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DIRETORIA
CONSELHEIROS FEDERAIS
Rossana Santos Freitas Spiguel (AC) João Samuel de Morais Meira (PB)
José Gildo da Silva (AL) Bráulio César de Sousa (PE)
Marcos Aurélio Ferreira da Silva (AM) Osvaldo Bonfim de Carvalho (PI)
Carlos André Oeiras Sena (AP) Elena Lúcia Sales Sousa (PI)
Altamiro José dos Santos (BA) Valmir de Santi (PR)
Luis Cláudio Mapurunga da Frota (CE) Alex Sandro Rodrigues Baiense (RJ)
Forland Oliveira Silva (DF) Lenira da Silva Costa (RN)
Gedayas Medeiros Pedro (ES) Lérida Maria dos Santos Vieira (RO)
Sueza Abadia de Souza Oliveira (GO) Erlandson Uchôa Lacerda (RR)
Fernando Luis Bacelar de Carvalho Lobato (MA) Josué Schostack (RS)
Gerson Antônio Pianetti (MG) Paulo Roberto Boff (SC)
Ângela Cristina Rodrigues da Cunha Castro Lopes (MS) Vanilda Oliveira Aguiar (SE)
José Ricardo Arnaut Amadio (MT) Marcelo Polacow Bisson (SP)
Walter da Silva Jorge João (PA) Amilson Álvares (TO)
Organização:
GRUPO DE TRABALHO SOBRE FARMÁCIA HOSPITALAR DO CFF
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Coletânea de Farmácia Hospitalar
SUMÁRIO
PREFÁCIO.............................................................................................................................04
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: COMO IMPLANTAR .................................................................05
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: PROCESSOS INVESTIGATIVOS EM FARMACOVIGILÂNCIA .................16
FARMÁCIA CLÍNICA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA .............................................................24
FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: INTERFACES ADMINISTRATIVAS E CLÍNICAS ....................................26
NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: DA PRODUÇÃO A ADMINISTRAÇÃO .................................................44
AUDITORIA: FERRAMENTA DE GESTÃO PELA QUALIDADE NO CONTEXTO DA FARMÁCIA HOSPITALAR .......52
ERROS DE MEDICAÇÃO ...........................................................................................................60
IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA ...........................................78
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE ..........................................92
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II) ........................ 101
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR .............................................. 110
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES ............................................................. 122
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO ................................................................ 134
CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR .............................................................................. 143
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA ................................................................................ 153
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR ...................................................................... 171
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA ..................................... 191
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Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar
01 O QUE É FARMACOVIGILÂNCIA?
Os efeitos nocivos do uso de medicamentos covigilância, pois concentram casos de Reações
são conhecidos, desde tempos remotos. O reco- Adversas a Medicamentos (RAM) como causa de
nhecimento por parte de pesquisadores, médicos e internação ou de seu prolongamento. Além do
autoridades sanitárias das limitações dos ensaios mais, facilitam a obtenção de informações, regis-
clínicos, principalmente, da fase III, estimulou, tro e análise dos eventos adversos, já que existe
no passado, a busca de métodos que permitissem acesso ao paciente, à prescrição e ao prontuário,
a identificação de reações adversas raras, graves possibilitando a implementação de medidas de
ou fatais, na pós-comercialização (ARRAIS; FON- intervenção, ao ser detectada uma RAM. A pro-
TELES; COELHO, 2005). Surge a farmacovigilância. moção do uso seguro dos medicamentos deve ser
De acordo com a Organização Mundial da Saúde uma parte integrante da prática clínica.
(OMS), farmacovigilância é “a ciência e as atividades No Brasil, existe a proposta da Agência Nacio-
relacionadas à detecção, avaliação, compreensão e nal de Vigilância Sanitária (Anvisa), que trabalha
prevenção dos efeitos adversos ou qualquer outro com uma rede de “hospitais sentinelas”, onde são
possível problema relacionado a medicamentos” desenvolvidas atividades na área da farmacovigilân-
(WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO, 2002). cia, tecnovigilância, hemovigilância e vigilância de
Em muitos países, a farmacovigilância apa- saneantes. A idéia é que sejam identificados proble-
rece, na forma de sistemas nacionais, onde parti- mas que comprometam a qualidade e a segurança
cipam todos ou parte dos profissionais de saúde, dos vários produtos utilizados, na instituição, se-
ou mesmo o próprio paciente. Segundo Arrais e guido do envio às autoridades sanitárias dos relatos
Coelho (2000), a criação de um sistema de farma- desses problemas sob a forma de notificação e, as-
covigilância possibilita, entre outras coisas, co- sim, contribuir com as ações regulatórias da Anvisa.
nhecer o perfil de reações adversas (notadamente O envolvimento dos profissionais de saúde
as graves) dos medicamentos usados na terapêu- com os princípios da farmacovigilância tem gran-
tica, tornando possível aos profissionais da área de impacto na qualidade da assistência, tanto nos
da saúde, especialmente ao médico, utilizar me- aspectos relacionados à prescrição, influindo di-
lhor o arsenal farmacológico disponível e prevenir retamente na prática médica, quanto na dispensa-
muitas reações adversas, além de estimular uma ção e no uso de medicamentos (AGÊNCIA NACIO-
maior preocupação com o ensino da farmacolo- NAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA - ANVISA, 2008b).
gia clínica e da farmacoepidemiologia, subsidiar Independente do modelo proposto, o objetivo
as ações da vigilância sanitária e realizar estudos do presente artigo é despertar os farmacêuticos
para testar hipóteses surgidas com base nas noti- hospitalares para a necessidade de implementa-
ficações voluntárias. rem programas de farmacovigilância em suas ins-
Os hospitais constituem um local privilegiado tituições. E, para tanto, são apresentadas algu-
para o desenvolvimento de programas de farma- mas idéias de como proceder.
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FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar Coletânea de Farmácia Hospitalar
02 ESTABELECENDO UM PROGRAMA DE
FARMACOVIGILÂNCIA NA INSTITUIÇÃO
O farmacêutico hospitalar desenvolve ati- ma de um farmacêutico para cada 250 leitos (SO-
vidades que favorecem a sua participação ativa CIEDADE BRASILEIRA DE FARMÁCIA HOSPITALAR
nos programas de farmacovigilância, podendo, in- - SBRAFH, 2007). Além do farmacêutico, o serviço
clusive, apresentar-se como responsável pela sua poderá contar com a participação de acadêmicos
implementação na instituição. A equipe pode ser de Farmácia.
formada por farmacêuticos, médicos, enfermeiros Quanto à estrutura, a Sbrafh recomenda que se
e bolsistas. Um comitê assessor com especialistas tenha, no mínimo, uma área de 6m2. Nessa área,
de várias áreas pode ser necessário para auxiliar a serão organizados os arquivos, livros para consulta,
avaliação e interpretação dos casos suspeitos. computador com impressora e mesa de apoio. Uma
A estrutura interna de operação de um serviço linha telefônica é importante para os contatos.
de farmacovigilância é simples e pouco onerosa. No quadro 1, pode-se observar as etapas do
Segundo a Sociedade Brasileira de Farmácia Hos- desenvolvimento de um programa de farmacovigi-
pitalar, é recomendável a adoção da relação míni- lância hospitalar.
Para que o farmacêutico possa implementar as mais freqüentes, e ser capaz de investigar a
um programa de farmacovigilância hospitalar, ocorrência de reações ainda não descritas; fami-
além da capacitação específica no manejo das liarizar-se com as interações medicamentosas, sa-
terminologias do Programa Internacional de Far- ber interpretá-las e aconselhar na prevenção das
macovigilância da Organização Mundial da Saúde, mesmas e realizar anamnese farmacológica, onde
é necessário que ele esteja preparado para moni- constem dados sobre medicamentos atualmente
torar as RAM; avaliar seu significado clínico; re- em uso, tratamento anterior e automedicação, e
conhecer quando um paciente experimentou uma informações sobre hábitos sociais e/ou outros há-
reação; ser capaz de, quando possível, antecipar o bitos relevantes, junto ao paciente.
aparecimento da reação adversa, e seguir medidas Em segundo lugar, vem a escolha do méto-
preventivas (ARRAIS; FONTELES; COELHO, 2005). do de farmacovigilância a ser implementado no
Portanto, é de fundamental importância: hospital.
conhecer os fatores que predispõem o indivíduo Dentre os métodos utilizados em farmacovi-
às reações adversas; familiarizar-se, através da gilância para a identificação de reações adversas,
literatura científica, com as reações adversas a destaca-se a notificação espontânea ou voluntá-
medicamento(s), com a finalidade de reconhecer ria de casos suspeitos.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar
03 O QUE NOTIFICAR?
Toda a suspeita de RAM deve ser notifi- congênita e incapacidade persistente ou per-
cada, em especial quando se trata de reações manente – e reações não descritas na bula (An-
graves – óbito, risco de morte, hospitalização, visa, 2008a).
prolongamento da hospitalização, anomalia
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FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar Coletânea de Farmácia Hospitalar
05 O PAPEL DO FARMACÊUTICO
Estando diante de casos suspeitos, o far- outras referências bibliográficas que tenham
macêutico pode utilizar as perguntas-chave de- descrito esta reação ou algum quadro similar?;
senvolvidas por Laporte e Capellà (1993), para • o paciente melhora, depois da retirada do tra-
avaliar a probabilidade de que haja uma relação tamento?;
causal entre o uso do fármaco e o surgimento do • a reação reaparece no caso de ter havido re-
acontecimento clínico: petição do tratamento?;
• o paciente estava tomando o fármaco, antes • em exposições anteriores ao mesmo medica-
de produzir-se a reação?; mento ou a outros similares, produziram-se
• a seqüência temporal entre a exposição ao episódios iguais ou semelhantes ao atual?; e
fármaco suspeito e o aparecimento da reação • outros dados importantes são: determinação
é lógica ou biologicamente plausível/; dos níveis plasmáticos do medicamento, re-
• existem outros fatores, ademais do medica- confirmação do diagnóstico inicial que mo-
mento suspeito, que possam ter causado o tivou a administração do fármaco suspeito,
acontecimento adverso/; realização de provas diagnosticas específicas,
• as propriedades farmacológicas do medica- avaliação da possibilidade de interações far-
mento podem explicar a reação? Existem macológicas, etc.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar
* Busca de “pistas” em prescrições e relatos nos * Profissional suspeita de RAM ou falha do medica-
prontuários; mento;
* Confirmação ou não da hipótese de suspeita de re- * Preenche a ficha de notificação;
ação adversa a medicamento-RAM; * Encaminha a ficha de notificação para o Setor de
* Caso confirmado em dados do prontuário, a notifi- Farmacovigiância.
cação é elaborada pela equipe da Farmacovigilância
1. Criar formulário específico para notificação com as seguintes informações: nome do produto (comercial ou
genérico), o laboratório produtor, a data de fabricação e validade, número do lote e descrição do problema.
2. preencher o formulário em casos suspeitos;
3. Investigar na farmácia e em todos os setores do Hospital a existência do produto;
4. Observar a característica de produtos com o mesmo lote e validade do produto investigado;
5. Fazer registro fotográfico.
6. Caso necessário, proceda o recolhimento do produto investigado, coloque-o devidamente identificado na
área de quarentena, enquanto se procede a investigação da notificação.
Nas situações em que houver suspeita na qua- Figura 1: Fluxo de análise dos casos em
lidade do produto, a vigilância sanitária deverá Farmacovigilância e feedback ao
ser acionada. Os farmacêuticos, também, pode- notificador e paciente.
rão fazer contatos com outros serviços de far-
mácia de instituições hospitalares para sondar
NOTIFICAÇÃO
a existência de igual problema, encorajando o ESPONTÂNEA
BUSCA ATIVA
colega a notificar o caso e iniciar a monitori-
zação do produto internamente (ARRAIS; FON-
TELES; COELHO, 2005). Esta atividade pode ser
PESQUISA
fortalecida principalmente entre os hospitais da
rede sentinela.
As notificações resultantes da busca ativa e ANÁLISE DO CASO
notificação espontânea devem seguir o fluxo (fi-
gura 1), sendo analisadas e, caso necessitem, de-
CODIFICAÇÃO E LANÇAMENTO EM
vem ter os dados complementados em entrevista BANCO DE DADOS
direta com o notificador, contato com paciente
ou acompanhante e informações registradas nos
CARTA RESPOSTA
prontuários. Em alguns casos, instala-se a neces- PARA O NOTIFICADOR
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar
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FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar Coletânea de Farmácia Hospitalar
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FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância Coletânea de Farmácia Hospitalar
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR:
Processos investigativos em farmacovigilância
HELAINE CARNEIRO CAPUCHO, MSC.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância
pitais do País e que são necessárias medidas para avaliando o ciclo da Assistência Farmacêutica em
minimizá-las, como treinamentos dos profissionais, cada hospital, identificando pontos críticos que
para detectar e prevenir as RAM, e desenvolvimen- possam influenciar na qualidade, segurança e efi-
to de protocolos, para a detecção e tratamento das cácia dos medicamentos, como procedimentos lo-
reações mais graves. gísticos inadequados, erros de prescrição, dispen-
Os autores estimam que essas medidas pos- sação, preparo e administração dos mesmos.
sam minimizar o sofrimento dos pacientes, redu- Uma ferramenta utilizada para identificar fa-
zir o tempo de internação e os custos hospitala- lhas potenciais no processo investigativo, avaliar
res (CARMARGO et al., 2006). Portanto, a criação os riscos da ocorrência de cada falha e propor me-
de serviços notificadores de eventos adversos aos lhorias para o processo de investigação de efeitos
medicamentos em hospitais, não apenas no Brasil, adversos aos medicamentos é a chamada Análise
mas em nível mundial, é fundamental para o êxito do Efeito e Modo de Falhas (FMEA). Essa análise
de sistemas nacionais de farmacovigilância. permite a determinação de um fluxograma para in-
As notificações de suspeitas de efeitos adver- vestigação de cada tipo de notificação, a fim de
sos a medicamentos devem ser analisadas e, de- facilitar o processo investigativo.
pendendo do tipo de notificação, deve haver uma A partir da identificação dessas falhas e do
investigação para apurar a causalidade do evento. uso da ferramenta FMEA, o Serviço de Geren-
Entretanto, falhas no processo investigativo com- ciamento de Risco do Hospital das Clínicas da
prometem a conclusão dos casos e as ações de Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Uni-
melhoria contínua, pois vários são os fatores que versidade de São Paulo (HCFMRP-USP) elaborou
podem favorecer a ocorrência de efeitos adversos fluxogramas de investigação de queixas técni-
aos medicamentos. cas, suspeitas de reação adversa a medicamentos
A identificação e análise das falhas potenciais e de inefetividade terapêutica, que serão apre-
no processo investigativo devem ser realizadas sentados neste artigo.
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FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância
Para cada resposta, são atribuídos pontos, sen- notificações à Anvisa. Aquela reação definida
do que, através da somatória dos mesmos (score), como possível, condicional ou duvidosa, tam-
torna-se possível classificar as RAM em categorias bém, necessitará de ações de estímulo para ob-
de probabilidade: definida, provável, possível, condi- tenção de maior número de notificações, como
cional ou duvidosa (Tabela 2). divulgação de alertas, a fim de que seja forta-
Nos casos de RAM, também, deverão ser ob- lecida a hipótese.
servados alguns fatores para que seja descar- A divulgação de alertas é uma medida que pode
tada a hipótese de problemas em processos de fortalecer o que se denomina, em Farmacovigi-
utilização do medicamento como sendo a prin- lância, de sinal, que é o conjunto de notificações
cipal causa da reação. Para tanto, devem ser sobre uma possível relação causal entre um even-
feitas algumas perguntas, como demonstrado to adverso e um medicamento (MEYBOOM et al.,
na Figura 2. 1997). Caso haja novas notificações, esses casos
Após a realização das perguntas e da deter- deverão ser analisados, conforme já foi discutido,
minação, se a reação tem causalidade definida anteriormente.
ou provável, tal reação deverá ter prioridade de Como ocorrem para as notificações de queixas
ações imediatas como a interdição de um ou técnicas, os notificadores deverão receber carta de
mais lotes, a divulgação de alertas e o envio de agradecimento pela sua notificação.
03 NOTIFICAÇÕES DE SUSPEITA DE
INEFETIVIDADE TERAPÊUTICA
Suspeitas de inefetividade terapêutica (SIT) com materiais médico-hospitalares, com soluções
ocorrem quando medicamentos não apresentam os diluentes, além da forma com que o mesmo foi
efeitos que se esperam deles (Anvisa, 2008). Por- transportado, armazenado nas diversas etapas até
tanto, a inefetividade pode ocorrer por redução ou a administração ao paciente.
por ausência do efeito esperado. Isso pode ocorrer Esses parâmetros devem ser analisados, durante
por problemas com a qualidade do medicamento, a investigação, para que seja estabelecida a causa
interações medicamentosas, uso inadequado, resis- da inefetividade, buscando resposta à pergunta: o
tência ou tolerância do paciente ao medicamento problema é no produto ou no processo? Os passos
(Meyboom et al., 2000). para a investigação de SIT podem ser observados
Alguns autores têm discutido sobre a pro- na figura 3.
porção que a inefetividade terapêutica vem Analisados todos esses parâmetros e, descarta-
alcançando entre as notifi cações de eventos das essas possibilidades, o profissional pode pros-
adversos com medicamentos. Tal fato ocorre, seguir com a investigação, questionando, então, o
tanto em países em desenvolvimento, como fabricante do medicamento. Na prática, há casos
nos desenvolvidos (FIGUERAS et al., 2002). No em que não se consegue comprovar a inefetividade
HCFMRP-USP, as notifi cações de suspeita de do medicamento, já que, muitas vezes, os laudos
inefetividade terapêutica, também, aumenta- de controle de qualidade demonstram que o teor de
ram, nos últimos anos, e, por isso, são separa- princípio ativo está dentro dos parâmetros estabe-
das das notificações de reações adversas. lecidos, oficialmente.
As notificações de suspeitas de inefetividade Infelizmente, esse problema está acima das pos-
terapêutica são as mais complexas de ser investi- sibilidades de os farmacêuticos hospitalares compro-
gadas, pois, como já citado, diversos são os fatores varem, competindo à Anvisa tal análise e, por isso,
que podem influenciar a efetividade de um medi- as notificações desses casos devem ser encaminha-
camento: a indicação incorreta, a posologia ina- das para essa entidade.
dequada, a via de administração errada, a existên- Ao final de todo o processo investigativo de
cia de interações medicamentosas, de interações SIT, os notificadores deverão receber carta de agra-
medicamento-alimento, de incompatibilidades decimento pela sua notificação.
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04 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A determinação e a padronização do fluxogra- alidade, desenvolver seus próprios fluxogramas de
ma são importantes para definir como devem ser investigação.
realizadas as investigações, facilitando o processo Um processo investigativo realizado com quali-
investigativo, reduzindo o seu tempo, tornando-o dade é fundamental para a tomada de decisões em
mais completo e confiável. farmacovigilância, fomentando ações corretivas e
Os farmacêuticos hospitalares que atuam na preventivas, promovendo assim, a segurança dos
farmacovigilância podem, de acordo com cada re- pacientes.
05 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Tabela 2 - Somatório de scores proposto por Naranjo et al. (1981) – resultado da utilização
do Algoritmo, a fim de determinar a causalidade de Reações Adversas a Medicamentos.
Somatório dos Scores Classes de causalidade
9 ou + Definida
5a8 Provável
1a4 Possível
0 ou - Duvidosa
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Farmácia Clínica na Unidade de Terapia Intensiva Coletânea de Farmácia Hospitalar
A farmácia clínica teve sua expansão, a par- clínicos e reduzindo custos associados à terapia
tir da década de 60 e, durante estes últimos 40 medicamentosa.
anos, houve grande desenvolvimento na atribui- Para que este trabalho tenha êxito, é necessá-
ção da Farmácia e do farmacêutico clínico. Hoje, rio que o farmacêutico clínico se inteire, inicial-
a farmácia clínica pode ser definida como área da mente, da anamnese e da hipótese diagnóstica,
Farmácia que envolve a ciência e a prática do uso informações estas recolhidas do próprio prontuá-
racional de medicamentos, objetivando um efeito rio do paciente em visitas à beira do leito junto
terapêutico máximo, com mínimos efeitos inde- com a equipe que compõe a unidade de terapia
sejáveis. intensiva e nas reuniões científicas.
O envolvimento do farmacêutico clínico em Dada à complexidade dos casos no ambiente
todo este processo foi, cada vez mais, necessário da terapia intensiva, como pacientes nefropatas,
para acompanhar a evolução diária do paciente, transplantados, idosos e etc. e à necessidade de
contribuindo, assim, para que o medicamento seja cuidados com monitoramento intensivos, obser-
utilizado, da forma segura e adequada. vam-se prescrições extensas de medicamentos,
Por muito tempo, os médicos foram responsá- combinação de drogas potencialmente inapro-
veis pela prescrição; os farmacêuticos, pela dis- priadas e tempo prolongado de hospitalização
pensação, e os enfermeiros, pela administração que representam maior possibilidade de desen-
do medicamento ao paciente. Cada um destes pro- volvimento de eventos adversos, justificando-se,
fissionais prestando sua assistência, de maneira assim, a presença de um profissional farmacêutico
segmentada, de forma que, se um falhasse, todo o atualizado, qualificado e treinado.
processo estaria comprometido. Com este pensamento e com todas as dúvi-
Hoje, sabemos que, com trabalho em equi- das, principalmente, a de “como começar”, uma
pe, educação e treinamento, o farmacêutico é força tarefa do Departamento de Farmácia Clínica
capaz de formar um elo entre o médico e o e Farmacologia da Sociedade Americana de Tera-
enfermeiro, ter visão geral de todo o processo pia Intensiva e do Colégio Americano de Farmá-
- da prescrição até a administração do medi- cia Clínica publicou, na Critical Care Medicine de
camento – e, desta forma, agregar segurança 2000, qual seria o papel do farmacêutico nestas
ao paciente no uso do medicamento. O produ- unidades e o que eles consideram atividades fun-
to final dessa integração será, naturalmente, damentais, desejáveis e ótimas dentro da terapia
o aprendizado recíproco, pois o trabalho em intensiva.
equipe pressupõe uma troca permanente de in- A Sociedade Européia de Farmácia Clínica,
formações e experiências. criada, em 1979, também, publicou a necessidade
Muito se discute sobre a evolução e impacto do serviço de farmácia clínica enfatizando os ní-
da atuação do farmacêutico na unidade de terapia veis de ação desta atividade, que podemos trans-
intensiva, participando da visita multidisciplinar por para dentro do ambiente de terapia intensiva,
à beira do leito, colaborando com o médico para analisando o uso de medicamentos em três níveis:
uma prescrição segura e racional, participando antes, durante e depois da prescrição.
do processo de padronização e dispensação de Daí em diante, podemos citar vários trabalhos
medicamentos, provendo informações técnicas à que reforçam a atuação da farmácia clínica como
equipe, participando ativamente em protocolos um trabalho eficaz e necessário: humanístico (por
24
Coletânea de Farmácia Hospitalar Farmácia Clínica na Unidade de Terapia Intensiva
exemplo, a qualidade de vida e a satisfação), clí- fissionais compatíveis; apoio do corpo adminis-
nico (por exemplo, o melhor controle e manejo de trativo tanto da farmácia quanto do hospital; ter
doenças crônicas) e econômico (por exemplo, a uma relação de medicamentos e comissão de far-
redução de custos). mácia e terapêutica atuante e educação técnica
O gasto com medicamento, na Unidade de Te- na área e suporte técnico adequado.
rapia Intensiva, pode chegar a 38% do total em Além disso, também, há necessidade de ou-
um hospital. O acompanhamento que o farmacêu- tras ferramentas para o desenvolvimento do tra-
tico faz, por meio de trabalhos de farmacoecono- balho, como sistemas informatizados e banco de
mia, contribui para a redução e otimização destes dados eletrônicos que permitem ao farmacêutico
gastos na terapia medicamentosa. Montazeri and melhor tratamento da prescrição médica no que
Cook, 1994, caracterizaram os tipos de interven- concerne às interações medicamentosas e eventos
ção farmacêutica, na Unidade de Terapia Inten- adversos, permitindo ao farmacêutico intervir e
siva, em um período de três meses, onde foram prevenir a ocorrências, antes da administração do
observadas 575 intervenções que representaram medicamento, agregando maior segurança à pres-
uma economia de 10.000 dólares canadenses. crição médica e ao paciente.
Outros trabalhos mostram que dentre 398 in- Apesar de sabermos que não dispomos de
tervenções farmacêuticas, na UTI, houve adesão todas as condições e ferramentas necessárias
médica em até 99% dos casos. Quanto à questão para a implementação e desenvolvimento da
da dieta e especificamente em pacientes que pos- farmácia clínica na grande maioria dos hospi-
suem sondas enterais (60% dos pacientes na Uni- tais, no Brasil, sabemos que muito se faz, na
dade de Terapia Intensiva), o farmacêutico tem prática.
participação e responsabilidade quanto à identifi- É, diante deste quadro e sabendo da impor-
cação de medicamentos associados à obstrução da tância deste profissional, que esperamos agregar
sonda, interações com a dieta além de problemas forças junto à Associação de Medicina Intensi-
de absorção. va Brasileira (AMIB), somarmos o conhecimento
Diante de todo este quadro, associado ao fato na nossa área, definir os princípios básicos para
de se ter uma unidade de corpo clínico fechado, quem está iniciando e fortalecer a prática da far-
a UTI traduz-se em um excelente local para atu- mácia clínica, no Brasil.
ação do farmacêutico clínico. A grande questão Esperamos contar com os farmacêuticos que
do desenvolvimento da farmácia clínica não é por atuam, ou desejam atuar, nesta área, participando
onde começar, como já dito anteriormente, mas, da Associação. Ainda lembramos o “14° Congres-
sim, como começar, pois sabemos da necessidade so da AMIB”, que será realizado, em novembro de
de alguns pré-requisitos de caráter administrati- 2009, na cidade de São Paulo, no qual teremos
vos fundamentais como, por exemplo: obter uma temas voltados para a nossa área.
farmácia hospitalar estruturada e com processos
seguros e bem definidos, além do número de pro- Maiores informações: www.amib.com.br
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FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar
01 INTRODUÇÃO
O farmacêutico vem ampliando a sua área de A Anvisa publicou, em 21 de Setembro de
atuação, no universo da oncologia, desde a dé- 2004, a Resolução 220/04, estabelecendo uma
cada de 90, quando o Conselho Federal de Far- legislação de âmbito nacional, regulamentando o
mácia estabeleceu como privativa deste profissio- funcionamento dos serviços de terapia antineo-
nal a manipulação de medicamentos citotóxicos, plásica e instituindo a equipe multidisciplinar em
através da Resolução 288/96. Este foi o primeiro terapia antineoplásica (EMTA).
grande passo para que o farmacêutico assumisse Podemos citar, aqui. também, a Portaria
o espaço na área. 3535/98, do Ministério da Saúde, que determina
Houve, então, o fortalecimento da classe, em que todo serviço de alta complexidade no trata-
virtude da criação da Sociedade Brasileira de Far- mento do câncer, cadastrado pelo Sistema Único
macêuticos em Oncologia (Sobrafo), que veio a dar de Saúde (SUS), deve contar com um farmacêuti-
suporte técnico-científico a estes profissionais. co, no caso de manipulação de quimioterápicos.
02 O FARMACÊUTICO HOSPITALAR NO
UNIVERSO DA ONCOLOGIA
Em oncologia, o farmacêutico é o princi- 2. Auditorias internas
pal instrumento para a qualidade da farmaco- O farmacêutico, também, é o responsável por
terapia. Suas atribuições excedem a simples realizar auditorias internas, no que diz respeito
dispensação da prescrição médica, ou ainda a à estrutura da área de preparo de quimioterapia,
manipulação propriamente dita. Sua atuação é estocagem de medicamentos e manutenção pre-
importante em várias etapas da terapia anti- ventiva de equipamentos, de acordo com as ne-
neoplásica, a saber: cessidades operacionais e normas estabelecidas
pela legislação vigente.
1. Seleção e padronização de
medicamentos e materiais 3. Informação sobre medicamentos
O farmacêutico, ao conhecer efetivamente os O farmacêutico assume a função de avaliar a
protocolos terapêuticos e de suporte na terapia bibliografia, veiculando informação isenta e se-
antineoplásica, tem a responsabilidade na seleção gura, de fontes confiáveis, contribuindo para o
de produtos que atendam as exigências legais, na aprimoramento da qualidade das condutas de
averiguação do cumprimento das boas práticas de prescrição e terapêuticas.
fabricação pelo fornecedor, na avaliação técnica O farmacêutico atua no processo de comu-
e na notificação de queixas técnicas aos órgãos nicação, fornecendo aos membros da equipe
reguladores. multidisciplinar informações sobre farmacoci-
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas
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FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar
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FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas
cumprir o plano terapêutico, tendo como obje- -se, portanto, de uma conquista fomentada pela
tivo maior, garantir a adesão ao tratamento e cumplicidade desenvolvida entre farmacêutico e
melhorar a qualidade de vida do paciente. Trata- paciente.
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FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar
todas as etapas que envolvem a manipulação pro- A cultura da prevenção de erros deve ser disse-
priamente dita, tais como: a aquisição, o armaze- minada com toda a equipe, desde o prescritor até
namento, o preparo, a dispensação, o transporte o pessoal de enfermagem que realiza a adminis-
e a administração do medicamento ao paciente. tração do medicamento.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas
lhantes aos de outros já consagrados e utilizadas jáveis e pode agravar a doença e comprometer a
na prática clínica, entretanto com custos muito saúde financeira do hospital.
diferentes, sendo em geral mais caros que aqueles O farmacêutico precisa se conscientizar de
mais antigos. que a farmácia é uma unidade de negócio e que,
A farmacoeconomia é a ferramenta utilizada desta forma, ele também é visto como um empre-
como ponto de definição entre o que é melhor, endedor dentro da unidade hospitalar.
tomando como base a relação custo- benefício, Com a aplicação dos princípios farmacoeconô-
oferecendo subsídios para as escolhas, mediante micos no cotidiano da farmácia e, em especial,
a necessidade de cada paciente. Vale ressaltar que na área de oncologia, estamos eliminando des-
a farmacoeconomia, além de otimizar os recursos perdícios, sendo ágeis, competitivos e envolvidos
financeiros, não leva em conta apenas os aspectos no custo do tratamento. A atuação, nessa área
econômicos de uma terapia, mas acima de tudo, o do conhecimento, gera a valorização do farma-
sucesso dela, contribuindo para uma melhor qua- cêutico dentro do hospital. Com recursos finitos,
lidade de vida do paciente. temos que cooperar para que as melhores escolhas
O uso irracional de medicamentos, sem co- sejam realizadas e as patologias possam ser tra-
nhecimento, informação, orientação e sem pla- tadas com a tecnologia mais custo-efetivamente
nejamento, aumenta os riscos de reações indese- disponível.
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FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar
no que diz respeito ao surgimento de reações para que o paciente não sinta nenhuma dificulda-
adversas causadas pela própria quimioterapia, e de adicional no tratamento.
como manuseá-las. Descrevemos, a seguir, os problemas mais
Citamos, aqui, algumas das orientações forne- frequentes, decorrentes de quimioterapia e que,
cidas aos pacientes que devem ser acompanhados muitas vezes, incapacitam e aumentam o sofri-
bem de perto pelo farmacêutico. Esta orientação mento do paciente, não só no aspecto fisiológi-
deve ser clara, precisa e mais simples possível, co, mas também psicossocial.
TERAPIA DE SUPORTE
Náuseas e vômitos são vistos pelos pacientes como efeitos adversos assustadores e particularmente de-
sagradáveis da terapia citostática. Sua severidade pode até mesmo levar ao término prematuro da terapia.
Portanto é pertinente prover uma terapia anti-emética eficiente.
As intervenções farmacêuticas para a condução de ajustes posológicos devem ser guiadas pelos seguintes
parâmetros:
• Potencial emetogênico da terapia citotóxica, avaliando cada medicamento prescrito no protocolo;
• Fatores de riscos individuais dos pacientes;
• Diferentes fases da náusea e êmese ( agudos, tardios, antecipatórios);
• Aspectos farmacoeconômicos, avaliando o melhor protocolo, baseado em evidência e resposta do
paciente;
Manejo da Dor
A maioria dos pacientes com tumores apresenta dor durante o curso de sua doença, muitas vezes, devido á
compressão de raízes nervosas.
A causa, o tipo e a intensidade da dor pode ser diferente. A dor necessita ter diagnóstico precoce e a terapia
imediata e apropriada, incluindo todas as diferentes opções de tratamento. É importante incluir o manejo da
dor no plano de cuidado do paciente, e isso deve incluir opções farmacoterapêuticas bem como alternativas de
tratamento preconizados na literatura (baseadas em evidências). Também deve-se disponibilizar alternativas
terapêuticas não farmacológicas.
Alopécia
Alopécia pode ser um efeito adverso sério para alguns pacientes tratados com terapia citostática. Embora
opções de tratamento ainda sejam limitadas, a preocupação com a alopécia e seus aspectos devem ser conside-
rados no plano de cuidado e comentados na atenção ao paciente. Por ser uma reação que identifica o problema
do paciente, ele muitas vezes adia ou se recusa a iniciar o tratamento para que ninguém saiba que ele tem
câncer.
Nesse cenário a atuação multidisciplinar de farmacêuticos, médicos e psicólogos poderá ter excelentes
resultados sobre a adesão.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas
Mucosite
Inflamação da mucosa – mucosite – pode ser observada em vários locais.A mucosite é uma das reações
adversas mais freqüentes e debilitantes, pois em muito compromete o perfil nutricional do paciente.
Lesões na mucosa podem ser muito dolorosas e reduzir significativamente a qualidade devida dos pacientes
com câncer. É uma das responsabilidades do farmacêutico dar recomendações aos pacientes sobre profilaxia da
mucosite e seu tratamento.
Manejo da diarréia
A diarréia é uma séria complicação da terapia do câncer. Alguns citostáticos em particular, bem como a
radioterapia podem causar diarréia como efeito adverso.
Processos imunológicos, infecciosos e do próprio câncer também podem causar diarréia e precisam ser
incluídos na avaliação diagnóstica.
Diarréia não tratada pode levar à fraqueza, desequilíbrio eletrolítico e desidratação, podendo comprometer
drasticamente a resposta ao tratamento quimioterápico.
Terapia Nutricional
Quase todos os pacientes oncológicos sofrem de perda de peso extrema. Isto não somente leva a uma piora
das condições gerais do paciente, mas a caquexia também causa uma maior intolerância à terapia e um risco
aumentado de desenvolvimento de efeitos adversos.
O farmacêutico deve também prover, junto ao médico e outros membros da equipe de saúde, diretrizes sobre
como o paciente pode se beneficiar de mudanças na dieta.
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FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas
11 BIOSSEGURANÇA EM ONCOLOGIA
Avaliação de risco, normas de trabalho e orientação
A – Área física: Equipamentos de proteção coletiva EPC
A área destinada à Central de Manipulação de – Capela de fluxo laminar classe II, tipo B2
Quimioterápicos (CMQ) e Sala de Administração (apresenta fluxo unidirecional vertical,
de Medicamentos (SAM) deverá ser planejada, 100% de exaustão externa do ar e 0% de
buscando atender as características de cada ins- recirculação interna do ar );
tituição e proporcionando segurança ao trabalha- – Lava olhos (pode ser substituído por solu-
dor, ao paciente e seus cuidadores. A CMQ deve ção fisiológica a 0,9%);
ser centralizada, com acesso restrito ao pessoal – Coletor rígido para resíduos (caracterizado
responsável pela manipulação. Nesta área, de- pela NT de 21/09/99).
verão ser proibidas ações, como: beber, comer e
aplicação de cosméticos. Equipamentos de proteção individual EPI
A SAM deve ser uma área na qual o paciente se
sinta confortavelmente instalado, sem perder sua • Vestimenta (macacão ou avental) confec-
privacidade. Deve ser de fácil acesso, contando cionado em material impermeável, fechado
entradas e saídas ágeis para situações de emer- na frente, com mangas longas e punhos
gência. elásticos.
• Botas plásticas com solado antiderrapante
B – Equipamentos: ou propés de plástico
• Óculos de proteção panorâmico;
• Respirador com filtro classe P3 (alta eficiên-
cia);
• Luvas de látex isentas de talco (powder free);
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FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar
tado das mesmas registradas na ficha individual particular a urina, devem ser consideradas mate-
do funcionário. riais de risco e, para isto, deverão ser manuseados
Tomando-se as providências abaixo relaciona- com luvas protetoras.
das, a exposição aos antineoplásicos será minimi-
zada: Exposição crônica
– A capela de fluxo laminar deverá ser ligada Os danos da exposição crônica poderão ser
com 30 minutos de antecedência e deixada mensurados em função da toxicidade inerente de
ligada 30 minutos após o término do servi- um determinado agente quimioterápico versus a
ço; extensão de exposição a este agente.
– A capela deverá ser submetida à desinfec- O monitoramento médico é extremamente im-
ção com álcool 70%, antes e após o término portante, aconselhando-se a realização de exa-
da manipulação; mes médicos periódicos, a cada seis meses, com
atenção para os sistemas hematopoiético, hepá-
– A manutenção preventiva da capela deve
tico, renal, pele e sistema nervoso central. De-
ser periódica, sendo efetuada a troca dos
verão ser realizados exames nas seguintes situa-
filtros HEPA por técnicos habilitados, sem-
ções: admissão; retorno ao trabalho, após 30 dias
pre que necessário. A manutenção preven-
de licença médica; transferência de outro setor
tiva deve ser realizada sempre que a capela
para área de manipulação e vice-versa; demissão.
for trocada de lugar ou na observância de
Com relação aos indicadores, tem-se detecta-
quaisquer problemas.
do níveis mensuráveis de agentes quimioterápicos
– Utilizar adequadamente todos os EPIs obri- no ar e nas superfícies, quando capelas de fluxo
gatórios; laminar não são utilizadas no preparo de quimio-
– Trocar as luvas de látex a cada hora de tra- terápicos. Ainda mesmo quando este monitora-
balho e sempre que se fizer necessário; mento é realizado dentro da capela, fica eviden-
– Manter kit de emergência em local de fácil ciada esta exposição quando detecta-se saturação
acesso; destes agentes nos filtros HEPA.
Existem relatos de mutagenicidade urinária em
– O pessoal que cuida dos pacientes em tra-
profissionais que manipulam agentes quimioterá-
tamento com quimioterapia deve adotar
picos, porém estes mesmos níveis têm diminuição
precauções de barreira (luvas descartáveis,
total, quando estes profissionais são afastados da
óculos de proteção, avental impermeável);
exposição rotineira e vice-versa.
– Os profissionais da equipe de limpeza de- A evidência de tióteres urinários (metabólitos
vem calçar luvas de látex e avental ao ma- conjugados à glutationa de agentes alquilantes)
nusear os sacos de lixo, tomando cuidado podem ser utilizados como indicadores de expo-
para observar vazamentos e gotejamentos. sição, uma vez que manipuladores de antineoplá-
Além disso, devem sempre manusear sacos sico, demonstraram aumento de tiótere urinários
e coletores de pérfuro-cortantes afastados em comparação com grupos de controle.
do corpo. Com relação à mutagenicidade/alterações cro-
Basicamente a exposição aos antineoplásicos mossômicas, alguns estudos têm evidenciado es-
pode ser entendida como aguda ou crônica: tes efeitos como advindos desta exposição.
Através de marcadores de danos, tem-se ob-
Exposição aguda servado troca de cromátides irmãs, alterações
Na ocorrência de acidentes que contaminem estruturais do núcleo celular e micronúcleos de
EPIs, estes devem ser removidos imediatamente linfócitos de sangue periférico. Estes resultados
e descartados. Quando da contaminação de pele podem não ser tão esclarecedores quando even-
e mucosas, deve-se proceder a lavagem, com tualmente se observa aumento em um ou mais
água e sabão neutro e, no caso de contaminação marcadores, em diferentes situações.
dos olhos, utilizar lava-olhos (ou soro fisiológico Talvez essa dificuldade de quantificar estes
0,9%) por 15 minutos. efeitos da exposição e essas alterações de resul-
As excretas dos pacientes em tratamento, em tados de absorção resultam de diferentes inten-
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas
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FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar
1. masculino 2. feminino
ventes, nos grandes derramamentos. No caso de
derramamento de pós, deverá ser limpo com gaze
End.: (Rua, AV.; Nº) Bairro Fone
Atividade
Medidas adotadas:
_______________________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________
plásticos apropriados para estes resíduos.
Na ocorrência de contaminação do filtro HEPA,
_______________________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________
Médico contatado:
Preenchido por:
a capela deverá ser desativada, vedada com plás-
FAVOR ENVIAR A NOTIFICAÇÃO À CIPA.
tico, até que técnicos especializados possam tro-
cá-los e realizar nova validação da cabine.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas
SERVIÇO DE FARMÁCIA
CENTRAL DE MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS
NOME:
APRESENTAÇÃO: MARCA: FABRICANTE:
DATA DA AVALIAÇÃO:
NÚMERO DE AMOSTRAS:
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO FARMÁCIA
I. CERTIFICADO DE ANÁLISE
Lab.REBLADO
Apresentação
Rótulo/Embalagem
Volume declarado
Volume extraível
Cor/Aspecto
Tempo de reconstituição
OVERFILL
II. DOCUMENTAÇÃO
Aprovado
Não aprovado
Aprovado com restrições
Observações:
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FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas
16 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
www.anvisa.gov.br Manual de manuseio de drogas citsotáticas
w.w.w.ashp.org (ASHP – USA) – Novartis Oncologia
www.fda.gov (FDA) Manual de Oncologia – José Renan Q.
www.cancer.org Guimarães
(American Cancer Society) Manual para Comitês de Ética em Pesquisa
www.IARC.fr Clínica – MS
www.asco.org (ASCO) Enfermagem em terapêutica oncológica
www.riscobiologico.org – Bonassa
www.sobrafo.com.br www.cff.org.br
Farmacêuticos em oncologia – uma nova
realidade
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NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração Coletânea de Farmácia Hospitalar
01 HISTÓRICO
Dada a necessidade de se fornecer alimentos cipalmente, quando as condições mencionadas
para pacientes com dificuldade de ingestão pelas estão associadas, ou podem evoluir para um es-
vias fisiológicas, foram feitas, ao longo da His- tado de desnutrição.
tória, várias tentativas desta complementação. A nutrição parenteral total (NPT) consiste em:
Houve tentativas de se infundir alimentos prepa-
rados por via retal, a infusão de alimentos por via Solução ou emulsão composta basicamente de
parenteral (em especial, com leite materno ou de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e
vaca). Porém todas estas tentativas apresentaram minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em
alguma forma de complicação, ou mostraram-se recipiente de vidro ou plástico, destinada a admi-
inviáveis. nistração intravenosa em pacientes desnutridos ou
não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domici-
Através da utilização de aminoácidos cris-
liar, visando à síntese ou manutenção dos tecidos,
talinos, os primeiros estudos bem-sucedidos de órgãos ou sistemas (Portaria-272 – abril 98).
infusão de uma alimentação artificial parenteral
foram desenvolvidos por Dudrick e col, somente
na década de 1960, o que nos indica o quanto Principais indicações
esta prática tem se desenvolvido, nos últimos
a. No adulto: em situações pré-operatórias,
tempos.
em doentes portadores de desnutrição,
No Brasil, a Portaria 272/98 regulamenta a Te-
com doenças obstrutivas no trato gas-
rapia de Nutrição Parenteral (TNP). Esta Portaria
trointestinal alto, complicações pós-
estabelece a necessidade da atividade em equipe,
-cirúrgicas, lesões múltiplas, queimaduras
definindo responsabilidades, âmbitos de atuação
e as Boas Práticas em TNP. Recomendamos sua graves, moléstias inflamatórias intestinas
detalhada leitura, para que se cumpram os itens (ex.: Síndrome de Crohn, síndrome do in-
exigidos por ela. testino curto etc.).
A nutrição parenteral é necessária nos casos b. Na Criança/recém nascido: prematuros de
em que a alimentação oral normal não é possível, baixo peso, má formação congênita do tra-
quando a absorção de nutrientes é incompleta, to gastrointestinal, diarréia crônica inten-
quando a alimentação oral é indesejável e, prin- sa etc.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração
02 PRINCIPAIS COMPONENTES
Composição da solução
Uma NPT típica para adulto, pode ser representada pela formulação abaixo:
I) Soluções de glicose:
As soluções contendo glicose são uma exce- II) Emulsões lipídicas (EL):
lente opção, por ser uma fonte calórica pronta A utilização de EL, por ser pouco hipertônica
para utilização (independe de prévia metaboliza- e possuir elevada densidade calórica (9 Kcal/g de
ção) e é a única que pode ser utilizada de forma lipídio), proporciona uma NPT de menor volume e
exclusiva. As soluções de glicose possuem uma menor osmolaridade, se comparada a uma que uti-
densidade calórica de cerca de 3,4 Kcal/g de gli- liza exclusivamente glicose como fonte calórica.
cose monohidratada. Além disso, ao se adicionar triglicérides de ca-
Outra vantagem da solução de glicose é a de deia longa e triglicérides de cadeia média (TCL e
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NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração Coletânea de Farmácia Hospitalar
TCM) na NPT, colabora-se para evitar a carência para manter íntegros os processos fisiológicos
de ácidos graxos essências (ácidos linoleico, lino- intra e extracelulares. Abaixo uma indicação de
lênico e aracdônico) e de todas as complicações recomendação de eletrólitos.
bioquímicas decorrentes desta ausência.
As soluções encontradas no mercado variam Sugestão para administração
entre 10% a 20%. Além das emulsões a base de de eletrólitos em crianças
óleo de soja (mais comuns), temos disponíveis, ELETRÓLITOS NECESSIDADES BASAIS
também, emulsões de óleo de peixe, óleo de oliva Sódio 2 a 4 mEq/Kg
e mistura destes. Potássio 2 a 3 mEq/Kg
Atualmente, além do aporte calórico, a uti- Cloro 2 a 3 mEq/Kg
lização de óleo de fontes diferentes, possibilita Magnésio 0,3 a 2 mEq/Kg
colaborar na modulação da resposta inflamatória Cálcio 0,5 a 2 mEq/Kg
e imunológica, podendo aumentá-la ou diminuí-la Fósforo 0,5 a 2 mEq/Kg
de acordo com o produto ou combinação empre-
gada. Recomenda-se a consulta a tabelas apropria-
das, tais como da American Medical Association
Eletrólitos, vitaminas e oligoelementos (AMA) para cada faixa etária e patologia associa-
A adição dos eletrólitos, vitaminas e oligoe- da, para certificar-se da necessidade de que cada
lementos devem atender as necessidades diárias paciente possa ter.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração
Osmolaridade (mOsm/L) = [(Aa g)x 11 + (Glic.g)x 5.5 + (Lip.g) x 0,3 (Cátions mEq)] x1000
Volume final da NP em mililitros
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NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração
O que fazer frente a um problema destes? • Alterar a taxa hídrica, aumentando o sol-
vente, através de:
Podemos sugerir ao prescritor, algumas das
opções abaixo. Alterar a concentração de aminoácidos,
• Rever a distribuição e concentração de íons aumentando-a;
e corrigi-la; Alterar a concentração de glicose,
• Dividir a solução em duas etapas, separando • Administrar a Emulsão Lipídica em sepa-
os íons divalentes; rado.
04 CUIDADOS NO PREPARO
A NPT deve ser manipulada em sala limpa As amostras de contra referência devem ficar
classe ISO 7, em cabines de fluxo laminar classe armazenadas por pelo menos 7 dias após o prepa-
ISO 5, com pressão positiva. Deve possuir uma ro da solução.
antecâmara para desinfecção e paramentação de
vestuário próprio e adequado, que não libere par- Tabelas ISO
tículas e esteja esterilizado.
A prévia desinfecção que deve ocorrer da parte
externa das embalagens primárias dos produtos
que serão utilizados para a manipulação (quando
possível) deve ser realizada em área adjacente a
da manipulação. Esta área deve ser classificada
(classe ISO 8), possuir comunicação com a área
de manipulação através de caixa de passagem
com dupla porta, intertravada e possuir pressão
menor do que a sala de manipulação e maior que
a área externa.
Todas as áreas devem ser precedidas de uma
antecâmara com igual classe de controle à sala
a qual dará acesso e possuir pressão menor que
ela. Recomenda-se pelo menos 20 trocas de ar por
hora e que a sala possua cerca de 5 m²/por cabi-
ne.
Todos os produtos utilizados na NPT devem
ter registro no Ministério da Saúde. Sua utiliza-
ção deve ser precedida de um cadastramento do
laboratório produtor e cada remessa dos produtos
deve vir acompanhada dos laudos de controle de
qualidade do lote entregue. Todos os funcionários
devem ser treinados para as funções que poderão
exercer e este treinamento ser registrado, a fim de
poder evidenciar esta ação.
As manutenções preventivas e corretivas de-
vem ser registradas e os ensaios periódicos defi-
nidos e cumpridos, conforme cronograma pré-es-
tabelecido. Segundo a ISO 14.644, as contagens
de partículas devem ocorrer, a cada seis meses,
para ambientes iguais ou menores que a classe
ISO 5, e a cada 12 meses, para ambientes iguais
ou maiores que a classe ISO 6.
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NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração Coletânea de Farmácia Hospitalar
06 CUIDADOS NA ADMINISTRAÇÃO
Assim que recebida da farmácia, a enferma- de cada frasco de NPT não deve ser superior a 24
gem, se não for utilizar imediatamente, deve horas.
armazenar a NPT em refrigerador próprio para Deve-se manter um gotejamento rigoroso,
medicamentos. A NPT não deve ficar exposta a conforme plano de infusão. De acordo com a Por-
iluminação direta ou fontes de calor. A infusão taria 272, a infusão deve ocorrer, em via própria,
50
Coletânea de Farmácia Hospitalar NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração
exclusiva para esta finalidade. Quando isto não for • Suspenda, temporariamente, a infusão da
possível, a Comissão de Terapia Nutricional deve NPT;
ser acionada, a fim de orientar sobre possíveis in- • Faça uma “limpeza” da linha a ser utilizada,
terações ou outros problemas que possam vir a com solução fisiológica ou glicosada;
ocorrer. • Administre a medicação;
É comum, na ausência de uma via exclusiva, a • Faça uma nova limpeza da linha e
utilização de equipos de duas vias, para se infun- • Reinicie a parenteral.
dir concomitante a NPT e outras soluções endove- Lembre-se de:
nosas. 1) Recalcular o gotejamento da solução, aumen-
Tal prática não evita a mistura de medicamen- tando-a. Em função da(s) interrupção(ões) da
tos com a NPT. Segundo Trissel, vários medicamen- infusão de NPT para a administração de ou-
tos são incompatíveis, mesmo com este breve con- tros medicamentos, ocorrerá uma diminuição
tato. Portanto, em se utilizando de equipo duas no número de horas diária de infusão da NPT,
vias, um estudo de estabilidade deve preceder a ocasionando uma diminuição da infusão do vo-
infusão, a fim de garantir a qualidade da terapia lume prescrito;
farmacológica e nutricional. 2) Recalcule a velocidade de infusão de glicose
Mas, e se não soubermos ou não tivermos in- e a velocidade de infusão de lipídios. Se es-
formações sobre a compatibilidade dos medica- tiverem fora das faixas recomendadas, faça a
mentos e da NPT, o que fazer? correção.
07 BIBLIOGRAFIA
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200. p.134]
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ASPEN – American Society of Parenteral and En-
de misturas são preparadas, estocadas e dispen-
teral Nutrition – Guide Lines.
sadas.
51
AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar
e na implantação de ações de melhoria das não- “agir” na cultura organizacional, conforme pre-
-conformidades encontradas no seu sistema ge- visto no ciclo PDCA, esquematizado na figura 1.
rencial e, desta forma, provocar a incorporação (CANOSSA, 2009)
de práticas sistemáticas do binômio “avaliar” e
02 O PROCESSO DE AUDITORIA
De acordo com seus objetivos (Quadro 1), a previamente definidos, delineando o perfil da as-
auditoria pode ser classificada como contábil, sistência à saúde e seus controles. Já a auditoria
operacional, de gestão, da tecnologia da infor- operativa é realizada, através do exame direto dos
mação, ambiental e de qualidade (VIANA, 2003). fatos, obtidos por meio da observação, medição,
Podem ser auditorias internas, quando executada ensaio ou outras técnicas apropriadas, cujo obje-
pela própria organização, ou externas, quando tivo é verificar o atendimento aos requisitos le-
realizada sobre responsabilidade de uma empresa gais/ normativos que regulamentam os sistemas e
auditora independente (Quadro 1) (VIANA, 2003). suas atividades. (BRASIL, 1998a)
De acordo com a programação (Quadro 1), as
auditorias podem ser classificadas em inicial, de Quanto aos objetivos Contábil
acompanhamento (ou follow-up), periódica ou de Operacional
reavaliação. (VIANA, 2003) De gestão
Da Tecnologia da informação
Quanto ao tipo as auditorias (Quadro 1), po-
Ambiental
dem ser definidas como analítica ou operativa. A De qualidade
auditoria analítica se caracteriza como um con- Quanto a realização Interna
junto de procedimentos especializados, baseados Externa
na análise de relatórios, processos e documen- Quanto a programação Inicial
tos, cuja finalidade é avaliar se os serviços e os De acompanhamento (follow-up)
sistemas de saúde atendem às normas e padrões Periódica ou de reavaliação
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AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar
nadas à farmácia hospitalar na rota das audito- cumentação sanitária exigida pela legislação
rias, realizadas tanto para o acompanhamento vigente para a regularidade do serviço farma-
da execução das atividades, conforme as nor- cêutico.
matizações e legislações, quanto para avaliação O enfoque em processo significa avaliar toda
da qualidade da assistência farmacêutica hospi- a série de atividades que ocorrem entre profis-
talar. sionais e pacientes, as quais geralmente resul-
A auditoria em farmácia hospitalar, como tam em registros escritos, a partir dos quais
ferramenta de acompanhamento ou de avalia- poderão ser avaliados. (MARIN, 2003)
ção, deve ser construída, de acordo com os en- O auditor sob este enfoque irá verificar, na
foques clássicos para avaliação da qualidade em farmácia hospitalar, por exemplo, se os pro-
saúde: estrutura, processo e resultado. (MALIK, cedimentos escritos para manipulação de me-
1996; MARIN, 2003) dicamentos quimioterápicos injetáveis estão
O enfoque em estrutura significa que o pla- sendo seguidos, se os registros de controle de
nejamento para a realização de uma auditoria temperatura ambiente são realizados de forma
em farmácia hospitalar deverá considerar as ca- sistemática, se os recursos humanos treinados
racterísticas relativamente estáveis do sistema, para dispensação ambulatorial de medicamen-
os instrumentos e os recursos humanos, físicos tos executam as atividades conforme estabele-
ou financeiros necessários para execução das cido e se as programações para aquisição de
atividades (MARIN, 2003). medicamentos são cumpridas.
Como exemplo da aplicação deste enfoque, Já o enfoque em resultado visa a verificar se
o auditor irá avaliar os aspectos relacionados à estão sendo atingidos os objetivos propostos,
organização física dos espaços, à existência de se os resultados relacionados à melhoria do es-
equipamentos e procedimentos escritos neces- tado de saúde do paciente estão sendo obtidos.
sários para adequada execução das atividades, à Ainda que este enfoque seja o mais direto para
análise quantitativa e qualitativa dos recursos medir a qualidade da assistência farmacêutica
humanos existentes, à existência de organiza- prestada, a mensuração dos resultados desta
ção administrativa do serviço, entre outros. assistência não é fácil de estabelecer e de rea-
Dentro do serviço farmacêutico hospitalar, lizar (MARIN, 2003).
o auditor com enfoque em estrutura irá avaliar, Como exemplo deste enfoque em auditorias
por exemplo, as condições físicas das áreas de em farmácia hospitalar, o auditor poderá veri-
armazenamento, distribuição, manipulação e ficar os resultados dos programas de farmaco-
dispensação de medicamentos, a existência de vigilância, de tecnovigilância e de prevenção
termo-higrômetros devidamente calibrados nas de erros de medicação, o percentual de medica-
áreas com temperatura controlada, a existên- mentos vencidos na instituição, os resultados
cia de programa para manutenção preventiva de da atenção farmacêutica e da farmácia clínica
equipamentos, a quantidade de farmacêuticos e o percentual de medicamentos programados e
lotados no serviço e a existência de toda do- não adquiridos pela instituição.
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AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar Coletânea de Farmácia Hospitalar
DATA: _____/_____/_____
LISTA DE VERIFICAÇÃO
DA AUDITORIA FOLHA: _______/_______
01
02
03
04
05
Cadastro de fornecedores
Procedimento operacional padrão para a etapa de compras (elaboração do pedido,
Aquisição de levantamento de preços, autorizações, editais públicos, etc.)
Medicamentos Documentação sanitária solicitada para avaliação de produtos e empresas e parecer técnico
Avaliação do desempenho de fornecedores
Indicadores de processo (p. ex. % medicamentos programados X adquiridos)
56
Coletânea de Farmácia Hospitalar AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar
06 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A auditoria é uma ferramenta, um instrumento nados à ética e ao compromisso profissional,
capaz de municiar o gerente de informações que acaba por conciliar os atributos básicos para o
servirão de base para uma avaliação de determi- exercício da auditoria.
nado processo/ atividade conduzido sob sua res- No caso da farmácia hospitalar, o uso da au-
ponsabilidade. A necessidade de avaliação surge ditoria permite ao farmacêutico gestor não só
com a preocupação em verificar se o que se pla- verificar o cumprimento de determinada rotina,
nejou está sendo cumprido e se o produto final como também avaliar a qualidade da assistência
atende às expectativas. farmacêutica prestada pelo serviço que gerencia,
O farmacêutico, que conjuga tanto os co- através da análise da adequação de cada um dos
nhecimentos técnicos e administrativos neces- componentes desta assistência às normas preco-
sários ao gerenciamento da assistência farma- nizadas. Para tal uso, é necessário entender que a
cêutica hospitalar quanto os aspectos relacio- auditoria é um procedimento formal, baseado na
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AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar Coletânea de Farmácia Hospitalar
08 REFERÊNCIAS
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TALAR, Belo Horizonte, 2009. 1 CD-ROM.
59
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar
ERROS DE MEDICAÇÃO
TÂNIA AZEVEDO ANACLETO
MÁRIO BORGES ROSA
HESSEM MIRANDA NEIVA
MARIA AUXILIADORA PARREIRAS MARTINS
01 INTRODUÇÃO
Os eventos adversos relacionados a medi- mortes nos Estados Unidos 6. Os eventos adver-
camentos podem levar a importantes agravos à sos mais freqüentes relacionados aos medica-
saúde dos pacientes, com relevantes repercussões mentos foram registrados no Harvard Medical
econômicas e sociais1. Dentre eles, os erros de Practice Study II, sendo uma parte considerá-
medicação são ocorrências comuns e podem assu- vel deles evitável 5.
mir dimensões clinicamente significativas e impor Em 1999, o Institute of Medicine dos Esta-
custos relevantes ao sistema de saúde. Conforme dos Unidos com a publicação To Err Is Human:
Barber et al3, os erros de prescrição são os mais Building a Safer Health System aumentou os
sérios dentre os que ocorrem na utilização de me- níveis de conhecimento e conscientização so-
dicamentos. bre os eventos adversos e acelerou as inicia-
Nos últimos anos, o aumento considerável tivas governamentais para prevenção destes6.
de estudos relacionados à segurança do pa- Em 2007 o Instituto em outra importante pu-
ciente e erros de medicação levou a um maior blicação sobre erros de medica ção, declarou
conhecimento sobre o assunto, confirmando que o nível e as conseqüências desses eventos
sua importância como um problema mundial são inaceitáveis. Essa publicação concluiu após
de saúde pública. Em consonância com este análise de vários trabalhos publicados sobre er-
preocupante quadro, a Organização Mundial ros de medicação, que cada paciente internado
de Saúde lançou em 2004 o programa Aliança nos hospitais americanos está sujeito a um erro
Mundial para a Segurança do Paciente. Trata- de medicação por dia. Outra importante cons-
-se de um programa permanente que conclama tatação é que quando as incidências de erros
todos os países membros a tomarem medi- de medicação são sistematicamente medidas,
das para assegurar a qualidade da assistên- são encontrados níveis inaceitavelmente altos
cia prestada nas unidades de saúde de todo o e muitas vezes inesperados. Além disso, ressal-
mundo 3. ta que cada etapa do processo de utilização de
Os estudos Harvard Medical Practice Study medicamentos – prescrição, dispensação, ad-
I e II, marcantes e pioneiros na área de segu- ministração, monitoramento – é caracterizada
rança do paciente, mostraram que os eventos por vários e sérios problemas relacionados à
adversos relacionados à assistência são co- segurança e necessitam de melhores e maiores
muns e inesperadamente altos em hospitais estudos para evidenciar as falhas e determinar
norte-americanos, acarretando danos perma- ações de prevenção7.
nentes e mortes 4,5. A partir desses dois estu- A discussão e o interesse sobre erros de medi-
dos, estimou-se que cerca de 98.000 norte- cação são crescentes no Brasil, e já existe número
-americanos morrem por ano devido a erros considerável de publicações que vem demonstran-
associados à assistência à saúde, sendo estes do a importante dimensão dos eventos adversos
considerados uma das principais causas de nas instituições brasileiras.
60
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO
61
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar
03 CONCEITOS E TERMINOLOGIAS
Um dos obstáculos encontrados para o estudo classificar as reações ou sintomas provocados por
e prevenção de erros de medicação é a falta de erros na utilização do medicamento, sendo um de-
padronização e a multiplicidade da terminologia les a utilização de doses não usais para o homem.
utilizada para classificá-los. Esta situação preju- Várias outras definições foram publicadas no sen-
dica a comparação entre os estudos sobre o tema tido de diferenciar a reação adversa e o erro de
e retarda o conhecimento epidemiológico sobre medicação, sendo uma delas, descrita a seguir:
este importante assunto17. Qualquer resposta nociva ou indesejada ao
A Organização Mundial da Saúde está buscan- medicamento, que ocorre na dose normalmente
do uma taxonomia internacional para erros de usada para profilaxia, diagnóstico ou tratamento
medicação, contudo esta ainda não foi concluí- ou tratamento de doença, ou para modificação de
da e publicada18. E importante ressaltar que não função fisiológica, mas não devido a um erro de
e possível prever se estas definições que estão medicação21.
sendo preparadas serão adequadas para pesqui-
sadores, profissionais de saúde, agências regula- • Eventos adversos relacionados a
doras governamentais, indústria farmacêutica e medicamentos
outros. Isto porque as exigências conceituais de São considerados como qualquer dano ou in-
cada área muitas vezes são diferentes e talvez júria causado ao paciente pela intervenção mé-
não seja conseguida uma padronização univer- dica relacionada aos medicamentos. A American
sal que seja adequada a todos. Por exemplo, as Society of Healthy-System Pharmacists define-os
exigências de terminologia usadas na pesquisa como qualquer injúria ou dano, advindo de me-
de erros de medicação geralmente são bem mais dicamentos, provocados pelo uso ou falta do uso
detalhadas do que aquelas requeridas para regis- quando necessário22. A presença do dano é, por-
tro destes eventos para os órgãos de vigilância tanto, condição necessária para a caracterização
sanitária19. do evento adverso1,14,22,23.
O fato da inexistência de taxonomia univer- Outra definição utilizada em alguns estudos é:
sal e o uso de diversos delineamentos diferentes Qualquer dano provocado por iatrogenia relaciona-
para pesquisa, não diminui a importância dos pro- da a medicamento. Estão incluídos neste conceito
blemas provocados pelos medicamentos (reações os erros de medicação e as reações adversas24.
adversas e erros de medicação) no mundo todo.
Esta situação de confusão conceitual também não • Erro de medicação
impede que os profissionais de saúde, busquem Qualquer evento evitável que, de fato ou po-
implantar medidas visando prevenir dentro estes tencialmente, pode levar ao uso inadequado de
eventos, trabalhando assim de forma mais segura. medicamento. Esse conceito implica que o uso
O ISMP Brasil lista a seguir, algumas defini- inadequado pode ou não lesar o paciente, e não
ções que são adotadas pela Organização Mundial importa se o medicamento se encontra sob o con-
da Saúde, EUA, Inglaterra e Espanha, entretanto trole de profissionais de saúde, do paciente ou
ressaltamos novamente que existem outros tipos do consumidor. O erro pode estar relacionado à
de definições e o consenso sobre conceitos sobre prática profissional, produtos usados na área de
erros de medicação ainda não foi alcançado. saúde, procedimentos, problemas de comunica-
ção, incluindo prescrição, rótulos, embalagens,
CONCEITOS nomes, preparação, dispensação, distribuição,
administração, educação, monitoramento e uso
• Reação adversa a medicamento de medicamentos22,25.
Resposta nociva a uma droga, não intencional,
que ocorre nas doses usais para profilaxia, tera- • Diferenças entre erros de medicação
pêutica, tratamento ou para modificação de fun- e reações adversas
ção fisiológica20. Uma dos problemas em relação Os eventos adversos preveníveis e poten-
a este conceito de 1972, é que não havia como ciais relacionados a medicamentos são produ-
62
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO
zidos por erros de medicação, e a possibilidade escrita na prescrição médica e o atendimento des-
de prevenção é uma das diferenças marcantes sa ordem28.
entre as reações adversas e os erros de medi- - São erros cometidos por funcionários da far-
cação. A reação adversa a medicamento é con- mácia (farmacêuticos, inclusive) quando realizam
siderada como um evento inevitável, ainda que a dispensação de medicamentos para as unidades
se conheça a sua possibilidade de ocorrência, de internação10.
e os erros de medicação são, por definição, - Erro de dispensação é definido como o desvio
preveníveis26. de uma prescrição médica escrita ou oral, incluin-
do modificações escritas feitas pelo farmacêuti-
• Erro de prescrição co após contato com o prescritor ou cumprindo
Erro de prescrição com significado clínico é normas ou protocolos preestabelecidos. E ainda
definido como um erro de decisão ou de redação, considerado erro de dispensação qualquer desvio
não intencional, que pode reduzir a probabilidade do que é estabelecido pelos órgãos regulatórios
do tratamento ser efetivo ou aumentar o risco de ou normas que afetam a dispensação29.
lesão no paciente, quando comparado com as pra-
ticas clínicas estabelecidas e aceitas27. • Erro de administração:
Qualquer desvio no preparo e administração de
• Erro de dispensação medicamentos mediante prescrição médica, não
São apresentadas três definições. Entretanto, observância das recomendações ou guias do hos-
é preciso ressaltar que estas definições não abor- pital ou das instruções técnicas do fabricante do
dam a possibilidade da prescrição médica estar er- produto. Considera ainda que não houve erro se
rada e o atendimento de uma prescrição incorreta o medicamento foi administrado de forma correta
é também considerado erro de dispensação. mesmo se a técnica utilizada contrarie a prescri-
- Definido como a discrepância entre a ordem ção médica ou os procedimentos do hospital30.
63
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar
2005, a World Health Organization’s World Allian- cionadas ao ICPS podem ser encontradas no site
ce for Patient Safety tem trabalhando no Project da WHO (http://www.who.int/patientsafety/ta-
to Develop an International Classification for Pa- xonomy/publications/en/index.html)18.
tient Safety (ICPS). O grupo de trabalho conta O quadro 1 apresenta um segmento da classi-
com especialistas internacionais de diversas áreas ficação espanhola, referente aos tipos de erros.
relacionadas à saúde, à informática, à legislação, Para mais detalhes sugere-se consulta direta a
aos pacientes/consumidores. As publicações rela- publicação que contém a classificação completa.
64
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO
65
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar
dades educativas são aquelas relacionadas aos 10. Gerenciamento de risco e processos de
novos medicamentos, medicamentos potencial- qualidade
mente perigosos e estratégias de prevenção; As organizações de saúde, incluindo farmá-
cias comunitárias e farmácias com atendimento
9. Educação do paciente virtual necessitam de sistemas para identificar,
O paciente pode ter um papel vital na preven- relatar, analisar e reduzir os riscos de erros de
ção de erros, se receber informação sobre os medi- medicação. A cultura de segurança não puniti-
camentos que utiliza e for encorajado a perguntar va deve ser cultivadas para encorajar a sincera
e a buscar respostas satisfatórias relacionadas a divulgação de erros e oportunidades de erros,
seu tratamento. Pacientes que conhecem os no- estimular a discussão produtiva e identificar
mes e as doses de seus medicamentos, a razão de efetivas soluções para os problemas do sistema.
estar usando cada um deles, e como devem ser Estratégias de controle são necessárias para a
tomados, estão em uma excelente posição para qualidade dos sistemas de utilização de medica-
ajudar a reduzir a chance de ocorrência de erros; mentos, simples redundância como duplos che-
Os profissionais de saúde devem não só ensi- ck de medicamentos potencialmente perigosos
nar os pacientes a se protegerem dos erros de me- e regras para uso de informações passadas por
dicação, como também a buscar deles a promoção telefone podem detectar e interceptar erros an-
da melhoria da qualidade dos serviços; tes que atinjam e lesem os pacientes.
06 ERROS DE DISPENSAÇÃO
As farmácias têm como sua principal função a A comparação entre as taxas de erros de ad-
dispensação dos medicamentos de acordo com ministração e os sistemas de dispensação de me-
a prescrição médica, nas quantidades e especi- dicamentos registradas em estudos realizados,
ficações solicitadas, de forma segura e no prazo entre 1967 e 2005, em diversos países da Europa,
requerido, promovendo o uso seguro e correto de mostram que os erros de administração aumentam
medicamentos32. Assim, sua organização e sua conforme o sistema de dispensação adotado no
prática devem prevenir que erros de dispensação Hospital. Estes erros são maiores quando o sistema
aconteçam e por criarem oportunidades de erros é coletivo ou individualizado e diminuem gradati-
de administração, possam atingir os pacientes. vamente na dose unitária manual e na dose uni-
Falhas na dispensação significam o rompimen- tária informatizada e automatizada35. Portanto, a
to de um dos últimos elos na segurança do uso dos implantação de sistemas seguros, organizados e
medicamentos. Mesmo considerando, que grande eficazes é fundamental para minimizar a ocorrência
parte não cause danos aos pacientes, os erros de de erros de medicação nas instituições de saúde.
dispensação, demonstram fragilidade no processo No Brasil, a pesquisa sobre os erros de dispen-
de trabalho e indicam, em uma relação direta, ris- sação vem crescendo nos últimos anos, entretan-
cos maiores de ocorrência de acidentes graves34. to ainda são poucas publicações. Em um estudo
As taxas de erros de dispensação registradas pioneiro realizado em uma farmácia hospitalar de
nas publicações internacionais são muito distin- Belo Horizonte, em 2003, registrou-se uma taxa
tas e estas diferenças estão associadas às varia- de 34%32. Em um hospital de Salvador, em pes-
das metodologias adotadas e aos diferentes siste- quisa realizada em 2004, 20% dos medicamentos
mas de dispensação utilizados, além das medidas foram dispensados com erro e após a conferência
de redução de erros de medicação implementadas realizada por um farmacêutico registrou-se uma
nestes países. Desta forma, são encontradas taxas redução de 31% nos erros6. Em 2005, a pesquisa
que variam entre 1 e 12,5% em países da Europa, de erros de dispensação realizada em um hospital
nos EUA e no Canadá, sendo as taxas mais baixas pediátrico do Espírito Santo detectou 11,5%36.
registradas naquelas farmácias com sistemas se- Os erros de dispensação podem ser classifica-
guros de distribuição de medicamentos e proces- dos em erros de conteúdo, erros de rotulagem e
sos de trabalho eficientes10,29,35. erros de documentação29,37,38.
66
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO
1. Erros de conteúdo: são aqueles referen- 2. Erros de rotulagem: são os erros re-
tes ao conteúdo da dispensação, ou seja, relacio- lacionados aos rótulos dos medicamentos dis-
nados aos medicamentos que estão prescritos e pensados que podem gerar dúvidas no momen-
serão dispensados. to da dispensação e/ou administração, erros
1.1. Medicamento errado de grafia nos rótulos e tamanho de letras que
1.1.1. Medicamento dispensado errado: pres- impedem a leitura, a identificação ou podem
crito um medicamento e dispensado outro, pode levar ao uso incorreto do medicamento. São
estar associado a medicamentos com nome ou considerados os rótulos do próprio produto, as
pronúncia similares, podendo provocar a troca do etiquetas impressas na farmácia e utilizadas
momento da dispensação. na identificação dos medicamentos, das mistu-
1.1.2. Medicamento não prescrito e dispensa- ras intravenosas e da nutrição parenteral pre-
do: a prescrição médica não contém aquele item paradas na farmácia. Podem ser classificados
e algum medicamento é dispensado. em: nome do paciente errado, nome do medi-
1.2. Medicamento dispensado com a con- camento errado, concentração errada do medi-
centração errada: o medicamento é dispensado camento, forma farmacêutica errada, quanti-
em concentração diferente (maior ou menor) da- dade errada, data errada, orientações erradas
quela prescrita. relacionadas ao uso ou armazenamento.
1.3. Medicamento dispensado com a forma 3. Erros de documentação: são os erros re-
farmacêutica errada: a prescrição solicita o me- lacionados à documentação de registro do proces-
dicamento com uma determinada forma farmacêu- so de dispensação, como por exemplo, a ausência
tica e a farmácia dispensa outra, podendo induzir ou registro incorreto da dispensação de medica-
erros de administração mentos controlados, falta de data na prescrição,
1.4. Dose excessiva: o medicamento é dis- falta de assinatura do prescritor ou do dispensa-
pensado em maior quantidade que aquela pres- dor, dentre outros.
crita, ou seja, uma ou mais doses (unidades) são São muitos os fatores, hoje conhecidos, como
dispensadas além da quantidade solicitada na determinantes da ocorrência dos erros de dispen-
prescrição. sação. O diagnóstico e conhecimento sobre eles
1.5. Omissão de dose: o medicamento é pres- permitem a elaboração de procedimentos opera-
crito, mas nenhuma dose (unidade) é dispensada cionais para o desenvolvimento de práticas segu-
ou o número de doses dispensadas é menor que o ras de dispensação.
prescrito. Neste sentido, a utilização de indicadores
1.6. Medicamento dispensado com des- de erros de dispensação é imprescindível para
vio de qualidade: consideram-se desvios de possibilitar o conhecimento das falhas no sis-
qualidade os problemas detectados a partir de tema de dispensação utilizado e nos processos
observação visual (comprimidos manchados, de trabalho, permitindo o monitoramento dos
com fissuras ou desintegrados, suspensões resultados e o estabelecimento da melhoria
com problemas de homogeneidade, soluções contínua dos serviços prestados aos pacientes
com presença de partículas), medicamentos e à equipe de saúde, objetivando a redução e
armazenados fora da temperatura adequada, prevenção dos erros.
com danos na embalagem que comprometam a Basicamente, dois indicadores podem ser uti-
qualidade e aqueles dispensados com prazo de lizados. A escolha destes e a periodicidade da
validade vencido coleta podem ser definidas de acordo com a capa-
1.7. Medicamentos prescritos sem horário, cidade operacional de cada farmácia para coletar
quantidade, concentração ou forma farmacêu- os dados. Entretanto, é fundamental que sejam
tica e dispensados: neste tipo de erro a prescri- coletados continuamente e seus resultados moni-
ção não contém as informações que a farmácia torados no sentido de aprimorar os processos de
necessita para identificar o medicamento e dis- trabalho, auxiliando no planejamento das mudan-
pensá-lo corretamente, sendo a prescrição dedu- ças necessárias39.
zida e o medicamento dispensado.
67
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar
1. Armazenar em local seguro e diferenciado os medicamentos potencialmente perigosos, que podem causar
erros desastrosos, utilizando identificação e sinais de alerta;
3. Reduzir distrações, projetar ambientes seguros para dispensação e manter um fluxo ótimo de trabalho;
4. Usar lembretes para prevenir trocas de medicamentos com nome e pronúncia similares, tais como rótulos
diferenciados, notas no computador ou no local da dispensação;
8. Realizar a conferência final da prescrição com o resultado da dispensação. Sempre que possível utilizar a
automação, código de barras por exemplo;
9. Proibir a dispensação através de ordens verbais e sem prescrição ou restrição deste tipo de dispensação
apenas em situações de emergência;
68
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO
Classes Terapêuticas
Medicamentos Específicos
Água estéril injetável, para inalação e irrigação em embalagens de 100 mL ou volume superior
Cloreto de potássio concentrado injetável
Cloreto de sódio hipertônico injetável (concentração maior que 0.9%)
Fosfato de potássio injetável
Glicose hipertônica (concentração maior ou igual a 20%)
Insulina subcutânea e intravenosa
Lidocaína intravenosa
Metotrexato de uso oral (uso não oncológico)
Nitroprussiato de sódio injetável
Oxitocina intravenosa
Prometazina intravenosa
Sulfato de magnésio injetável
Tintura de ópio
69
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar
70
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO
71
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar
Os resultados encontrados neste estudo, e a seu controle. Todavia, todo conhecimento dessa
comparação com estudos internacionais eviden- natureza, quando produzido em ambiente diverso,
ciam que os erros de medicação envolvendo os implica a necessidade de adaptação à realidade
MPP’s tendem a apresentar padrões definidos, fato cultural onde se objetiva intervir e ao perfil dos
importante para a tomada de decisões dirigidas ao problemas detectados em cada instituição11,26.
08 RECONCILIAÇÃO DE MEDICAMENTOS
A reconciliação de medicamentos é descrita as discrepâncias nas ordens médicas são identifi-
como um processo para obtenção de uma lista cadas, os médicos assistentes são informados e,
completa, precisa e atualizada dos medicamentos se necessário, as prescrições são corrigidas e do-
que cada paciente utiliza em casa (incluindo nome, cumentadas42.
dosagem, freqüência e via de administração), e O processo inclui dupla checagem dos medica-
comparada com as prescrições médicas feitas na mentos utilizados, entrevista com paciente, com
admissão, transferência, consultas ambulatoriais a família ou com seus cuidadores, comparação
com outros médicos e alta hospitalar. Essa lista das ordens médicas e a discussão de casos com a
é usada para aperfeiçoar a utilização dos medica- equipe clínica45,46. Os pacientes ou responsáveis,
mentos, pelos pacientes, em todos os pontos de têm um papel fundamental nesse processo, forne-
transição e tem como principal objetivo, diminuir cendo informações para a elaboração da lista de
a ocorrência de erros de medicação quando o pa- medicamentos utilizados. Para realizar esta confe-
ciente muda de nível de assistência à saúde7. rência é necessário informar ao paciente, família
As seguintes circunstâncias são consideradas e/ou cuidadores sobre o procedimento e obter a
mudança de nível de assistência: autorização para realizá-lo44.
• internação hospitalar; O Institute for Healtcare Improvent (IHI)42,
• transferência dentro do hospital para outro recomenda que a reconciliação de medicamentos
setor, clínica ou para outra unidade hospitalar; seja realizada em três etapas:
• alta hospitalar; 1. Verificação: consiste na coleta e elabora-
• retorno ao atendimento ambulatorial42. ção da lista de medicamentos que o paciente
Existem ainda, situações em que o paciente utiliza antes da sua admissão, transferência ou
não muda de nível de assistência, mas é atendi- alta hospitalar;
do por vários médicos, que prescrevem diversos 2. Confirmação: é a etapa que visa assegurar
medicamentos, sem haver uma reconciliação en- que os medicamentos e as dosagens prescritas são
tre eles. Muitas vezes, nestes casos, é oportuno, apropriadas para o paciente;
necessário e esperado que a reconciliação fosse 3. Reconciliação: consiste na identificação das
feita na farmácia comunitária, onde ocorre a dis- discrepâncias entre os medicamentos prescritos
pensação dos medicamentos prescritos. em cada nível de atenção à saúde ou em cada
Estudos têm demonstrado que o processo de ponto de transição, na documentação das comu-
reconciliação de medicamentos tem grande im- nicações feitas ao prescritor e na correção das
pacto na prevenção de eventos adversos relacio- prescrições junto com o médico.
nados a medicamentos, sendo eficiente na redu- Entretanto, Ketchum et al43, recomenda vários
ção das discrepâncias encontradas entre as pres- passos para implantação da reconciliação de me-
crições hospitalares e os medicamentos utilizados dicamentos com ênfase na organização de equipe
em casa, promovendo assim a redução dos erros multidisciplinar para desenvolvimento e avaliação
de medicação em cerca de 70%.7,43 da reconciliação de medicamentos, incluindo en-
Ketchum et al (2005) sugere um formulário fermeiros, farmacêuticos e médicos (Quadro 4).
para reconciliação de medicamentos de pacientes A reconciliação de medicamentos é uma im-
internados, conforme Figura 1. 43 portante ferramenta que sistematiza procedimen-
A proposta da reconciliação é evitar ou mini- tos que buscam compatibilizar a terapêutica dos
mizar erros de transcrição, omissão, duplicidade pacientes que passam pelos pontos de transição
terapêutica e interações medicamentosas. Quando durante à assistência.
72
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO
Medicamentos utilizados em
casa de uso contínuo Dose – via de Continua no Continua
Freqüência Última dose
(Inclusive não prescritos e administração hospital na alta
fitoterápicos)
Prescrição da alta hospitalar para ser preenchido pela farmácia Sem nova medicação
Via de
Nova prescrição Dose Freqüência Quantidade Observações
administração
Assinatura__________________________________________________ Assinatura__________________________________________________
73
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar
3. Definição de profissionais específicos para conciliar os medicamentos dos pacientes na admissão, transferên-
cias e alta hospitalar, com tempo suficiente para realizar tal processo, visando assegurar a exatidão da lista
de medicamentos utilizados;
4. Verificação minuciosa do histórico de utilização dos medicamentos, conferindo-os, conversando com pacien-
tes e familiares, revendo os registros provenientes da admissão e checando as informações com os médicos,
os farmacêuticos e os enfermeiros.
5. Elaboração das listas dos medicamentos utilizados em casa, pelo paciente de modo que claro objetivo e pa-
dronizado;
6. Reconciliação dos medicamentos em todos os pontos de transição do paciente, incluindo mudanças de leito,
admissão, transferências entre unidades de internação e alta hospitalar;
09 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Errar é humano, logo não existem sistemas li- do traz benefícios consideráveis a toda a popu-
vres de erros12. Entretanto, é possível desenhar lação, entretanto os problemas relacionados a
sistemas mais seguros que os atuais, que con- este uso, tem trazido prejuízos consideráveis a
sigam evitar eventos adversos aos pacientes, a sociedade, sendo hoje considerado um problema
exemplo de outros setores de risco, como na avia- de saúde pública mundial.
ção e nas indústrias químicas e nucleares10. Estes É um grande desafio prevenir erros de me-
sistemas se baseiam na introdução de diferentes dicação, pois é um assunto que poucos gostam
tipos de medidas direcionadas não só a prevenir, de lidar ou falar e o tipo de abordagem é de
como também em tornar os erros visíveis, ou seja, forma geral, dirigido a punição de indivíduos e
detectá-los e interceptá-los a tempo de impedir não contribui para resolver o problema. Mudar
que atinjam o paciente. Além disso, é preciso in- este quadro e situação é um desafio a todos
troduzir medidas que reduzam as possíveis conse- que trabalham na área da saúde, pois não se
qüências dos erros, caso falhem as medidas ante- pode mais conviver com taxas inaceitavelmen-
riores e os erros atinjam os pacientes. te altas de erros que ocorrem na assistência ao
A utilização de medicamentos em todo o mun- paciente.
10 SITES DE INTERESSE
• Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medi- • Instituto para el Uso Seguro de los Medicamen-
camentos – ISMP Brasil tos Espanha
www.ismp-brasil.org www.ismp-espana.org
• Institute for Safe Medication Practices EUA • The International Medication Safety Network
www.ismp.org www.intmedsafe.net
• Institute for Safe Medication Practices Canadá • World Health Organization
www.ismp-canada.org www.who.int/patientsafety/en
74
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO
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77
IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final da leitura deste texto, o farmacêuti- 4. Distinguir os tipos de fontes de informação
co deverá: sobre medicamentos, com suas vantagens e
limitações, e listar exemplos utilizados em
1. Reconhecer a necessidade de informação in- CIM.
dependente para promover o uso racional dos 5. Entender os princípios de avaliação crítica da
medicamentos. qualidade de informação sobre medicamentos.
2. Identificar benefícios de um Centro de Infor- 6. Identificar os passos a serem seguidos para
mação sobre Medicamentos (CIM) hospitalar, responder a um questionamento de usuário
histórico e conceitos. do serviço, justificando-os.
3. Caracterizar a estruturação de um CIM em 7. Compreender a importância de programa
termos de comprometimento institucional, de garantia de qualidade e relacionar pa-
formação do farmacêutico, infra-estrutura e râmetros e atividades a serem acompa-
atividades desenvolvidas. nhados.
01 INTRODUÇÃO
O desequilíbrio no binômio benefício-risco ocorreram quatro vezes mais durante a in-
está presente no cotidiano da farmacoterapia ternação.2 As RAM foram responsáveis por
hospitalar, incluindo reações adversas a medica- 4% da ocupação hospitalar e 0,15% das
mentos e interações medicamentosas, que causam mortes; 70% seriam evitáveis e teriam um
significativa morbimortalidade, diminuem a quali- custo anual para o sistema de saúde inglês
dade de vida, apresentam aumento relevante nos da ordem de 466 milhões de libras esterli-
custos da saúde e, portanto, é problema de grande nas (cerca de R$1,27 bilhões).3
dimensão em hospitais. Estudos, alguns ambien- As interações medicamento-medicamento
tados em hospitais brasileiros, têm descrito, por tiveram potencial de ocorrer em 37% dos
exemplo, que: pacientes internados e, em 12% dos ca-
As reações adversas a medicamentos (RAM) sos, foram consideradas graves (p.ex., que
foram responsáveis por, ou contribuíram podem provocar morte). Estas interações
para, 6,6% das internações hospitalares1 e estão fortemente associadas à duplicação
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Coletânea de Farmácia Hospitalar IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
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IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
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EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
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IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
5. Financiamento: são necessários recursos Medicamentos (SIM) são, às vezes, usados como
financeiros para, pelo menos, o pagamen- se fossem sinônimos, embora existam diferenças.
to do salário do farmacêutico, aquisição A literatura sugere que CIM deve denotar o local fí-
e renovação das instalações e das fontes sico, e SIM a atividade desenvolvida neste local.26
bibliográficas e despesas de custeio. Entretanto, é convencionada uma hierarquia onde
Um aspecto imprescindível dentro da con- os Centros têm uma abrangência maior (por exem-
cepção filosófica de um CIM é sua independência. plo, um país, um estado, uma região), e os Servi-
Como existe a possibilidade de suas informações, ços são institucionais, por exemplo, atendendo à
baseadas em evidências científicas, contrariarem demanda de um hospital.15,25,26 Enfatiza-se, porém,
interesses comerciais, a sua previsão orçamentá- que mais importante que sua designação, Centro
ria deve levar em conta de que não é aconselhável ou Serviço, são as atividades desenvolvidas.25
subsídios, diretos ou indiretos, de empresas far- Além desses aspectos gerais, reconheci-
macêuticas. dos internacionalmente, os farmacêuticos que
Os termos Centro de Informação sobre Me- atuam em CIM no Brasil deveriam, também, se
dicamentos (CIM) e Serviço de Informação sobre ocupar com a promoção do serviço, o ensino e a
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Coletânea de Farmácia Hospitalar IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
busca de parcerias. No nosso País, a promoção é CIM não são ensinados para os estudantes de
recomendável pois poucos profissionais da saú- profissões da saúde e, infelizmente, nem mes-
de têm consciência da existência e dos serviços mo para os de farmácia. Finalmente, a busca de
providos pelos CIM e menos ainda incorporaram parcerias é necessária para difusão e fortaleci-
o uso do serviço na sua prática. O ensino é es- mento dos serviços, em ambiente com pouco
sencial para que esse quadro possa ser modifi- desenvolvimento dos serviços clínicos providos
cado. De modo geral, os serviços providos pelos pelos farmacêuticos.27
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IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
de dois a cinco anos. Por isso, é recomendável que estará disponibilizado na página da PIS/FIP, em
o CIM tenha disponibilidade de fontes terciárias www.fip.org.
essenciais e acesso a fontes secundárias que per- A classificação das fontes em primárias, se-
mitam busca na literatura primária e solicitação de cundárias e terciárias tem caráter didático, não
cópias de artigos originais, quando necessário. sendo estática. Existem algumas fontes que são
A quantidade de revistas com acesso gratui- híbridas, pois apresentam, ao mesmo tempo, ca-
to ao conteúdo integral de artigos tem crescido. racterísticas de mais de um tipo de fonte biblio-
Isso representa um salto imenso na quantidade de gráfica. Por exemplo, o Iowa Drug Information
informação acessível. Até então, e ainda hoje, o System – IDIS apresenta artigos selecionados na
principal acesso é via Medline, que inclui apenas íntegra e possui índices de localização dos mes-
informação bibliográfica e os resumos, apesar de mos, sendo considerado uma fonte secundária e
seus números grandiosos: 16 milhões de publica- primária. O Martindale traz monografias de medi-
ções indexadas. Atualmente, além dos textos inte- camentos e cita artigos sobre os mesmos, sendo
grais, incluindo gráficos e figuras, há também os considerado uma fonte terciária e secundária.
hiperlinks. Ainda é prevalente o modelo de paga- O Quadro 3 discrimina as fontes bibliográfi-
mento por acesso aos artigos integrais, mas têm cas terciárias que devem estar disponíveis em um
surgido, desde 2003, iniciativas do modelo “Acesso Centro de Informação sobre Medicamentos, classi-
Livre” (Open Access) a publicações científicas. Em ficadas de acordo com o seu grau de importância,
2004, foi criado o PubMedCentral (PMC, www.pub- em ordem decrescente: essenciais, recomendadas
medcentral.gov), por iniciativa da National Library e úteis. No Quadro 4 estão listadas algumas revis-
of Medicine (NLM), EUA. Desde 2005, o National tas (fontes primárias) que poderiam ser utilizadas
Institutes of Health – NIH, EUA, tem exigido que pelo CIM.
as publicações resultantes de pesquisas parcial ou Adicionalmente a esta classificação, existem
totalmente financiadas pelo mesmo sejam disponi- as chamadas fontes alternativas, das quais são
bilizadas nesse sítio. Seis meses depois, havia mais exemplos a Internet, organizações profissionais,
de 430.000 artigos integrais disponíveis gratuita- agências regulatórias, agências de avaliação de tec-
mente. O modelo de acesso livre a publicações cien- nologias em saúde, boletins independentes sobre
tíficas é utilizado, na América Latina, pelo Scielo, medicamentos, indústrias farmacêuticas e centros
www.scielo.org, no qual, até 2008, havia mais de de informação toxicológica e de medicamentos.26
170 mil artigos gratuitos.28,29 Com o crescimento exponencial da Internet, as fon-
Outras fontes gratuitas relativas à informação tes alternativas ganham dimensão, sendo que no
sobre medicamentos podem ser encontradas no Quadro 5 constam algumas sugestões de sítios.
sítio do Pharmabridge, projeto da Federação Far- Uma das bases de dados mais difundida mun-
macêutica Internacional – FIP, em http://www.fip. dialmente, que contém monografias extensas so-
org/pharmabridge_free. Está em construção uma bre medicamentos, é o Drugdex® (Micromedex).
lista de fontes recomendadas para CIM, incluindo Ela é acessível por meio da Internet, mediante
fontes gratuitas, também no âmbito da FIP, pelo assinatura. No Brasil, as universidades públicas
Grupo de Trabalho Acesso a Informação sobre têm acesso gratuito ao mesmo por meio do sítio
Medicamentos (Access to Medicines Information da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Working Group), da Seção de Informação em Far- Nível Superior – CAPES, em http://www.periodi-
mácia (Pharmacy Information Section – PIS), que cos.capes.gov.br/.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
tivo dentre as habilidades do profissional que contraditórios que são atribuídos, na maioria das
trabalha em um CIM. vezes, a diferenças metodológicas, definições,
A literatura biomédica cresce a taxas expo- etc., o que é entendido como uma limitação para
nenciais e tem passado por revolução na forma a extrapolação dos resultados encontrados para a
de acesso e integração das informações prove- prática, ou seja, podem não ter aplicação clínica.12
nientes de várias fontes. Nos últimos 20 anos, Além disso, quando se soma o interesse co-
a quantidade de artigos indexados no Medline mercial aos problemas metodológicos, aumenta a
(a base de dados pesquisada por meio do Pub- necessidade da avaliação crítica como, por exem-
med) cresce a uma taxa média anual de cerca plo, na farta promoção de medicamentos, pela
de 3,1%. Em 2006, havia mais de 16 milhões indústria farmacêutica, com exemplos claros de
de publicações indexadas, das quais mais de alteração da informação sobre o medicamento,
três milhões tinham sido publicadas nos cinco notadamente das reações adversas e contraindica-
anos anteriores. Em 2005, houve mais de 1800 ções, enfatizando apenas aspectos positivos dos
registros diários e um total e 666.029 regis- medicamentos e dando pouco ou nenhum desta-
tros no ano. Cresce também as possibilidades que aos negativos.31
de ligações (hiperlink) entre documentos, o que As habilidades para busca, análise e julga-
aumenta enormemente a quantidade de infor- mento das evidências capazes de dar fundamento
mação a que se tem acesso.28 científico às decisões clínicas são essenciais para
Infelizmente, esse crescimento é acompa- os profissionais da saúde. Porém, em especial,
nhado por uma ampla variação da qualidade das para os farmacêuticos que atuam em CIM. Estes
evidências científicas disponibilizadas e, con- devem ser capazes de discriminar, dentre as infor-
sequentemente, no trabalho do profissional da mações disponíveis, quais são as que representam
saúde. Em geral, aceita-se que os editores das as mais sólidas evidências científicas e, destas, as
revistas nacionais e, muito especialmente, dos que são passíveis de serem incorporadas à prática.
periódicos estrangeiros, foram capazes de separar Em uma primeira abordagem aos artigos cien-
o joio do trigo, só permitindo a divulgação de ar- tíficos, dever-se-ia fazer perguntas tais como:23,30
tigos baseados em sólidas evidências científicas. O artigo foi publicado em revista que adota
Entretanto, revisões realizadas nas últimas déca- a revisão por pares?
das contradizem o exposto acima. Constatou-se Quem é (são) e qual a filiação do(s)
em tais estudos que cerca da metade dos artigos autor(es)?
publicados em revistas de renome utilizaram mé- As informações do resumo e da conclusão
todos estatísticos inadequados. Se, à inadequação são úteis para você? Se não for, passe para
dos testes quantitativos, acrescentarmos outras o próximo artigo.
fontes de inconsistências e imprecisões a que As conclusões são (bem) fundamentadas
estão sujeitos os estudos epidemiológicos, tais nos resultados e são aplicáveis? Verifique a
como o seu desenho, definição da amostra, es- seção “Materiais e Métodos”. Você só pode
colha de indicadores e instrumentos, poderemos aceitar a validade da conclusão se conhe-
concluir que todo e qualquer artigo, independente cer e aceitar o método da pesquisa.
do periódico ou idioma em que esteja publicado, Quem financiou o estudo? Pode existir um
deve ser lido criticamente.30 possível conflito de interesses?
Algumas razões que ajudam a explicar os Verifique as “referências”. Se você conhece
problemas frequentes com a qualidade da infor- o assunto, provavelmente poderá julgar se
mação são, por exemplo: publicar somente aspec- foram incluídas as referências fundamen-
tos positivos; pressão para publicar; exagerar os tais na área. Caso contrário, cuidado com
resultados encontrados; fragmentar os resultados, o artigo.
publicando-os em várias revistas; descrever in- Questões do tipo “o estudo foi bem de-
completamente os métodos e/ou resultados e, o senhado?”, “os dados são estatisticamente
que é menos comum, fraude científica. significativos?” e “os desfechos avaliados
Ao analisar artigos científicos, é comum o são clinicamente relevantes?”, demandam
profissional encontrar resultados conflitantes ou um conhecimento mais profundo e, para
85
IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
isto, deve ser feito uma capacitação es- outras pessoas (p.ex., família e amigos), litera-
pecífica, em curso de avaliação crítica da tura médica, imprensa leiga e da Internet. Estes
literatura científica (v. a seguir). pacientes podem procurar o farmacêutico para es-
Quando as informações forem providas pelo clarecer a informação que obtiveram.26
fabricante, devem ser feitas outras perguntas, que A avaliação crítica da literatura é uma ma-
incluem, por exemplo:23 téria complexa, repleta de «considerandos» e
A informação foi aprovada pelo órgão go- «armadilhas» e extensamente abordada na lite-
vernamental competente? ratura.26,30 Os primeiros passos da avaliação críti-
Foram fornecidas referências da literatura ca da literatura foram apresentados anteriormen-
médica ou estas estão disponíveis? te, mas são insuficientes para a atuação no CIM.
A publicidade do medicamento parece ex- No sítio da Universidade Federal de São Paulo
cessivamente positiva? – Unifesp, onde está instalado o Centro Cochrane
São feitas comparações de custo? do Brasil, é disponibilizado curso gratuito on-li-
A necessidade de escolher entre essa varie- ne sobre revisão sistemática e meta-análise:
dade de resultados incompletos ou conflitantes www.virtual.epm.br/cursos/metanalise e
pode causar confusão entre os profissionais da www.centrocochranedobrasil.org.br. Nos cur-
saúde em relação à farmacoterapia ótima para sos de epidemiologia clínica, geralmente, o tema
uma doença específica em um paciente.12 é abordado e, mais recentemente e mais profun-
O farmacêutico também está enfrentando um damente, nos cursos de revisão sistemática e
aumento na quantidade de pacientes que se edu- meta-análise, decorrentes do “boom” da medici-
cam sobre farmacoterapia por meio da consulta a na ou condutas baseadas em evidências.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
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IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
A título de exemplo, abaixo constam algumas proativa é a publicação de um boletim. Seu papel
categorias de perguntas respondidas pelos CIM: básico é a disseminação de informação imparcial,
Identificação de fármacos e medicamen- científica e avaliada sobre o uso de medicamen-
tos nacionais e estrangeiros, emprega- tos, seja de novidades terapêuticas, novos usos,
dos na clínica; sua disponibilidade e/ alertas sobre reações adversas, publicar perguntas
ou equivalência no mercado nacional e e respostas fornecidas na informação reativa que
internacional; possam ter interesse geral, entre outras. O bole-
Mecanismo de ação, usos clínicos, eficácia, tim é importante veículo de divulgação do CIM;
reações adversas e toxicidade; por isso mesmo deve ter qualidade, periodicidade
Posologia, duração e uso correto dos medi- (pelo menos 4 por ano) e ser bem difundido.23 No
camentos, em especial para pacientes pe- contexto do Cebrim/CFF, algumas das consultas
diátricos, idosos, diabéticos, cardiopatas, provenientes de hospitais sugeriram a necessida-
nefropatas, etc; de de esclarecimentos técnicos sobre as melhores
Liberação, absorção, distribuição, bio- práticas correntes em determinados aspectos e
transformação e excreção; foram desencadeadoras da elaboração de artigos
Uso de medicamentos durante a gravidez e publicados no boletim Farmacoterapêutica, aces-
a lactação; sível por meio do sítio do CFF, www.cff.org.br,
Conservação dos medicamentos, principal- como: partição de comprimidos (boletim 4-5 de
mente quando se requer condições espe- 2007), administração de medicamentos por sonda
ciais; (boletim 3-4, de 2009), estabilidade (várias edi-
Compatibilidade de misturas parenterais. ções), etc. A International Society of Drug Bulle-
Perguntas ao Cebrim/CFF podem ser enca- tins (ISDB) publicou, em 2005, em parceria com
minhadas por meio do formulário de perguntas a Organização Mundial da Saúde (OMS), o manual
on-line, em www.cff.org.br, em “Cebrim”. “Starting or Strengthening a Drug Bulletin” (Ini-
ciando ou Fortalecendo um Boletim sobre Medica-
6.2. Informação proativa mentos), disponível em http://www.isdbweb.org/
documents/uploads/manual_full_text.pdf
A produção de informação em um CIM obe- Ainda que responder a questionamentos seja
dece procedimento que abrange desde a pesquisa a principal atividade de um CIM, outras atividades
em fontes bibliográficas para responder pergun- expandem as suas áreas de atuação, como infor-
tas até a escolha dos temas a serem abordados mar aos usuários sobre novos usos ou restrições
em boletins, formulários, revisão de uso de me- de um medicamento ou sobre novos fármacos. Por
dicamentos, farmacovigilância, etc. As respostas isso, a informação proativa pode ser aquela que
a questionamentos deverão ser utilizadas como cause maior impacto ou reconhecimento do ser-
“termômetro”, mostrando quais as principais viço junto à comunidade, seja de profissionais da
dúvidas dos solicitantes do serviço que poderão saúde ou pacientes.
servir de orientação para a elaboração de ma- Em síntese, existe estreita relação entre as
terial informativo escrito – artigos, boletins, atividades praticadas no CIM e somente a expe-
folders, etc. – ou sugestão para programas de riência acumulada poderá determinar o equilíbrio
aprendizado permanente. das mesmas, ou seja, quais serão executadas e
Um aspecto de destaque dentro da atividade quanto tempo será dedicado a cada uma delas.
7. GARANTIA DE QUALIDADE
Garantir a qualidade dos serviços providos Na literatura, são encontrados muitos exemplos
é uma tarefa fundamental. É útil garantir que de indicadores de garantia de qualidade em
o desempenho do serviço de informação sobre CIM.15,16,18,26,32 Estes devem priorizar atividades
medicamentos seja continuamente monitorado e chave, como a quantidade de questões respondidas
comparado com um padrão de boa qualidade.27 por ano, proporção de questões respondidas em até
88
Coletânea de Farmácia Hospitalar IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
24 horas, satisfação do usuário com as respostas As atividades do CIM devem ser cuidadosa-
providas, capacidade de editar um boletim e sua mente documentadas. Formulários padrão ou sis-
frequência, participação em comissões (p.ex., temas eletrônicos podem facilitar o registro de
Comissão de Farmácia e Terapêutica – CFT), perguntas. Um sistema eficiente de recuperação é
atualização das fontes de informação, atualização essencial para localizar questões anteriores, mo-
do farmacêutico que atua no CIM e a quantidade nitorar a quantidade de trabalho e categorizar os
de atividades desenvolvidas. tipos de questões recebidas. Este pode, também,
A Figura 2 mostra, na sua parte inferior, os facilitar a execução de programas de garantia de
aspectos de qualidade dos serviços do CIM rela- qualidade pela análise de solicitações selecio-
tivos a resposta a questionamentos. No esque- nadas e por prazos não cumpridos. O sistema de
ma apresentado, somente serviços de qualidade registro das questões deve garantir segurança,
poderão levar à credibilidade junto aos usuários, arquivamento de longo prazo e assegurar a confi-
com o consequente prestígio do qual decorrerá a dencialidade dos solicitantes.18
consolidação do CIM. Os CIM têm a responsabilidade de prover o
mais alto padrão possível de serviço. Isto inclui
a avaliação dos profissionais, revisão regular das
solicitações feitas e das respostas providas e revi-
são periódica dos recursos e procedimentos. Este
processo deve, continuamente, identificar melho-
ras potenciais, documentar os progressos até a
implementação e avaliação das mudanças institu-
ídas, a posteriori.18
Um processo de revisão por pares pode ser
aplicado a perguntas selecionadas. Quando pos-
sível, o processo de revisão por pares deve in-
cluir os comentários de um ou mais especialistas
externos, e.g., um farmacêutico especialista em
informação sobre medicamentos ou farmacologis-
ta clínico. Usuários podem ser selecionados ran-
domicamente para obtenção da opinião sobre os
serviços providos e/ou da resposta recebida, por
meio de roteiro de questões previamente elabora-
das, o que pode ser feito por telefone ou remessa
de perguntas por correio eletrônico.18
A qualidade dos serviços providos foi verifi-
cada junto aos usuários dos CIM, no Brasil,33 Ín-
dia34 e Sudão.35 No Brasil, a resposta foi completa
para 87% dos respondentes e 99% tem a intenção
de usar o serviço novamente. Na Índia, 95% acre-
ditam ter recebido a resposta apropriada e 100%
Figura 2 – Fundamentos da consolidação do Centro de
usam o CIM regularmente. No Sudão, 90% clas-
Informação sobre Medicamentos sificaram o serviço como bom a excelente e 95%
Fonte: Vidotti, 1999 afirmaram a intenção de continuar a usar o centro.
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IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA
08 LIÇÕES APRENDIDAS
1. Os CIM provêem informação independente e atualização de fontes de informação sobre
sobre o uso clínico de medicamentos, pro- medicamentos, equipamentos e mobiliário.
movendo o uso racional desses produtos. 5. A principal atividade do CIM é responder per-
2. Os CIM ajudam a melhorar a terapêutica farma- guntas sobre o uso de medicamentos.
cológica e são custo-efetivos. 6. Publicação de boletim e participação em Co-
3. O farmacêutico que atua no CIM deve ter capa- missão de Farmácia e Terapêutica são outras
citação específica. atividades importantes.
4. A estruturação do CIM requer comprometi- 7. Execução de programa de garantia de quali-
mento institucional com sua instalação, de- dade é essencial para avaliação e aperfeiçoa-
senvolvimento e manutenção, incluindo re- mento dos serviços.
cursos para pagamento de salários, aquisição
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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90
Coletânea de Farmácia Hospitalar IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
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91
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE Coletânea de Farmácia Hospitalar
01 INTRODUÇÃO
As pessoas são os principais recursos das diretrizes da política de recursos humanos da or-
organizações. A gestão de pessoas é uma área ganização.
contingencial e situacional, que depende, dentre Para a excelência dos serviços prestados e o
outras variáveis, da cultura de cada organização. cumprimento da sua missão, a farmácia hospitalar
Muitos foram os mo- precisa contar com profissionais em número sufi-
mentos pelos quais a gestão ciente e perfil adequado ao desempenho de suas
de pessoas passou no mun- funções.
do, desde o mecanicismo,
passando pela reengenha-
ria, chegando atualmente na era da globalização
dos negócios e crescente concorrência mundial. O
cenário atual tem como palavras de ordem: pro-
dutividade, qualidade e competitividade e, nesse
contexto, as pessoas são consideradas como van-
tagens competitivas dentro das organizações, aí
inseridos os hospitais e como subsistema a farmá-
cia hospitalar. As pessoas deixam de ser o recurso
organizacional mais importante para se tornarem
os parceiros principais do negócio, conferindo-lhe O grau de instrução dos colaboradores que
dinâmica, vigor e inteligência1. comporão o quadro de pessoal da farmácia hospi-
O desenvolvimento de uma cultura huma- talar deve ser compatível com a complexidade das
nística e o posicionamento interdisciplinar do funções, que lhes são delegadas e estes devem ser
farmacêutico hospitalar se faz necessário para o capacitados e treinados de acordo com programas
bom desempenho profissional, face à articulação e previamente elaborados. Treinamentos periódicos,
integração da farmácia hospitalar com os demais por meio de programa de educação continuada,
serviços e unidades clínicas. Desenvolver habilida- são necessários para a otimização de processos.
des e usar da empatia para ser capaz de entender e Estabelecer parcerias com o setor de Recur-
motivar pessoas e grupos é fundamental nas rela- sos Humanos do hospital contribui para a melho-
ções interpessoais e para a eficácia dos resultados ria da qualidade e eficácia dos programas de trei-
na gestão de pessoas. namento e educação continuada.
Na função de gerente de recursos humanos, O número de auxiliares que, sob a supervisão
o farmacêutico chefe da farmácia hospitalar deve do farmacêutico, executarão o trabalho operacio-
definir o perfil dos profissionais que atuarão no nal, dependerá da disponibilidade de recursos fi-
apoio operacional, bem como os critérios de se- nanceiros, do grau de automatização dos serviços
leção e avaliação de desempenho, respeitando as e da informatização da unidade.
92
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE
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GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE
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GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE Coletânea de Farmácia Hospitalar
estabelecido por Fleury, e refere-se ao indivíduo portamento (que pode ser medido pela avaliação
que sabe agir de maneira responsável e ser reco- 360°)13.
nhecido por isso12. A avaliação de desempenho é uma ferramenta
Uma das questões mais difíceis na gestão de que permite medir a maneira pela qual cada fun-
pessoas é definir e avaliar o desempenho. cionário está desempenhando seu papel dentro da
organização e o quanto está ou não cumprindo as
funções do cargo que ocupa. A avaliação levanta
dados, traça um mapeamento dos resultados apre-
sentados pelos funcionários, tendo como foco o
levantamento dos pontos fortes e pontos a serem
melhorados, estabelecendo um plano de ação que
Dutra define desempenho como o conjunto favoreça a qualidade dos serviços prestados.
de entrega e de resultados de uma determinada O gerenciamento do desempenho das pessoas
pessoa para a empresa ou negócio. Ao avaliarmos na organização e consequentemente da farmácia
o desempenho de um indivíduo nos tornamos ap- hospitalar deve ser realizado por meio de instru-
tos a verificar que ele se divide em três dimensões mentos estruturados, que permitam autoavaliação
que interagem entre si: desenvolvimento (defini- e avaliação pela equipe.
do como a capacidade do indivíduo em lidar com As formas de avaliação do desempenho, ins-
situações cada vez mais complexas), esforço (li- trumentos e programas de desenvolvimento, re-
gado à motivação e às condições favoráveis ofe- muneração e incentivos serão abordados na 2ª
recidas pela empresa ou pelo mercado) e o com- parte deste encarte.
2. QUALIDADE DE VIDA
2.1 Saúde ocupacional, segurança e ergonomia lo-esqueléticos relacionados ao trabalho, projeto
de posto de trabalho, segurança e saúde.
A saúde • Ergonomia cognitiva – refere-se aos pro-
ocupacional está cessos mentais tais como percepção, memória,
relacionada com raciocínio e resposta motora conforme afetem as
as condições interações entre seres humanos e outros elemen-
ambientais de tos de um sistema. Os tópicos relevantes incluem
trabalho que as- o estudo da carga mental de trabalho, tomada de
segurem a saúde decisão, desempenho especializado, interação
física e mental e com as condições de saúde e homem computador, stress e treinamento con-
bem-estar das pessoas. A ergonomia no trabalho forme esses se relacionem a projetos envolvendo
é definida pela Associação Internacional de Ergo- seres humanos e sistemas.
nomia como uma disciplina científica relacionada • Ergonomia organizacional – concernente à
ao entendimento das interações entre os seres hu- otimização dos sistemas sóciotécnicos, incluindo
manos e outros elementos ou sistemas, e à apli- suas estruturas organizacionais, políticas e de
cação de teorias, princípios, dados e métodos a processos.
projetos, a fim de otimizar o bem estar humano e Os tópicos relevantes incluem comunicações,
o desempenho global do sistema17. projeto de trabalho, organização temporal do tra-
De maneira geral, seus domínios são: balho, trabalho em grupo, projeto participativo,
• Ergonomia física – está relacionada com novos paradigmas do trabalho, trabalho coope-
as características da anatomia humana, antropo- rativo, cultura organizacional, organizações em
metria, fisiologia e biomecânica em sua relação à rede, tele-trabalho e gestão da qualidade.
atividade física. Os tópicos relevantes incluem o Trata-se de uma disciplina orientada para
estudo da postura no trabalho, manuseio de mate- uma abordagem sistêmica de todos os aspectos
riais, movimentos repetitivos, distúrbios múscu- da atividade humana. Para dar conta da amplitude
96
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE
dessa dimensão e poder intervir nas atividades do dores, pois o foco de satisfação das necessidades
trabalho, é preciso contar com os ergonomistas, muda continuamente, assim como o objeto de
(profissionais capacitados) que têm uma aborda- motivação. A motivação é o fator chave para o
gem holística de todo o campo de ação da disci- alcance dos objetivos propostos pela organiza-
plina, tanto em seus aspectos físicos e cogniti- ção. Nenhum indivíduo desmotivado envolve-se
vos, como sociais, organizacionais e ambientais17. plenamente em direção ao abarcamento destes
objetivos.
2.2 Bem estar, satisfação e motivação A teoria da equidade parte do pressuposto
de que as pessoas querem ser tratadas de maneira
Uma grande preocupação das organizações é justa em relação às demais; e se acreditam que
a questão da motivação no trabalho. Desta forma, seu tratamento é desigual, adotam ações para re-
a busca de explicações para a motivação do traba- duzir essa disparidade8.
lhador em relação ao seu trabalho tem sido tema A teoria da expectativa sustenta que as pes-
constante em várias pesquisas efetuadas por cien- soas se motivam a trabalhar para alcançar um
tistas do comportamento humano. O fenômeno objetivo que desejam e que acreditam ter uma
motivacional pode ser entendido, genericamente, possibilidade razoável de alcançar. Os componen-
como sendo uma fonte de energia interna que di- tes gerais do modelo são esforço e resultados,
reciona ou canaliza o comportamento do indiví- descritos sob a ótica da combinação entre os ele-
duo na busca de determinados objetivos e ainda mentos: expectativa de esforço e desempenho e
como um conjunto de forças que leva as pessoas a expectativa de desempenho e resultado.
se engajar numa atividade em vez de outra. “Para gerar motivação, o gestor terá de des-
Este estado interno que energiza o compor- cobrir quais recompensas cada funcionário quer,
tamento está diretamente relacionado com as quão valiosas essas recompensas são para cada
necessidades de cada pessoa, necessidades estas um, medir as várias expectativas e, finalmente,
que variam de indivíduo para indivíduo, em razão ajustar as relações entre esses fatores8”.
das diferenças individuais inerentes ao próprio ser Ainda sobre a teoria da expectativa, esta
humano. Daí a dificuldade de se estudar e compre- oferece linhas mestras à atuação cotidiana dos
ender o homem e sua interação com o seu traba- gestores, tais como:
lho. As organizações no âmbito geral são susten- 1. Determine que resultados primordiais cada
tadas por uma gama de recursos, dentre os quais é funcionário almeja;
conveniente destacar a importância dos recursos 2. Decida que níveis de desempenho são ne-
humanos. Afinal, é o único recurso insubstituível. cessários para alcançar as metas organizacionais;
No entanto, para que as pessoas possam exercer 3. Assegure-se de que os níveis desejados de
o máximo da sua eficiência nas organizações, é desempenho são possíveis;
necessário que estejam bem motivadas18 4. Relacione os resultados desejados com o
desempenho almejado;
5. Analise a situação para determinar expec-
tativas conflitantes;
6. Assegure-se de que as recompensas sejam
boas;
7. Assegure-se de que, no geral, o siste-
ma seja equânime para todos. A motivação pelo
aprendizado, outro componente chave da motiva-
ção dos funcionários, responsável por um ritmo
permanente de mudanças no comportamento ou
A motivação não é estática. As pessoas não no potencial de comportamento, resulta da expe-
costumam ficar motivadas por muito tempo pelo riência direta ou indireta8.
mesmo fator motivacional. É por este motivo que Para transformar o potencial de motivação
as organizações devem estar em constante ava- em melhora de desempenho, os gestores preci-
liação do grau de motivação dos seus colabora- sam entender vários procedimentos operacionais,
97
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE Coletânea de Farmácia Hospitalar
98
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE
Walton existem oito fatores que afetam a QVT, a usar os recursos necessários. O “querer fazer” é
saber: compensação justa e adequada, condições uma questão volitiva que depende da satisfa-
de saúde e segurança no trabalho, utilização e ção, da percepção que o funcionário tem sobre
desenvolvimento de capacidades, oportunidade a empresa e da cultura organizacional; logo o
de crescimento e segurança, integração social na “querer fazer” está associado ao clima organi-
organização, garantias constitucionais, trabalho e zacional, que muitas vezes é onde encontramos
espaço total de vida e relevância social da vida no as causas da má qualidade dos serviços19.
trabalho14. O clima organizacional, embora abstrato,
pode ser avaliado por meio do contato direto dos
2.4 Clima organizacional gestores com seus subordinados, entrevista de
desligamento, ombudsman, programas de suges-
Nos conceitos de vários autores sobre cli- tão, “café da manhã com o presidente” e pesquisa
ma organizacional, podem ser encontradas três de clima.
palavras-chave: satisfação, percepção e cultura. A estratégia de avaliação de clima por meio
“O clima é o indicador do grau de satisfação de pesquisa permite à empresa conhecer de forma
dos membros de uma empresa em relação a dife- concreta o seu clima organizacional, identificando
rentes aspectos da cultura ou realidade aparente tanto os problemas reais no campo das relações de
da organização, tais como políticas de RH, mo- trabalho, como os potenciais.
delo de gestão, missão da empresa, processo de A pesquisa de clima revela o grau de sa-
comunicação, valorização profissional e identifi- tisfação dos funcionários, aponta tendências de
cação da empresa”, segundo Roberto Coda citado comportamento e predisposição para apoiar ou
por Ricardo Luz19. rejeitar projetos a serem desenvolvidos; permitin-
O clima organizacional tem impacto sobre do intervenções, por meio de adoção de políti-
a qualidade dos serviços prestados. Para um cas na gestão de pessoas ou seu aprimoramento.
funcionário prestar um bom serviço é preciso Já a utilização de indicadores de alerta sobre a
que ele saiba, que possa e queira fazê-lo. O qualidade do clima organizacional aponta a rota-
“saber fazer” é uma questão de conhecimento, tividade de pessoal, absenteísmo, conflitos inter-
habilidades e atitudes; logo, uma questão de pessoais e interdepartamentais, desperdícios de
capacitação e desenvolvimento para o trabalho. materiais e queixas no serviço de saúde, apenas
O “poder fazer” é uma questão de ter e poder presumem sobre o clima organizacional19.
REFERÊNCIAS
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Paulo: Atlas; 2004. cional-PCMSO.Diario oficial da União de 08 de
2. Sbrafh. Padrões Mínimos para Farmácia Hospita- junho de 1978.
lar e Serviços de Saúde; 1ª revisão, 2008. 7. Cunha JR, In Bertelli SB. Gestão de pes-
3. Brasil. Ministério do trabalho. NR nº 32 de 11 soas em administração hospitalar. Rio de
de novembro de 2005. Diário oficial da União Janeiro: Qualitymark; 2004. Capítulo 3, p.
de 16 de novembro de 2005. 51-64.
4. Brasil Ministério do Trabalho. NR nº 09 Progra- 8. Griffin RW, Moorhead G. Fundamentos do
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oficial da União de 06 de julho de 1978. Ática; 2006, p. 488.
5. Brasil Ministério do Trabalho. NR nº 05 Co- 9. Galvani FM, In Bertelli SB. Gestão de pesso-
missão Interna de Prevenção de Acidentes. as em administração hospitalar. Rio de Ja-
Diario oficial da União de 24 de fevereiro de neiro: Qualitymark; 2004. Capítulo 5, Parte
1999. I. p. 97-119.
99
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE Coletânea de Farmácia Hospitalar
10. Beertelli, S. B. Gestão de Pessoa em adminis- 15. Oliveira V, In Bertelli SB. Gestão de pessoas
tração hospitalar. Rio de Janeiro: Qualityma- em administração hospitalar. Rio de Janeiro:
rk; 2004. p. 252. Qualitymark; 2004. Capítulo 5, parte II, p.
11. Cavichiolli AT, Melo RN, In Bertelli SB. Gestão 121-128.
de pessoas em administração hospitalar. Rio 16. Bom sucesso, E. de P. Relações interpessoais
de Janeiro : Qualitymark; 2004. Capítulo 4, p. e qualidade de vida no trabalho. Rio de Janei-
65-87. ro: Qualitymark; 2002. p. 200
12. Fleury MT, Apud Dutra JS. Org. Gestão por 17. Associação Brasileira de Ergonomia http://
competências. São Paulo: Gente; 6ª edição, www.abergo.org.br/ em 16/05/2010
2001. p. 25-43. 18. Nalik AM, e cols. Gestão de recursos humanos.
13. Dutra JS. Org. Gestão por competências. São Coleção. Saúde e Cidadania. São Paulo: Facul-
Paulo: Gente; 6ª edição, 2001. p. 130 dade de Saúde Pública da Universidade de São
14. Chiavenato I, Gestão de pessoas e o novo pa- Paulo; 1998.
pel dos recursos humanos nas organizações. 19. Luz R. Gestão do clima organizacional, Rio de
2ª edição. São Paulo: Elsevier. 2004. Janeiro: Qualitymark; 2003. p.11
100
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II)
01 INTRODUÇÃO
“O contexto da gestão de pessoas é forma- A Gestão de Pessoas é contingencial e situ-
do por pessoas e organizações. As pessoas passam acional, pois depende de vários aspectos, como
boa parte de suas vidas trabalhando dentro de or- a cultura que existe em cada organização, da
ganizações, e estas dependem daquelas para poder estrutura organizacional adotada, das caracterís-
funcionar e alcançar sucesso. Separar o trabalho da ticas do contexto ambiental, do negócio da or-
existência das pessoas é muito difícil, senão qua- ganização, da tecnologia utilizada, dos processos
se impossível, diante da importância e do impacto internos e de uma infinidade de outras variáveis
que o trabalho nelas provoca. Assim, as pessoas importantes.1 Aí, inserido os hospitais e como
dependem das organizações nas quais trabalham subsistema a farmácia hospitalar, independente
para atingir seus objetivos pessoais. Com toda do porte ou do sistema público ou privado, políti-
certeza, as organizações jamais existiriam sem as cas de gestão de pessoas devem ser adotadas para
pessoas, que lhes dão vida, dinâmica, energia, in- o sucesso da organização.
teligência, criatividade e racionalidade”.1 O manual de gestão de pessoas segunda
As organizações bem-sucedidas deram-se conta parte tem o objetivo de apresentar conceitos
de que as pessoas constituem parte integrante do e formulários de utilização prática no dia a
capital intelectual e tratam seus funcionários como dia da farmácia hospitalar e serviços de saúde
parceiros do negócio e fornecedores de competências para avaliação de desempenho, capacitação e
e não mais como simples empregados contratados.1 desenvolvimento.
02 DESCRIÇÃO DE CARGOS
A maneira como as pessoas trabalham nas variam conforme o cargo, nível hierárquico e
organizações depende basicamente de como área de atuação.
seu trabalho foi planejado, modelado e organi- A descrição de cargos constitui a maneira
zado, ou seja, de como foi feita a distribuição como cada cargo é estruturado, incluindo o nome
das tarefas. do cargo, superior imediato, atribuições, requisi-
Para a organização, o cargo constitui a base tos mínimos, escolaridade, qualificações e requi-
da aplicação das pessoas nas tarefas organizacio- sitos desejados.
nais. Para a pessoa, o cargo constitui uma das A descrição de cargos é uma ferramenta impor-
maiores fontes de expectativas e de motivação na tante para o processo de recrutamento e seleção,
organização. análise e adequação de função e para o planejamen-
Cada cargo exige competências para que to de cargos e salários. No quadro 1 são apresenta-
seja bem desempenhado. Essas competências das instruções para elaborar descrição de cargo.
101
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II) Coletânea de Farmácia Hospitalar
03 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
A avaliação de desem- atividades para conhecer melhor suas potenciali-
penho é uma apreciação dades.
sistemática do desempe-
nho de cada pessoa, em 3.1 Formas de avaliação de desempenho
função das atividades que
ela desempenha, das metas • Avaliação por objetivo – apreciação do
e resultados a serem alcan- comportamento do avaliado quanto ao cum-
çados e do seu potencial de desenvolvimento.1 primento de metas, avaliação do potencial.
Os objetivos principais da avaliação de de- • Avaliação direta – realizada pelo líder di-
sempenho são: reto, que tem todo compromisso de avaliar o seu
• fazer análise de performance do profissional; subordinado direto.
• Auto-avaliação – Possibilita a participação
• fornecer subsídios para a área de Recursos
ativa do avaliado. A principal vantagem desta mo-
Humanos;
dalidade é que possibilita ao orientador fornecer
• promover feedback comportamental para
feedback, reforçando os pontos fortes e os pas-
colaborador e liderança;
síveis de serem melhorados. A desvantagem é no
• identificar e corrigir atitudes que compro- caso do colaborador possuir um perfil de superva-
metam o desempenho profissional; lorização de si e solicitar sua autopromoção.
• estimular o desenvolvimento de novas po- • Avaliação conjunta –
tencialidades; realizada uma análise con-
• promover mudança comportamental indivi- junta entre o avaliador e o
dual e de equipe.1-2 avaliado. É uma experiência
Todas as pessoas precisam de feedback a res- rica, permite a oportunida-
peito de seu desempenho. A organização também de de troca, transparência,
precisa saber como as pessoas desempenham suas clareza e objetividade.
102
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II)
1ª Etapa
Desempenho Apresentado
Características
ABAIXO DO
CARACTERÍSTICAS ÓTIMO BOM REGULAR
ESPERADO
Qualidade do Trabalho
Ritmo/Agilidade no Trabalho
Pontualidade e Assiduidade
Apresentação Pessoal
103
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II) Coletânea de Farmácia Hospitalar
FORMULÁRIO DO COLABORADOR
O Acompanhamento da Liderança é feito em duas etapas
1ª Etapa: preenchimento do formulário: colaborador deve preencher (individualmente) este formulário,
tendo como base o desempenho apresentado;
2ª Etapa: Nesta etapa, Liderança e RH analisam as respostas e resultados até chegarem a um
consenso.
VISÃO DA EMPRESA
5. Apresentou algum tipo de dificuldade para a função? Em caso positivo, foram tomadas ações
que possibilitaram a superação das dificuldades e a promoção do seu desenvolvimento?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
• Avaliação 180º – é uma metodologia de sões estipuladas. Neste tipo de avaliação (em
gestão de desempenho em que as pessoas que rede), o funcionário é avaliado pelo gestor ime-
interagem com o colaborador, em função da diato, pares e clientes internos (a quem presta
execução de seu trabalho, formam um comitê serviços).
com a finalidade de emitir uma apreciação e • Avaliação 360º – é um processo democráti-
avaliação sobre sua performance, nas dimen- co e participativo e consiste em uma avaliação re-
104
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II)
alizada pelo funcionário, seu superior imediato (ou seus resultados.1 Apresentamos na Quadro 3 su-
dois pares, quando não há hierarquia), dois clien- gestão de formulário para avaliação da liderança.
tes internos, dois clientes externos (pode ser su- A definição de competência sustenta-se no
primido) e dois subordinados diretos. É de extrema conjunto de conhecimentos, habilidades e atitu-
importância que sejam preservados na aplicação: des que o indivíduo apresenta e deve ser feita a
clareza das informações, total confidencialidade, partir da missão da organização.
esclarecimento de todas as dúvidas e acompanha- O ponto alto do processo de avaliação do
mento da realização do processo. Recomenda-se desempenho é o feedback, que consiste em re-
que essa avaliação seja conduzida por pessoa que velar a percepção do avaliador
não faça parte do quadro da farmácia hospitalar e como uma ferramenta de de-
que tenha formação na área de Recursos Humanos.3 senvolvimento essencial no ge-
A avaliação 360° é uma importante ferra- renciamento das pessoas e do
menta de aprendizagem e desenvolvimento, que desempenho. É visto como um
encerra em si muitos benefícios. Permite que os aprimoramento da performance
participantes obtenham um feedback de qualidade individual, bom andamento dos
sobre suas competências e desempenho e as com- trabalhos e da melhoria do clima
pare com a sua auto-avaliação, oferecendo exce- organizacional. O feedback deve
lentes oportunidades de aumentar a percepção e ser dado de forma construtiva,
a consciência, melhorar a comunicação, identifi- encorajando a pessoa à melho-
car as necessidades de aprendizagem e desenvol- ria, valorizando seus pontos fortes e reforçando
vimento, organizar atividades de aprendizagem seu potencial e sua capacidade. O diálogo deve
em função de prioridades, reforçar a confiança, ser franco e aberto para promover no receptor a
motivar e reavaliar, oferecendo desenvolvimento aceitação da crítica e provocar a mudança que se
individual com foco no trabalho em equipe.3 deseja alcançar. Deve propiciar aos colaboradores
Atualmente é uma das formas mais eficientes um acompanhamento de suas potencialidades, ha-
de avaliação de desempenho, pois avalia o profis- bilidades e promover um maior comprometimento
sional sob vários aspectos do seu desempenho na com a organização, otimizando seu desempenho.
organização. “A implantação de um sistema de avaliação
Para a realização dessa avaliação devem ser de desempenho é um processo que atende à or-
estabelecidos objetivos claros, criando plano de ganização, aos gestores e aos colaboradores, pois
desenvolvimento pessoal e organizacional.3 integra um modelo de gestão de pessoas e de
A “avaliação para cima” constitui uma faceta trabalho, participação nos resultados, desenvol-
específica da avaliação 360º. Ao contrário da ava- vimento e treinamento de pessoal, promoções e
liação do colaborador pela liderança, a “avaliação processo de desligamento”1.
para cima” é o outro lado da moeda e permite que A eficácia do sistema de avaliação de de-
a equipe avalie sua liderança, como ele proporcio- sempenho, para que se constitua em um fator
nou os meios e recursos para a equipe alcançar os impulsionador do sucesso na gestão da farmácia
seus objetivos e como a liderança poderia incre- hospitalar, está alicerçada no comprometimento
mentar a eficácia da equipe e ajudar a melhorar os da direção e na competência da implementação.
105
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II) Coletânea de Farmácia Hospitalar
responsável. Implica em mobilizar, integrar, trans- lidades diversas. O novo conceito resgata as di-
ferir conhecimentos, recursos e habilidades, que ferenças: as pessoas ganham pelo que sabem e
agreguem valor econômico à organização e valor pela colaboração no sucesso da empresa. É uma
social ao indivíduo. 3-4 maneira de remunerar pela contribuição pessoal
Na remuneração por competência, os funcio- de cada funcionário à organização e incentivar
nários que ocupam o mesmo cargo podem receber a participação e o envolvimento das pessoas na
salários diferentes, conforme a competência de condução da empresa. Para implementar essa me-
cada um. Essa forma de remuneração surgiu da todologia, Cunha (2004) sugere três passos des-
necessidade de diferenciar empregos com habi- critos no quadro 4.
1. Estabelecer de forma conjunta (gerente e funcionários) quais as competências necessárias para o trabalho,
pontos fortes e fracos;
2. Programação conjunta de treinamento;
3. Remuneração personalizada.4
Apesar do art. 461 da CLT vetar diferenças salariais para funções iguais, a remuneração por com-
petência pode ser feita sob a forma de gratificação anual e por participação nos lucros e resultados.3
05 CAPACITAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
5.1 Identificação e compatibilidade (evidências de trabalhos ineficientes, questioná-
de necessidades rios, solicitação, entrevistas com supervisores e
gerentes, reuniões de departamentos, avaliação
O hospital, por ser uma organização basea- dos funcionários (testes de conhecimento), modi-
da no conhecimento, deve ter na capacitação e ficações do trabalho, entrevistas de desligamento
desenvolvimento os pilares da qualidade da as- (possibilita identificar deficiências da organiza-
sistência. Para tanto, deve instituir programas ção), análise de cargos, relatórios periódicos da
sistemáticos que atendam as necessidades iden- empresa ou de produção.
tificadas e dê resposta aos anseios dos clientes, Após identificar as necessidades deverá ser
cooperando para a excelência do processo assis- elaborada a programação de treinamento, plane-
tencial. jamento e execução do treinamento. A realização
As necessidades de capacitação e desenvol- do treinamento deve ser seguida por avaliação de
vimento devem ser levantadas, contando com a resultados. Esta se constitui no maior desafio da
participação direta dos funcionários envolvidos. área de treinamento. Apresentamos, no quadro 5,
O levantamento das necessidades de treina- sugestão de formulário para avaliação de eficácia
mento deve ser iniciado por uma análise organi- de treinamento.
zacional, em que se procura conhecer o compor- São adotados como instrumentos de avalia-
tamento da organização, se analisa os recursos ção: questionários de expectativas, análise de ha-
humanos disponíveis para as atividades atuais e bilidades e tarefas, testes de habilidades padro-
metas futuras (quantidade e perfis adequados ao nizadas, questionários padronizados de atitudes,
desempenho de cada tarefa, de modo eficaz) e estudo de clima organizacional, dentre outros.6
seus processos.5 A participação nos treinamentos deverá ser
Os meios para levantamento de necessida- registrada em formulário padronizado. Ao final do
des de treinamento são: avaliação de desempe- treinamento, deve ser elaborado relatório contendo
nho (desempenhos insatisfatórios), observação programa, material didático fornecido, avaliações
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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II)
e listas de freqüência, de forma a subsidiar avalia- desenvolvidas, de forma a atender suas necessida-
ções posteriores. As pessoas que compõem a orga- des e as da organização, e integradas à cultura da
nização devem ser permanentemente capacitadas e excelência.
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GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II) Coletânea de Farmácia Hospitalar
6. CULTURA DA EXCELÊNCIA
A geração do sucesso (cultura da excelência) Os objetivos humanos e organizacionais
está fundamentada, segundo Oliveira (2004), no devem caminhar juntos, para que a necessidade
desenvolvimento das pessoas para a obtenção do de modificar-se aflore espontaneamente, o fun-
desenvolavimento organizacional, treinando, desa- cionário assuma uma atitude proativa e madura,
fiando e estimulando colaboradores a desenvolve- contribuindo para a reestruturação das bases da
rem seus potenciais no trabalho e na vida pessoal. organização.
Os hospitais devem possuir gestores que realizem O objetivo da empresa deve ser transfor-
juntamente com seus funcionários, o planejamento mar todas as pessoas em talentos, mantendo-
e viabilização das metas organizacionais e pessoais.6 -as estimuladas e entusiasmadas, buscando
O desenvolvimento pessoal deve ser focado o aprimoramento pessoal e o crescimento da
no desenvolvimento das potencialidades. equipe como um todo. 6
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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II)
7. REFERÊNCIAS
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4. Cunha JR, In Bertelli SB. Gestão de pessoas neiro: Qualitymark; 2002. p. 200
em administração hospitalar. Rio de Janeiro 8. Beertelli, S. B. Gestão de Pessoa em adminis-
: Qualitymark; 2004. Capítulo 3, p. 51-64. tração hospitalar. Rio de Janeiro: Qualityma-
5. Cavichiolli AT, Melo RN, In Bertelli SB. Ges- rk; 2004. p. 252.
109
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS
NA FARMÁCIA HOSPITALAR
NILSON GONÇALVES MALTA
01 INTRODUÇÃO
Segundo estudos da Associação Americana Americana de Farmacêuticos do Sistema de Saú-
de Hospitais e outro conduzido por David Philips, de) relatou que 39% dos erros ocorrem no ato da
ambos demonstrados pelo o IOM a em seu relatório prescrição, 12% na transcrição do pedido médi-
To Err is Human, 1999, anualmente, de 44.000 a co, 11% na dispensação e 38% na administração
98.000 pessoas morrem devido a erros médicos dos medicamentos3. Ainda que estes dados não
e cerca de 7.000 unicamente por erros de medi- sejam especificamente da realidade nacional, são
cação, dentro ou fora de hospitais. Levantou-se de vital importância como parâmetros para ações
ainda que 2% das admissões de um hospital eram de melhorias.
sujeitas a eventos adversos a medicamentos pre- Os dados demonstrados anteriormente são
veníveis, elevando o tempo de internação em 4,6 relativamente recentes, contudo, a preocupa-
dias com um custo adicional de 4.700 dólares por ção é bem antiga. Já entre as décadas de 1950
admissão1. e 1960, nos Estados Unidos, foi desenvolvido o
Em estatística do CDC b, neste mesmo rela- Sistema de Distribuição de Medicamentos por
tório, concluía-se que mais pessoas morriam por Dose Unitária (SDMDU) como um meio para se
erros médicos do que por acidentes automobilís- reduzir os números assustadores das estatísticas
ticos. Embora dez anos tenham se passado, estes daquela época. O SDMDU é o sistema pelo qual
dados alarmam e nos põem em atenção em rela- a farmácia dispensa os medicamentos na forma
ção à qualidade do serviço prestado em âmbito a qual se encontra pronto para uso, de acordo
nacional. Os custos decorrentes dos erros seguiam com a dose prescrita pelo médico, sem neces-
em estimativa entre 17 e 29 bilhões de dólares sidade de nova manipulação posterior4. Mesmo
americanos anuais. Os erros de medicação em re- sendo reconhecido como o sistema mais seguro
latório mais recente do IOM contavam, em 2006, de dispensação desenvolvido, até o momento, os
com uma estimativa anual de 400.000 eventos indicadores ainda demonstram que temos muitos
adversos a medicamentos, com consequente custo pontos frágeis no processo e que merecem toda
de 3,5 bilhões de dólares anuais2. nossa atenção. Mas, e agora, se já adotamos o
Em estudo a respeito das origens possíveis melhor método de dispensação, o que nos falta
dos erros de medicação, a ASHP (Associação realizar?
a
O Institute of Medicine (IOM) é uma organização norte-americana, sem fins lucrativos, não governamental, uma das Academias Nacionais dos
Estados Unidos e, desde 1970 parte da Academia Nacional de Ciências daquele mesmo país (www.iom.edu)
b
CDC – Centers for Desease Control and Prevention é a principal agência Americana de prevenção e promoção de saúde pública (www.cdc.gov).
110
Coletânea de Farmácia Hospitalar RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR
c
A Joint Commission Iternational (JCI) é a divisão internacional da Joint Commission Resources que trabalha com organizações de saúde,
ministérios da saúde e organizações globais em mais de 80 países desde 1994. Com foco na segurança do cuidado ao paciente, atua através
da provisão de serviços de certificação e acreditação. (www.jointcommissioninternational.org). No Brasil atua conjuntamente ao Consórcio
Brasileiro de Acreditação (CBA) (www.cbacred.org.br).
d ONA- A Organização Nacional de Acreditação é uma organização não governamental com abrangência de atuação nacional, que tem por
objetivo geral, promover a implantação de um processo permanente e de certificação dos serviços de saúde (www.ona.org.br).
e A Accreditation Canada, antigamente conhecida como Canadian Council on Health Services Accreditation, é uma organização independente
sem fins lucrativos, avalia serviços de saúde no Canadá e internacionalmente (www.accreditation.ca).
f ISO 9000 – Grupo de normas técnicas que estabelecem um modelo de gestão de qualidade para organizações em geral, qualquer que seja o seu
tipo ou tamanho. A organização que significa International Organization for Standardization teve origem na Suíça em 1947 e está presente
em 161 países. No Brasil as normas ISO são agrupadas na séria de normas ABNT NBR ISO 9000:2000. (www.iso.org).
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RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
g
Formato humano-legível – impressão em números e/ou letras.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR
h
GS1 – Global Standards é uma organização mundial dedicada ao desenvolvimento e implantação de padrões globais e soluções que melhorem
a eficiência e visibilidade da cadeia de suprimentos em todas as áreas industriais. Entre suas atividades está a normatização do uso de códigos
de barras. Antigamente a organização era conhecida pelo nome EAN (www.gs1.org). Os códigos de barras da GS1 são conhecidos como Sistema
GS1. O Sistema GS1 é um conjunto de padrões que permite o gerenciamento eficiente de cadeias de abastecimento globais e multindustriais
através da identificação inequívoca de produtos, unidades de despacho, ativos, localidades e serviços, facilitando o processo de comércio
eletrônico incluindo completa rastreabilidade. No Brasil o sistema GS1 (Padrão internacional EAN) foi definido como padrão de identificação
nacional de produtos de acordo com o decreto n° 90.595 de 29 de novembro de 1984. (www.gs1br.org).
113
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR
4. O CÓDIGO DATAMATRIX16
Além dos AI’s e das informações a eles Importante:
vinculadas, o GS1 DataMatrix usa uma com- Como o GS1 128, o GS1 DataMatrix permite
binação especial de caracteres em sua estru- concatenar (encadear juntamente e em sequência)
tura para que seja corretamente identificado diversos Identificadores de Aplicação (AI) e os seus
pelo leitor. Esta combinação é chamada Fun- dados num único símbolo. Quando os dados do AI
ção 1 e serve para diferenciar o símbolo GS1 são de comprimento fixo, o AI seguinte e os respec-
DataMatrix de outros símbolos DataMatrix tivos dados são imediatamente concatenados após
ECC 200. os dados do AI anterior, sem o uso do caractere se-
O Símbolo Caractere Função 1 (FNC1) parador de campo. Quando os dados do AI não são
pode ser traduzido de duas formas distintas: de comprimento fixo, terão de ser seguidos pelo se-
• Caractere de Início (ASCII 232) i parador de campo sempre que for concatenado com
• Separador de Campo (ASCII 29: <GS>) mais AI’s. O FNC1 separador de campo é o caractere
Quando usado como parte inicial do GS1 Da- alfanumérico correspondente ao valor 29 na tabela
taMatrix, usa-se ASCII 232: ]d2. ASCII (ou Separador de Grupo <GS>) como já explici-
Atenção: Para outras simbologias, o caracte- tado anteriormente. Não é necessário um separador
re inicial FNC1 é outro. FNC1 depois do último AI e respectivo dado, inde-
Quando usado como separador de campo, pendente de o campo ser ou não de comprimento
usa-se o ASCII 29 : <GS> variável. A seguir alguns exemplos:
Condições específicas:
• Os dados 1, 2 e 3 são representados pelos Identificadores de Aplicação AI 1, AI 2 e AI 3;
• O AI 1 é de comprimento fixo;
• Os AI 2 e 3 contêm dados de comprimento variável;
• FNC1 é usado para representar o Símbolo Caractere de Função 1.
Concatenação de Dados 1 e 2:
FNC1 AI 1 Dado 1 (comprimento fixo) AI 2 Dado 2 (comprimento variável);
Concatenação de Dados 2 e 3:
FNC1 AI 2 Dado 2 (comprimento variável) <GS> AI 3 Dado 3 (comprimento variável);
i
A tabela de caracteres ASCII é comumente parte do manual de configuração que acompanha os leitores.
115
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
Concatenação de Dados 1, 2 e 3:
FNC1 AI 1 Dado 1 (comprimento fixo) AI 2 Dado 2 (comprimento variável) <GS> AI 3
Dado 3 (comprimento variável)
Quando vários Identificadores de Aplicação GS1 tem de ser concatenados e apenas um deles é de
comprimento variável, é recomendado aos fornecedores a colocar este último no fim da sequência. Isto
otimiza o tamanho do símbolo evitando o uso de um caractere separador.
Em termos mais práticos, temos a seguir um exemplo de codificação:
Os dados transmitidos para o software de aplicação (gestão logística) consideram que o FNC1 inicial
é o Identificador de Simbologia ]d2, considerando os restantes FNC1, quando usados como caracteres
separadores, como sendo o caractere Separador de Grupo <GS>. O exemplo decodificado acima, habilitada
a transmissão dos caracteres FNC1, teria como resultado:
]d2 01034531200000111708050810ABCD1234<GS>4109501101020917
Os dados capturados são então passados para o software de gestão logística desta forma:
]d2 01034531200000111708050810ABCD1234~4109501101020917
(No exemplo acima o separador de campo <GS> é transmitido como o caractere “~”).
05 ADEQUAÇÃO TECNOLÓGICA
5.1 Tipos de Leitores HHP (www.handheldproduct.com.br),
Honeywell (www.honeywellaidc.com.br).
Para a leitura dos códigos
lineares, a tecnologia é bastan- Para quem deseja mo-
te acessível e não requer grande bilidade, ainda existem os
investimento. Já para os códi- PDA’s (Personal Digital As-
gos bidimensionais necessita-se Fig. 9 – Leitor sitant), equipamentos por-
Honeywell 4820i
de um investimento um pouco táteis, nos quais se pode
Fig. 10 – Leitores Motorola
maior, mas não é de grande importância frente trabalhar com sistemas in-
os gastos e riscos trabalho de re-etiquetagem. terligados por redes Wi-Fi® ou por radiofreqüên-
Existem leitoras deste padrão ao custo máximo cia. Neste caso os custos são mais elevados, che-
unitário de 500 dólares. gando a 1.500 dólares. Entretanto, para o fun-
Algumas marcas no mercado: cionamento adequado, além de necessitarem da
Motorola (www.motorola.com), instalação do programa de controle de estoque e
116
Coletânea de Farmácia Hospitalar RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR
dispensação, exige ainda infra-estrutura adequa- Deve-se ter este cuidado para não se avaliar in-
da de antenas e servidores, elevando o custo do corretamente o equipamento.
projeto. Algumas marcas: HHP, Motorola.
Para se tomar a decisão de qual produto e 5.2 Configurações dos Leitores
marca que irá atender às suas necessidades, exis-
tem dois fatores-base com impacto direto e im- Leitores e PDAs podem ser facilmente “pro-
portante na qualidade: gramados” para ativar ou não determinadas capa-
1. O software para o processamento de ima- cidades. Frequentemente, o manual de instruções
gem e decodificação do fabricante permite ajustar as características do
2. Os sensores e a óptica leitor, tais como:
Dada a tecnologia de leitura através da cap- • As simbologias que são passíveis de leitura;
tura de imagem, uma das maneiras utilizadas • O protocolo de comunicação (exemplo,
pelos fabricantes para demonstrar a sensibilida- utilizando identificadores de simbologia);
de de leitura dos diversos códigos, é através um Com relação a este segundo aspecto mencio-
gráfico demonstrado a seguir. Nele podemos ver nado acima, os fabricantes devem fornecer carac-
a relação entre a distância do leitor o tamanho terísticas específicas para lidar com os caracteres
do código impresso. Este tipo de avaliação é de não imprimíveis, como por exemplo: o Separador
extrema importância a fim de se avaliar a melhor de Grupo, que é essencial para decodificar mensa-
tecnologia frente ao padrão de códigos utilizados gens contendo dados de comprimento variável.
no seu ramo de trabalho. Embora não tenha de ser necessariamente as-
Outro aspecto de fundamental atenção é a sim, normalmente o scanner não contém qualquer
avaliação da qualidade de impressão do código, tipo de “inteligência”. O leitor somente transfere
a qual depende diretamente do papel (base da os dados e caracteres FNC1 (“]d2” e <GS>) para o
impressão) e da impressão propriamente dita. Sistema de Informação para tratamento posterior.
117
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
para realizar a completa identificação do medica- não é. A GS1 oferece suporte bastante detalhado
mento na sua cadeia interna. para que se entenda a adequação necessária.
O tema, apesar de aparentemente complexo, Acesse: www.gs1br.org
Por fim, cercamos todo caminho do medica- O sistema de checagem é encontrado mais
mento, onde a utilização do código de barras se comumente na literatura com dois nomes: Barco-
expõe como um método eficaz de segurança na de-assisted Medication Administration (BCMA) ou
administração de medicamentos. Bedside point-of-care (BPOC).
118
Coletânea de Farmácia Hospitalar RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR
08 LEGISLAÇÃO
Paralelamente às necessidades aqui descritas identificação deve estar disposta na embalagem
da atividade hospitalar, preocupada com a cons- primária. A lei não atinge as necessidades de se-
tante prática de falsificação de medicamentos as- gurança da rastreabilidade hospitalar, porém, de-
sim como o roubo de carga, a Anvisa preparou monstra um avanço importante para a segurança
legislação específica para controle do setor. Em de toda a população que utiliza medicamentos em
14 janeiro de 2009 foi publicada a lei 11.903 que farmácias e drogarias.
determinava a criação de sistema de rastreamento Em 14 de janeiro de 2010, foi publicada a
de medicamentos desde a produção até o consu- instrução normativa número 1, em que se detalha,
mo por meio eletrônico. de maneira específica, o mecanismo de controle e
Posteriormente, foi publicada a RDC 59, em rastreamento dos medicamentos. Determina-se o
25 de novembro de 2009, dispondo sobre a im- uso do GS1 DataMatrix como ferramenta, o qual
plantação do Sistema Nacional de Controle de Me- deve possuir conteúdo mínimo de informações,
dicamentos e os mecanismos para rastreamento dentre as quais GTIN, lote, validade e IUM (identi-
de medicamentos por meio eletrônico. Na reso- ficador único de medicamento – seguindo padrão
lução, explicita-se que os medicamentos deverão de serialização da GS1), o qual está diretamente
ser identificados com o código DataMatrix em vinculado ao registro do produto na Anvisa e CNPJ
sua embalagem secundária. Na ausência desta, a da empresa receptora.
119
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para se obter melhores resultados em um como já foi exposto. Cabe ainda ressaltar que,
projeto de implantação da utilização do GS1 Data- frente os custos gerados pelo erro e o tempo de
Matrix, recomendo procurar a GS1 Brasil e o grupo mão-de-obra gasto com tarefas que não agregam
de trabalho do setor Saúde. Até aqui, todas as valor e só oferecem mais riscos, são fatores que
iniciativas em relação à identificação com o uso facilmente demonstram o rápido retorno do in-
deste novo padrão surgiram por meio destes gru- vestimento.
pos de estudo, sendo alinhados com movimentos Adicionalmente, atenção à legislação é o
globais de padronização para rastreabilidade. ponto focal do momento. Com o andamento
Por diversas vezes os responsáveis pelas far- deste projeto em nível nacional, aguardamos
mácias hospitalares encontram diversos empeci- elevar a assistência de saúde a um nível supe-
lhos que impedem o desenvolvimento de projetos rior na qualidade, no que se refere a produtos
de rastreabilidade e não é incomum o motivo ser autênticos e de origem legal e aguardar para
financeiro ou falta de apoio da direção. Entre- que dentro de mais algum tempo, possamos ter
tanto, vale ressaltar que existem soluções que uma regulamentação para as embalagens primá-
se adaptam a diversos tamanhos de orçamento rias baseadas na identificação GS1 DataMatrix.
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121
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar
01 INTRODUÇÃO
Ao estudar sobre a competência do trabalho A farmácia hospitalar é atualmente uma
farmacêutico no desempenho de atividade hospi- unidade do hospital que tem, dentre outros
talar, podemos observar a importância deste pro- objetivos (1), garantir o uso seguro e racional
fissional, em todo o mundo, e, à semelhança de dos medicamentos prescritos e (2) responder
outros países, onde o profissional farmacêutico à demanda de medicamentos dos pacientes
encontra-se desempenhando atividades ainda não hospitalizados. (SIMONETTI et al., 2009).
desenvolvidas, no Brasil, a profissão passou pelos A assistência farmacêutica hospitalar consti-
mesmos desafios que ora enfrentamos (KUHNER, tui-se como um sistema complexo e relevante no
OLIVEIRA, 2010). âmbito da gestão de sistemas e serviços de saúde,
não somente por contemplar um dos insumos bá-
sicos para cuidados aos pacientes, como também
pelos altos custos envolvidos.
A complexidade das terapias medica-
mentosas e as evidências dos resultados das
intervenções farmacêuticas na melhoria dos
regimes terapêuticos e na redução dos cus-
tos assistenciais reforçam a importância de
uma assistência farmacêutica de qualidade. A
farmácia tem participação estratégica na ela-
boração de uma política de uso racional de
medicamentos visando melhorar e garantir a
qualidade da farmacoterapia e reduzir os cus-
tos para o estabelecimento, já que a polite-
rapia além de onerar os custos com cuidados
ao paciente, ocasiona elevação da morbi-mor-
talidade decorrente do uso inapropriado dos
Como o paciente é o real beneficiário das medicamentos.
ações do farmacêutico, a assistência farmacêuti- O papel do farmacêutico dentro do con-
ca deve ser um complexo de atitudes, comporta- texto hospitalar deixou de ser apenas adminis-
mentos, compromissos, valores éticos, funções, trativo na programação de medicamentos e or-
conhecimentos e responsabilidades. O conceito ganização de recursos financeiros. A tendência
de assistência farmacêutica foi introduzido por atual é que a prática farmacêutica direcione-se
Hepler, ao descrevê-la como um processo coope- para o paciente, tendo o medicamento como
rativo para provisão responsável da farmacote- instrumento e não mais como fim. Desta for-
rapia, com o propósito de conseguir resultados ma, promove suporte técnico junto à equipe
ótimos que melhorem a qualidade de vida do de saúde, na análise de prescrição, monito-
paciente considerado individualmente (KUHNER, rização do tratamento e do quadro clínico do
OLIVEIRA, 2010). paciente, durante a sua internação.
122
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES
123
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar
tribuindo de modo decisivo no custo do leito /dia. preende a ”seleção de medicamentos, a aquisição
Esta definição se reporta ao período que a farmácia e o controle dos medicamentos selecionados e o
havia se transformado numa farmácia industrial. estabelecimento de um sistema racional de distri-
Segundo Cimino (1973) e Maia Neto (2005), buição que assegure que o medicamento prescrito
a farmácia hospitalar é considerada como uma chegue ao paciente na dose correta. Para tal é
unidade técnica aparelhada para prover as clíni- vital a implantação de um sistema de informações
cas e demais serviços, dos medicamentos e produ- sobre medicamentos que permita otimizar a pres-
tos afins de que necessita para seu funcionamento crição” (MAIA NETO, 2005).
normal. Outros conceitos oficiais estão contidos nos
Santich e Galli (1995) conceituam de modo documentos da Organização Pan Americana de
geral o que vem a ser Assistência Farmacêutica e Saúde, dos Ministérios da Saúde e da Educação,
que pode perfeitamente ser inferido para farmácia além do conceito documentado pela Sociedade
hospitalar. Entre diversos conceitos Santich des- Brasileira de Farmácia Hospitalar (1997) de que a
taca o de Mikeal et, al (1975), que a define como farmácia hospitalar é uma unidade clínica, admi-
”O cuidado que um determinado paciente deve re- nistrativa e econômica, dirigida por farmacêutico,
ceber ou recebe, e que assegura o uso racional dos ligada hierarquicamente à direção do hospital e
medicamentos” ainda cita o conceito de Hepler & integrada funcionalmente com as demais unida-
Strand (1990) como um dos mais citados na atua- des administrativas e de assistência ao paciente
lidade que estaria representado ”pelo componente (MAIA NETO, 2005).
da prática farmacêutica que permite a interação A atuação da farmácia hospitalar se preocu-
do farmacêutico com o paciente com o propósito pa com os resultados da assistência prestada ao
de atender as necessidades do paciente relaciona- paciente e não apenas com a provisão de produ-
das com medicamentos . tos e serviços. Como unidade clínica, o foco de
Segundo o Programa Regional de Medicamen- sua atenção deve estar no paciente e nas suas ne-
tos Essenciais da Organização Pan-Americana de cessidades e no medicamento, como instrumento
Saúde (OPAS, 1987), a farmácia hospitalar com- (GOMES; REIS, 2000).
124
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES
Ensino e pesquisa Formar recursos humanos para a farmácia e para a assistência farmacêutica. Produzir
informação e conhecimento que subsidiem o aprimoramento das condutas e práticas
vigentes
125
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES
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FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar
processo de trabalho dessa comissão, caracteri- Em 1998, foi editada pelo Ministério da Saú-
zando os seus agentes e suas atividades. de a Portaria 2.616, que revoga a Portaria 930/92
Em 1985, passou a incentivar a reestrutura- e reafirmando a importância e ampliando as atri-
ção das farmácias hospitalares, promovendo cur- buições da CCIH. São também definidas as compe-
sos de especialização. Em 1992 foi publicada a tências da direção da instituição de saúde e das
Portaria nº 930, visando maior profissionalização coordenações nacional, estaduais e municipais,
na prática do controle de infecção, nessa portaria nas ações de controle das infecções hospitalar e
o Ministério da Saúde determinou a criação em cria o Programa de Controle de Infecção (PCIH)
todos os hospitais do País, os Serviços de Con- onde determina que o farmacêutico tem que pro-
trole de Infecção Hospitalar (SCIH) e manteve a mover o uso racional de antimicrobianos, matérias
exigência das CCIH. O SCIH é um grupo executivo médico-hospitalares e deve definir com a Comissão
responsável pelas ações com vistas à redução da de Farmácia e Terapêutica, políticas voltadas para
incidência e da gravidade das infecções hospita- estes insumos, cooperando com os setores de trei-
lares, enquanto que a CCIH é uma comissão mul- namento. Propõe também indicadores para uso de
tidisciplinar. antimicrobianos que tem relação com a Farmácia.
128
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES
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FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar
130
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES
10 ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO NO
CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES
Segundo Gomes e Reis (2000) e Storpirtis, et • Fornecer informações para subsidiar a po-
al.; (2008) a farmácia é um dos pilares que susten- lítica de uso racional de antimicrobianos;
tam as ações de controle de infecções hospitalares • Elaborar rotinas para dispensação de anti-
em todos os seus níveis: planejamento, operacio- microbianos;
nal e educativo, é são atribuições do farmacêutico • Participar do programa de monitorização
para que este controle seja efetivo e eficaz: terapêutica de antimicrobianos;
• Participar das reuniões da Comissão de • Elaborar relatórios periódicos sobre o con-
Controle de Infecção Hospitalar; sumo, custo e a freqüência de uso de anti-
• Participar da elaboração de protocolos de microbianos;
tratamentos com antimicrobianos; • Fornecer informações a respeito de inte-
• Participar da revisão da padronização de rações, incompatibilidades físico-químicas
antimicrobianos; e interferência laboratorial de medicamen-
• Estabelecer intercâmbio entre Comissão de tos, principalmente dos antimicrobianos;
Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), • Participar de investigação de casos sus-
Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT), peitos de contaminação por soluções pa-
Comissão de Suporte Nutricional e Comis- renterais e outros;
são de Padronização de Material Médico • Estabelecer políticas internas na farmá-
hospitalar; cia abrangendo procedimentos e progra-
131
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar
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133
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO Coletânea de Farmácia Hospitalar
01 INTRODUÇÃO
A grande discussão nos dias atuais é con- ato anestésico-cirúrgico até a globalidade do
seguir, dentro dos hospitais, que a gestão da processo de trabalho realizado neste setor.
saúde seja realizada com qualidade, eficácia, Para estes autores as “tentativas de mensu-
eficiência e aplicação correta dos recursos, rar os resultados da qualidade vem aumentan-
minimizando as perdas. Isto se torna particu- do significamente e com certeza continuarão
larmente importante, quando os assuntos são à medida que forem documentados os valores
medicamentos e produtos para saúde de uso dos programas e serviços prestados em centros
especial devido ao seu custo e grande utiliza- cirúrgicos”.
ção. A possibilidade de se visualizar em “kits” Além dos médicos, atuam, no centro ci-
o material direcionado ao ato cirúrgico, além rúrgico, enfermeiros, técnicos de enfermagem,
de facilitar o acesso vai permitir o usuário ter farmacêuticos, auxiliares de farmácia e técni-
o conhecimento exato das disponibilidades co-administrativos, dentre outros que respon-
econômicas e institucionais. dem pelos processos de trabalho desenvolvi-
De acordo com Mastrantonio e Graziano dos no setor. No cotidiano fica evidente que as
(2002, p.333) “a unidade de centro cirúrgico relações interprofissionais são hierarquizadas,
é uma área geradora de receita para os hospi- assimétricas e caracterizadas por dinamismo
tais” e em razão disso, o desenvolvimento de decorrente da necessidade de um trabalho em
programas que garantam a qualidade “é uma equipe.
necessidade em termos de eficiência e uma O centro cirúrgico é uma organização
obrigação do ponto de vista ético e moral”. complexa, formado por várias partes que se re-
Estudos indicam que o índice de ocupação lacionam para além de um layout arquitetôni-
de salas cirúrgicas nos hospitais de países de- co, equipamentos e aparelhagem sofisticada.
senvolvidos gira em torno de 85%, em compa- O relacionamento dessas partes é importante,
ração com os 53% de ocupação detectado em tendo em vista que o seu funcionamento só
instituições de saúde pública do Brasil, prin- ocorre de forma adequada quando os critérios
cipalmente aquelas com caráter de ensino e destas relações estiverem bem definidos, ou
pesquisa (GATTO, 1998). seja, integrados.
Mastrantonio e Graziano (2002, p.333) Contudo, a farmácia em centro cirúrgico
mencionam ainda que o caminho para se al- aparece dentro desta organização buscando
cançar o equilíbrio entre eficiência e eficácia um trabalho em equipe com todos os profissio-
em um centro cirúrgico obriga os gestores a nais envolvidos no centro cirúrgico se respon-
conhecer detalhadamente a realidade, desde sabilizando em trazer qualidade na logística do
questões relacionadas ao desenvolvimento do insumo certo na hora certa e na área certa.
134
Coletânea de Farmácia Hospitalar ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO
03 ROTINAS OPERACIONAIS
A programação cirúrgica é feita pelo coorde- intervenção cirúrgica, com a identificação dos
nador médico, que recebe das unidades de inter- pacientes e os tipos de procedimentos a serem
nação, 48h antes da cirurgia, a solicitação para realizados. A programação é discutida pelo coor-
135
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO Coletânea de Farmácia Hospitalar
136
Coletânea de Farmácia Hospitalar ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO
04 ATIVIDADES DO FARMACÊUTICO
• Monitoramento de estoque de medicamen-
tos, materiais especiais e convencionais ob-
servando pontos críticos de abastecimento
cobrando dos setores responsáveis parecer
sobre reposição, quando necessária solicita-
ção de empréstimos de materiais de outros
setores;
• Busca de soluções contínuas na melhoria
nos processos;
• Participação no sistema de gerenciamento
de riscos, através da elaboração das notifi-
cações referente a medicamentos e demais
produtos para saúde;
137
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO Coletânea de Farmácia Hospitalar
05 FLUXOGRAMA DE ATIVIDADES NA
FARMÁCIA EM CENTRO CIRÚRGICO
138
Coletânea de Farmácia Hospitalar ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO
06 FÁRMACO E TECNOVIGILÂNCIA
A ocorrência crescente de casos documenta- A interação do farmacêutico com as
dos de eventos adversos no cuidado à saúde tem equipes de médicos e enfermagem passa a
provocado um debate sobre a segurança do pa- ser maior pela participação do profissional
ciente em âmbito internacional. na prática do gerenciamento de risco e pelo
Os hospitais são espaços que visam a propor- fato de que o médico passa a agregar novas
cionar à população assistência médica sanitária, referências à avaliação do tratamento a ser
utilizando-se de recursos humanos e insumos. prescrito e do material a ser utilizado. Os en-
O envolvimento dos profissionais de saúde fermeiros aprendem a relacionar eventos da
com os princípios da Farmacovigilância e Tecno- prática de cuidados com os possíveis riscos
vigilância tem grande impacto na qualidade da decorrentes do uso de medicamentos e mate-
Assistência prestada ao paciente que está sendo riais. Abaixo, modelos das fichas utilizadas na
submetido a procedimentos cirúrgicos. Segundo prática de notificação (Figuras 2 e 3).
Anvisa, os temas são definidos:
• A farmacovigilância é uma atividade que
permite, durante a etapa de uso comer-
cial em larga escala, uma observação da
segurança real do medicamento e assim,
detectar efeitos adversos não previstos nas
etapas previas ao seu lançamento no mer-
cado. A farmacovigilância nos auxilia assim
a ter medicamentos mais seguros no merca-
do, detectando precocemente reações ad-
versas (indesejáveis) conhecidas, mau uso
dos mesmos e interações medicamentosas,
assim como seus aumentos de frequência,
além de identificar fatores de risco.
• Tecnovigilância é o sistema de vigilância de
eventos adversos e queixas técnicas de pro-
dutos para a saúde na fase de pós-comer-
cialização, com vistas a recomendar a ado-
ção de medidas que garantam a proteção e
a promoção da saúde da população. Visa a
segurança sanitária de produtos para saúde
pós-comercialização (equipamentos, mate-
riais, artigos médico-hospitalares, implantes,
produtos para diagnóstico de uso “in-vitro”),
através de estudos, análise e investigações a Figura 2. Impresso para notificação de produtos
partir das notificações recebidas. com desvio de qualidade ou não conformidade.
139
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO Coletânea de Farmácia Hospitalar
Figura 3. Impresso para notificação de produto que causou dano à saúde do usuário ou do profissional.
07 RELACIONAMENTO MÉDICO X
FARMACÊUTICO X ENFERMEIRO
Dentro do centro cirúrgico, os principais quanto às ações dos profissionais, favorecendo o
agentes da assistência hospitalar são os grupos de relacionamento entre estes, contribuindo, assim,
médico e enfermeiros, sendo considerados os gru- com o desempenho visando o cuidado integral do
pos de maior representatividade para os serviços paciente.
da saúde devido às distintas funções que exercem. Todos os participantes envolvidos na assis-
O médico encarrega-se do procedimento cirúrgico tência prestada ao paciente cirúrgico devem falar
do paciente e ao enfermeiro cabe a execução dos a mesma linguagem, voltados para um objeti-
cuidados complementares. vo comum, dessa maneira as informações serão
O papel do farmacêutico aparece para que se adequadamente transmitidas e entendidas (OLM,
tenha além da provisão de medicamentos e ma- 1987).
teriais específicos, contato direto com ambas as Para que as relações de um bom trabalho em
equipes para o aperfeiçoamento das atividades equipe sejam realizadas, são necessários alguns
desempenhadas pelos profissionais da Farmácia requisitos: autoconhecimento e relacionamento
em centro cirúrgico, agregando qualidade na as- do grupo, e os objetivos comuns de trabalho.
sistência prestada. Por outro lado, podemos citar dois obstácu-
A existência de um ambiente agradável que los que podem interferir nas relações interprofis-
inclui uma assistência também humanizada, em sionais: distorção da comunicação e desequilíbrio
que se busque não somente o bem-estar do pa- emocional.
ciente, mas também dos profissionais de saúde Em uma análise que une médico-farmacêuti-
que nele atuam, é necessária. Portanto, o Centro co-enfermeiro na assistência prestada ao pacien-
Cirúrgico precisa criar um ambiente que satisfa- te cirúrgico, podemos destacar no quadro ao lado
ça tanto às demandas de cuidado do paciente, (Quadro 1).
140
Coletânea de Farmácia Hospitalar ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO
08 PLANEJAMENTO
O planejamento anual é realizado pelo gestor A realização de um planejamento anual pro-
da área, num processo gerencial que formula obje- move a motivação da equipe levando a uma ex-
tivos para a seleção de planos de ação na sua exe- celência no atendimento e alcançando melhores
cução, levando em conta as condições da empresa resultados na assistência farmacêutica prestada
e sua evolução esperada. Ele permite ao farma- ao paciente cirúrgico.
cêutico identificar os problemas, propor melhorias Maria Gomes (2009, p. 69) alerta que se de-
através de elaboração de projetos e praticando as vem considerar possíveis intercorrências nos pro-
atividades de liderança dentro do processo contí- cessos de trabalho na área da saúde, porém essas
nuo de mudanças e aperfeiçoamento profissional. organizações não podem trabalhar na base da im-
Abaixo listamos alguns ítens necessários provisação, sendo necessário o planejamento com
para o desenvolvimento do planejamento anual e margem de segurança.
acompanhamento das atividades a serem desem- De acordo com Chiavenato (2000, p.195),
penhadas pela área. “o planejamento é um processo que começa com
1) Objetivo: melhoria proposta objetivos e define os planos para alcançá-los”, e
2) Responsável: gestor da área que para um instrumento gerencial mostra o que
3) Indicador: dados coletados rotineira- deve ser feito, quando, como e em que seqüência
mente, padronizados e que permitem a se deve fazer.
comparação dentro e/ou fora do serviço. Torna-se importante ressaltar que estes pro-
4) Meta: o que pretende alcançar cessos é um conjunto de operações sucessivas que
5) Prazo: determinação de data final proporcionam um resultado definido, o produto.
6) Plano de ação: planejamento de todas as (Deus, 2009, p.4) Considerando que o produto do
ações necessárias para atingir os resulta- centro cirúrgico é a “prestação de cuidados, em
dos esperados caráter eletivo ou emergencial, suas atividades
7) Equipe: quem desempenhará as atividades são complexas e os processos necessários na pro-
8) Prazo: data para implantação das ativida- dução do resultado sejam desenvolvidos de modo
des do plano de ação harmonioso, sincronizado e eficiente, com vistas
9) Ações: descrição das atividades a serem à segurança dos recursos humanos atuantes e do
desenvolvidas para o alcance do objetivo. paciente”. (SILVA, 1997, p.21)
141
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO Coletânea de Farmácia Hospitalar
09 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda é um pouco recente, a participação efetiva Isto posto, que atividades essenciais ficariam nas
do farmacêutico no processo de atendimento dentro mãos do farmacêutico em centro cirúrgico?
do centro cirúrgico. Apesar de utilizar alguns medica- 1. Elaboração da política de medicamentos.
mentos específicos, anestésicos em sua maioria, a área 2. Estabelecimento de padrões aceitáveis para a
cirúrgica necessita de produtos para saúde, e estes tem reposição de materiais.
uma ligação umbilical com a área de suprimentos, res-
3. Otimização do relacionamento com cirurgi-
ponsável pelo abastecimento e aquisição dos mesmos.
ões, anestesistas, enfermeiros e outros profis-
Alguns hospitais já conseguiram organizar uma
sionais envolvidos no processo.
área de logística que possua dupla coordenação (técnica
e operacional) e que cuida de forma integrada da provi- 4. Disponibilização de informações fármaco-ci-
são, abastecimento, distribuição, aquisição e controle. rúrgicas à equipe multidisciplinar.
Assim é que o farmacêutico assume as funções 5. Gerenciamento de conflitos envolvendo fal-
de gestor, embasado em instrumentos administrativos tas de medicamentos e materiais convencio-
e consegue estabelecer diálogo utilizando evidências nais e especiais.
fármaco-clínicas e cirúrgicas, para manter atualizado o Fica como lembrete aos novos profissionais
planejamento elaborado em conjunto com os gestores que pretendem atuar em centro cirúrgico, que o
de Suprimentos, reduzindo a ruptura de estoque tão modus faciendi é: faça segundo a arte, conforme
indesejável. manda a receita!
10 REFERÊNCIAS
CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da NOVAES, MRCG; SOUZA, NNR et al. Guia de Boas
administração, 6ª. Ed. Rio de janeiro: Campus, Práticas em Farmácia Hospitalar e Serviços de
2000. Saúde – Sbrafh. Vide o Verso, cap. 2, pág.37, São
Paulo, 2009.
CUNHA, G. W; CUNHA, I.C. Interação enfermei-
ra/farmacêutico na qualidade da dose unitária. PASCHOAL, M.L.H, CASTILHO, V. Consumo de ma-
I Congreso Mundial sobre el envasado de medi- teriais em Centro Cirúrgico após implementa-
camentos en dosis unitarias. Alicante, Espanha, ção de sistema de gestão informatizado. Revista
pág. 13, maio-2000 Brasileira de Enfermagem, vol 63, nov/dez 2010
142
Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR
01 INTRODUÇÃO
O conceito de qualidade na área de prestação gestão cujo alvo é a melhoria contínua de todas
de assistência à saúde foi descrito como: “Conse- as atividades hospitalares.
guir os maiores benefícios, com os menores riscos A qualidade é um processo que pode ser men-
possíveis para o paciente, dados alguns recursos” surado, o que permite comparações entre hospi-
pelo Dr. A. Donabedian. tais, prática que propicia a melhoria contínua da
No Brasil, esforços do Ministério da Saú- qualidade. Mas promover esta mudança para um
de, da Agência Nacional de Vigilância Sanitá- trabalho contínuo, com qualidade, demanda esfor-
ria (Anvisa), do Departamento de Assistência ço, constância e tenacidade, já que a modificação
Farmacêutica (DAF), da Sociedade Brasileira dos padrões culturais é uma das atividades que
de Farmácia Hospitalar (Sbrafh) e de outros implicam maior dificuldade.
segmentos da área de saúde buscam assegurar Neste contexto, as iniciativas relativas aos
a implementação e o monitoramento de políti- processos de certificação no Brasil foram vistas
cas, leis e recomendações que propiciem o uso com bastante otimismo, por possibilitarem o de-
seguro de todas as tecnologias e insumos uti- senvolvimento dos processos com mais qualidade,
lizados na prestação de assistência a pacien- seguindo-se uma cartilha pré-estabelecida de pa-
tes nas instituições de saúde, preocupando-se drões considerados aceitáveis para o atendimento
com todas as fases da cadeia de uso destes do paciente com segurança.
insumos, desde a sua produção até o seu uso
em pacientes.
No entanto, verifica-se um enorme dis-
tanciamento entre estas iniciativas e a reali-
dade prática vivenciada nos hospitais, sobre-
tudo quando se considera todas as regiões do
país. Há focos de excelência voltados de forma
consistente para a segurança dos pacientes e
inúmeros serviços nos quais tal preocupação é
muito pouco considerada.
Não há desenvolvimento da qualidade, se
todo o pessoal do hospital não estiver motiva-
do, já que a qualidade não depende de alguns
dos trabalhadores, mas de todos. É importante
lembrar que o processo de gestão pela qualida-
de pode ser utilizado como um mecanismo de
motivação e comprometimento dos funcionários Nos últimos anos, as organizações de saú-
ou colaboradores da instituição, pois qualidade de despertaram sua atenção para aspectos e
depende muito mais das pessoas e de seus va- oportunidades de economia resultantes de me-
lores do que dos processos, técnicas e instru- lhores processos na gestão do trabalho. Estas
mentos. É, portanto, uma ferramenta global de buscas representam o desafio para o declínio
143
CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
do alto custo dos serviços de saúde e o incre- hospitalar de pacientes pressupõe produtos e
mento de sua qualidade. Têm como objetivo serviços decorrentes das atividades dos pro-
compreender as melhores práticas de gerência fissionais. Segundo a Associação Médica Bra-
e os mecanismos de desenvolvimento de uma sileira, são realizados 3.870 procedimentos
cultura organizacional que privilegiem as ne- diferentes nos hospitais, decorrentes de uma
cessidades e expectativas de seus atores, es- assistência para terapia de 2.870 diagnósticos
pecialmente o consumidor final dos serviços possíveis.
de saúde. Atualmente, nos hospitais, os termos gestão
A implementação de programas de quali- pela qualidade, controle de processos, certifica-
dade tem um papel fundamental na racionali- ção, acreditação e satisfação do cliente são bas-
zação e padronização de insumos e de recursos tante utilizados e guardam entre si grande seme-
humanos, considerando-se que o atendimento lhança.
02 HISTÓRICO
A acreditação hospitalar, no Brasil, vem sen- As iniciativas seguiram esta sequência:
do discutida, desde 1990, no âmbito do Ministério 1991 – CQH – Programa de Controle de Qualida-
da Saúde. Várias iniciativas podem ser destacadas de Hospitalar que possui o apoio da Associação
dentro de um movimento precursor de avaliação Paulista de Medicina e PNGS – Prêmio Nacional
dos serviços de saúde com algum instrumento de Gestão em Saúde;
constituído por padrões, como o Programa de
1999 – CBA – Consórcio Brasileiro de Acredita-
Avaliação e Certificação de Qualidade em Serviços
ção, agência credenciada a realizar a auditoria
de Saúde, no Rio de Janeiro; o Instituto de Ad-
pela metodologia da Joint Commission Interna-
ministração Hospitalar, no Rio Grande do Sul, e o
tional (JCI);
Instituto Brasileiro de Acreditação Hospitalar, em
São Paulo, dentre outros. 1999 – ONA – Organização Nacional de Acredi-
O Ministério da Saúde definiu, então, a ne- tação que surge para ser a metodologia nacional
cessidade de criação de uma ferramenta nacional e adequada à realidade brasileira das institui-
para a avaliação e certificação de serviços de saú- ções de saúde;
de, instituindo uma comissão nacional de espe- 2008 – CCHSA – Canadian Council on Health
cialistas para desenvolver o modelo brasileiro de Services Accreditation, canadense, e NIAHO –
acreditação, que elaborou a primeira versão do National Integrated Accreditation for Healthca-
Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar. re Organizations, norueguesa.
03 DEFINIÇÕES
CERTIFICAÇÃO serviços de assistência à saúde, a cultura da qua-
É um conjunto de atividades desenvolvidas lidade. É realizado por entidade separada e distin-
por um organismo independente com o objetivo ta da organização de saúde e normalmente não
de atestar publicamente, por escrito, que deter- governamental, que avalia a organização de saúde
minado produto, processo ou serviço está em con- para determinar se ela apresenta uma série de exi-
formidade com os requisitos especificados. Estes gências projetadas para melhorar a qualidade da
requisitos podem ser nacionais, estrangeiros ou assistência. Tem caráter educativo voltado para a
internacionais. melhoria contínua, sem a finalidade de fiscaliza-
ção ou controle oficial.
ACREDITAÇÃO A acreditação de organizações de saúde se
É um processo de certificação voluntária que apresenta como uma forma de qualificar a compe-
visa introduzir nas instituições prestadoras de tência dos serviços, e não como uma mera certi-
144
Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR
ficação (apesar de esta última ser uma opção de Selo ou certificado – é fornecido quando a
um programa de qualidade). Trata-se de um meca- organização dos recursos e atividades evidencia
nismo comprometido com a elevação do nível de um processo cujo resultado final é uma assistên-
qualidade dos Serviços de Saúde. cia à saúde de qualidade.
04 O PROCESSO DE ACREDITAÇÃO
Num hospital, os clientes internos – o dire- pela união de tarefas de forma ordenada, plane-
tor, os pacientes e acompanhantes, os chefes dos jada, com o foco em metas bem estabelecidas e
serviços, o corpo de enfermagem, o gerente de onde o produto de uma estação de trabalho serve
compras, os médicos, o pessoal da manutenção, de insumo para a seguinte e assim sucessivamen-
o de limpeza e todos os demais que interagem te. Por isso, os estudos que tratam da avaliação
com o processo de trabalho, constituem parte do da qualidade de serviços de saúde, conduzidos
sistema onde são realizados processos de traba- especialmente pelo Dr. Avedis Donabedian, en-
lho que são definidos como uma cadeia de for- tendem que seu marco conceitual está na relação
necedores e clientes, com um conjunto formado entre estrutura, processo e resultado.
145
CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
As certificações nacionais:
ONA 150
CQH 18
CCHSA 10
Joint Commission International – JCI
(internacional) NIAHO 02
146
Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR
rigida por farmacêutico, ligada hierarquicamente 1. Adotar uma cultura de segurança focada
à direção do hospital e integrada funcionalmente na melhoria do processo;
às demais unidades administrativas e de assistên- 2. Padronizar a prescrição médica e, se pos-
cia ao paciente”. sível, torná-la eletrônica;
Conseguir a adequação das farmácias hospi- 3. Padronizar procedimentos, como horários
talares, bem como da atuação dos profissionais de administração, limites de doses, enva-
farmacêuticos segundo este conceito tem sido um samento, etiquetação e armazenamento;
desafio para todas as estruturas, governamentais 4. Padronizar os equipos de infusão;
ou não, envolvidas na atividade. 5. Atribuir ao Serviço de Farmácia a prepa-
No entanto, a assistência farmacêutica hos- ração dos medicamentos;
pitalar hoje no Brasil compreende, em um expres- 6. Instituir protocolos de utilização e pro-
sivo número de casos, um número considerável cedimentos especiais para o manejo dos
de processos e está completamente inserida no medicamentos de alto risco;
contexto da atenção à saúde dentro dos hospitais. 7. Assegurar a disponibilidade continuada
Ela responde por inúmeros padrões da maioria dos da assistência farmacêutica;
manuais de acreditação, por estar diretamente re- 8. Incorporar o farmacêutico clínico na
lacionada a aspectos da segurança do paciente. equipe assistencial;
A segurança do paciente é definida como 9. Garantir acessibilidade às informações
a redução, a um mínimo aceitável, do risco de mais relevantes sobre o paciente e sobre
dano desnecessário ao paciente, associado ao os medicamentos nas unidades assisten-
cuidado de saúde. ciais;
A qualidade da assistência farmacêutica está 10. Educar os pacientes sobre o seu tratamento;
diretamente relacionada com a capacidade da or- 11. Estabelecer um sistema de distribuição
ganização em garantir a eficiência das atividades de medicamentos em dose unitária;
logísticas tradicionais e com o desenvolvimento 12. Implementar novas tecnologias que per-
de ações assistenciais e técnico-científicas que mitam melhorar os processos de dispen-
contribuam para a qualidade e racionalidade do sação e administração de medicamentos.
processo de utilização de medicamentos e de ou- Neste sentido, a adequação das farmácias
tros produtos para a saúde e para a humanização hospitalares ao que é exigido nos padrões de acre-
da atenção ao usuário. O objetivo é reduzir os ditação torna-se um caminho dos mais promisso-
danos causados aos pacientes em conseqüência res para a melhoria da atividade profissional e do
de sua terapia medicamentosa, o que envolve cumprimento da legislação.
também materiais, equipamentos, instrumentais Recentemente houve a publicação de legisla-
e sistemas de aplicação médica. ção federal (Portaria no 4.283, de 30 de dezembro
Podemos dizer que outro objetivo encontra- de 2010, do Ministério da Saúde) que define dire-
do, aqui, é a diminuição da cultura do desperdí- trizes e estratégias para a organização, o fortaleci-
cio existente em muitas instituições hospitalares. mento e o aprimoramento das ações e serviços de
Esta cultura se estende aos materiais de consumo, farmácia no âmbito dos hospitais, o que fortalece
fios cirúrgicos, cateteres e outros itens. A inexis- as iniciativas dos gestores das áreas na adequação
tência de protocolos, procedimentos operacionais de seus serviços ao preconizado em todas as ativi-
padrão, informação e informatização, padroniza- dades, que estão resumidas no diagrama abaixo:
ção de medicamentos e produtos para a saúde e
o desconhecimento dos custos contribui para a
falta de qualidade.
Organizações internacionais com experiência
no desenvolvimento de melhorias de segurança
para o uso de medicamentos recomendam medi-
das gerais que podem ser adotadas com foco na
prevenção dos eventos adversos evitáveis e, con-
sequentemente, na melhoria do indicador de pro-
blemas relacionados a medicamentos. São elas:
147
CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
Área Requisito
148
Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR
149
CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
Atenção farmacêutica
Avaliação técnica da prescrição médica antes da dispensação, com verificação de:
forma farmacêutica, pertinência da droga, dose, freqüência, via de administração,
incompatibilidade química, duplicidade terapêutica, alergias, interações,
conciliação medicamentosa, critérios da instituição para o uso, peso e outros
dados do paciente, contra-indicações, duração da terapia
Intervenção farmacêutica e registro sistemático das atividades, mensuração e
avaliação de resultados
Plano formal de seguimento farmacoterapêutico
Monitoramento de interações entre medicamentos
Participação em planejamento multidisciplinar para estruturação de plano terapêutico
Sistemática de farmacovigilância passiva e ativa
Reconciliação medicamentosa
Monitoramento de antimicrobianos
Monitoramento de interações entre medicamentos e alimentos e com nutrição enteral
Orientação a pacientes e familiares sobre medicamentos
Definições para ordem verbal, siglas e abreviaturas, legibilidade, acesso à lista de
profissionais autorizados a prescrever
Participação ativa em equipes multidisciplinares e obrigatoriamente na
Comissão de Farmácia e Terapêutica – CFT, Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar – CCIH, Equipe Multidisciplinar em Terapia Nutricional
– EMTN e Equipe Multidisciplinar em Terapia Antineoplásica – EMTA
Orientação em ambulatório: adesão, orientações sobre o tratamento
medicamentoso, análise de resultados
Sistemática de anotação oficial de intervenções farmacêuticas em prontuário
Evidência de monitoramento do efeito de medicamentos de maior toxicidade
Sistemática de farmacovigilância ativa e passiva com demonstrativos
Definição e prática de mecanismos de informação para pacientes ambulatoriais
Desenvolvimento de estudos de utilização de medicamentos com aplicação prática
Demonstrativos farmacoeconômicos
Orientação para boas práticas de administração de medicamentos
150
Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR
151
CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
Gerenciamento de riscos
Mecanismo de monitoramento de erros e erros potenciais nos principais processos
de uso de medicamentos
Monitoramento de reações adversas a medicamentos
Garantia de abastecimento de itens dos carros de emergência
Monitoramento de medicamentos considerados de alto risco
Testes em produtos com acompanhamento
Garantia de não utilização de produtos vencidos
Manutenção de processo de rastreabilidade de produtos
Gerenciamento de substâncias (ex. citostáticos) e resíduos tóxicos
Monitoramento do efeito de novos medicamentos
Métodos de contingência para abastecimento extraordinário
Mapeamento e controle dos riscos ocupacionais
Garantia de não utilização de produtos com desvio de qualidade
Sistemática que evite abuso de substância lícita pela equipe no local de trabalho
Monitoramento de reação adversa a medicamento
Instruções e treinamento de segurança do trabalhador. Mapas de risco
Sistemática de notificação e gerenciamento de eventos sentinela
Para todas as áreas acima, deve ser obser- Boas Práticas de Armazenamento de Produ-
vado ainda o cumprimento do que segue: docu- tos: devem ser observadas em todas as unidades
mentação, normas e procedimentos: registrados e em que eles existirem, não só em farmácias e al-
atualizados para avaliação, treinamento, controle moxarifados, atendendo a legislação pertinente.
e acompanhamento dos processos. Planos de Contingência: identificação de
Utilização de Indicadores: para registro, processos, ações, definição de forma de moni-
tratamento e acompanhamento de não con- toramento, divulgação, responsáveis, momento
formidades, com demonstração de ações cor- de retorno ao estado normal das operações, em
retivas. situações anormais.
08 INDICADORES
Um indicador é um guia que possibilita moni- que permitam o monitoramento do meio ambien-
torar e avaliar a produção, a qualidade do trabalho te, da estrutura, dos processos e dos resultados
e a gestão. É ainda um direcionador da atenção das áreas, auxiliando na tomada de decisão para a
para resultados específicos, normalmente pré-de- melhoria contínua, possibilitando análise das ten-
finidos em planejamento prévio. dências e comparações com referenciais internos
Utilizam-se indicadores para criar parâmetros e externos.
152
Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR
Como eles são fundamentais para consolidar para o processo de acreditação, podem auxiliar
e demonstrar as ações estabelecidas no cumpri- na gestão das unidades. Definir por poucos indi-
mento desta série de exigências sugerimos, para cadores, mas que eles sejam objetivos, de baixo
as áreas citadas neste texto, a definição e de- custo, simples e com dados de fácil coleta é a
monstração de alguns indicadores que, além de melhor forma de utilizar esta ferramenta. Alguns
ajudarem a monitorar as adequações propostas exemplos:
Processos da assistência
Indicadores
farmacêutica
153
CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
09 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao levarmos em conta que as principais fica evidente que o preparo e a adequação da
características da atenção farmacêutica estão farmácia hospitalar a padrões de qualidade
relacionadas à dispensação do medicamento requeridos pelas acreditadoras são a possibi-
– da forma mais apropriada possível; ao for- lidade de concretização dos planos da maioria
necimento de informações que assegurem o dos profissionais que atuam em nosso país.
uso racional de medicamentos e à orientação Desafio grande para muitos, concretização
ao paciente com o propósito de auxiliar no de sonhos para alguns, e ganho de qualidade
resultado positivo de sua qualidade de vida, para todos.
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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154
Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR
155
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar
01 INTRODUÇÃO
A constante inovação tecnológica na mais importantes do ciclo da Assistência Farma-
área da saúde, a introdução de novos produ- cêutica (3), sendo este contínuo, multidisciplinar
tos farmacêuticos, bem como a influência da e participativo que deve se desenvolver baseado
propaganda sobre a prescrição médica, torna na eficácia, segurança, qualidade e no impacto
a seleção de novas tecnologias um processo econômico.
imprescindível nas instituições hospitalares.
Este procedimento tem por objetivo otimizar a
eficiência administrativa e a eficácia terapêu-
tica, além de contribuir para a racionalidade
na prescrição e na utilização das novas tecno-
logias. Neste contexto, o medicamento se con-
figura como um dos insumos mais importantes
dessa intensa incorporação tecnológica, o qual
necessita de constantes avaliações para garan-
tir a sua melhor utilização (1).
156
Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA
02 OBJETIVOS
A Comissão de Farmácia e Tera- Comum Brasileira (DCB) ou, na sua au-
pêutica é uma instância colegiada, de sência, Denominação Comum Interna-
caráter consultivo e deliberativo, que cional (DCI);
tem por objetivo selecionar medica- f) informações suficientes quan-
mentos a serem utilizados no sistema to às características farmacotécnicas,
da saúde nos três níveis de atenção. farmacocinéticas e farmacodinâmicas;
Além disso, a CFT assessora a direto- g) preço de aquisição, armaze-
ria clínica, na formulação de diretrizes namento, distribuição e controle;
para seleção, padronização, prescrição, aquisição, h) menor custo do tratamento/dia e custo
distribuição e uso de medicamentos dentro das total do tratamento, resguardando segurança,
instituições da saúde. Com essa finalidade, uma eficácia, efetividade e qualidade de vida;
CFT deve adotar critérios para seleção e padroni- i) concentração, forma farmacêutica, es-
zação dos medicamentos/produtos farmacêuticos, quema posológico e apresentação, conside-
como: rando a comodidade para a ministração aos
a) registro no país em conformidade com a pacientes, faixa etária, facilidade para cálculo
legislação sanitária; de dose a ser ministrada e de fracionamento
b) necessidade segundo aspectos clínicos e ou multiplicação de doses, bem como perfil de
epidemiológicos; estabilidade mais adequado às condições de
c) valor terapêutico comprovado, com base armazenamento e uso.
na melhor evidência científica em seres humanos, Para auxiliar na execução das atividades, a
destacando segurança, eficácia e efetividade, com CFT pode compor grupos técnicos de trabalho,
algoritmo de escolha (fluxograma) de tratamento sempre que se fizer necessário. Estes grupos téc-
definido; nicos podem ser criados a critério da CFT ou quan-
d) composição com única substância ativa, do solicitado pelo diretor clínico da instituição e
admitindo-se, apenas em casos especiais, asso- submetidos ao plenário que define o prazo para
ciações em doses fixas; cumprimento dos trabalhos e aprovação de sua
e) o princípio ativo conforme Denominação composição (6).
157
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar
03 COMPOSIÇÃO
A composição da Comissão de Farmácia e Te- Os membros executivos e suplentes da CFT
rapêutica possui característica multiprofissional e devem ser designados pelo diretor clínico, o
depende da disponibilidade dos recursos humanos qual promove as indicações de Presidente e de
existentes na instituição (7). Contudo, a CFT pode Vice-Presidente.
contar com assessores “ad hoc”, que são profis-
sionais pertencentes ou não à Instituição, com a
finalidade de fornecer subsídios para emissão de
parecer técnico e tomada de decisão.
158
Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA
04 COMPETÊNCIAS
Compete à Comissão de Farmácia e Terapêutica riscos e farmacovigilância (queixas técni-
as ações de assessoramento farmacoterapêutico, cas, reações adversas ao medicamento e
investigação científica e educação permanente. erros de medicação).
c) Ações educativas
• Desenvolvimento e apoio às ações de pro-
moção do uso racional de medicamentos;
• Colaboração e participação em atividades de
educação permanente da equipe da saúde;
• Elaboração e divulgação de instrumentos
educativos, utilizando os meios de comu-
nicação;
a) Assessoramento farmacoterapêutico • Incentivo e realização de campanhas para
• Seleção e padronização dos medicamentos; práticas seguras do uso do medicamento.
• Elaboração e atualização do Guia Farmaco-
terapêutico; Neste contexto, a CFT desempenha papel con-
• Definição de diretrizes para o uso racional sultivo, científico e educativo, propondo na ins-
dos medicamentos; tituição, as boas práticas de prescrição, dispen-
• Elaboração de normas para prescrição, dis- sação, ministração e controle de medicamentos,
pensação e uso de medicamentos; além de analisar estudos de utilização dos medica-
• Avaliação para incorporação de novas tec- mentos padronizados, com foco no uso racional.
nologias; A CFT possui o papel de avaliar a adequação de
• Promoção e elaboração de Protocolos Clí- cada medicamento e produto farmacêutico cons-
nicos de tratamento. tantes do Guia Farmacoterapêutico, bem como a
conveniência da inclusão ou exclusão dos medica-
b) Investigação científica mentos, em razão de novas evidências científicas
• Promoção de estudos de utilização de me- disponíveis sobre eficácia, efetividade e segurança
dicamentos e de farmacoeconomia para do medicamento.
analisar o perfil farmacoepidemiológico e Outro ponto consiste na atualização a cada
de impacto econômico dos medicamentos dois anos do Guia Farmacoterapêutico, seguindo
nas instituições da saúde; as recomendações da OMS e do Decreto nº 7.508,
• Atividades voltadas ao gerenciamento de de 28 de junho de 2011.
05 ATRIBUIÇÕES
5.1 Atribuições do Presidente • emitir pronunciamento da CFT quanto às
questões relativas a medicamentos;
Ao Presidente da CFT incumbe dirigir, coorde- • promover a convocação das reuniões;
nar e supervisionar as atividades da Comissão e, • tomar parte nas discussões e votações e,
especificamente: quando for o caso, exercer direito do voto
• constituir Grupos Técnicos de Trabalho e de desempate;
de Apoio; • designar membros executivos da CFT para
• representar a CFT em suas relações internas emissão de pareceres técnicos, realização
e externas; de estudos e levantamentos necessários à
• instalar a Comissão e presidir suas reuni- consecução dos objetivos da Comissão;
ões; • aprovar “ad referendum”, nos casos de ma-
nifesta urgência.
159
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar
06 FUNCIONAMENTO
6.1 Estrutura das reuniões Esta Comissão deve reunir-se, ordinariamen-
te, conforme cronograma e, extraordinariamente,
quando convocada pelo Presidente ou solicitada
pela maioria de seus membros executivos. É ne-
cessária a definição de um local para viabilizar o
seu funcionamento.
De forma sistemática, as sessões da CFT são
iniciadas com a presença da maioria simples dos
seus membros (“quorum”). Não havendo “quo-
rum” a reunião será suspensa.
As reuniões podem seguir este roteiro:
• verificação da presença do Presidente e, em
caso de sua ausência, abertura dos traba-
lhos pelo Vice-Presidente;
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Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA
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COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar
Indicador Fórmula
08 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Comissão de Farmácia e Terapêutica regula- Farmácia ou de Farmacologia, ou qualquer que
mentada de acordo com as orientações da OMS é seja a denominação, contribui para educação per-
de fundamental importância para que a gestão da manente dos profissionais envolvidos no ciclo do
saúde seja realizada com maior segurança, quali- medicamento, conseguindo de forma objetiva uma
dade e efetividade. significativa racionalização no uso do arsenal far-
Nos dias atuais a CFT passou ter papel essen- macoterapêutico.
cial na melhoria contínua dos serviços da saúde, Consequentemente, a equipe da saúde passa
devido ao seu importante desempenho na mitiga- a ter um referencial por meio do estabelecimento
ção dos riscos envolvidos no processo de seleção de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas,
e padronização de medicamentos, avaliando desde propiciando o melhor acesso a farmacoterapia ba-
o impacto farmacoeconômico da incorporação de seada em evidências, e estabelecendo o equilíbrio
novas tecnologias até a promoção do uso racional entre a demanda e os recursos, proporcionando ao
dos medicamentos. paciente um atendimento com qualidade e segu-
A Comissão de Farmácia e Terapêutica, de rança.
09 LEGISLAÇÕES PERTINENTES
• Portaria MEC nº 35 de 14 de janeiro de 1986. • Resolução CFF nº 449 de 24 de outubro de
Determina a criação de Comissão de Padroniza- 2006. Dispõe sobre as atribuições do farma-
ção nos Hospitais de ensino; cêutico na Comissão de Farmácia e Terapêu-
tica;
• Portaria MS nº 2616 de 12 de maio de 1998.
Programa de Controle das Infecções Hospita- • Resolução MS/ANVISA nº 96 de 17 de dezem-
lares – Anexo I – Competências – Define em bro de 2008. Dispõe sobre a propaganda, publi-
cooperação com a Comissão de Farmácia e Te- cidade, informação e outras práticas cujo obje-
rapêutica política de utilização de ATM, germi- tivo seja a divulgação ou promoção comercial
cidas e MMH para a instituição; de medicamentos;
162
Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA
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COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR
01 INTRODUÇÃO
No ciclo da assistência farmacêutica, a aqui- • Garantir que a entrega seja feita de manei-
sição de medicamentos é uma das principais ati- ra correta;
vidades, visto que o mesmo é um insumo funda- • E, desenvolver e manter boas relações com
mental de suporte às ações de saúde. Uma boa os fornecedores 25.
aquisição de medicamentos deve considerar pri- Para alcançar tais objetivos é fundamental o
meiro o que comprar (seleção); quando e quanto inter-relacionamento da equipe farmacêutica com
comprar (programação); e como comprar. O mo- a área administrativa do hospital, sendo estabe-
nitoramento e a avaliação dos processos são fun- lecido um fluxo dinâmico de troca de informações
damentais para aprimorar a gestão e intervir nos com os setores de suprimentos e financeiro, onde
problemas 7. destacamos algumas atividades que são favore-
A Gestão da aquisição – a conhecida função cidas se desempenhadas em consenso por estas
de compras – assume papel estratégico nos ne- áreas:
gócios de hoje em face do volume de recursos, • Negociação das melhores condições de
principalmente financeiros envolvidos, deixando compra;
cada vez mais para trás a visão preconceituosa • Seleção e qualificação de fornecedores;
de que era uma atividade burocrática e repetitiva, • Administração do pedido de compra (como
um centro de despesas e não um centro de geren- estoque máximo, ponto de ressuprimento).
ciamento de recursos 17. A gestão de compras vem Comprar e prover medicamentos são fato-
ganhando espaço e evidência no contexto das or- res primordiais na atividade hospitalar, as pes-
ganizações, já que não basta apenas comprar, é soas envolvidas neste processo desempenham,
preciso comprar bem. direta ou indiretamente, papel fundamental na
Na gestão das compras de medicamentos prestação da assistência ao paciente e devem
além do aspecto financeiro, a preocupação realizá-lo de maneira à melhor atender os in-
com a qualidade deve estar sempre presen- teresses tanto dos pacientes quanto da insti-
te, visto que os serviços da saúde, em nosso tuição. Para isso elas precisam conhecer muito
caso especifico as farmácias hospitalares, têm bem os mecanismos do processo, sendo treina-
a responsabilidade de ofertar uma assistência das e capacitadas para tanto.
farmacoterapêutica adequada as necessidades Verificamos que a gestão de compras é uma
dos pacientes. atividade que deve ser realizada de forma profis-
Para realizar esta atividade, é necessário es- sional, pautada no conhecimento técnico, desta
tabelecer quatro objetivos principais: forma este encarte espera contribuir na capacita-
• Obter produtos e serviços na quantidade ção da equipe farmacêutica, abordando os princi-
certa; pais conceitos e processos envolvidos na execu-
• Com qualidade e a um menor custo; ção desta atividade.
171
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
2.3 ESPECIFICAÇÃO
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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR
173
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
Para tal devem ser seguidos alguns requisitos que tem sob seu cálculo também, o estoque de
imprescindíveis para esta atividade: segurança que deve ser mantido 14.
• Manter constantemente atualizado o custo
de cada produto; 3.2 GESTÃO DA DEMANDA
• Estabelecer políticas de cobertura (estoque
de segurança, mínimo e máximo) para cada O termo “gestão da demanda” pode começar a
produto, dependendo do fator mais crítico ser discutido por meio da definição da palavra de-
para cada item; manda que segundo Proud, significa necessidade
• Manter o controle para reduzir ou evitar es- para um produto ou componente particular.
toques de medicamentos em desuso; A gestão da demanda pode ser representa-
• Manter controle permanente sobre a dispo- da por macroatividades, conforme descrito a
nibilidade do estoque para suprir as faltas seguir:
rapidamente; • Prever a demanda: é a função que se pre-
• Determinar o custo de falta de cada pro- ocupa em predizer o consumo dos medica-
duto; mentos de forma que a aquisição possa ser
• Realizar inventários físicos periódicos para nas quantidades apropriadas;
conferi-lo com os dados do controle de es- • Comunicar-se com o cliente: essa atividade
toques; é responsável por colher e analisar as in-
• Manter sistemas de informações inte- formações do mercado, para estimar novas
grados para acesso e consulta imediata solicitações;
da quantidade disponível de cada mate- • Priorizar e alocar: é satisfazer toda a de-
rial em estoque. manda, em caso de estoque insuficiente
O desafio do gestor de estoque é saber temos que informar e decidir qual pa-
quando e quanto ressuprir de cada material e ciente deverá ser atendido e qual terá
quanto devem manter em estoque de seguran- condições de esperar ou ter seu medica-
ça. Com o crescente número de itens com di- mento substituido;
ferentes padrões de demanda e características • Planejar nível de serviços aos clientes:
específicas, a complexidade na administração consiste em disponibilizar o medicamento
de materiais aumenta devido à necessidade de ao paciente;
um controle diferenciado. • Planejar e distribuir: as atividades de dis-
Para uma boa gerência de estoque é necessá- tribuição são planejadas a partir dos perío-
rio definir o ponto de ressuprimento e o estoque dos de envio do medicamento para as uni-
de segurança: dades, das solicitações de ressuprimento
• Ponto de Ressuprimento – É um parâmetro de estoques e da capacidade de estocagem.
de alerta no dimensionamento de estoques.
É um nível de estoque que ao ser atingido 3.2.1 Tipos de demanda
sinaliza o momento de se fazer uma nova
compra, evitando posterior ruptura do es- Existem vários tipos de demanda, desta forma
toque 22. é importante conhecermos as demandas existen-
• Estoque de Segurança – É a quantidade tes e realizar a análise para identificar em qual
de cada item que deve ser mantida como delas os medicamentos disponíveis na Instituição
reserva para garantir a continuidade do se enquadram:
atendimento em caso de ocorrência não • Permanente: para produtos com vida longa,
prevista como: elevação brusca no con- requer ressuprimento periódico;
sumo e atraso no suprimento. O estoque • Sazonal: a sazonalidade pode ser definida
de segurança evita ruptura do atendi- como o conjunto dos movimentos ou flu-
mento 22. tuações com período igual ou inferior a
Assim ao se planejar, deve-se considerar o um ano, sistemáticos, mas não necessaria-
ponto de ressuprimento como dado auxiliar, visto mente regulares, que ocorrem numa série
que caracteriza o ponto de partida da compra e temporal. A sazonalidade é o resultado de
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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR
causas naturais, econômicas, sociais e ins- Método fácil de ser implementado, mas pos-
titucionais; sui limitações na prática;
• Irregular: depende de outros fatores (taxas Exige grande quantidade de dados históricos;
de câmbio, promoção e propaganda); Todos os valores históricos, antigos e re-
• Em desuso: ocorre quando a demanda do centes, têm a mesma influência no cálculo da
produto acaba ou um novo produto ocupa média;
o seu lugar; Assume a hipótese de que as condições que
• Derivada: ligada a outro produto, pode au- determinaram o consumo no passado se manterão
mentar ou diminuir. inalterados no futuro;
Picos em períodos anteriores, causados
3.2.2 Métodos de controle da por comportamento atípico do mercado in-
previsão da demanda fluenciam muito nos cálculos, distorcendo as
médias calculadas.
A maioria dos modelos de previsão de deman-
da está vinculada a séries temporais. Essa técnica 2. Previsões Baseadas nas Médias Móveis Ponde-
consiste em analisar o comportamento da variável radas:
temporal e então projetar novos valores para o
futuro. CM = (C1 x 0,2) +(C2 x 0,3) +(C3 x 0,5)
As informações básicas que permitem decidir 1,0
quais serão as dimensões e distribuição no tempo
da demanda de medicamentos podem ser classifi- Neste método atribuem-se PESOS (ou fa-
cadas em duas categorias: tores de importância) diferentes em cada pe-
• Técnicas qualitativas: Estas técnicas de- ríodo;
pendem exclusivamente da expertise do(s) A somatória dos pesos no período definido
previsor (es), sendo geralmente mais caras (semanal, mensal, trimestral, semestral, anual,
e trabalhosas que os métodos quantitati- etc...) deve ser igual a 100%;
vos de previsão. São ideais para situações A somatória poderá ser diferente de 100%
onde não há séries históricas disponíveis quando se altera o período.
e/ou o julgamento humano é necessário,
sendo desenvolvidas através de pesquisas 3. Regressão Linear ou Método dos Mínimos
de opinião, painéis e reuniões de especia- Quadrados:
listas, onde considera-se:
1. Evolução do consumo no passado; Somatória XY = aEx + bEx2
2. Variáveis cuja evolução está ligada dire-
tamente ao consumo; Equação da linha reta y = a + bx
3. Influência do marketing farmacêutico.
• Técnicas quantitativas: Utilizam dados his- Algumas vezes estamos interessados não
tóricos de consumo como base para deter- apenas se existem associação entre duas vari-
minação de padrões que podem se repetir áveis quantitativas x e y, mas temos também
no futuro busca relacionar o consumo (va-
uma hipótese a respeito de uma provável rela-
riável dependente) com outros fatores (va-
ção de causa e efeito entre variáveis. Deseja-
riáveis independentes). A demanda de um
mos saber se y “depende” de x.
medicamento pode ser calculada por meio
Na forma de regressão mais comumente
dos métodos descritos a seguir:
utilizada, a regressão linear tem a hipótese
de que o valor de y depende do valor de x
1. Previsões Baseadas em Médias Móveis:
e expressamos matematicamente esta relação
por meio de uma equação, assumindo que a
CM = Consumo médio
associação entre x e y é linear, ou seja, des-
CM = C1+C2+C3+...+Cn
crita adequadamente por uma reta.
n
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GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR
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GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
Baixa Criticidade
− Faltas não acarretam paralisações, nem riscos à segurança do paciente; elevada
CLASSE X
possibilidade de usar materiais equivalentes;
− Grande facilidade de obtenção.
Criticidade Média
− Faltas podem provocar paradas e colocar em risco as pessoas, o ambiente e o
CLASSE Y
patrimônio da organização;
− Podem ser substituídos por outros com relativa facilidade.
Máxima Criticidade
− Imprescindíveis;
− Faltas podem provocar paradas e colocar em risco a segurança do paciente e a
CLASSE Z
organização;
− Não podem ser substituídos por outros equivalentes ou seus equivalentes são difíceis de
obter.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR
Fonte 15
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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR
Itens avaliados
01 Nota fiscal Destinatário e valores corretos.
02 Quantidade De acordo com o solicitado.
03 Marca/ Fabricante De acordo com o comprado.
04 Especificação do produto De acordo com a padronização.
05 Embalagem Integra e identificadas.
06 Rotulagem Integra e legíveis.
07 Prazo entrega De acordo com o edital.
08 Validade Produto De acordo com o edital, mínimo de 12 meses.
09 Laudo Técnico Atestando a qualidade do produto.
10 Horário entrega Estabelecido pela Instituição.
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GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR
Indicador Fórmula
Valor total das compras efetivadas x 100
Volume de compra
Valor total previsto para compra
Número de requisições atendidas no prazo
Pontualidade do atendimento das requisições de compra x 100
Número total de requisições realizadas
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GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
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187
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
Fonte: Adaptado do fluxo de comunicação com fornecedores do Sistema de Administração de Materiais do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo.
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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR
Fonte: Adaptado do fluxo de comunicação com fornecedores do Sistema de Administração de Materiais do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo.
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GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar
Fonte: Adaptado do fluxo de comunicação com fornecedores do Sistema de Administração de Materiais do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo.
190
Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA
01 INTRODUÇÃO
A gestão dos materiais médico-hospitalares usados pelos pacientes internados e ambulato-
ou produtos para saúde, como são muitas vezes riais do hospital...”
chamados, tem sido alvo de grande discussão. Por Paralelo a isso, nos deparamos com a impor-
representar um conjunto de itens de grande im- tância dos produtos para a saúde nos hospitais,
portância para as instituições hospitalares, quer aonde representam, junto com os medicamentos,
seja por aspectos econômico-financeiros, quer 28,2% de toda a despesa da instituição (La Forgia
seja por aspectos técnicos – incorporação tecno- & Couttolec, 2009). Se considerarmos outros as-
lógica, gestão de riscos assistenciais – ou mesmo pectos, como o seu emprego nas ações de promo-
aspectos de qualidade – infecção hospitalar e pro- ção e prevenção à saúde, veremos a diversidade de
cessos de certificação – a sua gestão tornou-se assuntos suscitados, como a questão das infecções
uma questão multidisciplinar. hospitalares, considerando que muitos deles são
O Conselho Federal de Farmácia (CFF), através empregados em procedimentos invasivos aos quais
da sua resolução nº 492, de 26/11/2008, que re- o paciente é submetido.
gulamenta o exercício profissional nos serviços de Considerando o cenário da saúde suplementar,
farmácia hospitalar, define que é competência do onde atuam as operadoras privadas de planos de
farmacêutico “assumir a coordenação técnica nas saúde (OPS), os produtos para saúde têm uma im-
ações relacionadas à padronização, programação, portância ainda mais estratégica, pois representam
seleção e aquisição de medicamentos, insumos, uma parcela importante das suas despesas – por
matérias-primas, produtos para saúde e sanean- volta de 23% – e correspondem ao tipo de remu-
tes, buscando a qualidade e a otimização da tera- neração onde há a maior pressão por reajustes. A
pia medicamentosa.” falta de regulação de preços por parte do governo,
Recentemente, através da publicação da Re- associada à pressão pela incorporação tecnológica
solução nº 549, de 25/08/2011, o CFF regulamen- de novos produtos – tanto por parte da equipe mé-
tou as atribuições do farmacêutico no exercício da dica, quanto pelos fornecedores – sem o suporte
gestão de produtos para a saúde, o que ampliou o na literatura que a justifique, são um importante
seu campo de atuação e, ao mesmo tempo, conso- fator para a adoção de medidas de regulação. Ao
lidou uma atividade já desempenhada por ele há farmacêutico hospitalar cabe conhecer as regras de
algum tempo e que era alvo do questionamento regulação, aplicadas à sua instituição, bem como
por outras profissões. acompanhar as discussões sobre incorporação tec-
De forma semelhante, a Sociedade Brasileira nológica, tanto no âmbito da esfera federal (Bole-
de Farmácia Hospitalar (Sbrafh), através de sua tim Brasileiro de Avaliação de Tecnologia de Saú-
publicação Padrões Mínimos para Farmácia Hos- de – BRATS/ANVISA), quanto àquela que envolve
pitalar e Serviços de Saúde, recomenda que “A a equipe multidisciplinar de sua instituição, por
Farmácia Hospitalar é responsável pelo armaze- meio da Comissão de Farmácia e Terapêutica.
namento, distribuição, dispensação e controle de Entendendo que a farmácia hospitalar é a
todos os medicamentos e produtos para a saúde unidade supridora da instituição, respondendo
191
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar
pela gestão adequada e resolutiva com produtos em centros cirúrgicos, unidades de internação in-
farmacêuticos, os gestores dos hospitais têm atri- tensiva e semi-intensiva de pronto-atendimento.
buído a ela a responsabilidade de gerir também Estes dois grupos seguem a classificação ado-
os produtos para saúde. Outro fator que também tada em nossa prática de trabalho. Considerando
corrobora com isso é o perfil operativo do farma- a ausência de uma metodologia para sua classifi-
cêutico, que é capaz de desempenhar múltiplas cação, aos moldes do que já existe para os me-
atividades, exercendo um importante elo junto às dicamentos com a classificação ATC (Anatomical
equipes multidisciplinares que atuam na institui- Therapeutical Chemical Classification da Organi-
ção. Cabe destacar também o papel cada vez mais zação Mundial de Saúde), optamos por classificar
assistencial da equipe de enfermagem, que faz os produtos para saúde da seguinte forma:
com que esse grupo profissional não queira mais 1. Suturas cirúrgicas
exercer a gestão dos produtos para saúde, o que 2. Tubos, Sondas e Drenos
vinha, até então, sendo feito por eles na maioria 3. Dispositivos de infusão e pérfuro-cortantes
das instituições hospitalares. 4. Coberturas (curativos)
5. Materiais a base de látex
Neste contexto, o farmacêutico hospitalar
6. Materiais têxteis
vem enfrentado a dificuldade de ter de assumir
7. Bolsas e coletores
a gestão dos produtos para saúde sem, entretan-
8. Órteses
to, ter o conhecimento básico que permita a ele,
9. Próteses
com segurança, exercer o seu correto controle e a
10. Materiais especiais
dispensação, assegurando assim a otimização da Esta classificação foi criada considerando a
terapia medicamentosa ou mesmo intervencionis- aplicação do material, segundo suas característi-
ta que é dispensada ao paciente. cas funcionais ou então de acordo com as suas
O objetivo desta publicação é trazer aos co- características de composição, buscando uma ma-
legas farmacêuticos, de forma despretensiosa, o neira lógica e prática de melhor ordenar os di-
conhecimento de dois importantes grupos de pro- versos tipos de itens, facilitando o trabalho de
dutos para saúde, utilizados no cotidiano dos hos- armazenamento, dispensação, familiarização e
pitais e que compõem a rotina básica de dispen- treinamento das equipes que compõem o serviço
sação pelo serviço de farmácia hospitalar. Como de farmácia hospitalar.
o material didático sobre este assunto é escasso, Considerando que essa metodologia foi ampla-
o presente manual foi produzido a partir da bi- mente difundida em nossa instituição, a partir do
bliografia disponível e da experiência prática, em formulário farmacoterapêutico – relação de padroni-
reuniões de comissão de padronização, farmácia e zação – conseguimos uma boa adesão de todos os
terapêutica, incorporação tecnológica, controle de profissionais que lidam com os produtos para saúde,
infecção hospitalar e acompanhamento de proce- que passaram a adotar a classificação para suas bus-
dimentos realizados pelos profissionais de saúde cas e pedidos de incorporação de novos itens.
02 CONCEITO
Os produtos para saúde compreendem aos de itens que podem ser enquadrados dentro desta
equipamentos, aparelhos, materiais, artigos ou definição, os produtos para saúde compreendem:
sistemas de uso ou aplicação médica, odonto- 1. Materiais e artigos descartáveis.
lógica ou laboratorial, destinados à prevenção, 2. Materiais e artigos implantáveis.
diagnóstico, tratamento, reabilitação ou anti- 3. Equipamentos de diagnóstico.
concepção e que não utiliza meio farmacológico, 4. Equipamentos de terapia.
imunológico ou metabólico para realizar a sua 5. Equipamentos de apoio médico-hospitalar.
principal função em seres humanos, podendo, en- 6. Materiaiseartigosdeapoiomédico-hospitalar.
tretanto ser auxiliado em suas funções por tais 7. Equipamentos, materiais e artigos de edu-
meios. cação física, embelezamento ou correção estética.
Assim exposto e, considerando a amplitude 8. Produtos para diagnóstico de uso in-vitro.
192
Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA
03 LEGISLAÇÃO
Ao colega, que queira buscar mais embasa- 9. Portaria GM nº 939 de 18/11/2008 – MT
mento na legislação vigente a cerca desta maté- 10. Portaria nº 4.283, de 30/12/2010 – MS
ria, recomendo a leitura das seguintes leis, decre- 11. RDC nº 59, de 27/06/2000 – ANVISA
tos e resoluções: 12. RDC nº 185, de 22/10/2001 – ANVISA
1. Lei nº 5.991 de 17/12/1973 – MS 13. RDC nº 206, de 17/11/2006 – ANVISA
2. Lei nº 6.360 de 23/09/1976 – MS 14. RDC nº 156, de 11/08/2006 – ANVISA
3. Lei nº 8.080 de 19/09/1990 – MS 15. RE nº 2.605, de 11/08/2006 – ANVISA
4. Lei nº 9.656 de 03/06/1998 16. RE nº 2.606, de 11/08/2006 – ANVISA
5. Lei nº 9.961 de 28/01/2000 17. Norma Regulamentadora (NR) nº 32, de
6. Lei nº 12.401 de 28/04/2011 – MS 11/11/2005 – MT
7. Decreto nº 79.094, de 05/01/1977 – ANVISA 18. Resolução nº 549, de 25/08/2011 – CFF
8. Portaria GM nº 485, de 11/11/2005 – Mi-
nistério do Trabalho
04 MATERIAIS
1. SUTURAS CIRÚRGICAS tuações de traumas ou após incisões cirúrgicas,
onde sua presença é vital para manter as bordas
Desde aproxima- da ferida ou incisão, em aposição até que o teci-
damente 2.000 A.C. do desenvolva força suficiente para sustentá-las.
existem referências Quando isso ocorre, podemos dizer que ocorreu a
evidenciando o uso cicatrização. Caso a incisão, após ser submetida à
de barbantes e ten- sutura, venha a se abrir, ou seja, se as bordas se
dões de animais para separarem durante a fase de cicatrização, dizemos
suturar. Através do que ocorreu a deiscência do tecido.
séculos, uma grande Ao usarmos o termo sutura cirúrgica, consi-
variedade de mate- derando a atual realidade, estamos abordando os
riais tem sido usados dois componentes imprescindíveis para o ato de
na confecção de fios suturar: fio e agulha de sutura. A seguir abordare-
para procedimentos mos estes dois componentes mais detalhadamente.
cirúrgicos, tais como: seda, linho, algodão, cri-
na de cavalo, tendões de animais e intestinos. a.1. FIO DE SUTURA
Contudo, alguns destes ainda são utilizados hoje
em dia. A evolução dos materiais de sutura nos Em geral, é desejável que o fio de sutura apre-
trouxe para um ponto de refinamento que inclui o sente algumas características que são responsáveis
desenvolvimento de suturas e fios especiais para pelo sucesso no processo de cicatrização. São elas:
tipos específicos de procedimentos. Sendo assim,
1. Resistência à tração e torção.
eliminou-se algumas das dificuldades encontradas
no passado pelos cirurgiões e, também, dimi- Essa característica é muito importante,
nuiu-se substancialmente o potencial de infecção pois durante a passagem do fio pelos te-
pós-operatória. cidos, no ato da sutura, o cirurgião exer-
Sutura é o nome que se dá a todo material ce a tração – força para que o fio deslize
usado para unir tecidos e mantê-los coaptados, pelos tecidos – e torção – força para a
em posição normal, até a sua cicatrização. realização e fixação do nó – motivo pelo
As suturas são aplicadas na pele, órgãos, va- qual é imprescindível que o fio apresen-
sos sanguíneos e outros tecidos internos, em si- te boa resistência.
193
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar
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Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA
BIOLÓGICA CAT-GUT CROMADO Colágeno purificado, que recebe Intestino, bexiga, 90 DIAS
a adição de sais de cromo, para peritônio, ligadura de
retardar o processo e absorção. vasos sanguíneos mais
Também vem embebido em calibrosos e profundos
solução de álcool isopropílico.
Trata-se de um fio torcido
SINTÉTICA POLIDIOXANONA Polímero sintético, composto Por ser absorvido 180 DIAS
do poliéster poli-p-dioxanona. muito lentamente,
Trata-se de um fio pode ser usado
monofilamentar. em tecidos muito
exigidos, como no
músculo cardíaco.
Indicado para
cardiopediatria, pois
evita a estenose na
linha de sutura com
o crescimento da
criança.
Os fios absorvíveis podem ser pigmentados que os fios utilizados em fechamento, através de
(recebem coloração artificial que varia de fabri- pontos subcutâneos, não possuem pigmento uma
cante para fabricante) ou incolores. A pigmenta- vez que podem ficar retidos sob a pele, após a
ção tem por finalidade auxiliar o cirurgião na vi- absorção completa do fio, formando o chamado
sualização do fio, durante a sutura. Cabe destacar “efeito tatuagem”.
2
Aponeuroses: terminações ou origens musculares, em forma de leque. Possuem cor esbranquiçada ou amarelada. São finas e delgadas, porém muito resistentes. Como um
invólucro ao redor dos músculos, as aponeuroses criam resistência e aderem à superfície da região do osso em que o músculo se prende. o músculo nunca se une com o
osso, mas sempre por meio de tecidos conjuntivos. São formadas por tecido conjuntivo fibroso e têm a característica de, tal como os tendões, serem pouco irrigadas.
195
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar
. Suturas Cirúrgicas Não-absorvíveis: sutura que permaneça íntegra por um longo perí-
odo de tempo, a fim de que a cicatrização ocorra
São aquelas que não sofrem a ação degrada- adequadamente. Nesse caso, ao longo do tempo, o
tiva das enzimas tissulares, ou seja, não são pas- fio sofrerá um processo de encapsulamento.
síveis de digestão ou absorção pelos diferentes
tecidos onde são aplicadas. Em geral, são empre-
gadas nos pontos de fechamento externo (figura
2) – pele – sendo removidas após a cicatrização
completa do tecido.
Tabela 2 – Classificação dos tipos de fio de sutura não-absorvíveis e suas principais características.
BIOLÓGICA SEDA Obtido a partir do fio original produzido pelo bicho da Fechamento de parede, cirurgias
seda, que posteriormente é trançado, siliconizado e tingido oftalmológicas, gastrointestinais,
(ANIMAL) de preto. Trata-se de fio muito resistente, que permite torácicas e ortopédicas
um nó seguro. O revestimento de silicone facilita o seu
deslizamento pelos tecidos
BIOLÓGICA ALGODÃO Obtido a partir do fio original de algodão vegetal (30%), Cirurgia odontológica; amarração
que é torcido juntamente com fio de poliéster (70%) e de paredes e estruturas em geral no
(VEGETAL) pigmentado de azul, podendo ser também incolor. Este per-operatório. Pode ser utilizado para
fio também recebe um tratamento (enceramento) em sua sutura da musculatura nos casos flácidos
superfície para facilitar o deslizamento pelos tecidos de abdominoplastia
SINTÉTICA NYLON Obtido a partir da poliamida, trata-se de um fio Indicado para fechamento de paredes
monofilamentar incolor, que recebe pigmentação preta ou (incluindo pele) e na cirurgia vascular
azul. Tem como característica a facilidade de deslizar pelos
tecidos, a baixa reação tissular e a firmeza do nó.
SINTÉTICA POLIÉSTER Obtido a partir do tereftalato de polietileno (poliéster), Indicado para cirurgia vascular,
que pode receber uma pigmentação verde. Trata-se cardiovascular e ortopédica
de um fio trançado que pode ser revestido com um
polímero (polibutilato), que aumenta significativamente
as características de flexibilidade, deslizamento e
anti-trombogenicidade
SINTÉTICA POLIPROPILENO Obtido a partir da extrusão de um polímero de polipropileno, Indicado para cirurgia vascular e
que recebe a pigmentação azul. Trata-se de um fio cardiovascular
monofilamentar, extremamente flexível e bem tolerado pelos
tecidos.
MINERAL AÇO INOX Obtido a partir da liga de aço inox 316L. Trata-se de um Indicado para cirurgia cardiovascular
fio monofilamentar, com excepcional resistência e ótima (fechamento do esterno) e
biocompatibilidade buco-maxilo-facial (BMF)
196
Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA
O diâmetro dos fios cirúrgicos segue clas- Existe uma pequena diferença entre os diâ-
sificação internacional, estabelecida pela metros dos um mesmo tamanho, que é decorrente
Farmacopéia Americana (U.S.P. – United Sta- da característica (comportamento) do fio de su-
tes Pharmacopeia), conforme demonstrado no tura. Esta diferença é decorrente da técnica de
quadro a seguir. produção de cada um.
Tabela 3 – Designação USP para os tamanhos (diâmetros) de fios cirúrgicos e a correspondência em milímetros.
Diâmetro (em mm) Diâmetro (em mm)
Diâmetro (em mm)
para Suturas para Suturas
Designação U.S.P. para Suturas
Absorvíveis de Origem Absorvíveis de Origem
Não-absorvíveis
Biológica Sintética
10-0 0,02 0,02 0,02
9-0 0,03 0,03 0,03
8-0 0,05 0,04 0,04
7-0 0,07 0,05 0,05
6-0 0,10 0,10 0,10
5-0 0,15 0,10 0,10
4-0 0,20 0,15 0,15
3-0 0,30 0,20 0,20
2-0 0,35 0,30 0,30
0 0,40 0,35 0,35
1 0,50 0,40 0,40
2 0,60 0,50 0,50
3 0,70 0,60 0,60
4 0,80 0,60 0,60
5 0,70 0,70
197
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar
1. Quanto à ponta
Existem três tipos básicos de ponta de agu-
lha, conforme demonstrado na figura 8:
Figura 5 – Fotografia de uma agulha de sutura.
i. Cilíndrica: indicada para penetração su-
No passado, os fios e agulhas eram ad- ave nos tecidos, causando um mínimo de
quiridos separadamente, sendo montados no trauma. São indicadas para suturar teci-
momento de suturar o tecido. As agulhas, dos delicados e friáveis. Este tipo de agu-
então usadas, apresentavam uma abertura na lha é também chamado de atraumática.
parte final (fundo da agulha) que recebia o ii. Triangular: indicada para penetração em
nome de olhal (figura 6). Através dessa aber- tecidos que ofereçam maior resistência.
tura o fio era encastoado para, em seguida, Trata-se de agulha cortante e é também
ter início a sutura dos tecidos. Esse tipo de chamada de traumática ou cortante.
agulha era também chamado de traumática, iii. Espatulada: indicada para cirurgias no
pois como o olhal possuía um diâmetro maior segmento oftálmico anterior, pois apre-
que o restante da agulha, quando essa parte senta uma ótima penetração no tecido
passava pelo tecido, causava-lhe um trauma corneal e escleral, causando um míni-
maior, uma vez que aumentava o orifício para mo de trauma. Trata-se de uma agulha
passagem do fio. cortante.
198
Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA
2. Quanto à curvatura
A escolha da curvatura da agulha está di- Figura 10 – Ilustração esquemática da embalagem (envelope)
de uma sutura cirúrgica.
retamente relacionada à acessibilidade ao
tecido a ser suturado, de forma que quanto Recomendamos a adoção da descrição genéri-
menor for o acesso para suturar, maior de- ca para os fios de sutura, tanto no formulário de
verá ser a curvatura da agulha. Na figura 9 padronização, quanto na identificação dos locais
estão representadas as principais curvatu- de armazenamento e treinamento da equipe, de
ras utilizadas. forma a evitar o direcionamento a marcas ou fa-
bricantes específicos.
3. Quanto ao comprimento
O comprimento da agulha também tem rela- 2. TUBOS, DRENOS E SONDAS
ção direta com o tipo de tecido a ser sutura-
do, bem como o acesso a esse tecido. Assim São dispositivos usados de forma rotineira no
sendo, fios de pequeno diâmetro, para su- preparo pré-operatório de pacientes, no seu cuida-
turar tecidos delicados e de acesso restrito, do pós-operatório e, às vezes, no trans-operatório.
virão acompanhados de uma agulha delica- Na prática hospitalar, muitas vezes os termos
da e de tamanho (comprimento) pequeno. tubo, cateter, sonda e dreno se confundem e são
tomados como sinônimos.
O conhecimento das variáveis para as suturas Neste tópico abordaremos os dispositivos mé-
cirúrgicas, aqui apresentadas, auxiliará o colega dicos utilizados para:
farmacêutico nas discussões de revisão da padro- • Assistência ventilatória.
nização. Juntamente com o conhecimento das es- Por definição, drenos são materiais colocados
pecialidades cirúrgicas do seu hospital, munido de no interior de uma ferida ou cavidade, visando
catálogos dos diversos fabricantes, hoje disponí- permitir a saída de fluidos ou ar que estão ou
veis no mercado brasileiro, será possível propor as podem estar ali presentes, evitando o acúmulo de
melhores combinações de fio e agulha de sutura líquido em espaços potenciais e removendo cole-
para emprego em sua instituição. ções3 diversas, permitindo a retirada de secreções
Os diversos fabricantes adotam uma codifi- normais ou patológicas de cavidades naturais, vís-
cação própria para cada uma das combinações ceras, locais de cirurgia, além de orientar trajetos
de fio e agulha de sutura que produzem, de for- fistulosos4.
3
Coleção: acúmulo de secreção excretada pelas células que margeiam uma determinada cavidade, que pode ser natural ou artificial. Em geral essa secreção fica acumulada
na cavidade, sendo necessária a sua remoção – drenagem.
4
Fístula: lesão que se caracteriza por um trajeto anormal, congênito ou adquirido (cirúrgico), que estabelece comunicação do interior com a superfície do corpo, permitindo
o escoamento de líquido fisiológico ou patológico.
199
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar
Estes dispositivos são também utilizados para ritantes. Podem ser confeccionados junta-
a remoção de secreções como seromas5, hemato- mente com materiais radiopacos. Caracteri-
mas, secreções do trato digestivo, linfa, pus e ma- zam-se também por serem mais rígidos que
terial necrótico de regiões onde não seja possível o látex e apresentarem múltiplas fenestra-
a exposição e limpeza repetidas. ções7, permitindo a saída do líquido por
Ainda, os dispositivos tubulares que são in- gravidade ou sucção.
troduzidos em canal do organismo, natural ou
não, para reconhecer-lhe o estado, extrair ou in-
troduzir algum tipo de matéria, são chamados de
sondas, enquanto que aqueles que são inseridos
no corpo, por meio percutâneo6, para retirar lí-
quidos, introduzir sangue, soro, medicamentos e
efetuar investigações diagnósticas, são chamados
de cateter.
Antes de detalharmos os materiais, do ponto
de vista da sua utilização, faz-se necessário escla-
recer alguns aspectos, no que diz respeito à sua Figura 11 – Prótese mamária confeccionada em silicone.
constituição e calibre (diâmetro), que têm influ-
ência direta no processo de escolha que precede a Silicone: trata-se de um composto quimi-
realização do procedimento. camente inerte, inodoro, insípido e incolor,
resistente à decomposição pelo calor, água
1. Quanto à Composição do ou agentes oxidantes. Podem ser sinteti-
Dispositivo Médico: zados em uma grande variedade de formas
com inúmeras aplicações. Na medicina são
Látex (borracha): trata-se do composto empregados como materiais básicos na
mais antigo empregado na fabricação dos confecção de dispositivos médicos (figura
dispositivos médicos. Apresenta uma gran- 11), exatamente pela sua alta resistência
de vantagem que é a sua maleabilidade, o – estima-se que sua vida útil é de, no míni-
que reduz a chance de lesão das estruturas mo 10 anos –, ótima flexibilidade e inércia
internas. Um inconveniente importante é o (biocompatibilidade), tornando-o um pro-
fato de a sua superfície irregular facilitar duto versátil e permitindo o seu uso pro-
a colonização bacteriana e, consequente- longado.
mente, a infecção peri-dreno. Além disso,
estimulam precocemente a formação de fi-
Teflon®: trata-se de uma marca regis-
brina, sendo obstruídos mais precocemente
trada da empresa norte-americana Du-
que aqueles de polietileno. Cabe destacar
Pont, que corresponde ao polímero Po-
também a impossibilidade do seu uso em
litetrafluoretileno (PTFE), sendo similar
pacientes que reconhecida alergia ao látex,
ao polietileno, onde os átomos de hi-
o que têm ocorrido com mais freqüência
drogênio estão substituídos por flúor.
nos dias atuais.
A principal virtude e tratar-se de uma
Polietileno: trata-se de um polímero de substância praticamente inerte. Isto se
adição, produzido a partir do etileno, que deve, basicamente, à proteção dos áto-
permite a obtenção de tubos macios, flexí- mos de flúor sobre a cadeia carbônica.
veis e quimicamente resistentes, emprega- Esta carência de reatividade permite que
dos na terapia endovenosa e em cateteres sua toxicidade seja praticamente nula,
para uso prolongado, por serem pouco ir- sendo também o material com o mais
5 Seroma: coleção de líquido celular, produzido (exsudado) caracteristicamente em processos inflamatórios, que se acumula dentro de tecidos ou órgãos
6 Percutâneo: passagem, através da pele, de uma agulha de punção, guia e cateter.
7 Fenestra: abertura ou janela presente em diversos tipos de dispositivos médicos.
200
Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA
201
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar
Neste tópico iremos estudar os seguintes dis- rato, atóxico, transparente, não-inflamável, liso
positivos: nas faces interna e externa, resistente a ponto de
não se deformar durante a intubação, não ocluir
1. Tubos endotraqueais com e sem balão,
quando dobrado ou torcido, amoldável à anatomia
simples e aramados.
da via aérea e não-reativo a lubrificantes e agen-
2 Tubos endobronquiais direito e esquerdo.
3. ânulas de traqueostomia com e sem balão. tes anestésicos.
4 Sondas de aspiração traqueal com válvula. Os critérios da in-
tubação traqueal va-
1. Tubos Endotraqueais: riam de acordo com a
equipe médica, sendo
Os tubos endotraqueais mais utilizados são utilizada na terapia
classificados em comuns (simples), com e sem intensiva para per-
balonete (balão), e aramados, com e sem balão mitir a ventilação de
(balonete). pacientes em/ou na
Os tubos endotraqueais confeccionados em iminência de insufi-
borracha – látex – (figura 12) já foram muito uti- ciência respiratória
lizados, pois permitiam a reutilização por meio da e a limpeza das vias Figura 13 – Intubação traqueal
autoclavação a vapor. Entretanto apresentavam aéreas na presença de secreções abundantes. Já
várias desvantagens quando comparados aos uti- na anestesia é indicada de acordo com o local,
lizados atualmente, que são confeccionados em a duração e a técnica anestésica empregada. Em
cloreto de polivinila (PVC): geral, nas cirurgias realizadas na cabeça, pesco-
• Balonete de alta pressão – exerce grande ço, cavidade torácica e abdominal e em grandes
pressão nas paredes da traquéia. cirurgias dos membros, o paciente é intubado. A
• Necessidade de limpeza e esterilização. figura 13 ilustra a passagem do TET, por meio do
• Porosidade e fissuras que dificultam a lim- laringoscópio.
peza e favorecem o acúmulo de secreções. O TET comum possui o formato de um arco
• Facilidade de acotovelamento, fechando o (figura 14) e, na extremidade que fica posicionada
fluxo de ar durante a ventilação mecânica. na traquéia, tem um bisel – que é a abertura do
• Reações alérgicas do paciente ao látex. tubo – e um orifício lateral, cuja função é assegu-
rar a assistência ventilatória no caso de obstrução
do bisel por secreções ou pelo fato dele estar em
contato com a parede da traquéia.
Na extensão lateral do TET são impressas vá-
rias informações importantes como: se é indicado
para uso ORAL/NASAL, conforme seu tipo; diâme-
tro interno (DI ou ID, em milímetros); distância
em centímetros, desde a sua extremidade (bisel),
a cada dois cm. Também pode vir gravado o di-
âmetro externo que, neste caso, segue a escala
francesa (French) já mencionada anteriormente.
Figura 12 – Tubo endotraqueal simples com Na extremidade que se conecta ao circuito do
balonete confeccionado látex
respirador (ventilador mecânico) ou do aparelho
Outro ponto de destaque é o fato de, hoje, de anestesia, encaixa-se o conector, que deve
a aquisição de um tubo novo, em PVC, ser mais adaptar-se firmemente ao tubo.
barata que o seu reprocessamento, considerando Ao longo do TET deve haver um filete (mar-
que estes podem ser reesterilizados em óxido de cação) radiopaco9 para facilitar a sua localização
etileno. através de radiografias.
O tubo endotraqueal (TET) ideal é aquele ba- O balonete (ou cuff) tem por finalidade selar
9
Radiopaco: objetos ou estruturas radiopacas são aquelas em que os raios-x não conseguem atravessá-las. Nas radiografias, correspondem às estruturas brancas, pois as
estruturas escuras são as radiolúcidas. São substâncias impermeáveis às formas de energia radiante – ex.: bário, iodo, chumbo e tungstênio.
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a traquéia em volta do tubo, para impedir que excesso de pressão, sobre à traquéia. De forma
vaze o gás (oxigênio, ar medicinal, óxido nitroso contrária, a baixa pressão pode resultar numa
ou anestésico inalatório), durante a ventilação vedação inadequada do balonete, permitindo o
com pressão positiva, ou que penetre líquido nos vazamento dos gases empregados na ventilação
pulmões proveniente da boca, vias aéreas supe- mecânica e, consequentemente, levando à defici-
riores ou via digestiva. ência no processo de assistência ventilatória.
O TET também possuiu um balonete-piloto, Considerando os esclarecimentos feitos a cer-
em cuja ponta existe uma válvula por meio da ca do balonete, cabe aqui destacar que o uso de
qual se adapta uma seringa, contendo gás ou lí- TET simples sem balonete está indicado para ne-
quido, para que o balonete seja inflado. Por pal- onatologia ou pediatria, uma vez que a traquéia
pação do balão-piloto é possível ter uma noção da desses pacientes é muito mais sensível à pressão
pressão dentro do balonete. exercida, no caso, pelo balonete.
Os balonetes podem ser classificados em de
alta e baixa pressão. Conforme já mencionado, os
TET confeccionados em látex possuíam balone-
tes de alta pressão, que comportavam pequeno
volume de ar e exerciam grande pressão na pare-
de da traquéia. Já os balonetes dos TET em PVC
comportam um volume maior, selando a traquéia
com pressões mais baixas, sendo então considera-
dos como balonetes de baixa pressão. A pressão
alta do balonete provoca isquemia da parede da
traquéia, aumentando a incidência de lesões. Em
geral o volume de ar ou líquido injetado no ba-
lonete deve ser apenas o suficiente para evitar Figura 15 – Efeito sobre a traquéia do balonete
inflado em excesso.
vazamentos, geralmente em torno de 20 cm H2O.
A pressão que o balonete exerce sobre as Apesar de não ser objetivo deste manual, é
paredes da traquéia precisa ser controlada, uma importante destacar que a intubação com TET em
vez que em excesso poderá causar lesões irrever- neonatologia e pediatria, tanto para fins anesté-
síveis sobre ela, como a necrose – decorrente da sicos (cirurgia), como nas situações de urgência
dificuldade de circulação no tecido adjacente ao e emergência, vem sendo questionada, conside-
balonete – ou mesmo o rompimento da traquéia. rando as alternativas disponíveis para a assistên-
Na figura 15 é ilustrado o efeito do balonete, com cia ventilatória. Esses pacientes possuem várias
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2. Tubos Endobronquiais:
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3. Cânulas de Traqueostomia:
10
Bronco-espirometria: trata-se de um teste da funcionalidade pulmonar, onde é avaliada a quantidade (volume) e/ou velocidade de ar que pode ser inalada ou exalada
por um dos pulmões. Trata-se de uma importante ferramenta de diagnóstico, empregada para avaliar a condição pulmonar nos casos de asma, fibrose pulmonar, fibrose
cística e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
11
Toracoscopia: é um procedimento médico envolvendo a inspeção interna da cavidade pleural. Pode ser feito sob anestesia geral ou sedação com anestesia local. Uma
grande variedade de procedimentos diagnósticos e terapêuticos pode ser feita por meio desta técnica.
12
Istmo: consiste numa constrição conectando duas partes maiores de um órgão ou a outra estrutura anatômica. Também compreendido como uma passagem estreita,
conectando duas cavidades maiores. No caso da tireóide, consiste na parte central da glândula, que une os dois lobos laterais.
13 Estenose: consiste no fechamento, ou estreitamento, de uma estrutura tubular ou de qualquer canal ou orifício.
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As cânulas de traqueostomia descartáveis são dos pulmões no sentido na boca, fazendo vibrar
construídas em PVC e as permanentes, ou lavá- as cordas vocais e, dessa forma, permitindo ao
veis, em metal cromado ou aço inox. Similar aos paciente a articulação da fala.
tubos endotraqueais, a numeração dos tamanhos
(diâmetro) segue a escala em milímetros. Tam- 4. Sonda de Aspiração Traqueal:
bém, da mesma forma que os TET, as cânulas po-
dem conter ou não o balonete, cuja finalidade é a A aspiração traqueal consiste num procedi-
mesma dos primeiros, já descrita anteriormente. mento invasivo a ser realizado quando constata-
Outra variável da cânula de traqueostomia é da a presença de secreção e a incapacidade do
aquela que contempla o sistema macho-fêmea, ou paciente de eliminá-la por meio da tosse. Esse
cânula de três peças, como também é chamada. procedimento é realizado, rotineiramente, nos
Neste tipo de dispositivo, uma cânula de diâmetro pacientes submetidos à ventilação mecânica, por
levemente inferior – chamada de macho – é posi- meio de um tubo endotraqueal, cânula de traque-
cionada no interior da cânula externa – chamada ostomia ou outro dispositivo similar. Por se tratar
de fêmea. Além destas duas cânulas (vide figura de um procedimento invasivo, esse tipo de inter-
22), existe também um guia, ou mandril, que é venção precisa ser feita com critérios, tais como
colocado no interior da cânula interna, no mo- periodicidade e técnica asséptica, uma vez que a
mento da sua introdução no estoma, para evitar a aspiração desnecessária irrita as vias aéreas e es-
sua obstrução com matéria orgânica do paciente, timula a formação de mais secreção. A avaliação
tais como sangue, secreção e tecidos. da necessidade de aspiração pode ser constatada
Esse tipo de cânula, em três peças, pode ser por meio de auscultação.
confeccionado em metal ou PVC, sendo que, nes-
sa última, existe a possibilidade da existência do
balonete.
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na ponta, por onde a secreção será aspirada. Re- As cânulas de aspiração traqueal são disponi-
comenda-se que o diâmetro externo da sonda não bilizadas em embalagem individual, estéreis, com
exceda 1/3 do diâmetro interno do tubo endotra- diâmetro que varia de 04 a 24 Fr e comprimento
queal ou da cânula de traqueostomia, para evitar de 50 cm (figura 24).
danos ou mesmo dificuldades na sua introdução.
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