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ANÁLISE SOCIAL
Gouveia, P., Leal, I., & Cardoso, J. (2017). Bullying e agressão: Estudo dos preditores no
contexto de programa de intervenção da violência escolar. Revista Psicologia, 31(2),
69-88. doi:10.17575/rpsicol.v31i2.1116
Abril de 2019
O problema da violência nas instituições educativas surge amiúde nos meios de
comunicação, criando-se a ideia de que é um problema atual. Não obstante, a violência,
o medo, a coação, entre outros, assinalam a sua presença no âmbito escolar desde as suas
origens mais remotas, até aos nossos dias, em todos os países e lugares do mundo.
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Para além disso, e tendo em conta que a escola não é um meio de resolução de
todos os problemas, o artigo sugere que a escola serve como um meio que pode ajudar a
prevenir, minorar ou resolver problemas sociais tais como a exclusão, a intimidação, o
assédio, o abuso de poder, entre outros, porque pode educar os alunos em habilidades
sociais básicas que lhes permitem resolver conflitos de forma positiva e pacífica,
tornando-os deste modo indivíduos dotados de competências sociais.
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Este estudo contém informação atual e relevante do conhecimento que se tem
acerca do fenómeno do bullying e das suas possibilidades de intervenção. Deste modo,
os autores para além de pretenderem refletir sobre a pesquisa psicológica e educacional
mais importante da atualidade quiseram também elaborar um trabalho, que para além de
útil à comunidade científica fosse também vantajoso para as famílias, para os estudantes
e para qualquer indivíduo interessado nos problemas e assuntos psicológicos e
pedagógicos relacionados especificamente com a violência escolar.
Tendo em conta esta definição, Gouveia et al. (2017) salientam que o bullying é
um subtipo de agressão, uma vez que se enquadra com esta do ponto de vista
comportamental, contudo, o bullying diferencia-se dela pela sua «natureza intencional e
abusiva». Desta forma, e sustentados na opinião de diferentes autores (Swearer & Hymel,
2015; Rodkin et al., 2015; Espelage & Swearer, 2003), Gouveia et al. (2017) consideram
o bullying como «uma forma de agressão interpessoal complexa» que expõe reconhecidas
formas e funções e que se exterioriza através de «diferentes padrões relacionais».
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Esta definição, segundo os autores do artigo abrange três condições essenciais
relacionadas com o comportamento agressivo: «o padrão repetido da intimidação física
ou psicológica ao longo do tempo (…), a intencionalidade do comportamento (…) e o
desequilíbrio de poder físico ou psicológico entre o perpetrador e a vítima». Outros
autores porém acrescentam que o bullying é uma atividade consciente e deliberadamente
hostil exercida com a intenção de magoar e de natureza repetitiva ao longo do tempo,
provoca medo na vítima, assenta numa desproporcionalidade ou abuso de poder e
geralmente ocorre em contexto de grupo (Arora, Sharp, & Thompson, 2002; Formosinho
& Simões, 2001; Pepler, Craig, O'Connell, Atlas, & Charach, 2004).
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Concluem, assim os autores, que na prevenção do bullying e da agressão são
necessários programas que incidam sobre os «antecedentes dos comportamentos
agressivos dos jovens e na promoção do bem-estar biopsicossocial». Para além disso, os
programas devem promover um ambiente escolar mais seguro e exaltar comportamentos
sociais positivos, bem como envolver todos os atores, designadamente os elementos da
comunidade educativa e os pais nas estratégias de intervenção.
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Por conseguinte, os resultados obtidos e direcionados para o primeiro objetivo do
estudo são apresentados em três tabelas que referem as dimensões de avaliação do suporte
social, ambiente escolar e formas e funções da agressão; os preditores das funções da
agressão direta; e os preditores das funções da agressão relacional. Posteriormente os
autores apresentam a discussão destes resultados referindo sumariamente a relevância de
um bom suporte sociofamiliar e escolar onde a resolução de conflitos assente no respeito
e nos métodos comunicacionais, elementos esses, fundamentais na prevenção da agressão
reativa e de bullies discriminados.
Para o segundo objetivo, os autores optaram por apresentar algumas considerações sobre
o desenho de intervenção.
Com este artigo aprendemos que a violência e o bullying são o resultado de uma
análise deficiente dos conflitos e da sua imperfeita resolução. Assim, o artigo elucida-nos
sobre a vida afetiva dos indivíduos ajudando a reconstruir as redes que a sustentam. Por
outro lado, embora diversas organizações defendam uma escola orientada para uma
educação para a paz, para a tolerância e para a não-violência, não é com simples palavras
que se refreará a violência escolar. Esta só pode ser travada com a intervenção de toda a
comunidade educacional, ou seja, o bullying é só um dos vários problemas de difícil
solução que existem na escola, mas, como fica evidenciado no artigo, existem elementos
suficientes para enfrentá-lo. Por isso, merece o esforço o seu combate, sabendo-se no
entanto que para se conseguirem resultados é necessária a intervenção de todos os agentes
envolvidos na escola, designadamente os docentes, os educadores e os pais, entre outros.
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REFERÊNCIAS
1. Gouveia, P., Leal, I., & Cardoso, J. (2017). Bullying e agressão: Estudo dos
preditores no contexto de programa de intervenção da violência escolar. Revista
Psicologia, 31(2), 69-88. doi:10.17575/rpsicol.v31i2.1116
2. Arora, T., Sharp, S., & Thompson, D. (2002). Bullying: Effective Strategies for
Long-term Change (School Concerns) (1 ed.). London and New York: Routledge.
4. Pepler, D., Craig, W., O'Connell, P., Atlas, R., & Charach, A. (2004). Making a
difference in bullying: evaluation of a systemic school-based programme in
Canada. In P. K. Smith, D. Pepler, & K. Rigby (Eds.), Bullying in schools: How
successful can interventions be? (pp. 125-139). New York: Cambridge University
Press.
5. Sharp, S., & Smith, P. (1995). Tackling Bullying in your School (1 ed.). Nova
Iorque: Routledge.