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Esses exercícios foram preparados com o objetivo de rever alguns conceitos básicos do curso
de Morfossintaxe. Procurem resolvê-los por escrito e sanar eventuais dúvidas nas aulas
seguintes ou com a ajuda dos monitores. Releiam os textos relevantes.
2. Aponte os problemas que a suposta relação entre a função sintática de sujeito e o papel
temático de agente enfrenta perante os exemplos a seguir (se for o caso, reveja a definição
que vc propôs para sujeito acima).
a) O diretor abriu a porta.
b) Aquele professor adora chocolates.
c) Aquele livro agradou ao público feminino.
d) Começou a nova novela das 9.
e) Esse livro é lido principalmente por mulheres.
f) A porta abriu.
3. Cada um dos períodos abaixo, retirados dos jornais Destak e Metro, traz o predicador em
negrito. Destaque, entre colchetes, os argumentos selecionados por ele e os eventuais
adjuntos, utilizando os critérios acima. Classifique-os quanto à estrutura, papel temático e
função sintática.
Exemplos
[O desembargador] afirmou [que o Judiciário estadual não poderá fazer novas contratações
neste momento].
[que o Judiciário estadual não poderá fazer novas contratações neste momento] Estrutura:
oração – introduzida por conjunção integrante/complementizador “que”; função: objeto direto
(é selecionada pelo predicador verbal de primeira oração)
[Equipes formadas por mil militares das forças armadas e 200 da Força Nacional]
chegaram [ontem] [a Vitória] [para atuar no reforço da segurança pública].
[para atuar no reforço da segurança pública] Estrutura: oração reduzida de infinitivo;
função: adjunto adverbial (modifica o SV da primeira oração)
a. Deputado suspeita [do legado [que será deixado pelos Jogos Olímpicos]]
b. Comédia romântica chega aos cinemas [14 anos após o filme original, [que foi um
sucesso de bilheteria]]
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Proceda como no exercício anterior:
Observe o elemento que introduz as estruturas subordinadas que você destacou acima. Trata-
se de pronomes relativos. Eles retomam um antecedente nominal (daí o fato de serem
“pronomes”) e, por isso, exercem uma função na oração que introduzem. Outros pronomes e
advérbios relativos são “quem”, “o qual”, “cujo”, “onde”, “como”. Construa períodos em que
cada um desses relativos ocorra.
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EXERCÍCIOS DE SINTAXE – II – 2019.2
Relações de coordenação e subordinação entre orações
Depois de destacar cada estrutura oracional na canção PIVETE, observe se há dependência sintática
(isto é, subordinação) entre elas.
Zanza na sarjeta
Fatura uma besteira
PIVETE E tem as pernas tortas
Francis Hime - Chico Buarque - 1978 E se chama Mané
Arromba uma porta
Faz ligação direta
No sinal fechado Engata uma primeira
Ele vende chiclete E até
Capricha na flanela Dobra a Carioca, olerê
E se chama Pelé Desce a Frei Caneca, olará
Pinta na janela Se manda pra Tijuca
Batalha algum trocado Na contramão
Aponta um canivete Dança pára-lama
E até Já era pára-choque
Dobra a Carioca, olerê Agora ele se chama
Desce a Frei Caneca, olará Emersão
Se manda pra Tijuca Sobe no passeio, olerê
Sobe o Borel Pega no recreio, olará
Meio se maloca Não se liga em freio
Agita numa boca Nem direção
Descola uma mutuca
E um papel No sinal fechado
Sonha aquela mina, olerê Ele transa chiclete
Prancha, parafina, olará E se chama pivete
Dorme gente fina E pinta na janela
Acorda pinel Capricha na flanela
Descola uma bereta
Batalha na sarjeta
E tem as pernas tortas....
Faça o mesmo em relação aos dois excertos que seguem. As orações subordinadas exercem uma
função na sua principal (podem ser ou não selecionadas, como vimos nas páginas anteriores); são,
pois, sintaticamente dependentes.
Quadrilha
Trecho de Flor da Idade
Carlos Drummond de Andrade Chico Buarque
João amava Teresa que amava Raimundo
Carlos amava Dora que amava Lia que
que amava Maria que amava Joaquim que amava Léa que amava Paulo
amava Lili
Que amava Juca que amava Dora que amava
que não amava ninguém. Carlos que amava Dora
João foi para os Estados Unidos, Teresa
Que amava Rita que amava Dito que amava
para o convento, Rita que amava
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou
Carlos amava Dora que amava Pedro que
para tia, amava a filha
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J.
que amava Carlos que amava Dora que
Pinto Fernandes amava toda a quadrilha
que não tinha entrado na história
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EXERCÍCIOS DE SINTAXE – III – 2019.2
Relações de coordenação e subordinação entre orações
1. Separe cada oração e identifique a relação entre elas: (a) diga se essa relação é de
coordenação e/ou de subordinação; (b) neste último caso, observe a forma das orações
subordinadas – se são “desenvolvidas” (isto é, introduzidas por uma conjunção
(complementizador), um pronome relativo, pronome interrogativo ou se são “reduzidas” (de
infinitivo, de gerúndio ou de particípio); (b) se for subordinada, diga se é selecionada ou se
modifica um termo da principal e (c) dê a sua função sintática em relação à principal (se for
um argumento - sujeito, objeto direto, complemento oblíquo (relativo ou circunstancial),
complemento nominal; se for um modificador do SV (adjunto adverbial), do SN (adjunto
adnominal), do SD (aposto); se se tratar de coordenadas simples, indique apenas a relação
semântica entre elas.
2. Além da coordenação e subordinação (que vimos até aqui), uma outra forma de
organização das orações em períodos é a justaposição, processo em que a relação de
subordinação é clara, mas não é feita com um conector nem com uma estrutura reduzida.
Observe o período a seguir e aponte a principal e suas subordinadas, resgatando o conector.
Dê a função das subordinadas:
“Não participo, não promovo e jamais fui questionado sobre isso”, disse Temer.
4. As orações subordinadas que seguem têm uma característica comum: são interrogativas
indiretas. Diga qual o elemento que as introduz e qual a sua função na principal:
a. Não sei se a Maria virá.
b. Eu me pergunto quando a Maria virá.
c. Eu ignoro onde a Maria mora.
d. Eu não sei quem a Maria namora.
e. Ele perguntou o que a Maria faz.
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SISTEMA DE AUXILIARES – BREVE RESUMO
O SV é constituído de um núcleo verbal, que pode ser o predicador (como em 1a) ou um verbo de
ligação (como em 1b) e seus eventuais complementos e adjuntos:
(1) a. Meu amigo [ SV candidatou-se ao cargo no ano passado ].
b. Meu amigo [ SV será o presidente num futuro muito próximo.
Esses núcleos verbais podem se apresentar em forma simples, flexionando-se em tempo, modo,
número e pessoa, como acima, ou podem vir acompanhados de verbos auxiliares, como ter e ser, que
formam os tempos compostos e a voz passiva, além outros verbos que veiculam a noção de aspecto e
modalidade, mas não são responsáveis pela seleção de argumentos da oração. Como o próprio nome
diz, são auxiliares (ou semi-auxiliares). Na presença de auxiliares, os verbos principais não se flexionam
em tempo, modo, etc, aparecendo numa das três formas nominais: infinitivo, gerúndio e particípio. Se
a sentença é finita, cabe ao primeiro auxiliar carregar as desinências de tempo, modo, número e
pessoa.
Em (2), ilustramos os auxiliares “ter”, usado na formação dos tempos compostos, “ser”, que participa
da formação da voz passiva, e “ir”, que forma o futuro perifrástico:
(2) a. Eu tinha (havia) terminado a aula quando você chegou.
b. Ele é / foi/será homenageado pela população.
c. Ele vai se candidatar / Ele vai ser presidente.
O auxiliar “haver” se encontra em desuso na fala espontânea, mas costuma aparecer na fala
monitorada e na escrita “standard” (Eu havia terminado...). Este é um auxiliar considerado uma forma
arcaizante no português europeu, que parece ganhar espaço na escrita mais padronizada no Brasil.
A categoria “aspecto” introduz um valor durativo (cursivo, permansivo, frequentativo ou inceptivo: estar,
começar a...) ou ainda um valor pontual (conclusivo, cessativo):
(3) a. Ele estava trabalhando.
b. Ele continua a trabalhar.
c. Ele anda bebendo muito.
d. Ele tem bebido.
e. Ele começou a fumar muito cedo.
(4) a. Ele deixou de /parou de fumar.
Um outro auxiliar modal, que revela habilidade, capacidade é “saber” em frases como:
(7) a. Ele sabe / consegue nadar, falar inglês, montar qualquer quebra-cabeças.
Observe que os auxiliares podem co-ocorrer, sendo importante ter em mente que o último verbo da
sequência é o verbo principal da “locução verbal” e que ele pode ser um verbo pleno ou um verbo de
ligação:
(8) a. Ele poderia ter sido convidado para a festa.
b. Ela deve começar a escrever um novo romance em breve.
c. Ele continua a ser um grande amigo.
Nota: Outros recursos podem ser usados para exprimir essas categorias além dos verbos auxiliares. O
aspecto “durativo” pode ser expresso por um advérbio, como em “Ele ainda trabalha naquela empresa
(continua trabalhando); “Ele não fuma mais” (parou de fumar); a modalidade, por adjetivos: É capaz de
chover; É possível que ele venha.
Não se deve confundir uma locução verbal com dois verbos plenos contíguos com o mesmo sujeito:
(i) Ele prefere | trabalhar à noite. (Ele prefere / que a mulher trabalhe à noite)
(II) Ele quer / se mudar para Portugal (Ele quer / que a família se mude para Portugal)
Note que o sujeito da principal controla o sujeito da oração infinitiva nesses casos (estrutura de
“controle”, que já vimos em aula)
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FACULDADE DE LETRAS – UFRJ - SINTAXE DO PORTUGUÊS – Prova 1 – 2018.2
1. Nos períodos a seguir há uma principal, à qual se liga uma subordinada. Destaque-a, diga
se é selecionada ou não, como foi introduzida e aponte a função que exerce na sua principal.
(Trechos retirados dos Jornais Destak e Metro, de 20.09.2017 e 21.09.2017)
a. Polícia Civil tem informações de oito pessoas que aparecem em vídeo com armas na favela.
b. As forças armadas resistem a atuar em favelas e na rotina da cidade.
c. Pezão, que ainda não havia se pronunciado sobre a invasão, se manifestou.
d. Ele desautorizou qualquer ação da PM para evitar confrontos e morte de inocentes,
e. Não cabe à corte analisar, pelo menos por ora, a validade das gravações da JBS.
2. Leia com muita atenção o fragmento da crônica de Artur Xexéo (O Globo – Revista,
26/06/05). Todos os verbos estão grifados e cada estrutura oracional, destacada. Depois da
leitura, responda às questões de (a) a (e):
“É verdade / que o fato [de eu não ter visto o capítulo] não significa / que eu não saiba / o que
aconteceu. Outros e-mails fizeram questão / de me contar /que a jangada [que Sayid estava
construindo] pegou fogo, / que o autor do incêndio foi identificado /– ora, não criaram mais um
mistério? – /e / que os flashbacks se dedicaram ao passado do casal de coreanos. Mas [o que
mais me impressionou nessa história toda] foi o nível de profissionalismo atingido por
expectadores de seriados no Brasil. Ninguém se contenta / em acompanhar / o que acontece,
semanalmente, pela televisão. É preciso / navegar na Internet,/ colher histórias de bastidores,/
participar de grupos de discussão / e, principalmente, baixar os episódios / antes que eles
sejam transmitidos aqui. Exagero, não é não?”
(a) Aponte a oração principal a que se liga a oração subordinada “de me contar” (linha 2); diga
se essa subordinada é ou não selecionada, qual a sua estrutura e sua função na principal.
(b) A mesma oração “de me contar” seleciona um complemento. Mostre como esse
complemento aparece no trecho; indique sua forma e sua função sintática.
(c) O trecho apresenta uma oração que não está sintaticamente ligada ao período em que se
insere, usualmente referida como “estrutura parentética”. Qual é essa oração?
(e) Destaque as orações selecionadas pelo predicador adjetival “preciso” na linha 7; diga
qual a forma dessas orações e a função que exercem na sua principal.
(f) A oração “antes que eles sejam transmitidos aqui” (última linha) é selecionada ou é um
adjunto? Justifique sua resposta.
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Sugestões de respostas à Prova 1 de 2018.2
1(a) A oração subordinada é [que aparecem em vídeo com armas na favela]; não é
selecionada, foi introduzida pelo pronome relativo “que”, modifica o N “pessoas” (contribuindo
para a construção de sua referência) e tem, portanto, a função de adjunto adnominal.
1 (b) A oração subordinada é [a atuar em favelas e na rotina da cidade]; é reduzida de infinitivo,
é selecionada pelo predicador verbal “resistem” e tem a função de complemento oblíquo.
1 (c) A oração subordinada é [que ainda não havia se pronunciado sobre a invasão]; não é
selecionada, foi introduzida pelo pronome relativo “que”, modifica o SD [Pezão] (que já tem
sua referência construída), funcionando, pois, como um aposto.
1. (d) A oração subordinada é [para evitar confrontos e morte de inocentes]; não é
selecionada, é reduzida de infinitivo, modifica o SV “desautorizou qualquer ação da PM”,
funcionando como adjunto adverbial (de finalidade)
1. (e) A oração subordinada é [analisar, pelo menos por ora, a validade das gravações da
JBS]; é reduzida de infinitivo, selecionada pelo predicador verbal “(não) cabe”, e tem a função
sintática de sujeito.
2 (f) A oração [antes que eles sejam transmitidos aqui] não é selecionada; ela modifica o SV
da oração precedente “principalmente baixar os episódios”; sua função é de adjunto adverbial
(de tempo)
3. No período que segue temos três orações:
Mais de 200 pessoas morreram em forte terremoto, na terça (19);/ ao menos 21crianças foram
vítimas em escola [que desabou]
As duas primeiras orações são coordenadas porque não exercem função uma na outra; por
isso dizemos que são sintaticamente independentes uma da outra. A terceira oração, [que
desabou], introduzida pelo pronome relativo “que”, modifica o N “escola” (seu antecedente),
que se encontra na segunda oração; tem, portanto, uma função nessa oração, a de adjunto
adnominal. Trata-se de uma construção de subordinação, em que uma oração subordinada
exerce uma função na sua principal. Por isso dizemos que elas são sintaticamente
dependentes uma da outra.
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FACULDADE DE LETRAS – UFRJ - SINTAXE DO PORTUGUÊS – Prova 1 – 2018.1
1. Nos períodos a seguir há uma principal, à qual se liga uma subordinada. Destaque-a, diga se é
reduzida ou desenvolvida (qual a sua estrutura), se é selecionada ou não, e aponte a função que exerce
na sua principal. (Trechos retirados do Jornal Destak de 27.04.18)
a. O senador Aécio Neves prestou depoimento ontem à Polícia Federal em Brasília, dentro do
inquérito que investiga as obras da usina de Santo Antônio, no Estado de Goiás.
b. O senador tucano é investigado por suspeita de ter recebido propina da Construtora
Andrade Gutierrez.
c. O senador teria recebido propina para beneficiar empresas na construção da usina.
d. Os delatores afirmaram em seu depoimento que as contribuições feitas às campanhas do
senador nunca estiveram veiculadas a qualquer contrapartida.
e. O tucano foi citado em delação premiada de Sérgio Andrade, dono da construtora, que
tratou pessoalmente dos pagamentos.
(a) Aponte a oração subordinada ao predicador “sugerir” (linha 1): diga como é introduzida, se
é ou não selecionada e qual a sua função na principal.
(b) A subordinada apontada na questão (a) está modificada por duas orações. Aponte-as, diga
como são introduzidas e dê sua função na sua principal.
(c) Aponte a principal de “para prospectar o solo brasileiro em busca de sinais de petróleo”;
diga a estrutura (forma dessa subordinada) e sua função na principal.
(d) O trecho apresenta uma oração que não está sintaticamente ligada ao período em que se
insere, usualmente referida como “estrutura parentética”. Qual é essa oração e o que ela
representa no texto?
(e) A subordinação entre orações pode ser feita sem marcas explícitas, processo em que a
subordinação é clara, mas não é feita com um conector nem com uma estrutura reduzida.
Destaque no trecho uma estrutura “justaposta”. Aponte a principal e dê a função da
subordinada.
(f) Aponte as subordinadas à oração “Link ficou como padroeiro do todos” (linha 8); diga como
são introduzidas e dê sua função na sua principal.
3. Construa uma oração subordinada que funcione como argumento ou modificador de um constituinte
da principal (diga qual a função de cada oração que você construir; se ela for um modificador de SV,
será um adjunto adverbial; se for um modificador do N, será um adjunto adnominal; se modificar todo
o SD, será um aposto):
2(a) A oração subordinada a “sugerir” é [que dessem o nome “Link” a alguma plataforma ou
outra instalação da companhia em homenagem ao geólogo americano, Walter (era Walter?)
Link], é introduzida pelo complementizador “eu” e funciona como objeto direto.
2(b) As duas orações são [que foi contratado pelo governo...] e [que concluiu com um
categórico “esqueçam”]. São introduzidas por um pronome relativo, modificam o SD “o
geólogo americano, Walter Link”, funcionando como aposto. Estão coordenadas entre si pelo
conector “e”.
2(c) A sua principal é [que foi contratado pelo governo]. A subordinada é reduzida de infinitivo
e modifica todo o SV de sua principal “que foi contratado pelo governo”, funcionando como
adjunto adverbial.
2(d) A estrutura parentética é “era Walter?”. Ela revela uma dúvida do autor quanto ao primeiro
nome do geólogo. Tal estrutura é inserida como um comentário; daí seu rótulo de estrutura
parentética (que pode aparecer entre parênteses, como no texto, ou entre travessões, por
exemplo).
2(e) A estrutura é “Não havia petróleo no Brasil, / disse Mr. Link”. Embora sem estar reduzida
ou sem ser introduzida por uma conector subordinativo, podemos distinguir a principal “disse
Mr. Link”, cujo predicador verbal seleciona um complemento “não havia petróleo no Brasil”,
com a função de objeto direto. Trata-se de uma estrutura no discurso indireto livre (Mr. Link
disse que não havia petróleo no Brasil; como a subordinada antecede a principal, a omissão
do complementizador é possível).
2(f) As subordinadas são [que não acreditaram na Petrobras] ou [(que) a combateram]. São
introduzidas pelo pronome relativo “que” e modificam o N “todos”, construindo sua referência.
Funcionam como adjunto adnominal. Estão coordenadas entre si pelo conector coordenativo
“ou”.
A tese [de que ele já viera instruído / a não encontrar nada / para sabotar a Petrobras ] é
atraente, / mas parece / que o americano palpitou / que, [ se houvesse petróleo por aqui ]
seria no mar,/ onde está mesmo a maior parte.
.
3. a não encontrar nada
.
4. para sabotar a Petrobras
.mas
.
5.parece
O Estudo Dirigido que segue começa a sistematizar os quadros das orações, comparando a
classificação de Rocha Lima (tradicional) com as propostas mais recentes. Às vezes será
necessário resgatar classificações que eram contempladas por alguns dos gramáticos
tradicionais, como Celso Cunha e Celso pedro Luft, no que se refere, por exemplo, às orações
subordinadas com a função de adjunto adnominal introduzidas pelo complementizador que,
uma função que foi completamente abandonada após a simplificação da NGB e que retorna
na Gramática de raposo et al (2013), como vocês verão a seguir.
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FACULDADE DE LETRAS – UFRJ - SINTAXE DO PORTUGUÊS
Para exercitar, aqui vai uma sugestão do nosso monitor de sintaxe, Josué Gabriel. Digam qual é
a estrutura subordinada mais recorrente no texto e aponte as únicas que fogem a esse padrão.
O Único Animal
Veríssimo, Luis Fernando. O Marido do doutor Pompeu. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 1987. p.
7-8 (Fragmento)
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ESTUDO DIRIGIDO DE SINTAXE – I
Este estudo dirigido tem como objetivo comparar os critérios que orientam a tradição
gramatical e os quadros teóricos mais recentes na classificação das orações subordinadas
introduzidas prototipicamente pela conjunção subordinativa integrante “que”. A tradição
gramatical leva em conta um critério morfossintático ao rotular essas orações como
substantivas – exercem funções sintáticas que o substantivo pode exercer, enquanto
teorias mais recentes utilizam um critério sintático-semântico: partem do predicador e
buscam os argumentos selecionados e eventuais modificadores (elementos não
selecionados. As orações são nomeadas levando em conta o elemento que as introduz:
subordinadas completivas (introduzidas pelo complementizador “que”). Como vocês verão, a
diferença está justamente na perspectiva teórica que orienta cada quadro. Como vimos em
aula, a tradição gramatical incluía uma oração subordinada substantiva com a função de
adjunto adnominal. Com a simplificação da NGB, essa função desaparece. (Já conversamos
sobre o porquê de seu desaparecimento e como ela é ressuscitada nos quadros atuais.)
Indique a função que as subordinadas nos exemplos a seguir exercem na sua principal e, em
seguida, dê o seu rótulo tradicional e atual:
Vimos que, na tradição gramatical, alguns autores incluem entre as orações subordinadas
“substantivas”, introduzidas pela conjunção integrante “que”, as que modificam um nome,
tendo, assim, a função de adjunto adnominal. Entre esses gramáticos estão Celso Cunha e
Celso Pedro Luft. Entretanto, na simplificação da NGB e na maioria das gramáticas
tradicionais, esse tipo de subordinada desaparece. É inegável, porém, que as subordinadas
em (7) se distinguem das subordinadas em (8):
(7) a. [A impressão [de que se trata mesmo de uma toca forrada de livros] ] é muito forte
b. Discutimos [a possibilidade[de que todos pudessem conseguir um trabalho] ].
(8) a. Nasceu aí [o boato [de que a rainha sofria de uma temível doença chamada Dança
de São Beltrão]].
b. Ouvimos [a notícia [ de que o metrô vai chegar ao Fundão] ].
Em gramáticas recentes, elaboradas com base em teorias linguísticas diversas, essa distinção
nem sempre é feita, o que ocorre com a gramática de Mateus et al. que consideram tanto as
estruturas em (7) quanto as estruturas em (8) como completivas de nomes. A antiga
distinção, é, entretanto, resgatada na Gramática do Português (Raposo et al. 2013, Cap. 36,
pp 1879-1881, de autoria de Pilar Barbosa). Segundo a autora:
“As orações dependentes de nomes podem ser de dois tipos diferentes: completivas e
especificativas. As primeiras funcionam como argumentos selecionados pelo nome,
portanto, complementos com o mesmo estatuto dos complementos dos verbos ou dos
adjetivos; as segundas funcionam como modificadores”.
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Consideremos os exemplos apresentados pela autora para fundamentar essa distinção:
(9) a. [A luta [por que se fizesse justiça]] acabou por dar seus frutos.
b. A criança tem [pena [de que os pais não estejam presentes]].
c. Ela manifestou [ interesse [em que a fossem visitar]].
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Uma evidência adicional a favor da classificação das orações em (10) como especificativas
(ou adjuntivas adnominais) nos vem da possibilidade de elas poderem de se intercambiar
com orações introduzidas por um pronome relativo, naturalmente, mantendo a mesma função
sintática de adjunto adnominal:
(12) a. Nasceu aí [o boato [ segundo o qual a rainha sofria de uma temível doença...].]
b. Ouvimos [a notícia [ segundo a qual o metrô vai chegar ao Fundão] ].
Para completar o quadro das orações com a função de objeto direto e aposto, é necessário
acrescentar ainda dois tipos de construções:
a) as orações interrogativas indiretas, sempre com a função de objeto direto. Elas que
podem ser globais (ou totais), quando introduzidas pela conjunção
integrante/complementizador se), como em (13), ou parciais, se introduzidas por um pronome
ou advérbio interrogativo, como em (22):
(13) a. Não sei [se o Brasil vai se sair bem na Copa]. (O Brasil vai se sair bem na Copa?)
b. Eu me pergunto [se a Baía de Guanabara algum um dia ficará despoluída]. (A Baía
de Guanabara algum dia ficará despoluída?)
Atente para o fato de que as subordinadas destacadas é que são as interrogativas “indiretas”.
A interrogação pode recair sobre a oração principal e neste caso o que teremos é uma
interrogativa direta:
b) as orações justapostas
Dois tipos de orações subordinadas podem aparecer sem qualquer marca de subordinação:
não estão reduzidas nem introduzidas por complementizador ou pronome interrogativo. Esse
tipo de organização é conhecido como justaposição. Veja em (24) períodos com orações
subordinadas justapostas.
Olhando para a estrutura de cada principal, você verá que os predicadores de (16a,b)
selecionam um argumento interno, que corresponde às orações subordinadas, com a função
de objeto direto. A principal de (16c) tem sua estrutura argumental satisfeita; a subordinada
apenas explicita o conteúdo da declaração, que é única, tendo, pois, sua referência construída
e funciona como aposto da principal.
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Observem, nos dados a seguir, retirados de jornal carioca, que estruturas diferentes podem
exercer a mesma função – neste caso, orações introduzidas pelo pronome relativo “o qual” e
pelo complementizador “que”, podem funcionar como adjunto adnominal e como aposto.
Tanto que tenho um pacto com um amigo (por motivos óbvios, parente não faz esse tipo de
acerto), segundo o qual, o último a sair apaga a luz , ou seja, desliga os tubos do outro, se
for preciso. (Zuenir Ventura, 23.01.2013)
Estava errada a informação segundo a qual o juiz italiano Giovanni Falcone, explodido pela
Máfia, comandou a Operação Mãos Limpas da Itália . (Elio Gaspari, 09.08.2015)
Vem daí a frase segundo a qual, num país tão desigual quanto o Brasil, Getúlio sempre
derrotará o brigadeiro . (Merval Pereira, 28.09.2018)
Pode ser verdadeira a história segundo a qual Tancredo pediu para conversar com Costa
Machado, a quem queria colocar no governo. (Elio Gaspari, 27.01.19)
Nomeando-o comandante das tropas que guerreavam no Paraguai, alimentou a nociva intriga
política segundo a qual a Coroa tentava obscurecer a figura do Marquês de Caxias, seu
antecessor. (Elio Gaspari, O Globo, 17.02.19)
É a velha lenda segundo a qual grandes ministros são capazes de controlar presidentes .
(Elio Gaspari, 03.3.2019)
Desde que os franceses vieram pegar pau-brasil e papagaios na costa da Terra de Santa
Cruz, o ufanismo nacional cultiva a ideia segundo a qual os estrangeiros querem vir para cá
. (Elio Gaspari, 07/04/2019)
O projeto pretende enfrentar uma guerra de narrativas em que se defende a tese de que 65
anos de idade mínima é excessivo. (Merval Pereira, 22.02.2019)
Queria desfazer os boatos de que estaria desgastado com o presidente devido a denúncias
de uso indevido de verbas propagandísticas durante a eleição. (Merval Pereira, 22.02.2019)
Existe uma diretriz, chamada CATCH-22, segundo a qual só uma pessoa anormal não
enlouqueceria com a perspectiva da morte quase certa . (Veríssimo, 22. 08.2019)
A ideia segundo a qual os ministros são sábios que sabem fazer contas é uma lenda urbana.
(Elio Gaspari, 18.09.2019)
Faz pouco sentido que se propague a ideia de que existe uma rede pivada top, plus, star ou
d’argent, contrapondo-se à dos hospitais públicos. (Elio Gaspari, 22.09.2019)
Recebeu péssimas notícias, entre elas a de que ocupa o penúltimo lugar num ranking de 17
empresas do mesmo setor. (Lauro Jardim, 13.10.2019)
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A SINTAXE DO PORTUGUÊS
Eu não fui à primeira edição do Rock in Rio. Sim, é verdade. Vexame supremo para a geração
de cariocas que adentraram a juventude nos anos 1980. Perdi o “Rock in Rio, a origem”. Não
assisti ao longa que deu origem à série. Tinha 15 anos e nenhum dinheiro naquele início de
1985.
...
Mas como são misteriosos os caminhos, não da amizade, como eternizou em verso Vinícius
de Moraes, mas do cérebro, esse gaiato que nos acompanha. De súbito vem a lembrança.
Fui, sim. Engrossei o 1,38 milhão de espectadores dos dez dias de festival.
...
Perdi a voz de tanto berrar “Love of my life” a um Freddie Mercury descamisado, legging
branca e faixa vermelha a abraçar-lhe a cintura. Ajudei a ressuscitar a carreira de James
Taylor, fazendo coro de “You’ve got a friend. Celebrei a Nova República, cantando com
Cazuza e Barão Vermelho “Pro dia nascer feliz”, pela eleição (indireta) do presidente
Tancredo Neves, o primeiro civil após mais de duas décadas de ditadura, sem saber que ele
jamais adentraria o Palácio do Planalto.
Eu não estava lá. Mas me lembro. De tanto ouvir histórias, ouvir gravações, assistir aos
vídeos, sei de cor o Rock in Rio. Obra do cérebro, explica o professor Ivan Izquierdo, diretor
do Centro de Memória da PUC-RS. O fenômeno, completa, tem até nome: memória falsa.
Não tem diagnóstico porque não está relacionado a uma patologia. É situação comum, que
avança junto com a idade. O neurocientista, nascido na Argentina e radicado no Brasil há
quase meio século, é dos mais importantes cientistas do país. “Todos estamos cheios de
memórias fictícias; não é nenhum sintoma de nada. É um fenômeno muito humano. Ou talvez,
muito animal”, comenta.
A sensação de ter vivido, encarnado a experiência alheia tem a ver com os mecanismos de
fixação das memórias. Elas se gravam ao mesmo tempo no hipocampo (estrutura dentro do
lobo temporal) e em várias regiões do córtex cerebral. A cópia guardada no hipocampo, ensina
o mestre, é a principal, a que reconhecemos como nossa. Os demais registros estão sujeitos
a mudanças. ... “Quanto mais vivemos, mais memórias falsas acumulamos”, sentencia
Izquierdo.
Estão explicadas as lembranças tão reais do primeiro Rock in Rio, ao qual não compareci,
mas registrei. E resolvidos tantos outros mistérios da vida brasileira. É provável que resida aí
também o milagre do Maracanazo. Só o maroto cérebro seria capaz de transformar em
milhões os 200 mil protagonistas do silêncio absoluto após o gol de Ghiggia, que deu ao
Uruguai a Copa de 1950. Ainda hoje, eu fecho os olhos e ouço.
Flávia Oliveira, O Globo, 13.09.2015
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Exercícios – Completivas e Relativas
Dando continuação ao exercício da última aula, retire todas as completivas e relativas
do trechos a seguir, aponte a que subordinada cada uma está ligada, indique sua
estrutura e função. Apenas depois disso, consultando nosso texto-base e o estudo dirigido,
dê sua classificação usando seu “rótulo”, segundo a tradição e propostas teóricas mais
recentes.
Gabriel Garcia Marquez dizia / que a grande luta e a melhor tática [de quem escreve ] é / usar
de todos os meios / para hipnotizar o leitor com o ritmo das frases e a sonoridade das palavras
– e / levá-lo ao próximo parágrafo. (Nelson Mota, 8.8.2014).
O senador Pedro Simon foi o último brasileiro a acreditar na lógica. (...) E, depois que até o
senador Simon abandonou a lógica, parece que caímos no reino do ilógico. É ilógico pensar
que estamos em meio a um golpe conservador contra um governo, que, mais do que o
anterior, faz a alegria da classe rentista. (Veríssimo, 23.06.2005) (que faz mais a alegria da
classe rentista / do que o anterior (fazia))
Convenceram-se / (de) que (a rainha) estava louca / quando ela anunciou / que havia alguma
coisa / crescendo na sua nuca, algo / que começara a vida como um cravo / e crescia sob os
seus cabelos. Nasceu aí o boato / de que a rainha sofria de uma temível doença chamada
Dança de São Beltrão, /que fazia / as pessoas mexerem os ombros/ e / sacudirem a cabeça /
sem parar, / e / devia seu nome a um desafortunado monge / que continuara a mexer os
ombros / e / sacudir a cabeça mesmo depois de morto. (Veríssimo, 24.06.2001)
Invejo / quem pode comer doce,/ quem consegue dormir em avião, /quem fala bonito, /quem
tem neto, / quem sabe programar o timer. Invejo aqueles /que têm certeza,/ que têm fé /e /que
têm cabelo.
Quem já deu autógrafos / ou costuma pedi-los / tem curiosidades /para contar. (...) Há os
autografantes / que escrevem “Um abraço” e o nome e pronto/, e há os / que se sentem
obrigados /a fazer dedicatórias diferentes e personalizadas para cada um. O que é ótimo /
para quem pede o autógrafo, /mas (é) ruim / para quem está na fila /e precisa esperar / até
que a inspiração chegue ao autor. Sei de gente que considera mais fácil escrever um livro
do que escrever boas ou originais dedicatórias no livro. Sou destes. A verdade é /que
minha experiência [ dando autógrafos] é de pânico constante. E, [porque sei /que isto é fatal,
/ fatalmente acontece. Não adianta /recorrer a estratagemas insanos, só explicáveis pelo
desespero. (Veríssimo, O Globo, 06.12.2007)
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