODAMÞSI-
ALMO¥AVANOMESMORESTAURANTE DEPOIS CAPARECETERAGIDOCOMOUMELEMENTO
DO ALMO¥O FREQUENTAVA UMA CAFETERIA  LIBERADOR DURANTE OS MESES SEGUINTES
ONDELIAJORNAISEFUMAVACACHIMBOATÏ ATÏSUAMORTE ACUMULAOBRAS PRIMAS
ÌSH ENASEQUÐNCIABEBIACOMAMIGOS .ESTEPERÓODO SUASOBRASREPRESEN-
EMUMATABERNA%MRELA¥ÎOAOSSINTO- TAM DIVERSOS ESTADOS DE ÊNIMO  COM-
MAS DEPRESSIVOS  EXISTEM ABUNDANTES PÙSOCICLODECAN¥ÜESCanto do Cisne, a
REFERÐNCIAS ESCRITAS SOBRE SUA TENDÐN- OBRA PRIMANona Sinfonia em Dó Maior e
CIA Ì hMELANCOLIA GRAVEv OU A PERÓODOS a Missa em Mi Bemol Maior.
DE RECLUSÎO  PROSTRA¥ÎO E hPOUCO FALARv !SUAFRÉGILSAÞDEVOLTOUADARSINAIS
/ QUADRO DEPRESSIVO PIOROU PROGRESSI- DEPIORAEM QUANDOPASSAARECU-

AUTOR DESCONHECIDO/WIKIMEDIA COMMONS


VAMENTE NOS ÞLTIMOS ANOS  ASSOCIADO A SARALIMENTO/SMÏDICOSDETECTARAMO
UMA DESCREN¥A NA VIDA E NAS PESSOAS MOTIVODARECAÓDA FEBRETIFOIDE EAOS
%SSES COMPORTAMENTOS CÓCLICOS DESCRE- ANOS3CHUBERTMORREEXTREMAMENTEDE-
VEMOSSINTOMASDOTRANSTORNOBIPOLAR BILITADO POBRE INFELIZESESENTINDOREJEI-
1UANTO Ì SEXUALIDADE  A DISCUSSÎO TADOPORMUITOS!CREDITA SEQUEACAUSA
TEM SIDO A POSSÓVEL HOMOSSEXUALIDA- DAMORTEFOIMULTIFATORIAL INCLUINDOUMA
DE DE 3CHUBERT / DEBATE COME¥OU Os lieder de Schubert ganham ritmo FORMA AGUDA DE FEBRE TIFOIDE  AGRAVADA
EM  COM O HISTORIADOR -AYNARD e vida própria, são poesias líricas PELAANEMIAEPELOENVENENAMENTOMER-
3OLOMON QUECONSIDERAASNUMEROSAS em forma de música, totalmente CURIAL MEDICAMENTO USADO NA ÏPOCA 
ALUSÜES ESCRITAS POR CONTEMPORÊNE- revolucionárias e belas EMUMORGANISMOENFRAQUECIDOPELASÓ-
OS DE 3CHUBERT SOBRE SUA SEXUALIDADE lLISTERCIÉRIAEPELOALCOOLISMO
COMOPROVADEUMAhPROMISCUIDADEDE 3%515!$2/ 1UANDOMORREU OQUEPOSSUÓAERAM
CARÉTER HETERODOXOv OU hO LAMA¥AL DE ALGUMAS ROUPAS DESGASTADAS 0OR OUTRO
DEVASSIDÎO QUE VIVEv E A GRANDE INDI-
$%02%33)6/0)/2/5 LADO SUAOBRAENRIQUECEUPARASEMPREO
FEREN¥A DO MÞSICO EM RELA¥ÎO ÌS MU- 02/'2%33)6!-%.4% UNIVERSODAMÞSICA3EUCORPOFOIENTER-
LHERES PARA SE CASAR %LE AlRMA AINDA RADONOCEMITÏRIOPERIFÏRICO SØEM
QUE3CHUBERTMOROUNACASADEVÉRIOS
./3·,4)-/3!./3  ANOS APØS SUA MORTE  SEUS RESTOS
AMIGOS QUE FAZIAM PARTE DE UMA CO- $%6)$! !33/#)!$/ MORTAIS FORAM EXUMADOS E TRANSFERIDOS
MUNIDADEHOMOSSEXUALMASCULINA PARAOCEMITÏRIOCENTRALDE6IENA ONDE
±$%3#2%.—!.!
%M UMA FRASE ESCRITA EM  PELO REPOUSAAOLADODOTÞMULODE"EETHOVEN 
AMIGO %DUARD VON "AUERNFELD  EM %8)34º.#)!%.!3 NOCHAMADO0ANTEÎODOS!RTISTAS)NFE-
SEU DIÉRIO  DIZ h3CHUBERT ESTÉ DOEN- 0%33/!3%33%3 LIZMENTE&RANZ3CHUBERT TÎOIMPORTANTE
TE  ELE PRECISA DE PAVÜES JOVENS  COMO COMPOSITOR QUE INmUENCIOU A TRANSI¥ÎO
"ENVENUTO #ELLINIv ! FRASE INDICA PRE- #/-0/24!-%.4/3 ENTRE A %RA #LÉSSICA E A 2OMÊNTICA NA
CISARDEJOVENSAFEMINADOSVESTIDOSCOM #°#,)#/3$%3#2%6%- HISTØRIA DA MÞSICA  NÎO VIU SUAS OBRAS
EXTRAVAGÊNCIA  POIS #ELLINI ERA ABERTA- RECONHECIDAS NEMRECEBEUAALCUNHADE
MENTEHOMOSSEXUALETAMBÏMSIlLÓTICO 
/33).4/-!3$/ hOMAIORPOETALÓRICODAMÞSICAUNIVERSAL
EESTENÎODEIXADÞVIDASEMSUABIOGRA- 42!.34/2./")0/,!2 DETODOSOSTEMPOSv
lA SOBRE O USO DO TERMO hPAVÎOv AO SE
DElNIR COMO JOVEM HOMOSSEXUAL $E Anderson Zenidarci é mestre em Psicologia pela PUC-SP, supervisor e
FATO DOCUMENTOSCONTEMPORÊNEOSESTU- palestrante. Coordenador e professor do curso de especialização em
DADOSPORBIØGRAFOSSUGEREMAEXISTÐN- Transtornos e Patologias Psíquicas pela Facis, professor de pós-graduação no
curso de Psicologia de Saúde Hospitalar na PUC-SP. Atua há mais de 30 anos
CIADETENDÐNCIAS NOMÓNIMO BISSEXUAIS em atendimento clínico em diversos segmentos da Psicologia, com especial
EM 3CHUBERT E EM VÉRIOS MEMBROS DE dedicação à psicossomática, transtornos e patologias psíquicas.
SEUCÓRCULODEAMIGOS

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A arma secreta de Hitler
e Poder e queda da Gestapo
A Gestapo (ou Polícia Secreta do Es- favor do sistema e do nazismo.
tado) se dedicava a manter o regime na- A Editora Escala traz nestes livros ins-
cional socialista da Alemanha, e cabia a pirados nos arquivos da própria Gestapo,
ela investigar e anular os inimigos de Hi- informações de testemunhas, o desen-
tler. Tinha o claro objetivo de espalhar o YROYLPHQWRGDRUJDQL]DomRVXDVÀJXUDV
medo, com os aperfeiçoados requintes chaves, como Reinhard Heydrich e Hein-
de perversidade num Estado totalitário. rich Muller, seus métodos brutais e como
Era especialmente a máquina predisposta a Gestapo lidou com a segurança interna,
para forjar terror e ódio na mente huma- incluindo as diversas tentativas malsuce-
na contra povos, raças e religiões, tudo a didas de assassinar Aldolf Hitler.
Volume 1 Volume 2

Livro: A arma secreta de Hitler, Poder e queda da Gestapo


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MÉTODOS TERAPÊUTICOS
É sempre bom tomar conhecimento de novas técnicas que ajudam a melhorar a qualidade de vida de
pessoas. Por isso, achei importante o depoimento da psicóloga Camilla Mazetto, publicado na edição
#ONHECIALGUMASCRIAN¥ASCOMAUTISMO ESABERQUEAPROlSSIONALEMQUESTÎOÏESPECIALIZADAEM
hAVALIA¥ÜESCOMPREENSIVASvPARAINDIVÓDUOSCOMESSEPROBLEMA OUCOMhDIlCULDADESDECOMUNICA¥ÎO
social e de desenvolvimento global”, é reconfortante. Até mesmo porque ela revelou duas metodologias
terapêuticas: a terapia de troca e de desenvolvimento (TED) e o método Ramain. A primeira é indicada
às necessidades de crianças pequenas com distúrbios de comunicação e interação, como nos quadros
de autismo, e a segunda segue princípios das neurociências e é indicada para crianças, adolescentes e
adultos com distúrbios emocionais, de aprendizagem e desenvolvimento. Recomendo a leitura.
Cláudia dos Santos, por e-mail
CAPA156_aprovada.indd 1
NOTÍCIA

APLICATIVO LIÇÃO DE SUPERAÇÃO


DESENVOLVIDO NA USP Realmente emocionante o caso publicado no número 156 da Psique sobre a astróloga
AUXILIA A TREINAR FALA Denise Medeiros, que, após muito sofrimento e superação, passou de doente desengana-
DE CRIANÇAS COM DOWN da a escritora. Serve como uma verdadeira lição de vida, pois mostra que nunca devemos
desistir de nossas coisas, especialmente da vida. Imagino como ela se sente depois de
Um novo aplicativo, desenvolvido ver sua história se transformar radicalmente em apenas oito anos. Denise esteve à beira
pelo Departamento de Computa- da morte em 2011 e quando começou seu livro não sabia se conseguiria terminá-lo,
ção e Matemática da Faculdade pois havia recebido o diagnóstico de miocardiopatia dilatada, uma doença gravíssima e
DE &ILOSOlA  #IÐNCIAS E ,ETRAS DE
progressiva do músculo cardíaco. Recebeu, como prognóstico, três meses de vida. No
Ribeirão Preto (FFCLRP) da Uni-
entanto, depois de quatro cirurgias e muitos processos, ela passou a viver sem os sinto-
versidade de São Paulo (USP), ajuda
mas e o livro Onde o Deserto Encontra o Mar é o registro diário da sua trajetória. Vou ler.
no treino da fala de crianças com
síndrome de Down. O equipamen- Carolina Prado, por e-mail
TO SE CHAMA 3OlA&ALA  UM SISTEMA
inteligente, interativo e gratuito que A IMPORTÂNCIA DA BOA ALIMENTAÇÃO
roda em celulares e tablets com Não me surpreendi quando li na edição 156 que é cada vez mais frequente a queixa com
Android (por enquanto). O sistema RELA¥ÎOÌQUALIDADEDAALIMENTA¥ÎODOSlLHOS!PARTIRDESSETEMA SURGEMALGUNSQUES
capta sons e imagens produzidos tionamentos, sugeridos pelo artigo: Como entender se é fase de criança ou um transtorno
durante a execução do exercício fo- QUEMERECEATEN¥ÎOECUIDADOSPROlSSIONAIS$EVOFOR¥ARMEUlLHOACOMEROQUENÎO
noaudiológico e depois os analisa, GOSTA$EIXÉ LOCOMFOME%MFUN¥ÎODASPERGUNTAS TORNAM SEIMPORTANTESALGUMAS
promovendo dois tipos de respostas REmEXÜES¡PORMEIODEUMAALIMENTA¥ÎOEQUILIBRADAQUESEGARANTEMOCRESCIMENTO
a respeito da performance da crian-
físico e a qualidade do funcionamento do organismo. “Quando o processo de inserção e
ça: uma lúdico-educacional, com
de adaptação alimentar é bem-sucedido, a criança tem uma nutrição e desenvolvimento
orientações para o paciente e para o
adequados. No entanto, quando problemas alimentares se instalam, essas variáveis po-
responsável pelo treino; outra, com
dados métricos e estatísticos para
dem ser colocadas em risco.” O material é muito informativo.
o fonoaudiólogo avaliar, acompa- Rosa Maria Silveira, por e-mail
nhar e orientar a evolução clínica
da criança. Uma das coordenado-
ras do projeto, Alessandra Alaniz
Macedo, professora da FFCLRP e
especialista em sistemas de compu-
tação, revela que um protótipo do
aplicativo já está em fase de testes e
que, por ser de fácil operação, pode
ser usado nas próprias residências,
seja com supervisão dos pais ou até
mesmo pela criança sozinha. Fonte:
Jornal da USP

80 psique ciência&vida
PSIQUE CIÊNCIA & VIDA é uma publicação mensal da EBR _
Empresa Brasil de Revistas Ltda. ISSN 1809-0796. A publicação
não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos
assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial,
LINHA DIRETA sendo esse último de inteira responsabilidade dos anunciantes.

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O neurocientista, mestre e doutor em Bioquí- Ano 12 - Edição 157
mica e Imunologia Marco Antonio Prado se mico Faculdade da Universidade de Western
Ethel Santaella
DEDICAAPESQUISASCIENTÓlCASPARACOMPREEN Ontario (2013-2014). Em colaboração com DIRETORA EDITORIAL

der como e por que as mudanças moleculares sua companheira, Vânia Ferreira Prado, ele PUBLICIDADE

e celulares em doenças neurodegenerativas tem gerado novos camundongos genetica- GRANDES, MÉDIAS E PEQUENAS AGÊNCIAS E DIRETOS:
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causam falhas cognitivas, especialmente em MENTE MODIlCADOS PARA FORMULAR DÏlCITS
doenças como Alzheimer. Prado foi reco- neuroquímicos na demência, com foco parti- REPRESENTANTES Interior de São Paulo: L&M Editoração, Luciene
Dias – Paraná: YouNeed, Paulo Roberto Cardoso – Rio de Janeiro:
nhecido como parceiro de Guggenheim pela cular para a doença de Alzheimer. Entrevista Marca XXI, Carla Torres, Marta Pimentel – Santa Catarina: Artur Tavares
– Regional Brasília: Solução Publicidade, Beth Araújo.
John Simon Guggenheim Memorial Foun- completa, publicada na edição 122. Acesse: www.midiakit.escala.com.br
dation, em 2004, e recebeu o Prêmio Acadê- www.psiquecienciaevida.uol.com.br COMUNICAÇÃO, MARKETING E CIRCULAÇÃO
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também nas redes sociais. Acesse a fanpage: www.facebook.com/PortalEspacodoSaber


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de abril de 2019, o XII Congresso Brasileiro de e práticas em relação à utilização de tratamentos
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brasileiros. O objetivo é promover a discussão de Mkq8TY. Fonte: Sociedade Brasileira de Psicologia
Março/2019

REALIZAÇÃO
CONSELHO EDITORIAL
Rua Ascencional, 172 – conjunto 21 – Morumbi – São Paulo – SP
AICIL FRANCO é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia KARIN DE PAULA, psicanalista, doutora pela PUC-SP, professora CEP: 05713-430 – Telefone (11) 3476-8732
Clínica pela USP. Professora no IJBA e na Escola Bahiana de e supervisora clínica universitária e do CEP, autora do livro EDITORA: Gláucia Viola
Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA. $em? Sobre a Inclusão e o Manejo do Dinheiro numa Psicanálise, e EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Monique Bruno Elias
de vários outros artigos publicados. COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Daniele Vanzan; Denise Maria
ANA MARIA FEIJOO é doutora em Psicologia pela Universidade Perissini; Emanoele Freitas; Fabiane Matias; Lucas Vasques Peña;
&EDERALDO2IODE*ANEIRO AUTORADELIVROSEARTIGOSCIENTÓlCOS  LILIAN GRAZIANO é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, Marta Relvas; Thiago Domingues. REVISÃO – Jussara Lopes.
COLUNISTAS: Anderson Zenidarci; Carlos São Paulo; Denise
parecerista de diversas revistas e responsável técnica do com pós-graduação em Psicoterapia Cognitiva Construtivista. Deschamps; Eduardo J. S. Honorato; Elaine Cristina Siervo; Guido
Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do RJ. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Arturo Palomba; João Oliveira; Júlio Furtado; Luiza Elena L. Ribeiro
do Valle; Marco Callegaro; Maria Inere Maluf; Michele Muller; Mônica
Positiva e Comportamento. Atua em clínica e consultoria. Portella; Nicolau José Maluf Jr.; Renata Bento. O Conselho editorial
ANA MARIA SERRA é PhD em Psicologia e terapeuta cognitiva
e a Redação não se responsabilizam pelos artigos e colunas
pelo Institute of Psychiatry, Universidade de Londres. Diretora LILIANA LIVIANO WAHBA, psicóloga, PhD, professora da PUC- assinados por especialistas e suas opiniões neles expressas.
do Instituto de Terapia Cognitiva (ITC), atua em clínica, faz SP. Presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica.
treinamento, consultoria e pesquisa. Presidente honorária, ex- Coeditora da Revista Junguiana. Diretora de Psicologia da Ser
presidente e fundadora da ABPC. em Cena - Teatro para Afásicos. FALE CONOSCO
ANDRÉ FRAZÃO HELENE é biólogo, mestre e doutor em MARISTELA VENDRAMEL FERREIRA é doutora em Audiologia REALIZAÇÃO
DIRETO COM A REDAÇÃO
#IÐNCIASNAÉREADE.EUROlSIOLOGIADA-EMØRIAE!TEN¥ÎO pela University of Southampton – Inglaterra, mestre em Av. Profª Ida Kolb, 551 Casa Verde – CEP 02518-000
pela Universidade de São Paulo, onde também é professor no Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP, especialista em São Paulo – SP – (+55) 11 3042-5900 – psique@escala.com.br
curso de Biociência e coordena o Laboratório de Ciências da Psicoterapia Psicanalítica pelo Instituto de Psicologia da USP. PARA ANUNCIAR anunciar@escala.com.br
Cognição no Instituto de Biociências. SÃO PAULO: (+55) 11 3855-2100
MÔNICA GIACOMINI, presidente da Sociedade Brasileira de
SP (CAMPINAS): (+55) 19 98132-6565
CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA é psicólogo, Psicologia Hospitalar – biênio 2007/09. Especialista em
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E 123RF/ARQUIVO CIÊNCIA E VIDA

SP (RIBEIRÃO PRETO): (+55) 16 3667-1800


doutor em Saúde Mental pela Unicamp, pós-doutorado em Psicologia Hospitalar, psicóloga clínica junguiana, psicóloga RJ: (+55) 21 2224-0095 RS: (+55) 51 3249-9368
Saúde Mental pela Universidade de Barcelona-Espanha, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HCFMUSP e PR: (+55) 41 3026-1175 BRASÍLIA: (+55) 61 3226-2218
professor associado de Psicologia da Universidade Federal de supervisora titular do Aprimoramento em Psicologia Hospitalar SC: (+55) 47 3041-3323
Uberlândia. Autor de Aids e Exclusão Social. em Ortopedia.
Tráfego: trafego.publicidade@escala.com.br
DENISE TARDELI, graduação em Psicologia e Pedagogia. PAULA MANTOVANI é graduada em Psicologia pela Universidade ASSINE NOSSAS REVISTAS
Mestrado em Educação e doutorado em Psicologia Escolar e Paulista, psicanalista, consultora editorial do programa de (+55) 11 3855-2117 – www.assineescala.com.br
do Desenvolvimento Humano, ambos pela USP. Pesquisadora entrevistas da FNAC e membro correspondente do Espaço
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na área da Psicologia Moral e Evolutiva. Professora Moebius de Psicanálise de Salvador (BA). Adquira as edições anteriores de qualquer revista
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DENISE GIMENEZ RAMOS é coordenadora do Programa de graduado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e
Estudos Pós-Graduados da PUC-SP e membro da Sociedade doutor em Psicologia Social pela USP. É também professor da ATENDIMENTO AO LEITOR
De seg. a sex., das 9h às 18h. (+55) 11 3855-1009
Brasileira de Psicologia Analítica. Fundação Getulio Vargas e da ESPM. atendimento@escala.com.br
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psiquiatria forense por Guido Arturo Palomba

PAI da
Medicina Legal
A OBRA DE PAULO ZACCHIA SERVIU
DE INSPIRAÇÃO AOS PERITOS POR
CERCA DE 200 ANOS. PORÉM, NA
ÚLTIMA DÉCADA PRATICAMENTE
NENHUM NOVO TRATADO SOBRE A
ESPECIALIDADE FOI EDITADO

H
á 360 anos morria Paulo Zacchia. A obra de Zacchia serviu aos peri- que na última década praticamente ne-
Poucos médicos tiveram tanto tos por cerca de 200 anos. Depois dela nhum novo tratado sobre a especialida-
prestígio em vida e reconheci- vieram &RENOLOGIA &ORENSE (1865), de De de foi editado no mundo ocidental. Isso
mento após o falecimento quan- Livi; a seguir, 4RATADODE-EDICINA,EGAL explica-se pela agonia da psicopatologia,
to ele. Era médico do papa e LEGUMPERITU DOS!LIENADOS (1866), de Auguste Morel; duramente golpeada pelos ditos instru-
(jusperito) dos tribunais eclesiásticos que, mais adiante, %STUDO -ÏDICO LEGAL 3OBRE mentos e protocolos de exame do doente
à época, eram chamados de Rota Romana A ,OUCURA (1872), de Ambroise Tardie. mental, dominantes há quase duas déca-
(judicava causas eclesiásticas e profanas, Mas foi o 4RATADO DE 0SICOPATOLOGIA &O- das, que ditam os padrões atuais de diag-
de Roma e do Estado Pontifício). RENSE (1897, ano da edição italiana), de nóstico, os quais se encaixarão na Classi-
Paulo Zacchia escreveu monumental Richard von Krafft-Ebing, o primeiro lCA¥ÎO)NTERNACIONALDE$OEN¥AS (CID) e no
obra de Medicina Legal, 1UAESTIONUMME- a dar à Psiquiatria Forense o status de arremedo americano, -ANUAL%STATÓSTICOE
DICO LEGALIUM, o primeiro grande tratado saber autônomo, distinto da Psiquiatria $IAGNØSTICO (DSM, sigla em inglês).
sobre a matéria a versar sobre os peritos e da Medicina Legal. Porém, a história, que é longa e secu-
e sobre várias áreas da Medicina Legal, Interessante notar que a partir daí lar, certamente mostrará no futuro que
entre elas a que mais tarde se chamaria vieram vários outros livros sobre a maté- a especialidade voltou a ser fecundada.
Psiquiatria Forense. ria, em diferentes países, pouco mais ou Quando isso acontecer, a CID e o DSM
Por esse motivo é considerado o Pai menos na mesma época. estarão desnudos, a mostrar os seus re-
da Medicina Legal, da Psiquiatria Fo- O primeiro brasileiro foi %SBO¥O DE dondos símbolos da decadência do saber
rense e dos Peritos. A obra completa foi 0SYCHIATRIA &ORENSE (1904), de Francisco psiquiátrico contemporâneo. Talvez leve
escrita entre 1621 a 1657, dividida origi- Franco da Rocha. ainda algumas gerações até tal ocorrer,
nalmente em nove livros. A história da Psiquiatria Forense, a MAS FATALMENTE ACIÐNCIAlNAESENSÓVEL
O Livro 2, Título I chama-se $A$E- bem ver, pode ser contada pelas publica- voltará a ver o homem como ele é: um ser
MÐNCIAEDOS-ALESDA2AZÎO e nele cons- ções clássicas que lhe são próprias, regis- completo, de corpo e psique indivisível,
tam, pela primeira vez na história, ques- tros de um modo de pensar sobre os mis- inserido no meio social, como o Pai dos
tões de Psiquiatria Forense que, lidas à teres da Psiquiatria e do Direito, no ponto Peritos, há 360 anos, concebia.
distância de centúrias, ainda guardam em que se articula o “discurso” médico
ARQUIVO PESSOAL/SHUTTERSTOCK

ensinamentos preciosos. Lá encontram- com o “discurso” jurídico. Guido Arturo Palomba


-se doenças psiquiátricas modernas, por Agora, em pleno século XXI, pergun- é psiquiatra forense e
membro emérito da
exemplo, a epilepsia, os efeitos mentais ta-se: onde estão os atuais tratados dessa
Academia de Medicina
dos traumatismos de crânio, os manía- área? Resposta: sumiram do mapa, ou de São Paulo.
cos, os ébrios e assim por diante. seja, são cada vez mais raros, sendo certo

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