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Avaliação de Psicologia Escolar

Gabriela C., Ivo, Mariana, Poliane e Vitor

Proposta de intervenção para a prevenção do bullying e cyberbullying no contexto

escolar

Considerando que o bullying é um fenômeno de violência escolar complexo e

multideterminado, envolvendo não apenas a relação direta de perpetrador e vítima, mas

também o papel dos observadores etc, além do envolvimento de fatores sociais, familiares e

educacionais, torna-se imprescindível que uma intervenção de caráter preventivo vise à

mobilização do espaço escolar em sua coletividade. Dessa forma, justifica-se a atuação da(o)

profissional psicóloga(o) em âmbitos menos restritos e individualizados, visto que processos

preventivos não enquadram-se necessariamente em programas de controle e adequação

comportamental, mas na promoção de espaços de discussão e conscientização. Considerando

que o PL 326/2019 apresenta determinações para a atuação individualizada do psicólogo, mas

não veda ou proíbe intervenções de caráter amplo, não encontram-se impedimentos legais

para a seguinte proposta de intervenção.

Objetivo geral

Prevenção de bullying e cyberbullying em escolas da rede pública de ensino.

Objetivos específicos

● Promover um espaço seguro de discussão do assunto “Bullying e Cyberbullying” para

alunos e profissionais escolares.


● Realizar orientação e formação de professores e funcionários para manejar casos de

bullying e cyberbullying nas escolas.

● Promover autonomia e engajamento dos alunos para se oporem e auxiliarem no

combate ao bullying; torná-los protagonistas na prevenção.

● Trabalhar na melhora do clima escolar como forma de prevenção ao surgimento de

bullying e cyberbullying nas escolas.

● Atuar na comunidade em conjunto com as assistentes sociais, de modo a promover

orientação e escuta dos pais e familiares dos alunos das escolas.

Método

● Coordenação de disciplinas optativas, fora do horário das aulas do currículo,

direcionadas ao desenvolvimento integral dos alunos, de modo a auxiliar os estudantes

no desenvolvimento de habilidades interpessoais e sociais.

● Oferecer espaço para escuta psicológica para os alunos que vivenciaram o bullying

e/ou cyberbullying de forma mais próxima, como vítimas ou agressores, conforme

indica o projeto de lei N º 326, de 2019.

● Realizar mapeamento institucional e análise do contexto escolar para entender quais

são as concepções subjacentes dos profissionais e alunos acerca da escola e promover

uma intervenção escolar mais direcionada ao que o colégio necessita.

● Promover um local para escuta dos professores, a fim de compreender suas vivências e

acompanhar o processo interventivo sob a perspectiva deles, tentando adequar as

práticas da melhor maneira possível. Além disso, poderia servir também como um

espaço de orientação acerca da importância da relação positiva entre alunos e

professores.
● Atuar em conjunto com os assistentes sociais para orientar a família sobre a

importância da sua relação com a escola e seu papel na prevenção da violência escolar.

Procedimento

O planejamento de oferecer disciplinas optativas para os alunos, têm o intuito de

auxiliá-los no reconhecimento de comportamentos violentos, prejudiciais ao clima escolar e

ao relacionamento com os pares. Entende-se que a possibilidade dos alunos reconhecerem o

bullying nos espaços que convivem pode torná-los protagonistas na prevenção deste.

Considera-se que, com o entendimento dos alunos sobre o tema, eles podem se tornar sujeitos

ativos dentro da escola, estabelecendo relações mais positivas uns com os outros.

O ambiente escolar é um importante microssistema para o desenvolvimento do

indivíduo e, por isso, deveria-se propiciar autonomia aos alunos na melhora deste espaço.

Entende-se que, a disponibilização destas disciplinas optativas, fora do horário de aulas

regulares, oferece tanto o espaço seguro para a reflexão sobre o bullying e cyberbullying,

quanto os recursos necessários para que eles comecem a atuar e engajar-se, de modo

autônomo, na prevenção dos mesmos.

O espaço de escuta psicológica para alunos, vítimas ou agressores, compreende que o

bullying causa danos que vão além da instituição também, e, conforme a lei N º 326, de 2019,

deverão ser disponibilizados atendimentos do serviço psicológico. Considera-se que, apesar

da lei, no artigo 1º, elencar isto como atuação do psicólogo dentro da instituição, há também

outras formas de intervenção e, por este motivo, o espaço para a escuta psicológica serviria

como serviço paliativo, prevenindo agravamentos dos danos causados e não para a prevenção,

como o restante dos métodos propostos.


A realização de orientação e formação de professores para manejar casos de bullying e

cyberbullying se daria tendo em vista a importância desses atores no contexto escolar. As

relações de poder instituídas nesse ambiente o colocam numa posição privilegiada tanto para

combater quanto para orientar os alunos quanto à essa violência. Ainda mais considerando

que é mais provável que alunos vítimas de violência pelos professores tornem-se futuros

perpetradores de bullying.

Assim, com a promoção de rodas de conversa e espaços de escuta para esses

professores, poderia ser trabalhado o tema do bullying, e seria aberto um local para que esses

funcionários tirem dúvidas acerca do assunto, possam expor suas vivências que seriam

acolhidas, além de que o psicólogo escolar pode orientar sobre métodos para trabalhar o

assunto com os alunos, para melhorar o clima escolar (essencial como fator protetivo para a

prevenção do bullying) e para mostrar e fortalecer a importância da relação professor-aluno

nesse contexto. Os professores seriam instruídos de que o bullying tem outros agentes que vão

além do perpetrador e da vítima, são eles: reforçador do perpetrador, assistente do

perpetrador, defensor da vítima e espectador. Seriam elencados os fatores de risco de cada

escola, encontrados no mapeamento inicial (por exemplo, os alunos serem majoritariamente

negros) e quais situações de bullying podem ser mais frequentes com pessoas em condições

de vulnerabilidade social.

A atuação em conjunto com as assistentes sociais se dá de modo a tentar alcançar a

dimensão família, essencial na prevenção e entendimento dos casos de bullying e

cyberbullying ocorridos no ambiente escolar. O psicólogo escolar pode, junto com esses

profissionais, realizar visitas às casas dos alunos envolvidos nesses casos de violência,

procurando escutar e entender o contexto em que essas famílias estão inseridas e como elas

poderiam ser auxiliadas pelo psicólogo e assistente social. Além disso, mostrá-los a
importância da relação entre escola e família para alinhamento das práticas escolares e

prevenção dos casos de violência. Reforçando a importância de manterem um diálogo aberto

com filhos para estarem cientes de casos de violência ocorridos com eles, de modo a

auxiliarem a escola na conscientização acerca do tema e acolhimento de possíveis vítimas,

sem haver culpabilização de nenhum dos lados.

O mapeamento institucional seria realizado porque ele orienta o psicólogo escolar no

entendimento da escola em que está atuando, quais suas demandas e pontos de necessidade de

atuação, além do entendimento da concepção dos funcionários e alunos acerca daquele

ambiente que convivem todos os dias.

Ele seria iniciado fazendo-se um levantamento histórico, cultural, social e

demográfico das escolas, para entender as especificidades daqueles locais e quais são os

fatores de risco para a ocorrência de bullying e cyberbullying naqueles ambientes, como

raças, gêneros, orientações sexuais, agrupamentos de alunos e relações predominantes

naqueles locais.

Após, seriam realizadas entrevistas com alguns professores e alunos randomizados de

modo a entender como esses profissionais e estudantes entendem o ambiente em que vivem.

Para as entrevistas com professores, os temas trabalhados seriam como eles vêem os alunos,

como vêem o bullying e cyberbullying, como pensam a relação professor-aluno, e quais são

suas relações e dos alunos com a diversidade existente nesse ambiente (seja de orientação

sexual, raça, nível socioeconômico, etc).

Para a entrevista com os alunos, abrangeria-se também o tema da diversidade, além de

suas relações com professores e outros alunos e visões sobre a violência escolar e as

orientações realizadas na escola quando ocorrem esses casos de bullying e cyberbullying.


Por último, seriam analisados documentos existentes na escola sobre casos prévios de

bullying e como eles foram manejados pelos funcionários e alunos, procurando entender qual

a estratégia atual de enfrentamento da escola sobre esse assunto.

Processo Avaliativo

Para avaliar a efetividade da intervenção proposta, inicialmente, seria aplicado o

instrumento DSCS-S (Delaware School Climate Survey-Student), cuja função é avaliar a

percepção dos alunos, professores, equipe escolar acerca do clima escolar: relação com

professores e outros alunos, respeito pela diversidade, justiça das regras para os diversos

estudantes e vitimização do bullying de forma ampla. Esse instrumento seria aplicado nos

professores e nos alunos, comparando-se com os dados obtidos nas entrevistas iniciais e

considerando que ele é adequado para avaliar programas de combate ao bullying. Além disso,

algumas entrevistas individuais com professores e alunos escolhidos randomicamente e rodas

de conversa para obter feedback seriam realizadas.

A entrevista inicial foi feita com os mesmos temas abordados no instrumento, ele não

foi utilizado enquanto pré-teste para não perder sua efetividade como pós-teste. E seu papel é

no processo avaliativo final principalmente porque o vínculo criado entre psicólogo e os

integrantes da escola poderia ser um impeditivo para a observação dos resultados reais da

intervenção.
Referências

Marinho-Araújo, C. M. Intervenção institucional: ampliação crítica e política da atuação em

Psicologia Escolar. Em: Guzzo, R. S. L. ​Psicologia Escolar: desafios e bastidores.​

Campinas, Alínea, 2014, 153-176.

Martinez, A. M. (2009). Psicologia Escolar e Educacional: compromissos com a educação do

Brasil. ​ABBRAPEE,​ 13, 1, 169-177.

Marturano, E. M., Rizo, L., Elias, L. C & Fava, D. C. A fronteira da educação entre família e

escola. Em Fava, D. C. ​A prática da psicologia na escola: introdução a abordagem

cognitivo comportamental.​ Artesã, 2016, 47-66.

Holst, B. & Lisboa, C. S. M. Clima escolar e violência- propostas de avaliação e intervenção.

Em: Guzzo, R. S. L. ​Psicologia Escolar: desafios e bastidores.​ Campinas, Alínea, 2014,

241-260.

Brasil. (2019). ​Projeto de Lei Nº 326​ (Lei E. E. Professor Raul Brasil de Suzano).

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