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I. Introdução
mais o centro do universo, mas o homem. Havia então a necessidade de conhecer e dissecar
esse homem, descrevendo suas características e tornando possível sua modificação, visando a
adaptação de comportamentos e atitudes do homem ao modelo de sociedade proposto.
E, assim como a Psicologia volta-se para a metodologia das ciências naturais para ser
reconhecida, a Pedagogia irá recorrer à Psicologia a fim de obter elementos para constituir um
caráter de cientificidade. Essa busca de substrato das idéias psicológicas pode ser evidenciada
em algumas escolas pedagógicas. Não se pode desconsiderar, portanto, o caráter histórico
dessa busca, cuja gênese se encontra em dado momento do desenvolvimento da sociedade
capitalista.
Entretanto, esse vínculo ou compromisso da Psicologia com a proposta liberal de
sociedade não corresponde à totalidade do que compreende a Psicologia. Lev Semenovich
Vigotski e seus seguidores, como Alexander Luria, Alexis Leontiev, Daniil Elkonin e Ion
Davidov, intentaram elaborar uma teoria psicológica de base marxista. Essa teoria estava de
acordo com a concepção de homem para uma sociedade socialista, da mesma forma que a
chamada Psicologia burguesa instaura-se atrelada aos pressupostos da ideologia liberal e seu
ideal de homem. É a abordagem psicológica de caráter liberal que irá subsidiar alguns
pensadores defensores do movimento da Escola Nova no Brasil, cujos pressupostos ainda se
fazem presentes nos dias atuais.
No entanto, nem toda Psicologia traz esse viés que desconsidera aspectos históricos,
sociais e culturais na constituição humana. Lev Semenovich Vigotski4 (1896-1934), psicólogo
russo, traz o materialismo histórico-dialético como base de seu pensamento. Para Engels, o
homem não se adapta à natureza, como os animais, mas faz com que ela se adapte a ele. O
homem transforma a natureza e se diferencia dos animais pela capacidade de planejar e pelo
uso de instrumentos, pois sua intervenção na natureza não se dá diretamente, mas tem caráter
mediado. Vigotski, preocupado em que a Psicologia pudesse contribuir para a construção da
nova sociedade após a Revolução Russa de 1917, parte então dessa idéia, focando-se na
atividade prática do homem como ponto central para estudar as funções psíquicas superiores.
Denomina o primeiro nível, aquele de funções psíquicas simples ou inferiores, de processos
psíquicos naturais e, aos processos psíquicos superiores, de culturais, por serem processos
que anteriormente eram naturais, mas se transformam através da mediação de instrumentos e
meios específicos. (LEONTIEV, 2004a).
A origem do pensamento é a atividade humana, que é interiorizada de forma mediada
através dos signos; a palavra é considerada o signo por excelência. É essa mediação do signo
que transforma qualitativamente as funções psíquicas inferiores em funções superiores. Não
se deve perder de vista a relação do signo com a atividade da qual ele surge; assim, a
dimensão da atividade humana, ou seja, as condições concretas de existência do homem, são
determinantes de sua consciência e do desenvolvimento de suas funções psicológicas.
As funções psicológicas superiores (atenção, imaginação, memória, pensamento,
linguagem) são, num primeiro momento, interpsíquicas e, posteriormente, intrapsíquicas, a
partir de uma relação dialética entre elas. “Qualquer função psicológica superior foi externa
— significa que ela foi social; antes de se tornar função, ela foi uma relação social entre duas
pessoas” (VIGOTSKI, 2000, p.25). Note-se que relações sociais, para o psicólogo russo,
implicavam em relações historicamente situadas.
Vigotski morreu jovem, com apenas 37 anos. Estudiosos que integravam seu grupo
deram continuidade a seus trabalhos, desenvolvendo suas idéias que, devido a sua morte
precoce, não chegam a formar um corpo teórico fechado. Alguns autores fazem críticas em
relação a Vigotski, sustentando que este não teria pensado explicitamente a questão do sujeito.
No entanto, Vigotski pensou e teorizou sobre o desenvolvimento e a aprendizagem humanas,
que são duas categorias-chave para compreender como o sujeito se constitui.
Um dos pesquisadores que deu continuidade ao pensamento de Vigotski foi Alexis
Leontiev (1903-1979), que elabora a teoria da atividade. Para ele, a psicologia histórico-
cultural “parte [...] da idéia de que o homem é um ser de natureza social, que tudo o que tem
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de humano nele provém da sua vida em sociedade, no seio da cultura criada pela
humanidade” (LEONTIEV, 2004b, p.279). A passagem de um estado animal para um estado
humano constitui um longo processo, de milhares de anos, impulsionado pela vida em
sociedade e a fabricação de instrumentos provocada pelo trabalho.
Nesse sentido, considera-se que o psiquismo humano está intimamente interligado à
cultura. Leontiev afirma que, nesta etapa da evolução humana, o homem não é mais
dependente de suas propriedades biológicas; não no sentido de que esteja alheio às condições
biológicas e hereditárias, mas no sentido de que tais condições não são mais determinantes
para seu desenvolvimento. A concepção de cultura apresentada por Leontiev consiste no
mundo dos objetos e fenômenos criados pela humanidade ao longo de seu desenvolvimento
enquanto gênero humano (LEONTIEV, 2004b).
O desenvolvimento do psiquismo e a constituição da identidade são, assim,
compreendidos como apropriação da cultura e da experiência histórica da humanidade. Tanto
a linguagem quanto a cultura são considerados sistemas através dos quais o homem percebe a
realidade e organiza seu mundo.
Pode-se considerar que os teóricos aqui citados iniciam essa forma de aplicação da Psicologia
à Educação.
Em Introdução ao Estudo da Escola Nova, Lourenço Filho (1978) apresenta, além dos
autores anteriormente citados, como Froebel, Pestalozzi e Herbart, considerados os primeiros
sistematizadores do ensino, o pensamento de outros educadores, assim como seus sistemas
educativos e a forma de organização das Escolas Novas nos países da Europa e nos Estados
Unidos.
Inicialmente, eram destinadas ao ensino secundário, mas, posteriormente suas idéias
passaram a ser aplicadas também no ensino primário. Na obra já citada, Lourenço Filho
apresenta as características gerais das Escolas Novas, através do documento da associação
dessas escolas, apresentado em 1919 no Congresso de Calais.
As Escolas Novas são denominadas de laboratório de pedagogia prática. Em relação à
organização, deviam ser em regime de internato, preferencialmente localizadas no campo, por
ser “o meio natural da criança” (LOURENÇO FILHO, 1978). Os alunos são agrupados em 10
ou 15, com o acompanhamento de um educador e sua esposa (ou colaboradora), sendo
destinada esta organização a uma escola para ambos os sexos convivendo juntos. As
atividades consistiam em trabalhos manuais (ao menos uma hora e meia por dia) e outras
atividades de fim educativo. Além disso, aconselhavam-se atividades desportivas e jogos,
jardinagem e passeios a pé ou de bicicleta.
Em relação à formação intelectual, mais do que a acumulação e memorização de
conteúdos, o ensino é voltado para a formação do espírito crítico, que é decorrente da
aplicação do método científico de observação, hipótese, comprovação e formulação da lei. O
ensino da teoria é iniciado sempre a partir da atividade prática, da experiência, já
direcionando os jovens para um interesse profissional.
Quanto à formação moral, da mesma forma que a intelectual, deveria ser feita não
através da imposição da autoridade, de fora para dentro, mas de dentro para fora, procurando
despertar o espírito crítico a partir da experiência e da liberdade. O desenvolvimento espiritual
do aluno seria através de uma atitude religiosa não-sectária, mas baseada na tolerância e no
sentido de formar um cidadão que cumprisse seus deveres com a pátria e a humanidade. Este
último princípio foi incluído posteriormente, isto porque, após as Grandes Guerras, houve um
recrudescimento do sentimento de que as novas gerações deveriam ser educadas para o bem.
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Lourenço Filho (op. cit.) ressalta que, mesmo na Europa, nem todas as escolas
aderiram a todos os princípios apresentados no congresso, o que pode ser visto um ponto para
discussão sobre as reais condições de se implementar tais idéias.
Ghiraldelli Jr. (2003) aponta como fato significativo que Lourenço Filho não tenha
apresentado divergências entre a vertente pragmatista-instrumentalista de John Dewey e a
abordagem vitalista-espiritualista de Maria Montessori. As duas correntes estiveram próximas
e até aglutinadas na Associação de Educação Progressiva, criada em 1919, nos Estados
Unidos. A partir de 1925, John Dewey inicia suas críticas às Educação Progressiva, no sentido
que era extremamente centrada no indivíduo.
John Dewey (1859-1952), considerado o maior filósofo da Educação dos Estados
Unidos, professor da Universidade de Chicago, cria, em 1896, uma escola primária
experimental vinculada àquela universidade. Segundo Ghiraldelli Jr. (2001), as idéias de
Dewey conquistam os jovens intelectuais brasileiros a partir dos anos 1920. Lourenço Filho
(1961) assim apresenta o filósofo norte-americano:
A inserção dos ideais do movimento Escola Nova no Brasil, segundo Nagle (2001),
ocorreu em dois períodos: o primeiro, do final da época imperial até o início dos anos 1920; e
o segundo, que se estende durante toda a década de 1920. O autor estabelece a primeira fase
como sendo de preparação na qual, apesar de não haver a instalação de instituições escolares
baseadas nessa abordagem, pode-se constatar o surgimento de idéias e princípios que
sinalizam o desenvolvimento de condições tais que propiciassem uma nova forma de
compreender a escolarização. Ghiraldelli Jr. (2001) denomina essa primeira fase (que
compreende o final do Império) como sendo de “entusiasmo pela educação”, marcado pela
expansão do sistema escolar e a necessidade de alfabetizar a população. As idéias
desenvolvidas nesse período são relevantes para que, posteriormente, o movimento da escola
nova possa se consolidar.
Tais marcas eram mais ideais do que reais e, de acordo com Zotti (2004), esses anseios
pertenciam às camadas médias que haviam apoiado a oligarquia cafeeira na mudança do
regime imperial para republicano. No entanto, tais questões não eram prioridade dessa
oligarquia que persistia no perfil de economia rural. Além do mais, não havia condições
concretas para que se desenvolvessem outras formas de compreender a escolarização, visto
que não havia nem mesmo um sistema escolar organizado como tal.
Historicamente, o escolanovismo encontra-se intimamente ligado à ideologia liberal,
cujo movimento só se fará sentir com maior força a partir de 1920, que compreende a segunda
fase do escolanovismo no Brasil (NAGLE, 2001). É essa penetração da ideologia liberal que
irá colaborar para a difusão do ideário da escola nova. Inicia-se a publicação de trabalhos
sobre o tema e suas idéias se disseminam no interior do movimento reformista da instrução
pública. Diversas reformas em âmbito estadual foram empreendidas nessa época: Sampaio
Dória em São Paulo, 1920; em 1923, Lourenço Filho no Ceará e Lisímaco da Costa no
Paraná; em 1925, Anísio Teixeira na Bahia e Pereira de Medeiros no Rio Grande do Norte;
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O processo que culmina com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova inicia-se
em 1931, quando Getúlio Vargas e o então ministro da Educação Francisco Campos
discursam na IV Conferência Nacional de Educação, no Rio de Janeiro, e convocam os
educadores no sentido de auxiliarem na definição de um direcionamento pedagógico para o
país.
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova é apresentado em 1932, tendo como
destinatários o povo e o governo. O conteúdo do manifesto abarca vários temas, iniciando por
um retrato da situação da educação brasileira e defendendo a organização de um sistema
educacional à altura das necessidades do país. Como bandeiras do manifesto podem-se citar o
ensino laico, público, obrigatório e gratuito para todos, além da co-educação para meninos e
meninas. Ghiraldelli Jr. (2001) defende que o documento, pautado principalmente pelas idéias
de John Dewey, visava influenciar as diretrizes do governo. Entre seus signatários, não havia
homogeneidade, sendo encontrados desde liberais mais elitistas, como Lourenço Filho, até
simpatizantes do socialismo, como Paschoal Leme e Roldão de Barros. Portanto, os liberais
de caráter igualitarista, como Anísio Teixeira, viam na educação uma forma de atenuar as
desigualdades do sistema capitalista. Já os liberais elitistas, entre os quais se enquadrava
Fernando de Azevedo, pensavam em uma escola destinada às elites, mas que reordenaria na
sociedade os indivíduos de acordo com suas tendências e capacidades (GHIRALDELLI JR.,
2001). A abordagem psicológica dos testes de aptidão disseminada principalmente por
Lourenço Filho vai ao encontro dessa forma de conceber a educação. Voltaremos ainda a essa
questão.
Inicialmente, o signatários do manifesto apresentam o problema da educação no Brasil
como tendo a primazia na hierarquia das questões nacionais. Nesse sentido, concebem a
educação como determinante das condições sociais que produzem o homem, tendo a
propriedade de modificar a estrutura da sociedade. Como uma das razões para o problema
educacional colocam a falta de espírito científico:
A educação nova, alargando a sua finalidade para além dos limites das
classes, assume, com uma feição mais humana, a sua verdadeira função
social, preparando-se para formar "a hierarquia democrática" pela
"hierarquia das capacidades", recrutadas em todos os grupos sociais, a que se
abrem as mesmas oportunidades de educação. Ela tem, por objeto, organizar
e desenvolver os meios de ação durável com o fim de "dirigir o
desenvolvimento natural e integral do ser humano em cada uma das etapas
de seu crescimento", de acordo com uma certa concepção do mundo (MPEN,
2001, p.59).
Por meio do trabalho será feita a formação moral do homem, através de valores
permanentes que engrandecem a alma. É interessante notar que, em passagens diversas do
texto, os termos utilizados para se referir ao sujeito dessa educação: por vezes é o homem,
outras vezes criança, indivíduo e, por vezes, a alma. A Nova Pedagogia, assim, mesmo
estando centrada no trabalho, dirige-se a um sujeito abstrato, aos homens de maneira geral,
como se esse homem, descolado das condições que o produzem, existisse na realidade social.
Os signatários do manifesto ainda antecipam críticas a essa escola do trabalho, afirmando que
a escola socializadora considera o homem como fim em si mesmo, respeitando sua
personalidade integral e buscando sintonia entre os interesses do indivíduo e da sociedade:
Essa seleção que se deve processar não "por diferenciação econômica", mas
"pela diferenciação de todas as capacidades", favorecida pela educação,
mediante a ação biológica e funcional, não pode, não diremos completar-se,
mas nem sequer realizar-se senão pela obra universitária que, elevando ao
máximo o desenvolvimento dos indivíduos dentro de suas aptidões naturais e
selecionando os mais capazes, lhes dá bastante força para exercer influência
efetiva na sociedade e afetar, dessa forma, a consciência social (MPEN,
2001, p.72 – grifos no original).
Manoel Bergström Lourenço Filho (1897 – 1970), após diplomar-se pela Escola
Normal Primária de Pirassununga, no estado de São Paulo, em 1914, conviveu com figuras
proeminentes de sua época, como Sampaio Dória e Roldão Lopes de Barros (ambos
signatários do Manifesto), o que lhe garantiu certo prestígio entre os intelectuais paulistas. Em
1925 começa a lecionar a disciplina de Psicologia e Pedagogia na Escola Normal de São
Paulo, lugar antes ocupado por Sampaio Dória. Lourenço Filho também foi diretor-geral da
Instrução Pública no Ceará, entre 1922 a 1924 e de São Paulo, nos anos de 1930 e 1931,
ocasiões em que empreendeu reformas educacionais nestes estados. Em 1927 fundou a
Sociedade Brasileira de Psicanálise. No período compreendido entre final de década de 1930
e meados da década de 1940, dirigiu o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) e
criou a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, entre outros peiódicos (BAPTISTA,
2004).
Um de seus primeiros estudos foi sobre a atenção, realizado a partir da aplicação de
testes. Em 1925, reativa o Laboratório de Psicologia Experimental da Escola Normal, que
havia sido desativado na década anterior. Lourenço Filho era um crítico das práticas
psicofísicas do século XIX e igualmente da psicologia clássica, fundamentando-se
principalmente nas idéias de Edouard Claparède6.
Em 1927, Lourenço Filho organiza a publicação, através da Companhia Editora
Melhoramentos, da coleção Biblioteca da Educação, com dez livros sobre temáticas
relacionadas à Educação, como psicologia, biologia e sociologia. Entre os autores da coleção
encontravam-se Émile Durkheim, Edouard Claparède, Henri Perón, Sampaio Dória, Alfred
Binet e Theodore Simon. Garantia-se, assim, a propagação do conhecimento especializado
considerado necessário ao educador (NAGLE, 2001).
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A proposta consistia na aplicação dos Testes ABC assim que o aluno fizesse a
matrícula, selecionando e nivelando os alunos em grupos de fortes, médios e fracos
(LOURENÇO FILHO, 1964).
O autor faz uma avaliação positiva quanto aos benefícios oferecidos pela testagem,
revelando semelhanças com a organização da escola conforme idealizada por Comenius, de
promover a racionalização do trabalho pedagógico: ensinar mais e em menos tempo, além de
possibilitar o controle em relação ao desempenho do professor.
Essas possibilidades ocasionaram que o emprego dos Testes ABC se tornasse uma
prática institucional adotada por diversas escolas em outras regiões do país, servindo como
referência em cursos de formação de professores para explicar fatores individuais de
aprendizagem. Lourenço Filho defende a utilização dos testes pelos professores como forma
de planejar sua ação e prever os resultados:
FILHO, 1964). O diagnóstico das “crianças-problema” permitiria que a escola fosse mais
eficiente no atendimento a esses alunos, moldando seu comportamento.
Nessa obra, Lourenço Filho apresenta um estudo estatístico pormenorizado dos
resultados práticos possibilitados pela testagem e seleção dos alunos. Além disso, aponta que
a organização dos alunos em classes seletivas permitia que se reduzissem os custos por aluno.
Assim o autor conclui a apresentação desses resultados:
O autor revela, assim, a possibilidade de maior controle não apenas dos resultados,
mas do desempenho do aluno, do professor, e dos recursos que o Estado despende na
educação de seus alunos. O sistema capitalista apropria-se das possibilidades trazidas pelo
desenvolvimento da ciência: o autor salienta que, ao agrupar os alunos, pode-se ensinar mais,
em menor tempo. A apreciação positiva dos benefícios dos processos de testagem e avaliação
retornam com vigor renovado no momento atual, em que o diversos sistemas de avaliação são
idealizados e aplicados como forma de controle dos recursos econômicos que o Estado
dispende com a Educação.
possuiria uma essência divina e o papel da Educação seria trazer essa essência, fazê-la vir à
tona, de dentro para fora.
Em Herbart, o sujeito é concebido num modelo intelectualista. A conseqüência para a
educação é que seu objetivo é o de despertar o interesse o orientá-lo para a ação no plano das
idéias. As lições deveriam seguir um roteiro, de fases ou passos, nos quais os assuntos são
gradualmente apresentados, é feita uma associação a respeito do assunto por parte do aluno e,
por fim, a aplicação (LOURENÇO FILHO, 1978).
O sujeito de que trata Dewey é o que aprende pela experiência que, no entanto, irá
ocorrer de acordo com os interesses do educando. É necessário agir para poder pensar e o
ponto de partida do pensamento são as situações-problema. A Educação precisa ser funcional,
socialmente eficaz, sendo a escola considerada uma micro-sociedade, na qual os indivíduos
aprenderão os comportamentos e atitudes socialmente esperados.
No Manifesto dos Pioneiros, percebe-se a ênfase no indivíduo universal, condicionado
pela natureza que, por ser sábia, concede aptidões a seu bel prazer. O processo educativo dar-
se-á de dentro para fora, de acordo com os interesses do sujeito e suas aptidões naturais,
segundo as quais cada um ocupará seu lugar na sociedade. No documento, atribui-se à escola
um papel preponderante nas transformações sociais, ao invés de considerá-la como sendo
engendrada por essa sociedade.
O sujeito de quem fala Lourenço Filho é mais objeto que sujeito: objeto de testagem e
medidas. Ou seja, é o sujeito que deve ser avaliado para que possa, comprovadamente, ocupar
seu devido lugar na sociedade de acordo com suas capacidades, que são avaliadas através de
métodos científicos e, portanto, indiscutíveis. A Educação tem o papel de avaliar suas
aptidões e permitir a formação para que esse indivíduo ocupe o lugar a ele destinado. Mesmo
não negando as diferenças entre os sujeitos, originadas por diversos fatores, Lourenço Filho
considera que são um obstáculo à aprendizagem e à função socializadora da escola, exigindo a
necessidade de se detectarem as crianças-problema.
Na perspectiva histórico-cultural, a constituição do sujeito não se dá nem de fora para
dentro, nem de dentro para fora, mas há uma relação dialética entre o sujeito e sua cultura,
entre o sujeito e seu momento histórico, entre o sujeito e tudo aquilo com que ele se relaciona.
A Educação implica em mediação e em propiciar que o sujeito se aproprie do que foi
produzido e acumulado pelas gerações anteriores.
A concepção de prontidão e maturidade para a alfabetização, veiculada através do
Teste ABC, persiste ainda hoje: quando os professores expressam que o aluno está quase
aprendendo, “falta só dar um estalo”, refletem essa postura. A concepção de prontidão baseia-
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Considerações finais
A Psicologia, como ciência que se foca no sujeito, ainda é considerada por alguns
teóricos como definitiva e incuravelmente marcada por seu papel de sustentação da ideologia
liberal burguesa e ajustamento do homem à sociedade, impedindo que este se conceba como
sujeito da história.
Saviani (2004) assim vê a situação da Psicologia atualmente:
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REFERÊNCIAS
DEWEY, John. Educação e Democracia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.
GHIRALDELLI JR., P. História da Educação. 2.ed. rev. São Paulo: Cortez, 2001.
LOURENÇO FILHO, M. B. Introdução ao estudo da Escola Nova. 12. ed. São Paulo:
Melhoramentos, 1978.
SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre
a educação política. 36. ed. rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.
ZOTTI, S. A. Sociedade, educação e currículo no Brasil: dos jesuítas aos anos de 1980.
Campinas, SP: Autores Associados, Brasília, DF: Editora Plano, 2004.
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NOTAS
1
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul;
membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicologia e Educação – GEPPE.
2
Professora doutora da UFMS/CCHS/DCH/ PPGEdu; coordenadora do GEPPE (orientadora).
3
COMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positiva. In: Coleção Os Pensadores, São Paulo: Abril Cultural,
1978. Tradução de José Arthur Gianotti.
4
Em relação à grafia do sobrenome de Vigotski, não há consenso. Alguns autores e editoras têm
preferência pela grafia com y. Neste texto optou-se pela grafia com a letra i preservando a grafia da
editora nas referências.
5
Será utilizada aqui a sigla MPEN para designar o documento “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”.
6
Edouard Claparède (1873 – 1940). Médico e psicólogo suíço, é considerado um dos precursores nos
estudos de psicologia da criança numa visão interacionista. Juntamente com Pierre Bovet, foi fundador do
Instituto J. J. Rousseau, destinado à formação de educadores e à pesquisas fundamentadas nos ideais
escola-novistas. Enfocava a importância dos interesses da criança.