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Revista Psique - Mar 2019 - Ed. 157 PDF
Revista Psique - Mar 2019 - Ed. 157 PDF
Ou acesse www.escala.com.br
/escalaoficial
editorial
Gláucia Viola, editora
Aspectos da
G
e da virtualização de G
A
INlDELIDADEÏUMADASCOISASMAISTEMIDASEMUMARELA¥ÎOAFETIVA0ORESSA
RAZÎOAPsique Ciência&VidaSEDEBRU¥ASOBREOASSUNTONO$OSSIÐDESTA
EDI¥ÎO!OLONGODASDÏCADASINÞMEROSESTUDOSFORAMREALIZADOSSOBREAS
RAZÜES QUE LEVAM Ì INlDELIDADE %NTRE ALGUNS FATORES DESTACAM
SE A DINÊ
MICAPATOLØGICADOCASALAFALTADEQUALIDADEDACOMUNICA¥ÎOENTREOSDOISAPOUCA
EXISTÐNCIADEAlNIDADESDEVALORESEDECREN¥ASAINmUÐNCIADO
COMPORTAMENTOAMOROSOSOCIALQUEPASSAPORTRANSFORMA¥ÜES
CONSTANTEMENTE5MFATOASERLEVADOEMCONTAPOREXEMPLO
Ï O ADVENTO DA TECNOLOGIA E PRINCIPALMENTE DA INTERNET QUE
MUDOUASRELA¥ÜESCONSIDERAVELMENTE
(OJENÎOÏMAISPOSSÓVELSERELACIONARSEMALGUMTIPODEINTE
RATIVIDADEVIRTUAL/ENCONTROAMOROSOTEMLUGARCATIVONAREDE
NACIVILIZA¥ÎODAVIRTUALIZA¥ÎODOSAFETOS
CAPA
DOSSIÊ:
Infidelidade conjugal
Até onde as redes sociais
podem trazer efeitos negativos
para uma relação e caracterizar
comportamento ambivalente?
35
SHUTTERSTOCK
22/02/2019 16:08
MATÉRIAS
08 Alegria motivadora
Descobrir como levar
a vida com otimismo
24 e bom humor é
fundamental para
o bem-estar emocional
ENTREVISTA
Psiquiatra Mario Louzã aborda
questões relacionadas ao transtorno do
pânico, semelhanças e diferenças em
relação à ansiedade considerada normal Transtorno
opositivo desafiador 56
SEÇÕES Frequentemente, os
05 NA REDE primeiros sintomas do TOD
06 RELAÇÕES EM PAUTA surgem durante a pré-escola
14 UTILIDADE PÚBLICA e, raramente, mais tarde, após
16 IN FOCO o começo da adolescência
18 PSICOPOSITIVA
20 PSICOPEDAGOGIA
22 IN FOCO
32 COACHING
Sete pecados
72
34 LIVROS
50 NEUROCIÊNCIA capitais
52 PSICOLOGIA JURÍDICA A intensidade e a frequência
54 RECURSOS HUMANOS dos sentimentos são o que
64 DIVÃ LITERÁRIO diferencia os delitos bons
66 CINEMA dos ruins e assombra a
70 PSICOLOGIA SOCIAL consciência do ser humano
76 PERFIL
80 EM CONTATO
82 PSIQUIATRIA FORENSE
na rede por Nicolau José Maluf Jr.
A internet,
uma ALDEIA DE ÓDIO
AS REDES SOCIAIS ACUMULAM EVENTOS DE DISSEMINAÇÃO
DA RAIVA EXACERBADA NA DEFESA DE UM POSICIONAMENTO,
MAS HÁ UMA GRANDE DIFERENÇA ENTRE POSIÇÃO
FIRME DE OPINIÃO E MANIFESTAÇÃO DE FÚRIA
A
o receber o título honoris causa vigia dos usos e costumes,
na Universidade de Turim, na a propagadora das maledi-
Itália, Umberto Eco disse que cências sobre a vida sexual
“o drama da internet é que ela da vizinhança. Um protó-
promoveu o idiota da aldeia a portador tipo da combinação de
da verdade”. Para o autor, antes das re- frustração afetiva sexual1
des sociais, os “idiotas da aldeia” tinham e da necessidade de des-
direito à palavra “em um bar e depois truir a vida e a felicidade
de uma taça de vinho, sem prejudicar a em quaisquer de suas mo-
coletividade”. dulações enquanto busca
Fora de contexto, pode parecer uma entregar a sua existência
atitude elitista, antidemocrática. Mas às mãos de uma liderança
ele parece fazer referência a atividades dominadora.
como as dos haters, que não só postam São irrupções da ca-
e viralizam mensagens de ódio, mas mada da personalidade
também são conhecidos pela forma rasa portadora do que Reich
com que manejam supostas informações, DElNIU COMO impulsos se-
sem checagem. Duas obras podem nos cundários, subjacentes à fachada apresen- Essa é uma das sementes da radicali-
ajudar nesse panorama. Uma do pró- tada socialmente. ZA¥ÎODOEXACERBAMENTOVERIlCADONAS
pria Eco. Na criação literária O Nome da Existe diferença entre um posi- redes sociais, quando das postagens com
Rosa há um embate entre os personagens CIONAMENTO lRME E A RAIVA E O ØDIO A ataques a personalidades e nas manifes-
Jorge de Burgos, monge e bibliotecário, destrutividade e a negação de qualquer tações político-partidárias de qualquer
e Willian de Baskerville, franciscano: “O positividade no outro. Há aí, nesse caso, tribo. Aí, essas redes merecem realmente
riso é a fraqueza, a corrupção, a insipidez a ação de um mecanismo (inconscien- a adjetivação “esgotosfera”.
DENOSSAALMAvAlRMA*ORGEDE"URGOS te) em que projetamos no outro toda Detalhe importante: na obra de Eco
O riso seria o contrário da fé. Fé que, no e qualquer imperfeição que possamos mencionada, a biblioteca (simbolizando
viés do monge, implica atitude constrita portar, e nos tornamos exemplares. o conhecimento) termina consumida por
e abandono da razão. Num plano mais profundo, o “zé nin- um incêndio provocado. O idiota da al-
Em paralelo, no desabafo em forma guém” tenta anular a dor insuportável deia vence.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ARQUIVO PESSOAL
de livro Escuta, Zé Ninguém!, Reich des- que a vitalidade no outro, vivida como
creve a gênese e o modo de ser do Homo inalcançável para ele, evoca. Nicolau José Maluf Jr. é
normalis e sua comezinha existência pau- psicólogo, analista reichiano,
tada pelo rancor, ressentimento, inveja e
1
O conceito de frustração afetiva sexual, doutor em História das
na obra reichiana, não guarda relação Ciências, Técnicas e
destrutividade, tanto no plano pessoal unicamente com o fator quantitativo, Epistemologia (HCTE/UFRJ)
quanto no social. É o falso moralista, o não é meramente atividade sexual.
A escolha do PARCEIRO
EM GERAL, A BUSCA É
PELO QUE NOS FALTA E
NA MAIORIA DAS VEZES
FAZEMOS ISSO DE FORMA
INCONSCIENTE. O
COMPANHEIRO JÁ CHEGA
COM O PESO DE SUPRIR
TODAS AS LACUNAS
EXISTENTES
A
final, quais são os fatores que
determinam a escolha de
um parceiro amoroso? Para
começar a responder essa
indagação, precisamos olhar para a
nossa família de origem, pois é de lá
que derivam os primeiros exemplos de
relacionamento e de identificação com
as figuras masculina e feminina.
A família sempre será o ponto de
partida para modelos ou contramode-
los pessoais. Se admiramos qualidades
nos pais ou em outros que fizeram esse
papel, provavelmente haverá identifi-
cação. O indivíduo passa a desenvolver
essas qualidades em si, o que interfere
na busca de um parceiro de forma in-
consciente, porque vai buscar encon-
trar os mesmos aspectos no outro.
As heranças familiares estão longe
de limitar-se a transferência de bens
e dinheiro. É transmitida também,
através das gerações, toda uma gama
de valores morais, hábitos, cultura e
crenças. Durante toda nossa vida, po-
O psiquiatra Mario
Louzã destaca que a
síndrome do pânico
está, geralmente,
relacionada
a estresse,
independentemente
de sua origem
O transtorno
do PÂNICO
não está sozinho
O psiquiatra Mario Louzã explica
que, em muitos casos, ele pode estar
associado a outras patologias, como
a bipolaridade, por exemplo; por isso,
o tratamento é longo e, em algumas
situações, para a vida inteira
Por Lucas Vasques Peña
“U
ma das piores sensações do de extremo estresse: falecimento ou a descoberta
mundo.” “A sensação é que vou de uma doença grave de uma pessoa próxima; mu-
morrer.” Essas são apenas algu- danças constantes na vida, experiências traumáti-
mas descrições de pessoas que cas, como um assalto ou um acidente de carro.
sofrem de síndrome do pânico e do que acontece “O tratamento pode envolver psicoterapia e o
durante as crises. uso de medicações para redução dos sintomas”,
Trata-se de um transtorno de ansiedade, no explica Louzã, médico psiquiatra, especialista
qual são registradas crises inesperadas de deses- em Psiquiatria Geral, com pós-graduação (dou-
pero e medo intenso, mesmo que não haja motivo toramento) na Clínica Psiquiátrica da Univer-
algum para isso ou sinais de perigo iminente. sidade de Würzburg, Alemanha, e pós-douto-
Além dessas crises, a pessoa sente extrema rado no Instituto Central de Saúde Mental em
preocupação com a possibilidade de ter novos Mannheim, Alemanha.
ataques (o chamado medo do medo) e com as É médico assistente e coordenador do Progra-
consequências desses ataques, pois isso dificulta a ma de Esquizofrenia (Projesq) e do Programa de
FOTO DO ENTREVISTADO: DIVULGAÇÃO/ DEMAIS: SHUTTERSTOCK
Uma vez que a P OR QU E R A ZÃO U M A PE SSOA PA SSA L OUZÃ : O primeiro ataque de pâni-
M U ITOS A NOS DE SUA V IDA SEM TER co, geralmente, leva a pessoa a um
pessoa recebe o NA DA E U M DI A , POR TER FICA DO FE - pronto-socorro, devido à intensi-
diagnóstico de CH A DA DENTRO
QU EBR A DO , POR
DE UM
EX EMPLO ,
ELEVA DOR
PA SSA A
dade dos sintomas. Uma vez que
a pessoa recebe o diagnóstico de
transtorno do M A N IFE STA R O PROBLEM A ? transtorno do pânico, sabendo que
L OUZÃ : Os ataques de pânico ge- aquelas sensações são passageiras,
pânico, sabendo que ralmente acontecem de repente, ela pode “mentalmente” tentar se
em qualquer período do dia e em controlar, sabendo que, apesar de
aquelas sensações são qualquer situação. Pode ser fazen- muito desagradáveis, os sintomas
OS EX ERCÍCIOS FÍSICOS SÃO I MPORTA N - Terapias alternativas, como meditação e yoga, ajudam no tratamento, assim como qualquer outra
TE S NA SÍ N DROME DO PÂ N ICO ? atividade que dê prazer à pessoa
L OUZÃ : Sim, pois a atividade f ísica
estimula a produção da serotonina
e da dopamina, neurotransmissores
No caso de ansiedade generalizada, os sintomas
responsáveis pela sensação de prazer são mais fortes e incluem irritabilidade,
e bem-estar.
DIlCULDADEDECONCENTRA¥ÎOINSÙNIAEFADIGA
Q UA L O PA PEL DA FA MÍLI A NO PROCE S -
SO DE TR ATA MENTO DE U M PACIENTE Departamento de Farmacolog ia da sobre as mudanças comportamentais
COM SÍ N DROME DO PÂ N ICO ? Faculdade de Medicina de Ribeirão induzidas em ratos na presença de um
L OUZÃ : É preciso ter paciência, com- Preto e do Centro Interdisciplinar de predador – um g ato vivo –, simulando
preensão e incentivo para que a pes- Pesquisas em Neurociências Aplicadas modelos de resposta diante de uma
soa vá retomando suas atividades aos da Universidade de São Paulo (USP), crise de pânico. A conclusão sugere
poucos. publicado pelo The International Jour- que o seg redo é o tratamento à base
nal of Neuropsychopharmacology, desco- do sistema endocanabinoide, trazen-
A M ACON H A PODE TR A ZER A LGU M BE - briu os benefícios do tratamento para do a sensação de “paz” e tranquilidade
N EFÍCIO PA R A O TR ATA MENTO DE PA - a síndrome do pânico com o uso dos para o paciente. Novos estudos estão
CIENTE S COM E SSE PROBLEM A ? canabinoides, substâncias presentes sendo feitos para comprovar ainda
L OUZÃ: Estudo dirig ido por um g ru- na maconha. A pesquisa investigou mais a utilidade dessa propriedade te-
po de pesquisadores brasileiros do os efeitos dos canabinoides naturais rapêutica da erva.
Para transcender
a função de PERITO
A PSICOLOGIA JURÍDICA GANHA ESPAÇO
NA ÁREA DE ATUAÇÃO QUE EXIGE QUE
O PSICÓLOGO CONHEÇA ASPECTOS
DO DIREITO COM O PRINCIPAL FOCO
DE INTERVIR PARA PROTEGER A
INTEGRIDADE DOS INDIVÍDUOS
A
Psicologia Jurídica é uma psicopatologia, sexologia, parafilias,
das especialidades da Psi- toxicologia, comportamentos coletivos
cologia que vem ganhando POREXEMPLOBRIGASDETORCIDASDEFU-
destaque nos últimos tebol, terrorismo, desastres).
tempos, frequentemente chamada a O objetivo básico do serviço de
OPINAR ACERCA DE CONmITOS FAMILIARES Psicologia Jurídica é o de elaborar
ENVOLVENDOGUARDADElLHOSPORVEZES um esboço, o mais fidedigno possível,
guarda compartilhada, alienação paren- acerca da situação das pessoas envol-
TAL ACUSA¥ÜES DE ABUSO SEXUAL VERDA- VIDAS EM SITUA¥ÜES PROCESSUAIS QUES-
deiro ou falso) e outras manifestações do tões familiares, atos infracionais, deli-
comportamento humano, como os atos tos) e suas famílias, que se consolida
criminais, o sofrimento das vítimas, a no laudo pericial. Esse perfil auxilia a
veracidade dos testemunhos, o dano psí-
quico decorrente do abandono afetivo,
dentre outros.
O QUE SE OBSERVA
É uma área que se destaca pela NA MAIOR PARTE
interdisciplinaridade porque exige que decisão do juiz em casos de disputa
o profissional conheça aspectos do
DAS SITUAÇÕES pela guarda dos filhos, adoção e ou-
$IREITO CIVIL PENAL FAMÓLIA E NO¥ÜES É QUE O TRABALHO tros, de modo a que se respeitem as
DE PROCESSO PRAZOS TIPOS DE RECURSO características psicológicas de cada
PERICIAL DO
impedimento/suspeição de perito, di- caso, visando principalmente a saúde
ferenças entre perito e assistente téc- PSICÓLOGO SE mental das pessoas, especialmente se
nico), acompanhamento do trâmite de TORNA LIMITADO for criança ou adolescente.
LEIS E JURISPRUDÐNCIAS SABER O CONTEÞ- Mas o que se observa na maior par-
do das leis em vigor e qual o entendi- AO LAUDO QUE te das situações é que o trabalho peri-
mento dos juízes e tribunais acerca do FORNECERÁ cial do psicólogo se torna limitado ao
assunto), bem como conhecimentos de laudo que fornecerá subsídios à deci-
avaliação psicológica, desenvolvimento
SUBSÍDIOS À são do juiz. O que muitos profissionais
infantil, relações vinculares familiares, DECISÃO DO JUIZ lutam para conseguir é um espaço em
CONHECER a si mesmo
QUEM DESENVOLVE O AUTOCONHECIMENTO POSSUI
UMA VISÃO CLARA DE SUAS APTIDÕES, CAPACIDADES
E FRAQUEZAS E CRIA ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM
SUAS CARACTERÍSTICAS POSITIVAS E NEGATIVAS
É
possível observar nos dias de monia com sua proposta de vida (ou modalidades terapêuticas. Em primeiro
hoje, em algumas ruínas de SIGNIlCADO !LÏM DISSO A 0SICOLOGIA lugar, as terapias positivas (como a te-
templos, teatros e estádios Positiva incentiva o conhecimento de sua rapia da esperança, a terapia focada em
originários da Grécia Antiga, singularidade e respeito a essa, o que sig- metas e a terapia cognitiva-comporta-
resquícios da inscrição original do NIlCAFOCALIZARNOQUESEÏEMVEZDE mental positiva) trabalham com o foco
Oráculo de Delfos. Segundo arqueólo- se comparar e preocupar-se constante- nas metas e não nos problemas e quei-
gos, essa inscrição tinha o objetivo de mente com os outros. xas do cliente.
lembrar ao cidadão grego a importân- $EPOIS DE IDENTIlCAR E TRABALHAR Em segundo lugar, as terapias po-
cia do autoconhecimento, por isso a valores, crenças, virtudes e forças, o sitivas mapeiam e desenvolvem as
inscrição vigorava nos locais públicos indivíduo estará pronto para respon- forças, enfatizando o lado saudável e
mais importantes das cidades-estado der à pergunta: “O que vou fazer com funcional do indivíduo. Por mais doen-
gregas. Conhecer a si mesmo não sig- minha vida?” Isto é, pode, a partir daí, te que uma pessoa possa estar, sempre
NIlCA DESCOBRIR SEGREDOS PROFUNDOS estabelecer e alcançar metas que pos- terá um lado saudável e pelo menos
e\ou motivações inconscientes. Au- sam melhorar sua qualidade de vida e algum aspecto da vida que esteja mi-
TOCONHECIMENTO SIGNIlCA DESENVOLVER desempenho em diversas aspectos. nimamente funcional.
uma compreensão sincera e honesta A terapia positiva constitui uma A orientação positiva incentiva e
sobre você mesmo (conhecer forças e proposta de prevenção secundária e desenvolve o autoconhecimento e a
fraquezas, administrando as mesmas possui diferenciais em relação às outras autogestão, uma vez que estimula a
adequadamente). Envolve procurar responsabilidade pessoal no conduzir
respostas para uma das questões hu- A TENTATIVA DE da vida, levando o indivíduo a mapear
manas mais difíceis e fundamentais: e lidar com suas características (posi-
“Quem sou eu?” A Psicologia Positiva
TRANSFORMAR-SE tivas e negativas). As terapias positivas
possui uma série de instrumentos e NAQUILO QUE NÃO reconhecem que os traços positivos e
técnicas que pode auxiliar o indivíduo os comportamentos adaptativos ser-
a responder essa questão fundamental.
SE É PODE LEVAR vem como fatores protetores contra
Esta disciplina dispõe de vários ins- AO ESTRESSE, ESTRESSORESEDIlCULDADESFUTURASFUN
trumentos para ajudar na jornada em cionando assim como prevenção pri-
DESENCADEANDO
busca do autoconhecimento, como por mária de problemas. Dessa maneira, ao
exemplo exercícios com o objetivo de ATÉ MESMO tomar conhecimento dos aspectos po-
IDENTIlCARFOR¥ASTALENTOSPONTOSFOR
DOENÇAS QUE O sitivos e funcionais, os indivíduos po-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ACERVO PESSOAL
tes, forças de caráter, habilidades), ca- dem lidar melhor com seus problemas e
racterísticas de personalidade, valores, ORGANISMO ESTÁ DIlCULDADES±MEDIDAQUEDESENVOLVE
BEM COMO PONTOS FRACOS )DENTIlCAR GENETICAMENTE o autoconhecimento, a satisfação com
e manejar crenças autolimitadoras e a vida aumenta consideravelmente. O
apoiadoras, desenvolver o engajamen-
PROGRAMADO PARA autoconhecimento ajuda o indivíduo
to, encontrando e vivendo em har- DESENVOLVER a alcançar muitos benefícios, como:
Estimulação do
MEIO AMBIENTE
O CÉREBRO E TODO O SISTEMA NERVOSO SÃO PARTES
INDISSOCIÁVEIS DO PROCESSO CULTURAL HUMANO, POIS EM
ESPECIAL, GRAÇAS A ESSE IMPORTANTE ÓRGÃO, SE REALIZA
A APRENDIZAGEM QUE ENRIQUECE A CULTURA HUMANA
A
tualmente, são frequentes as Conrad Röntgen, entre outros exemplos. trapassar etapas sequentes de desenvol-
discussões sobre a melhor ida- Objetivavam esses cientistas, em suas vimento. Além disso, coloca parâmetros:
de para submeter as crianças ao pesquisas, descobrir outras coisas, mas determina o que pode ser aprendido,
aprendizado formal da leitura e foi o seu poder de observação bem de- quando e com que velocidade. E aí entra
da escrita. Alguns pais se sentem aparen- senvolvido que os fez distinguirem entre a educação!
TEMENTELESADOSSEAESCOLADOSlLHOSNÎO material inútil e uma descoberta gran- O conhecimento de como nosso
os insere no mundo das letras e números diosa para a humanidade. cérebro aprende é o objetivo de muitos
ainda na pré-escola. A ideia é que quanto A aprendizagem, seja qual for, requer cientistas e educadores, já que a neuroci-
mais cedo as crianças aprenderem essas amadurecimento biológico, estimulação ência é a ciência do cérebro e a educação
habilidades culturais, ainda que em de- neuronal e formação de sinapses, num pode ser compreendida como a ciência
trimento de horas de brincadeiras, mais processo contínuo que depende em gran- da aprendizagem, o que correlaciona
preparadas chegarão à faculdade. de parte das trocas do material genético ambas de modo incontestável.
Melhor que insistir no erro dessa pre- com o meio ambiente. Não se aceita mais Não é novidade a investigação da
missa é explicar por que o exemplo dos que a criança será aquilo que sua gené- neurociência em contextos educativos,
países onde a educação é considerada a tica determinou, mas se sabe que será e, embora esta ainda não traga todas as
melhor do mundo deve ser analisado e aquilo que a estimulação ambiental fará respostas para os educadores, já revelou
adotado por nós. com essa genética. descobertas importantes sobre a biologia
O desenvolvimento da cultura huma- O cérebro nos deixou enquanto espé- quanto aos processos cognitivos envolvi-
na ao longo dos séculos é indubitavelmen- cie humana, e ao longo dos milênios, al- dos na aprendizagem.
te impressionante, especialmente se pen- cançar o estágio de grande crescimento Tais conhecimentos induziram ao
SARMOSSOBREASMODIlCA¥ÜESHAVIDASNOS CIENTÓlCOQUEHOJEVIVEMOS%NOSPER
conceito de períodos críticos e sensíveis
últimos 100 anos, trazidas especialmente mite como pessoas pensantes a suplan- do desenvolvimento, quando as mudan-
pelas ciências. Sem dúvida alguma, a edu- tar nossas condições de nascença, pois é ças estruturais do cérebro, incluindo a
cação é a grande promotora dessa cultura através de seu incrível potencial que am- sinaptogênese e a poda neuronal, consti-
que se supera a cada dia a uma vertiginosa pliamos recursos que nos possibilitam ul- tuem fatos relevantes na educação.
velocidade, ainda que muitas vezes desco-
bertas importantes foram aparentemente
feitas pelo acaso, como a descoberta da
NÃO SE ACEITA MAIS QUE A CRIANÇA SERÁ
penicilina, em 1928, feita pelo médico AQUILO QUE SUA GENÉTICA DETERMINOU, MAS
Alexander Fleming; a insulina em 1889,
por Oscar Minkowski e Joseph von
SE SABE QUE SERÁ AQUILO QUE A ESTIMULAÇÃO
Mehring; o raio X em 1895, por Wilhelm AMBIENTAL FARÁ COM ESSA GENÉTICA
20 psique ciência&vida www.portalespacodosaber.com.br
Há períodos críticos e períodos sen- explorar as novidades, brincando, jogan- sariamente a uma estimulação exagerada
síveis no processo de amadurecimento do, socializando-se. E depois tenha um e fora da idade adequada.
cerebral: assim, sabe-se que em qualquer tempo adequado para incorporá-las aos O respeito às etapas do desenvolvi-
lugar do mundo, por volta dos 12 aos 16 seus conhecimentos anteriores. Ou seja: mento neurológico e uma estimulação
meses, a grande maioria das crianças já que enriqueça e amplie suas sinapses ce- adequada a essas fases levam a uma verda-
anda. Sabemos também que o período REBRAISQUElCARÎOCADAVEZMAISAPTASA deira vantagem na corrida pelo sucesso na
em que há maior facilidade de aprender receber novos estímulos e os transformar aprendizagem não apenas nos primeiros
uma segunda língua como se fosse a lín- em novas aprendizagens. anos, mas nos anos escolares, pois a crian-
gua mãe vai até os 7 anos. Ou seja, nos Isso não nos leva a acreditar, muito ça desenvolve e consolida amplamente as
períodos sensíveis o cérebro é mais su- pelo contrário, que seja útil estimular de bases cognitivas que a apoiarão intelec-
jeito à estimulação do meio ambiente e forma exagerada as crianças, pois há um tualmente e as afetivas, que multiplicarão
NELESAEDUCA¥ÎOTEMENORMEINmUÐNCIA limite que esbarra nas etapas do neuro- as oportunidades de realmente aprender e
só por esse motivo já se pode ter ideia da desenvolvimento normal, que é sequente, desenvolver novos conhecimentos.
imensa importância da educação na vida não pula etapas. Os exageros não apenas Brincando se aprende na primeira in-
das crianças. E falo aqui da educação vi- são inúteis como contraindicados, pois fância. Letras e números podem até entrar
venciada, aquela que envolve também as os aspectos afetivos emocionais também na brincadeira, sem qualquer formalidade
brincadeiras infantis. são importantes na aprendizagem. E estes ou exigência pedagógica. Criança forma a
É claro que as pessoas podem apren- acabam sempre por serem prejudicados base de seu aprendizado tendo o cérebro
der durante toda a vida, mas a facilida- quando a criança é submetida desneces- respeitado no seu desenvolvimento.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ARQUIVO PESSOAL
O comprometimento
com a VERDADE
AS PEQUENAS MENTIRAS COSTUMAM SER RECRUTADAS
NAS RELAÇÕES QUE NASCEM E SOBREVIVEM NA
FINA CAMADA DA APARÊNCIA E CUMPREM UM PAPEL
NA MANUTENÇÃO DOS RELACIONAMENTOS
O
s puxões de orelha levados na /S EXAGEROS FALSAS CONlRMA¥ÜES E que a função da mentira nesses casos seja
INFÊNCIA ENSINAM QUE PARA ELOGIOS FAZEM PARTE DE UMA BAJULA¥ÎO superestimada: há evidências de que men-
QUE A FRANQUEZA NÎO SEJA IN- SUPERlCIALQUESUSTENTAVAIDADESnPRÉTI- tir geralmente não é uma boa estratégia
TERPRETADACOMORISPIDEZAL- ca aparentemente inofensiva e frequente- nem mesmo quando a intenção e as ex-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL
GUMASMENTIRINHASSEFAZEMNECESSÉRIAS mente usada no amparo de uma autoesti- pectativas nos levam a crer que sim.
)SSOlCAMAISCLAROÌMEDIDAQUEPERCE- ma mal construída. Uma série de pesquisas da Univer-
bemos os próprios sentimentos feridos Aprendemos que as pequenas menti- sidade de Chicago constatou que a sin-
COM A SINCERIDADE ALHEIA O QUE TORNA RASNÎONOSFAZEMMENOSHONESTOSPOIS ceridade tem mais valor do que costu-
A TROCA DE MENTIRAS NÎO APENAS ACEITA cumprem um papel na manutenção dos mamos dar a ela e torna a comunicação
como desejada em muitas situações. RELACIONAMENTOS .O ENTANTO Ï POSSÓVEL MAIS ElCAZ %M UM DOS EXPERIMENTOS
S
e tudo já anda difícil ultima- Temos que enfrentar muitas situa-
mente com a crise mundial, ções sofridas e desagradáveis na vida, nas
refletida na crise financeira, quais não temos como modificar ou evi-
na crise profissional, na crise tar os percalços do caminho. Nesses ca-
pessoal constatada pela geral sos, o caminho a percorrer tenderá a ser o
crise de valores e na crise social diante mesmo. Não se terá muito do que fugir. E
da degradação das relações familiares o que fará a grande diferença no percurso
e interpessoais, imagine se levarmos a desse caminho será a forma como esco-
vida com mau humor e negatividade! lheremos ultrapassá-lo.
Somente nos serviria para tornar Poderá ser mais árduo se escolhemos
mais pesada e difícil a caminhada e de passar com pessimismo, desesperança,
nada ajudaria a resolver nossos proble- vitimização ou revolta. Ou será ameni-
mas e desafios. zado, caso escolhamos ou consigamos
Daniele Vanzan é psicóloga e especialista em Psicologia Jurídica. Formou-se posteriormente em Terapia de Vida
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
Passada (Terapia Regressiva) e Constelação Sistêmica. Atualmente atende e ministra cursos para terapeutas
interessados nessas áreas de atuação. Autora de dois livros infantis (Editora Boa Nova): Não Consigo Desgrudar
da Mamãe, que aborda a ansiedade de separação, e Eu Sou o Rei de Todo o Mundo, que trata da problemática
das crianças que têm dificuldade de aceitar limites.
que deseje ou necessite fazer algo para À medida que negatividade e, por vezes, depressão. E
modificar aquele padrão negativo de isso lhe é trazido de forma intrínseca,
pensamento/comportamento. vamos nos como uma característica pessoal que
E esse desafio, muitas vezes, vai pas- conhecendo, não aparenta ter sido herdada ou apren-
sar pela necessidade de aprendermos a dida de nenhum dos genitores, respon-
aceitar nossa impotência diante dessa mais tranquila sáveis ou circundantes.
realidade, já que nenhum esforço feito e prazerosa se É natural termos pensamentos ne-
do lado de fora será suficiente para mo- gativos ou nos sentirmos mal-humora-
dificar o estado mental ou emocional tornará nossa dos, desesperançosos ou pessimistas
pessimista se o tóxico não desejar se es- vida. E uma lição diante de determinados momentos ou
forçar para tal. situações em nossa vida. Por si só, não
fundamental para se trata de um problema. O problema
Por trás da negatividade ser mais feliz é quando esse estado se prolonga por
P
recisamos do feedback das mente somos e do quanto percebemos o que realmente veem em cada um, fa-
outras pessoas para que nos- o outro como realmente é. lando o que gostariam de ouvir.
sa autopercepção possa ser o Preocupados com essa questão, Baseados nisso, eles criaram um
mais real possível. Precisamos dois psicólogos norte-americanos gráfico dividido em quatro quadrantes
também nos mostrar para os outros criaram, na década de 1950, um gráfi- (muito parecido com uma janela) em
para que eles possam ter a percep- co cujo objetivo era analisar como as que os dois quadrantes da esquerda
ção mais acertada sobre nós, logo, ser pessoas se relacionam com as outras representam a consciência que tenho
transparente é, também, uma atitude e consigo mesmas. Foi batizado como de mim mesmo (aquilo que sei sobre
fundamental para a saúde de nossa “a janela de Johari”, nome que deriva mim). Os dois quadrantes da direita
personalidade. O problema é que não da junção de parte dos primeiros no- representam tudo que não tenho cons-
nos mostramos por inteiro nem dize- mes dos dois criadores (Joseph Luth e ciência sobre mim mesmo. Os dois de
mos aos outros tudo o que percebe- Harrington Ingham). Eles partiram da cima definem o que os outros percebem
mos neles. A saúde da nossa relação observação de que, em grupo, as pes- em mim e os dois de baixo o que não
com as outras pessoas se dá em função soas tendem a mostrar o que os outros percebem em mim. Dessa forma, cada
do quanto nos mostramos como real- querem ver e a não revelar aos outros um dos quatro quadrantes representa
OS OUTROS
CONHECEM
da pelos outros, mas desconhecida por
ÁREA ABERTA ÁREA CEGA
nós. O quadrante inferior esquerdo re-
presenta o nosso “eu oculto”. Tudo que
está nessa parte nós conhecemos, mas
NÃO CONHECEM
OS OUTROS
os outros não. Finalmente, o quadran-
te inferior direito representa nosso in- ÁREA OCULTA ÁREA POTENCIAL
consciente, ou seja, nem nós nem os
outros conhecem. Preferimos chamar
essa parte de nosso eu de área poten-
cial, pois guarda coisas que podem nos
tornar pessoas melhores e mais livres. A SAÚDE DA NOSSA olhar. Por isso, precisamos aprender
Queremos dar destaque ao “eu a suportar o desconforto de receber
cego”, representado pelo quadrante RELAÇÃO COM AS um feedback que não nos agrada em
superior direito na janela de Johari. OUTRAS PESSOAS nome de nos tornarmos pessoas mais
Ele representa tudo que não sabemos inteiras, cada vez mais donas de nossas
sobre nós, mas que as outras pessoas
SE DÁ EM FUNÇÃO próprias rédeas, pois, quando não nos
sabem. É a área que nos expõe para o DO QUANTO NOS percebemos plenamente, colocamos
mundo e sobre a qual nossa ingerência nossas rédeas em mãos alheias.
é reduzida por falta de conhecimento
MOSTRAMOS COMO É igualmente importante darmos
de seu conteúdo. A única maneira de REALMENTE SOMOS feedbacks honestos e bem-intenciona-
reduzir a influência dessa área é abrir- dos aos outros que nos cercam. Não
E DO QUANTO
-nos para receber feedback dos outros. tenha medo de fazer isso! O outro
É uma atitude difícil, pois esses feed- PERCEBEMOS O pode não aceitar muito bem o que vai
backs podem afetar a imagem positi- OUTRO COMO ouvir. É humano. Saiba, porém, que
va que temos de nós mesmos e exigir quanto melhores intenções tivermos
que nos empenhemos na reconstrução REALMENTE É com nossos feedbacks, mais ficará cla-
daquilo que pensávamos estar pronto. ro nosso esforço em ajudar e mais fa-
Puramente a título didático, pensemos possível enxergar tudo, pois tendemos cilmente o outro se abrirá a rever sua
na situação de termos uma casca de a “não ver” coisas que irão nos desa- postura. Façamos a nossa parte, dando
feijão no dente ou termos esquecido gradar. Logo, a maneira mais eficaz feedbacks maduros e construtivos para
de fechar o zíper da calça. As pesso- de diminuir nosso “eu cego” é estar quem nos cerca e acolhendo os feed-
as veem, mas nós não. Agimos nor- abertos a receber o feedback construti- backs espontâneos que nos derem e,
malmente por não percebermos algo vo, que o outro está disposto a nos dar até mesmo, requisitando-os às pessoas
que somente os outros podem ver. A de presente. O outro que me ameaça bem-intencionadas. O ato de amadu-
IMAGENS: 123RF E SHUTTERSTOCK E ACERVO PESSOAL
menos que nos observemos detalhada- é o mesmo que me liberta, pois está recer é, também, o ato de reduzir cada
mente diante do espelho, dependere- nas mãos dele a ampliação do meu vez mais nosso “eu cego”.
mos de alguém disposto a nos ajudar
que nos diga o que está acontecendo
para que tomemos uma providência. Júlio Furtado é professor, palestrante e coach. É graduado em
Psicopedagogia, especialista em Gestalt-terapia e dinâmica de grupo.
É útil e possível passarmos horas É mestre e doutor em Educação. É facilitador de grupos de desenvolvimento
diante do espelho, analisando deta- humano e autor de diversos livros. www.juliofurtado.com.br
lhadamente o que vemos, mas é im-
Os efeitos da
INFIDELIDADE
A Entender a
infidelidade conjugal tal- A fase aguda dessa experiência
vez seja um dos temas é caracterizada pela revelação do
mais complexos no âmbi- infidelidade conjugal comportamento de infidelidade e
to das relações afetivas. e as circunstâncias nesse momento tudo é vivenciado
Carregado de intensa reati- de forma intensa e ambivalente,
vidade emocional, sofrimento e ao qual ela emerge num processo de grande sofrimen-
forte apreciação negativa, tanto se torna um grande to, estranhamento de si e do outro.
no aspecto moral quanto no as- A infidelidade pode ter efeitos
pecto religioso, a infidelidade é desafio para os negativos no casamento e se cons-
um comportamento que ocorre profissionais que titui como uma das experiências
com frequência nos relaciona- mais temidas e devastadoras de
mentos amorosos. trabalham com um relacionamento amoroso, po-
No consultório, a infidelidade casais que vivenciam dendo levar à ruptura do vínculo
aparece representada por um tur- (Pittman, 1994).
bilhão de sentimentos intensos e essa experiência. De acordo com Scheeren,
desorganizadores. Raiva, tristeza, O tratamento Apellániz e Wagner (2017), as ra-
ciúmes, dor, desesperança, impo- zões para a infidelidade são as mais
tência, vergonha, culpa, mágoa, requer um olhar variadas, podendo-se notar um
ansiedade, confusão em relação aos sistêmico ponto em comum entre os estudos.
próprios sentimentos e à vida que A maioria das pesquisas aponta
se construiu, dúvida em relação a si A infidelidade conjugal é vi- para fatores relacionados à insatis-
mesmo, sensação de perda de con- venciada como um trauma sendo fação com o relacionamento conju-
trole, medo de perda do cônjuge, comum, na tentativa de nomear, de gal e/ou com o cônjuge. Ressaltam,
desejo de morrer ou de desaparecer representar ou de buscar entendi- ainda, a busca de amor romântico;
e desejo de vingança são emoções mento para essa dor, a equiparação aspectos relacionados à sexualida-
que se misturam. dessa vivência a acidentes e catás- de, como busca de novas experiên-
Desejo de isolamento e de não trofes ambientais como forma de cias sexuais ou insatisfação sexual,
querer ver o cônjuge alterna-se aos demonstrar seu potencial destruti- busca de liberdade e quebra da roti-
desejos de proximidade e de expli- vo e desorganizador. Surgem falas na, infidelidade como uma resposta
cações minuciosas sobre o ocorri- como: “de repente, tudo desmo- à traição sofrida e oportunidade ou
do, associado ao medo de perder o ronou”, “eu vivi um tsunami”, “me um contexto propício à traição.
cônjuge e todos os projetos e cons- sinto devastada, parece que vivi Na pesquisa realizada por es-
truções que decorrem da união. um terremoto”. sas autoras, que teve como objetivo
conhecer a vivência da infidelida-
de em homens e mulheres, foram
entrevistados 237 sujeitos que re-
ferenciaram terem sido infiéis ao
companheiro atual, sendo a amos-
tra composta de 106 homens e 131
mulheres com idade entre 21 e 73
anos. Ficou evidenciada similarida-
de na proporção dos comportamen-
tos de infidelidade entre homens e
G
I
GG mulheres, o que demonstrou uma
G
G mudança se comparado com os es-
GI tudos das décadas de 1980 e 1990,
ËH
GGh que demonstravam que a infidelida-
GG9
de era um comportamento que pre-
IGG
G
GG
G
dominava nos homens. A pesquisa
IG mostrou, ainda, que os homens
justificam a infidelidade na busca
tradere significa “abandonar-se a missão de narrações”, “tradição”. disfuncionais e, ainda, pelo fato
alguém”, “dedicar-se a uma ativi- Note-se que o nomem agentis (nome de que o enfrentamento de uma
No consultório,
G
G
GGIIGG9
G9Ib9
9
GhG9
G9IG9
PG9G
G
9
sexual mais íntimo, sendo vista Negação, instabilidade Um novo modelo social e rela-
como um mero objeto de prazer. cional é instaurado, e no âmbito das
Na década de 1930, a Revolu- emocional, ansiedade, relações afetivas o amor conjugal
ção Industrial colocou o mundo desesperança, ganha novos contornos pelo direito
urbano no centro, surgindo assim o de escolha do cônjuge e do consen-
fenômeno da migração da massa de sintomas somáticos, timento mútuo.
trabalhadores para os grandes cen- pensamentos É apenas na Modernidade, em-
tros urbanos, em busca de melhores basado pelas inf luências da ideolo-
oportunidades e condições de vida. intrusivos do tipo gia burguesa, que o casamento as-
Esse fenômeno abriu espaço para flashbacks, pesadelos, sume a dimensão afetiva integrando
duas novas classes sociais, os em- amor, escolha pessoal e sexo na rela-
pregadores e os empregados. As re- medo, desmotivação ção conjugal.
lações de poder, que na antiga aris- são reações naturais Esse modelo de relacionamento
tocracia se estabeleciam por meio trouxe aos casais muitas expectati-
da herança, na sociedade burguesa no período de vas acerca do amor e da felicidade
industrial passam a ser conquista-
das, e é a profissão que confere sta-
assimilação da conjugal e familiar.
Baseado no amor romântico,
tus e espaço social (Galano, 2006). informação esse modelo tinha como premis-
sas: o amor à primeira vista, o
Exigências O casamento abandona o cará- amor eterno, a noção de par com-
www.portalespacodosaber.com.br
Infidelidade
Um coração que
PULSA e POSTA
Em tempos atuais,
E
nquanto experimentamos escorregar montanha abaixo, escapan-
a velocidade das transfor- do de certezas que tendem a substituir
não há dúvidas de mações, pausas são neces- a realidade. Convidamos o leitor a ver
sárias para a compreensão o fenômeno do relacionamento virtu-
que as experiências do caminho das necessidades daquilo al a partir de outros olhos e com isso
advindas com que chamamos de progresso não ser
subentendido como um caminho a
relativizar a centralidade que damos
a este e tantos outros hábitos “emer-
a internet, e ser percorrido a qualquer custo. Se
hoje nos encontramos na chamada
gentes” da cibercultura, inaugurando
olhares e perspectivas para uma possí-
especialmente “sociedade líquida”, espécie de termo vel apropriação simbólica do fenôme-
guarda-chuva para definir o tempo no e sua interação com o real e o dese-
com as redes presente e de onde repousam fenô- jo pulsante de alcançar a vida em toda
sociais, impactaram menos de profundas mudanças no
comportamento humano, dentre eles
sua riqueza e múltiplas perspectivas.
Nossa esperança é que a Psicologia
nosso imaginário um impulso generalizado de precari-
zação e velocidade, ausência de senso
venha contribuir para a superação da
“doença da literalização” e da perda das
acerca do amar de propósito, inconsistência e efemeri- potências imaginativas e as redes de in-
dade nas relações (o famoso “nada foi terdependência do real: cada aborda-
e influenciaram feito para durar”), não seria exagero gem vem iluminar alguma região som-
a forma como perguntarmos: o que podemos sentir
enquanto efeito colateral dessa “revo-
bria, trazer alguma contribuição a um
ponto diferente e alimentar a esperan-
nos relacionamos lução antropológica” em termos de ça de que gradativamente possamos ta-
relacionamento interpessoal? Como
socialmente interpretar as novas necessidades do Ao tratar de um
amar em tempos digitais?
Por Thiago Domingues Adiantamos ao leitor amigo que fenômeno tão múltiplo
neste curto artigo não conseguiremos e potencialmente
dar conta dessas perguntas. É muito
provável que outras perguntas surjam dimensionável como
no processo. Ao tratar de um fenô-
meno tão múltiplo e potencialmente
relacionamento virtual,
dimensionável como relacionamento não nos colocaremos
Thiago Domingues é psicólogo junguiano,
professor de orientação vocacional,
virtual e, tampouco, sobre a infidelidade, na posição (delicada)
atualização profissional em transtorno seja ela dada no meio virtual também.
ansioso e depressivo. Especialista em Não nos colocaremos na posição (de- de projetar o
Filosofia Contemporânea e História.
licada) de projetar o impacto ou for-
Tem treinamento profissional avançado
mular efeitos deterministas nos pro-
impacto ou formular
em Integral Somatic Psychology (ISP). É
practitioner Emotional Freedom Techniques cessos imaginativos e sociais. efeitos deterministas
(EFT). Atende em consultório e coordena Como Sísifo e sua pedra,
nos processos
SHUTTERSTOCK
C
se libertar da ilusão e da desesperança.
onsideramos o virtual como e acompanhar a compreensão de que
algo em sua potência de existir. tudo aquilo que recebe a alcunha de
Se algo pode ser encontrado no terre- “humano” continua sendo um misté-
no do real, assim também poderá ser rio para nós. Esse numen é misterioso,
ria ser considerada, através das redes imaginário acerca do amar. O que dis-
sociais, uma forma medial de estabele- tinguimos em nossa vida como amar
cer relações criativas e dinâmicas. é uma coexistência legítima e ancora-
Hoje, não é mais possível se re- da no presente com outro alguém, já
lacionar sem algum tipo de interati- que a “intenção de amar no amar nega
vidade virtual. Desde a forma com o amar, e a conduta que queremos
que se procura a pronúncia de uma seja amorosa aparece manipuladora
palavra sueca até a expectativa de um (Maturana, 2009, p. 83).
encontro amoroso, tudo tem lugar na Um dos últimos exemplos des-
rede, na civilização da virtualização sa realidade sobre o amar em tempos
dos afetos. on-line, e talvez por isso superando Personalidade
extrovertida e introvertida
Se existe algo que mudou muito qualquer tentativa caricata de descre-
Fundador da Psicologia Analítica, o
em tão pouco tempo certamente foi ver o avanço de onde chegamos em psiquiatra e psicoterapeuta suíço
o telefone. termos de avanços tecnológicos, é o Carl Gustav Jung (1875-1961) formou
Mudamos as formas de nos rela- filme Her (Ela/2014). Ao explorar a os conceitos de personalidade ex-
cionar com o telefone e a partir dele. realidade dos relacionamentos on-line trovertida e introvertida, arquétipo e
Nessa hibridez comportamental pe- com a lente dos símbolos e metáforas, inconsciente coletivo, o complexo,
dimos comida pelo telefone com a o diretor Spike Jonze nos apresenta o a sincronicidade. A classificação ti-
mesma rapidez com que é possível escritor Theodore ( Joaquin Phoenix), pológica de Myers Briggs (MBTI), um
“fazer amizades”. script do homem moderno em que instrumento popular psicométrico, foi
desenvolvida a partir de suas teorias.
Das grandes cabines, operadas o mundo interno deixa de ser uma
Seu trabalho continua influenciando a
por telefonistas, aos pequenos e cada zona privilegiada de experiências para
Psiquiatria, Psicologia, Ciência da Reli-
vez mais velozes smartphones, esse apostar, com certa dose de constrangi-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
MINDSET de crescimento
MINDSET OU MENTALIDADE É UM CONCEITO IMPORTANTE,
PODENDO SER ENTENDIDO COMO UM CONJUNTO GERAL
DE CRENÇAS, REGRAS E VALORES QUE É CONSTRUÍDO AO
LONGO DA VIDA E INFLUENCIA NOSSA VISÃO DE MUNDO
C
arol Dweck é uma psicóloga IMUTABILIDADE DAS COISAS FAZ COM QUE Podemos relacionar as ideias de
norte-americana que estu- resistam à aquisição de novos conheci- Carol Dweck com uma série de outras
da há décadas a motivação mentos e habilidades. teorias que convergem na mesma dire-
HUMANA $WECK SINTETIZOU O mindset de crescimento está fun- ção. A teoria da autodeterminação, por
pesquisas na área de Psicologia social, dado na ideia de que a inteligência exemplo, surgiu nas décadas de 1970 e
do desenvolvimento e da personalida- pode ser desenvolvida, o que leva ao 1980 a partir do trabalho dos pesqui-
de para construir uma teoria poderosa desejo de aprender e, portanto, a uma sadores Edward L. Deci e Richard M.
sobre a mente humana, descrita em seu tendência a enfrentar desafios. Por ado- Ryan sobre motivação. É uma teoria que
best-seller Mindset – a Nova Psicologia do tarem crenças pessoais, nas quais a ca- liga personalidade, motivação humana
Sucesso (publicado no Brasil em 2017 pacidade humana é mutável, as pessoas e ótimo funcionamento, propondo que
pela Editora Objetiva). Mindset signi- com mindset de crescimento estão mais existem dois tipos principais de motiva-
fica “mentalidade” na tradução literal abertas ao desenvolvimento de novos ção, a intrínseca e a extrínseca, e que am-
da língua inglesa. Basicamente, Dweck comportamentos e habilidades, através bos são forças poderosas na formação de
acredita que existem dois tipos funda- do esforço e da experiência. Tendem a quem somos e como nos comportamos.
mentais de mentalidade. enxergar erros como oportunidades de De acordo com a teoria da autode-
O mindset fixo é uma mentalidade APRENDIZADOEAPERSEVERARMESMOME
terminação, a motivação extrínseca é
que se opõe à capacidade de transfor- diante adversidades. São mais flexíveis um impulso para se comportar de cer-
mação do ser humano. A inteligência é e engajadas na busca de soluções para tas maneiras que vem de fontes externas
vista como estática, levando a um de- desafios diversos. As pessoas com min- e resulta em recompensas externas. As
sejo de parecer mais esperto e levando dset de crescimento aprendem com as FONTES PODEM SER EXEMPLIlCADAS COM
à tendência de evitar desafios, desis- críticas e descobrem lições e inspiração prêmios e elogios, avaliações de fun-
tir com facilidade frente a obstáculos no sucesso dos outros. cionários, pontos ou sistemas de classi-
e de ver o esforço como infrutífero. Ao contrário das pessoas que ado- lCA¥ÎOEMORGANIZA¥ÜESADMIRA¥ÎOEO
O mindset fixo leva a ignorar feedback tam um mindset FIXOQUEREALIZAMME
respeito dos colegas ou amigos. Já a mo-
útil e se sentir desafiado pelo sucesso nos do que seu potencial possibilita tivação intrínseca está ligada a impulsos
dos outros. As pessoas de mentalidade por terem uma visão determinística da de origem interior, que nos motivam a
fixa têm tendência a ser rígidas consi- vida, os indivíduos com o mindset de agir de certas maneiras. Os motivos são
go mesmas e com as demais. Tendem crescimento estão sempre a se superar internos, como nosso senso pessoal de
a criar uma expectativa de fracasso, em termos de performance, e como moralidade, nossos interesses e nossos
mesmo antes de tentar algo, e são fo- decorrência têm um grande senso de valores fundamentais. A autodetermina-
cadas no problema, com baixa motiva- livre arbítrio, acreditando no poder da ção, portanto, se refere à capacidade ou
ção para solucioná-lo. A premissa da vontade e da autodeterminação. AOPROCESSODEFAZERASPRØPRIASESCOLHAS
doi:10.1037/a0012801
outra forma, ao alimentar expectativas
positivas de sucesso de forma otimis- Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento,
ta, é mais fácil persistir na busca dos diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto
objetivos e ter maior disponibilidade Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo
Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o
de recursos para atingi-los. Por outro
Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).
lado, ao nutrir pensamentos determi-
Não esqueça o
TEMPERO
BRASILEIRO
REFERÊNCIAS INTERNACIONAIS
SÃO MUITO VALIOSAS, MAS ANTES DE
USAR CONHECIMENTOS QUE DERAM
CERTO NO MUNDO É NECESSÁRIO
CONSIDERAR AS PECULIARIDADES
DO NOSSO MERCADO
E
stamos acostumados a ver, ler Ocorre que, muitas vezes, nos es-
e ouvir grandes mestres do RH quecemos que nenhuma receita de bolo
mundial com ideias, protocolos CONTÏM O SABOR DO RESULTADO lNAL )SSO
de atendimento, histórias moti- porque o que lá se aplica aqui pode não
VACIONAISEUMINlNITOVOLUMEDECON- funcionar. Como exemplo, podemos
teúdo voltado para o desenvolvimento APRESENTARDUASPOTÐNCIASlNANCEIRASQUE gócios que, pelo visto, impera até hoje
PESSOALEPROlSSIONAL aportaram no Brasil e, com o seu modo em muitos setores comerciais.
Isso é ótimo! Como professor univer- de operação padrão, não resistiram à lei Desde a promoção da Black Friday,
sitário utilizamos os Cases de Harvard do Gerson que impera por aqui. O HSBC que no Brasil é metade do dobro de on-
em sala de aula com nossos alunos de E O #ITIBANK lNALIZARAM OU MUDARAM tem, até a impossibilidade de se ter um
pós-graduação. A instituição onde atua- sua forma de interagir com o mercado atendimento digno na hora de cancelar
mos mantém essa parceria que enrique- lNANCEIRO NO MESMO LUGAR ONDE OUTRAS um plano de telefonia ou pacotes de TV
ce de forma fantástica nosso ambiente instituições – nacionais – possuem fatu- por assinatura. Algumas empresas não
de troca de conhecimentos. ramento recorde a cada ano. se colocaram no século XXI e estão pra-
Também é possível entrar em qual- Para quem não está familiarizado, ticando um ritual de harakiri (suicídio
quer boa livraria e sair com as bolsas a lei do Gerson se refere a um antigo ritualístico japonês) em câmera lenta.
cheias de volumes e mais volumes de comercial de TV sobre uma marca De fato, nossa cultura inverte a fal-
livros voltados para esse tema em parti- de cigarros que oferecia um tamanho ta de estrutura e de responsabilidades,
cular; acessar canais do Youtube e assis- maior no produto pelo mesmo preço. dando a quem se submete a sacrifícios
tir a aulas muitas vezes em tempo real O famoso jogador de futebol Gerson dotes heroicos. É comum encontrar nas
E PARA lNALIZAR O PERlL MIDIÉTICO ATU- lNALIZAVA O ANÞNCIO DIZENDO h0ORQUE REDESSOCIAISTEXTOSQUEGLORIlCAMPES-
al, temos os podcasts que nos trazem os brasileiro gosta de levar vantagem em soas que andam quilômetros para ir à
gurus direto para o nosso cérebro en- tudo. Certo?”. ESCOLAlLHADEFAXINEIROQUEVIRAVANOI-
quanto estamos nos transportes públi- Emblemático slogan que não caiu tes estudando para passar no vestibular
cos, indo e vindo todos os dias de casa SOMENTENOGOSTOPOPULARERAOREmEXO de Medicina, pessoas afrodescendentes
para o trabalho. da cultura nacional das relações de ne- que conseguiram cargos de alta remune-
um diálogo, e não apenas uma relação A verdade oculta nesse trecho é que também humanas. Fórmula mágica só
fria comercial. Da mesma forma que a O PROlSSIONAL QUE DESEJA SUCESSO NO existe em conto de fadas.
cultura comercial em alguns países da
África e em quase todos os mercados João Oliveira é doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de
Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br). Entre seus livros estão: Relacionamento em
existentes na Índia, todos esperam uma Crise: Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções!; Jogos para Gestão
boa conversa com o cliente, criar um elo de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional; Mente Humana: Entenda
emocional, nem que seja aos gritos. Pen- Melhor a Psicologia da Vida; e Saiba Quem Está à sua Frente – Análise Comportamental
pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).
sar sobre isso requer amadurecimento e
O crescimento do
TRANSTORNO
OPOSITIVO
DESAFIADOR
A prevalência do TOD em diagnóstico
isolado atualmente é de aproximadamente
6% a 16%; a incidência como comorbidade
secundária no TDAH é de 50%, e no autismo
esse percentual é de 29%
Por Emanoele Freitas
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IMAGENS: SHUTTERSTOCK
psique ciência&vida 57
SÍNDROME
T
ranstorno opositivo de- A prevalência do TOD em diag- Pesquisas recentes
safiador (TOD) é um nóstico isolado hoje é de aproxi-
transtorno do neurode- madamente 6% a 16%; a incidência demonstraram
senvolvimento de diag- como comorbidade secundária no que os níveis
nóstico independente, TDAH é de 50%, e no autismo esse
mas é frequentemente estudado em percentual é de 29%. de andrógenos
conjunto com o transtorno do déficit de O quadro é de maior incidência adrenais dos
atenção com hiperatividade (TDAH) nos meninos, para a primeira e segunda
ou com o transtorno de conduta (TC). infância, e de incidência igualitária em pacientes com
Novos estudos indicam que o TOD meninas e meninos na adolescência. TOD são mais
consiste em múltiplas dimensões, e es- Hoje, os números de casos vêm
sas diferentes dimensões podem estar subindo, mas sugere-se que tais dados altos que os dos
associadas a transtornos externalizantes sejam mais relevantes porque os testes escritos como
e internalizantes, posteriormente. específicos, bem como o conhecimento
A característica principal do TOD dos profissionais, estão favorecendo o controle ou até
é estar incluído nos transtornos dis- reconhecimento dos sintomas princi- mesmo de crianças
ruptivos, cujos sintomas principais pais, que em sua grande maioria podem
são a criança apresentar um padrão de ser detectados de forma eficaz por meio com outros
comportamento negativo, desafiador, de protocolos específicos. diagnósticos,
desobediente e hostil, todos com inten-
sidade, frequência e duração acima do Correlatos incluindo o TDAH
esperado para sua idade, e, em alguns Hormônios e neurotransmisso-
casos, o descontrole emocional pode le- res – Uma das linhas atuais de maior que possam correlacionar fatores espe-
var à agressividade e a alguns episódios investigação são os estudos com base cíficos para a etiologia do TOD.
de violência verbal e física. nos hormônios e neurotransmissores, Pesquisas recentes demonstraram
que os níveis de andrógenos adrenais
dos pacientes com TOD são mais al-
tos que os dos escritos como controle
ou até mesmo de crianças com outros
diagnósticos, incluindo o TDAH. Ou-
tra alteração encontrada é na frequência
cardíaca, que pode chegar a ser muito
alta após provocação e frustração, mes-
mo comparada à de outras crianças na
mesma situação.
Genéticos – Recentemente, estu-
dos levaram a associarem genes espe-
cíficos para o TOD aos sintomas desa-
fiadores de oposição. Trata-se dos genes
receptores para andrógeno DAT, DRD2
e D-beta-H.
A criança com TOD Uma série de marcadores neurobio-
apresenta um padrão lógicos, da condutância da pele, reativi-
de comportamento
GG
9
dade do cortisol basal reduzida, anor-
desobediente e hostil, malidades no córtex pré-frontal e na
com intensidade amígdala são fatores que continuamen-
e frequência acima te estão sendo estudados e reavaliados
do esperado para se chegar a um aspecto específico
que explique melhor o TOD.
Cognitivos, emocionais e ambien-
tais – Fatores temperamentais relaciona-
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PARA SABER MAIS
DETECTANDO SINTOMAS
A primeira etapa é a observação e anotação dos sinto-
mas em três etapas: frequência, duração e intensidade
dos comportamentos disruptivos. A criança não apresenta
de uma faixa normativa para o nível de desenvolvimento,
o gênero e a cultura do indivíduo.
B – A perturbação no comportamento está associada a
tais sintomas somente em casa, vai apresentar em todos sofrimento para o indivíduo ou para os outros em seu
os locais que frequenta e, dependendo do fator causador, contexto social imediato (p. ex., família, grupo de pares,
poderá apresentar maior intensidade ou não. colegas de trabalho) ou causa impactos negativos no fun-
Outro meio de detecção é através do quadro de diagnós- cionamento social, educacional, profissional ou outras áre-
tico clínico do DSM-V, que nos orienta com os critérios as importantes da vida do indivíduo
para diagnóstico. Código 313.81 (F91.3) C – Os comportamentos não ocorrem exclusivamente
durante o curso de um transtorno psicótico, por uso de
A – Um padrão de humor raivoso/irritável, de comporta-
substância, depressivo ou bipolar. Além disso, os critérios
mento questionador/desafiante ou índole vingativa com
para transtorno disruptivo da desregulação do humor não
duração de pelo menos seis meses, como evidenciado por
são preenchidos.
pelo menos quatro sintomas de qualquer das categorias
seguintes exibido na interação com pelo menos um indiví- ESPECIFICAR A GRAVIDADE ATUAL:
duo que não seja irmão. Leve: Os sintomas limitam-se a apenas um ambiente (p. ex., em
casa, na escola, no trabalho com os colegas).
HUMOR RAIVOSO/IRRITÁVEL
Moderada: Alguns sintomas estão presentes em pelo menos dois
– Com frequência perde a calma. ambientes.
– Com frequência é sensível ou facilmente incomodado. Grave: Alguns sintomas estão presentes em três ou mais am-
bientes.
– Com frequência é raivoso e ressentido.
COMPORTAMENTO QUESTIONADOR/ DESAFIANTE
Fonte: Manual
4 – Frequentemente questiona figuras de autoridade ou, Diagnóstico e
no caso de crianças e adolescentes, adultos. Estatístico de
5 – Frequentemente desafia acintosamente ou se recusa a Transtornos
Mentais – DSM-5.
obedecer as regras ou pedidos de figuras de autoridade. 5ª. ed. Porto Alegre:
6 – Frequentemente incomoda deliberadamente outras Artmed, 2014.
pessoas.
7 – Frequentemente culpa outros por seus erros ou mau
comportamento.
ÍNDOLE VINGATIVA
8 – Foi malvado ou vingativo pelo menos duas vezes nos
últimos seis meses.
NOTA: A persistência e a frequência desses comporta-
mentos devem ser utilizadas para fazer a distinção entre
um comportamento dentro dos limites normais e um com-
portamento sintomático. No caso de crianças com 5 anos
ou mais, o comportamento deve ocorrer pelo menos uma
vez por semana durante no mínimo seis meses, exceto se
explicitado de outro modo (critério A8). Embora tais cri-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E FREEPIK
sintomas somente
gue realmente compreender que tais de medicação para controlar os sinto-
em casa esforços são para sua mudança e re- mas pertinentes ao TDA-H e minimizar
dução dos sintomas. O TOD não tem os efeitos coligados dos transtornos.
se verificaram a redução da irritabili- uma cura específica, mas uma redução O que mais ouvimos, quando se
dade e o controle da frustração. significativa dos sintomas, chegando inicia um atendimento terapêutico, e
Ainda não há estudos que com- à possibilidade de autorregulação por isso é em quase 90% dos casos, é que
provem efetivamente a eficácia real de parte da criança/jovem. somente a criança necessita de aten-
nenhum dos fármacos, mas, sim, uma Quando a criança apresenta o TOD dimento, pois os pais visam apenas
redução dos sintomas, levando em como uma comorbidade concomitante corrigir o que está visível. Entretanto,
consideração cada caso. Analisando- ao TDAH se faz necessária a introdução se esquecem que todos são afetados
-se os efeitos adversos, alterando-se as pelo transtorno. Muitos casais não
dosagens e monitorando-se o processo compreendem que suas ações e atos
pode-se chegar ao fármaco mais propí- interferem de forma crucial no desen-
cio à criança. volvimento e eficácia do tratamento.
Infelizmente, os sintomas do TOD, A criança/jovem, em todos os mo-
em sua grande maioria, não são reduzi- mentos, sente o que de fato aconte-
dos somente com a terapia e o treina- ce na família e se ele(a) é realmente
mento parental. Em 2,7% a 40% de ocor- compreendido(a) ou não.
rência do caso é necessário o tratamento O treinamento parental é a base
farmacológico conjunto para que se al- Sintomas para compreender o que realmen-
cancem os resultados esperados. Aspectos sintomatológicos psiquiá- te acontece com a pessoa com TOD,
tricos. Como diferenciar os sintomas como eles se sentem, reagem e inter-
Em conjunto nas comorbidades: Sintomas – hos- pretam o seu entorno. O treinamento
O transtorno opositivo desafiador, tilidade com os pais (TDAH - e TOD consiste em preparar os pais e respon-
quando isolado, é tratado com terapia +); destrutividade (TDAH - e TOD sáveis para intervir de forma eficaz,
+); distração/desatenção (TDAH + e
psicológica específica para modelação com controle da situação. O primeiro
TOD -); dificuldade escolar (TDAH ++
de comportamento. É a cognitiva- passo é reconhecer os sintomas do
e TOD - ou +); sentimento de culpa
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E FREEPIK
-comportamental. Outro aspecto é o (TDAH + e TOD -); comportamento TOD, saber quando é uma birra (por-
treinamento parental em conjunto, antissocial na família (TDAH - e TOD que toda criança faz birra) e quando é
para que todos os procedimentos que - ou +). uma crise, saber essa diferença facilita
são utilizados nas terapias sejam refor- muito o segundo passo, que é saber
çados em casa. Assim, a criança conse- qual a atitude a ser tomada.
A
leitura de uma obra literá- Fanáticos são pessoas que abra- põem sua tribo para esconjurar todo
IMAGENS: SHUTTERSTOCK, DIVULGAÇÃO E ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR
ria pode nos levar a mergu- çam uma causa, ou uma ideia, de o mal que enxergam.
lhar nas águas profundas de forma a acolher todos os indivíduos O escritor premiado Amós Oz fa-
onde emergem nossas emo- que comunguem com essas mesmas leceu em dezembro de 2018, aos 79
ções e processos imaginativos que ge- crenças. Formam tribos com uma anos. Por ser um judeu israelense, par-
ram um melhor conhecimento da na- visão apaixonada e, em lugar da f le- ticipou do movimento “Paz Agora”.
tureza humana. Essa ação nos ajuda a xibilidade, def inem sua predileção Nele, ministrou palestras para cons-
estruturar o pensamento lógico para, cega em direção ao que foi concebi- cientizar seu povo e os árabes palesti-
em lugar das certezas, construirmos do como uma verdade incontestável. nos de um combate “entre o certo e o
ideias que possam ser alteradas à me- Exaltados, multiplicam sua paixão certo” que ele denominou de “Guerra
dida que evoluímos. pelo número de indivíduos que com- imobiliária”. Para Amós, o fanatismo é
Faxina da alma
A VIDA EM SI É UMA PRODUÇÃO
3).'5,!215%35202%%.$%
0%,!32%6%,!%3!/,/.'/$/
%.2%$/2%#(%!$/$%42!'¡$)!3
!-/2%3).4%.3/3%2%&,%8%3
3/"2%!).#%24%:!$!6)$!
h!VIDAEMSINOSPREGAPE¥AS%LANOSINDUZAERROSv
CITA¥ÎODOlLME
F
ilme dirigido e com roteiro escrito por Dan Fogelman, que
também dirige o aclamado seriado This Is Us (recomendadíssi-
mo). Daqueles que chamamos de “faxina da alma”, como disse
na atual quinta temporada a personagem Brianna (June Diane
Raphael) de Grace and FrankiePARAJUSTIlCAROTEMPOQUEDEVEZEM
QUANDOTIRAPARAVERlLMEShDECHORARv
É preciso lenço de papel para acompanhar essa singular produção
que começa em um clima “homenagem a Tarantino” e prossegue entre
SUSTOSEREVELA¥ÜESMUITASTRAGÏDIASAMORESINTENSOSEREmEXÜESSOBRE
AINCERTEZAQUEVIVERTRAZEPRINCIPALMENTEBRINCACOMAQUESTÎODO
MITO DO HERØI QUE TRADUZIDO PARA O QUE Ï REALISTICAMENTE HUMANO
não se encaixa em nada que não contenha uma enorme ambiguidade
EAMARCANTEAMBIVALÐNCIAQUECARACTERIZAQUALQUERSUJEITO¡SABIDO
O QUANTO A ESTRUTURA DA NARRATIVA DO HERØI SE CONSTITUI UMA FØRMULA
PROPULSORADASPRODU¥ÜESCINEMATOGRÉlCAS
!TRAMACOME¥AASEDESENVOLVERAPARTIRDOCASALPROFUNDAMENTE
APAIXONADO7ILL/SCAR)SAAC E!BBY/LIVIA7ILDE QUESERÎONOFU
TUROOSAVØSDE%LENA$EMPSEY
'ONZÉLEZ,ORENZA)ZZO QUENARRAA
HISTØRIA/ESPECTADORSØDESCOBREANARRADORANASCENASlNAISQUANDO
ELAESTÉLAN¥ANDOSEULIVROEFAZENDOALEITURAEMUMALIVRARIA/ROTEIRO
ENTÎOPASSEARÉPORDIFERENTESÏPOCASCONTANDOOSELEMENTOSQUELIGAM
VÉRIOSPERSONAGENSENVOLVIDOSAPARTIRDATRAGÏDIAQUEOCORRECOMO
APAIXONADO CASAL E QUE DETERMINA A VIDA DE SUA lLHA $YLAN /LIVIA
#OOKE !PØSAMORTETRÉGICADOSPAISAMENINAACABASENDOCRIADA
PELOAVÙINTERPRETADOPELOATORQUEFAZOQUERIDO3AULDEHomeland,
Mandy Patinkin.
/ INÓCIO ABSURDO Ï NARRADO POR 3AMUEL , *ACKSON QUE FAZ UMA
RÉPIDAAPARI¥ÎOCOMOELEMESMOMARCANDODEFORMAINQUESTIONÉVEL
AHOMENAGEMA4ARANTINOQUESERÉCITADOPELOCASALPROTAGONISTAQUE
SONHAFAZERUMlLMEBASEADONOSCONCEITOSDOCINEASTA%MUMAFESTA
7ILLE!BBYVÎOCOMOOCASALPERSONAGEMDEPulp Fiction (1994). É o
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momento em que ele pede a mão da moça
EM CASAMENTO DANDO INÓCIO Ì SEQUÐNCIA
DEFATOSQUEDEPOISANETAIRÉNARRARCOMO
história de sua família.
42!5-!3%35202%3!3
h4ALVEZ OS HERØIS E VILÜES DE NOSSAS
HISTØRIAS NA VERDADE SEJAM SØ lGURANTES
EMUMlLMEMUITOMAIORv%SSACITA¥ÎODO
lLME MOSTRA A TESE CENTRAL DESSE ROTEIRO
do mesmo criador de Amor a Toda Prova
(Crazy, Stupid, Love/2011), em que os per-
sonagens apresentam lados encantadores e
outros nem tanto ou até mesmo assustado-
RES#ADAUMVIVESEUPRØPRIOTORMENTODE
MANEIRAPRØPRIA.ÎOSEPODESEQUERDIZER
QUEÏUMlLMESOBRECAPACIDADEDERESILI
ÐNCIAPOISALGUNSENFRENTAMSUASQUESTÜES A trama começa a se desenvolver a partir do casal Will (Oscar Isaac) e Abby (Olivia Wilde), que
e outros desistem ou fogem delas, mos- serão no futuro os avós de Elena Dempsey-González (Lorenza Izzo), que narra a história do longa
TRANDOhAVIDAASSIMCOMOELAÏvOUA Vida
em Si COMO ESCOLHE SEU AUTOR ,OGO DE ZÉLEZ$ÓAZQUEAINDACRIAN¥AEMPASSEIO CANCELADA OU REALIZADA UM MOMENTO DE
INÓCIOVEREMOSSERTOCADOOTEMANAQUE
A .OVA )ORQUE ACABARÉ SENDO ESPECTADOR extrema alegria ou de desespero lancinan-
le que costuma ser o maior receio de um DOACIDENTEOCORRIDOCOM!BBY%SSEFATO TE UMA HISTØRIA QUE SE PENSAVA DE LONGA
psicoterapeuta, o suicídio de um paciente, LHE RENDERÉ UM GRANDE TRAUMA QUE POR CONTINUIDADEESEVÐDEREPENTEINTERROM
o que acontece com a dra. Cait Morris SUA VEZ INmUENCIARÉ NOS ACONTECIMENTOS PIDA DEIXANDO UM VAZIO INSUPORTÉVEL OU
(Annette Bening), que, bem-intencionada, POSTERIORESCOMSEUSPAIS*AVIER'ONZÉLEZ CAPAZDESERUMPROPULSORDOATODEhSE
OQUETALVEZACEGUEACOMPANHA7ILLPARA 3ERGIO0ERIS
-ENCHETA E)SABEL$ÓAZ,AIA GUIR ADIANTEv ! VIDA Ï ISSO ELA DERRUBA E
FAZÐ
LO ENFRENTAR SEU TRAUMA E A NEGA¥ÎO #OSTA EOPATRÎO-R3ACCIONE!NTONIO FAZ SURGIR UMA DESISTÐNCIA UMA MUDAN¥A
diante da morte de Abby. "ANDERAS QUE ASSUMIRÉ O PAGAMENTO DO de rota ou seguir com coragem em busca
!S SITUA¥ÜES EXTREMAS TOCAM QUASE tratamento do menino. Todo esse emara- de alguma esperança e alegria. Como disse
O RISO NERVOSO NESSA PRODU¥ÎO &ICA CLARA NHADO AINDA DETERMINARÉ MAIS ADIANTE A ANTESOESCRITOR%RNEST(EMINGWAYEMSUA
a intenção de mostrar como histórias se TRAJETØRIADEVIDADE2ODRIGO/RAPAZDE
obra Adeus às Armash/MUNDODESPEDA¥A
ATRAVESSAM GERANDO LA¥OS E ENCONTROS POISDECRESCIDOVOLTAA.OVA)ORQUEPARA todas as pessoas e, posteriormente, mui-
DETERMINANDO RUMOS DE VIDA QUE SEQUER ESTUDAREVIVEOACASODEENCONTRAR$YLAN tos se tornam fortes nos lugares partidos”.
CONHECEM AQUILO QUE AS ATRAVESSA COMO ACRIAN¥AQUEAGORAJÉMO¥AEMEIOPERDI
/ lLME SE APROPRIA DESSA CONCLUSÎO COM
OQUESEDÉCOMOMENINO2ODRIGO'ON
DASOBREVIVEUAOACIDENTEDAMÎE!BBY bastante propriedade, sem cair na armadi-
“É estranho pensar como um momen- LHA DE FAZER PENSAR QUE ISSO Ï TAREFA FÉCIL
to tão aleatório poderia moldar toda a mi- OURÉPIDAÌSVEZESLEVA
SETODAUMAVIDA
/2/4%)2/0!33! NHA VIDAv !O OUVIR ESSA CITA¥ÎO FEITA NO para que se possa entender um momento
0/2$)&%2%.4%3 lLME PENSAMOS QUEM NUNCA OLHOU PARA de extremo sofrimento.
suas lembranças e se deu conta de que algo
¡0/#!3#/.4!.$/
que caiu inesperadamente no curso dos $/2%3)-%.3!3
/3%,%-%.4/3 DIASALTEROUUMAROTAQUEJÉPARECIATÎODE
!LGUMAS CORRENTES lLOSØlCAS PRO
15%,)'!-6£2)/3 terminada? Uma escolha que foi mudada, PÜEMPENSAROSENTIDODAVIDAOUTRASDI
UMAMORTROCADOPOROUTROUMAVIAGEM ZEMQUEAVIDANÎOTERIAQUALQUERSENTIDO
0%23/.!'%.3
IMAGENS: DIVULGAÇÃO E SHUTTERSTOCK
%.6/,6)$/3!0!24)2
Prof. dr. Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor
$!42!'¡$)!15% em Saúde da Criança e da Mulher. Denise Deschamps é psicóloga e
psicanalista. Autores do livro Cinematerapia: Entendendo Conflitos.
/#/22%#/-/#!3!, Participam de palestras, cursos e workshops em empresas e
universidades. Coordenam o site www.cinematerapia.psc.br
02/4!'/.)34!
www.portalespacodosaber.com.br PSIQUECIÐNCIAVIDA67
#!$!0%23/.!'%-6)6%3%50202)/ LUTAINCESSANTE INTERROMPIDA ALGUMAS VE
ZESPORMOMENTOSDEFELICIDADE/FATOÏ
4/2-%.4/$%-!.%)2!0202)!.§/ QUEOSUJEITOPSÓQUICOVEMMUNIDODEUM
3%0/$%3%15%2$):%215%¡5-&),-% impulso que quer garantir a continuidade
3/"2%#!0!#)$!$%$%2%3),)º.#)!0/)3/3 DAVIDAAUTOCONSERVA¥ÎOQUEEMSUADE
lNITIVATEORIAPULSIONAL&REUDINCLUIUESSE
%.&2%.4!-%.4/33§/-5)4/$)&%2%.4%3 ASPECTONAPULSÎODEVIDA%ROSQUEQUER
agregar, unir, amar. Como ele mesmo dis-
e que seria uma bobagem tentar entender PRAZERETODADORQUEEQUILIBRAMOSOQUE SEEMUMADESUASPOUCASENTREVISTASCON
QUESENTIDOELATERIA!LBERT#AMUSPROPÜE Freud chamou de “alma” por falta de outro CEDIDASEMJÉNOlNALDESUAVIDA
QUEOSENTIDODAVIDAÏVIVERMAISENTEN
TERMOÌÏPOCAEQUEHOJESEDISCUTETALVEZ h.ÎOPERMITOQUENENHUMAREmEXÎOlLO
dendo isso como mais longamente, e suge- COMO hMENTEv %SSE JOGO DE EMO¥ÜES E SØlCAESTRAGUEAMINHAFRUI¥ÎODASCOISAS
re que a grande questão a se entender seria PERCEP¥ÜESCONSCIENTESEINCONSCIENTESQUE SIMPLESDAVIDAv-ASSEMAAGRESSIVIDADE
ADOSUICÓDIO!VIDAQUEQUEREMOSSEMPRE CONSTROEMNOSSOSATOSEEXPERIÐNCIAS4ODO de Thanatos e a pulsão de morte não serí-
PENSARCOMOBELAMASCOMODIZOlLME SERCHEGAAOMUNDOCOMPLETAMENTEFRÉGIL AMOSCAPAZESDASMAISFUNDAMENTAISCON
IRÉSEMPRENOSAPRESENTARADORESIMENSAS enfrenta desde o início um certo descon- QUISTAS3OMOSEMNOSSAINDIVIDUALIDADEO
MESMOAQUELASQUESØFAZEMPARTEDANOR
FORTODOQUEÏVIVERATÏOPRIMEIROATODE GRANDEPARADOXOQUEÏAVIDA
MALIDADE MAIS BANAL DA VIDA ATÏ PORQUE RESPIRARTRAZATEMIDADORDEPOISSACIA
SEE
COMOAPONTOU&REUDUMADASTRÐSFONTES ASSIMCONHECEOPRAZEREAFALTASUPÜE
SE &)/3$%!&%4/
de sofrimento seria nossa relação com os CAPAZ DE MOVER O MUNDO E LOGO SE DARÉ %LENA CONTA TODA A TRAJETØRIA DE SEUS
SEMELHANTESEAINDAFRISOUQUETALVEZESSA conta de que não é bem assim que as coisas ANTEPASSADOS COME¥A LÉ PELOS AVØS 7ILL
seja a mais dura. Ao acompanhar a traje- se dão. Os adultos, frente ao que Freud cha- E !BBY PRECISA IR UM POUCO MAIS ATRÉS
tória dos personagens, o espectador acaba MOUDEBEBÐ
MAJESTADEREVISITAMSEUNAR
FALANDOSOBRESEUSBISAVØSPAISDE7ILLE
PORSEDEPARARCOMAQUESTÎOQUEANGUSTIA cisismo, engendram fantasias de que serão ATRÉGICAHISTØRIADOSPAISDE!BBY.ARRA
SERIAAVIDAUMTRA¥ADODEALEGRIACOMAL
CAPAZESDEPROTEGERAQUELESERTÎOINDEFE
ONASCIMENTODESUAMÎE$YLANQUELEVA
guns acidentes pelo caminho ou uma luta so de todas as dores, ou pelo menos das esse nome por conta de Abby ser fã total
incessante com raros momentos de extre- MAIS FORTES E A VIDA SEGUE ENSINANDO SEU de Bob Dylan. Precisa contar sobre os pais
MOCONTENTAMENTO-AISUMAVEZRECOR
poder, quase nunca se pode cumprir a de- DOMENINO2ODRIGOQUEESTÉDIRETAMENTE
RENDOA&REUDSOMOSOBRIGADOSAREmETIR terminação tomada com orgulho quando ligado ao acidente que marca seu nasci-
que nosso aparelhamento psíquico guarda SEERGUEACRIAN¥APELAPRIMEIRAVEZ3ERÉ MENTOEVIDAAOFALARDOSPAISDE2ODRIGO
uma estranha relação com o que entende- A VIDA UMA ALEGRIA INTERROMPIDA ÌS VEZES tem de falar do “tio”, patrão de seu pai, Mr.
MOSPORPRAZERCOMODIRIAOFUNDADORDA por pequenas ou grandes tragédias ou uma 3ACCIONEATÏPODERREVELARQUEAVIDAEM
0SICANÉLISE DEBRU¥ANDO
SE SOBRE O TEMA
de O Mal-estar na Civilização h1UANDO
qualquer situação desejada pelo princípio
DOPRAZERSEPROLONGAELAPRODUZTÎOSO
mente um sentimento de contentamento
MUITO TÐNUE 3OMOS FEITOS DE MODO A SØ
PODERMOS DERIVAR PRAZER INTENSO DE UM
contraste, e muito pouco de um determi-
NADOESTADODECOISASv%STARVIVOÏESTAR
INSATISFEITOEMBUSCADESESTABILIZADOEFRÉ
gil (e forte). Insistir nos dias, como aconse-
LHAA2ODRIGOSUAMÎE)SABELJÉEMSEUS
ÞLTIMOSDIASDEVIDACOMASAÞDEPERDIDA
FRENTEAUMCÊNCERDIZENDO
LHEPARAQUE
SEMPRESIGAADIANTEULTRAPASSEOSSOLAVAN
cos do caminho, acreditando sempre que
NOlNALSEENCONTRAOAMOR
É nessa ambiguidade presente desde Em uma festa, Will e Abby vão como o casal personagem de Pulp Fiction (1994). É o momento em
cedo nesse nosso corpo, palco de todo que ele pede a mão da moça em casamento, dando início a uma sequência de fatos surpreendentes
68PSIQUECIÐNCIAVIDA www.portalespacodosaber.com.br
sua ironia, uniu seus pais, Dylan e Rodrigo,
em uma história de amor tão intensa como
ADOSSEUSAVØSMASFELIZMENTENÎOINTER
rompida abruptamente como a deles. A
VIDA SEGUIU REALMENTE SEU CURSO E GEROU
MUITOAMOREVIDA/lLMETRAZUMAMEN
sagem de esperança diante dos misteriosos
ACONTECIMENTOS TERRÓVEIS QUE PODEM ESTAR
presente em histórias familiares. Os dife-
RENTESlOSDEAFETOSEENLA¥AMTRAN¥AMO
tecido da história, formam em sujeitos que
AINDANEMNASCERAMMUITASDETERMINA¥ÜES
profundas. Procurar conhecer os contos
FAMILIARESPODESERPORVEZESUMBOMCA
minho para o próprio entendimento, para
ODESCORTINARDEPADRÜESREPETITIVOSQUESE
SUCEDEMEMGERA¥ÜESAlNALOINCONSCIEN
O menino Rodrigo é o elo entre o casal protagonista e a história dos pais, Javier González e Isabel
TETEMMUITOSTENTÉCULOSESEPLANTAAPARTIR Díaz, e ainda do patrão, Mr. Saccione interpretado por Antonio Banderas
DE IMENSOS hDESCONHECIDOSv DA CONSCIÐN
CIA(ÉAGORACIRCULANDONO"RASILUMLIVRO !33)45!%3 CESSÎO DE MÉGOAS %NTÎO SEMPRE Ï PURA
QUE OS lLHOS TÐM DADO ÌS MÎES QUANDO esperança quando alguém transforma
LHESNASCEMOSNETOSUMLIVROEMBRANCO
%842%-!34/#!- TUDO ISSO EM FOR¥A MOTRIZ E CHAMADO Ì
CONVIDANDO
ASACONTARSUASHISTØRIAS1UE 15!3%/2)3/ VIDAOROTEIROALCAN¥AISTO
TERAPÐUTICOPODERÉSERISSOQUEOSAVØSSE .%26/3/.%33!
incluam e contem também o que sabem $%3!&)!2/3$%3!&)/3
SOBRE SUA VIDA 4ODA HISTØRIA INTERESSA AO PRODUÇÃO. FICA A Vida em SiNÎOÏUMlLMEASSIMTÎO
presente e ao futuro, mesmo a que pensa #,!2!!).4%.§/ PALATÉVEL PODE DESAGRADAR MUITOS PELA
QUESEOCULTAEMmOREIOS!ONARRARHISTØ
SUCESSÎODETRÉGICOSACONTECIMENTOSMAS
$%-/342!2
RIASALENDAPODERÉSERQUESTIONADA nos lembra de um acordo que um dia to-
/ ESCRITOR %RNESTO 3ÉBATO EM SUA #/-/()342)!3 DOSOSADOLESCENTESlZERAMEMRELA¥ÎOÌ
grande obra intitulada Sobre Heróis e Tum- 3%!42!6%33!- PRØPRIAVIDAEQUE$YLANDIZAOSEUAVÙ
basVOLTANDOAQUIÌREmEXÎOSOBREOHE
h%UQUEROVIVERUMAVIDAGRANDEINCRÓVEL
RØIDISSEALGOQUESERVEMUITOBEMPARA
'%2!.$/,!/3 EFANTÉSTICAv!CONTE¥AOQUEFORÏPRECI
PENSARMOSSOBREESSElLMEESUASPERSO
%%.#/.42/3 SO ACIONAR AQUELE IMPULSO %ROS DESAlAR
NAGENS $ISSE ELE h0ORQUE FELIZMENTE O $%4%2-).!.$/ OS DESAlOS E SEGUIR COMO DIRIA EM UM
homem não é feito só de desespero mas trecho de sua obra Ano Comum, outro es-
TAMBÏMDEFÏEESPERAN¥ANÎOSØDEMOR
25-/3$%6)$! CRITORCONTEMPORÊNEOQUEVAMOSCHAMAR
TE MAS TAMBÏM DE DESEJO DE VIDA TAM
SIMCOMOAPAISAGEMELANÎOESTÉLÉPARA PARA lNALIZAR NOSSAS REmEXÜES SOBRE ESSE
pouco unicamente de solidão mas tam- indicar escolhas, apenas preenche o que lLMEh/SONHOÏESERÉSEMPREEAPENAS
bém de comunhão e de amor”. TENTAMANTER
SEDEPÏ0ARTEQUECOMPÜE DOSVIVOSDOSQUEMASTIGAMOPÎOAMA
$AN&OGELMANSEDESCREVECOMOUMA o caminho não é necessariamente aquilo DURECIDODADÞVIDAEACARNEDESLUMBRADA
criança que cresceu dentro de uma família QUELEVAÌSUPERA¥ÎOnMUITASVEZESTRAZ DASPUPILAS%STOUENTREVAZIOSEPLENITU
judia disfuncional, e seus roteiros parecem AOSUJEITOAPENASOTRAVOAMARGODORES
des, encho as mãos com uma fragilidade
sempre muito empenhados em descorti- sentimento, que passa a transbordar para QUE Ï UM PÉSSARO SÉBIO E DISTRAÓDO QUE
NAR O QUE SE VÐ POR DETRÉS DE PORTAS FE
todo canto que olha, impossibilitando que se aninha no coração e se alimenta de
IMAGENS: DIVULGAÇÃO E SHUTTERSTOCK
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psicologia social por Luiza Elena L. Ribeiro do Valle
A QUESTÃO DE GÊNERO
SEMPRE DESPERTA POLÊMICAS.
AS MULHERES MUDARAM E
GANHARAM CADA VEZ MAIS
ESPAÇO. MAS COMO FICOU
AFINAL A SUA IDENTIDADE?
E
m tempos globalizados, con- de casa, porque as gerações sofreram parates e elas surgem em reportagens
quista feminina chega a ser um abismo no aspecto comportamen- recorrentes nos noticiários porque
quase comum... Só que não! tal. A mulher deve ser independente não se retraem diante de um possível
Também em termos globais e ativa e se manter distante dos gru- constrangimento de julgamento so-
existem a violência, a discriminação e pos masculinos dominantes? Não faz cial e assumem desaf ios à altura de
uma disputa desleal que atrela à mu- sentido! Entretanto, alguns chegam a seus sonhos.
lher expectativas de épocas passadas, comentar, quando uma jovem bonita O mundo feminino passa por
ainda somadas aos novos desaf ios, ou é molestada, que a culpa é dela, por enorme transformação! Nos últimos
seja, uma missão impossível quando ser uma pessoa tão atraente que ou- 30 anos, as mulheres galgaram mais
se trata de corresponder a tudo! Com sou se mostrar! Parece absurdo? Mas liberdade do que ao longo de toda a
a rapidez das transformações, algu- é real! No entanto, a mulher do século história. A elevação do seu nível edu-
mas comparações se fazem até dentro XXI vem vencendo também esses dis- cacional e a redução do tamanho da
SETE PECADOS
CAPITAIS
Como os sentimentos gerados pelos pecados refletem-se
em nossa mente e influenciam a vida cotidiana. Alguns
deles podem motivar a criação de boas habilidades
Por Marta Relvas
D
urante toda a sua vida, tros indivíduos. Isso acontece porque o e se comparar, projetar constantemente
você ouviu dizer que indivíduo está acostumado a lidar com em relação ao outro. Esse fato pode es-
de todos os “pecados” questões mais imediatas e a perceber timular seu crescimento pessoal. Afinal,
que o ser humano detalhes que possam satisfazer o outro quem não quer os melhores resultados?
pode cometer, há sete rapidamente. Isso também significa uma melhora na
que lhe darão passagem direta para o PREGUIÇA � Não se sinta culpado(a) criatividade e na autoestima. A inveja
“inferno”. Os chamados sete pecados por ser um preguiçoso(a). Afinal, dor- só não pode ser patológica. A questão
capitais assombram a consciência hu- mir melhora sua memória e o(a) torna é observar a intensidade e frequência
mana há muito tempo, mas parece que muito mais sagaz – além de dar aquela desse sentimento e se está atrapalhando
eles não são tão mortais assim. disposição extra quando necessário. o seu convívio e as suas relações nos as-
O humano precisa um pouco deles Estudos informam que pessoas que an- pectos gerais na vida.
para o seu desenvolvimento. O que irá dam mais devagar são as que mais pa- ORGULHO � Se você se considera
diferenciar se são bons ou ruins são a ram para ajudar ao próximo. acima dos demais, nada mais natural do
intensidade e a frequência desses senti- IRA � O cérebro do(a) raivoso(a) está
mentos no cotidiano da vida. Os peca- mais disposto a confrontar ideias opos-
dos capitais instituídos na Era Medieval tas às suas, criando o debate. Nesse caso,
ganham novos significados, valores e o indivíduo tem maior poder de nego-
gravidades através dos séculos. ciação, pois terá uma facilidade maior
Assim, no mundo contemporâneo, ao argumentar a favor de seu interesse.
as bases morais antigas perdem sua va- GANÂNCIA � Você provavelmente já
lidade. Com um novo homem, surgem ouviu que dinheiro não traz felicidade,
novos pecados, e pecados antigos pas- porém, com uma outra concepção, a
sam a ser vistos como virtudes. Vejamos: riqueza realmente pode tornar alguém Dano e prazer
LUXÚRIA � O pecado mais criticado mais feliz, contanto que ela seja investi- Schadenfreude na tradução literal:
é o da luxúria, pois a pessoa é conside- da de maneira correta e com qualidade. alegria ao dano. A palavra é de origem
rada mais esperta do que as outras. O INVEJA � Por incrível que pareça, a in- alemã e serve para designar o senti-
cérebro da pessoa com sentimento da veja é um “pecado” que pode ajudar o mento de alegria ou satisfação diante
do dano ou infortúnio de uma outra
luxúria consegue resolver problemas desenvolvimento pessoal, pois uma pes-
pessoa. Deriva de schaden – “dano,
analíticos mais facilmente do que ou- soa pode sentir admiração por alguém prejuízo” – e freude – “alegria, prazer”.
psique ciência&vida 73
CÉREBRO
LÍRICO
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JOSEF KRIEHUBER (1800–1876) BLUE PENCIL.SVG WIKIDATA:Q93804WIKIMEDIA COMMONS
RANZ 0ETER 3CHUBERT NASCEU PRIMIDO PELA RÓGIDA FORMA¥ÎO FAMILIAR óperas, música sacra, música de câma-
EMEMUMAFAMÓLIAPOBRE e acadêmica. ra e canções.
NOSUBÞRBIODE6IENA3EUPAI /SANOSEFORAMBASTAN- %SCREVEU ØPERAS MAS REVELOU
SE
ERAPROFESSOREMÞSICOAMADOR TE PRODUTIVOS COM OBRAS DE TODOS OS UM EXÓMIO COMPOSITOR DE UM GÐNERO
EOINICIOUNOVIOLINO$ESDEAINFÊNCIA GÐNEROS MAS ESTAVA INFELIZ SENTIA
SE QUEAPERFEI¥OOUACAN¥ÎOLÓRICAlieder).
DEMONSTROUGRANDEINTERESSEEAPTIDÎO MUITO PRESO %LE PRECISAVA DE LIBER- %MUMANOCOMPÙSCERCADEOBRAS
PARAAMÞSICA!OSANOSPARTICIPOU DADEPARAVIVEREPORISSOROMPECOM BASEADAS EM TEXTOS DE 3HAKESPEARE E
DE CONCURSO PARA TORNAR
SE CORISTA DA O PAI RÓGIDO E CASTRADOR E COME¥A A 'OETHEENTREOUTROSAUTORESCONSAGRA-
CAPELA IMPERIAL 3UA VOZ DE SOPRANO LEVARUMAVIDABOÐMIA#OMDINHEIRO DOS /S lieder DE 3CHUBERT GANHAM RIT-
LHE GARANTIU UM LUGAR NO CORO E UMA INSUlCIENTE PARA SE SUSTENTAR PASSOU MOEVIDAPRØPRIASÎOPOESIASLÓRICASEM
BOLSADEESTUDOSEM3TADTKONVIKTUM A CONTAR COM A AJUDA DE AMIGOS MÞ- FORMA DE MÞSICA TOTALMENTE REVOLUCIO-
DOS MELHORES COLÏGIOS DE 6IENA MAS SICOSCONHECIDOSPORSEREMhLIBERAISv NÉRIAS E BELAS ¡ PRINCIPALMENTE NA ES-
NÎO FOI CONSIDERADO UM BOM ALUNO ! BOEMIA E A POBREZA MARCARIAM OS COLHADOSTEXTOSEEMSUAORNAMENTA¥ÎO
POIS PASSAVA GRANDE PARTE DO TEMPO ANOS SEGUINTES -INISTRAVA ALGUMAS MUSICALQUESEREVELAOROMANTISMOEA
FAZENDO COMPOSI¥ÜES MUSICAIS %STU- AULAS EDITAVA UMA OU OUTRA OBRA DE GENIALIDADEDOCOMPOSITOR
DOUALIATÏSEUSANOSQUANDODEIXA TERCEIROSEASSIMRESOLVIAOSPROBLEMAS -AS A GRANDIOSIDADE E IMPORTÊNCIA
O CONSERVATØRIO E COME¥A A LECIONAR DESOBREVIVÐNCIA/SDEZANOSSEGUIN- DESUAOBRAMUSICALNÎOFORAMRECONHE-
OFÓCIOEXERCIDOPORDOISANOS%RAUM TESFORAMOAUGEDESUACARREIRAISTOÏ CIDAS DE IMEDIATO POIS TEVE A hINFELICI-
JOVEMEDUCADOBASTANTECONTIDOERE- PERÓODO EM QUE COMPÙS AS SINFONIAS DADEvDESERCONTEMPORÊNEOEVIVERNA
MÉTODOS TERAPÊUTICOS
É sempre bom tomar conhecimento de novas técnicas que ajudam a melhorar a qualidade de vida de
pessoas. Por isso, achei importante o depoimento da psicóloga Camilla Mazetto, publicado na edição
#ONHECIALGUMASCRIAN¥ASCOMAUTISMOESABERQUEAPROlSSIONALEMQUESTÎOÏESPECIALIZADAEM
hAVALIA¥ÜESCOMPREENSIVASvPARAINDIVÓDUOSCOMESSEPROBLEMAOUCOMhDIlCULDADESDECOMUNICA¥ÎO
social e de desenvolvimento global”, é reconfortante. Até mesmo porque ela revelou duas metodologias
terapêuticas: a terapia de troca e de desenvolvimento (TED) e o método Ramain. A primeira é indicada
às necessidades de crianças pequenas com distúrbios de comunicação e interação, como nos quadros
de autismo, e a segunda segue princípios das neurociências e é indicada para crianças, adolescentes e
adultos com distúrbios emocionais, de aprendizagem e desenvolvimento. Recomendo a leitura.
Cláudia dos Santos, por e-mail
CAPA156_aprovada.indd 1
NOTÍCIA
80 psique ciência&vida
PSIQUE CIÊNCIA & VIDA é uma publicação mensal da EBR _
Empresa Brasil de Revistas Ltda. ISSN 1809-0796. A publicação
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O neurocientista, mestre e doutor em Bioquí- Ano 12 - Edição 157
mica e Imunologia Marco Antonio Prado se mico Faculdade da Universidade de Western
Ethel Santaella
DEDICAAPESQUISASCIENTÓlCASPARACOMPREEN
Ontario (2013-2014). Em colaboração com DIRETORA EDITORIAL
der como e por que as mudanças moleculares sua companheira, Vânia Ferreira Prado, ele PUBLICIDADE
e celulares em doenças neurodegenerativas tem gerado novos camundongos genetica- GRANDES, MÉDIAS E PEQUENAS AGÊNCIAS E DIRETOS:
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causam falhas cognitivas, especialmente em MENTE MODIlCADOS PARA FORMULAR DÏlCITS
doenças como Alzheimer. Prado foi reco- neuroquímicos na demência, com foco parti- REPRESENTANTES Interior de São Paulo: L&M Editoração, Luciene
Dias – Paraná: YouNeed, Paulo Roberto Cardoso – Rio de Janeiro:
nhecido como parceiro de Guggenheim pela cular para a doença de Alzheimer. Entrevista Marca XXI, Carla Torres, Marta Pimentel – Santa Catarina: Artur Tavares
– Regional Brasília: Solução Publicidade, Beth Araújo.
John Simon Guggenheim Memorial Foun- completa, publicada na edição 122. Acesse: www.midiakit.escala.com.br
dation, em 2004, e recebeu o Prêmio Acadê- www.psiquecienciaevida.uol.com.br COMUNICAÇÃO, MARKETING E CIRCULAÇÃO
GERENTE: Paulo Sapata
CANAL FACEBOOK: A revista Psique traz muitas informações interessantes IMPRENSA – comunicacao@escala.com.br
niu mais de mil participantes de todos os estados mem atenção. Mais informações: https://goo.gl/ Distribuída pela Dinap S/A – Distribuidora Nacional de Publicações,
Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, nº 1678, CEP 06045-390 – São Paulo – SP
brasileiros. O objetivo é promover a discussão de Mkq8TY. Fonte: Sociedade Brasileira de Psicologia
Março/2019
REALIZAÇÃO
CONSELHO EDITORIAL
Rua Ascencional, 172 – conjunto 21 – Morumbi – São Paulo – SP
AICIL FRANCO é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia KARIN DE PAULA, psicanalista, doutora pela PUC-SP, professora CEP: 05713-430 – Telefone (11) 3476-8732
Clínica pela USP. Professora no IJBA e na Escola Bahiana de e supervisora clínica universitária e do CEP, autora do livro EDITORA: Gláucia Viola
Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA. $em? Sobre a Inclusão e o Manejo do Dinheiro numa Psicanálise, e EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Monique Bruno Elias
de vários outros artigos publicados. COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Daniele Vanzan; Denise Maria
ANA MARIA FEIJOO é doutora em Psicologia pela Universidade Perissini; Emanoele Freitas; Fabiane Matias; Lucas Vasques Peña;
&EDERALDO2IODE*ANEIROAUTORADELIVROSEARTIGOSCIENTÓlCOS LILIAN GRAZIANO é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, Marta Relvas; Thiago Domingues. REVISÃO – Jussara Lopes.
COLUNISTAS: Anderson Zenidarci; Carlos São Paulo; Denise
parecerista de diversas revistas e responsável técnica do com pós-graduação em Psicoterapia Cognitiva Construtivista. Deschamps; Eduardo J. S. Honorato; Elaine Cristina Siervo; Guido
Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do RJ. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Arturo Palomba; João Oliveira; Júlio Furtado; Luiza Elena L. Ribeiro
do Valle; Marco Callegaro; Maria Inere Maluf; Michele Muller; Mônica
Positiva e Comportamento. Atua em clínica e consultoria. Portella; Nicolau José Maluf Jr.; Renata Bento. O Conselho editorial
ANA MARIA SERRA é PhD em Psicologia e terapeuta cognitiva
e a Redação não se responsabilizam pelos artigos e colunas
pelo Institute of Psychiatry, Universidade de Londres. Diretora LILIANA LIVIANO WAHBA, psicóloga, PhD, professora da PUC- assinados por especialistas e suas opiniões neles expressas.
do Instituto de Terapia Cognitiva (ITC), atua em clínica, faz SP. Presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica.
treinamento, consultoria e pesquisa. Presidente honorária, ex- Coeditora da Revista Junguiana. Diretora de Psicologia da Ser
presidente e fundadora da ABPC. em Cena - Teatro para Afásicos. FALE CONOSCO
ANDRÉ FRAZÃO HELENE é biólogo, mestre e doutor em MARISTELA VENDRAMEL FERREIRA é doutora em Audiologia REALIZAÇÃO
DIRETO COM A REDAÇÃO
#IÐNCIASNAÉREADE.EUROlSIOLOGIADA-EMØRIAE!TEN¥ÎO pela University of Southampton – Inglaterra, mestre em Av. Profª Ida Kolb, 551 Casa Verde – CEP 02518-000
pela Universidade de São Paulo, onde também é professor no Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP, especialista em São Paulo – SP – (+55) 11 3042-5900 – psique@escala.com.br
curso de Biociência e coordena o Laboratório de Ciências da Psicoterapia Psicanalítica pelo Instituto de Psicologia da USP. PARA ANUNCIAR anunciar@escala.com.br
Cognição no Instituto de Biociências. SÃO PAULO: (+55) 11 3855-2100
MÔNICA GIACOMINI, presidente da Sociedade Brasileira de
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CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA é psicólogo, Psicologia Hospitalar – biênio 2007/09. Especialista em
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E 123RF/ARQUIVO CIÊNCIA E VIDA
PAI da
Medicina Legal
A OBRA DE PAULO ZACCHIA SERVIU
DE INSPIRAÇÃO AOS PERITOS POR
CERCA DE 200 ANOS. PORÉM, NA
ÚLTIMA DÉCADA PRATICAMENTE
NENHUM NOVO TRATADO SOBRE A
ESPECIALIDADE FOI EDITADO
H
á 360 anos morria Paulo Zacchia. A obra de Zacchia serviu aos peri- que na última década praticamente ne-
Poucos médicos tiveram tanto tos por cerca de 200 anos. Depois dela nhum novo tratado sobre a especialida-
prestígio em vida e reconheci- vieram &RENOLOGIA &ORENSE (1865), de De de foi editado no mundo ocidental. Isso
mento após o falecimento quan- Livi; a seguir, 4RATADODE-EDICINA,EGAL explica-se pela agonia da psicopatologia,
to ele. Era médico do papa e LEGUMPERITU DOS!LIENADOS (1866), de Auguste Morel; duramente golpeada pelos ditos instru-
(jusperito) dos tribunais eclesiásticos que, mais adiante, %STUDO -ÏDICO
LEGAL 3OBRE mentos e protocolos de exame do doente
à época, eram chamados de Rota Romana A ,OUCURA (1872), de Ambroise Tardie. mental, dominantes há quase duas déca-
(judicava causas eclesiásticas e profanas, Mas foi o 4RATADO DE 0SICOPATOLOGIA &O- das, que ditam os padrões atuais de diag-
de Roma e do Estado Pontifício). RENSE (1897, ano da edição italiana), de nóstico, os quais se encaixarão na Classi-
Paulo Zacchia escreveu monumental Richard von Krafft-Ebing, o primeiro lCA¥ÎO)NTERNACIONALDE$OEN¥AS (CID) e no
obra de Medicina Legal, 1UAESTIONUMME- a dar à Psiquiatria Forense o status de arremedo americano, -ANUAL%STATÓSTICOE
DICO
LEGALIUM, o primeiro grande tratado saber autônomo, distinto da Psiquiatria $IAGNØSTICO (DSM, sigla em inglês).
sobre a matéria a versar sobre os peritos e da Medicina Legal. Porém, a história, que é longa e secu-
e sobre várias áreas da Medicina Legal, Interessante notar que a partir daí lar, certamente mostrará no futuro que
entre elas a que mais tarde se chamaria vieram vários outros livros sobre a maté- a especialidade voltou a ser fecundada.
Psiquiatria Forense. ria, em diferentes países, pouco mais ou Quando isso acontecer, a CID e o DSM
Por esse motivo é considerado o Pai menos na mesma época. estarão desnudos, a mostrar os seus re-
da Medicina Legal, da Psiquiatria Fo- O primeiro brasileiro foi %SBO¥O DE dondos símbolos da decadência do saber
rense e dos Peritos. A obra completa foi 0SYCHIATRIA &ORENSE (1904), de Francisco psiquiátrico contemporâneo. Talvez leve
escrita entre 1621 a 1657, dividida origi- Franco da Rocha. ainda algumas gerações até tal ocorrer,
nalmente em nove livros. A história da Psiquiatria Forense, a MASFATALMENTEACIÐNCIAlNAESENSÓVEL
O Livro 2, Título I chama-se $A$E- bem ver, pode ser contada pelas publica- voltará a ver o homem como ele é: um ser
MÐNCIAEDOS-ALESDA2AZÎO e nele cons- ções clássicas que lhe são próprias, regis- completo, de corpo e psique indivisível,
tam, pela primeira vez na história, ques- tros de um modo de pensar sobre os mis- inserido no meio social, como o Pai dos
tões de Psiquiatria Forense que, lidas à teres da Psiquiatria e do Direito, no ponto Peritos, há 360 anos, concebia.
distância de centúrias, ainda guardam em que se articula o “discurso” médico
ARQUIVO PESSOAL/SHUTTERSTOCK
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