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EXERCÍCIOS DE SINTAXE – I – 2019.

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Esses exercícios foram preparados com o objetivo de rever alguns conceitos básicos do curso
de Morfossintaxe. Procurem resolvê-los por escrito e sanar eventuais dúvidas nas aulas
seguintes ou com a ajuda dos monitores. Releiam os textos relevantes.

Sobre o sujeito – função sintática/papel temático/classificação


1. Discuta a definição tradicional de sujeito (que você poderá buscar em uma gramática),
levando em conta os dados abaixo, extraídos do Projeto NURC (Norma Urbana Culta),
Proponha uma nova definição.

a) [Cada elemento, cada nódulo ... ele possui o seu conjunto.]


b) [E carne, aqui em casa nós fazemos de várias formas.]
c) [Olinda ninguém mora.] Ninguém diz é lá que eu moro não diz é lá que eu pernoito.
d) [Drama, já basta a vida.]
e) [Filme, eu gosto mais de comédia.]
A partir do confronto entre o conceito e sua aplicabilidade na identificação do sujeito,
proponha uma definição de sujeito, que leve em conta critérios sintáticos e semânticos.

2. Aponte os problemas que a suposta relação entre a função sintática de sujeito e o papel
temático de agente enfrenta perante os exemplos a seguir (se for o caso, reveja a definição
que vc propôs para sujeito acima).
a) O diretor abriu a porta.
b) Aquele professor adora chocolates.
c) Aquele livro agradou ao público feminino.
d) Começou a nova novela das 9.
e) Esse livro é lido principalmente por mulheres.
f) A porta abriu.

Sobre a noção de constituintes – Revendo critérios de identificação, estrutura e função


sintática
Para identificar os constituintes de uma sentença, podemos usar um dos critérios a seguir (cf.
Negrão e Viotti):
a) A topicalização do constituinte
b) A clivagem do constituinte (focalizar o constituinte com “é que”)
c) Alteração na ordem do constituinte
d) Utilização de interrogativas parciais que tenham o constituinte como resposta (fragmentos
de sentença)
e) Pronominalização do constituinte

3. Cada um dos períodos abaixo, retirados dos jornais Destak e Metro, traz o predicador em
negrito. Destaque, entre colchetes, os argumentos selecionados por ele e os eventuais
adjuntos, utilizando os critérios acima. Classifique-os quanto à estrutura, papel temático e
função sintática.

Exemplo: OMS decreta emergência mundial devido ao Zica


[OMS] decreta [emergência mundial] [devido ao zika]
O Predicador verbal grifado seleciona dois argumentos:
[SD OMS] - SD (estrutura: Sintagma Determinante; papel temático: agente; função:
sujeito
[SD emergência mundial] - SD, tema, objeto direto
[SP devido ao zika] - SP, causa, adjunto adverbial

a. TV paga exibe amanhã, às 22h, o humor ácido do filme TED


b. Pianista Herbie Hancock leva jazz moderno ao Citybank
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c. CPI dos ônibus fica dois dias suspensa.
d. Houve confusão na primeira audiência pública ontem.
e. Após massacre na Síria, pressão por intervenção militar cresce.
f. Juiz suspende prazo para as alegações da Odebrecht.
g. Prefeitura cadastra donos de quiosques na Vila Kennedy.
h. Tite, treinador da seleção, convoca jogadores para últimos testes antes da Copa
i. Alta dos preços deixa população preocupada.
j. Tite faz hoje penúltima convocação antes da Copa.
k. Confira mitos e verdades sobre a condição de inadimplente.
l. Consumo de energia deve cair de novo neste ano.
m. Novos incentivos fiscais devem ser suspensos.

4. Construa sentenças com os predicados a seguir, procedendo da mesma maneira que em


(3):
a. oferecer
b. considerar
c. suspeito
d. prejudicial
e. um escândalo
f. professor de física

5. Nos períodos a seguir, há um constituinte em forma de oração. Proceda como no


exercício (3) e aponte a função de todos os constituintes, incluindo os oracionais:

Observação: as orações selecionadas (argumentos) ou não selecionadas (modificadoras) são


introduzidas por conjunções, certos pronomes – que veremos depois - ou vêm reduzidas, isto
é, com o verbo no infinitivo, gerúndio e, mais raramente, no particípio. Distinga as
selecionadas (argumentais) e as não selecionadas (adjuntos).

Exemplos
[O desembargador] afirmou [que o Judiciário estadual não poderá fazer novas contratações
neste momento].
[que o Judiciário estadual não poderá fazer novas contratações neste momento] Estrutura:
oração – introduzida por conjunção integrante/complementizador “que”; função: objeto direto
(é selecionada pelo predicador verbal de primeira oração)

[Equipes formadas por mil militares das forças armadas e 200 da Força Nacional]
chegaram [ontem] [a Vitória] [para atuar no reforço da segurança pública].
[para atuar no reforço da segurança pública] Estrutura: oração reduzida de infinitivo;
função: adjunto adverbial (modifica o SV da primeira oração)

a. Partidos relutam [em recompor base aliada]


b. Petista acusa pediatra [de negar atendimento]
c. Pediatra é acusada [de negar assistência a bebê de ex-secretária petista]
d. CGU exige [que empresas devolvam lucro com corrupção na Petrobrás]
e. “Zoom” alterna formatos [para contar três histórias]
f. Pedro Ernesto pode fechar em junho [se não receber recursos]
g. Planalto encontra [dificuldades [para atrair novos aliados]]
h. PMs dizem [ter recusado R$100 mil de traficantes]

6. As estruturas oracionais destacadas a seguir modificam um SN ou um SD subordinado ao


predicador grifado. Diga qual é esse SN ou SD, dê sua função bem como a função da oração
destacada, que é parte do SD (mostre isso, através dos testes de constituintes):

a. Deputado suspeita [do legado [que será deixado pelos Jogos Olímpicos]]
b. Comédia romântica chega aos cinemas [14 anos após o filme original, [que foi um
sucesso de bilheteria]]
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Proceda como no exercício anterior:

c. Polícia civil busca [bandido [que escapou de tiros de PM.]]


d. Aos 55 anos de carreira, Marco Nanini estreia ‘Ubu Rei’,[ texto francês [que inspirou
entre outros o teatro do absurdo.]]
e. ‘Ubu Rei’ mostra a saga [do covarde Pai Ubu, [que usurpa a Coroa Real, e, [(que) ao
lado da mãe Ubu, vive uma busca voraz pelo poder.]]
f. É [uma peça [que mudou completamente o panorama teatral do mundo], [(que) rompeu
com uma série de elementos teatrais antigos[ e [(que) inspirou o surrealismo, o Teatro
do Absurdo, entre outros movimentos.]
g. Segundo a Caixa, [4,8 milhões de pessoas, [que pediram demissão] ou [que foram
demitidas por justa causa até 31 de dezembro de 2015]], podem sacar o saldo da
conta.

Observe o elemento que introduz as estruturas subordinadas que você destacou acima. Trata-
se de pronomes relativos. Eles retomam um antecedente nominal (daí o fato de serem
“pronomes”) e, por isso, exercem uma função na oração que introduzem. Outros pronomes e
advérbios relativos são “quem”, “o qual”, “cujo”, “onde”, “como”. Construa períodos em que
cada um desses relativos ocorra.

7. Nos períodos em e, f, g acima as relações entre as orações revelam dependência sintática


(isto é, uma oração exerce função em outra, modificando um constituinte) bem como
independência sintática (isto é, orações que não exercem função entre si). Ilustre os dois
processos de organização das orações nos períodos. Observe em seguida os períodos
abaixo, destaque as estruturas oracionais e diga que tipo de organização elas apresentam:

a. Segundo o IBGE, em janeiro houve alta de 1,4% na indústria, na comparação com


o mesmo mês de 2016; no ano passado, houve retração de 6,6%.
b. Barça faz 6 a 1 no PSG e consegue virada histórica.
c. O meia Gustavo Scarpa, principal articulador de jogadas ofensivas da equipe, ainda
se recupera de uma torção no tornozelo e não vai participar do jogo de hoje.
d. Por enquanto, contudo, Diego Cavalieri não poderá retornar ao gol tricolor: uma
entorse no pé direito tira o goleiro do jogo.

8. Construa uma oração subordinada que funcione como argumento ou modificador de um


constituinte da principal (diga qual a função de cada oração que você construir; se ela for um
modificador de SV, será um adjunto adverbial; se for um modificador do SN, será um adjunto
adnominal; se modificar todo o SD, será um aposto):

a. O diretor autorizou os funcionários


b. Durante entrevista, Presidente declarou
c. Escritora premiada recusa prêmio
d. Torcedores se enfrentaram com violência
e. É praticamente impossível
f. Surpreendeu o público
g. Gosto muito dos poemas de Ferreira Gullar
h. Peritos apuram as causas do acidente no CT do Flamengo
i. Eles investigam

Recomendo a leitura do Texto Coordenação e Subordinação até a p. 3.

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EXERCÍCIOS DE SINTAXE – II – 2019.2
Relações de coordenação e subordinação entre orações
Depois de destacar cada estrutura oracional na canção PIVETE, observe se há dependência sintática
(isto é, subordinação) entre elas.
Zanza na sarjeta
Fatura uma besteira
PIVETE E tem as pernas tortas
Francis Hime - Chico Buarque - 1978 E se chama Mané
Arromba uma porta
Faz ligação direta
No sinal fechado Engata uma primeira
Ele vende chiclete E até
Capricha na flanela Dobra a Carioca, olerê
E se chama Pelé Desce a Frei Caneca, olará
Pinta na janela Se manda pra Tijuca
Batalha algum trocado Na contramão
Aponta um canivete Dança pára-lama
E até Já era pára-choque
Dobra a Carioca, olerê Agora ele se chama
Desce a Frei Caneca, olará Emersão
Se manda pra Tijuca Sobe no passeio, olerê
Sobe o Borel Pega no recreio, olará
Meio se maloca Não se liga em freio
Agita numa boca Nem direção
Descola uma mutuca
E um papel No sinal fechado
Sonha aquela mina, olerê Ele transa chiclete
Prancha, parafina, olará E se chama pivete
Dorme gente fina E pinta na janela
Acorda pinel Capricha na flanela
Descola uma bereta
Batalha na sarjeta
E tem as pernas tortas....

Faça o mesmo em relação aos dois excertos que seguem. As orações subordinadas exercem uma
função na sua principal (podem ser ou não selecionadas, como vimos nas páginas anteriores); são,
pois, sintaticamente dependentes.

Quadrilha
Trecho de Flor da Idade
Carlos Drummond de Andrade Chico Buarque
João amava Teresa que amava Raimundo
Carlos amava Dora que amava Lia que
que amava Maria que amava Joaquim que amava Léa que amava Paulo
amava Lili
Que amava Juca que amava Dora que amava
que não amava ninguém. Carlos que amava Dora
João foi para os Estados Unidos, Teresa
Que amava Rita que amava Dito que amava
para o convento, Rita que amava
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou
Carlos amava Dora que amava Pedro que
para tia, amava a filha
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J.
que amava Carlos que amava Dora que
Pinto Fernandes amava toda a quadrilha
que não tinha entrado na história

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EXERCÍCIOS DE SINTAXE – III – 2019.2
Relações de coordenação e subordinação entre orações
1. Separe cada oração e identifique a relação entre elas: (a) diga se essa relação é de
coordenação e/ou de subordinação; (b) neste último caso, observe a forma das orações
subordinadas – se são “desenvolvidas” (isto é, introduzidas por uma conjunção
(complementizador), um pronome relativo, pronome interrogativo ou se são “reduzidas” (de
infinitivo, de gerúndio ou de particípio); (b) se for subordinada, diga se é selecionada ou se
modifica um termo da principal e (c) dê a sua função sintática em relação à principal (se for
um argumento - sujeito, objeto direto, complemento oblíquo (relativo ou circunstancial),
complemento nominal; se for um modificador do SV (adjunto adverbial), do SN (adjunto
adnominal), do SD (aposto); se se tratar de coordenadas simples, indique apenas a relação
semântica entre elas.

(a) Em nota, defesa do ex-presidente disse que a decisão do magistrado é arbitrária


(b) O presidente Michel Temer negou ontem a proposta de um acordão, que teria sido selado
entre ele e os ex-presidentes Lula e FHC, para obstruir o avanço das investigações da Lava-
Jato em nome da classe política.
(c) Delator sugeriu a Marcelo Odebrecht acompanhar cada centavo doado e, após quatro
anos, avaliar as vantagens obtidas.
(d) O ex-presidente da construtora negociava doações via caixa dois, mas exigia que fosse
estabelecida uma contrapartida imediata.

2. Além da coordenação e subordinação (que vimos até aqui), uma outra forma de
organização das orações em períodos é a justaposição, processo em que a relação de
subordinação é clara, mas não é feita com um conector nem com uma estrutura reduzida.
Observe o período a seguir e aponte a principal e suas subordinadas, resgatando o conector.
Dê a função das subordinadas:
“Não participo, não promovo e jamais fui questionado sobre isso”, disse Temer.

3. Construa uma oração subordinada que funcione como argumento ou modificador da


principal; explique como ela foi introduzida e qual a sua função na principal (lembre-se de
analisar a principal para identificar que função a subordinada exerce nela (se é selecionada
ou não):
a. Não agradou aos alunos
b. Um levantamento feito pela Secretaria de saúde revela
c. O professor convenceu os alunos
d. Não é justo
e. O presidente indicou o deputado
f. A população aprova o Deputado Miro Teixeira
g. A população foi às ruas

4. As orações subordinadas que seguem têm uma característica comum: são interrogativas
indiretas. Diga qual o elemento que as introduz e qual a sua função na principal:
a. Não sei se a Maria virá.
b. Eu me pergunto quando a Maria virá.
c. Eu ignoro onde a Maria mora.
d. Eu não sei quem a Maria namora.
e. Ele perguntou o que a Maria faz.

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SISTEMA DE AUXILIARES – BREVE RESUMO
O SV é constituído de um núcleo verbal, que pode ser o predicador (como em 1a) ou um verbo de
ligação (como em 1b) e seus eventuais complementos e adjuntos:
(1) a. Meu amigo [ SV candidatou-se ao cargo no ano passado ].
b. Meu amigo [ SV será o presidente num futuro muito próximo.
Esses núcleos verbais podem se apresentar em forma simples, flexionando-se em tempo, modo,
número e pessoa, como acima, ou podem vir acompanhados de verbos auxiliares, como ter e ser, que
formam os tempos compostos e a voz passiva, além outros verbos que veiculam a noção de aspecto e
modalidade, mas não são responsáveis pela seleção de argumentos da oração. Como o próprio nome
diz, são auxiliares (ou semi-auxiliares). Na presença de auxiliares, os verbos principais não se flexionam
em tempo, modo, etc, aparecendo numa das três formas nominais: infinitivo, gerúndio e particípio. Se
a sentença é finita, cabe ao primeiro auxiliar carregar as desinências de tempo, modo, número e
pessoa.

Em (2), ilustramos os auxiliares “ter”, usado na formação dos tempos compostos, “ser”, que participa
da formação da voz passiva, e “ir”, que forma o futuro perifrástico:
(2) a. Eu tinha (havia) terminado a aula quando você chegou.
b. Ele é / foi/será homenageado pela população.
c. Ele vai se candidatar / Ele vai ser presidente.
O auxiliar “haver” se encontra em desuso na fala espontânea, mas costuma aparecer na fala
monitorada e na escrita “standard” (Eu havia terminado...). Este é um auxiliar considerado uma forma
arcaizante no português europeu, que parece ganhar espaço na escrita mais padronizada no Brasil.

A categoria “aspecto” introduz um valor durativo (cursivo, permansivo, frequentativo ou inceptivo: estar,
começar a...) ou ainda um valor pontual (conclusivo, cessativo):
(3) a. Ele estava trabalhando.
b. Ele continua a trabalhar.
c. Ele anda bebendo muito.
d. Ele tem bebido.
e. Ele começou a fumar muito cedo.
(4) a. Ele deixou de /parou de fumar.

A categoria “modalidade” exprime a atitude do enunciador em relação ao enunciado: indica


possibilidade, probabilidade, obrigatoriedade, proibição. Em geral, esses modais são classificados
como deônticos (expressando dever, necessidade, obrigação, proibição) e epistêmicos (traduzindo
uma opinião do falante):
(5) a. Eu preciso / tenho de/ que estudar hoje.
b. Ele não pode sair sozinho.

(6) a. Deve / pode chover hoje.


b. Você podia me ajudar.
c. Eu devia /deveria ajudar meus pais.

Um outro auxiliar modal, que revela habilidade, capacidade é “saber” em frases como:
(7) a. Ele sabe / consegue nadar, falar inglês, montar qualquer quebra-cabeças.

Observe que os auxiliares podem co-ocorrer, sendo importante ter em mente que o último verbo da
sequência é o verbo principal da “locução verbal” e que ele pode ser um verbo pleno ou um verbo de
ligação:
(8) a. Ele poderia ter sido convidado para a festa.
b. Ela deve começar a escrever um novo romance em breve.
c. Ele continua a ser um grande amigo.
Nota: Outros recursos podem ser usados para exprimir essas categorias além dos verbos auxiliares. O
aspecto “durativo” pode ser expresso por um advérbio, como em “Ele ainda trabalha naquela empresa
(continua trabalhando); “Ele não fuma mais” (parou de fumar); a modalidade, por adjetivos: É capaz de
chover; É possível que ele venha.

Não se deve confundir uma locução verbal com dois verbos plenos contíguos com o mesmo sujeito:
(i) Ele prefere | trabalhar à noite. (Ele prefere / que a mulher trabalhe à noite)
(II) Ele quer / se mudar para Portugal (Ele quer / que a família se mude para Portugal)
Note que o sujeito da principal controla o sujeito da oração infinitiva nesses casos (estrutura de
“controle”, que já vimos em aula)

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FACULDADE DE LETRAS – UFRJ - SINTAXE DO PORTUGUÊS – Prova 1 – 2018.2

1. Nos períodos a seguir há uma principal, à qual se liga uma subordinada. Destaque-a, diga
se é selecionada ou não, como foi introduzida e aponte a função que exerce na sua principal.
(Trechos retirados dos Jornais Destak e Metro, de 20.09.2017 e 21.09.2017)

a. Polícia Civil tem informações de oito pessoas que aparecem em vídeo com armas na favela.
b. As forças armadas resistem a atuar em favelas e na rotina da cidade.
c. Pezão, que ainda não havia se pronunciado sobre a invasão, se manifestou.
d. Ele desautorizou qualquer ação da PM para evitar confrontos e morte de inocentes,
e. Não cabe à corte analisar, pelo menos por ora, a validade das gravações da JBS.

2. Leia com muita atenção o fragmento da crônica de Artur Xexéo (O Globo – Revista,
26/06/05). Todos os verbos estão grifados e cada estrutura oracional, destacada. Depois da
leitura, responda às questões de (a) a (e):

“É verdade / que o fato [de eu não ter visto o capítulo] não significa / que eu não saiba / o que
aconteceu. Outros e-mails fizeram questão / de me contar /que a jangada [que Sayid estava
construindo] pegou fogo, / que o autor do incêndio foi identificado /– ora, não criaram mais um
mistério? – /e / que os flashbacks se dedicaram ao passado do casal de coreanos. Mas [o que
mais me impressionou nessa história toda] foi o nível de profissionalismo atingido por
expectadores de seriados no Brasil. Ninguém se contenta / em acompanhar / o que acontece,
semanalmente, pela televisão. É preciso / navegar na Internet,/ colher histórias de bastidores,/
participar de grupos de discussão / e, principalmente, baixar os episódios / antes que eles
sejam transmitidos aqui. Exagero, não é não?”

(a) Aponte a oração principal a que se liga a oração subordinada “de me contar” (linha 2); diga
se essa subordinada é ou não selecionada, qual a sua estrutura e sua função na principal.

(b) A mesma oração “de me contar” seleciona um complemento. Mostre como esse
complemento aparece no trecho; indique sua forma e sua função sintática.

(c) O trecho apresenta uma oração que não está sintaticamente ligada ao período em que se
insere, usualmente referida como “estrutura parentética”. Qual é essa oração?

(d) Destaque as orações do período “Ninguém se contenta / em acompanhar / o que acontece,


semanalmente, pela televisão” – diga se são ou não selecionadas, mostre como são
introduzidas e dê suas funções nas suas principais.

(e) Destaque as orações selecionadas pelo predicador adjetival “preciso” na linha 7; diga
qual a forma dessas orações e a função que exercem na sua principal.

(f) A oração “antes que eles sejam transmitidos aqui” (última linha) é selecionada ou é um
adjunto? Justifique sua resposta.

3. Utilizando o período a seguir, distinga os processos de coordenação e subordinação.


Mais de 200 pessoas morreram em forte terremoto, na terça, dia 19; ao menos 21 crianças
foram vítimas em escola que desabou.

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Sugestões de respostas à Prova 1 de 2018.2

1(a) A oração subordinada é [que aparecem em vídeo com armas na favela]; não é
selecionada, foi introduzida pelo pronome relativo “que”, modifica o N “pessoas” (contribuindo
para a construção de sua referência) e tem, portanto, a função de adjunto adnominal.
1 (b) A oração subordinada é [a atuar em favelas e na rotina da cidade]; é reduzida de infinitivo,
é selecionada pelo predicador verbal “resistem” e tem a função de complemento oblíquo.
1 (c) A oração subordinada é [que ainda não havia se pronunciado sobre a invasão]; não é
selecionada, foi introduzida pelo pronome relativo “que”, modifica o SD [Pezão] (que já tem
sua referência construída), funcionando, pois, como um aposto.
1. (d) A oração subordinada é [para evitar confrontos e morte de inocentes]; não é
selecionada, é reduzida de infinitivo, modifica o SV “desautorizou qualquer ação da PM”,
funcionando como adjunto adverbial (de finalidade)
1. (e) A oração subordinada é [analisar, pelo menos por ora, a validade das gravações da
JBS]; é reduzida de infinitivo, selecionada pelo predicador verbal “(não) cabe”, e tem a função
sintática de sujeito.

2 (a) A principal da subordinada [de me contar] é [outros e-mails fizeram questão]. A


subordinada é selecionada pelo substantivo “questão” (questão de quê?), é reduzida de
infinitivo e tem a função de complemento nominal.
2 (b) Na oração [de me contar], o verbo seleciona um argumento interno (os emails me contar
o quê?). Esse argumento vem em forma de três orações, introduzidas pelo complementizador
“que”: [que a jangada pegou fogo], [que o autor do incêndio foi identificado] e [que os
flashbacks se dedicaram ao passado do casal de coreanos]. Essas três orações funcionam
como objeto direto de “contar” e estão coordenadas entre si.
2 (c) A oração é [ora, não criaram mais um mistério?]. Trata-se de um comentário do autor,
que não está sintaticamente ligado ao período em que foi inserido. É nomeada por Perini de
“estrutura parentética”.
2 (d) Ninguém se contenta / em acompanhar / o que acontece, semanalmente, pela televisão
A primeira oração é principal à segunda, que aparece reduzida de infinitivo, [e selecionada
pelo verbo “contentar-se” e funciona como complemento oblíquo. A terceira é diretamente
subordinada à segunda, é selecionada pelo verbo “acompanhar”, vem introduzida pelo
pronome relativo sem antecedente “o que” e funciona como objeto direto.
2 (e) O predicador adjetival “preciso” seleciona quatro orações (o que é preciso?):
[navegar pela Internet], [colher histórias de bastidores], [participar de grupos de discussão], e
[principalmente, baixar os episódios]
São reduzidas de infinitivo e funcionam como sujeito da principal.

2 (f) A oração [antes que eles sejam transmitidos aqui] não é selecionada; ela modifica o SV
da oração precedente “principalmente baixar os episódios”; sua função é de adjunto adverbial
(de tempo)
3. No período que segue temos três orações:
Mais de 200 pessoas morreram em forte terremoto, na terça (19);/ ao menos 21crianças foram
vítimas em escola [que desabou]

As duas primeiras orações são coordenadas porque não exercem função uma na outra; por
isso dizemos que são sintaticamente independentes uma da outra. A terceira oração, [que
desabou], introduzida pelo pronome relativo “que”, modifica o N “escola” (seu antecedente),
que se encontra na segunda oração; tem, portanto, uma função nessa oração, a de adjunto
adnominal. Trata-se de uma construção de subordinação, em que uma oração subordinada
exerce uma função na sua principal. Por isso dizemos que elas são sintaticamente
dependentes uma da outra.

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FACULDADE DE LETRAS – UFRJ - SINTAXE DO PORTUGUÊS – Prova 1 – 2018.1

1. Nos períodos a seguir há uma principal, à qual se liga uma subordinada. Destaque-a, diga se é
reduzida ou desenvolvida (qual a sua estrutura), se é selecionada ou não, e aponte a função que exerce
na sua principal. (Trechos retirados do Jornal Destak de 27.04.18)

a. O senador Aécio Neves prestou depoimento ontem à Polícia Federal em Brasília, dentro do
inquérito que investiga as obras da usina de Santo Antônio, no Estado de Goiás.
b. O senador tucano é investigado por suspeita de ter recebido propina da Construtora
Andrade Gutierrez.
c. O senador teria recebido propina para beneficiar empresas na construção da usina.
d. Os delatores afirmaram em seu depoimento que as contribuições feitas às campanhas do
senador nunca estiveram veiculadas a qualquer contrapartida.
e. O tucano foi citado em delação premiada de Sérgio Andrade, dono da construtora, que
tratou pessoalmente dos pagamentos.

2. Leia com muita atenção o fragmento da crônica de Veríssimo (O Globo, 30/04/2006).


Todos os verbos estão grifados e cada estrutura oracional, destacada. Depois da leitura, responda às
questões de (a) a (f):
Alguém com um senso de ironia histórica na Petrobras poderia sugerir / que dessem o nome
“Link” a alguma plataforma ou outra instalação da companhia em homenagem ao geólogo
americano, Walter (era Walter?) Link, / que foi contratado pelo governo / para prospectar o
solo brasileiro em busca de sinais de petróleo / e / que concluiu com um categórico
“esqueçam”. Não havia petróleo no Brasil, / disse Mr. Link. A tese [de que ele já viera instruído
/ a não encontrar nada / para sabotar a Petrobras ] é atraente, / mas parece / que o americano
palpitou / que, [ se houvesse petróleo por aqui ] seria no mar,/ onde está mesmo a maior parte.
De qualquer jeito, [merecendo ou não (merecendo)], Link ficou como uma espécie de
padroeiro de todos / que não acreditaram na Petrobras / ou / a combateram. Merece / ter seu
nome em alguma coisa. Talvez uma torneira. (Veríssimo, O Globo, 30.04.2006)

(a) Aponte a oração subordinada ao predicador “sugerir” (linha 1): diga como é introduzida, se
é ou não selecionada e qual a sua função na principal.
(b) A subordinada apontada na questão (a) está modificada por duas orações. Aponte-as, diga
como são introduzidas e dê sua função na sua principal.
(c) Aponte a principal de “para prospectar o solo brasileiro em busca de sinais de petróleo”;
diga a estrutura (forma dessa subordinada) e sua função na principal.
(d) O trecho apresenta uma oração que não está sintaticamente ligada ao período em que se
insere, usualmente referida como “estrutura parentética”. Qual é essa oração e o que ela
representa no texto?
(e) A subordinação entre orações pode ser feita sem marcas explícitas, processo em que a
subordinação é clara, mas não é feita com um conector nem com uma estrutura reduzida.
Destaque no trecho uma estrutura “justaposta”. Aponte a principal e dê a função da
subordinada.
(f) Aponte as subordinadas à oração “Link ficou como padroeiro do todos” (linha 8); diga como
são introduzidas e dê sua função na sua principal.

3. Construa uma oração subordinada que funcione como argumento ou modificador de um constituinte
da principal (diga qual a função de cada oração que você construir; se ela for um modificador de SV,
será um adjunto adverbial; se for um modificador do N, será um adjunto adnominal; se modificar todo
o SD, será um aposto):

a. O diretor informou aos funcionários


b. Torcedores se enfrentaram com violência
c. É muito desagradável
d. Agradou ao público
e. Gosto muito dos poemas de Eucanaã Ferraz
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Sugestões de respostas à Prova 1 de 2018.1
1 (a) A subordinada é [que investiga as obras da usina de Santo Antônio, no Estado de Goiás].
É introduzida por um pronome relativo, não é selecionada - modifica o N “inquérito,
contribuindo para a construção de sua referência, e funciona como adjunto adnominal.
1(b) A subordinada é [de ter recebido propina da Construtora Andrade Gutierrez]. É reduzida
de infinitivo, é selecionada pelo substantivo “suspeita”, funcionando como complemento
nominal.
1(c) A subordinada é [para beneficiar empresas na construção da usina]. É reduzida de
infinitivo, não é selecionada – modifica o SV “teria recebido propina”, e funciona como adjunto
adverbial.
1(d) A subordinada é [que as contribuições feitas às campanhas do senador nunca estiveram
veiculadas a qualquer contrapartida]. É introduzida pelo complementizador “que”, é
selecionada pelo predicador verbal “afirmaram” e funciona como objeto direto.]
1(e) A subordinada é [que tratou pessoalmente dos pagamentos]. É introduzida pelo pronome
relativo “que”, não é selecionada – modifica o SD ”Sérgio Andrade, dono da construtora”,
funcionando como aposto, pois não contribui para a construção da sua referência.

2(a) A oração subordinada a “sugerir” é [que dessem o nome “Link” a alguma plataforma ou
outra instalação da companhia em homenagem ao geólogo americano, Walter (era Walter?)
Link], é introduzida pelo complementizador “eu” e funciona como objeto direto.
2(b) As duas orações são [que foi contratado pelo governo...] e [que concluiu com um
categórico “esqueçam”]. São introduzidas por um pronome relativo, modificam o SD “o
geólogo americano, Walter Link”, funcionando como aposto. Estão coordenadas entre si pelo
conector “e”.
2(c) A sua principal é [que foi contratado pelo governo]. A subordinada é reduzida de infinitivo
e modifica todo o SV de sua principal “que foi contratado pelo governo”, funcionando como
adjunto adverbial.
2(d) A estrutura parentética é “era Walter?”. Ela revela uma dúvida do autor quanto ao primeiro
nome do geólogo. Tal estrutura é inserida como um comentário; daí seu rótulo de estrutura
parentética (que pode aparecer entre parênteses, como no texto, ou entre travessões, por
exemplo).
2(e) A estrutura é “Não havia petróleo no Brasil, / disse Mr. Link”. Embora sem estar reduzida
ou sem ser introduzida por uma conector subordinativo, podemos distinguir a principal “disse
Mr. Link”, cujo predicador verbal seleciona um complemento “não havia petróleo no Brasil”,
com a função de objeto direto. Trata-se de uma estrutura no discurso indireto livre (Mr. Link
disse que não havia petróleo no Brasil; como a subordinada antecede a principal, a omissão
do complementizador é possível).
2(f) As subordinadas são [que não acreditaram na Petrobras] ou [(que) a combateram]. São
introduzidas pelo pronome relativo “que” e modificam o N “todos”, construindo sua referência.
Funcionam como adjunto adnominal. Estão coordenadas entre si pelo conector coordenativo
“ou”.

3 – Resposta livre (algumas sugestões)


3(a) O diretor informou aos funcionários [que não haveria recesso].
A oração foi selecionada pelo predicador “informou” (X informa Y a Z). É introduzida pelo
complementizador “que” e funciona como objeto direto da principal (o objeto indireto é [aos
funcionários].
3(b) Torcedores se enfrentaram com violência [quando o jogo terminou].
A subordinada não é selecionada; modifica todo o SV, é introduzida pela conjunção subordinativa
“quando”, funcionando como adjunto adverbial da principal.
3(c) É muito desagradável [utilizar o transporte público do Rio].
A subordinada é selecionada pelo predicador adjetival “desagradável”, é reduzida de infinitivo e
funciona como sujeito da principal.
3(d) Agradou ao público [que o artista tenha cantado mais duas músicas ao fim do show].
A subordinada é selecionada pelo predicador verbal “agradou”, é introduzida pelo complementizador
“que” e funciona como sujeito da principal.
3(e) Gosto muito dos poemas de Eucanaã Ferraz, [cuja obra é festejada pelo publico e pela crítica].
A subordinada modifica o DP “Eucanaã Ferraz”, é introduzida pelo pronome relativo “cuja”, funcionando
como aposto.
10
Observe o esquema do trecho a seguir, retirado do exercício 2 da p. 9:

A tese [de que ele já viera instruído / a não encontrar nada / para sabotar a Petrobras ] é
atraente, / mas parece / que o americano palpitou / que, [ se houvesse petróleo por aqui ]
seria no mar,/ onde está mesmo a maior parte.

1.A tese é atraente


.
. 2. de que ele já viera instruído

.
3. a não encontrar nada
.
4. para sabotar a Petrobras
.mas
.
5.parece

6. que o americano palpitou

7. que seria no mar

8. se houvesse petróleo no Brasil

9. onde está mesmo a maior parte

O período é composto por coordenação e subordinação. As orações 1 e 5 são principais,


coordenadas entre si pela conjunção coordenada adversativa mas. A oração 2, não é
selecionada, é introduzida pelo complementizador que e modifica o nome tese, e, portanto,
sua função é de adjunto adnominal. Note que ela não é um complemento (a possibilidade/ de
que ele tenha vindo... =a possibilidade disso / a tese / de que ele já viera instruído = *a tese
disso). Veremos a seguir outros nomes que vêm modificados por uma oração na função de
a adjunto adnominal). A oração 3 é selecionada pelo adjetivo instruído, é reduzida de infinitivo
e sua função é complemento de adjetivo (ou complemento nominal); a oração quatro modifica
todo o SV da sua principal (a oração 3), é também reduzida de infinitivo e funciona como
adjunto adverbial.
Na oração 5, o predicador verbal seleciona a oração 6, introduzida pelo complementizador
que; sua função sintática, segundo a tradição gramatical, é de sujeito; mas alguns quatros
preferem tratá-la como objeto direto, já que não pode ser anteposta ao verbo (*isso parece).
A oração 7 é selecionada pelo predicador verbal palpitou, introduzida pelo complementizador
que e funciona como objeto direto. A oração 8 não é selecionada, modifica o SV da oração 7,
É introduzida pela conjunção subordinativa se, tendo a função de adjunto adverbial;
finalmente, a oração 9 não é selecionada, é introduzida pelo advérbio relativo onde, modifica
o SP no mar (trata-se de um locativo), tendo a função sintática de aposto.

O Estudo Dirigido que segue começa a sistematizar os quadros das orações, comparando a
classificação de Rocha Lima (tradicional) com as propostas mais recentes. Às vezes será
necessário resgatar classificações que eram contempladas por alguns dos gramáticos
tradicionais, como Celso Cunha e Celso pedro Luft, no que se refere, por exemplo, às orações
subordinadas com a função de adjunto adnominal introduzidas pelo complementizador que,
uma função que foi completamente abandonada após a simplificação da NGB e que retorna
na Gramática de raposo et al (2013), como vocês verão a seguir.

11
FACULDADE DE LETRAS – UFRJ - SINTAXE DO PORTUGUÊS

Para exercitar, aqui vai uma sugestão do nosso monitor de sintaxe, Josué Gabriel. Digam qual é
a estrutura subordinada mais recorrente no texto e aponte as únicas que fogem a esse padrão.

O Único Animal

O homem é o único animal que ri dos outros. O homem é o único animal


que passa por outro e finge que não vê.
É o único que fala mais que o papagaio.
É o único que gosta de escargots (fora, claro, o escargot). É o único que
acha que Deus é parecido com ele. E é o único...
...que se veste
...que veste os outros
...que despe os outros
...que faz o que gosta escondido
...que muda de cor quando se envergonha
...que se senta e que cruza as pernas
...que sabe que vai morrer
...que pensa que é eterno
...que não tem uma linguagem comum a toda a espécie
...que se tosa voluntariamente
...que lucra com os ovos dos outros
...que pensa que é anfíbio e que morre afogado
...que tem bichos
...que joga no bicho
...que aposta nos outros
...que compra antenas
...que se compara com os outros
O homem não é o único animal que alimenta
e que cuida das suas crias, mas é o único que
depois usa isso para fazer chantagem emocional.
Não é o único que mata, mas é o único que vende a pele.
Não é o único que mata, mas é o único que manda matar.

E não é o único ...


...que voa, mas é o único que paga para isso
...que constrói casa, mas é o único que precisa de fechadura
...que constrói casa, mas é o único que passa quinze anos pagando
...que foge dos outros, mas é o único que chama isso de retirada estratégica
...que trai, que polui, e que aterroriza, mas é o único que se justifica [...].

Veríssimo, Luis Fernando. O Marido do doutor Pompeu. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 1987. p.
7-8 (Fragmento)

12
ESTUDO DIRIGIDO DE SINTAXE – I

Sobre a classificação das Subordinadas Substantivas / Completivas

1. As orações introduzidas pela “conjunção integrante” ou “complementizador” “que”

Este estudo dirigido tem como objetivo comparar os critérios que orientam a tradição
gramatical e os quadros teóricos mais recentes na classificação das orações subordinadas
introduzidas prototipicamente pela conjunção subordinativa integrante “que”. A tradição
gramatical leva em conta um critério morfossintático ao rotular essas orações como
substantivas – exercem funções sintáticas que o substantivo pode exercer, enquanto
teorias mais recentes utilizam um critério sintático-semântico: partem do predicador e
buscam os argumentos selecionados e eventuais modificadores (elementos não
selecionados. As orações são nomeadas levando em conta o elemento que as introduz:
subordinadas completivas (introduzidas pelo complementizador “que”). Como vocês verão, a
diferença está justamente na perspectiva teórica que orienta cada quadro. Como vimos em
aula, a tradição gramatical incluía uma oração subordinada substantiva com a função de
adjunto adnominal. Com a simplificação da NGB, essa função desaparece. (Já conversamos
sobre o porquê de seu desaparecimento e como ela é ressuscitada nos quadros atuais.)
Indique a função que as subordinadas nos exemplos a seguir exercem na sua principal e, em
seguida, dê o seu rótulo tradicional e atual:

(1) __ É ilógico /que acreditemos numa coisa dessas.


(2) O repórter escreveu / que eu trabalhava num bunker sem janelas.
(3) A Lúcia já desconfia / de que (este) seja um dia mítico.
(4) A impressão [de que se trata mesmo de uma toca forrada de livros] é muito forte
(5) Nasceu aí o boato / de que a rainha sofria de uma temível doença chamada Dança de
São Beltrão.
(6) Eu só tenho um desejo: / que a educação seja prioridade no Brasil.

2. As orações com função de adjunto adnominal ou “especificativas”

Vimos que, na tradição gramatical, alguns autores incluem entre as orações subordinadas
“substantivas”, introduzidas pela conjunção integrante “que”, as que modificam um nome,
tendo, assim, a função de adjunto adnominal. Entre esses gramáticos estão Celso Cunha e
Celso Pedro Luft. Entretanto, na simplificação da NGB e na maioria das gramáticas
tradicionais, esse tipo de subordinada desaparece. É inegável, porém, que as subordinadas
em (7) se distinguem das subordinadas em (8):
(7) a. [A impressão [de que se trata mesmo de uma toca forrada de livros] ] é muito forte
b. Discutimos [a possibilidade[de que todos pudessem conseguir um trabalho] ].

(8) a. Nasceu aí [o boato [de que a rainha sofria de uma temível doença chamada Dança
de São Beltrão]].
b. Ouvimos [a notícia [ de que o metrô vai chegar ao Fundão] ].

Em gramáticas recentes, elaboradas com base em teorias linguísticas diversas, essa distinção
nem sempre é feita, o que ocorre com a gramática de Mateus et al. que consideram tanto as
estruturas em (7) quanto as estruturas em (8) como completivas de nomes. A antiga
distinção, é, entretanto, resgatada na Gramática do Português (Raposo et al. 2013, Cap. 36,
pp 1879-1881, de autoria de Pilar Barbosa). Segundo a autora:

“As orações dependentes de nomes podem ser de dois tipos diferentes: completivas e
especificativas. As primeiras funcionam como argumentos selecionados pelo nome,
portanto, complementos com o mesmo estatuto dos complementos dos verbos ou dos
adjetivos; as segundas funcionam como modificadores”.
13
Consideremos os exemplos apresentados pela autora para fundamentar essa distinção:

(9) a. [A luta [por que se fizesse justiça]] acabou por dar seus frutos.
b. A criança tem [pena [de que os pais não estejam presentes]].
c. Ela manifestou [ interesse [em que a fossem visitar]].

(10) a. Surpreende-me [o facto [de que estamos face a uma pandemia]].


b. Ganhou [a proposta [de que eu se avance com a greve]].
c. Ele não gostou nada d[a ideia [de que o exame fosse adiado]].

Em (9), cada subordinada é argumento do nome que a seleciona, “descrevendo a situação


que constitui o objeto da luta, da pena ou do interesse”. A relação que a oração subordinada
estabelece com o nome é, assim, semelhante àquela que um complemento mantém com um
verbo ou um adjetivo. Sendo argumentos, “elas podem ser substituídas por um pronome
demonstrativo neutro invariável, tal como sucede com os complementos oracionais de uma
forma geral (cf. a nossa luta por isso acabou por dar seus frutos; a criança tem pena disso;
ela manifestou interesse nisso).”
Em (10), “a relação estabelecida entre o nome e a oração subordinada é de natureza diferente.
Nestes casos, o papel da oração é tornar explícito o conteúdo do sintagma nominal simples
que a antecede [..] ou seja, especificar em que consiste o facto, a proposta ou a ideia”. Isso
fica evidente quando se observa que a relação semântica que se estabelece entre a
subordinada e o sintagma nominal que a precede pode ser expressa numa estrutura com o
verbo de ligação, “em que a subordinada especifica o conteúdo do sintagma nominal do qual
depende”.

(11) a. O facto é [que estamos face a uma pandemia].


b. A proposta é [que eu se avance com a greve].
c. A ideia é [que o exame fosse adiado].

”Em consequência, não é possível substituir a oração subordinada por um demonstrativo


neutro, contrariamente ao que sucede com as orações completivas e os complementos em
geral (cf. *surpreende-me o facto disso; *ganhou a proposta disso; *ele não gostou nada da
ideia disso).

“Essas orações, têm, portanto, a função de especificar o valor semântico do sintagma


nominal que as precede e ocorrem unicamente com nomes cujo conteúdo pode ser descrito
por meio de uma proposição, como decisão, facto, hipótese, tese, ideia, questão, solução,
notícia, etc.”
Sistematizando o quadro das orações subordinadas
Tradição gramatical Linguística teórica
Substantivas Completivas (Raposo et al.)
Exercem funções Subjetiva/Predicativa Argumentais (selecionadas):
sintáticas próprias do Objetiva Direta Completivas de:
substantivo e vêm Completiva Relativo de verbo (sujeito, objeto direto, compl.
introduzidas Completiva Nominal oblíquo)
usualmente pela de substantivo (sujeito, compl. nominal)
conjunção integrante de adjetivo (sujeito e compl. nominal)
que quando Adjunto adnominal Não argumentais (não selecionadas:
desenvolvidas (Celso Cunha e Oração completiva especificativa (=adj.
(nos quadros recentes Celso Pedro Luft) adnominal.)
as conjunções
subordinativas são Aposto Oração completiva apositiva
complementizadores)

14
Uma evidência adicional a favor da classificação das orações em (10) como especificativas
(ou adjuntivas adnominais) nos vem da possibilidade de elas poderem de se intercambiar
com orações introduzidas por um pronome relativo, naturalmente, mantendo a mesma função
sintática de adjunto adnominal:

(12) a. Nasceu aí [o boato [ segundo o qual a rainha sofria de uma temível doença...].]
b. Ouvimos [a notícia [ segundo a qual o metrô vai chegar ao Fundão] ].

(12’) a. Nasceu aí [o boato [ de que a rainha sofria de uma temível doença...].]


b. Ouvimos [a notícia [ de que o metrô vai chegar ao Fundão] ].

3. As subordinadas interrogativas indiretas e as estruturas justapostas.

Para completar o quadro das orações com a função de objeto direto e aposto, é necessário
acrescentar ainda dois tipos de construções:

a) as orações interrogativas indiretas, sempre com a função de objeto direto. Elas que
podem ser globais (ou totais), quando introduzidas pela conjunção
integrante/complementizador se), como em (13), ou parciais, se introduzidas por um pronome
ou advérbio interrogativo, como em (22):

(13) a. Não sei [se o Brasil vai se sair bem na Copa]. (O Brasil vai se sair bem na Copa?)
b. Eu me pergunto [se a Baía de Guanabara algum um dia ficará despoluída]. (A Baía
de Guanabara algum dia ficará despoluída?)

(14) a. Eu me pergunto [quem conseguirá despoluir a Baía de Guanabara].


b. Eu me pergunto [ o que impede a despoluição da Baía de Guanabara].
c. Eu me pergunto [ quando conseguiremos despoluir a Baía de Guanabara].
d. Eu me pergunto [ por que não conseguimos despoluir a Baía de Guanabara].

Atente para o fato de que as subordinadas destacadas é que são as interrogativas “indiretas”.
A interrogação pode recair sobre a oração principal e neste caso o que teremos é uma
interrogativa direta:

(15) a. Ele te contou [se vai à minha festa]?


b. Ele te contou [que vai à minha festa]?

b) as orações justapostas

Dois tipos de orações subordinadas podem aparecer sem qualquer marca de subordinação:
não estão reduzidas nem introduzidas por complementizador ou pronome interrogativo. Esse
tipo de organização é conhecido como justaposição. Veja em (24) períodos com orações
subordinadas justapostas.

(16) a. Ele me perguntou: [onde fica a saída para a Avenida Brasil?]


b. Ele me disse: [ você não é meu amigo]
c. Ele fez uma declaração: [só quero sossego].

Olhando para a estrutura de cada principal, você verá que os predicadores de (16a,b)
selecionam um argumento interno, que corresponde às orações subordinadas, com a função
de objeto direto. A principal de (16c) tem sua estrutura argumental satisfeita; a subordinada
apenas explicita o conteúdo da declaração, que é única, tendo, pois, sua referência construída
e funciona como aposto da principal.

15
Observem, nos dados a seguir, retirados de jornal carioca, que estruturas diferentes podem
exercer a mesma função – neste caso, orações introduzidas pelo pronome relativo “o qual” e
pelo complementizador “que”, podem funcionar como adjunto adnominal e como aposto.

Tanto que tenho um pacto com um amigo (por motivos óbvios, parente não faz esse tipo de
acerto), segundo o qual, o último a sair apaga a luz , ou seja, desliga os tubos do outro, se
for preciso. (Zuenir Ventura, 23.01.2013)

Estava errada a informação segundo a qual o juiz italiano Giovanni Falcone, explodido pela
Máfia, comandou a Operação Mãos Limpas da Itália . (Elio Gaspari, 09.08.2015)

Vem daí a frase segundo a qual, num país tão desigual quanto o Brasil, Getúlio sempre
derrotará o brigadeiro . (Merval Pereira, 28.09.2018)

Pode ser verdadeira a história segundo a qual Tancredo pediu para conversar com Costa
Machado, a quem queria colocar no governo. (Elio Gaspari, 27.01.19)

Difícil atestar se o alerta de Attenborough, segundo o qual ameaças ambientais são em


essência o perigo número 1 para a economia global, teve algum impacto em Davos . (Dorrit
Harazin, 27.01.19)

Nomeando-o comandante das tropas que guerreavam no Paraguai, alimentou a nociva intriga
política segundo a qual a Coroa tentava obscurecer a figura do Marquês de Caxias, seu
antecessor. (Elio Gaspari, O Globo, 17.02.19)

É a velha lenda segundo a qual grandes ministros são capazes de controlar presidentes .
(Elio Gaspari, 03.3.2019)

Desde que os franceses vieram pegar pau-brasil e papagaios na costa da Terra de Santa
Cruz, o ufanismo nacional cultiva a ideia segundo a qual os estrangeiros querem vir para cá
. (Elio Gaspari, 07/04/2019)

O projeto pretende enfrentar uma guerra de narrativas em que se defende a tese de que 65
anos de idade mínima é excessivo. (Merval Pereira, 22.02.2019)

Queria desfazer os boatos de que estaria desgastado com o presidente devido a denúncias
de uso indevido de verbas propagandísticas durante a eleição. (Merval Pereira, 22.02.2019)

Existe uma diretriz, chamada CATCH-22, segundo a qual só uma pessoa anormal não
enlouqueceria com a perspectiva da morte quase certa . (Veríssimo, 22. 08.2019)

A opinião de que Macron é um “idiota, oportunista”, postada pelo ministro da Educação


parece mais uma vergonhosa sabujice do que a opinião de uma autoridade.” (Merval Pereira,
27.08.2019)

A ideia segundo a qual os ministros são sábios que sabem fazer contas é uma lenda urbana.
(Elio Gaspari, 18.09.2019)

Durante os dias do espetáculo da prisão de Temer apareceram histórias segundo as quais


(ele) poderia fugir do país . (Elio Gaspari, 22.09.2019)

Faz pouco sentido que se propague a ideia de que existe uma rede pivada top, plus, star ou
d’argent, contrapondo-se à dos hospitais públicos. (Elio Gaspari, 22.09.2019)

Recebeu péssimas notícias, entre elas a de que ocupa o penúltimo lugar num ranking de 17
empresas do mesmo setor. (Lauro Jardim, 13.10.2019)

16
A SINTAXE DO PORTUGUÊS
Eu não fui à primeira edição do Rock in Rio. Sim, é verdade. Vexame supremo para a geração
de cariocas que adentraram a juventude nos anos 1980. Perdi o “Rock in Rio, a origem”. Não
assisti ao longa que deu origem à série. Tinha 15 anos e nenhum dinheiro naquele início de
1985.
...
Mas como são misteriosos os caminhos, não da amizade, como eternizou em verso Vinícius
de Moraes, mas do cérebro, esse gaiato que nos acompanha. De súbito vem a lembrança.
Fui, sim. Engrossei o 1,38 milhão de espectadores dos dez dias de festival.
...
Perdi a voz de tanto berrar “Love of my life” a um Freddie Mercury descamisado, legging
branca e faixa vermelha a abraçar-lhe a cintura. Ajudei a ressuscitar a carreira de James
Taylor, fazendo coro de “You’ve got a friend. Celebrei a Nova República, cantando com
Cazuza e Barão Vermelho “Pro dia nascer feliz”, pela eleição (indireta) do presidente
Tancredo Neves, o primeiro civil após mais de duas décadas de ditadura, sem saber que ele
jamais adentraria o Palácio do Planalto.
Eu não estava lá. Mas me lembro. De tanto ouvir histórias, ouvir gravações, assistir aos
vídeos, sei de cor o Rock in Rio. Obra do cérebro, explica o professor Ivan Izquierdo, diretor
do Centro de Memória da PUC-RS. O fenômeno, completa, tem até nome: memória falsa.
Não tem diagnóstico porque não está relacionado a uma patologia. É situação comum, que
avança junto com a idade. O neurocientista, nascido na Argentina e radicado no Brasil há
quase meio século, é dos mais importantes cientistas do país. “Todos estamos cheios de
memórias fictícias; não é nenhum sintoma de nada. É um fenômeno muito humano. Ou talvez,
muito animal”, comenta.
A sensação de ter vivido, encarnado a experiência alheia tem a ver com os mecanismos de
fixação das memórias. Elas se gravam ao mesmo tempo no hipocampo (estrutura dentro do
lobo temporal) e em várias regiões do córtex cerebral. A cópia guardada no hipocampo, ensina
o mestre, é a principal, a que reconhecemos como nossa. Os demais registros estão sujeitos
a mudanças. ... “Quanto mais vivemos, mais memórias falsas acumulamos”, sentencia
Izquierdo.
Estão explicadas as lembranças tão reais do primeiro Rock in Rio, ao qual não compareci,
mas registrei. E resolvidos tantos outros mistérios da vida brasileira. É provável que resida aí
também o milagre do Maracanazo. Só o maroto cérebro seria capaz de transformar em
milhões os 200 mil protagonistas do silêncio absoluto após o gol de Ghiggia, que deu ao
Uruguai a Copa de 1950. Ainda hoje, eu fecho os olhos e ouço.
Flávia Oliveira, O Globo, 13.09.2015

SE FÔSSEMOS FEITOS PARA DURAR 120 ANOS


17
A SINTAXE DO PORTUGUÊS

Dando continuação ao exercício da última aula, retire todas as completivas do trecho a


seguir, aponte a que subordinada está ligada e indique sua estrutura, diga se é ou não
selecionada, dê a função que exerce na principal e finalmente diga que rótulo ela recebe
nos quadros tradicionais e nos quadros teóricos mais recentes.

Vem aí o mundo dos homens e mulheres centenários.(...) Alguns cientistas


defendem que a ciência deve colocar todos os instrumentos possíveis a serviço do
objetivo de estender a vida e de retardar o envelhecimento, mesmo que o ser
humano não tenha sido planejado para isso. A medicina do século XX identificou e
eliminou as causas das doenças infecciosas, o que, junto com uma série de
mudanças no estilo de vida, como trabalhos menos pesados, ajudou a aumentar a
média de vida da população. A medicina do século XXI procura soluções para as
doenças vasculares, o câncer, as patologias degenerativas e as inflamações
crônicas, males que acometem com frequência pessoas idosas. A engenharia
genética promete ser a chave para curar essas doenças e para ampliar o limite da
longevidade humana. Já se conseguiu localizar o gene que determina a
longevidade em ratos. Em experimentos, o tempo de vida desses animais foi
aumentado em até 30%. Os pesquisadores acham que no futuro será possível fazer
o mesmo com os seres humanos. A questão é saber que limites há para a extensão
da vida humana. Em uma sociedade em que o número de aposentados é maior
que o de pessoas em atividade, o sistema poderia entrar em colapso, pois, em
muitos países, quem para de trabalhar já chegou à faixa dos 60 anos. Se fosse
possível superar as limitações estruturais do corpo humano, controlar a
degeneração dos órgãos e estender a vida para além dos 120 anos, seria
necessário que se reorganizasse o sistema econômico e social. Parece, contudo,
que o sonho da longevidade se afigura cada vez mais possível.

(Revista Veja, 03/03/2004)

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Exercícios – Completivas e Relativas
Dando continuação ao exercício da última aula, retire todas as completivas e relativas
do trechos a seguir, aponte a que subordinada cada uma está ligada, indique sua
estrutura e função. Apenas depois disso, consultando nosso texto-base e o estudo dirigido,
dê sua classificação usando seu “rótulo”, segundo a tradição e propostas teóricas mais
recentes.

Gabriel Garcia Marquez dizia / que a grande luta e a melhor tática [de quem escreve ] é / usar
de todos os meios / para hipnotizar o leitor com o ritmo das frases e a sonoridade das palavras
– e / levá-lo ao próximo parágrafo. (Nelson Mota, 8.8.2014).

O senador Pedro Simon foi o último brasileiro a acreditar na lógica. (...) E, depois que até o
senador Simon abandonou a lógica, parece que caímos no reino do ilógico. É ilógico pensar
que estamos em meio a um golpe conservador contra um governo, que, mais do que o
anterior, faz a alegria da classe rentista. (Veríssimo, 23.06.2005) (que faz mais a alegria da
classe rentista / do que o anterior (fazia))

Convenceram-se / (de) que (a rainha) estava louca / quando ela anunciou / que havia alguma
coisa / crescendo na sua nuca, algo / que começara a vida como um cravo / e crescia sob os
seus cabelos. Nasceu aí o boato / de que a rainha sofria de uma temível doença chamada
Dança de São Beltrão, /que fazia / as pessoas mexerem os ombros/ e / sacudirem a cabeça /
sem parar, / e / devia seu nome a um desafortunado monge / que continuara a mexer os
ombros / e / sacudir a cabeça mesmo depois de morto. (Veríssimo, 24.06.2001)

Invejo / quem pode comer doce,/ quem consegue dormir em avião, /quem fala bonito, /quem
tem neto, / quem sabe programar o timer. Invejo aqueles /que têm certeza,/ que têm fé /e /que
têm cabelo.

Quem já deu autógrafos / ou costuma pedi-los / tem curiosidades /para contar. (...) Há os
autografantes / que escrevem “Um abraço” e o nome e pronto/, e há os / que se sentem
obrigados /a fazer dedicatórias diferentes e personalizadas para cada um. O que é ótimo /
para quem pede o autógrafo, /mas (é) ruim / para quem está na fila /e precisa esperar / até
que a inspiração chegue ao autor. Sei de gente que considera mais fácil escrever um livro
do que escrever boas ou originais dedicatórias no livro. Sou destes. A verdade é /que
minha experiência [ dando autógrafos] é de pânico constante. E, [porque sei /que isto é fatal,
/ fatalmente acontece. Não adianta /recorrer a estratagemas insanos, só explicáveis pelo
desespero. (Veríssimo, O Globo, 06.12.2007)

19

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