Você está na página 1de 17

Evolução dos conversores tiristorizados para

controle de velocidade de motores CC


Gilberto de Oliveira Novaes
COSIPA – Companhia Siderúrgica Paulista
Cubatão – SP – Brazil
Email: gilberto.novaes@poli.usp.br

Resumo— Este trabalho pretende apresentar a evolução dos limitações dos microprocessadores (em relação a sistemas
conversores tiristorizados e a transição dos hardwares analógicos analógicos) para atender os requisitos de tempo real.
para os digitais. É apresentada a teoria dos conversores, com
No experimento foi utilizado o processador Motorola
ênfase nas restrições temporais e um histórico de uma aplicação
em um laminador de tiras a frio, no qual foram introduzidas M6802P com 1KB RAM e 8KB PROM.
modernizações. Como resultados experimentais, para a aplicação de um
degrau de referência de 50 rad/s, foi obtido um tempo de
I. I NTRODUÇÃO subida de 0,32 s e um sobre-sinal de 1,4 rad/s.
Até o advento do tiristor, em 1957, e a sua disponibilização O controlador de velocidade manteve uma regulação
comercial, entre 1960 e 1961, utilizavam-se dispositivos razoável durante a variação do torque na carga.
eletromagnéticos para o controle de velocidade de motores de
corrente contínua. A partir de então, houve uma aceleração Em 1981, Wang [14] publicou um artigo onde estuda o
no desenvolvimento dos sistemas de controle de acionamentos. período de amostragem e analisa a estabilidade em sistemas
de controle de motores baseados em microprocessadores, onde
Em meados da década de 1970, o desenvolvimento dos afirma:
microprocessadores deu um novo impulso no desenvolvimento "Quando um microprocessador é usado para implementar
dos sistemas industriais. um algoritmo de controle e monitorar a velocidade do motor
a taxa de amostragem e os parâmetros do controlador devem
O controle dos primeiros conversores tiristorizadas ser escolhidos de modo que o sistema de amostragem de dados
era implementado por circuitos analógicos, migrando seja estável".
posteriormente para sistemas digitais microprocessados, os Em suas considerações finais ele prevê, acertadamente,
quais abriram o horizonte de possibilidades [9]. que nas décadas seguintes o uso de microprocessadores em
sistemas de controle seria uma tendência, e que o projeto de
A observar pelo artigo "Electrical Hardware for Automation controles digitais se tornaria mais e mais importante.
Machinery of Recent Cold Mills" publicado por Connors [18]
em 1973, havia bastante criatividade para novas soluções,
porém, é perceptível que a implementação dos sistemas em Em 1984, Stojic [11] apresentou um método de alocação
hardware analógico impunha sérias restrições aos projetistas. de pólos para a síntese de um sistema de controle de veloci-
dade. Ele comenta sobre a utilização de sistemas digitais de
Em 1975, Maloney [17] propôs um sistema digital, ainda controle em aplicações com técnicas clássicas como PID, até
não microprocessado, para o controle de velocidade de um desenvolvimentos com a utilização de algoritmos de técnicas
motor de corrente contínua. O sistema proposto possuía modernas de controle.
requisitos inaceitáveis para a maioria das aplicações reais. Ele Ele já vislumbrava um campo amplo para o emprego de
operava com uma taxa de amostragem de um segundo e uma novas técnicas de controle que aguardavam o surgimento de
resolução de 5 rpm. Não dispunha de uma malha de controle recursos mais poderosos de hardware
de corrente, atuando diretamente sobre a tensão de armadura.
A integração do erro de velocidade era implementada por
contadores. O desenvolvimento de conversores tiristorizados
microprocessados tornou as unidades de controle de
velocidade mais baratas e mais compactas que as conhecidas
Em 1980, Chan [15], em seu artigo, sugere um sistema de até então. Os novos sistemas tiveram melhor resposta
controle da malha de corrente de acionamentos CC com SCRs. dinâmica que os seus predecessores.
No artigo ele propõe a utilização de tabelas e algorit-
mos com operações aritméticas simples para contornar as
II. O CIRCUITO DE POTÊNCIA DOS CONVERSORES
A. Tiristor
Tiristor é uma denominação genérica para um tipo de
semicondutor. Os conversores tiristorizados utilizam um
retificador controlado de silício, o SCR (Silicon Controlled
Rectifier), que é o tipo de tiristor mais conhecido.

O SCR é um diodo no qual, além do catodo e do anodo,


há um terminal de gate. Se não houver ativação do gate
o SCR não inicia a condução de corrente. Se a tensão de Fig. 2. Retificador trifásico controlado de onda completa
anodo for maior que a de catodo, no instante em que for
gerado um sinal (pulso) de corrente no terminal de gate esse
dispositivo entra em condução e permanece neste estado até do terminal de neutro.
que a corrente entre anodo e catodo assuma um valor abaixo
da corrente de manutenção [8]. C. Retificador Controlado
Sob o aspecto de controle podemos dividir os retificadores
A Fig. 1 mostra o símbolo de um SCR com o anodo(A),
em três categorias: não controlado, semi-controlado, e
catodo(K) e gate(G).
totalmente controlado.

B. Retificador Os Retificadores Não Controlados possuem apenas diodos,


de modo que a tensão CC na carga que depende da tensão
Os conversores tiristorizados para acionamento de de
alternada aplicada à sua entrada.
motores de corrente contínua são retificadores que convertem
uma fonte de corrente alternada em uma fonte controlada
Os Retificadores Semi-Controlados possuem uma
de corrente contínua. Intrinsecamente a tensão gerada por
associação de diodos e SCRs. A tensão CC na carga é
retificadores desse tipo possuem um ripple, que pode ser
controlada, mas sempre positiva de zero até um valor médio
maior ou menor, dependendo da configuração utilizada.
máximo.
Esses retificadores podem ser divididos em dois grupos: os
Nos Retificadores Totalmente Controlados a conexão
retificadores de meia onda e os retificadores de onda completa.
entre a alimentação e a carga é feita somente por SCRs.
Essa configuração permite o controle da tensão entre
Os Retificadores de Meia Onda possuem um diodo por
valores positivos e negativos. Tipicamente, para o controle
fase da tensão CA. Todos os diodos são ligados em catodo
de velocidade de motores CC são utilizados retificadores
ou anodo comum em um terminal da carga. A expressão
totalmente controlados.
meia onda vem do fato de que em cada fase de entrada a
corrente é unidirecional, utilizando apenas metade da senóide
A figura 2 apresenta o esquema de um retificador trifásico
da alimentação CA.
totalmente controlado. Observa-se as três fases de alimentação
R, S e T os terminais da carga P e N .
Os Retificadores de Onda Completa são formados pela
associação série de retificadores de meia onda. Um deles leva
a corrente até a carga enquanto o outro faz o retorno para D. Controle dos SCR
a fonte CA. Desta forma os enrolamentos do secundário do Controlar um retificador significa obter o valor desejado
transformador são melhor aproveitados e não há a necessidade da tensão média na carga através da manipulação da fase em
que são gerados os pulsos de ativação dos gates.

Para o controle da tensão média na carga manipula-se


a defasagem ϕ dos pulsos em relação às senóides dos
respectivos ramos. Porém é imprescindível a manutenção da
defasagem de 120o (conversor trifásico) entre a aplicação dos
pulsos aos gates dos SCRs correspondentes a cada fase do
circuito trifásico (ramo).

Considerando um retificador trifásico em ponte inteiramente


controlada operando, em uma rede de 60 Hz, para disparar o
Fig. 1. Símbolo de um SCR SCR de cada ramo, defasado de 120o é necessário gerar um
pulso exatamente a cada 2,78 milisegundos.

A figura 4 mostra os diagramas de tensão relativos a


diversos ângulos de atraso no disparo, de um retificador
trifasico completamente controlado, acionando uma carga
indutiva. Os diagramas correspondem a:

caso 1 → ϕ < 90o , a tensão na carga é positiva.


caso 2 → ϕ = 90o , a tensão na carga é nula.
caso 3 → ϕ < 90o , a tensão na carga é negativa.

Se um desses pulsos for gerado com uma diferença de


fase em relação aos demais, haverá um desbalanceamento de
corrente entre os ramos. Esse tipo de falha provoca a atuação
dos circuitos de proteção, causando o desarme da fonte, ou
em casos mais extremos, a queima de fusíveis ou SCRs.

No caso de acionamentos em que há a inversão no sentido


de rotação, ou há regeneração de energia, emprega-se o
retificador em anti-paralelo, mostrado na figura 3. Em uma
configuração em contra-paralelo, há um conjunto de SCRs
que produz uma corrente no sentido positivo, enquanto que o
outro conjunto produz uma corrente no sentido inverso.

Se em algum instante houver o disparo de um SCR do


conjunto oposto àquele que estiver em operação, ocorrerá um
curto circuito entre os retificadores, danificando fusíveis e
possivelmente os SCRs envolvidos.

Como se pode ver, há uma severa restrição temporal no


que diz respeito ao controle da geração dos pulsos de gatilho
para os gates dos SCRs.

Fig. 4. Tensão do retificador controlado

Fig. 5. Motor de Corrente Contínua

Fig. 3. Retificador em anti-paralelo


III. O M OTOR DE C ORRENTE C ONTÍNUA campo do estator, o torque produzido pela máquina de corrente
Um motor elétrico de corrente contínua convencional é contínua é diretamente proporcional à corrente aplicada à
constituído de duas partes principais: o estator e a armadura. armadura.

T = kd φd ia (2)
O estator corresponde à parte fixa da máquina onde está o
circuito de campo. onde
A armadura corresponde à parte girante do motor, onde a
potência é alimentada. kd é a constante da máquina
φd é o fluxo magnético no estator
A figura 5 apresenta, de forma esquemática, o circuito de ia é a corrente do circuito de armadura
armadura que é percorrido pela corrente Ia e o circuito de
campo que é percorrido pela corrente If . Outra equação importante é aquela que relaciona a força
eletromotriz ea e a velocidade angular ωm , dada pela equação
Com relação à alimentação da corrente de campo, existem 3.
basicamente dois tipos de ligação: série e paralelo.
ea = kd φd ωm (3)
Na ligação série, o enrolamento de excitação do campo
é percorrido pela corrente de armadura, de modo que, à Por essa equação temos que, para uma corrente de campo
medida que a corrente de armadura aumenta, o fluxo do constante, a velocidade angular da máquina é proporcional à
campo também aumenta. Esta configuração é muito usual em força eletromotriz da armadura.
acionamentos de tração.
Dessas equações básicas é possível obter um modelo
No caso de acionamentos onde é necessário o controle dinâmico que, em conjunto com o modelo da planta,
de velocidade, utiliza-se a configuração de campo paralelo, permitem ao projetista desenvolver as estratégias de controle.
independentemente excitada. Isso significa que a corrente de
campo é fornecida por uma fonte independente daquela que
alimenta o circuito de armadura [12]. IV. O C ONTROLE DE V ELOCIDADE E C ORRENTE
Independentemente de qual tecnologia seja empregada,
O comutador é uma peça composta de laminas de cobre,
analógica ou digital microprocessada, os princípios físicos da
acoplada mecanicamente à armadura e tem a finalidade
planta, obviamente, não se alteram.
transmitir a corrente às bobinas de armadura e promover a
comutação entre as bobinas. O contato do circuito externo
A partir das equações da máquina CC e do sistema
com o comutador é efetuado por meio de escovas.
mecânico, é estabelecido um modelo da planta.
Para maiores detalhes pode ser consultada a referência [12]. Os controladores são desenvolvidos para, dentro das res-
trições existentes, proporcionar o controle mais adequado à
Para que não se perca um tempo desnecessário discorrendo planta.
sobre a teoria do motor de corrente contínua e considerando A figura 6 apresenta os elementos típicos de uma planta,
que este é bastante linear, passaremos diretamente às equações onde estão representados:
que descrevem o seu comportamento dinâmico.
Jc = inércia da carga,
Bc = o atrito viscoso da carga,
O circuito de campo possui bobinas que, quando percorridas Jm = a inércia do motor,
por uma corrente If , produzem um fluxo magnético φd . Bm = o atrito viscoso do motor,
O fluxo φd é uma função da corrente de campo If : Tm = torque produzido pelo motor,
φd = f (If ) (1) La = indutância do circuito de armadura,
Ra = resistência do circuito de armadura,
A relação entre If e φd é linear até determinado ponto, Ia = corrente do circuito de armadura,
onde começa a surgir o efeito a saturação do circuito Va = tensão fornecida pelo retificador.
ferromagnético. Por esse motivo, as equações das máquinas
CC se referenciam a φd e não apenas à corrente If aplicada. O modelo do acionamento, onde é aplicada uma referência
u(t) ao controle de pulsos do retificador, produzindo como
O conjugado eletromagnético T produzido pelo motor é saída a velocidade do acionamento ω(t), é representado no
dado pela equação 2. diagrama de blocos da figura 7.
Desta equação temos que, mantendo-se constante a corrente de
corrente de armadura.

O Controlador de Corrente, designado na figura 8 como CC,


é um controlador PI (Proporcional Integral) que compara o
sinal de referência de corrente com o valor medido de corrente
de armadura do motor.
A saída do controlador de corrente corresponde à tensão
Fig. 6. Dinâmica do acionamento elétrica necessária à obtenção da corrente desejada.

A sua saída é enviada ao sistema de controle de tensão e


disparo dos SCRs, que na figura 8, por efeito de simplificação,
está incorporado no bloco "retificador + planta".

Essa é a configuração mais usual, mas existem muitas


outras possibilidades utilizando técnicas avançadas de controle
Fig. 7. Modelo do acionamento moderno, controle adaptativo, etc.

A dinâmica do sistema pode ser controlada através da


manipulação da tensão da armadura do motor. V. T ECNOLOGIAS E I MPLEMENTAÇÃO COM
M ICROPROCESSADORES
A figura 8 traz uma representação simplificada típica de A. Introdução
controlador de velocidade e de corrente para o acionamento Nos últimos 30 anos a área de eletrônica de potência teve
de um motor de corrente contínua. O bloco indicado como expressivos avanços em vários setores, principalmente
retificador + planta corresponde à composição dos blocos do os de Eletrônica de Potência, Teoria de Controle e
modelo da dinâmica do sistema da figura 7. Microprocessadores.
Observe-se a realimentação de corrente do motor Ia, Os avanços na tecnologia de acionamentos são motivados
oriunda do bloco da planta. Essa realimentação compõe a pela demanda crescente por aumento de desempenho, maior
malha mais interna do controle. confiabilidade e redução de custos.
O controlador de velocidade, indicado por SC, recebe o A área de acionamentos requer várias funcionalidades tais
sinal de referência de velocidade e compara-o com a medida como filtragem de sinal, regulação, geração de sinais de
real obtida de um tacômetro (caso analógico) ou de um pulse comando, medição, monitoramento, proteção, etc.
encoder (caso digital).
Por muito tempo a implementação das funcionalidades
O controlador de velocidade é um controlador PID ficou restrita à tecnologia analógica através de cabeamento.
(Proporcional, Integral, Derivativo) e o sinal na sua saída Os circuitos de controle consistiam de amplificadores
corresponde ao torque a ser solicitado para operar na operacionais, CIs não lineares, e CIs digitais, sendo que esses
velocidade desejada. últimos eram usados exclusivamente para a implementação
de lógicas combinatórias para o seqüenciamento do conversor.
Este sinal serve como referência para o controlador de
corrente. O desenvolvimento do microprocessador abriu novas
possibilidades para a área de acionamentos de potência,
Pela equação 2, já apresentada, constata-se que há uma introduzindo a abordagem de software que possibilita ganhos
proporcionalidade entre o torque gerado pelo motor e a em flexibilidade e desempenho.

O microprocessador, introduzido em 1971, evoluiu de


uma arquitetura simples de 4 bits para uma arquitetura
complexa de 64 bits com altíssimo poder computacional.
Os recentes avanços na tecnologia de microprocessadores se
deram principalmente nas áreas de processador, arquitetura
do sistema e dispositivos de memória.

Surgiram os processadores RISC (Reduced Instruction


Fig. 8. Controle PID de velocidade e corrente Set Computing), os DSPs (Digital Signal Processor) e os
processadores paralelos. O aperfeiçoamento dos microprocessadores e dispositivos
relacionados melhorou o desempenho dos conversores
Foram desenvolvidas novas arquiteturas de alta performance microprocessados, elevando o seu desempenho ao nível dos
usando memórias cache, arquiteturas multi-bus, estruturas de sistemas analógicos.
pipeline e estruturas multiprocessador.
Ultrapassados os obstáculos impostos pelos sistemas
Todos esses desenvolvimentos impulsionaram o de tempo-real, tornou-se possível usufruir dos recursos
desempenho dos sistemas baseados em microprocessadores a computacionais e implementar técnicas modernas de controle
um nível sem precedentes, com um custo cada vez menor. como controle por realimentação de estados, controle
adaptativo, controle ótimo, etc.
As aplicações convencionais de microprocessadores estão
nas áreas de processamento de dados, computação, sistemas
de comunicação, imagem, etc.
B. A Arquitetura do processador
Em sistemas de tempo real para controle de sistemas de
A arquitetura de processamento pode influenciar
potência, apesar dos requisitos serem diferentes, os recursos
significativamente o desempenho do sistema. Ela pode
do microprocessador podem ser utilizados com grandes
limitar a performance alcançável pelo sistema e restringir os
benefícios.
recursos disponíveis ao projetista.
São necessários processadores com alta velocidade
de execução para a implementação de algoritmos mais Os processadores para tratar problemas de controle de
complexos. Para o controle de sistemas maiores, onde tempo real complexos, tais como controle de sistemas
vários microprocessadores operam sob coordenação de um eletrônicos de potência, podem ser enquadrados nas seguintes
microcomputador central são necessários processadores com categorias [4]:
características de alta velocidade de comunicação [4].
1) Microprocessadores de uso geral: São unidades de
No contexto de sistemas de tempo real a velocidade de processamento central que necessitam memória externa e
execução das funções de controle é de primária importância. suportam chips para completar o sistema de controle.
Com a implementação por hardware a velocidade de execução
é muito rápida, mas a complexidade do hardware aumenta 2) Microcontroladores: São dispositivos orientados para
à medida que são adicionadas novas funções. Com a controle que oferecem um alto nível de integração em um
implementação de funções por software a complexidade do único chip. Eles incorporam, tipicamente, uma unidade
hardware é fixa, mas o tempo de execução aumenta quando central de processamento e unidades periféricas necessárias à
é necessário adicionar novas funções. operação em tempo real tais como temporizador de sistema
programável, conversores A/D, controladores de interrupção,
Freqüentemente o engenheiro de projeto tem de considerar modulador de largura de pulsos e entradas e saídas digitais.
essa questão e analisar o compromisso entre o hardware
e o software. A decisão é normalmente influenciada pela 3) Circuitos Integrados de aplicações específicas: São
taxa de amostragem desejada e a velocidade de execução circuitos integrados personalizados, semi-padronizados
do processador. Algumas funções são mais adequadas à ou padrão, que podem integrar, em um único chip, vários
implementação por hardware, tais como, geração de sinais componentes analógicos e digitais necessários à uma aplicação
de acionamento para conversores. Outras funções como específica: microprocessador, conversor A/D, modulador de
regulação e algoritmos adaptativos são melhor implementadas largura de pulsos (PWM), interface de entradas e saídas, etc.
por software.
4) Processadores de sinais digitais: São processadores de
Com as melhorias crescentes no desempenho dos micropro- alta velocidade com arquitetura Harvard, projetados para a
cessadores, as funções de controle gradualmente migraram da execução eficiente de algoritmos de processamento de sinais.
implementação por hardware para o software. Nestes processadores a operação de múltipla-acumulação
Vários tipos de processadores podem ser utilizados para (MAC) é otimizada e é implementada a instrução de repetição.
o controle de velocidade de motores DC, ou ainda podem
ser desenvolvidos dispositivos específicos para o atendimento 5) Microprocessadores RISC: A sigla RISC significa
de aplicações específicas. O ASIC (Application Specific Reduced Instruction Set Computing Microprocessors. São
Integrated Circuit), por exemplo, é um circuito integrado processadores de alta velocidade com arquitetura pipeline
personalizado para um uso particular ao contrário de outros e instruções simples. As operações mais complexas são
circuitos integrados desenvolvidos para uso geral. executadas por software.
6) Processadores Paralelos: São microprocessadores de armazenamento de massa (fita magnética, HD, CD, etc.).
alto desempenho, equipados com links de comunicação que
podem ser conectados em rede para operar concorrentemente Monitoramento e Proteção - Variáveis importantes do
de modo a aumentar a velocidade de processamento ou sistema podem ser monitoradas continuamente. Qualquer mau
melhorar o desempenho e a flexibilidade do controle. funcionamento pode produzir sinais de alarme e o sistema
pode ser forçado a executar seqüencias de emergência para
proteger seus componentes.
C. Funções básicas de um conversor microprocessado
Classificam-se em 5 (cinco) grupos, as funções básicas de D. Características desejáveis para o microprocessador
controle de um conversor digital multiprocessado [4]:
1) Capacidade para operações matemáticas: Em sistemas
de controle, operações matemáticas são requeridas para a
1) Aquisição de dados e processamento: As variáveis
implementação de filtros e algoritmos de controle e regulação.
elétricas e mecânicas do sistema (tensão, corrente, posição,
As operações mais utilizadas são: multiplicação, adição, raiz
velocidade, aceleração, torque, força) fornecidas pelos vários
quadrada e funções trigonométricas.
sensores, são amostradas e convertidas em dados numéricos
por conversores de dados (A/D, resolver /D, etc.).
A implementação dos filtros e controladores de PID
convencionais para controladores complexos, bem como
Os valores obtidos são, então, processados (filtrados,
esquemas de identificação e estimação, necessitam
escalonados, etc.) para serem utilizáveis pelas funções de
intensivamente de de operações de múltipla acumulação
controle.
(soma de produtos). Este tipo de operação é muito bem
executada por processadores de sinais digitais.
2) Comunicação: A função de comunicação é necessária
para receber os comandos do operador ou de um controlador A implementação de algoritmos de controle avançados
de nível superior. como controladores de estado, observadores de estado e
controladores adaptativos, necessitam operações complexas
É também necessária para a transmissão de diferentes de matrizes.
variáveis de sistema necessárias para o controle dos níveis
superiores. 2) Velocidade de processamento: A velocidade de
processamento é um importante fator, mas não o único que
3) Lógicas do sistema e Algoritmos de controle: determina o desempenho de um microprocessador. É preciso
Esse grupo executa as principais funções de controle do considerar ao mesmo tempo a velocidade de processamento
sistema. Implementa a lógica do sistema e algoritmos de e os recursos do processador.
controle que governam a operação do sistema. A lógica do
sistema tipicamente inclui um sistema de tempo real que, A velocidade de um processador é usualmente medida em
concorrentemente, escalona e executa múltiplas tarefas. MIPS (Millions of Instructions per Second). As operações
em ponto flutuante são medidas em MFLOPS (Millions of
Os algoritmos de controle incluem os esquemas de Floating Point Operations per Second). Essas medidas não
identificação, estimação, regulação e controle. Dependendo parecem ser imprecisas para a comparação de diferentes
dos comandos, condições de operação e estratégia arquiteturas, em particular CISC (Complex Instruction Set
implementada, o SOTR (Sistema Operacional de Tempo Computing versus RISC. Porém, os projetistas de sistema tem
Real) seleciona a seqüencia e os algoritmos a serem de confiar neste benchmark para avaliar o desempenho dos
executados pelo processador. microprocessadores.

4) Interface do Circuito de Potência: Essa função é 3) Capacidade para operações em Tempo Real: O controle
necessária para adaptar o software de controle e o hardware de sistemas eletrônicos de potência em tempo real requer
para as entradas do circuito de potência do conversor. recursos de interrupção, tempo de processamento, e entradas
e saídas de alta velocidade.
5) Funções auxiliares: .
O recurso de interrupção é necessário para sincronizar o
Indicação - As variáveis do sistema e sinais de alarme software de controle com os eventos internos e externos.
podem ser apresentados em LEDs, displays de cristal líquido,
ou telas. A latência de interrupção é definida como o tempo de
atraso entre a solicitação de interrupção e o início da rotina
Armazenamento - As variáveis de sistema podem de serviço. Ela deve ser a menor possível quando comparada
ser armazenadas em memória ou em um sistema de com a taxa de amostragem, para assegurar o determinismo
do controle. minimizados através de uma boa filtragem analógica ou digital.

O gerenciamento de prioridade de interrupção é necessário 4) Ausência de flutuações ou variações de parâmetros:


para tratar as interrupções de diferentes origens. O processamento digital de sinais elimina os efeitos de
flutuações de sinais e variações de parâmetros que são
O chaveamento de contexto é uma operação importante predominantes nos controladores analógicos. A computação
em controles multitarefa, onde o sistema operacional é digital é 100% precisa e os problemas de overflow e
freqüentemente solicitado a mudar as tarefas de acordo com truncamento são evitados com a escolha de escalas adequadas.
as condições de operação e estratégias de controle. O contexto
de uma tarefa ou processo pode consistir de um contador 5) Compatibilidade com controles digitais hierarquizados:
de programa, stack pointer, conjunto de registros, tabelas O controle microprocessado de eletrônica de potência e
de tradução de endereços, descritores de entradas e saídas , sistemas de acionamento permitem compatibilidade com
quantidades de códigos privados e dados. O processador deve sistemas de níveis superiores e laterais, o que é um fator
ser capaz de gerir o chaveamento de contexto com o menor determinante para a perfeita integração da planta.
atraso, para evitar a degradação de desempenho.
6) Hardware e software universais: Pode ser desenvolvido
4) Capacidade de comunicação: A capacidade de um hardware universal para uma determinada classe de
comunicação é essencial para a maioria dos sistemas de sistemas onde o software possa ser modificado para atender
controle de potência, para que estes operem em um ambiente as especificações da sub-classe. Uma outra vantagem
de rede no qual vários processadores operam em coordenação adicional do controle via software é que ele é flexível e
com um processador central. pode ser facilmente alterado ou atualizado para acompanhar
a modificação dos requisitos de desempenho do sistema.
A comunicação entre processadores pode ser serial ou
paralela. A comunicação serial é tipicamente utilizada para 7) Diagnósticos: Uma significativa vantagem dos controles
transferências em baixa ou média velocidade. A comunicação microprocessados é que podem ser desenvolvidos softwares
paralela é utilizada essencialmente em transferências de de diagnósticos poderosos que podem ser utilizados por
grandes quantidades de dados, em alta velocidade, em uma técnicos semi-especializados, proporcionando redução nos
rede de processadores. tempos de parada, quando comparados com sistemas
analógicos convencionais. Sistemas de aquisição de dados,
É necessário que haja um protocolo de comunicação para monitoramento, alarmes e displays podem ser facilmente
assegurar o menor erro de transmissão. Os protocolos de implementados.
comunicação podem ser implementados por hardware, em
unidades de comunicação especializadas, ou por software. 8) Computação lenta: A implementação de uma
função microprocessada tende a ser mais lenta que um
hardware de controle analógico dedicado. A razão é que
E. Vantagens e Limitações dos Sistemas Microprocessados os microprocessadores processam as funções de maneira
seqüencial, enquanto que os sinais de hardwares dedicados
1) Baixo custo do hardware: A simplificação do hardware são processados em ramos paralelos. Se um microprocessador
de controle e correspondente redução de custo em comparação manipula múltiplas tarefas o tempo precisa ser alocado para
com o controle analógico. Outra vantagem adicional é a cada tarefa de maneira multiplexada e isso reduz a velocidade
redução de tamanho e peso com menor consumo de energia. da execução. Tem sido desenvolvidos microprocessadores com
capacidades de computação cada vez maiores e essa tendência
2) Aumento de confiabilidade: A confiabilidade do sistema continuará no futuro. O multiprocessamento e assistência de
ou MTBF (mean time between failures) é aumentada pelo hardwares dedicados podem melhorar consideravelmente a
controle microprocessado. A confiabilidade dos chip LSI ou velocidade de execução.
VLSI é consideravelmente maior que um circuito eletrônico
com um grande número de componentes eletrônicos. 9) Erros de quantização: Os sinais dos sistemas físicos
A confiabilidade pode ser aumentada pela redução na são naturalmente analógicos e quando há uma interface com
temperatura e pelo uso de componentes militares. um microprocessador por conversores A/D e D/A, há um
erro finito de quantização. O erro de quantização pode ser
3) Menor interferência eletromagnética: O alto grau de minimizado pela utilização de maior número de bits para
integração dos microprocessadores evita o acoplamento de representar a variável nos conversores e no microprocessador.
transitórios de tensão e corrente em sistemas eletrônicos
de potência. A blindagem convencional do hardware do 10) Falta de acesso aos sinais de software: Os controles
controlador é suficiente. O acoplamento de ruídos pelo microprocessados não proporcionam, intrinsecamente, fácil
sistema de potência ou pelos sinais de entrada podem ser acesso aos sinais do software para o monitoramento quando
comparados com a utilização de osciloscópio. É preciso que
sejam desenvolvidas ferramentas de diagnóstico que possibi-
litem para essa finalidade.
Os sistemas atuais tem sido desenvolvidos com ótimas
ferramentas de monitoramento e diagnóstico, de modo que
o usuário percebe, inclusive vantagens, no monitoramento
digital, quando comparado com o monitoramento analógico.

11) Desenvolvimento de software pode ser dispendioso:


O desenvolvimento de software, especialmente em linguagens Fig. 9. Laminador de Tiras a Frio da COSIPA.
de baixo nível como o assembler pode consumir um grande
tempo de desenvolvimento e portanto se tornar dispendioso.
Atualmente, porém, existem ferramentas de desenvolvimento Muitas vezes, porém, não é conveniente que se faça
cada vez melhores. Além disso, para altos volumes de produ- modernizações parciais. Então é aguardada uma oportunidade
ção esse custo se torna imperceptível. para que se faça uma reforma geral englobando tanto a parte
de automação e controle quanto os equipamentos mecânicos.
VI. A M ODERNIZAÇÃO DE E QUIPAMENTOS
Diferentemente das aplicações domésticas, as aplicações É possível, também que, dependendo das circunstâncias,
industriais envolvem processos complexos que muitas vezes seja mais vantajosa a montagem de uma linha de produção
operam em regimes de 24 horas, 7 dias por semana, como é nova ao invés da reforma da linha já existente.
o caso da COSIPA, cujos exemplos serão apresentados mais
adiante.
VII. C ASO R EAL : L AMINADOR DE T IRAS A F RIO DA
COSIPA
Nestes casos não há justificativa para a convivência com
riscos desnecessários com o objetivo de redução dos custos Como a maioria dos equipamentos siderúrgicos, o
dos equipamentos. Laminador de Tiras a Frio da COSIPA possui uma estrutura
O hardware e os softwares industriais são concebidos para mecânica extremamente robusta, justificando modernizações
índices de falha muito baixos uma vez que há custos maiores sucessivas nas tecnologias de controle e acionamento.
envolvidos nos projetos.
O laminador de tiras a frio é um laminador de aços planos,
Nessas circunstâncias a vida útil dos equipamentos é com 4 (quatro) cadeiras de laminação, como visto na figura
dada pela obsolescência ou pela demanda por requisitos de 9, que produz tiras de aço com espessuras de saída entre
qualidade ou de processo. 0,38 e 3,00 mm e larguras de 600 a 1600 mm, reduzindo a
espessura por processo a frio.
Kosnik, em seu artigo [3], apresenta um processo de
modernização de um laminador de tubos sem costura, com o O produto gerado é aplicado em vários segmentos da
emprego da técnica de retrofit, onde apenas parte dos painéis indústria, que necessitem alta qualidade superficial e ótima
é substituída e são mantidas as partes consideradas ainda conformabilidade, destacando-se a automobilística e de
confiáveis. No caso citado havia um sistema de controle eletrodomésticos.
analógico C56, fornecido pela empresa Westinghouse, onde a
modernização foi motivada pelo custo das paradas imprevistas A capacidade atual de produção de aço do laminador é de
de produção. Os problemas de manutenção eram agravados 1.200.000 toneladas/ano.
pelo fato do fabricante original não atuar mais no mercado
de acionamentos. Há uma grande exigência quanto à confiabilidade, pois o
equipamento opera 24 horas por dia e 7 dias por semana,
Os painéis foram mantidos, juntamente com os retificadores com paradas de manutenção de 16 horas a cada 21 dias.
de potência. Os reguladores e os sistemas de geração de
pulsos para os tiristores foram substituídos por sistemas Para permitir a comparação entre o sistema de controle
digitais microprocessados. analógico e o digital, será tomado como referência o
acionamento da cadeira no 4 do laminador, pois ela foi
Com os novos reguladores e sistemas de automação, foram instalada na primeira reforma (1973) já com acionamento
incluídas novas características, como redes em fibra ótica. direto na armadura e além disso, na segunda reforma (1997),
Posteriormente, seguindo um planejamento, outras melhorias os seus motores foram mantidos.
foram incorporadas.
Cada cadeira de laminação possui dois motores; um para
cada cilindro de trabalho, cada um com o seu respectivo
conversor.

Cada motor da cadeira no 4 possui os seguintes dados


nominais:

DADOS DO MOTOR
Potência 2000 HP
Tensão 700 Volts
. Corrente 2300 Amperes

A. Inauguração
O laminador teve sua engenharia básica desenvolvida pela
"Kaiser/Bliss" (USA), a fabricação mecânica ficou a cargo
da "Societé des Forges et Atelier du Creusot" (França) e
a parte elétrica foi fornecida pela "Westinghouse Electric
Corporation" (USA).

A sua inauguração ocorreu em 1964, com sistemas de


controle dos acionamentos baseados em amplificadores
magnéticos. Na época ele era dotado de apenas 3 (três)
cadeiras de laminação, acionadas por sistemas Ward-Leonard,
onde um motor de corrente alternada aciona geradores de
corrente contínua e estes, por sua vez acionam os motores de
corrente contínua. O controle era feito através manipulação Fig. 10. Regulador de analógica C56 Westinghouse.
das correntes de campo dos geradores e motores C.C.

O aperto dos cilindros era feito por meio de parafusos A figura 10 mostra um painel de controle de um retificador
mecânicos acionados por motores elétricos de corrente controlado Westinghouse, com reguladores de velocidade
contínua, e sistema de coroa e sem fim. Não havia sistemas e corrente analógicos. As funções são implementadas
para a medição da força de laminação. basicamente com resistores, capacitores, relês e amplificadores
operacionais.
Para a medição das tensões da tira de aço entre as cadeiras
de laminação haviam tensiômetros eletromecânicos. A etapa de potência, conceitualmente, não difere muito da
empregada nos retificadores digitais atuais a não ser pelo fato
destes últimos utilizarem SCRs de maior capacidade. Isso
B. Primeira modernização
evita a necessidade de paralelismo de SCRs para atingir a
Em 1973 ele sofreu a sua primeira modernização ele- corrente especificada.
tromecânica, onde teve o seu acionamento substituído por
conversores tiristorizados com controle analógico, e mantidos
os geradores existentes. C. Descrição do controle de acionamento analógico
O sistema de aperto por parafusos eletromecânicos também
foi mantido. A descrição que se segue corresponde àquela introduzida
após a primeira reforma, ocorrida em 1973 e executada
Ele recebeu mais uma cadeira de laminação (no 4) com pela Westinghouse, fornecedor original da parte elétrica do
acionamento direto na armadura do motor. A enroladeira laminador.
recebeu mais um motor para o aumento de sua potência
nominal. Era utilizado, na época, um sistema de acionamento
C-46H da Westinghouse, que fornecia 700 Volts, em corrente
Na mesma ocasião foi instalado um computador analógico contínua, com uma corrente de 3000 Amperes.
responsável pela regulação das tensões mecânicas dos vãos e
pelo controle automático de espessura. Em termos de conceitos de projeto, a Westinghouse
procurava, ao máximo, padronizar os sistemas e módulos
A reforma da parte elétrica foi executada pelo fabricante eletrônicos de modo a cobrir a maior gama de aplicações
original, Westinghouse. com a menor variedade de ítens de estoque.
Fig. 12. Diagrama simplificado do Regulador Básico.

O cartão VS (Voltage Sensor) é responsável pela medição


e condicionamento da tensão de saída do conversor para
Fig. 11. Fonte tiristorizada C46H Westinghouse
realimentação. A tensão é tomada de um divisor resistivo no
próprio painel.
Os reguladores eram compostos de cartões eletrônicos
montados em racks. Em um dos racks ficava o chamado O cartão CS (Current Sensor) é responsável pela medição
regulador básico que compreendia a parte do controle de de corrente, fornecendo um sinal de tensão proporcional
tensão do retificador até a geração de pulsos para os SCRs. à corrente de saída do retificador, a ser utilizada para a
realimentação e proteção. Nesse mesmo cartão é incorporado
Na figura 11 pode ser visto um painel Westinghouse o sistema de supressão de pulsos. Quando ocorre uma
modelo C46H. sobrecorrente instantânea os pulsos de disparo para os SCRs
são bloqueados, e atuado o relê de proteção 86, evitando
No primeiro gabinete ficam abrigados os racks com os danos maiores à eletrônica de potência.
reguladores analógicos. Na porta frontal estão instrumentos
analógicos com as principais variáveis. O cartão VC (Voltage Controller) serve como comparador
entre a tensão de referência e a tensão de realimentação. A
No gabinete central ficam alojadas as gavetas que abrigam saída do cartão é enviada ao GPG para controlar a geração
os SCRs. Cada gaveta possui um conjunto retificador dos pulsos.
completo de 6 SCRs. Todas as gavetas são unidas por um
barramento na parte traseira, de modo que os SCRs de cada O cartão RL (Reversing Logic) tem a grande
uma operam em paralelo com os seus correspondentes das responsabilidade de determinar se devem ser disparados
demais gavetas. os SCRs do retificador direto ou do retificador reverso. A
decisão é baseada em sinais provenientes do cartão VC.
A realimentação de velocidade dos motores se dá por
meio de tacômetros analógicos com tensão de cerca de 100 Existem três cartões GPG, um para cada ramo dos
volts, e depois reduzida para 10 volts no painel, com a retificadores. Esses cartões recebem a referência do VC e
finalidade de minimizar as possíveis interferências induzidas geram pulsos com a defasagem correta para a obtenção da
nos condutores durante o trajeto. tensão desejada na saída do retificador. Os pulsos gerados são
enviados a um distribuidor de pulsos que os envia sempre a
Em um Rack, dentro do painel, fica o regulador básico, dois SCRs simultaneamente. Isso é necessário para garantir a
cujo diagrama esquemático simplificado é mostrado na figura condução do SCR do outro ramo que em tese já estaria em
12, composto por cartões eletrônicos que realizam as funções condução (vide figura 13).
básicas de controle do retificador [2].
Dos distribuidores, os pulsos são encaminhados a
Nesse rack ficam os cartões VS, CS, VC, RL e GPG. transformadores de pulso instalados junto aos SCRs.
Fig. 14. Cartões Controladores de Velocidade e Corrente - Westinghouse

cartões mais importantes, o controlador de corrente e o


controlador de velocidade.

Esses são controladores PID e formam duas malhas em


cascata.

A malha de corrente é a mais interna e demanda uma


resposta mais rápida. A sua referência é tomada do sinal de
saída do controlador de velocidade (SC), conforme a figura 14.
Fig. 13. Distribuição de pulsos de um conversor Westinghouse
O controlador de velocidade recebe a referência de
velocidade e compara com a realimentação do tacômetro
acoplado ao eixo do respectivo motor. Esse controlador
Os cartões eletrônicos foram desenvolvidos com o intuito compões a malha mais externa.
de obter uma maior flexibilidade, de modo a cobrir a
maior gama de aplicações. Para isso eles foram dotados de
potenciômetros de ajustes e jumperes para alteração do range O procedimentos de comissionamento e start-up dos
de atuação dos ganhos. sistemas de controle analógicos demandavam grande
especialização e preparo.
Os potenciômetros de ajustes de ganhos e estabilidade
ficam no próprio cartão eletrônico e sua posição pode ser Inicialmente o projetista reunia o maior número de
replicada para o cartão sobressalente pela simples observação informações sobre o motor elétrico e a dinâmica da planta.
da posição dos mesmos. De posse dessas informações, eram efetuados os cálculos e
determinados os ajustes preliminares do controle.
Os ajustes mais críticos para o equipamento como limite
de corrente, referência de velocidade, nível de desarme por Depois de efetuados os ajustes preliminares e determinadas
sobrecorrente, etc. não ficam nos cartões, mas no próprio algumas faixas de operações, eram aplicados sinais de
rack. Isso garante que os ajustes críticos não sejam alterados referência às malhas de controle, partindo das malhas mais
após a utilização de um cartão sobressalente. internas para as malhas mais externas. A resposta dinâmica
do sistema era observada com o auxílio de osciloscópios e
Os componentes instalados nos cartões eletrônicos da registradores de carta gráfica.
Westinghouse são de alta qualidade e precisão. A tolerância
dos resistores é de 1%. Nos casos mais críticos como o do A partir da observação dos resultados dos testes, os
Painel de Controle Automático de Espessura, foram utilizados potenciômetros dos módulos eletrônicos eram ajustados até
potenciômetros com contatos em ouro para minimizar a a obtenção de respostas aceitáveis para a dinâmica do sistema.
possibilidade de variações nos ajustes paramétricos.
A qualidade da valiosa documentação gerada a partir destes
No outro Rack, fica a eletrônica mais dedicada à aplicação procedimentos dependia muito da capacidade de organização
específica. No caso do acionamento da cadeira 4 há dois do engenheiro de campo.
Esta documentação tem valor inestimável para as futuras
atividades de verificação, manutenção e melhoria dos sistemas
de acionamento.

D. Segunda modernização
Em 1997 foi executada uma reforma geral através de uma
associação entre a Clecim (França) e a ABB (Suécia). O
objetivo principal foi o aumento de qualidade e produtividade.

Na parte mecânica foram introduzidos cilindros de aperto


hidráulico em todas as cadeiras de laminação em substituição
aos sistemas de parafusos mecânicos(screwdown). Foram
substituídas as caixas de redução dos acionamentos principais,
instalados sistemas de troca rápida dos cilindros de laminação,
Fig. 15. Conversores Digitais ABB - DCV700.
e outros inúmeros subsistemas.

No que se refere à parte elétrica do acionamento, foram O APC é programável através da linguagem proprietária
instalados novos motores de corrente contínua nas cadeiras 1, AMPL, enquanto que o DCV700 possui um firmware
2 e 3 e conversores digitais tiristorizados em todas elas. carregado pelo fabricante e é apenas parametrizável.

Controladores lógicos programáveis foram introduzidos A comunicação entre o controlador APC e o DCV700
para os seqüenciamentos e os cálculos necessários às se dá por meio de fibras óticas. Essa característica elimina
malhas de controle do processo. O controle de espessura a possibilidade de interferências eletromagnéticas, muito
e aperto hidráulico foram implementados em um hardware comuns em sistemas eletrônicos de potência.
microprocessado de tecnologia multibus, fornecido pela
Clecim (França). 1) Hardware de controle do DCV700: A placa de controle
SDCS-CON-1, vista na figura 16, consiste de um processador
Para o modelamento matemático e os cálculos de preset 80C186, com freqüência de clock de 16 MHz e um circuito
foi introduzido um servidor DEC Alpha, da empresa Digital. ASIC DC94L01. O programa de sistema e os parâmetros da
aplicação são carregados em Flash PROM.

A figura 9 mostra o laminador de tiras a frio com Durante a operação normal os parâmetros da aplicação são
a desenroladeira, as quatro cadeiras de laminação e a carregados em memória RAM estática com um capacitor de
enroladeira. 1 Faraday que mantém sua carga por no mínimo 8 (oito)
horas, tipicamente por vários dias.
E. Descrição do controle de acionamento microprocessado
A maioria das funções de medição e controle são executadas
Na modernização de 1997 todas as cadeiras de laminação no ASIC:
receberam conversores digitais ABB DCV700 em substituição - comunicação com o painel de controle e PC (RS485)
aos antigos conversores analógicos Westinghouse. - comunicação com a excitação do campo (RS485)
- medições
A série DCV700 é uma linha completa de conversores - função de watchdog
de corrente contínua destinados a alimentar e controlar - controle de conversões A/D e D/A
motores CC com excitação separada, em modo simples ou na - geração de pulso de gatilho para os SCRs
configuração multi-drive [1].
O APC faz a interface entre os níveis superiores de controle
O DCV700 oferece uma versão de software completa que e os conversores DCV700.
inclui aplicações de acionamento e controle de torque.
O DCV700 proporciona recursos para fornecer a corrente
Para aumentar a flexibilidade do hardware dos conversores, de excitação do campo do motor, de acordo com o tipo de
a ABB desenvolveu o APC (Application Controller), que é aplicação, através do hardware SDCS-FEX.
um controlador dedicado, capaz de controlar a lógica e a
referência de mais de um conversor DCV700. 2) Software de controle do DCV700: O DCV700 pode
ser controlado tanto por um controlador APC, quanto pelo
Fig. 17. Representação do software de controle de velocidade do DCV 700

de torque para permitir, por exemplo, a operação em


configuração mestre-escravo.

A malha de corrente de armadura é controlada por um


controlador do tipo PI. O controlador pode ser facilmente
sintonizado pelo recurso de "auto-sintonia".
A auto-sintonia é uma técnica de controle adaptativo na
qual os parâmetros do controlador são ajustados através de
uma malha externa a qual é composta de um estimador de
parâmetros recursivo e um calculador de parâmetros [6].
Essa operação é efetuada por um procedimento automático
de aprendizado, ativado na etapa de comissionamento do
sistema.

Quando é necessário um controle preciso de torque ou é


Fig. 16. Cartão Microprocessado SDCS-CON-1 ABB - DCV700
utilizada a função de enfraquecimento de campo, o controle
de força eletromotriz (EMF) ajusta a corrente de campo de
modo que a tensão de armadura permaneça no nível desejado.
software de comissionamento e manutenção, DDCTool,
baseado em PC. O usuário pode selecionar limites de corrente para o
controlador da armadura. É possível, também, reduzir
A lógica é implementada no software e permite manipular esse limite de corrente de armadura, proporcionalmente à
as funções necessárias para controlar o conversor como: velocidade.
seleção local/remoto, seqüências de partida e parada,
gerenciamento de falhas, parada de emergência, etc. Todos os parâmetros do conversor são armazenados em um
arquivo no PC onde está instalado o aplicativo DDC-Tools.
Para o perfeito controle do motor, o DCV700 mede Esse conjunto de dados documenta toda a configuração do
as variáveis: velocidade, corrente de armadura, corrente conversor.
de campo, tensão CC da armadura, tensão da rede CA e
temperatura do dissipador dos SCRs. O software do sistema verifica a condição da placa SDCS-
CON-1 (placa principal), mostrada na figura 16, sempre que
A velocidade do motor é controlada por um controle a alimentação é ligada. A placa também tem a função watch-
PID. O controlador é projetado de modo a ser facilmente dog que supervisiona a condição durante a operação. Para o
ajustado para diferentes ambientes, facilitando os trabalho de usuário há as funções: Fault logger, que armazena as últimas
comissionamento. 100 falhas, e a função data-logger, que tem 6 (seis) canais
com 1000 amostras. O menor tempo de amostragem é de 1 ms.
A figura 17 traz um diagrama da parte do software
referente ao controle de velocidade do motor. Apesar do O DCV700 possui 4 (quatro) links de comunicação:
software do DCV 700 não ser acessível ao usuário, é possível
configura-lo através de parâmetros para obter as mais diversas Link TC entre o DCV700 e o controlador APC
funcionalidades. Link DDCTool para a ferramenta de manutenção PC.
Link mestre-escravo entre os conversores
O APC pode controlar o DCV700 usando uma referência Link FEX para as unidades de excitação de campo.
laminador. Os trabalhos de comissionamento e start-up foram
executados em tempos muito reduzidos quando comparados
com os conversores antigos.

As características dos sistemas digitais trazem benefícios


de melhoria dos sistemas de proteção, tanto da eletrônica de
potência, quando dos motores e equipamentos acionados. Isso
tem especial significado quando se opera motores com preços
da ordem de US$ 1.000.000,00 cada.

Os sistemas digitais não possuem variações paramétricas


e, portanto não necessitam ajustes periódicos. Além disso
o alto MTBF minimiza as demandas sobre as equipes de
manutenção.

O mesmo hardware de controle do DCV700 que aciona


Fig. 18. Atual sala de automação do Laminador de Tiras a Frio
o motor da cadeira no 4 é utilizado, por exemplo, para
o acionamento da enroladeira. Isso reduz os custos de
imobilizado pela redução de variedades em estoque, além de
facilitar a gestão dos sobressalentes.
F. Comparação das tecnologias do caso analisado
Os conversores microprocessados da ABB são muito A transparência das funcionalidades e recursos dos controles
mais compactos que os seus antecessores analógicos. microprocessados facilita sobremaneira o treinamento das
É possível ter um conversor microprocessado completo, equipes técnicas.
incluindo a eletrônica de potência, em apenas um gabinete.
Os conversores antigos, em geral, ocupavam 3 (três) gabinetes.
VIII. C ONCLUSÕES
Após a modernização e implantação dos conversores di- No início do desenvolvimento dos conversores digitais
gitais, os resultados, em termos de controle de espessura, microprocessados já havia a noção dos benefícios que
embora não estejam quantificados aqui, tiveram uma melhora viriam, mas somente com o avanço da tecnologia de
expressiva. microprocessadores é que foi possível alcançar bons
Esses resultados já eram esperados, pois o controle de resultados.
espessura em laminação à frio está intimamente ligado à
precisão e resposta dinâmica do controle de velocidade das Do caso real da COSIPA foram claramente evidenciadas
cadeiras de laminação. as melhorias de desempenho, tanto no que se refere à
manutenção, quanto aos resultados operacionais.
A comunicação por meio de fibras óticas dispensa os
cuidados com o trajeto dos sinais de controle, diferentemente Desde o momento do comissionamento do equipamento
do caso analógico, onde eram necessários cabos coaxiais foram evidenciados os seus benefícios quando comparados
blindados e bandejamentos cabos de controle, também com os equipamentos de tecnologia analógica.
blindados.
Nos últimos anos está havendo uma migração do uso
Um grande diferencial para as equipes de manutenção, de motores de corrente contínua para a utilização de
com reflexo direto nos tempos de parada de produção, é a motores de corrente alternada acionados por inversores ou
facilidade de diagnóstico. O DCV 700 disponibiliza as suas cicloconversores. A principal vantagem, motivadora desta
principais variáveis e sinais de alarme e falha, na tela do mudança, é o menor custo de fabricação e de manutenção dos
sistema supervisório. Essa característica, além de permitir motores de corrente alternada. Porém, o grande responsável
a intervenção de equipes com menor nível de capacitação, pela viabilização de tais controles foi a evolução dos
direciona e agiliza a localização de falhas e a sua solução. microprocessadores.

É evidente, também, a melhoria das condições de trabalho, Os equipamentos industriais demandam extrema
como pode ser visto na figura 18, que mostra a atual sala de confiabilidade. Isso leva os projetistas a utilizarem arquiteturas
automação do laminador. e dispositivos consagrados, mesmo em detrimento do
desempenho, quando comparados às tecnologias ainda em
As facilidades do conversor microprocessado começaram a consolidação.
ser evidenciadas antes mesmo da retomada de produção do
Considerando que o DCV700 foi implantado no laminador
de tiras a frio, em 1997, com controle implementado com
um processador 80C186 de 16 MHz, na mesma época em
que foi desenvolvido o Pentium II, percebe-se a margem de
desenvolvimento latente dos equipamentos.

Com base nesta constatação, e na observação da demanda


crescente do mercado pela melhoria dos processos industri-
ais, podemos afirmar que a evolução contínua dos sistemas
microprocessados deverá manter a tendência de melhoria do
desempenho e de desenvolvimento dos recursos dos aciona-
mentos de motores, ainda por muito tempo.
R EFERENCES
[1] DCV 700 USER’s MANUAL - 3ADW 000 009 R0101.
Vasteras - Sweden: ABB, 1997
[2] C46H - Thyristor Power System - Instruction Book.
Buffalo - USA: Westinghouse Electric Corporation, 1971
[3] Kosnik, D.J. ; Webster, J. DC Drive Upgrade Project of a Seamless Tube
Mill. Iron & Steel Technology, v.1 n.5 pp. 241-247, 2006.
[4] Bose, B.K. Power Electronics and Variable Frequency Drives New
York: IEEE Press, 1996. p.640
[5] Garcia, C. Modelagem e Simulação.
São Paulo: EDUSP, 1997. 458p.
[6] ÅSTRÖM, K.J.; WITTENMARK, B. Adaptive Control
2nd ed. London: Pearson, 1995. 574p.
[7] Hill, J.R. ; Luo, F.L. Microprocessor Based Control of Steel Rolling Mill
Digital DC Drives. IEEE transactions on Power Electronics, v.4, n.2,
p.289-297, 1989.
[8] Lander, C.W. Eletrônica Industrial – Teoria e Aplicações.
São Paulo: McGraw-Hill, 1988. 428p.
[9] Bose, B.K. Microprocessor Control of Power Eletronics and Drives.
New York: IEEE Press, 1987. p.465
[10] Plant, J.B. ; Jorna,S.J. ; Chan, Y.T. Microprocessor Control of Position
or Speed of an SCR DC Motor Drive. Microprocessor and Microsys-
tems,v.10, n.10, p.543-552, dec-1986.
[11] Stojic, M.R. Design of the Microprocessor-Based Digital System for DC
Motor Speed Control. IEEE transactions on Industrial Electronics,v.
IE-31, n.3, p.243-248, 1984.
[12] Fitzgerald,A.E.; Kingsley,C.; Umans, S.D. Electric Machinery. 4th Ed.
New York: McGraw-Hill, 1983. 571p.
[13] Figini, G. Elettronica Industriale – Circuiti ed Applicazioni.
Italy-Milano: Editoriale Delfino, 1982. 336p.
[14] Wang, H.C. Sampling Period and Stability Analysis for the
Microcomputer-Based Motor Control Systems. IEEE transactions on
Industrial Electronics and Control Instrumentation,v. IECI-28, n.2,
p.98-102, 1981.
[15] Chan, Y.T. ; Chmiel, A.J. ; Plant, J.B. A microprocessor-Based Current
Controller for SCR-DC Motor Drives. IEEE transactions on Industrial
Electronics and Control Instrumentation,v. IECI-27, n.3, p.169-176,
1980.
[16] Krishnan, T. ; Ramaswami, B. Speed Control of D.C. Motor Using
Thyristor Dual Converter. IEEE transactions on Industrial Electronics
and Control Instrumentation,v. IECI-23, n.4, p.391-399, 1976.
[17] Maloney,T.J. ; Alvarado,F.L. A Digital method for DC Motor Speed
Control. IEEE transactions on Industrial Electronics and Control
Instrumentation,v. IECI-23, n.1, p.44-46, 1976.
[18] Connors,J.J. Electrical Hardware for Automation Machinery of Recent
Cold Mills. IEEE transactions on Industry Applications,v. IA-9, n.2,
p.158-164, 1973.

Você também pode gostar