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Rede SACI
19/10/2006
Romeu Sassaki fala sobre como vem sendo feita a inclusão das pessoas com
deficiência nas universidades dentro e fora do Brasil, e aponta as medidas
a serem adotadas para atender às necessidades especiais
Contudo, tem sido regra o fato de precisarem essas pessoas enfrentar individualmente
situações constrangedoras, primeiro nas provas vestibulares e depois nas aulas. Só
conseguia ser bem-sucedido no vestibular quem tivesse necessidades especiais que
não o atrapalhassem diante dos mesmos materiais de prova, dos mesmos recintos de
prova e do mesmo tempo de realização das provas, pré-determinados para o perfil
supostamente homogêneo da maioria dos candidatos, ou seja, das pessoas sem
deficiência.
Tais medidas foram tomadas em boa parte do País, mas não em todas as escolas
superiores. Por exemplo, em 1996, foi estabelecido um núcleo de pesquisa com o
nome de Desenvolvimento Técnico-Científico de Apoio às Pessoas Portadoras de
Necessidades Especiais, junto à Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos da
Universidade Católica de Goiás. Dentro desse núcleo, a Comissão de Vestibular,
visando o atendimento às pessoas com necessidades especiais, resolveu: "a) incluir
na ficha de inscrição um quadro para se saber, desde o início, quantos e quais casos
de candidatos existem para serem atendidos; b) para os casos de portadores de
deficiência locomotora, continuar separando salas de fácil acesso; c) para os
portadores de deficiência visual, fornecer, quando preciso, uma lupa e, em todos os
casos, colocar à disposição um monitor para leitura e anotação; d) para os portadores
de deficiência auditiva, colocar um intérprete em LIBRAS para eventuais
esclarecimentos; e) em todos os casos, deixar aberta a possibilidade de dilatação do
tempo para a realização da prova; f) incluir no Edital de Vestibular um esclarecimento
sobre as medidas estabelecidas" (Annete Scotti Rabelo, UCG-VA/SG, out. 1998).
Vários encontros regionais deste Fórum já foram realizados. O III Encontro Nacional
aconteceu em dezembro de 1998, em Belém (PA). Em 1999, a Coordenação Nacional
do Fórum de Educação Especial das Instituições de Ensino Superior comunicou que
"as atividades programadas para a realização dos fóruns regionais foram canceladas
por falta de recursos (...), recolhidos às suas origens por razões orçamentárias do
Governo Federal". Diante de tal situação, um grupo de professores se reuniu com a
Secretária Nacional de Educação Especial do MEC e chegou à decisão de criar
grupos de trabalho locais a fim de manterem vivo o Fórum Nacional (Antônio Lino
Rodrigues de Sá, Of. Circ. n° 05/99, de 5-7-99).
Uma das áreas que mais polêmica levantam em debates sobre a educação inclusiva,
especificamente no contexto do ensino superior, é a que envolve alunos surdos. Pouca
literatura pertinente está disponível em língua portuguesa. Um estudo, "Atuação do
Instrutor Surdo no Ensino da Língua de Sinais na Educação Superior", realizado na
Universidade de Ribeirão Preto (SP) por Cristina Cinto Araújo Pedroso e Tárcia Regina
da Silveira Dias, mostrou a importância da contratação de instrutor surdo, que auxiliou
nos atendimentos fonoaudiológicos, pedagógicos e psicológicos, capacitou alunos
para se comunicarem com colegas surdos, propiciou amizades entre alunos surdos e
ouvintes e motivou os alunos não-surdos a se aprofundarem no estudo teórico e
prático da língua de sinais (in Temas sobre Desenvolvimento, vol. 9, n° 51, jul./ago.
2000, p. 18-20).
Os meus contatos com eles ocorriam em duas situações distintas. Uma delas,
obviamente, foi a de salas de aula. Nós nos encontrávamos em diversos prédios e
salas, pois lá os alunos é que vão à sala de aula de cada professor e não como no
Brasil onde são os professores que comparecem às salas onde estão os alunos. A
segunda situação foi a de estagiário do curso, prestando serviço de aconselhamento a
alunos com deficiência física, visual, auditiva e múltipla da própria universidade. A SIU,
fundada em 1869 e hoje com 40.000 alunos, foi uma das pioneiras em receber
pessoas com deficiência a partir do longínquo ano de 1956, inicialmente oferecendo
transporte acessível e executando adaptações arquitetônicas em todos os recintos do
campus e posteriormente provendo serviços especializados para alunos com as mais
diversas deficiências.
No dia 28 de dezembro de 1981, realizei em São Paulo (SP) uma reunião técnica
sobre o tema "O Estudante Universitário com Deficiência Física ou Sensorial:
Situações Norte-Americana e Brasileira", com a participação de Ronald Blosser,
coordenador dos Serviços Especializados, e Mara Todtmann, especialista do Centro
de Avaliação e Desenvolvimento, ambos da Southern Illinois University. Acredito que
essa reunião tenha sido a primeira do gênero no Brasil. Discutimos os seguintes
assuntos, sempre comparando a situação americana com a situação brasileira ¾
barreiras atitudinais, barreiras arquitetônicas, quantidade de universitários com
deficiência, programas e serviços especializados, a filosofia e os objetivos dos
serviços especializados e a força do movimento dos alunos com deficiência dentro da
universidade. Posteriormente, fizemos uma ampla divulgação do relatório da reunião
(Boas & Novas, n° 5, jan. 1982, p. 1-4).
Exerci o magistério superior de 1965 a 1968 e de 1980 a 1990, com quatro disciplinas
em três faculdades de serviço social, aplicando na minha metodologia didática
princípios que, apenas em 1989, vim a saber que eram compatíveis com os de
educação inclusiva (Sassaki, Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos, pp. 18
e 111-127).
Ao longo dos últimos 25 anos, essas universidades junto com entidades de e para
pessoas com deficiência vêm participando de seminários nacionais com duração de
quatro dias para se atualizarem sobre o tema "A Universidade e as Pessoas com
Deficiência". Assim, a cada ano, publicam-se anais com mais de 300 páginas em letra
miúda, tal é a quantidade de palestras e discussões registradas. Dois universitários,
Lex Frieden e Justin Dart, ambos com tetraplegia e ativistas do movimento de vida
independente, participaram desses seminários nacionais. Mais tarde, eles se tornaram
figuras-chave na mudança radical das políticas públicas e leis pertinentes a pessoas
com deficiência. Eles ajudaram a escrever a hoje famosa Lei dos Americanos com
Deficiência, de 1990 (conhecida nos EUA como ADA ou Americans with Disabilities
Act). Justin Dart foi consultor especial de dois Presidentes dos EUA. Lex Frieden dirige
um centro de pesquisa na área de deficiências no Texas e já esteve no Brasil fazendo
palestras.
http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=18675