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RESUMO
O presente artigo visa discutir sobre os impasses na interação estabelecida entre pais
ouvintes com seus filhos surdos. Busca refletir como as famílias lidam com o impacto
da noticia sobre a surdez e as dificuldades para elaborarem essa experiência. As
estatísticas revelam que mais de noventa por cento de crianças surdas são filhos de pais
ouvintes sem nenhuma experiência quanto à surdez. Ao tomarem conhecimento de que
seu filho tem perda auditiva há uma tendência em ver a surdez como deficiência e,
portanto, a criança tende a ser tratada como deficiente. Agindo dessa forma os pais
mudam o modo de interagir com seus filhos, esse comportamento familiar é resultante
da representação da surdez como deficiência e vai desencadear sentimentos e atitudes
inadequados desfavoráveis ao desenvolvimento global da criança como também
interfere na interação social desta com outras pessoas surdas. A viabilização do contato
com a comunidade surda bem como o acesso e aprendizagem da Língua de Sinais pode
vir a trazer a aceitação da família e o reconhecimento da surdez como uma diferença
cultural. Essa condição é fundamental para um desenvolvimento saudável da criança e a
sua interação social.
ABSTRACT
This article aims to discuss the impasse in the interaction established between hearing
parents with their deaf children. Seeks to reflect how families deal with the impact of
news about deafness and the difficulties to develop this experience. Statistics reveal that
over ninety percent of deaf children are children of hearing parents with no experience
of deafness. After become aware that their child has hearing loss there is a tendency to
see deafness as a deficiency and, therefore, the child tends to be treated as deficient.
Acting in that way the parents changes the way of interacting with your children, this
behavior results from the familiar representation of deafness as a deficiency and will
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Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia / Centro de Formação de
Professores. Email: lucianasilva88@hotmail.com
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Professora Adjunta do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia. Email: therezabastos@ufrb.edu.br
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unchain feelings and attitudes inappropriate, detrimental to the child's global
development as well as this interferes with social interaction with other deaf people. The
feasibility of contact with the deaf community as well as access and learning Sign
Language may bring the family acceptance and recognition of deafness as a cultural
difference. This condition is essential for a healthy development of children and their
social interaction.
INTRODUÇÃO
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pois, essas vivências o ajudam a amadurecer emocionalmente e a interagirem
socialmente com mais confiança.
Portanto, o papel da família é de fundamental importância para a interação e
socialização da criança surda, é através desse primeiro contato social que a criança
encontrará formas particulares de se perceber e perceber o mundo que a cerca.
Compreende-se que quanto mais precocemente o surdo mantiver contato com a
Língua de Sinais através de um surdo adulto, melhor será o seu desenvolvimento, pois
terá maior acesso a informação e consequentemente terá maiores conhecimentos. A
família deverá proporcionar este primeiro contato com a comunidade surda. Segundo
Quadros (2005) as crianças surdas precisam ter a chance de desfrutar do encontro
surdo/surdo. Os pais ouvintes precisam descobrir esse mundo essencialmente visual-
espacial e conhecer a Língua de Sinais. Na maioria das vezes o problema mais frequente
para a pessoa surda é a carência de diálogo e de entendimento dentro do próprio
ambiente familiar, devido a falta de uma língua em comum, o que provoca inúmeros
problemas no relacionamento. Outro fator muito importante que deve receber a máxima
atenção dos pais em relação ao filho surdo é a escolha do ambiente escolar. Ao dar
preferência a uma escola os pais devem ter a preocupação de conhecer a filosofia que
norteia o trabalho. Além disso, os pais devem procurar conhecer a formação dos
profissionais da escola, as suas propostas pedagógicas, as políticas de acesso e
permanência para alunos com surdez, observando se a escola oferece recursos e
tecnologias que possibilitem uma educação de qualidade.
Segundo a o Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 num contexto bilíngue
de educação deve haver a oferta desde a educação infantil do ensino da Libras como
língua primeira e da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos.
Prover as escolas com: a) professor de Libras ou instrutor de Libras; b) tradutor e
intérprete de Libras - Língua Portuguesa; c) professor para o ensino de Língua
Portuguesa como segunda língua para pessoas surdas; e d) professor regente de classe
com conhecimento acerca da singularidade linguística manifestada pelos alunos surdos.
Entretanto, a ausência dessas condições propostas no texto Legal é um agravante para a
educação das crianças surdas no cenário nacional.
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Na obra “As imagens do outro na cultura surda” Strobel (2009, p. 42), faz um
relato de uma criança surda que não teve contato com um adulto surdo, fato interessante
de ser aqui mencionado, pois a mesma afirma que a criança surda, como qualquer outra
criança, precisa dialogar com os adultos sobre os seus pensamentos, suas curiosidades e
dúvidas, sobre tudo o que acontece ao seu redor. Esse diálogo é muito importante para a
construção da realidade e para dar sentido às experiências vividas, porém, sendo a única
surda entre os membros da família e não dominando a língua oral nem a Língua de
Sinais, se deparou com essa barreira na comunicação o que trouxe implicações
significativas para o desenvolvimento dessa criança.
É muito frequente a existência de crianças surdas filhas de ouvintes que não são
expostas a Língua de Sinais, como também são privadas do acesso à língua majoritária
utilizada pela comunidade ouvinte. Desse modo, essas crianças crescem sem uma língua
de referência.
Um outro relato interessante é feito por Emmanuelle Laborit (1994) na obra
autobiográfica “O voo da gaivota”, mostra a fase do choque quando seus pais são
informados acerca da surdez.
Dava gritos, muitos gritos e gritos bem verdadeiros. Não porque tivesse fome
ou sede, ou medo ou dor, mas porque começava a querer “falar”, porque
queria me ouvir e os sons não me chegavam. [...] O primeiro que disse
“Emmanuelle grita porque ela não escuta” foi meu tio, o irmão mais velho de
meu pai, Fifou. Meu pai lembra:
- Foi quem primeiro nos colocou a pulga atrás da orelha.
- Foi uma cena que se ficou para sempre na minha memória, como uma
imagem paralisada – conta minha mãe.
Meus pais prefeririam não acreditar naquilo.
[...] Fomos a um especialista que disse que você tinha nascido surda
profunda. O choque foi rude. Eu não podia admitir, seu pai também não.
Dizíamos: “É um erro de diagnostico, é impossível”. Fomos ver um outro
especialista, e eu esperava tanto que ele fosse sorrir e nos mandar de volta
para casa, tranquilizando-nos [...].
“Fiz perguntas ao especialista. Três perguntas:
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‘Você falaria?
‘Sim. Mas isso vai demorar’.
‘O que fazer?
‘Um aparelho, reeducação ortofônica, sobretudo nada de linguagem gestual’.
‘Eu poderia procurar adultos surdos?’
‘Isso não seria uma boa coisa, eles pertencem a uma geração que não teve
reeducação precoce. A senhora ficaria desanimada e decepcionada.”
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aprendizagem da língua oral na modalidade escrita, níveis de leitura semelhante ao do
ouvinte, uma identidade equilibrada e não apresenta problemas sociais e afetivos na
mesma proporção de filhos surdos de pais ouvintes. Ou seja, quanto mais
prematuramente às pessoas surdas se submeterem a aquisição de uma língua, mais cedo
terão condições de adquirir conhecimentos mais sólidos.
A presença de um adulto surdo na vida de uma criança surda é muito importante,
pois a partir desse convívio esses sujeitos aprendem a lidar com situações do seu
cotidiano, bem como, é a partir dessa presença que as crianças surdas “criam vínculos
identificatórios com a cultura”. (Strobel, 2009, p. 42). Ademais, essa interação permite
que a criança surda satisfaça as suas eventuais duvidas que geralmente permeiam seus
pensamentos aos quais muitas vezes não lhe são esclarecidas, devido a falta de
conhecimento da Língua de Sinais pelas pessoas que acercam.
Segundo Quadros (2008)
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A Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(BRASIL, 2008) salienta que para a inclusão dos alunos surdos nas escolas comuns, a
educação bilíngue – Língua Portuguesa / LIBRAS deve desenvolver o ensino escolar na
Língua Portuguesa e na Língua de Sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda
língua na modalidade escrita para alunos surdos, os servidos de tradutor/interprete de
Libras e de Língua Portuguesa e o ensino ofertado, tanto na modalidade oral e escrita
quanto na Língua de Sinais e o ensino da LIBRAS para os demais alunos da escola. O
atendimento Educacional especializado é ofertado tanto na modalidade oral e escrita,
quanto na Língua de Sinais. Devido à diferença linguística, na medida do possível, o
aluno surdo deve estar com outros pares surdos em turmas comuns na escola regular.
Portanto, o Decreto e a Política objetivam que os direitos da pessoa surda sejam
garantidos a partir de uma educação que contemple as suas reais necessidades. Assim, é
por meio deles que lhe são asseguradas melhores condições de educação. Essa
educação, por sua vez, deve ter o intuito de promover a aquisição de conhecimentos
mais sólidos e de qualidade, por intermédio do ensino e difusão da Língua de Sinais no
âmbito escolar, bem como o oferecimento do atendimento diferenciado as suas
necessidades, tendo em vista potencializar suas habilidades.
CONCLUSÃO
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Uma escola que se propõe a incluir em suas práticas pedagógicas a proposta
bilíngue deve buscar sempre auxilio nas comunidades surdas. Essas comunidades
devem estar inseridas na elaboração das atividades pedagógicas, na formação do
currículo e na construção de uma metodologia adequada que atenda as reais
necessidades desses sujeitos. Uma proposta bilíngue necessita ser pensada por pessoas
que comungam dessas necessidades, deve ser pensada por pessoas surdas, por isso há
necessidade de um adulto surdo na educação dos surdos na escola regular.
Lamentavelmente, a realidade vivida por grande parte das crianças surdas
brasileiras ainda está distante das condições ideais para o seu desenvolvimento.
Entretanto, é preciso uma grande mobilização tanto de pais, como de educadores e da
comunidade surda para que as crianças possam ter um futuro mais promissor.
REFERÊNCIAS
LABORIT, Emmanuelle. O voo da gaivota. Tradução Lelita Oliveira. São Paulo: Best
Seller. 1994
PANIAGUA, Gema. As famílias de crianças com necessidades educativas especiais. In:
César Coll, Álvaro Marchesi e Jesús Palácios. Desenvolvimento psicológico e
educação. Trad. Fatima Muranda. 2 ed. Porto Alegre: Artmed. 2004
SÁ, N.R.I. A educação dos surdos: a caminho do bilinguismo. Niterói: Eduff. 1999
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SILVA, Luciana Santana da. A relação família / escola na educação de jovens surdas
em uma escola estadual de Amargosa. 2011. 91f. TCC: UFRB. Amargosa
STROBEL, L. As imagens do outro sobre a cultura surda. 2 ed. Rev. Florianópolis. Ed.
da UFSC. 2009
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