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Resumo— Este trabalho pretende apresentar a evolução dos limitações dos microprocessadores (em relação a sistemas
conversores tiristorizados e a transição dos hardwares analógicos analógicos) para atender os requisitos de tempo real.
para os digitais. É apresentada a teoria dos conversores, com
No experimento foi utilizado o processador Motorola
ênfase nas restrições temporais e um histórico de uma aplicação
em um laminador de tiras a frio, no qual foram introduzidas M6802P com 1KB RAM e 8KB PROM.
modernizações. Como resultados experimentais, para a aplicação de um
degrau de referência de 50 rad/s, foi obtido um tempo de
I. I NTRODUÇÃO subida de 0,32 s e um sobre-sinal de 1,4 rad/s.
Até o advento do tiristor, em 1957, e a sua disponibilização O controlador de velocidade manteve uma regulação
comercial, entre 1960 e 1961, utilizavam-se dispositivos razoável durante a variação do torque na carga.
eletromagnéticos para o controle de velocidade de motores de
corrente contínua. A partir de então, houve uma aceleração Em 1981, Wang [14] publicou um artigo onde estuda o
no desenvolvimento dos sistemas de controle de acionamentos. período de amostragem e analisa a estabilidade em sistemas
de controle de motores baseados em microprocessadores, onde
Em meados da década de 1970, o desenvolvimento dos afirma:
microprocessadores deu um novo impulso no desenvolvimento "Quando um microprocessador é usado para implementar
dos sistemas industriais. um algoritmo de controle e monitorar a velocidade do motor
a taxa de amostragem e os parâmetros do controlador devem
O controle dos primeiros conversores tiristorizadas ser escolhidos de modo que o sistema de amostragem de dados
era implementado por circuitos analógicos, migrando seja estável".
posteriormente para sistemas digitais microprocessados, os Em suas considerações finais ele prevê, acertadamente,
quais abriram o horizonte de possibilidades [9]. que nas décadas seguintes o uso de microprocessadores em
sistemas de controle seria uma tendência, e que o projeto de
A observar pelo artigo "Electrical Hardware for Automation controles digitais se tornaria mais e mais importante.
Machinery of Recent Cold Mills" publicado por Connors [18]
em 1973, havia bastante criatividade para novas soluções,
porém, é perceptível que a implementação dos sistemas em Em 1984, Stojic [11] apresentou um método de alocação
hardware analógico impunha sérias restrições aos projetistas. de pólos para a síntese de um sistema de controle de veloci-
dade. Ele comenta sobre a utilização de sistemas digitais de
Em 1975, Maloney [17] propôs um sistema digital, ainda controle em aplicações com técnicas clássicas como PID, até
não microprocessado, para o controle de velocidade de um desenvolvimentos com a utilização de algoritmos de técnicas
motor de corrente contínua. O sistema proposto possuía modernas de controle.
requisitos inaceitáveis para a maioria das aplicações reais. Ele Ele já vislumbrava um campo amplo para o emprego de
operava com uma taxa de amostragem de um segundo e uma novas técnicas de controle que aguardavam o surgimento de
resolução de 5 rpm. Não dispunha de uma malha de controle recursos mais poderosos de hardware
de corrente, atuando diretamente sobre a tensão de armadura.
A integração do erro de velocidade era implementada por
contadores. O desenvolvimento de conversores tiristorizados
microprocessados tornou as unidades de controle de
velocidade mais baratas e mais compactas que as conhecidas
Em 1980, Chan [15], em seu artigo, sugere um sistema de até então. Os novos sistemas tiveram melhor resposta
controle da malha de corrente de acionamentos CC com SCRs. dinâmica que os seus predecessores.
No artigo ele propõe a utilização de tabelas e algorit-
mos com operações aritméticas simples para contornar as
II. O CIRCUITO DE POTÊNCIA DOS CONVERSORES
A. Tiristor
Tiristor é uma denominação genérica para um tipo de
semicondutor. Os conversores tiristorizados utilizam um
retificador controlado de silício, o SCR (Silicon Controlled
Rectifier), que é o tipo de tiristor mais conhecido.
T = kd φd ia (2)
O estator corresponde à parte fixa da máquina onde está o
circuito de campo. onde
A armadura corresponde à parte girante do motor, onde a
potência é alimentada. kd é a constante da máquina
φd é o fluxo magnético no estator
A figura 5 apresenta, de forma esquemática, o circuito de ia é a corrente do circuito de armadura
armadura que é percorrido pela corrente Ia e o circuito de
campo que é percorrido pela corrente If . Outra equação importante é aquela que relaciona a força
eletromotriz ea e a velocidade angular ωm , dada pela equação
Com relação à alimentação da corrente de campo, existem 3.
basicamente dois tipos de ligação: série e paralelo.
ea = kd φd ωm (3)
Na ligação série, o enrolamento de excitação do campo
é percorrido pela corrente de armadura, de modo que, à Por essa equação temos que, para uma corrente de campo
medida que a corrente de armadura aumenta, o fluxo do constante, a velocidade angular da máquina é proporcional à
campo também aumenta. Esta configuração é muito usual em força eletromotriz da armadura.
acionamentos de tração.
Dessas equações básicas é possível obter um modelo
No caso de acionamentos onde é necessário o controle dinâmico que, em conjunto com o modelo da planta,
de velocidade, utiliza-se a configuração de campo paralelo, permitem ao projetista desenvolver as estratégias de controle.
independentemente excitada. Isso significa que a corrente de
campo é fornecida por uma fonte independente daquela que
alimenta o circuito de armadura [12]. IV. O C ONTROLE DE V ELOCIDADE E C ORRENTE
Independentemente de qual tecnologia seja empregada,
O comutador é uma peça composta de laminas de cobre,
analógica ou digital microprocessada, os princípios físicos da
acoplada mecanicamente à armadura e tem a finalidade
planta, obviamente, não se alteram.
transmitir a corrente às bobinas de armadura e promover a
comutação entre as bobinas. O contato do circuito externo
A partir das equações da máquina CC e do sistema
com o comutador é efetuado por meio de escovas.
mecânico, é estabelecido um modelo da planta.
Para maiores detalhes pode ser consultada a referência [12]. Os controladores são desenvolvidos para, dentro das res-
trições existentes, proporcionar o controle mais adequado à
Para que não se perca um tempo desnecessário discorrendo planta.
sobre a teoria do motor de corrente contínua e considerando A figura 6 apresenta os elementos típicos de uma planta,
que este é bastante linear, passaremos diretamente às equações onde estão representados:
que descrevem o seu comportamento dinâmico.
Jc = inércia da carga,
Bc = o atrito viscoso da carga,
O circuito de campo possui bobinas que, quando percorridas Jm = a inércia do motor,
por uma corrente If , produzem um fluxo magnético φd . Bm = o atrito viscoso do motor,
O fluxo φd é uma função da corrente de campo If : Tm = torque produzido pelo motor,
φd = f (If ) (1) La = indutância do circuito de armadura,
Ra = resistência do circuito de armadura,
A relação entre If e φd é linear até determinado ponto, Ia = corrente do circuito de armadura,
onde começa a surgir o efeito a saturação do circuito Va = tensão fornecida pelo retificador.
ferromagnético. Por esse motivo, as equações das máquinas
CC se referenciam a φd e não apenas à corrente If aplicada. O modelo do acionamento, onde é aplicada uma referência
u(t) ao controle de pulsos do retificador, produzindo como
O conjugado eletromagnético T produzido pelo motor é saída a velocidade do acionamento ω(t), é representado no
dado pela equação 2. diagrama de blocos da figura 7.
Desta equação temos que, mantendo-se constante a corrente de
corrente de armadura.
4) Interface do Circuito de Potência: Essa função é 3) Capacidade para operações em Tempo Real: O controle
necessária para adaptar o software de controle e o hardware de sistemas eletrônicos de potência em tempo real requer
para as entradas do circuito de potência do conversor. recursos de interrupção, tempo de processamento, e entradas
e saídas de alta velocidade.
5) Funções auxiliares: .
O recurso de interrupção é necessário para sincronizar o
Indicação - As variáveis do sistema e sinais de alarme software de controle com os eventos internos e externos.
podem ser apresentados em LEDs, displays de cristal líquido,
ou telas. A latência de interrupção é definida como o tempo de
atraso entre a solicitação de interrupção e o início da rotina
Armazenamento - As variáveis de sistema podem de serviço. Ela deve ser a menor possível quando comparada
ser armazenadas em memória ou em um sistema de com a taxa de amostragem, para assegurar o determinismo
do controle. minimizados através de uma boa filtragem analógica ou digital.
DADOS DO MOTOR
Potência 2000 HP
Tensão 700 Volts
. Corrente 2300 Amperes
A. Inauguração
O laminador teve sua engenharia básica desenvolvida pela
"Kaiser/Bliss" (USA), a fabricação mecânica ficou a cargo
da "Societé des Forges et Atelier du Creusot" (França) e
a parte elétrica foi fornecida pela "Westinghouse Electric
Corporation" (USA).
O aperto dos cilindros era feito por meio de parafusos A figura 10 mostra um painel de controle de um retificador
mecânicos acionados por motores elétricos de corrente controlado Westinghouse, com reguladores de velocidade
contínua, e sistema de coroa e sem fim. Não havia sistemas e corrente analógicos. As funções são implementadas
para a medição da força de laminação. basicamente com resistores, capacitores, relês e amplificadores
operacionais.
Para a medição das tensões da tira de aço entre as cadeiras
de laminação haviam tensiômetros eletromecânicos. A etapa de potência, conceitualmente, não difere muito da
empregada nos retificadores digitais atuais a não ser pelo fato
destes últimos utilizarem SCRs de maior capacidade. Isso
B. Primeira modernização
evita a necessidade de paralelismo de SCRs para atingir a
Em 1973 ele sofreu a sua primeira modernização ele- corrente especificada.
tromecânica, onde teve o seu acionamento substituído por
conversores tiristorizados com controle analógico, e mantidos
os geradores existentes. C. Descrição do controle de acionamento analógico
O sistema de aperto por parafusos eletromecânicos também
foi mantido. A descrição que se segue corresponde àquela introduzida
após a primeira reforma, ocorrida em 1973 e executada
Ele recebeu mais uma cadeira de laminação (no 4) com pela Westinghouse, fornecedor original da parte elétrica do
acionamento direto na armadura do motor. A enroladeira laminador.
recebeu mais um motor para o aumento de sua potência
nominal. Era utilizado, na época, um sistema de acionamento
C-46H da Westinghouse, que fornecia 700 Volts, em corrente
Na mesma ocasião foi instalado um computador analógico contínua, com uma corrente de 3000 Amperes.
responsável pela regulação das tensões mecânicas dos vãos e
pelo controle automático de espessura. Em termos de conceitos de projeto, a Westinghouse
procurava, ao máximo, padronizar os sistemas e módulos
A reforma da parte elétrica foi executada pelo fabricante eletrônicos de modo a cobrir a maior gama de aplicações
original, Westinghouse. com a menor variedade de ítens de estoque.
Fig. 12. Diagrama simplificado do Regulador Básico.
D. Segunda modernização
Em 1997 foi executada uma reforma geral através de uma
associação entre a Clecim (França) e a ABB (Suécia). O
objetivo principal foi o aumento de qualidade e produtividade.
No que se refere à parte elétrica do acionamento, foram O APC é programável através da linguagem proprietária
instalados novos motores de corrente contínua nas cadeiras 1, AMPL, enquanto que o DCV700 possui um firmware
2 e 3 e conversores digitais tiristorizados em todas elas. carregado pelo fabricante e é apenas parametrizável.
Controladores lógicos programáveis foram introduzidos A comunicação entre o controlador APC e o DCV700
para os seqüenciamentos e os cálculos necessários às se dá por meio de fibras óticas. Essa característica elimina
malhas de controle do processo. O controle de espessura a possibilidade de interferências eletromagnéticas, muito
e aperto hidráulico foram implementados em um hardware comuns em sistemas eletrônicos de potência.
microprocessado de tecnologia multibus, fornecido pela
Clecim (França). 1) Hardware de controle do DCV700: A placa de controle
SDCS-CON-1, vista na figura 16, consiste de um processador
Para o modelamento matemático e os cálculos de preset 80C186, com freqüência de clock de 16 MHz e um circuito
foi introduzido um servidor DEC Alpha, da empresa Digital. ASIC DC94L01. O programa de sistema e os parâmetros da
aplicação são carregados em Flash PROM.
A figura 9 mostra o laminador de tiras a frio com Durante a operação normal os parâmetros da aplicação são
a desenroladeira, as quatro cadeiras de laminação e a carregados em memória RAM estática com um capacitor de
enroladeira. 1 Faraday que mantém sua carga por no mínimo 8 (oito)
horas, tipicamente por vários dias.
E. Descrição do controle de acionamento microprocessado
A maioria das funções de medição e controle são executadas
Na modernização de 1997 todas as cadeiras de laminação no ASIC:
receberam conversores digitais ABB DCV700 em substituição - comunicação com o painel de controle e PC (RS485)
aos antigos conversores analógicos Westinghouse. - comunicação com a excitação do campo (RS485)
- medições
A série DCV700 é uma linha completa de conversores - função de watchdog
de corrente contínua destinados a alimentar e controlar - controle de conversões A/D e D/A
motores CC com excitação separada, em modo simples ou na - geração de pulso de gatilho para os SCRs
configuração multi-drive [1].
O APC faz a interface entre os níveis superiores de controle
O DCV700 oferece uma versão de software completa que e os conversores DCV700.
inclui aplicações de acionamento e controle de torque.
O DCV700 proporciona recursos para fornecer a corrente
Para aumentar a flexibilidade do hardware dos conversores, de excitação do campo do motor, de acordo com o tipo de
a ABB desenvolveu o APC (Application Controller), que é aplicação, através do hardware SDCS-FEX.
um controlador dedicado, capaz de controlar a lógica e a
referência de mais de um conversor DCV700. 2) Software de controle do DCV700: O DCV700 pode
ser controlado tanto por um controlador APC, quanto pelo
Fig. 17. Representação do software de controle de velocidade do DCV 700
É evidente, também, a melhoria das condições de trabalho, Os equipamentos industriais demandam extrema
como pode ser visto na figura 18, que mostra a atual sala de confiabilidade. Isso leva os projetistas a utilizarem arquiteturas
automação do laminador. e dispositivos consagrados, mesmo em detrimento do
desempenho, quando comparados às tecnologias ainda em
As facilidades do conversor microprocessado começaram a consolidação.
ser evidenciadas antes mesmo da retomada de produção do
Considerando que o DCV700 foi implantado no laminador
de tiras a frio, em 1997, com controle implementado com
um processador 80C186 de 16 MHz, na mesma época em
que foi desenvolvido o Pentium II, percebe-se a margem de
desenvolvimento latente dos equipamentos.