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As Mudanças Climáticas

A ciência e os impactos globais


O que precisamos de entender e a ciência por detrás do aquecimento global, para evitar
o aquecimento global e os danos irreversíveis dos impactos globais nas pessoas e no
planeta.

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1.0 0 Introdução
As mudanças climáticas são um dos maiores desafios, se não mesmo o maior desafio do
nosso tempo.
Este facto científico é tão certo como a ciência da gravidade.
Aquecemos o planeta cerca de um grau Celsius ou, cerca de um grau e meio Fahrenheit,
por acção dos gases de efeito estufa que colocamos na atmosfera, derivados da queima
de combustíveis fósseis e das outras actividades humanas.
E agora, estamos a caminho de atingir um aquecimento de 2 graus Celsius em meados
deste século, isto se continuarmos a queimar combustíveis fósseis.
Já estamos a começar a sentir os efeitos, que o aquecimento de 1 grau Celsius tem
implicações bastante importantes. Vimos que nos três últimos anos consecutivos, em
2014, 2015 e 2016, foram os anos mais quentes já registados.
No verão de 2018, as ondas de calor extremas, secas, incêndios florestais e inundações
que ocorreram por todo o hemisfério norte ao longo deste verão, enviaram uma
mensagem e, foi uma mensagem do clima, avisando que as mudanças climáticas já
chegaram.
Os impactos das mudanças climáticas já não são apenas subtis. No verão de 2018, vimos
isso a acontecer em tempo real nas nossas televisões, nos títulos dos jornais, e nos feeds
dos mídia sociais.
Estamos a ver refugiados climáticos e, lugares como nações insulares do Kiribati1, onde
as aldeias costeiras estão a desaparecer.
Miami Beach2, agora é, inundada regularmente, pela maré alta por causa dos efeitos do
aumento global do nível do mar.
Perdemos aproximadamente metade do gelo do mar no Ártico. Estamos a caminho de
ver um Ártico sem gelo numa questão de décadas, se continuarmos no percurso que
estamos.
Mesmo que reduzamos a zero as emissões de carbono já amanhã, continuaremos a
sentir os efeitos das mudanças climáticas nos próximos séculos. As emissões de carbono
que estamos a colocar na atmosfera hoje, têm um longo legado em termos das
mudanças climáticas e do que estas emissões estão a criar e irão continuar a criar.
Aqui, vamos estabelecer os princípios científicos fundamentais por detrás das mudanças
climáticas e do aquecimento global.
Precisamos de entender a ciência, para resolver os problemas sociais, ambientais e
económicos, que a mudança climática está a trazer.
Começaremos com os princípios da ciência atmosférica.

1
Republica do Kiribati é um país soberano composto por 33 ilhas, com atóis e recifes espalhados por uma
vasta área ao centro do Oceano Pacífico, abrangendo da Micronésia à Polinésia
2
Miami Beach é uma cidade localizada no estado americano da Flórida, no condado de Miami-Dade.
Foi incorporada em 1915.
Falaremos sobre como é que os dados climáticos são recolhidos, as tendências que esses
dados mostram.
Como é que devemos procurar os sinais das mudanças climáticas nos dados?
Iremos ver como se podem fazer cálculos básicos e usar modelos teóricos do sistema
climático para abordar as questões sobre as futuras mudanças climáticas.
Exploraremos os impactos das emissões de gases de efeito estufa, diferentes possíveis
cenários, futuros das emissões de gases de efeito estufa e, finalmente, discutiremos os
impactos que as mudanças climáticas podem ter nos sistemas social, cultural,
económico, urbano e noutros sistemas humanos.
Aqui procuramos refletir as informações recolhidas nos relatórios do Painel
Intergovernamental das Mudanças Climáticas ou IPCC.
Cientistas de todo o mundo reúnem-se para publicar esses relatórios e dizem com uma
certeza definitiva que: a mudança climática causada pelo homem está a acontecer.
Esses relatórios informam-nos sobre a política climática e a ação climática aos níveis
nacional e internacional.
Usaremos uma variedade de ferramentas para formar o nosso entendimento sobre
esses relatórios, incluindo palestras em vídeo, gráficos, tabelas e outros recursos visuais,
simulações de modelos climáticos e muitos outros recursos de dados.
No final, pensamos que terá uma profunda compreensão científica de como o nosso
sistema climático está a mudar.
Esperamos que seja capaz de articular por é que o comportamento humano está a
mudar e está a impulsionar as mudanças climáticas.
Entenderá como é que sabemos que o clima está a mudar e, entenderá a natureza
dessas mudanças.
O sistema climático é um sistema complexo, quando mudamos uma parte do sistema,
por exemplo, ao adicionar CO2 à atmosfera, ele tem impactos reverberantes dentro e
através de outros subsistemas como o oceano, a criosfera, no gelo, na biosfera, na vida
deste planeta, e nos sistemas humanos como, infraestruturas urbanas, economia e
segurança nacional.
Mais importante ainda, será capaz de desenvolver uma abordagem de pensamento
sistémico para entender os impactos das mudanças climáticas no planeta e nas pessoas.
Quanto ao papel humano, os humanos estão a impulsionar as forças por detrás da
mudança climática e, ao mesmo tempo, também somos significativamente afetados por
ela.
Então vamos começar.
Depois de ter uma compreensão firme da ciência, você poderá traduzir a sua
compreensão em acção, para que possamos reduzir as emissões e impedir que o nosso
planeta aqueça além de níveis perigosos.
O que são as mudanças climáticas?
1.1 Introdução ao clima e às mudanças climáticas
Introdução da ideia de mudanças climáticas, clarificando a diferença entre tempo e
clima e, a história das mudanças climáticas naturais e as que têm como origem o
homem

Para começar vamos discutir o básico da ciência climática e, para tal, impõem-se uma
pergunta-chave:
Qual é a diferença entre tempo e clima?
Vale a pena antes do mais elucidar que, apesar de designarem características a respeito
das condições atmosféricas e complementarem-se, é um equívoco usar estes dois
termos como sinónimos.
O que é o tempo?
Basicamente, o tempo corresponde ao estado atmosférico num determinado local
de forma momentânea. Sendo assim, o tempo está sujeito a diversas variações.
Exemplificando: de manhã, pode estar frio, no período da tarde, pode estar quente,
havendo então uma mudança de temperatura num curto espaço de tempo.
Essas mudanças não se limitam apenas à temperatura, podendo acontecer também em
relação à humidade do ar, à ocorrência ou não de chuvas etc. Factores
como pluviosidade (chuva), humidade relativa do ar, nuvens e radiação solar, actuam
directamente nas condições atmosféricas de um determinado lugar, influenciando,
então, o tempo.
Essas variações do tempo vivenciadas diariamente podem acentuar-se nalgumas
épocas do ano. Há momentos do ano em que os índices pluviométricos estão elevados,
assim como há períodos em que não há chuva nalguns locais. Há períodos em que as
temperaturas caem bruscamente, assim também há dias com intenso calor. Elementos
do tempo são, o vento, a humidade, a chuva e a temperatura.
E isto é o tempo!
E o que é clima?
Você com certeza que já ouviu alguém a dizer “Hoje o clima está tão seco!” ou
“Amanheceu com um clima tão frio!”? Bom, o emprego da palavra clima nessas
situações está errado. Como já foi dito antes, o estado momentâneo das condições
atmosféricas refere-se ao tempo, e não ao clima.
Para caraterizar um clima, é necessária uma análise durante um longo período. Pode-
se então dizer que o clima é um conjunto ou sucessão dos tipos de tempo e seus
elementos. Esses tempos são observados ao longo das estações do ano num
determinado local, durante um período de um conjunto de anos.
Assim tal como com o tempo, os elementos climáticos ou elementos do clima, que são
manifestações atmosféricas que provocam alterações imediatas nas condições
meteorológicas são, a radiação, a temperatura, a pressão atmosférica e a humidade do
ar.
Contudo, não são apenas os elementos climáticos que influenciam o clima. Há também
os factores climáticos, que correspondem às condições que provocam alterações ou que
determinam os elementos climáticos, ou seja, são os factores que condicionam
as condições atmosféricas de um dado lugar, resultando então no seu clima. Esses
factores são, a altitude, a latitude, o facto de estar próximo do mar (marítimo) ou do
continente (continental), massas de ar, as correntes marítimas ou a localização
geográfica.
Assim, o clima é a média estatística do tempo em escalas de tempo mais longas, e o
clima envolve o comportamento de todo o complexo sistema terrestre, contando com
os oceanos, a atmosfera, as camadas de gelo e a biosfera, e a vida na Terra.
O comportamento do sistema climático varia ao longo do tempo por razões naturais,
como a oscilação a sul do El Niño3, por exemplo, nos anos do El Niño estes tendem a ser
mais húmidos no inverno na Califórnia e com mais neve no sudoeste dos EUA.
Se o clima está sempre a mudar, a mudança climática, por definição, acontece sempre?
Bem, sim e não. Vamos dar uma olhadela ao período cretáceo4. Há cem milhões de anos
atrás, os dinossauros vagueavam pelo planeta quando o mundo estava mais quente do
que hoje, que há gelo nos polos.
Porque é que acha que a terra estava mais quente nessa altura?
Bem, poder-se-á ver uma sugestão à frente, nesta interpretação de como a Terra
poderia ter sido durante a era dos dinossauros, que parte desse mural indica porque é
que o início do Cretáceo era tão quente?

Bem, se você disse algo como erupções vulcânicas, está certo.

3
Os fenómenos El Niño são alterações significativas na distribuição da temperatura da superfície da água
do Oceano Pacífico, com grandes alterações no clima. Estes eventos modificam o sistema de
temperaturas do oceano Oscilação Sul e, por essa razão, são referidos muitas vezes como ENOS ou ENSO
(El Niño Oscilação Sul). O seu papel no aquecimento global é uma área de intensa pesquisa, ainda sem um
consenso.
4
Na escala de tempo geológico, o Cretáceo ou Cretácico é o período da era Mesozoica do éon
Fanerozoico que está compreendido entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás, aproximadamente.
As erupções vulcânicas são um factor natural, que ainda hoje, influencia o clima da
Terra.
Em escalas de tempo mais curtas, elas podem realmente arrefecer o clima colocando
partículas na atmosfera que bloqueiam o sol durante alguns anos, mas em escalas de
tempo mais longas, elas desempenham um papel diferente: transportam dióxido de
carbono para a atmosfera, aumentando o efeito estufa.
No passado geológico da Terra, as mudanças no clima ocorreram por causa de forças
naturais como os vulcões, mas ocorreram ao longo de dezenas de milhões de anos.
Mas como veremos nos próximos capítulos, mais à frente, as mudanças que acontecem
na atmosfera hoje não são naturais, são devidas à atividade humana.
Porque é que nos devemos preocupar com as mudanças
climáticas?
2.1 Introdução ao clima e às mudanças climáticas
Trata de explicar a diferença entre as mudanças naturais do clima no passado e as
mudanças climáticas de hoje provocadas pelo homem, introduzindo o gráfico “taco de
hóquei”
Se as mudanças climáticas acontecem naturalmente, porque é que nos devemos
preocupar com as mudanças climáticas que estão a acontecer hoje?
Bem, aqui há um equívoco: a ameaça das mudanças climáticas tem a ver com o calor
absoluto da terra. Mas não é este o caso, ou melhor, não é este o problema, o problema
é a taxa de mudança o que preocupa os cientistas.
Quão rápido é que o clima está a mudar hoje?
Está a mudar a uma taxa que nos permita adaptarmo-nos e com a qual poderemos
lidar?
Como é que os outros seres vivos podem lidar com isso?
Esta é que é a verdadeira questão, e é abordada por um gráfico que o Dr. Michael E.
Mann 5 e seus coautores publicaram há duas décadas atrás, chamado o “taco de
hóquei”.

5
O Dr. Michael E. Mann é Professor Distinto de Ciências Atmosféricas em Penn State, com compromissos
conjuntos no Departamento de Geociências e no Instituto de Sistemas Terrestres e Ambientais (EESI). É
também é diretor do Centro de Ciências do Sistema Terrestre da Penn State (ESSC).
Portanto, para reconstruir a forma como o clima mudou, no passado distante, antes do
período de aproximadamente cem a 150 anos, dos quais temos medições históricas
generalizadas de variáveis climáticas, precisamos de recorrer aos chamados registos
climáticos de proxy.
Registos climáticos proxy são registos naturais climáticos que conservam as
características físicas ou biofísicas do passado e que nos permitem medir as condições
meteorológicas para reconstruir as condições climáticas de outros momentos da história
da Terra.
São coisas como os anéis das árvores, os corais, os núcleos de gelo e os sedimentos de
lagos.
São os arquivos naturais no nosso ambiente, que nos dizem algo sobre como o clima
mudou no passado mais distante, e combinando as informações desses arquivos em
todo o mundo, podemos criar uma imagem de como o clima mudou num passado mais
distante.
Agora, há duas décadas, o Dr. Michael E. Mann e outros coautores publicaram um
estudo na revista Nature e, um ano depois, um estudo de acompanhamento na revista
Geophysical Research Letters, onde usaram um conjunto global desses registos de proxy
para reconstruir padrões à escala global de temperatura nos últimos mil anos e, no final,
isso permitiu-lhes construir uma curva que representasse a temperatura média do
planeta, ou especificamente todo o hemisfério norte, onde tiveram mais dados, nos
últimos mil anos, e o padrão que revelou foi de condições relativamente quentes há mil
anos atrás, durante o que às vezes é chamado de Período Medieval Quente, e de um
arrefecimento lento à medida que descemos para a Pequena Era Glacial dos séculos
XVII, XVIII e XIX, e depois, entramos na Revolução Industrial nos últimos dois séculos e,
as temperaturas dispararam para cima e esse pico para cima não tem precedentes ao
longo do nosso registo.
De facto, se usarmos a imaginação, esse recorde assemelha-se a um instrumento
desportivo conhecido como “taco de hóquei” e, o aquecimento moderno, é a ponta
desse taco de hóquei, e isso leva-nos para fora do intervalo estipulado pelo punho do
taco de hóquei nos últimos mil anos.
Não é preciso entender o funcionamento complexo do sistema climático da Terra para
entender o que queremos a dizer: que há algo de muito profundo a acontecer hoje no
nosso clima e, por implicação, isso provavelmente tem a ver connosco, com o efeito que
estamos a ter sobre o planeta, queimando combustíveis fósseis e aumentando a
concentração de gases de efeito estufa na atmosfera.
Então, o “taco de hóquei” tornou-se um ícone no debate sobre as mudanças climáticas,
porque contava uma história simples que as pessoas podiam entender, uma história do
profundo impacto que estamos a ter no nosso planeta e, como resultado, o taco de
hóquei foi submetido a esforços, ataques, por opositores às mudanças climáticas que
procuram ainda hoje desacreditar a ciência, mas hoje já não há mais um taco de hóquei,
existe uma verdadeira campeonato de hóquei, ou seja, existem muitos desses tipos de
reconstruções de temperaturas passadas, que foram sendo realizadas por diferentes
equipas de cientistas, que usam dados e métodos diferentes e, de facto, todos chegam
à mesma conclusão, que o aquecimento recente não tem precedentes desde o início,
para esses tipos de dados, há milhares de anos.

Mas vamos falar sobre adaptação e mudança climática.


Os seres vivos, incluindo nós, podem adaptar-se a mudanças substanciais no clima, se
as mudanças ocorrerem lentamente ao longo de milhares ou centenas de milhares de
anos.
A adaptação à mudança que está a ocorrer em prazos de décadas é muito mais
desafiadora.
Portanto, se concordarmos que a mudança climática causada pela atividade humana
é real, e que já nos apresenta sérios desafios e problemas, o que podemos fazer para
resolvê-la?
O que podemos fazer para impedir a emissão contínua de carbono na atmosfera, que
está a causar o aquecimento do planeta e as mudanças climáticas que o
acompanham?
Bem, existe o histórico Acordo Climático de Paris, assinado há vários anos, em que todos
os países do mundo se comprometeram a fazer reduções consideráveis nas suas
emissões de carbono.
Mas se, contabilizarmos todos esses compromissos, eles levar-nos-ão a cerca da metade
do aquecimento a que nos dirigiríamos, que é cerca o de cinco graus Celsius de
aquecimento do planeta ou um aquecimento de nove graus Fahrenheit lá pelo final do
século, isto se não fizermos mais nada.
O acordo de Paris aproxima-nos da metade do caminho para o que, a maioria dos
cientistas que estudam os impactos das mudanças climáticas lhe dirá, é onde entramos
em mudanças climáticas verdadeiramente perigosas e potencialmente irreversíveis,
aproximadamente dois graus Celsius ou três graus e meio Fahrenheit.
Portanto, o acordo de Paris leva-nos a meio caminho desse objectivo, ajuda-nos a forçar
a curva de emissões de carbono para baixo, mas precisamos forçar a curva ainda mais
rapidamente, se quisermos evitar mudanças climáticas catastróficas.
E o que isso significa é que o acordo de Paris, é apenas um ponto de partida.
Nas conferências internacionais subsequentes, os países do mundo precisarão
concordar em fazer reduções mais rigorosas nas suas emissões de carbono, se
quisermos enfrentar esse desafio e evitar mudanças climáticas catastróficas.
Então, sendo assim, podemos afirmar que estamos a fazer progressos significativos, mas
ainda temos um caminho muito significativo a percorrer.
Visão geral do sistema climático: Como é que o sistema
climático é construído?
3.1 Introdução ao clima e às mudanças climáticas
Discute os quatro principais componentes do sistema climático, com foco na estrutura
e composição da atmosfera. Em seguida, explica os diferentes tipos de gases de efeito
estufa e o efeito estufa
Então, o primeiro passo para realmente fazer algo sobre mudanças climáticas é
entender o clima, e por isso, agora vamos aprofundar os detalhes sobre o sistema
climático.
Começaremos com a forma como é que ele é construído.
O sistema climático é realmente um sistema de interação que envolve vários
subsistemas críticos: o oceano ou a hidrosfera com toda a água da terra, a atmosfera, a
criosfera, que é todo o gelo da terra e a biosfera e, a vida na Terra que participa no
sistema climático.
Esse sistema, está a ser forçado externamente por outros factores, como o calor do Sol
que aquece os oceanos e a atmosfera e, que está a interagir com a atmosfera, com gases
de efeito estufa sobre os quais falaremos mais adiante, que desempenham um papel
muito importante na modulação da temperatura da terra.
Então temos o oceano, a água que existe no oceano, e há ainda a água nos rios e lagos,
e parte dessa água evapora-se na atmosfera sob a forma de vapor d'água, que é um gás.
E o vapor de água, é na verdade um gás de efeito estufa, por isso interage com a energia
térmica que está a tentar escapar da superfície. Temos nuvens que se formam na
atmosfera.
Temos a vegetação e a superfície da terra e as propriedades da superfície da terra, que
influenciam o que acontece com a entrada da luz solar, que influencia a capacidade dos
solos de respirar dióxido de carbono para a atmosfera, a capacidade dos solos e da
vegetação de absorver a humidade na atmosfera.
E todos esses sistemas estão a interagir entre si em termos de física, em termos da
termodinâmica e, em termos das trocas de gases. Todos os processos que, como
veremos, são importantes para entender a dinâmica do sistema terrestre, a dinâmica do
sistema climático.
Então, a seguir, vamos falar com mais detalhes sobre o primeiro subsistema, a
atmosfera.
A atmosfera é dividida em diferentes camadas, a camada mais baixa é a que chamamos
de troposfera, Tropos significa mudança e, é onde o clima que experimentamos
acontece, é a parte mais dinâmica da atmosfera.
A troposfera estende-se por cerca de 10 a 14 quilómetros acima da superfície da Terra,
que é onde vivemos, é onde o clima que experimentamos acontece, e uma característica
importante da troposfera é que as temperaturas diminuem à medida que se sobe nela,
à medida que aumentamos de altitude ela arrefece, o que leva a um comportamento
mais instável e é por isso que o clima acontece nessa parte da atmosfera.
Quando chegamos ao topo da troposfera, encontramos a estratosfera, a próxima
camada acima e, na estratosfera, as temperaturas começam a aumentar à medida que
se sobe, acredite ou não, na verdade, fica cada vez mais quente quando se sobe na
estratosfera.
Portanto, a estratosfera é muito mais estável e, em essência, serve como uma tampa
para os sistemas climáticos.
Vamos então concentrar-nos amplamente na troposfera, ou seja, nos primeiros 10 a 14
quilómetros novamente, porque é aí que o tempo acontece, é onde vivemos, porque a
maioria das coisas com as quais nos importamos acontecem dentro da troposfera.
A maioria das mudanças climáticas de que falaremos acontecerão aqui, na troposfera.
Mas a estratosfera também desempenha um papel importante: é aí que está a camada
de ozono. Na estratosfera, o oxigênio é na verdade foto dissociado pela luz solar
recebida, pela radiação ultravioleta, e isso dá-nos a chamada camada de ozono.
E a camada de ozono é importante, porque absorve parte dessa radiação de alta
frequência do Sol, a que chamamos de radiação ultravioleta que seria prejudicial à vida
na superfície da Terra e protege-nos dessa radiação prejudicial. Esta desempenha
também um papel importante nas mudanças climáticas e no efeito do aumento das
concentrações de gases de efeito estufa.

Como veremos mais adiante, quando aumentamos as concentrações de gases de efeito


estufa, a troposfera aquece-se, mas a estratosfera na realidade arrefece, e isso significa
que, se queremos detectar o sinal da influência humana no clima, se queremos procurar
uma impressão digital que nos diga que o aquecimento realmente provém do aumento
das concentrações de gases de efeito estufa, a impressão digital que procuraríamos
seria, uma troposfera mais quente e uma estratosfera mais fresca, mas voltaremos a
isso mais tarde.
Finalmente vamos falar sobre composição atmosférica.
Agora, como pode ver neste diagrama a seguir, a atmosfera é principalmente nitrogênio
e oxigênio. Cerca de 99% da atmosfera é composta de nitrogênio e oxigênio, e apenas
1% é responsável por todos os outros traços de gases, incluindo todos os gases de efeito
estufa.
Acontece que, esses gases de efeito estufa podem ser muito potentes, mesmo em baixas
concentrações, eles podem ter um impacto profundo nas propriedades da nossa
atmosfera.

Aqui, estão algumas características importantes da composição atmosférica.


Em geral, tudo isto é muito bem misturado, os vários constituintes da atmosfera são
praticamente uniformes em todo o mundo, e isso é devido à mistura da atmosfera,
devido aos sistemas climáticos e à turbulência, sendo essa uma das principais premissas,
é que na nossa atmosfera tudo é relativamente bem misturado e uniforme.
Além disso, podemos assumir que a atmosfera se comporta em geral como um gás ideal,
o que nos permite usar a lei do gás ideal, um tipo importante de propriedade que nos
ajuda a descrever os atributos físicos da atmosfera.
Então, vamos falar brevemente sobre a lei ideal dos gases. A maioria de vocês viu ou
estudou isso na química do ensino médio, o famoso PV = nRT que descreve como a
pressão e a temperatura estão relacionadas, num gás.
Bem, na atmosfera, não temos um V, ou seja, não temos um volume finito, um
recipiente. O gás é livre para ir a qualquer lugar ao mesmo tempo e, portanto,
acabaremos por usar uma versão ligeiramente modificada da lei dos gases ideais, mas
será a mesma lei dos gases ideais que já conhece da química do ensino médio.
Vamos então fazer isso para entender as propriedades físicas de nossa atmosfera.
Existem algumas exceções a esta regra, alguns gases como o metano, que é um
importante gás de efeito estufa, têm fontes e sumidouros muito fortes, o que significa
que em algumas regiões as concentrações desses gases são maiores ou menores do que
noutras regiões. O vapor de água atmosférico pode representar um desafio ainda maior,
pois faz a coisa menos normal que um gás pode fazer - pode mudar de vapor de água,
através da condensação para água e, da água pode congelar-se e transformar-se em
gelo.
A água é realmente encontrada nas suas três fases ou estados: gás, líquido e sólido na
Terra. E, portanto, temos que levar em conta que, de facto, o vapor de água, a forma
gasosa da água, é um gás de efeito de estufa muito importante fazendo aumentar o
efeito de estufa e, é um factor de amplificação quando se trata de mudanças climáticas.
Mas falaremos sobre isso mais adiante. Portanto, até aqui sabemos que a atmosfera é
composta principalmente de oxigénio e nitrogénio, mas um por cento da atmosfera é
composta por todos os outros gases vestigiais: ozono, metano, dióxido de carbono,
vapor de água.
E o dióxido de carbono é encontrado apenas em concentrações de uma pequena fração
de percentagem na atmosfera, então poder-se-ia pensar que não teria muita influência,
mas acontece que é um gás de efeito estufa tão potente, que mesmo naquelas pequenas
concentrações, pode ter um impacto profundo no clima da Terra.
Vamos dedicar então alguns momentos para falar sobre o conceito conhecido como
efeito de estufa, uma vez que essa é uma parte crítica da história das mudanças
climáticas.

Os gases de efeito estufa, compreendem menos de 1% da atmosfera, mas têm um


profundo impacto na atmosfera por causa das suas propriedades potentes.
Os principais gases de efeito estufa emitidos pelo homem são, o dióxido de carbono, o
metano e o óxido nitroso; sim, o gás hilariante é um gás de efeito estufa produzido pela
actividade humana.
Uma propriedade essencial dos gases de efeito estufa, é a propriedade radiativa, que
tem a ver com a forma como esses gases interagem com a energia térmica, a radiação
que a Terra produz e tenta enviar para o espaço para se refrescar.
Esses gases de efeito estufa capturam e armazenam parte dessa energia térmica
enquanto ela tenta escapar.

De facto, não é assim que funciona uma estufa de verdade, uma estufa de verdade
bloqueia as correntes de vento que ajudariam a remover o aquecimento causado pela
luz do sol que entra pelo vidro da estufa.
Na atmosfera, o que está a acontecer é que o Sol está a aquecer o planeta, enquanto o
planeta está a tentar refrescar-se, enviando energia térmica para o espaço mas, os gases
do efeito estufa interceptam parte dessa energia térmica e, alguma dela escapa para o
espaço, mas alguma dela é reenviada de volta para a superfície da terra.
Isso significa que a Terra precisa produzir ainda mais dessa energia térmica para
arrefecer o suficiente para equilibrar o aquecimento do sol. E isso faz com que a
temperatura da superfície da Terra suba.
Este é o efeito estufa. Portanto, neste capítulo, focamo-nos nos componentes do
sistema climático: o oceano, a atmosfera, a biosfera, a criosfera.
Examinamos detalhadamente a estrutura e a composição da atmosfera e focamo-nos,
em particular, no papel dos chamados gases de efeito estufa, porque, como veremos, o
efeito estufa é fundamental para entender a ciência do impacto humano sobre a
atmosfera, no nosso clima.
Visão geral do sistema climático: Como é que funciona o
balanço energético?
4.1 Introdução ao clima e às mudanças climáticas
Introduz o conceito de balanço de energia no sistema climático. Compara a radiação
infravermelha à radiação ultravioleta, no contexto dos balanços de energia, além de
abordar o processo de como a radiação entra e sai da atmosfera da Terra .
Agora vamos falar então sobre o chamado balanço energético, ou de como equilibrar o
balanço energético dentro do sistema climático. E isto consiste em duas formas de
radiação fundamentalmente diferentes, a que chamamos de radiação de ondas curtas
e radiação de ondas longas.
Onda curta significa comprimentos de onda curtos da luz, a luz visível do Sol e a radiação
ultravioleta que vem do Sol, que é a radiação de alta frequência de ondas, bastante
curtas, por isso chamaremos radiação de ondas curtas a esse do material que vem do
Sol.

Então, para equilibrar o aquecimento do Sol, a Terra produz uma forma de radiação de
menor frequência, que chamamos de radiação de ondas longas. Devido ao seu
comprimento de onda mais longo, não podemos vê-la porque, ela não está na parte
visível do espectro eletromagnético.
Em vez disso, esta está no que chamamos a parte infravermelha do espectro, que
frequentemente associamos ao calor.
Portanto, temos essa radiação solar de ondas curtas que aquece a superfície da Terra e,
para equilibrar, a Terra, está a tentar enviar essa radiação infravermelha de onda longa
para o espaço.
Vamos ver se conseguimos entender esse equilíbrio com mais detalhe.
Então, vamos começar por olhar para a radiação de ondas curtas que está a descer em
direção à Terra a partir do Sol.
Verifica-se que existem cerca de (1.370 W/m2) mil trezentos e setenta watts de
potência para cada metro quadrado de área superficial dessa radiação de ondas curtas
que emana do Sol.
Isso é um pouco mais de energia do que ter um secador de cabelo de alta potência em
cada metro quadrado de superfície, mas como a Terra é uma esfera rotativa e, a
qualquer momento, é apenas a sua área de seção transversal, (pi r2) que vê a radiação
de ondas curtas recebida do sol.
Não é a área total da superfície da terra que é 4 pi r2 (ao quadrado), então obtemos esse
factor de pi r2 (ao quadrado) dividido por 4 pi r2 ou 1 para 4.
Ou seja:

π r2 / 4 π r2 = ¼
Então se tivermos: 1370 w / 4 = 370 W/m2

Tomamos esses mil e trezentos e setenta watts por metro quadrado, dividimo-los por
quatro, e isso dá-nos aproximadamente trezentos e setenta watts por metro quadrado
da radiação de ondas curtas que, em média, a superfície da Terra está a ver ou a receber.
Vamos agora converter isto em percentagem e chamar-lhe “cem unidades”.
São centenas destas unidades de energia solar que estão a descer tentando aquecer a
superfície da Terra.
O que acontece com essa percentagem de “centenas de unidades”?
No final, terão que ser equilibradas por “cem unidades” voltando ao espaço, para que
tenhamos um balanço energético, em que a quantidade de radiação recebida seja igual
à quantidade de radiação emitida e, dessa forma, a Terra possa manter uma
temperatura superficial aproximadamente constante.
Então, temos 100 unidades a descer e, vinte e três dessas unidades (ou seja 23%), vinte
e três por cento da luz solar recebida serão refletidas pelos constituintes da atmosfera,
de modo a que volte direta para o espaço.
Como se pode ver em baixo, na figura, dezanove por cento (19%) dessas cem de
unidades são absorvidas pela atmosfera, quatro por cento (4%) são absorvidas pelas
nuvens e resulta apenas que, quarenta e sete por cento (47%) menos da metade da
radiação de ondas curtas que é enviada para a superfície da Terra pelo Sol, na verdade
menos da metade, é absorvido pela superfície.
Agora, para que a superfície permaneça em equilíbrio, essas quarenta e sete unidades
(47%) de radiação de ondas curtas que aquecem a superfície terão que ser equilibradas
por 47 unidades de energia térmica, radiação infravermelha de ondas longas que a
superfície da Terra envia de volta ao espaço.
Bem, aqui é que está o problema, parte dessa radiação, que é a radiação infravermelha,
aquela radiação de ondas longas que a superfície da Terra está a enviar para o espaço,
será interceptada pelos gases de efeito de estufa, e eles enviarão uma boa quantidade
de volta para a superfície da terra.
Isso complica as coisas, o que significa que, se olharmos para aquela grande flecha
castanha clara, a superfície terá que produzir agora cento e dezasseis unidades (116) de
radiação de ondas longas, enviando isso para a atmosfera e para o espaço.
Como grande parte dela será interceptada pelos gases do efeito estufa, que são as duas
grandes setas vermelhas iguais e opostas que vemos no gráfico, os gases de efeito estufa
estão a absorver parte dessa radiação de onda longa emitida e, quando a absorvem,
enviam parte disso para o espaço, mas enviam também muita dela de volta para a
superfície da terra.
Então, enviamos cento e dezasseis (116), mas apenas doze (12) escapam diretamente
para o espaço, grande parte disso é absorvida pelos gases de efeito estufa, parte é
absorvida pela própria atmosfera e quase cem unidades (100) dessa radiação de ondas
longas retornam em direção à superfície da terra.
Se somarmos todos os números, poderá convencer-se de que tudo se equilibra, o
principal aqui é que, devido aos gases do efeito estufa, a Terra teve de enviar da
superfície cento e dezasseis unidades (116) de radiação de ondas longas da superfície,
enquanto tentava obter energia, para enviar energia de volta ao espaço.
Para produzir tanta radiação adicional de ondas longas, a superfície da Terra precisará
de aquecer e isso mais uma vez é o efeito estufa.
Existem outras maneiras pelas quais a superfície também envia energia de volta ao
espaço, ou de volta à atmosfera.
Há uma libertação de calor latente, quando você tem uma tempestade, você tem
movimento ascendente e vapor de água, humidade que é condensada em gotas de
chuva, que liberta calor, esta é uma das maneiras pelas quais a superfície pode colocar
energia de volta na atmosfera.
E cerca de vinte e quatro (24) dessas unidades chegam à atmosfera através desse calor
latente. Então no final, cerca de cinco por cento (5%) chega à atmosfera numa forma a
que chamamos de calor sensível.
Essas são as correntes de ar que simplesmente absorvem o ar quente e o trazem para a
atmosfera.
Portanto, no final, esta é uma imagem bastante complicada e, temos que entender
todos os constituintes da atmosfera e os papéis que desempenham, para entender esse
equilíbrio entre a radiação de ondas curtas recebida e a radiação de ondas longas.
Mas, em última análise, é a física desse balanço de radiação na atmosfera e o balanço
de energia na atmosfera, que formalizaremos quando introduzirmos o conceito de
modelo climático.
Um modelo climático resolverá toda esta física e, ajudar-nos-á a determinar, por
exemplo, qual é a temperatura da superfície da Terra para alcançar esse balanço
energético.
Conversamos até aqui, sobre o balanço energético da Terra numa escala global, e o que
vimos foi que a quantidade de radiação de ondas curtas que desce do Sol e aquece a
Terra, precisa de se equilibrar com a energia térmica que a Terra envia de volta para o
espaço.
Mas, acontece que há uma variação significativa nesse equilíbrio em função da latitude,
e é isso que é mostrado neste outro diagrama, da página seguinte.
Perto dos polos, onde temos grandes mantos de gelo, ou gelo marinho, uma quantidade
maior dessa energia solar descendente será refletida diretamente pela superfície da
Terra.
Portanto, isto é o mesmo que dizer que, essa componente varia com a latitude.
Perto do equador, as temperaturas são consideravelmente mais quentes do que nos
polos, o que significa que a Terra enviará mais do que a energia térmica de ondas longas
do equador, perto dos polos.
É o que representa a curva vermelha. A curva amarela mostra-nos, é claro, que há mais
luz solar, mais radiação de ondas curtas recebidas no equador e menos perto dos polos.
Então, como se pode ver na figura anterior, é emitida mais radiação de ondas longas nas
regiões tropicais quentes do que nas regiões polares frias, então há uma disparidade
aqui.
Na verdade, a radiação emitida excede a radiação recebida perto dos polos. Há um
déficit de radiação.
Por outro lado, perto do equador, há mais radiação recebida do que radiação emitida
por ondas longas.
Então pode-se perguntar, se há um excedente próximo ao equador, um excesso de
radiação, porque é que o equador não continua a aquecer?
Se há um déficit de radiação nos polos, porque é que eles não continuam a arrefecer?
Bem, acontece que o sistema climático, o oceano e a atmosfera em particular, agem de
maneira a transportar calor de baixas latitudes, onde há um excedente, para latitudes
mais altas, onde há um déficit.
Assim, de facto, um papel fundamental das correntes oceânicas e aéreas é aliviar essa
instabilidade de um excesso de radiação perto do equador e um déficit de radiação nos
polos.
A radiação recebida também varia no tempo, com base na hora do dia e na estação do
ano, e essa distribuição é influenciada pela rotação diária da Terra em torno de seu eixo
e pela órbita anual da Terra em torno do Sol.
A principal razão para as estações do ano é a inclinação do eixo rotacional da Terra em
relação ao plano definido pela Terra no Sol.
Isso faz com que o Hemisfério Norte e o Hemisfério Sul sejam orientados na direção ou
fora da direção do Sol, dependendo da época do ano.
Portanto e, em resumo, a quantidade de radiação de ondas curtas recebida do Sol no
topo da atmosfera da Terra varia em função da hora do dia e da estação do ano.
Visão geral do sistema climático: Circulação global
5.1 Introdução ao clima e às mudanças climáticas
Analisando os sistemas de circulação global, concentrando-se nos padrões de vento e
nos padrões dos oceanos. Ele enfatiza o relacionamento interligado entre esses
padrões.
Como acabamos de mencionar, a circulação atmosférica é um mecanismo essencial que
ajuda a equilibrar a distribuição da radiação solar na superfície da Terra.
Move o calor do equador em direção aos polos. Uma parte essencial desse mecanismo
envolve o aumento do movimento atmosférico. O aquecimento do Sol migra para o
norte e para o sul nos trópicos ao longo do ano, assim como a tendência para o aumento
do movimento atmosférico à medida que a superfície da Terra é aquecida em diferentes
locais.
O ar mais quente é menos denso do que o ar frio, e isso cria o que chamamos de
instabilidade convectiva, a situação instável de haver ar leve sob o ar pesado. Onde
existe essa instabilidade, há uma tendência para o movimento ascendente. Esse ar
quente na superfície sobe e arrefece. Aqui em baixo temos um esquema que mostra as
células de circulação em larga escala na atmosfera.
A circulação vertical geral da atmosfera envolve, em média, três células de circulação
em cada hemisfério, a primeira envolve subir perto do equador, descendo nos
subtrópicos, depois sobe novamente nas latitudes subpolares e, finalmente, desce
novamente perto dos polos, e podemos pensar nisso como três células circulantes.

Onde temos movimento ascendente, temos baixa pressão superficial. Onde temos
movimento descendente, temos alta pressão superficial.
Há uma tendência para o aumento do ar e das chuvas numa zona de baixa pressão, como
a ITCZ (intertropical Convergence Zone), ou zona de convergência intertropical, que é
a área nos trópicos onde a superfície da Terra é mais diretamente aquecida pelo sol.
A ITCZ está centrada no equador, mas muda para o norte e para o sul com a migração
do Sol ao longo das estações.

Esse aquecimento solar variável é mais lento sobre os oceanos e mais pronunciado sobre
grandes massas de terra, o que nos dá padrões de vento dramáticos e precipitação,
como a monção indiana.
O ar subindo nos trópicos finalmente afunda nos subtrópicos, formando uma faixa de
alta pressão superficial que nos dá o cinturão dos desertos.
Esse padrão de circulação do ar ascendente no equador, das chuvas próximas ao
equador e, do ar seco descendente nos subtrópicos, é conhecido como circulação
celular de Hadley.
O ar sobe perto do equador, espalha-se para os subtrópicos e afunda nos sub-trópicos.
Temos então esse ar que se afunda nos subtrópicos, mas que se eleva nas latitudes
médias, que forma o próximo membro das células de circulação atmosférica, e
finalmente temos esse ar que se eleva nas latitudes médias, descendo perto das regiões
polares e que forma o terceira célula da circulação atmosférica.
Esse aumento ocorre dentro dos sistemas de tempestades de latitude média, e esses
sistemas de tempestades de latitudes médias são impulsionados pelos contrastes e pela
temperatura, à medida que o ar subtropical quente encontra as massas de ar polar frias.
Essas diferenças de temperatura realmente impulsionam os sistemas de tempestades
que fornecem elevação na atmosfera e o movimento crescente nessa região subpolar.
Chamamos a esse local de frente polar, onde se misturam massas de ar frio e quente e,
onde temos movimento crescente dentro desses sistemas, de baixa pressão.
À medida que subimos na atmosfera, descobrimos que a superfície oeste das regiões
subpolares fica cada vez mais forte à medida que subimos na troposfera, até atingirmos
o limite entre a troposfera e a estratosfera, conhecida como tropopausa.
E, nesse local da atmosfera, entre 10 e 14 quilómetros acima da superfície e latitudes
subpolares, temos o que é conhecido como fluxo de jato, uma faixa de ventos de oeste
muito fortes.
Ventos que sopram d’oeste para o leste. O fluxo de jato que move os sistemas de
tempestades de latitude média e as propriedades da corrente de jato, estão
intimamente ligadas aos sistemas de tempestades de latitude média, a medida como
elas progridem, como se intensificam, e onde é que elas estão localizadas.

O jato polar pode ter vários quilômetros de profundidade e mais de 160 quilômetros de
largura, com os ventos mais fortes localizados tipicamente 5 a 10 quilômetros acima do
solo. Nesta visualização da NASA (veja a animação em 30D no link:
https://svs.gsfc.nasa.gov/3864), os ventos mais rápidos estão em vermelho; ventos mais
lentos estão em azul. Crédito: NASA
Esta é uma representação altamente idealizada da circulação atmosférica, ela
representa as médias de longo prazo.
Em tempo real, esses movimentos estão associados a sistemas de tempestades e
tempestades convectivas nas propriedades dinâmicas dos trópicos da atmosfera.
Tudo isso ajuda o sistema climático da Terra a resolver esse problema de aliviar a
situação instável de um equador que é aquecido e uma região polar que é arrefecida.
A atmosfera está a tentar transportar esse excesso de calor do equador para os polos, e
faz isso sob a forma dessas circulações atmosféricas.
Portanto, os padrões de vento também transportam o calor para a direção contrária, os
padrões laterais de vento são governados principalmente pelo que é conhecido como
força de gradiente de pressão e força de Coriolis, uma força efectiva que existe devido
ao facto de a própria Terra estar a girar.

Esse equilíbrio entre a força do gradiente de pressão e a força de Coriolis é conhecido


como equilíbrio geostrófico.
A força de Coriolis actua num ângulo recto com a direção do movimento, 90 graus para
a direita no Hemisfério Norte e 90 graus para a esquerda no Hemisfério Sul.
A força do gradiente de pressão é direcionada das regiões de alta pressão superficial
para as regiões de baixa pressão superficial.
Como consequência, o balanço geostrófico leva a ventos nas latitudes médias, entre a
faixa de alta pressão subtropical e a faixa de baixa pressão subpolar da frente polar
soprando de oeste para leste. Chamamos estes ventos de oeste.
Os ventos de oeste ficam mais fortes no ar, levando a regiões intensas de ventos fortes,
conhecidas como corrente de jato na troposfera superior de latitude média. Por outro
lado, os ventos nos trópicos tendem a soprar de leste a oeste, conhecidos como ventos
de leste ou, por vezes, ventos alísios.
No hemisfério norte, o equilíbrio geostrófico implica rotação dos ventos no sentido anti-
horário sobre centros de baixa pressão e rotação de ventos no sentido horário, sobre
centros de alta pressão.
As direções no hemisfério sul são opostas. Devido ao efeito do atrito na superfície da
Terra, há outro componente adicional nos ventos, é que eles sopram dos centros de alta
pressão e em direção aos centros de baixa pressão.
O resultado é um movimento espiralado ou convergente para os centros de baixa
pressão e um movimento espiralado ou divergente sobre os centros de alta pressão.
A convergência dos ventos em direção aos centros de baixa pressão está associada ao
movimento atmosférico crescente que ocorre nas regiões de baixa pressão superficial.
A divergência dos ventos para longe dos centros de alta pressão está associada ao
movimento atmosférico em queda que ocorre nas regiões de alta pressão atmosférica
na superfície.
Os oceanos também desempenham um papel fundamental no alívio do desequilíbrio de
radiação, transportando calor de latitudes baixas para as altas. O primeiro tipo de
circulação oceânica é a circulação horizontal, os giros oceânicos movidos pelo vento.

As principais correntes de superfície estão associadas aos giros oceânicos, as correntes


quentes polares de fronteira ocidental, como a Corrente do Golfo, associada ao giro do
Oceano Atlântico Norte, e a corrente Kuroshio, associada ao giro do Oceano Pacífico
Norte.
Esses giros também contêm correntes frias da fronteira equatorialmente oriental, como
a Corrente das Canárias no Atlântico Norte Oriental e da Corrente da Califórnia no
Pacífico Norte ocidental.
Sistemas actuais similares são encontrados no hemisfério sul. Os padrões horizontais de
circulação oceânica são impulsionados pelos padrões alternados de vento em função da
latitude e, em particular, pela tendência de ventos de oeste em latitudes médias e
ventos de leste nos trópicos, como discutido anteriormente.
O segundo tipo de circulação oceânica é a circulação vertical e, em particular, o que
chamamos de circulação reversa do meridiano, ou às vezes simplesmente a circulação
oceânica da correia transportadora.

Esse padrão de circulação oceânica está associado a uma tendência do movimento de


afundamento nas altas latitudes do Atlântico Norte e ao aumento do movimento nos
trópicos e subtrópicos do Oceano Índico e do Pacífico.
O padrão de circulação é impulsionado por contrastes e densidade, que, por sua vez,
são devidos principalmente a variações de temperatura e salinidade da água do mar, daí
o termo que às vezes é usado para descrever essa circulação, a circulação termoalina.
O movimento de afundamento está associado às águas superficiais salgadas
relativamente frias subpolares do Atlântico Norte e, ao movimento ascendente dentro
das águas relativamente quentes nos oceanos tropical e subtropical do Pacífico e Índico.
A extensão para norte da circulação termoalina no Atlântico Norte é chamada de deriva
do Atlântico Norte.

Esse sistema de correntes representa um transporte líquido de águas quentes de


superfície para latitudes mais altas no Atlântico Norte e um meio importante pelo qual
o sistema climático transporta o calor em direção às latitudes mais baixas para latitudes
mais altas.
Especula-se que mudanças neste sistema de correntes terão desempenhado um papel
fundamental nas passadas e potenciais futuras mudanças climáticas, como
exploraremos mais adiante.
Assim como a atmosfera exibe uma variabilidade interna natural a que chamamos de
clima, o próprio sistema climático exibe variabilidade interna natural em escalas de
tempo mais longas, e o mais importante e familiar desses modos de variabilidade
interna natural no sistema climático é a Oscilação Sul do El Niño ou OSEN.
No caso do OSEN, o que vemos a acontecer é uma interação entre o oceano e a
atmosfera. O Oceano Pacífico tropical tem sistemas de correntes que são dinâmicos, a
atmosfera tropical e os ventos alísios são dinâmicos e, essas duas coisas, podem
interagir entre si porque a força dos ventos alísios influencia realmente as correntes
oceânicas e a quantidade de água fria que surge do fundo para a superfície.
Quando esses ventos diminuem, quando os ventos alísios enfraquecem no Pacífico
equatorial oriental, a afluência dessas águas frias à superfície enfraquece e as águas
naquela região aquecem dramaticamente.
Normalmente, quando isso acontece, a cada poucos anos, aproximadamente na época
do Natal e, portanto, daí o nome El Niño, que alude ao menino Jesus, isto porque os
nativos sul-americanos viram que esse fenómeno costumava acontecer por volta do
Natal no inverno boreal.

Portanto, essas águas aquecem-se no Pacífico equatorial oriental e isso altera o padrão
relativo de temperatura leste-oeste ao longo do Pacífico equatorial. Mas esse padrão
leste-oeste de temperatura impulsiona uma circulação vertical na atmosfera, chamada
circulação de Walker, e a mudança na circulação de Walker altera a força dos ventos
alísios.
E, portanto, chegamos a um círculo completo se mudarmos os ventos alísios, mudará a
afluência de água fria no Oceano Pacífico tropical, mas se alterarmos a afluência de água
fria, alterará os padrões de temperatura que influenciam o padrão de circulação
atmosférica, que determina os ventos alísios em primeiro lugar.
E, portanto, este é um exemplo de um modo de variabilidade da atmosfera oceânica
acoplada que, não permite entender El Niño entendendo apenas a atmosfera. Não se
consegue entender a oscilação do sul de El Niño entendendo apenas o oceano.
É preciso entender como ambos interagem entre si para produzir esse modo de
variabilidade, que tende a variar em escalas de tempo de três a sete anos. Quando
analisamos o padrão global de influência do El Niño, vemos que o que acontece no
Pacífico tropical não permanece no Pacífico tropical.

Essas mudanças na temperatura da superfície do mar no Pacífico tropical oriental,


influenciam as correntes de jato nos dois hemisférios, e se alterarmos a corrente de jato
do hemisfério norte e a corrente de jato do hemisfério sul, alterará os padrões climáticos
em todo o mundo.
Portanto, os eventos do El Niño e por outro lado os eventos da La Niña têm um impacto
global no nosso clima. De alguma forma, eles são o sinal mais forte dos registos
climáticos.
Grande parte da variabilidade climática anual no mundo é influenciada pelo El Niño.
Agora, suspeitamos que a mudança climática provavelmente modifique os efeitos do El
Niño. Portanto, embora seja um modo de variabilidade interna natural no sistema
climático, também existe o potencial das mudanças climáticas para mudarem esses
padrões, de mudarem o comportamento do El Niño, e se mudarmos o comportamento
do El Niño, influenciaremos os padrões de seca no sudoeste dos Estados Unidos. Iremos
também influenciar as estações de furacões no Atlântico tropical e no Pacífico tropical.
Portanto, existem todo um tipo de fenómenos que são de grande interesse e
preocupação para nós, influenciados pelo El Niño, e se a mudança climática mudar o El
Niño, isso afetará esses fenómenos. Ainda não sabemos exatamente quais serão esses
impactos e, portanto, há incerteza nesses impactos regionais das mudanças climáticas.
Mas, mais uma vez, a incerteza não é nossa amiga, porque não se pode planear ou não
poderemos adaptarmo-nos a mudanças que não sabemos que estão para vir.
Outros princípios fundamentais: Mecanismos de feedback e o
ciclo de carbono

6.1 Introdução ao clima e às mudanças climáticas


Aqui discute-se os diferentes tipos de forças radioativas, mecanismos de feedback e
o ciclo do carbono em relação ao sistema climático

Para encerrar este módulo, apresentaremos três conceitos adicionais fundamentais que
precisará, para entender completamente como é que a ciência climática funciona. O
primeiro desses conceitos é o de força radiativa (conceito fundamental).
Lembrar-se-á da nossa discussão sobre algumas das forças naturais que influenciam as
mudanças climáticas, por exemplo, erupções vulcânicas que emitem o que são
conhecidos como aerossóis, partículas na atmosfera que bloqueiam parte da luz solar
recebida e influenciam o nosso clima da mesma maneira que os carros que libertam CO2
na atmosfera.
Então, como sabemos quais as mudanças que estão a impulsionar as mudanças
climáticas observadas?
Vejamos esta figura do relatório do IPCC, que resume os impactos relativos de várias
forças naturais e humanas no clima da Terra.

Podemos fazer uma avaliação aproximada da importância relativa de diferentes


factores, medidos em função da sua força radiativa estimada, medida pela energia por
unidade de tempo que uma dada força exerce por metro quadrado da superfície da
Terra.
Então, como lemos este gráfico?
Bem, existem factores de aquecimento e factores de arrefecimento, como podemos ver,
ambos naturais e humanos. Por exemplo, o aumento nas concentrações de gases de
efeito estufa da queima de combustíveis fósseis é um factor de aquecimento.

A poluição, que entra na atmosfera do dióxido de enxofre através das chaminés,


também forma os aerossóis de que falamos antes e, reflete parte da luz solar de volta
ao espaço. Portanto, esse é um factor humano que, na verdade, é um factor de
arrefecimento e que, compensa um pouco do aquecimento dos gases de efeito estufa.
Também existem erupções vulcânicas que são um factor natural que podem arrefecer a
superfície, e existem também alterações na produção do sol.
Quando o Sol se torna mais brilhante, isso influencia o aquecimento da superfície da
Terra. Quando o sol fica menos brilhante, tem uma influência refrescante na superfície.
Tudo isso é o que chamamos de forças radiativas, ou seja, é uma perturbação do
equilíbrio da energia incidente e da energia emergente do planeta e, algumas delas são
agentes de aquecimento e outras são de arrefecimento. Portanto, o que podemos tirar
deste gráfico é que as forças antropogénicas, a pressão humana sobre o nosso clima, se
tornaram agora a força dominante. E estão a agir principalmente na direção do
aquecimento.
O segundo conceito-chave é o dos mecanismos de feedback.
A resposta do clima às pressões seria muito mais fraca sem a influência desses chamados
mecanismos de feedback. Os mecanismos de feedback são mecanismos dentro do
sistema climático que actuam para atenuar um feedback negativo ou amplificar um
feedback positivo, são a resposta a uma determinada força ou pressão.
Um feedback positivo é aquele que multiplica o impacto das forças. Por exemplo, o
feedback do vapor de água. Uma atmosfera aquecida pode reter grandes quantidades
de vapor d'água da humidade. Como o vapor de água é um potente gás de efeito estufa,
isso leva a um aquecimento adicional. Este é um dos maiores feedbacks positivos no
sistema climático terrestre.
O feedback de Albedo do gelo é outro feedback importante dentro do sistema climático.
A superfície da Terra tem menos neve ou gelo à medida que aquece, levando a menos
reflexão e maior absorção dessa radiação solar de ondas curtas, outro feedback positivo
importante.

Depois, existem feedbacks radiativos nas nuvens. Esses são efeitos concorrentes
diferentes que podem ser positivos ou negativos. Por exemplo, se uma atmosfera mais
quente produz nuvens mais baixas, o principal impacto dessa maior cobertura de nuvens
seria refletir mais radiação solar para o espaço, um efeito de arrefecimento que seria
um feedback negativo.
Por outro lado, se uma atmosfera mais quente produz nuvens mais altas, como as
nuvens de cirros, o principal impacto dessas nuvens finas e altas é realmente aumentar
o efeito estufa devido à sua capacidade de capturar grande parte da radiação terrestre
de ondas longas, mantendo-se em grande parte transparente à radiação solar de ondas
curtas recebida, isso seria um feedback positivo.
O efeito líquido de todos estes feedbacks é positivo e serve para aumentar o
aquecimento que seria de esperar devido a uma força externa específica, seja o
aumento das concentrações de gases de efeito estufa devido à queima de combustíveis
fósseis ou o aumento da produção solar ou alguma outra agente de força externa.
Agora, quando se trata do efeito líquido de todos esses mecanismos de feedback, existe
um conceito relacionado sobre o qual falaremos mais tarde, conhecido como
sensibilidade climática. Ele aborda a questão de quanto aquecimento teremos se,
digamos, duplicarmos a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, e quanto
aquecimento dependerá não apenas do aumento dessas concentrações de gases de
efeito estufa, mas de todos os mecanismos de feedback dos quais falamos.
Finalmente, discutiremos o papel do chamado ciclo do carbono.
No passado, os modeladores climáticos costumavam fazer experiências nas quais
aumentavam a concentração de gases de efeito estufa no seu modelo e depois
calculavam o aquecimento esperado, mas essa construção é um tanto artificial porque,
actividades como a queima de combustíveis fósseis, não regulam directamente a
concentração de dióxido de carbono ou outros gases de efeito estufa
Como se pode ver aqui em baixo, o oceano, a biosfera terrestre e a biosfera marinha, ou
seja, toda a vida na Terra, interage com a atmosfera e os oceanos, no que é conhecido
como ciclo global de carbono.
Para os nossos propósitos, o importante aqui é que, quando lançamos dióxido de
carbono na atmosfera queimando combustíveis fósseis, pelo menos historicamente,
parte desse dióxido de carbono foi realmente absorvido pelo sistema climático, seja por
árvores e florestas em terra ou pelo plâncton da vida marinha e algas no oceano.
E, acontece que o oceano, a biosfera marinha e, a biosfera terrestre estão a absorver
quase metade do CO2 que estamos a colocar na atmosfera.
Isso leva a as concentrações de CO2 não aumentassem tão rapidamente quanto seria de
esperar, se todo o dióxido de carbono permanecesse na atmosfera.
Aqui está o problema: esses sumidouros de carbono que o oceano retém e que absorve
parte do carbono que estamos a colocar na atmosfera não são necessariamente
constantes.
Eles podem saturar-se, podem não ser capazes de absorver todo esse carbono. E se isso
acontecer, o carbono acumular-se-á ainda mais rápido na atmosfera.
E aqui está outra coisa: à medida que aquecemos o permafrost, à medida que
aquecemos as regiões geladas das zonas costeiras dos oceanos do mundo, há lá metano
preso que pode ser libertado para a atmosfera.
Acontece que o metano é um gás de efeito estufa ainda mais potente que o dióxido de
carbono; portanto, se isso acontecer, se o aquecimento provocar a libertação desse
metano, isso irá aumentará ainda mais o efeito estufa.
Isto é o que chamamos de feedbacks do ciclo do carbono, onde o carbono na forma de
CO2 ou o metano, são mobilizados pelo aquecimento do próprio sistema climático,
aumentando o efeito estufa e aumentando ainda mais o aquecimento.
A verdade sobre esses feedbacks do ciclo do carbono, é que eles são altamente incertos.
Ainda existem grandes incertezas sobre como muito desse carbono pode ser mobilizado
e devolvido à atmosfera com aquecimento adicional.
Essa incerteza não é um motivo de conforto, neste caso a incerteza não é nossa amiga,
porque cada vez mais descobrimos que esses mecanismos podem conduzir a um
aquecimento muito maior do que o que foi calculado nas últimas décadas, quando na
verdade, não lidamos com a natureza dinâmica do ciclo de carbono nas nossas
experiências de modelagem climática.
Então, quais são os principais pontos de referência deste módulo.
Bem, antes de tudo, aprendemos que o sistema climático representa uma interação
complexa entre vários subsistemas, a atmosfera, os oceanos, a criosfera e a biosfera.
O clima sempre mudou devido a forças naturais. No entanto, essas forças são
relativamente pequenas e ocorrem em períodos muito longos.
Em contraste, as forças induzidas pelo homem no último século produziram uma taxa
de mudança que excede tudo o que vimos nos séculos anteriores e, finalmente, pode
exceder nossa capacidade de adaptação e a capacidade de adaptação dos outros seres
vivos.
Um fator-chave que influencia a taxa atual de mudança é o conceito dos mecanismos
de retroalimentação ou de feedback; a taxa de aquecimento é realmente mais alta do
que seria calculado apenas a partir das emissões devido às interações complexas no
sistema climático, a resposta desse sistema e como isso ocorre, pode realmente
amplificar o aquecimento inicial causado por um aumento nas concentrações de gases
de efeito estufa.
Leitura recomendada para complementar o Módulo 1

IPCC 2014: Climate Change Synthesis Report, Summary for Policymakers

Citation: IPCC, 2014: Climate Change 2014: Synthesis Report. Contribution of Working
Groups I, II and III to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on
Climate Change [Core Writing Team, R.K. Pachauri and L.A. Meyer (eds.)]. IPCC,
Geneva, Switzerland, 1-31.

IPCC 2014: Future Climate Changes, Risk and Impacts: Table 2.3

Citation: IPCC, 2014: Climate Change 2014: Synthesis Report. Contribution of Working
Groups I, II and III to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on
Climate Change [Core Writing Team, R.K. Pachauri and L.A. Meyer (eds.)]. IPCC,
Geneva, Switzerland, 71-72.

The Earth-Atmosphere Energy Balance

Citation: The National Weather Service. (n.d.). The Earth-Atmosphere Energy Balance.
Retrieved from Weather.gov: https://www.weather.gov/jetstream/energy

Climate and Earth's Energy Budget

Citation: Lindsey, R. (2009, January 14). Climate and Earth’s Energy Budget. Retrieved
from Earth Observatory: https://earthobservatory.nasa.gov/features/EnergyBalance

Greenhouse Effect

Citation: North Carolina State University Climate Office. (n.d.). Greenhouse Effect.
Retrieved from North Carolina Climate Office:
https://climate.ncsu.edu/edu/GreenhouseEffect
Observar e medir as mudanças climáticas antropogénicas

7.1 Mudanças nos gases de efeito de estufa


Explicação sobre como é que os cientistas sabem que as mudanças climáticas estão a acontecer
e como é que a maioria dessas mudanças é antropogénica.

Neste módulo, abordaremos a questão:

“Como sabemos que as mudanças climáticas estão a acontecer ou quais os factores


que estão a mudar, tais como as concentrações de gases de efeito estufa, e que
acreditamos estarem a impulsionar as mudanças climáticas?

A resposta está nos dados observacionais. Nos próximos capítulos, voltamo-nos para
medições instrumentais, documentando as mudanças nas propriedades de nossa
atmosfera ao longo do tempo.
O objetivo das medições são para avaliar se parece haver tendências nas medições do
clima e nos factores que governam o clima e, se essas tendências são consistentes com
as nossas expectativas de como deve ser a resposta do sistema climático aos impactos
humanos. Essas medições vêm de uma variedade de fontes, desde medições de
mudanças nos níveis de CO2 na atmosfera a observações e registos de eventos climáticos
extremos.
Vamos começar com a pergunta fundamental:
Em primeiro lugar, existem evidências de que os gases de efeito estufa, supostamente
responsáveis pelo aquecimento observado, estão realmente a mudar?
Existem evidências de que realmente haja mais CO2 na atmosfera, no início do século
XXI do que no início do século XX?
A resposta é, Sim.
Roger Revelle e Charles David Keeling fizeram medições directas dos níveis de CO2 na
atmosfera, a partir dos mesmos locais ao longo de décadas, no Observatório Mauna Loa,
no Havaí.
Eles fizeram medições contínuas de CO2 atmosférico a partir de 1958, e o resultado é a
curva mais famosa de toda a ciência atmosférica, a chamada curva de Keeling6.
Esta curva mostra um aumento constante nas concentrações atmosféricas de CO 2 na
atmosfera de cerca de 315 partes por milhão, quando as medições começaram em 1958,
para mais de 400 partes por milhão hoje.

E, continuam a subir. Foram estabelecidos registos de longo prazo noutros locais do


mundo. Há também registos do núcleo do gelo que nos dizem que os níveis de CO2 eram
mais baixos no início da Revolução Industrial, cerca de 280 partes por milhão na
atmosfera.
E as 400 partes por milhão de CO2 na atmosfera que vemos hoje, aproximando-se agora
de 410 partes por milhão de CO2 na atmosfera, é o nível mais alto que vemos nos núcleos
de gelo e noutras medições indiretas que nos remetem para vários milhões de anos
atrás.
Portanto, os níveis de CO2 na atmosfera hoje, são literalmente, os mais altos que já
vimos em milhões de anos.
Como sabemos que o aumento de CO2 na atmosfera provém dos seres humanos e não
são naturais?

6
Charles David Keeling foi o cientista por detrás deste gráfico, com implicações na investigação
das alterações climáticas. Então com 28 anos, em 1956, Charles Keeling, já doutorado em
Química e a fazer medições do CO2 atmosférico, foi contratado pelo então director da
Instituição de Oceanografia da Universidade da Califórnia, em San Diego, o oceanógrafo Roger
Revelle, que pretendia lançar um programa de medição em vários locais remotos do planeta.
Bem, existem várias fontes de evidência de que é esse o caso. O carbono enterrado na
terra pela matéria orgânica em decomposição e que, eventualmente se transforma em
combustíveis fósseis, tende a ser o que chamamos de luz isotópica.

Os combustíveis fósseis são, portanto, relativamente ricos no isótopo mais leve de


carbono, carbono 12 em vez de carbono 13.
No entanto, o CO2 atmosférico natural, produzido pela respiração, tem mais carbono
pesado, o isótopo carbono 13.
Se os aumentos de CO2 fossem de fontes naturais, esperaríamos, portanto, que a
proporção entre o isótopo pesado do carbono 13 e o isótopo leve carbono 12 estivesse
a aumentar com o tempo, mas, em vez disso, a proporção está a ficar menor à medida
que o CO2 se acumula na atmosfera.
A proporção mostra a impressão digital de uma fonte antropogénica, a queima de
combustível fóssil antropogénico.
Em resumo, a concentração de gases de efeito estufa, incluindo CO2 atmosférico e
metano, está a aumentar drasticamente, e esse aumento é sem precedentes num
período muito longo e, sabemos que ele está associado à atividade humana.
Observar e medir as mudanças climáticas antropogénicas

7.2 Tendências modernas da temperatura à superfície


Explicação sobre como é que os cientistas sabem que as temperaturas à superfície da Terra estão
a subir.

Além das medições de CO2 da atmosfera, temos também evidências de aumento da


temperatura da superfície com mais de um século de medições generalizadas em todo
o mundo.
Temos mais de um século de registos das temperaturas, de termómetros de estações
terrestres, ilhas e medições a bordo da superfície do oceano.
Elas fornecem-nos mais de um século de estimativas, razoavelmente globais das
mudanças de temperatura da superfície.
Por exemplo, o Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, monitoriza as
mudanças globais de temperatura ao longo do tempo, e como se pode ver neste link:
https://data.giss.nasa.gov/gistemp/animations/ aqui está uma animação dos dados que
eles recolheram ao longo do século passado e, como se pode ver, o sistema climático é
muito dinâmico, podem ver-se manchas quentes e manchas frias no Pacífico tropical,
pode ver-se realmente o fenómeno El Niño indo e vindo, e o outro lado do fenómeno La
Niña que é o aquecimento e arrefecimento tropical do Pacífico, e isso tem impactos no
clima em todo o resto do mundo.
Também começa por ver o aquecimento a aumentar nas latitudes mais altas, o que
chamamos de amplificação do Ártico.
Esperamos mais aquecimento nas latitudes mais altas à medida que o gelo derrete, e o
feedback do albedo do gelo entra em ação, esse feedback positivo que aumenta ainda
mais o aquecimento.
Mas, ao observar as flutuações de ano para ano, pode-se ver que o sistema climático é
bastante dinâmico, algumas áreas são frias, outras são quentes.
Como a corrente de jato varia de ano para ano, à medida que o El Niño vai e vem, há
muita variabilidade natural, mas, com o tempo, vemos que o aquecimento supera essa
variabilidade natural.
Então, quando medimos as temperaturas em todo o mundo, e as plotamos para um
gráfico, podemos ver como as temperaturas globais realmente aumentaram ao longo
do tempo.
A Terra aqueceu cerca de um grau Celsius, um pouco mais de um grau Celsius desde
meados do século 19, desde as observações da temperatura da superfície.
Mas podemos dizer que o aumento de CO2 é a causa desse aquecimento?
Bem, esta é uma pergunta mais difícil de ser respondida, pelo que ela será abordada
num módulo posterior mais à frente.
Não podemos deduzir a causa do aquecimento observado apenas pelo facto de o globo
estar a aquecer.
No entanto, podemos procurar possíveis pistas. Assim como os especialistas forenses,
os cientistas climáticos referem-se a essas pistas como impressões digitais. As fontes
naturais de aquecimento dão origem a diferentes padrões de mudança de temperatura
em relação às fontes humanas, como o aumento de gases de efeito estufa.

Isso é particularmente verdadeiro quando observamos o padrão vertical de


aquecimento na atmosfera.
Falamos anteriormente sobre as diferentes camadas da atmosfera, a troposfera a
estratosfera, sendo a troposfera a parte inferior em que vivemos e, a estratosfera a
camada acima dela.
Temos estimativas da temperatura do ar superior a partir de balões meteorológicos e
medições de satélite que medem as temperaturas na troposfera e na estratosfera, e elas
revelam um padrão notável: a parte inferior da atmosfera que é a troposfera, aquece
junto com a superfície. No entanto, uma vez que entramos na estratosfera, as
temperaturas vão diminuindo.
Como aprenderemos mais adiante, quando nos concentrarmos no problema das
impressões digitais dos sinais climáticos, certas perturbações no equilíbrio energético
da Terra, são consistentes com um padrão vertical de mudanças de temperatura,
enquanto outras não.
Você consegue adivinhar em qual actuar para ser mais consistente com esse padrão
vertical de mudanças de temperatura?
Se você disse aumentar as concentrações de gases de efeito estufa, está correto.
Em resumo, a superfície da Terra está a aquecer, e certas regiões como o Ártico,
aquecem ainda mais rápido que outras.
O padrão vertical do aquecimento indica que a superfície e a baixa atmosfera estão a
aquecer, enquanto a atmosfera está a arrefecer em altitude, um padrão consistente com
o aquecimento de estufa.
Observar e medir as mudanças climáticas antropogénicas

7.3 Os oceanos
Discussão sobre a subida do nível e da temperatura dos oceanos. Relaciona o aumento da
temperatura dos oceanos com a destruição provocada pelos furacões.

Como vimos no capítulo anterior, a superfície da Terra aqueceu cerca de 1 grau Celsius
no século passado. O oceano também aqueceu, embora um pouco menos do que a
terra.
Por que o oceano aquece mais lentamente que a terra?
Por inércia térmica. Devido à profundidade do oceano, o calor difunde-se mais
lentamente para baixo através das camadas do oceano.

Fonte: Climate change 2013


Quanto mais lenta a taxa de aquecimento do oceano, mais lenta é a taxa de resposta às
forças radiativas, o que leva a outro conceito-chave chamado mudança climática
comprometida.
É um processo lento de convecção e difusão em pequena escala, através do qual esse
calor penetra no oceano.
A água do mar expande-se com o aquecimento e, os níveis dos oceanos continuam a
subir lentamente, à medida que o aquecimento penetra no fundo do oceano.
Mesmo que parássemos todas as emissões de CO2, o nível global do mar continuará a
subir durante vários séculos.
Mas há mais mudanças no percurso das quais ainda não vimos os efeitos, mas com as
quais já estamos comprometidos.
É fundamental lembrar que os oceanos não são passivos, são sistemas dinâmicos
activos. Eles transportam o calor das baixas para as altas latitudes para aliviar os
desequilíbrios do aquecimento solar, por meio de dois mecanismos primários que são
os gyros oceânicos (grandes sistemas de circulação das correntes oceânicas) e do
sistema de circulação oceânica da correia transportadora (ou circulação termoalina).
Vemos alguma mudança nesses mecanismos como uma indicação da mudança
climática?
Vamos primeiro falar sobre os gyros. Então, os gyros, os frascos horizontais do oceano,
são governados principalmente pela variação latitudinal dos ventos na superfície.

As mudanças climáticas podem alterar um pouco os padrões de vento predominantes,


apesar dos gyros serem bastante robustos, isto que pode levar a mudanças provocadas
pelos ventos nesses gyros.
Independentemente da forma como mudam os padrões de temperatura e os padrões
de vento, esses gyros oceânicos horizontais, continuarão a transportar o calor
aquecendo os polos.
A circulação oceânica da correia transportadora, ou a circulação termoalina, é uma
questão diferente.
Há muitas evidências não apenas de que esse padrão de circulação pode vir a
enfraquecer por causa das mudanças climáticas, mas que podem já estar a enfraquecer.
É uma combinação das propriedades das águas superficiais salgadas e frias do Atlântico
Norte subpolar que leva à sua alta densidade e ao movimento de afundamento.
Esse movimento de afundamento forma o membro descendente da circulação
termoalina, de modo que qualquer arrefecimento e aquecimento substanciais dessas
águas podem inibir esse afundamento.
Suspeita-se há muito tempo que o aquecimento global, através do influxo de água doce
para o Atlântico Norte, em especial do derretimento da camada de gelo da Groenlândia,
pode muito bem inibir ou até interromper a circulação termoalina.
Houve um debate no passado sobre se há ou não evidências disso, as observações mais
recentes parecem indicar que agora estamos a presenciar um enfraquecimento desse
padrão de circulação oceânica, e pode ser o resultado do gelo da Groenlândia que está
a derreter, e que já está a fluir para o Atlântico Norte e arrefecendo essas águas
superficiais.
Agora vamos falar sobre observações de condições meteorológicas extremas e, em
particular, de furacões e tempestades tropicais.
Nos últimos anos, vimos a tempestade mais forte do mundo já registada. Foi o furacão
Patrícia no Pacífico Norte.
Vimos também durante esse período, a tempestade mais forte de todos os tempos no
hemisfério sul, o furacão Winston, que atingiu as Ilhas Fiji.
E, no Atlântico aberto que foi o Irma. Portanto, há uma tendência para furacões cada
vez mais extremos e mais intensos, e os cientistas estimaram que, para cada grau Celsius
de aquecimento da temperatura da superfície do oceano, veremos um aumento geral
de cerca de sete por cento na velocidade máxima do vento dessas tempestades.
O potencial destrutivo de um furacão é a terceira potência da velocidade do vento, o
que se traduz em um aumento de 23% no potencial destrutivo.
Portanto, provavelmente não é coincidência que tenhamos estado a assistir a uma
tendência para tempestades cada vez mais intensas e mais destrutivas, à medida que as
temperaturas da superfície do oceano aumentam.
Vamos agora, dar uma olhadela neste gráfico (apresentado na página seguinte), já que
ele compara a medida de dissipação de energia, ou seja, a medida do potencial
destrutivo de uma tempestade, com as temperaturas da superfície do mar no Atlântico
Norte.
E, como se pode ver, há uma correlação notável entre essas duas quantidades.
E, à medida que as temperaturas à superfície do mar aumentam, na principal região de
desenvolvimento dos furacões, no Atlântico tropical, aumentou também
dramaticamente a dissipação de energia associada a essas tempestades.
Existe alguma discordância entre os cientistas, sobre se o número de tempestades
tropicais está a aumentar globalmente em regiões como o Atlântico Norte, e se devemos
esperar que o número dessas tempestades aumente com o aquecimento global.
Mas onde parece haver um consenso dentro da comunidade científica é que, à medida
que as temperaturas da superfície aquecerem, veremos furacões cada vez mais
destrutivos e mais intensos.
Então, em resumo, o que é que as observações nos dizem?
Elas dizem-nos, que as regiões terrestres do mundo aqueceram em média um pouco
mais de 1 graus Celsius, os oceanos aqueceram um pouco menos de 1 graus Celsius.
A circulação termoalina dos oceanos parece estar a abrandar, parece estar a diminuir, e
certos tipos de eventos climáticos extremos, e em particular os furacões, tornaram-se
mais extremos.
Vemos um aumento na intensidade dos furacões que está correlacionado com o
aquecimento dos oceanos.
Observar e medir as mudanças climáticas antropogénicas

7.4 Clima extremo


Explica porque é que o mundo está a assistir a padrões climáticos mais extremos e porque é que
eles são consistentes com o aquecimento global.

Portanto, as mudanças climáticas não são apenas mudanças de temperatura, mas


também mudanças nos padrões de precipitação.
Como já vimos, eventos climáticos extremos, como furacões e também outros tipos de
extremos.
Então, vamos dar uma olhada nas mudanças que foram medidas nos padrões de
precipitação e noutros tipos de eventos.
Então, vejamos as tendências observadas em chuvas e precipitações em todo o mundo
no século passado, e isso é mostrado nestes mapas aqui.

Podemos ver que as tendências são bastante heterogêneas.


Se calcularmos a média global, houve um pequeno aumento geral nas chuvas e já
esperávamos isso.
À medida que a atmosfera aquece, ela pode reter mais humidade e, portanto, devemos
esperar um ciclo hidrológico mais intenso, em geral. Significando por isso mesmo,
maiores quantidades de chuva globalmente.
Mas essas tendências variam acentuadamente com a região, e é especialmente útil fazer
a média em faixas latitudinais e, ver como as chuvas estão a mudar em certas faixas
latitudinais ao longo do tempo, é isso que é mostrado neste outro gráfico aqui a seguir.
Changes over Time in Precipitation For Various Latitude Bands
Credit: IPCC Fourth Assessment Report, Chapter 3, Figure 3.15
E, aqui vemos um padrão em que os trópicos profundos estão a ficar mais húmidos e
partes dos sub-trópicos estão a ficar mais secos.
O que pensamos que está a acontecer aqui é que, á medida que a superfície está a
aquecer e há mais humidade na atmosfera, naquelas regiões onde tende a chover
porque tem movimento ascendente, como na zona de convergência intertropical nos
trópicos, realmente temos mais chuvas, porque a atmosfera tem mais humidade para
transformar em chuva, mas também se vê uma expansão do ramo descendente da
chamada circulação celular de Hadley, da qual falamos anteriormente.
E, à medida que esse membro descendente se espalha para latitudes mais altas, vemos
uma diminuição nas chuvas nos sub-trópicos e em parte das latitudes médias. E
finalmente, quando chegamos às latitudes mais altas, à medida que as faixas de
tempestade se movem em direção às mudanças nos padrões de circulação atmosférica,
vemos um aumento mais uma vez nas chuvas nas regiões subpolares.
Então, quando olhamos para a precipitação, o padrão global mostra um pequeno
aumento geral, mas há grandes tendências regionais em direções opostas, com os
trópicos tornando-se mais húmidos, os sub-trópicos recebendo menos chuva e,
finalmente, as latitudes subpolares, associadas com a frente polar migrando em direção
aos polos, mais uma vez vendo mais precipitação na forma de chuva e neve.
Quando analisamos os padrões de seca, vemos algo um pouco diferente, porque a seca
reflete não apenas a precipitação que desce à superfície, mas a perda de humidade de
volta à atmosfera por evaporação.
E à medida que a terra aquece e o solo e a vegetação aquecem, estes evaporam mais
humidade para a atmosfera.
Assim, mesmo em algumas regiões nas latitudes médias que mostraram pequenos
aumentos nas chuvas, estão a assistir a piores secas por causa da perda de humidade
associada ao aquecimento do solo e ao aumento da evaporação.
Então, quando se trata de chuvas e secas, vemos o que às vezes parece ser um paradoxo.
Algumas regiões que apresentam as piores secas no verão, também apresentam
eventos de chuva mais intensos.
Vamos agora falar sobre eventos extremos de precipitação, que incluem chuva e neve.
À medida que a Terra aquece, à medida que os oceanos aquecem e evaporam mais
humidade para a atmosfera, há um potencial para eventos de precipitação mais
intensos, mesmo em regiões com seca mais generalizada, podem ocorrer eventos de
chuva mais intensos e eventos de queda de neve mais intensos, porque uma atmosfera
mais quente retém mais humidade.
E assim, quando as condições favorecem a precipitação, quando há um movimento
crescente na atmosfera, é possível obter mais precipitação da atmosfera.
E, se isso acontecer quando estiver quente, haverá chuva e, quando acontecer no
inverno, haverá neve.
Portanto, até mesmo registar eventos de queda de neve, nevascas ao longo da costa
leste dos EUA, de forma alguma contradizem o aquecimento causado pelo homem no
planeta.
De muitas maneiras, esses eventos são sintomáticos de um planeta em aquecimento,
um oceano mais quente que evapora mais humidade e, portanto, quando temos essas
correntes de nordeste no inverno ao longo da costa leste dos EUA, em Washington DC
ou Boston, realmente recebem grandes quantidades de neve, mesmo que a estação em
que haja neve no chão possa estar a diminuir com o tempo e, à medida que a Terra
aquece.
Então, vamos tomar como estudo de caso os Estados Unidos.
Agora, se olhar para este mapa e se afastar, poderá vê-lo com mais abrangência, é mais
verde do que amarelo ou castanho, e o que indica é que a precipitação geral está a
aumentar e, é consistente com o padrão global mais amplo à medida que aquecemos o
planeta, à medida que aquecemos os oceanos, há mais humidade na atmosfera que leva
a um aumento geral das chuvas.
Mas também vemos o efeito da migração dos padrões de circulação atmosférica.
À medida que o ramo descendente desse padrão de circulação atmosférica da célula
Hadley se expande dos sub-trópicos para as latitudes médias, vemos reduções nas
chuvas em locais como o sudeste dos EUA ou o sudoeste dos Estados Unidos.
Essas mudanças também são consistentes com o que esperamos que ocorra como
resultado das mudanças climáticas, já que o cinturão de desertos na verdade se espalha
à medida que o planeta aquece, enquanto a precipitação global em todo o mundo e nos
Estados Unidos aumenta.
Portanto, quando se trata do aquecimento global, parece óbvio que haverá ondas de
calor cada vez mais frequentes e intensas.
Quanto mais quente o planeta, maior a probabilidade de sentirmos um calor extremo.
O que não é tão óbvio é quão profundo é o impacto de uma pequena quantidade de
aquecimento sobre a frequência de extremos de calor e, para entender esse efeito,
precisamos usar por empréstimo um conceito das estatísticas, da chamada distribuição
gaussiana ou da distribuição normal, ou mais conhecida como curva de sino.
Fonte: Climate change 2007: The Physical Science Basis, IPCC, 2007 pág. 53
Quando se aquece o planeta, a curva de sino move-se do centro para a direita, ou seja,
para temperaturas mais altas. Quando a curva se move para a direita, vê-se uma
mudança ainda mais dramática no que chamamos de cauda da distribuição.
A área, ou seja, dois desvios-padrão acima da média, a área e a extremidade direita
extrema da distribuição.
Se o planeta aquecer mesmo que seja um grau Celsius, pode até duplicar a área que cai
nessa cauda extrema. Isso significa que estamos a duplicar o número de ondas de calor
extremas, apenas com uma quantidade modesta de aquecimento.
E há evidências de que esses extremos estão a acontecer?
A resposta é sim.
A onda de calor europeia de 2003, foi a pior onda de calor já registada na Europa, 30.000
pessoas morreram nessa onda de calor.

Existem registos de temperaturas que remontam a centenas de anos, e pode-se ver a


tendência ascendente nesse registo, e isso diz-nos que esse foi um evento de calor
extremo sem precedentes.
Em 2003 não foi um evento aleatório, é do conhecimento geral que, todos os verãos são
mais quentes do que a média, e o calor extremo dessa onda de calor estava incorporado
no que era um verão muito quente, que faz parte de uma tendência para verões cada
vez mais quentes.
Portanto, aquela pequena mudança na curva do sino sobre a qual falamos, neste caso,
levou a um evento de 1.000 anos, um evento que os registos históricos nos dizem que
não deveria acontecer mais do que uma vez em mil anos e transformou-o num evento
a cada 20 anos.
Um outro evento semelhante que provavelmente acontecerá a cada 20 anos.
E isso diz-nos mais uma vez sobre o profundo impacto que um aquecimento modesto
pode ter na chamada cauda da distribuição, onde acontecem os eventos extremos.
Agora, se continuarmos no curso em que estamos, no final deste século, o mesmo
evento poder-se-á tornar um evento de dois anos.
Podemos vir a ter um verão como o verão europeu de 2003 uma vez a cada dois anos.
Uma onda de calor catastrófica tornar-se-ia um evento semestral para a Europa e em
muitas outras regiões do mundo.
Existem outros exemplos: 2010 foi um verão quente recorde em grande parte do
hemisfério norte, e Moscovo sofreu uma das piores ondas de calor registadas e
incêndios florestais sem precedentes como resultado.

Considere, já agora, o verão de 2018, foi um verão de extremos sem precedentes para
o hemisfério norte.
Vimos ondas de calor sem precedentes, secas, inundações e incêndios em todo o
hemisfério norte.
Eventos climáticos recordes ocorreram em diversas regiões do hemisfério norte naquele
verão. E alguns dos factores que já discutimos, sem dúvida, desempenharam um papel.
Aqueça o planeta, mude a curva do sino e obterá mais dessas ondas de calor extremas.
Quando se aquece a atmosfera, ela pode reter mais humidade; portanto, quando chove,
obtém-se mais chuva de uma só vez, mais eventos extremos de chuva, maiores eventos
de inundação. Você aquece os solos, evapora mais humidade e fica com secas piores.
E quando temos calor extremo, combinado com seca extrema, o que se obtém?
Incêndios florestais sem precedentes, como vimos acontecer na Califórnia e até mesmo
no Ártico, no verão de 2018. E tem havido uma tendência nas últimas décadas, seja pela
onda de calor na Europa de 2003, as ondas de calor e incêndios florestais em 2010 em
Moscovo, os fogos em Oklahoma e as secas no Texas em 2011, as palavras seca e evento
de calor já fazem parte do nosso léxico.
Os rancheiros de Oklahoma perderam 25% do seu gado, nos incêndios florestais de 2016
em Alberta.
Todos estes eventos tinham algo em comum, um padrão no qual a chamada corrente de
jato, diminuía a velocidade e os sistemas climáticos ficavam parados, de modo que
tínhamos centros de alta pressão e centros de baixa pressão situados nas mesmas
regiões semanas seguidas.
E quando se fica preso num centro de baixa pressão, é quando se tem eventos de chuva
sem precedentes. Quando fica preso sob um centro de alta pressão, é quando se tem
calor, seca e incêndios florestais sem precedentes.
E agora há evidências crescentes de que as mudanças climáticas estão a desacelerar a
corrente de jato e é ampliando os meandros na corrente de jato que teremos esses
padrões climáticos extremos.
De certa forma, isso explica por que estamos a ver este profundo aumento de eventos
climáticos extremos em todo o hemisfério norte e em todo o planeta. As mudanças
climáticas também podem ter um efeito mais subtil no fluxo de jato o que leva a esses
eventos climáticos persistentes mais extremos, como vimos nas últimas décadas.
Então, vejamos novamente o exemplo dos Estados Unidos, onde temos medições de
longo prazo muito sólidas, das temperaturas máximas diárias, e o que essas medições
mostram é bastante notável. Se você voltar atrás 50 ou 60 anos, a chance de ter um
extremo de calor foi aproximadamente igual à chance de ter um extremo de frio.

Registos quentes e frios aconteceram aproximadamente com a mesma frequência, o


que seria de esperar na ausência de mudanças climáticas.
Mas chegados à década mais recente, os registos quentes estão a acontecer com o
dobro da taxa de registos frios. Então, isto significa literalmente, que duplicou a
probabilidade de um calor extremo devido ao aquecimento de aproximadamente um
grau Celsius, o que já aconteceu.
Isso dá uma noção de como estamos a carregar os dados, os dados aleatórios do clima
com as mudanças climáticas. O exemplo nesse caso seria: se pegasse num par de dados
ou num só dado e o jogasse na ausência de mudanças climáticas, haveria uma chance
de 1 em 6 que obter um 6.
O que a mudança climática fez é apagar o 1 e substituí-lo por um 6, portanto, se agora
atirar o mesmo dado, os seis anos aparecerão uma vez em cada três jogadas.
Alteramos os dados para mais perto dos extremos, neste caso do seis, tornando este
duas vezes mais propenso do que seriam sem os alterar, um impacto muito profundo
que mesmo com o modesto aquecimento que vimos até agora já teve em extremos de
calor nos Estados Unidos.
Observar e medir as mudanças climáticas antropogénicas

7.5 O mar gelado, os glaciares e o nível global do mar


Explica porque é que o mundo está a assistir a padrões climáticos mais extremos e porque é que
eles são consistentes com o aquecimento global.

Um dos sinais mais óbvios das mudanças climáticas pode ser visto nas mudanças na
criosfera. O desaparecimento das reservas de gelo do mar e as camadas de gelo
continentais.
O gelo nas suas diversas formas, gelo marinho, geleiras e mantos de gelo está a
desaparecer globalmente. Vamos começar por observar o gelo do mar no Ártico.
O primeiro gráfico mostra o declínio do gelo marinho do verão no Ártico, medido por
registos históricos no século XIX.

Annual and seasonal Artic sea ice extent, 1979-2012


E, se ampliarmos o período mais recente, em que temos medições mais amplas,
baseadas em satélites, veremos que, desde os anos 80, houve uma diminuição, num
factor de dois na quantidade de gelo marinho existente no Ártico no final da estação de
verão.
De facto, alcançou uma baixa em 2012 de pouco mais de 3 milhões de milhas quadradas,
2 ou mais vezes, menor do que exactamente onde estava na década de 1980.

Isso está bem abaixo das projeções do modelo, e é um exemplo importante das
verdadeiras implicações da incerteza, quando se trata de ciência climática.

Há alguma incerteza e, as observações e os modelos não são perfeitos, mas, neste caso,
os modelos parecem estar a prever a taxa a que estamos a perder o gelo do mar no
verão, sugerindo que os processos que não estão bem representados nos modelos, na
verdade, estão a levar-nos a subestimar e não superestimar o impacto das mudanças
climáticas.
Não é apenas a extensão do gelo que importa aqui, o que é particularmente importante
é o que chamamos de gelo plurianual, o gelo espesso que não entra e sai a cada verão,
mas que permanece durante o verão e persiste no inverno.
Esse gelo espesso é importante, por exemplo, para morsas e ursos polares, é uma parte
crítica do ambiente de caça. E uma das tendências mais alarmantes é que, é o gelo
plurianual em particular que desapareceu nas últimas décadas; de facto, resta muito
pouco gelo plurianual, a maior parte do gelo que vemos no Ártico agora é puramente
gelo marinho sazonal, o gelo fino que vai e vem com as estações do ano e já não é
espesso o suficiente para, por exemplo, apoiar os ursos polares caçadores.

Nós vemos também esta tendência nos glaciares.


Agora, há um processo de crescimento e perda de glaciares, que descrevemos em
termos de queda de neve acumulada e adicionada aos glaciares e, ablação7 ou perda de
gelo, seja por derretimento ou por sublimação directa de gelo na atmosfera.
Quando observamos a tendência, como podemos ver nestes dados, em todo o mundo
os glaciares das montanhas têm vindo a recuar, ao longo do século passado a um ritmo
dramático.

7
Degelo superficial dos glaciares, por fusão
Por quê?
Verões bem mais quentes, em particular, estão a levar a taxas mais altas de ablação por
perda de gelo e, isso excede a acumulação de inverno, como mudanças nos padrões de
precipitação e seca, as mudanças nos glaciares também são regionais e, de facto, há
algumas regiões onde vimos glaciares nas montanhas a expandir-se nas últimas décadas,
como se pode ver aqui em baixo.
O que é que acha que pode estar causando essa expansão?
Acontece que esses glaciares tendem a ser glaciares marítimos, glaciares em regiões
vizinhas do oceano, onde os invernos são bastante amenos, relativamente quentes, e
acontece que quando as temperaturas do oceano aquecem, digamos no Atlântico Norte,
na verdade obtém-se quantidades maiores de queda de neve em partes da
Escandinávia.
E esse aumento da acumulação de inverno pode realmente superar a perda de gelo no
verão.
Mas e qual é a tendência geral?
Bem, se agregarmos todos os glaciares do mundo num único balanço de massa, a
quantidade total de gelo contida em todos esses glaciares, vemos uma diminuição global
muito clara, uma tendência para a perda dos glaciares.
Então, agora vamos discutir os dois maiores glaciares do mundo, na verdade esses
glaciares são tão grandes que têm o seu próprio nome. Nós chamamos-lhes de mantos
de gelo continentais, são glaciares à escala continental, são os mantos de gelo da
Groenlândia e da Antártica.

Como outros glaciares, a sua massa depende do equilíbrio entre a acumulação e a perda
devido ao derretimento. A acumulação tende a acontecer no interior frio dos
continentes, enquanto o derretimento e o nascimento de icebergs acontecem nas
periferias, onde as camadas de gelo encontram os oceanos relativamente quentes.
Podemos ver nas imagens de satélite que o derretimento de verão está a aumentar,
tanto para a camada de gelo da Groenlândia quanto para a camada de gelo antártico,
especialmente a camada de gelo da Antártica Ocidental, a parte de baixa elevação da
camada de gelo da Antártica, com maior probabilidade de derreter e contribuir para o
aumento do nível do mar.

E agora vamos dar uma olhada nos dados agregados, a partir de medições de satélite
que nos informam sobre as mudanças gerais na massa de gelo, para essas duas camadas
de gelo continentais, a camada de gelo da Groenlândia e a camada de gelo da Antártica.
E o que vemos é que essas camadas de gelo já estão a perder quantidades substanciais
de gelo. Apenas uma década atrás, se perguntássemos a especialistas da área o que é
que eles esperavam ver, eles diriam que provavelmente não veríamos perda substancial
de gelo nessas duas camadas de gelo continentais até meados do século XXI, e isso é
porque, com os oceanos em aquecimento, os modelos previam que realmente
aumentaria a acumulação de neve no centro dos mantos de gelo e isso compensaria o
aumento da perda na periferia do lençol de gelo devido ao aquecimento do oceano.
Bem, o que as observações nos dizem agora é que já estamos a ver uma perda
substancial de gelo tanto da Groenlândia quanto na Antártica Ocidental. Este é outro
exemplo de como a incerteza não é nossa amiga.
À medida que entendemos melhor os processos envolvidos no colapso da camada de
gelo e quando começamos a inseri-los nos nossos modelos, descobrimos que esse
colapso pode ocorrer mais rapidamente do que pensávamos, décadas atrás. Agora, em
resumo, tem havido uma perda contínua de gelo em todos os segmentos da criosfera,
dos glaciares das montanhas às camadas de gelo continentais. Enquanto a Terra
continua a aquecer, o gelo continua a derreter.
Quais são as implicações desse gelo derretido?
Bem, o facto de estarmos a ver as camadas de gelo a começarem a colapsar mais cedo
do que os nossos modelos previram significa, que estamos a ver a contribuição do
derretimento do gelo para o aumento do nível do mar, mais cedo do que esperávamos.
E, de facto, o nível do mar agora está a subir, no extremo superior do intervalo que
prevíamos, há apenas uma década atrás.
Existem várias contribuições para a subida do nível do mar, há o derretimento dos
glaciares e das camadas de gelo continentais, há a expansão térmica da água do mar à
medida que ela aquece, e quando se olha para as medições da subida do nível do mar,
que contêm todos os essas contribuições, o que se vê é que o nível do mar agora está a
subir na extremidade superior da faixa de incerteza que previmos há pouco mais de uma
década atrás.
Outro lembrete do facto de a incerteza não ser nossa amiga, e de estar a trabalhar contra
nós, vem da taxa e da magnitude dos impactos das mudanças climáticas.
Observar e medir as mudanças climáticas antropogénicas

7.6 Evidência paleoclimática das mudanças climáticas


Análise das mudanças climáticas no contexto histórico, explicando porque é que a taxa das
mudanças climáticas é hoje sem precedentes.

Portanto, uma das críticas comuns que ouvimos dos cépticos no debate sobre mudanças
climáticas é que: bem, o clima está sempre a mudar, o aquecimento global e as
mudanças climáticas fazem parte de um processo natural.
Bem, o campo da paleoclimatologia na verdade permite-nos abordar essa questão.
Quão incomuns são as mudanças que estamos a ver hoje?
Vamos para as escalas de tempo mais longas, as escalas de tempo geológicas.

Há cem milhões de anos atrás, durante o período cretáceo, em que os dinossauros


vagavam pelo planeta, os níveis atmosféricos de CO2 eram várias vezes maiores do que
são hoje, e não havia gelo na face da Terra e as temperaturas globais eram mais altas do
que são hoje.
Durante os cem milhões de anos subsequentes, os processos naturais enterraram a
maior parte desse carbono sob a superfície da Terra, e o que temos feito ao longo do
século passado extraindo combustíveis fósseis e queimando-os e, colocando o carbono
de volta na atmosfera, é levar todo esse carbono que a natureza enterrou cem milhões
de anos antes e colocá-lo de volta na atmosfera num período de cem anos, ou seja, um
milhão de vezes mais rápido.
Portanto, o que é realmente relevante aqui não são as magnitudes das mudanças, as
mudanças que acontecem ao longo de muitos milhões de anos e permitem que os seres
vivos se adaptem a elas, mas as mesmas mudanças ao longo de cem anos, um milhão
de vezes mais rápido, que provavelmente excedem a capacidade adaptativa dos seres
vivos, incluindo nós. E essa é a verdadeira preocupação, a taxa sem precedentes com a
qual estamos a colocar o carbono na atmosfera hoje.
Ok, acabamos de ver que, nas escalas de tempo geológicas, as variações de CO2 são o
principal factor de mudanças na temperatura global.
Nesses longos períodos de tempo, os gases de efeito estufa são o principal motor das
mudanças climáticas.
E quanto a outras escalas de tempo?
E quanto a escalas de tempo mais curtas?
Como foi o ir e vir das eras glaciares nos últimos setecentos mil anos?
Neste caso, o dióxido de carbono e o metano, os gases de efeito estufa são um
componente-chave na condução desses ciclos interglaciais durante o período conhecido
como Pleistoceno Final, nos últimos setecentos mil anos.

E o feedback do albedo de gelo, sobre o qual falamos antes, desempenha um papel


muito importante.
Durante as eras glaciares, uma maior quantidade de luz solar é refletida e isso favorece
o arrefecimento. Quando o gelo derrete, uma maior quantidade de luz solar é absorvida
e isso provoca o aquecimento, de modo que o processo de retroalimentação é muito
importante para entender o ir e vir das eras glaciares.
Mas, temos que entender como a geometria orbital da Terra em relação ao Sol também
varia nessas escalas de tempo, e verifica-se que existem três componentes principais
quando se trata de como a luz solar absorvida e distribuída sobre a superfície da Terra
e como isso influencia o clima em prazos de milhares de anos.
Existem três componentes principais de como a geometria orbital da Terra em relação
ao Sol varia em escalas de tempo de dezenas a centenas de milhares de anos, a escala
de tempo mais longa, de centenas de milhares de anos, a excentricidade da órbita da
Terra em relação ao Sol varia.
Quão elíptica versus circular é essa órbita?
Quanto mais elíptica for a órbita, maior a diferença entre o ponto em que a Terra está
mais próxima do Sol e mais distante do Sol durante sua órbita anual. Quanto maiores
essas diferenças, mais exageradas as estações, mais exageradas as estações e o
potencial de mudanças na cobertura de gelo em altas latitudes, o que pode impactar o
clima global.
Agora, nas escalas de tempo de 40.000 anos, o eixo de inclinação da rotação da Terra
varia.
Hoje, fica a aproximadamente 22,5º da vertical e, isso determina a localização dos
trópicos e do Círculo Polar. Mas há momentos em que esse ângulo de inclinação é maior
e momentos em que é menor e, as variações nesse ângulo de inclinação determinam
quanta luz solar é recebida nas altas latitudes, e isso afecta também a acumulação de
gelo.
E então, numa escala de tempo de aproximadamente 20.000 anos, o eixo de rotação da
Terra que realmente funciona como um pião está lentamente oscilando e girando para
baixo, às vezes chamamos isso de oscilação, e essa oscilação tem uma periodicidade de
cerca de 20.000 anos.
E todas essas mudanças nas escalas de tempo de 20.000 anos, 40.000 anos e centenas
de milhares de anos, influenciam a distribuição sazonal da luz solar na superfície da
Terra, que por sua vez pode influenciar a acumulação e a perda de gelo em altas
latitudes.
Como sabemos pelo efeito do albedo no gelo, isso pode afectar a temperatura geral do
planeta e, levar a mudanças substanciais na temperatura e na camada de gelo, nessas
escalas de tempo mais longas.
Portanto, todos esses factores são importantes, mas mesmo nessas escalas de tempo,
podemos ver que a variação nas concentrações dos gases de efeito estufa, CO 2 e
metano, está a desempenhar um papel importante e, de facto, está a desempenhar
precisamente o mesmo papel que o das indas e vindas das eras glaciares, ao longo das
escalas geológicas e escalas históricas relevantes, para as mudanças climáticas causadas
por seres humanos.
Finalmente, numa escala de tempo mais curta ainda, um período digamos como os
últimos mil anos, um período que antecede a Revolução Industrial, mas que é
suficientemente recente para que possamos recorrer a certos tipos de evidência, aos
quais chamamos de registos proxy, que são como os registos dos anéis das árvores e
dos núcleos de gelo e dos corais e sedimentos dos lagos.
Vários arquivos naturais que nos permitem documentar, a forma como o clima variava
em escalas de tempo de anos a décadas e séculos.
Então, vamos falar um pouco sobre esses arquivos climáticos do Paleo. Temos núcleos
de gelo, o gelo que se forma anualmente nas regiões polares ou mesmo nas altas
altitudes nos trópicos, nos Andes ou nos Himalaias.
Podemos frequentemente documentar, ano após ano, devido às camadas anuais de
poeira no gelo que nos permitem contar o tempo. Podemos documentar mudanças na
composição desse gelo.
Podemos observar, por exemplo, o oxigénio que compõe a molécula de H2O, nessas
camadas de gelo e nos isótopos do oxigénio, o que acontece aos dois isótopos estáveis
do oxigénio 18, o isótopo mais pesado, e o oxigênio 16, o isótopo mais leve.
A proporção desses isótopos é na verdade uma função das temperaturas atmosféricas
no momento em que o gelo é depositado. Portanto, existem assinaturas isotópicas nos
isótopos de oxigénio num núcleo de gelo, que nos permite documentar as mudanças
climáticas ao longo do tempo.
Podemos pegar no esqueleto de um coral e, mais uma vez, se tivermos um conjunto de
corais fósseis, podemos criar uma cronologia que remonte a muitos séculos atrás no
tempo.
E, dentro das bandas anuais desses corais, como o coral é composto de carbonato de
cálcio (CO3), também possui um átomo de oxigénio e, mais uma vez, a abundância
relativa dos dois isótopos de oxigénio, o pesado isótopo de oxigénio 18, e o isótopo mais
leve de oxigénio 16, a proporção desses isótopos no esqueleto de coral, diz-nos algo
sobre a água do mar na qual o coral viveu: a sua temperatura e a salinidade dessa água
do mar.
E, podemos também olhar para os anéis das árvores nas regiões terrestres. O
crescimento anual de árvores sob certas condições, reflecte um registo muito sensível
das variações climáticas de ano para ano, e a espessura e a densidade dos anéis anuais
de crescimento, esses anéis das árvores podem dizer-nos muito, por exemplo, sobre as
mudanças nas temperaturas do verão no passado.
Portanto, no final, podemos pegar todos esses dados dos núcleos do gelo dos pólos, dos
núcleos de gelo dos glaciares das montanhas tropicais, nos anéis de árvores dos
continentes de latitude média, nos corais dos mares tropicais, e podemos reunir todas
essas evidências e, seremos capazes de construir uma imagem bastante realista de
como o clima mudou no passado mais distante.
E isso permite-nos reconstruir o clima do passado e compará-lo com os registos dos
factores climáticos, para nos dar uma ideia de como o sistema climático funciona em
escalas de tempo mais longas e, faculta-nos o entendimento, mais uma vez, das
mudanças climáticas actuais.
E, quando olhamos para essas reconstruções do clima e fazemos a pergunta, por
exemplo, quão quente era a terra afinal?

Isso leva-nos à chamada curva do taco de hóquei que, como podemos ver neste gráfico,
em cima, onde está o final da curva é o recorde moderno, vemos o aquecimento abrupto
dos últimos cem a 150 anos, e vemos que esse aquecimento excede qualquer coisa que
possamos documentar nos últimos mil anos e ou mais, numa escala global.

Não há contrapartida para o calor e para a taxa de aquecimento que vemos hoje,
visitando essas reconstruções, colocamos em contexto a natureza sem precedentes da
recente tendência do aquecimento, que podemos considerar a lâmina de aço ou a ponta
deste taco de hóquei, a longo prazo.
Então, em resumo, como evidência de clima paleo, em escalas de tempo históricas, em
escalas de tempo milenares, associadas ao ir e vir das eras glaciares e nas escalas de
tempo geológicas mais longas, levando-nos de volta à era dos dinossauros, em cada uma
dessas escalas de tempo, vemos que o aquecimento que está a ocorrer hoje, a taxa de
aquecimento que estamos a ver, devido às mudanças climáticas causadas por seres
humanos, excede a taxa de aquecimento que vimos em qualquer momento do passado
que possamos documentar .
Além disso, um estudo dos factores que governaram as mudanças climáticas nessas
várias escalas de tempo mostram, que os gases de efeito estufa e o dióxido de carbono
em particular, continuam a ser o braço de alavanca dominante no sistema climático.
O nosso estudo do clima passado confirma a nossa compreensão do papel dos seres
humanos no aumento dos gases de efeito estufa actualmente, causando o aquecimento
global e as mudanças climáticas.
Leitura recomendada para complementar o Módulo 1

IPCC 2014: Observed Changes and Their Causes

Citation: IPCC, 2014: Climate Change 2014: Synthesis Report. Contribution of Working
Groups I, II and III to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on
Climate Change [Core Writing Team, R.K. Pachauri and L.A. Meyer (eds.)]. IPCC, Geneva,
Switzerland, 39-54.

National Climate Assessment 2018, Chapter 2 - Our changing climate

Citation: Hayhoe, K., D.J. Wuebbles, D.R. Easterling, D.W. Fahey, S. Doherty, J. Kossin,
W. Sweet, R. Vose, and M. Wehner, 2018: Our Changing Climate. In Impacts, Risks, and
Adaptation in the United States: Fourth National Climate Assessment, Volume
II [Reidmiller, D.R., C.W. Avery, D.R. Easterling, K.E. Kunkel, K.L.M. Lewis, T.K. Maycock,
and B.C. Stewart (eds.)]. U.S. Global Change Research Program, Washington, DC, USA,
pp. 72–144. doi: 10.7930/NCA4.2018.CH2

Northern hemisphere temperatures during the past millennium: Inferences,


uncertainties, and limitations

Citation: Mann, M. E., Bradley, R. S., & Hughes, M. K. (1999). Northern hemisphere
temperatures during the past millennium: Inferences, uncertainties, and
limitations. Geophysical Research Letters, 26(6), 759-762.

Record temperature streak bears anthropogenic fingerprint

Citation: Mann, M. E., S. K. Miller, S. Rahmstorf, B. A. Steinman, and M. Tingley


(2017), Record temperature streak bears anthropogenic fingerprint, Geophys. Res. Lett.,
44, doi:10.1002/ 2017GL074056.
Modelando o Sistema Climático: Básico

8.1 Mudanças nos gases de efeito de estufa


Explicação sobre como é que os cientistas sabem que as mudanças climáticas estão a acontecer e
como é que a maioria dessas mudanças é antropogénica.

Vemos agora evidências que indicam que o globo está a aquecer e, que há uma série de
outras mudanças internas no sistema climático associadas a esse aquecimento. Embora
essas mudanças sejam sugestivas de mudanças climáticas causadas pelo homem, a
existência dessas tendências por si só não pode ser usada para extrair inferências
causais.
E, é aí que entram os modelos climáticos teóricos.
Os modelos climáticos permitem-nos testar hipóteses particulares sobre as mudanças
climáticas, por exemplo, podemos integrar os modelos em relação a quanto
aquecimento do globo podemos esperar, pelas mudanças humanas nas concentrações
de gases de efeito de estufa. Neste módulo, apresentaremos modelos climáticos
básicos e demonstraremos a modelagem climática.
Os modelos climáticos simples equilibram a luz solar ou a luz recebida do Sol, a radiação
de calor emitida pela superfície da Terra, deve lembrar-se que o aquecimento solar é o
que chamamos de radiação de ondas curtas e, o calor que emana da superfície da Terra
é a radiação de ondas longas.
Os modelos mais simples de todos, simplesmente tratam a Terra como um ponto
matemático, equilibrando os termos de radiação de entrada e saída, e isso permite-nos
calcular a temperatura da Terra. Esse modelo pode ser útil se quisermos entender qual
o aquecimento que podemos esperar como média global, para um aumento nas
concentrações de gases de efeito estufa. Mas se estivermos interessados em padrões
de chuva na Europa, ou na queda de neve no centro da Pensilvânia, ou nas mudanças
nos sistemas de correntes oceânicas, ou num qualquer número, da miríade de variáveis
climáticas e influências regionais que possam ser interessantes, obviamente que um
modelo que trata a Terra como um ponto matemático, não permitirá que se veja nada
disso ou que consiga esse nível de detalhe.
E, portanto, há uma função para a hierarquia de modelos, sendo que a mais simples
delas, foi a que que acabamos de discutir. Assim, chamar-lhe-emos de Modelo de
Balanço de Energia Zero-Dimensional, mas essa hierarquia incluirá modelos cada vez
mais sofisticados que eventualmente chegarão ao que chamamos de modelos
climáticos totalmente acoplados, nos quais a partir da atmosfera e dividindo-a em
várias e diferentes caixas em redor do globo, resolve as equações da física para cada
uma dessas caixas e a forma como elas interagem umas com as outras.
Faz-se o mesmo com o oceano, divide-se em várias caixas diferentes e descreve-se as
variações de temperatura, mas também se acrescentam os padrões de vento, as
correntes oceânicas, as chuvas e, todo o tipo de variáveis nas quais possamos estar
interessados.
Em certo sentido, o que um modelo climático totalmente acoplado representa, é
semelhante aos modelos numéricos de previsão meteorológica usados hoje para prever
o clima em todo o mundo, mas nas escalas de tempo em análise, porque quando se trata
de clima, não podemos apenas focarmo-nos apenas na atmosfera, precisamos incluir os
oceanos e a biosfera, o papel da vida, a vegetação, o ciclo do carbono, os equilíbrios de
carbono nos sistemas climáticos, nos mantos de gelo e nos glaciares e, a forma como
eles interagem uns com os outros.

Assim, desta forma, acabamos com um modelo bastante complexo que, literalmente,
seria constituído por milhares de linhas de código de computador e que precisaria de
ser executado num supercomputador, para obter as soluções para as equações que nos
interessam.
Existem várias razões pelas quais podemos usar modelos climáticos. Podemos usá-los
para tentar entender o que aconteceu no passado.
Por exemplo:
Poderemos reproduzir as eras glaciares, quando mudamos o padrão de isolamento
solar, no tempo, associado às várias mudanças orbitais da Terra sobre as quais
falaremos?
Poderemos reproduzir o calor do início do período cretáceo, cem milhões de anos atrás,
quando as concentrações de gases de efeito estufa eram substancialmente mais altas
do que são hoje?

Podemos tentar modelar esses climas do passado, e melhorar a nossa capacidade de


descrever corretamente o que aconteceu, melhorando a nossa avaliação e a
confiabilidade nesses modelos, para descrever o que está acontecendo hoje.
E, claro, o que virá a acontecer no futuro.
Aqui, enfatizamos bastante o uso desses modelos climáticos para fazer projeções para
o futuro.
Se conduzirmos os modelos com concentrações crescentes de gases de efeito estufa,
dióxido de carbono, na atmosfera, o que é que esses modelos preveem?
a) Para o futuro aquecimento do planeta?
b) Para a mudança das correntes de ar e, das correntes oceânicas?
c) Para a mudança dos padrões de chuva e de seca?
Todas as outras coisas em que podemos estar interessados.
Os modelos estão simplesmente a permitir-nos formalizar a nossa compreensão da
física, da química, da biologia, dos vários componentes que compõem o sistema
climático da Terra.
E, usando os modelos matemáticos que resolvem todas as equações, fazendo projeções
informadas sobre o que poderemos ver no futuro em diferentes cenários possíveis, por
exemplo, da queima de combustíveis fósseis.
Modelando o Sistema Climático: Básico

8.2 Mudanças nos gases de efeito de estufa


Explicação do modelo de balanço de energia de dimensão zero, incluindo o cálculo usando uma
aproximação linear.

Portanto, iniciaremos a nossa discussão sobre modelos climáticos com os modelos


conceituais simples para modelar o clima da Terra. Esses modelos incluem variantes do
chamado modelo de balanço de energia. Um modelo de balanço energético ou
simplesmente EBM, em português BEM, não tenta resolver a dinâmica do sistema
climático.
Por exemplo, ele não leva em consideração os sistemas de circulação eólica e
atmosférica em larga escala, as correntes oceânicas, os movimentos convectivos na
atmosfera e no oceano, ou qualquer número de outras características básicas do
sistema climático.
Em vez disso, concentra-se simplesmente na energia e termodinâmica do sistema
climático. Começaremos a nossa discussão sobre EBM’s com o chamado EBM de
dimensão zero, o modelo mais simples que pode ser invocado para explicar, por
exemplo, a temperatura média da superfície da Terra.
Neste modelo muito simples, a Terra é tratada como um ponto matemático no espaço,
ou seja, não há explicação explícita para latitude, longitude ou altitude. Por isso,
referimo-nos a esse modelo como, zero dimensional. O modelo de rejeição de energia
de dimensão zero simplesmente equilibra a radiação de ondas curtas recebida do Sol e
a radiação de ondas longas que emana da superfície da Terra.
Vamos assumir que a quantidade de radiação de ondas curtas absorvida pela Terra é
simplesmente a expressão 1 menos alfa vezes S sobre 4, ou seja, (1-α) * S/4.
O que é que estes diferentes termos representam?
O símbolo S é a constante solar da qual falamos anteriormente no curso.
Em média, esta é cerca de 1370 w/m2, mais ou menos como um secador de cabelo de
alta potência, que actua em cada metro quadrado da superfície da Terra. Mas isso pode
variar ao longo do tempo, como veremos.

O factor 4 pelo qual dividimos tem a ver com o facto de a área de superfície da Terra ser
uma a área de uma esfera de raio, r, e isso é 4πr2, mas é apenas a área de uma secção
transversal da Terra que vê o Sol a qualquer momento, e essa área de secção transversal
é a área de um círculo ao quadrado, dividido por (πr2) que é de onde vem o quatro.
Donde: πr2 / 4πr2 = 1/4
Então, e finalmente, qual é o termo menos alfa?
Bem, alfa, como você se lembra, é o albedo planetário. É a fração da luz solar que se
reflecte na superfície da Terra ou nas nuvens. E assim será, 1 menos essa fração que é
realmente absorvida pela superfície da Terra. Então 1 menos alfa, parênteses, vezes S
dividido por 4, reflete a quantidade média de radiação de ondas curtas que está a
aquecer a superfície da Terra.
Então, como dissemos antes, precisaremos equilibrar a radiação solar de ondas curtas
que vem do Sol e a radiação de ondas longas que emana da superfície da Terra.
Portanto, o primeiro termo em que focaremos é a radiação de ondas curtas, que assume
a forma 1 menos alfa entre parênteses vezes S dividido por 4.
Agora, vamos olhar para o outro termo no balanço da radiação de ondas longas emitida.
Isso é estimado tratando a Terra como o que é conhecido como corpo negro. Isto é, na
linguagem da física, um objeto que absorve toda a radiação incidente sobre ele.
Há uma expressão na física que nos diz quanta radiação é produzida por um corpo negro,
é a chamada lei de stefan-boltzmann.
A lei de stefan-boltzmann diz-nos que um objeto emite radiação na proporção da quarta
potência de sua temperatura; por outras palavras, o fluxo de radiação de calor da
superfície é dado pela fórmula f é igual a épsilon vezes Sigma vezes TS (sub s) à quarta,
ou seja:

(Fbb = ɛ* σ * Ts4)
Mas vamos definir o que é que esses diferentes termos representam.
Sigma é uma constante fundamental que é conhecida como constante de stefan-
boltzmann, e tem o valor de Sigma igual a 5,67 * 10 - 8 (Wm-2K-4) unidades de watts por
metro quadrado por grau Kelvin.
Épsilon é o que chamamos de emissividade do objeto. É uma fração sem unidade. É uma
medida de quão bom é o corpo negro do objeto na faixa relevante de comprimentos de
onda em que está a emitir radiação. O valor épsilon de um corpo preto é perfeito. E
finalmente TS (sub s) que é a temperatura da superfície.
Para uma terra relativamente fria, a radiação produzida é emitida principalmente no
regime infravermelho do espectro eletromagnético, isto é, o que consideramos energia
de calor, e a emissividade é de facto muito próxima de um.
A terra está muito perto de ser um corpo negro. Portanto, neste modelo, vamos
aproximar ainda mais a temperatura da superfície, que denominamos TS (sub s), como
representando a temperatura média em todo o planeta, representando assim o que
podemos pensar como temperatura da pele.
Estamos a imaginar que a superfície é apenas uma camada fina e que inclui, por
exemplo, os oceanos. Ora 70% dessa camada é de água do oceano e, isso influenciará
nossa escolha das propriedades térmicas efectivas dessa pele, essa fina camada que
representa o clima.
Trataremos o oceano como o que chamamos de camada mista, ou seja, não há correntes
oceânicas, não há variações de temperatura ou quaisquer outras propriedades. É
simplesmente uma camada estagnada, trata-se quase como se fosse um oceano
pantanoso, com uma profundidade de 70 metros.
Isto ignora os impactos da troca de calor com o oceano profundo, o que é
potencialmente importante a longo prazo, mas não é, numa primeira aproximação,
“tosca”. Podemos então aproximar o efeito termodinâmico do oceano, da camada mista
em termos de uma capacidade efectiva de calor de todo o sistema terrestre e oceânico.
E essa capacidade efectiva de calor, as propriedades de absorção de calor dessa camada
de pele que pensamos representar o sistema climático, tem o valor de 2,08 vezes dez a
oitava joules/m2, (C = 2.08 * 108 JK-1m-2) que é uma unidade de energia, por Kelvin uma
unidade de temperatura para cada metro quadrado da superfície, ou seja, metros por
segundo negativo (J ou Joules unidade de energia, K ou Kelvin unidade de temperatura
e M-2 unidade de superfície).
A condição do balanço energético pode então ser descrita em termos da termodinâmica,
que afirma que qualquer mudança na energia interna por unidade de área por unidade
de tempo, que podemos chamar de Delta F é igual a C vezes a taxa de variação da
temperatura por unidade de tempo derivado, ou seja:

(ΔF = Cd Ts / dt)
que deve equilibrar a taxa de aquecimento líquido. E a taxa de aquecimento líquido será
a diferença agora entre o aquecimento recebido pelo Sol e a radiação de ondas longas
emitida pela superfície.
Matematicamente, isso dá-nos uma declaração do balanço energético, que nos diz que
a capacidade de calor efectiva do sistema climático vezes, a taxa de variação da
temperatura da superfície por unidade de tempo, será igual à nossa radiação de ondas
curtas recebida, 1 menos alfa vezes S dividido por quatro, menos nossa radiação de
ondas longas de saída, a emissividade épsilon vezes Sigma a stefan-boltzmann vezes a
temperatura da superfície elevada à quarta potência, ou seja)

(C dTs / dt = (1 – a)*S / 4 - ɛ * σ * Ts4)


então agora vamos supor primeiro que a radiação recebida, a radiação de ondas curtas
(1 – a)*S / 4, este é o primeiro termo no lado direito, é maior que a radiação emitida,
o segundo termo no lado direito, 4 - ɛ * σ * Ts4.

(C dTs / dt = (1 – a)*S / 4 - ɛ * σ * Ts4)

Taxa de mudança Ondas Ondas


da temperatura à curtas longas
superfície recebidas emitidas

Então todo o lado direito seria positivo, o que significa que o lado esquerdo, C dTs /
dt deve ser positivo. A taxa de mudança de temperatura por unidade de tempo teria
que ser positiva.
A temperatura estaria a aumentar. Então esse seria o caso em que há um aquecimento
líquido da superfície. Mais do que o que é perdido para o espaço. Se houver um
aquecimento líquido, a temperatura terá que aumentar, e é isso que nos diz. Se T
aumentar, TS (sub s) também aumenta, nesse caso.
Isso, por sua vez, significa que a radiação emitida deve aumentar, o que acabará por
equilibrar os dois termos do lado direito. Neste ponto, não há mudança de temperatura,
na temperatura de superfície, TS (sub s), com o tempo significando que o termo da
esquerda é zero e, se o termo da esquerda é zero, os dois termos do lado direito devem
estar totalmente em equilíbrio.
Isso dá-nos a seguinte equação, que é de facto simplesmente uma expressão algébrica,
épsilon vezes Sigma vezes TS (sub s) à quarta, ou seja, ( ɛ * σ * Ts4 = (1-a)S/4 ) a radiação
de onda longa de saída deve estar precisamente em equilíbrio com S vezes 1 menos alfa
dividido por 4, o radiação de ondas curtas recebida.

ɛ * σ * Ts4 = (1-α)S/4

Portanto, podemos tomar essa equação e o valor aproximado de S, que sabemos ser
1.370 wm2 (watts por metro quadrado), o valor aproximado de alfa que é cerca de 0,32,
a quantidade média de reflexão da radiação, a fração da radiação refletida da Terra
na superfície devido a nuvens e desertos e gelo e, em todas as superfícies reflexivas na
superfície da Terra.

1 * (5.67*10-8Wm-2K-4) * Ts4 = (1-0.32)1370Wm2/4


Donde (feitos os cálculos) Ts = 255K (kelvin)
Que é -18ºC

Podemos considerar o épsilon como um, para a aproximação do corpo negro. Sigma é
apenas uma constante, cujo valor sabemos.
E então tudo o que é necessário fazer agora é resolver TS (sub s) se fizermos o cálculo
obteremos a solução TS (sub s), a temperatura da superfície da Terra é igual a 255 graus
Kelvin. Isto é menos 18 graus Celsius.
Se este cálculo estivesse correto, a Terra seria um planeta congelado, provavelmente
seria sem vida. Não estaríamos aqui a ter esta conversa.
Então, obviamente, deve estar a faltar algo no cálculo, falaremos sobre isso mais tarde.
Enquanto isso, embora façamos uma aproximação simplificadora, para facilitar os
cálculos.
Como a temperatura da superfície da Terra varia numa faixa relativamente pequena,
inferior a 30 graus Celsius ou Kelvin, sobre a temperatura média de longo prazo, que é
de cerca de 288 Kelvin, ela varia apenas cerca de 10% do seu valor. 10% é um número
pequeno comparado com cem por cento.
Quando uma quantidade varia numa fração relativamente pequena de seu valor geral,
pode-se usar algo que é conhecido em matemática e nas ciências como linearização, ou
seja, pode-se ter uma relação não-linear e aproximar-se de uma relação linear.
Por exemplo, vamos pegar a curva y igual a ax4 (à quarta).

Como se pode ver nesta demonstração, se escolhermos um ponto nessa curva e


observarmos uma pequena faixa de variação em torno desse ponto, essa equação de
quarto grau, pode muito bem aproximar-se de uma equação linear, no ponto de
variação escolhido. Então é isso que vamos fazer com esse termo de radiação do corpo
negro, aproximando a temperatura da superfície, à equação de quarto grau, em termos
de uma simples equação linear na temperatura. A mais B vezes T.

ɛ * σ * Ts4 = A + B * Ts
Na aproximação do corpo negro, descobrimos que os valores apropriados de A e B são
iguais a 315 Wm-2 (watts por metro quadrado) e B é igual a 4,6 Wm-2K-1 (watts por metro
quadrado por grau Kelvin). Se substituirmos esses números na equação, verá que as
unidades da equação se calculam em watts por metro quadrado para cada termo,
portanto é uma equação fisicamente consistente.
Portanto, usando esses valores de a e B, agora temos uma equação linear simples para
TS.
TS é igual a S vezes 1 menos alfa dividido por 4, menos A, dividido por B.
1−𝑎
[𝑆 − 𝐴]
4
Ts =
𝐵
Portanto, usando essa aproximação e substituindo o lado esquerdo original de nossa
equação, que era épsilon vezes Sigma vezes T à quarta, estamos agora a substituir a
quantidade, simplesmente A mais B vezes T, a nova equação que resolvemos para T, TS,
a temperatura da superfície, é igual a S vezes 1 menos alfa dividido por 4 menos A, essa
quantidade inteira, dividida por B.
Vamos usar esta solução aproximada para o balanço energético global, que chamamos
de modelo de balanço energético de dimensão zero, e começaremos por usar os valores
padrão de A e de B que escolhemos anteriormente, que reflectem uma aproximação do
corpo negro, que reflectem a suposição de que a Terra se comporta como um corpo
negro perfeito.
Modelando o Sistema Climático: Básico

8.3 MBE - Demonstração


Análise de uma demonstração de um modelo de balanço de energia de dimensão zero, mostrando
as diferentes variáveis e os seus efeitos no modelo.

Ok, então vamos usar aqui o nosso aplicativo de modelo de balanço de energia.
Vamos usar este endereço https://www.e-education.psu.edu/meteo469/sites/www.e-
education.psu.edu.meteo469/files/lesson03/0d_EBM.html para modelar as nossas
condições.
Temos uma configuração solar constante, uma configuração para o albedo planetário
da Terra e, uma configuração para a concentração de CO2, e podemos variar essas
quantidades usando este software de demonstração 0d-EBM, e simular nos comandos,
para cima e para baixo, ou simplesmente digitando o número desejado nas respectivas
caixas, na parte inferior.
E, para efeito de simulação neste software, as nossas configurações padrão são, uma
constante solar de 1370 watts por metro quadrado e um albedo planetário de 0,32 e,
uma concentração pré-industrial de CO2 de 280 partes por milhão, e a nossa suposição
padrão, para efeito de teste, serão os parâmetros do corpo negro para o modelo de
balanço de energia, embora em breve veremos que eles têm falhas se tentarmos obter
números realistas.
Portanto, observa-se que neste caso, com estas configurações padrão e, uma
concentração pré-industrial de CO2 de 280 partes por milhão, que encontramos uma
temperatura de 255,3 Kelvin, 33 graus Kelvin mais frio que a Terra actual ou 60 graus
Fahrenheit mais frio do que a terra é, ou seja, é uma terra congelada, 18 graus C
negativos, 18 graus Celsius abaixo de zero. Então, como aproximação do corpo negro,
temos uma terra congelada.
Podemos alterar essas configurações, é claro que podemos aumentar a concentração
de CO2, e é isso que a temperatura com AGW (Antropogenic Global Warming), que é o
Aquecimento Global Antropogénico, nos está a dar, o aquecimento associado a essa
mudança de CO2 e, nos exercícios posteriores, usaremos essa variação de temperatura
em relação ao CO2 para recuperar uma quantidade importante chamada sensibilidade
climática da Terra.
Mas é claro que podemos variar também as outras quantidades. Podemos mudar o
albedo da Terra para explicar possíveis mudanças na refletividade da sua superfície.
Podemos imaginar que a produção do Sol tenha variado ao longo do tempo. E se
quisermos, podemos realmente desenhar linhas, para vermos como essas várias
quantidades mudam. Tudo isto reflectido na ferramenta que vimos anteriormente.
Podemos mudar a cor da constante solar para vermelho, a temperatura da superfície
para azul. E, conforme variamos de forma constante, podemos ver que a temperatura
também está realmente a variar, que é a temperatura de equilíbrio para esse valor da
constante solar.
Se quisermos alterar as escalas para torná-las um pouco mais sensíveis, podemos
aumentar o zoom neste caso, digamos 250 a 300 para obter uma escala mais fina.
Vamos tentar alterar esta de 250 a 300 e, como pode ser visto no 0d-EBM, variando a
constante solar, varia a temperatura.
Portanto, pode-se achar bastante decepcionante que, depois de todo o trabalho que
fizemos antes para desenvolver um modelo realista de balanço energético para o clima
da Terra, estivéssemos longe.
O nosso 0d-EBM indica que, dados os valores de parâmetros apropriados, que são uma
constante solar de cerca de 1370 watts por metro quadrado e um albedo planetário de
cerca de 0,32, a Terra deve ser um planeta congelado com temperatura superficial TS de
255 Kelvin, ou seja, -18 graus Celsius, em vez dos TS mais hospitaleiros, era igual a 288
Kelvin, 15 graus Celsius, aproximadamente 59 graus Fahrenheit, que na verdade
observamos para a temperatura da superfície da Terra.
O nosso modelo deu-nos um resultado impressionante de 33 graus Celsius, cerca de 60
graus Fahrenheit muito frio. O que é que acha que nos esquecemos?
Se você disse gases de efeito estufa, está certo.
Mias uma vez, faça as suas simulações em:
https://www.e-education.psu.edu/meteo469/sites/www.e-
education.psu.edu.meteo469/files/lesson03/0d_EBM.html
Modelando o Sistema Climático: Básico

8.4 Estimando a sensibilidade climática


Baseia-se no modelo de balanço de energia de dimensão zero para incluir o efeito estufa,
introduzindo a aproximação do corpo cinza.

Então vimos que, na aproximação simples de um corpo negro, o nosso modelo


simplificado do balanço energético global, o nosso modelo de balanço energético, deu-
nos uma temperatura superficial muito fria, uma temperatura terrestre de 255 Kelvin,
ou seja, -18 graus Celsius, um planeta congelado , e sabemos que o problema é que não
incluímos nessa simulação o efeito estufa, responsável pelo aquecimento substancial do
planeta para além do que seria expectável, quais seriam as temperaturas da superfície,
se tratássemos a Terra como um simples corpo negro sem atmosfera.
Portanto, podemos acomodar o efeito estufa usando ainda a equação aproximada que
desenvolvemos antes, que nos diz que a temperatura da superfície é igual a S a
constante solar vezes 1 menos alfa, dividido por 4, menos A e toda essa expressão
dividida por B, ou seja:
1−𝑎
[𝑆 − 𝐴]
4
Ts =
𝐵
Ainda podemos usar essa equação, mas teremos que usar novos valores para A e B, não
os valores originais que refletem a suposição de um corpo negro, mas os valores de A e
B que assumem que a Terra não se comporta estritamente como um corpo negro, pelo
facto de a atmosfera realmente absorver parte da radiação que é produzida pela
superfície ao tentar fazê-la sair para o espaço.
Então, mudaremos os valores de A e B para que eles reflitam a existência de um efeito
estufa. E veremos que, alterando-se a suposição de um verdadeiro corpo negro para
essa nova aproximação onde a Terra não se comporta estritamente como um corpo
negro, chamemos-lhe de corpo cinza, na verdade, podemos obter estimativas muito
mais precisas da temperatura da superfície da Terra.
Vários valores desses parâmetros A e B, os parâmetros do corpo cinza, foram utilizados
por diferentes pesquisadores em diferentes situações.
Como a aproximação do corpo cinza é uma aproximação linear a uma relação não linear,
a lei da radiação de Planck, é válida apenas numa faixa limitada de temperaturas, sobre
uma temperatura de referência específica.
Isto significa que podem ser usados diferentes conjuntos de parâmetros para estudar,
por exemplo, as eras glaciares, onde as temperaturas da superfície estavam
substancialmente mais baixas do que hoje, então poderíamos usar, por exemplo, para
estudar o período cretáceo inicial, onde tínhamos um superefeito estufa.
Acontece que a escolha é A igual duzentos e quatorze virgula quatro watts por metro
quadrado (214,4 W/m2) e B igual a um ponto vinte e cinco watts por metro quadrado
por kelvin (1,25 W/m2 K-1), produzindo valores realistas para a temperatura média atual
da terra, TS, e dá-nos um valor para algo que é conhecido como sensibilidade climática,
um conceito que definiremos mais à frente, que é consistente com as estimativas de
modelos intermediários de quão sensível é a temperatura da superfície da Terra às
concentrações de gases de efeito estufa.

A = 214,4 W/m2
B = 1,25 W/m2K-1
Portanto, adotaremos esses valores como os nossos valores padrão de parâmetros do
corpo cinza, mas também exploraremos o impacto do uso de valores alternativos um
pouco mais tarde. Vamos agora falar sobre o conceito-chave de sensibilidade climática
de equilíbrio, às vezes chamado de ECS.

1−𝑎
[𝑆 − 𝐴]
4
Ts = 𝐵

Ts = Fin
Sensibilidade climática de equilíbrio
Ts = temperatura à superfície
S = Constante solar
α = Albedo planetário (fracção de luz solar recebida que é refletida)
Fin = Fluxo de energia radiativa na superfície
Podemos reescrever a equação que tínhamos anteriormente para o balanço de energia
dimensional zero de uma forma ligeiramente diferente, onde substituiremos esse termo
de força solar, que era a constante solar S vezes 1 menos alfa dividido por 4, estamos
substituindo-o apenas por alguma força genérica, Fin, e que pode variar ao longo do
tempo, por exemplo, a constante solar pode variar ao longo do tempo; na verdade,
sabemos que ela varia mesmo ao longo do tempo. Portanto, com essa substituição,
nossa expressão para TS, a temperatura da superfície da Terra e a aproximação do
modelo de balanço de energia dimensional zero são apenas Fin menos nosso parâmetro
A que depois é dividido pelo nosso parâmetro B.

Ts = [ Fin - A ] / B
Bem, podemos reorganizar essa equação agora para dizer que TS. a temperatura da
superfície, é igual à quantidade 1 dividida por B, 1 dividida por nosso parâmetro B, vezes
Fin, menos a razão de A para B, onde Fin representa o fluxo total de energia radiativa
recebida na superfície, como dissemos antes, e isso inclui o fluxo de radiação de ondas
curtas do Sol.

Ts = ( 1 / B ) Fin – ( A/ B )
Fin é fluxo total de energia radiativa recebida na superfície (incluindo o fluxo de radiação de
ondas curtas do sol incluindo fluxo de radiação de ondas curtas recebidas do sol e radiação de
ondas longas descendentes em direção à superfície devido a variações de gases de efeito estufa)
Mas também poderíamos absorver nesse termo flutuações na radiação de onda longa
descendente em direção à superfície devido a variações de gases de efeito estufa.
Vamos agora considerar a resposta de TS a uma mudança incremental nessa força, Fin.
Então, como o segundo termo é uma constante, simplesmente temos para quaisquer
alterações, a mudança na temperatura da superfície ΔTS, é igual à mudança na forçante,
ΔFin, dividido pelo nosso parâmetro B.

ΔTs = ΔFin / B
ΔTs / ΔFin = 1 / B
Bem, isso permite-nos reorganizar as coisas para obter a expressão: a mudança na
temperatura da superfície para uma mudança na forçante descendente ΔFin é igual a 1
sobre B, um resultado muito simples.
Isso diz-nos que, para uma determinada mudança no forçamento, a quantidade de
aquecimento das temperaturas da superfície é simplesmente igual a 1 sobre B, 1 sobre
B é uma medida da sensibilidade do sistema terrestre a uma mudança no forçamento,
seja uma mudança na radiação de ondas curtas recebida do Sol, ou uma mudança na
radiação de ondas longas dos gases de efeito estufa.
Então agora vamos supor especificamente que o ΔFin represente uma mudança na força
de radiação de onda longa descendente, associada a uma mudança nas concentrações
de CO2 em relação a alguma concentração de referência.
Bem, acontece que na verdade há uma equação aproximada agradável que nos diz o
que é o ΔF nessa situação.

ΔFCO2 = 5,35 ln ( [ CO2 ]/ [ CO2 ]0 )

Ele nos diz que a mudança na forçagem associada a uma mudança no CO2 é igual a cinco
ponto três, cinco, vezes o logaritmo da razão da concentração de CO2, a nova
concentração de CO2 para essa concentração de referência, CO2 abaixo de zero.
Bem, agora vamos supor especificamente que estamos interessados nas mudanças e
forçamentos radiativos que resultam da duplicação das concentrações atmosféricas de
CO2, em relação a alguma linha de base.
Vamos tomar como linha de base o período pré-industrial de 280 partes por milhão de
CO2, os níveis de CO2 eram aproximadamente 280 partes por milhão antes da Revolução
Industrial. Portanto, podemos estar interessados em quanto aquecimento obteremos
quando duplicarmos as concentrações de CO2 em relação aos níveis pré-industriais.
Por outras palavras, passando de 280 partes por milhão para aproximadamente 560
partes por milhão. O nível em que estaremos em questão de décadas se não fizermos
algo para impedir a nossa queima contínua de combustíveis fósseis.
Bem, nesse caso em que a concentração de CO2 é o dobro da concentração de
referência, duplicamos o CO2 dos níveis pré-industriais de 280 para 560 partes por
milhão, então esse último termo torna-se o logaritmo de 2, o logaritmo matemático de
2 multiplicado por 5,35 e, se o multiplicarmos, isso dá-nos 3,7 watts por metro
quadrado.

ΔF2*CO2 = 5,35 ln ( 560ppm / 280ppm )


ΔF2*CO2 = 5,35 ln(2)
ΔF2*CO2 = 3,7 W/m2
Isso significa que o forçamento devido à duplicação das concentrações de CO2 é um
pouco menos de quatro watts por metro quadrado. Podemos definir a sensibilidade
climática de equilíbrio, ECS, ou vamos chamá-la de S, como a mudança de temperatura
resultante de uma duplicação das concentrações de CO2, de níveis pré-industriais de 280
partes por milhão para um nível de 560 partes por milhão.
Sensibilidade climática de equilíbrio, ECS
Bem, para estimar S, precisamos apenas de combinar este novo resultado que nos diz
qual é o ΔF para o dobro de CO2 como na nossa equação acima, que relacionava a
mudança de temperatura com uma mudança de forçamento.

S = ΔT2*CO2 = ( ΔF2*CO2 ) / B = 3,7 / B


E isso realmente dá-nos, para duplicar o CO2, o nosso S, a sensibilidade climática de
equilíbrio, quanto aquecimento se obtém se duplicarmos as concentrações de CO2 é
simplesmente igual a três ponto sete dividido pelo nosso parâmetro o B grande. A
sensibilidade climática de equilíbrio é o equilíbrio de aquecimento esperado em
resposta à duplicação de CO2. No caso simples do modelo de balanço de energia de
dimensão zero, ele é facilmente calculado através da equação acima.
Então, em resumo nesta lição, começamos a explorar o uso de modelos teóricos do
sistema climático, focando-nos no mais simples de todos os modelos possíveis, o
modelo de balanço de energia de dimensão zero.
Um modelo simples de rejeição de energia de dimensão zero ou EBM pode ser usado
para estimar a temperatura da superfície da Terra, bem como a resposta das
temperaturas da superfície a mudanças externas, incluindo perturbações induzidas pelo
homem.
1) O modelo equilibra a radiação solar recebida absorvida na superfície da Terra e,
a radiação de ondas longas emitida pela superfície da Terra.
2) Uma aproximação linear simples pode ser usada no EBM de dimensão zero para
representar a radiação de ondas longas emitida, levando a uma simplificação
matemática e a uma fórmula simples para as temperaturas globais da superfície.
3) Usar valores apropriados dos coeficientes do modelo de corpo cinza, para o
termo de radiação de ondas longas, fornece uma temperatura global da
superfície de cerca de 255 Kelvin, 18 graus Celsius abaixo do zero, obviamente
muito frio.
4) A aproximação com o corpo cinza fornece uma correção simples para o EBM de
dimensão zero, que incorpora pelo menos grosseiramente o efeito estufa
atmosférico.
5) A aproximação do corpo cinza fornece uma correção simples para o EBM de
dimensão zero, que incorpora, pelo menos grosseiramente, o efeito estufa na
atmosfera.
6) Usando valores apropriados dos coeficientes do modelo de corpo cinza,
podemos prever com precisão tanto a temperatura da superfície da Terra
aproximadamente, 288 Kelvin, ou 15 graus Celsius, quanto a resposta das
temperaturas da superfície a perturbações, como o aumento das concentrações
de gases de efeito estufa, que para os valores mais apropriados dos parâmetros
produz um aquecimento de cerca de 3 graus Celsius para uma duplicação das
concentrações de CO2. Por outras palavras, uma sensibilidade climática ou
sensibilidade climática de equilíbrio de aproximadamente 3 graus Celsius.
A sensibilidade climática do equilíbrio é um número crítico, porque é uma medida
universalmente usada de quão sensível o clima da Terra é à nossa descarga contínua de
gases de efeito estufa na atmosfera.
Assim, vimos que 3 graus Celsius para duplicação de CO2 é hoje, provavelmente, a
estimativa mais precisa do que realmente é a sensibilidade climática de equilíbrio, ou
ECS, mas há incerteza nesses valores e com isso vem a incerteza nas projeções futuras
de mudanças climáticas.
Readings for Module 3

Climate Models

Citation: National Oceanic and Atmospheric Administration. (n.d.). Climate Models.


Retrieved from climate.gov: https://www.climate.gov/maps-data/primer/climate-
models

How do climate models work?

Citation: McSweeney, R., & Hausfather, Z. (2018, January 15). Q&A: How do climate
models work? Retrieved from Carbon Brief: https://www.carbonbrief.org/qa-how-do-
climate-models-work

Climate Sensitivity Fact Sheet

Citation: Australian Government Department for Environment. (n.d.). Climate


Sensitivity Fact Sheet. Retrieved from environment.gov.au:
https://www.environment.gov.au/system/files/resources/d3a8654f-e1f1-4d3f-85a1-
4c2d5f354047/files/factsheetclimatesensitivitycsiro-bureau.pdf
Modelando o Sistema Climático: Avançado

8.5 Modelos unidimensionais de balanço de energia


Apresentação do modelo de balanço de energia unidimensional, baseado no modelo de balanço
de energia de dimensão zero.

Nesta lição, continuaremos com a nossa investigação de modelos climáticos.


Investigaremos modelos mais complexos do sistema climático do que na lição anterior.
Primeiro, investigaremos uma versão um pouco mais complexa do modelo de balanço
de energia encontrado na lição anterior, na qual explicitamente explicaremos a
influência da latitude. A variação do clima com a latitude no nosso tratamento do clima
global.
Consideraremos modelos que representam a geometria tridimensional completa do
sistema terrestre e modelaremos ventos e correntes oceânicas atmosféricas, padrões
de chuvas e secas e, outros atributos-chave do sistema climático. Também
exploraremos o conceito de detecção de impressão digital, um método que nos permite
comparar as previsões do modelo climático com as observações, para discernir se o sinal
da mudança climática causada pelo homem pode ou não ser detectado nas observações.
Há muitas maneiras de generalizar o modelo de balanço de energia de dimensão zero
que encontramos na lição anterior. Se não por outra razão, devido ao facto de a radiação
solar de entrada ser simétrica em relação à longitude, mas variar drasticamente com a
latitude do equador ao polo, o grau de liberdade latitudinal é a segunda propriedade
mais importante a ser resolvida, se desejarmos obter mais informações sobre o sistema
climático usando um modelo ainda relativamente simples e tratável.
Isso leva-nos ao conceito do modelo de balanço energético unidimensional, onde
explicitamente dividiremos a Terra em faixas latitudinais, que nos permite tratar a Terra
como uniforme em relação à longitude.
Ao introduzir a latitude, podemos agora representar realisticamente processos como
feedbacks de gelo, que têm um forte componente latitudinal, já que o gelo tende a ser
restrito a regiões de latitude mais alta.
Agora, lembre-se de que tínhamos para a versão linearizada do modelo de balanço de
energia do corpo cinza de dimensão zero um balanço simples que possui, no lado
esquerdo, a capacidade térmica efectiva do sistema climático, a taxa de mudança de
temperatura em relação ao tempo e, do lado direito a diferença entre a radiação de
ondas curtas recebida, 1 menos alfa multiplicado por S a constante solar dividida por 4,
menos o nosso parâmetro A e, menos o nosso parâmetro B, vezes a temperatura da
superfície, onde alfa é o albedo da terra e A e B são os coeficientes no modelo de corpo
cinza para a aproximação linearizada da dependência de temperatura de quarta ordem
do termo de radiação de ondas longas de saída.

C dTs / dt = [ (1 – α )*S / 4 ] - A – B Ts4)


Onde:
α = É o albedo da Terra
A e B = são o coeficiente da aproximação linearizada do termo de 4º grau
Generalizando, agora, o modelo de rejeição de energia de dimensão zero, podemos
escrever uma equação semelhante de radiação e balanço de energia para cada faixa de
latitude agora.

Cp ( dTi / dt ) = (1 – αi )*Si - A – B Ti )
Onde:
i = banda de latitude
Esta equação tem no seu lado esquerdo, a capacidade efectiva de calor multiplicada pela
taxa de variação da temperatura da superfície para essa faixa de latitude, a faixa de
latitude índice i, que indica qual a faixa de latitude de que estamos a falar em relação à
temperatura do lado esquerdo, e no lado direito, temos 1 menos alfa índice i, porque
agora estamos a permitir a possibilidade de que diferentes faixas de latitude possam ter
diferentes albedo's. Latitudes altas com a sua cobertura de gelo, terão albedos mais
altos do que latitudes mais baixas.
Portanto, agora permitimos para essa dependência, 1 menos alfa índice i, denotando o
albedo para essa zona de latitude vezes S índice i, é a radiação solar recebida para essa
zona de latitude, que ficará mais próxima do equador e menos próxima do pólo, menos
A, menos B vezes novamente a temperatura da superfície para aquela faixa de latitude
específica, faixa de latitude índice i.
Introduzimos agora algumas generalizações extremamente importantes: a temperatura
T índice i, o albedo alfa índice i e a radiação solar recebida S índice i, são agora funções
de latitude, permitindo-nos representar a disparidade na radiação de ondas curtas entre
o equador e o polo e o forte potencial de dependência latitudinal de albedo com a
latitude.
Em particular, onde a temperatura T índice i para uma determinada zona de latitude cai
abaixo de zero, representamos o aumento da acumulação de neve e gelo em termos de
um albedo mais alto.
A temperatura média global, T índice s, é calculada por uma média apropriada das
temperaturas para as diferentes faixas de latitude T índice i.

F [ Ti - Ts ]
Onde:
Ti = Temperatura para uma dada zona de latitude
Ts = Temperatura média global
F = Valor apropriado para o transporte de calor
Lembre-se de que a disparidade na radiação solar recebida entre latitudes alta e baixa
leva ao transporte lateral de calor sobre a superfície da Terra por circulação atmosférica
e pelas correntes oceânicas.
Na ausência de transporte lateral, os polos ficarão cada vez mais frios devido ao
desequilíbrio negativo da radiação de ondas longas emitida do que da radiação de ondas
curtas recebida, se houver um déficit de radiação.
E o equador tornar-se-á cada vez mais quente devido ao excesso de radiação, mais
radiação de ondas curtas recebida do que a radiação de onda longa emitida. Claramente
que, de alguma forma, devemos representar essa latitudinal ou meridional, o termo que
usamos transporte de calor no modelo, se quisermos esperar resultados realistas.
Isso pode ser feito através de uma representação muito grosseira do processo de
advecção de calor, que é o movimento do calor pelos movimentos oceânicos e
atmosféricos, no sentido horizontal, através de um termo que é proporcional à diferença
entre a temperatura de uma dada zona de latitude T índice i, e a temperatura global
média F, que é um valor apropriado que representa o transporte de calor multiplicado
pela diferença entre T índice i e T índice s, a temperatura média global.
Esse termo representa processos associados à advecção lateral de calor e, a regiões
quentes, que são mais frias que a média global e, regiões frias que são mais quentes que
a média global, exatamente o que sabemos que, os movimentos oceânicos e
atmosféricos precisam de ser capazes de fazer.

Cp dTs / dt + F ( Ti - Ts ) = (1 – αi )*Si - A – B Ti
Isso fornece-nos agora, a forma final para o nosso modelo de balanço energético
unidimensional, onde temos a capacidade de aquecimento vezes, a taxa de variação da
temperatura por unidade de tempo para uma determinada faixa de latitude i, mais o
termo de transporte de calor F, o nosso transporte de calor, vezes o coeficiente a entre
a diferença de temperaturas para aquela zona de latitude, T índice i e a temperatura
média global T índice s, que deve ser igual a, 1 menos alfa índice i, que é a fração de
radiação que não é refletida para a latitude da zona i, vezes S índice i, a radiação solar
recebida na zona de latitude i, menos A, menos B, vezes a temperatura da zona de
latitude i.

O modelo é suficientemente complexo e agora, que não há simplesmente como anotar


a solução, não podemos simplesmente resolvê-la analiticamente. Mas podemos
resolvê-lo matematicamente através de uma forma muito simples e primitiva, de algo
que encontraremos mais vezes no futuro, um modelo climático numérico.
Modelando o Sistema Climático: Avançado

8.6 Caso de Estudo: Utilizar um EBM unidimensional para modelar as


eras glaciais
Utilizar o modelo unidimensional de equilíbrio da terra para explicar como a Terra se move
dentro e fora das eras glaciais, existindo como um sistema de estado estacionário múltiplo.

Portanto, um dos problemas nos quais agora nos podemos focar com esta versão, um
pouco mais complexa do modelo de balanço de energia, é este ir e vir das eras glaciares,
porque sabemos que essas eras glaciares são impulsionadas pela acumulação de gelo
nas latitudes mais altas e pelo aumento do albedo que isso proporciona e, o
arrefecimento que surge de uma maior reflexão à medida que o gelo começa a cobrir as
regiões polares do planeta.
Precisamos de ser capazes de resolver a latitude para descrever esse processo e o
modelo de balanço energético unidimensional permite-nos fazer isso.
Então, vamos usar esse modelo para examinar agora o problema de como a Terra entra
e sai, das eras glaciares, e também o problema muito interessante da Terra bola de
neve.
Sabemos que há milhões de anos, no início da evolução da Terra, houve pelo menos dois
episódios em que a Terra se tornou conhecida como “Terra da Bola de Neve”, e toda a
Terra ficou coberta de gelo. E isso aconteceu quando a constante solar era apenas
modestamente mais baixa do que é hoje.
Isso sugere que a Terra pode existir em dois estados muito diferentes, o estado
relativamente descongelado em que a encontramos, nos últimos tempos, nas últimas
centenas de milhões de anos, e a terra congelada de bola de neve que existia há milhares
de milhões de anos atrás.
Vamos usar o modelo unidimensional de balanço energético para entender como é que
a Terra pode existir nesses dois estados muito diferentes, relativamente coberta de gelo
e relativamente livre de gelo, para o mesmo valor da constante solar.
Este é um exemplo de um fenómeno mais geral conhecido como múltiplos estados
estacionários. Um sistema que pode exibir mais de um estado estável para um
determinado conjunto de parâmetros.
Então agora, por favor, dê uma olhadela nesta demonstração que fiz usando o modelo
de balanço de energia unidimensional.
Ver documento em anexo: Modelo de Balanço Energético
Ok, então agora vamos fazer uma experiência real com o nosso modelo de balanço de
energia unidimensional, onde generalizamos o modelo de balanço de energia para
permitir zonas de latitude discretas. E, calculamos o balanço de energia como fizemos
antes entre a radiação solar recebida, a radiação de ondas longas emitida, a radiação
reflectida.
Usamos os mesmos princípios de balanço de energia que usamos no modelo de
dimensão zero, mas agora estamos a permitir quatro soluções diferentes do modelo de
balanço de energia em diferentes zonas de latitude e, importante, vamos permitir que
esses fluxos, os fluxos laterais de energia, F entre zonas de latitudes, que representam
o papel muito importante que os movimentos atmosféricos e oceânicos desempenham
no transporte de calor como um todo, de latitudes baixas para latitudes mais altas, para
compensar o desequilíbrio entre a radiação de entrada e saída, nos trópicos e nos pólos.
Há um excedente de energia no equador e, um déficit de energia nos pólos. E, portanto,
precisamos desses fluxos laterais para compensar esse desequilíbrio.
Então, vamos dar uma olhadela num problema que foi atacado pela primeira vez usando
esse tipo de abordagem, a abordagem de modelagem unidimensional do balanço de
energia. Vamos usar um programa que foi escrito em MATLAB, e como poderá ver esse
é o coração do programa que, faz os cálculos de balanço de energia para cada zona de
latitude.
Aqui, especificamos o coeficiente de transporte lateral do fluxo de calor F.
Estamos a usar parâmetros do corpo cinza para o balanço de energia do tipo que vimos
anteriormente no modelo unidimensional e no modelo dimensional zero, e agora
estamos a considerar a possibilidade de que o albedo seja muito diferente, dependendo
de uma zona de latitude específica estar coberta de gelo, nesse caso, com um albedo
relativamente alto, ou não coberta de gelo, ou seja, com um albedo relativamente baixo.
E determinaremos se é provável ou não, que uma faixa de latitude seja coberta de gelo
por um simples limiar, uma parametrização onde, se a temperatura média dessa faixa
de latitude estiver abaixo de menos 10 grau Celsius, na média anual, então estará
coberta de gelo, sendo essa é a suposição que assumiremos.
Não é uma má suposição se olharmos de uma maneira geral, para a relação entre as
temperaturas médias anuais e, quais as zonas de latitude que estão de facto cobertas
por gelo, no mundo real.
E realizaremos experiências nas quais alteramos lentamente a constante solar, de um
valor relativamente alto, maior do que a constante solar de hoje, para um valor
relativamente baixo.
Veremos como a temperatura da Terra e de diferentes zonas de latitude mudam, e
depois aumentaremos a constante solar de um valor baixo para um alto ou valor original
e, veremos novamente como a temperatura da Terra volta a mudar, agora sabemos que
mudar o albedo significa criar um problema, haverá transporte de calor entre diferentes
zonas de latitudes, portanto este, é um modelo mais sofisticado do que os tipos de
modelos que analisamos até agora.
Ok, agora que estamos a lidar com um grau de liberdade adicional, temos que lidar com
a latitude, teremos que usar um pouco de geometria, precisamos levar em linha de
conta, a geometria da inclinação da Terra e, a variação da radiação solar recebida no
topo da atmosfera, em função da latitude.
Portanto, todos estes cálculos, a geometria e a distribuição do isolamento, bem como a
latitude são calculados com algumas sub-rotinas e, são incorporados, é claro, na nossa
solução do modelo de balanço de energia unidimensional.
Então, na verdade, vamos executar esse modelo, ensaiando no link em baixo, um
modelo de balanço de energia unidimensional EBM fraco e, o que é feito antes de tudo,
é calcular o isolamento no topo da atmosfera como uma função da latitude em que, é
claro, temos valores muito altos de isolamento solar perto do equador, valores muito
baixos perto do pólo e, que vai variando a constante solar, que descrevemos por meio
de um multiplicador solar.
Ensaiar aqui: https://www.e-education.psu.edu/meteo469/sites/www.e-
education.psu.edu.meteo469/files/lesson03/0d_EBM.html

Portanto, variando a constante solar para 40% maior que seu valor actual, um
multiplicador de 1,4, até 40% menor que o seu valor actual, um multiplicador de 0,6, e
um multiplicador de 1 é o valor atual da constante solar.
O que a curva vermelha nos mostra, é o que acontece com a temperatura da Terra, a
temperatura média da Terra, que é construída calculando a média de todas as faixas de
latitude, com cada uma das quais, tendo sua própria temperatura.
À medida que se baixa a constante solar para um valor 40% maior do que é hoje para,
digamos, o valor do dia actual, quando diminui o multiplicador solar para o valor actual,
obtém-se uma temperatura algures na faixa dos 15 graus Celsius aproximadamente, o
que sabemos ser, de facto, uma estimativa bastante razoável da temperatura média da
Terra. E à medida que diminuímos ainda mais, é claro que a temperatura diminui, mas
algo de muito interessante acontece. De repente, chegamos a um ponto crítico em que
a temperatura cai rapidamente, para muito abaixo do ponto de congelamento e, é claro,
continua a cair ainda mais à medida que diminuímos ainda mais o multiplicador solar.
O que está a acontecer aqui, é que a temperatura da terra está a ficar cada vez mais fria,
as zonas de latitude ocupadas pelo gelo estão a espalhar-se mais e mais em direção ao
equador até que, finalmente, chegamos a um ponto em que toda a terra fica coberta de
gelo e o albedo aumenta dramaticamente e, a temperatura da Terra cai também
drasticamente. Agora temos a terra coberta de gelo, pois continuamos a baixar a
constante solar, é claro que, a terra continua a arrefecer, mas a cobertura de gelo não
está a mudar, temos uma terra congelada.
O que é que acontece se começarmos com uma constante solar 40% abaixo do valor
actual e continuarmos a aumentá-lo?
Isso é o que é mostrado pela curva azul. E algo muito interessante acontece quando se
começa com uma Terra coberta de gelo ou congelada, a constante solar 40% menor do
que hoje, é claro, aquece à medida que aumentamos o multiplicador solar mas, ainda
está coberta de gelo, e na verdade, permanece coberta de gelo e a temperatura
permanece muito baixa, a temperatura média da Terra permanece bem abaixo de zero,
até chegarmos a uma constante solar 30% maior do que hoje.
Nesse ponto, de repente começamos a derreter o gelo rapidamente e, assim a
temperatura da terra aumenta muito rapidamente, pelo que agora temos a terra sem
gelo e, estamos de volta onde começamos, se aumentarmos o multiplicador solar para
1,4, estamos exatamente onde começamos.
Ok, então o que é que aconteceu aqui?
Descobrimos que este sistema tem uma propriedade muito interessante e não intuitiva
que, para um determinado valor dos parâmetros de controle, por exemplo, para uma
constante solar de 1370 watts por metro quadrado, a temperatura da Terra pode
potencialmente ter dois valores muito diferentes.
Ela não tem um valor único, pode ter um valor semelhante ao que vemos hoje ou uma
temperatura de 30 graus abaixo de zero Celsius para a constante solar actual. E o que
determina qual dessas duas temperaturas, provavelmente, é a história anterior, as
propriedades do sistema dependem da história anterior.
Se tivéssemos começado com uma terra congelada e aumentássemos a constante solar
para o seu valor actual, ainda teríamos uma terra congelada, e isso ocorre porque o gelo
acumula-se e aumenta o albedo que reflecte a maior parte da radiação solar e, é
bastante difícil livrar-se desse gelo, somente quando se aumenta a constante solar para
um valor muito alto se é capaz de derreter o gelo, baixando de repente o albedo da
Terra, para um albedo de um planeta essencialmente congelado e então a temperatura
da terra pode aquecer um pouco.
Por outro lado, se você começar com uma terra muito quente e, diminuir lentamente a
constante solar, não formará gelo até que a temperatura média da Terra fique bem
abaixo de zero graus Celsius e, as várias latitudes agora parem, começam a cair abaixo
dessa temperatura limite crítica de menos dez graus Celsius, que é a temperatura que
especificamos e que representa quando uma zona de latitude fica coberta de gelo e,
nesse ponto, é claro, o albedo aumenta dramaticamente e a temperatura da superfície
da Terra arrefece rapidamente.
Portanto, a temperatura da Terra depende, não apenas do valor dos parâmetros de
controle, neste caso, da constante solar, mas da história anterior do sistema.
Essa é uma propriedade conhecida como histerese, ou seja, quando as propriedades de
um sistema dependem de seu histórico anterior e, não apenas dos parâmetros dos
parâmetros que lhe deram origem.
É uma propriedade intrinsecamente não linear, é uma propriedade de sistemas
complexos que exibem comportamentos não lineares e, em particular, neste caso, de
um comportamento biestável, que para um determinado valor do parâmetro há dois
pontos estáveis, em termos de temperatura da superfície da Terra. E, em algumas
circunstâncias, em sistemas como esse, é possível sofrer transições rapidamente entre
esses dois estados estáveis.
Esta é uma teoria para explicar as mudanças dramáticas na circulação meridional de
viragem do Oceano Atlântico que ocorreu no passado, e das quais conversamos um
pouco sobre isso antes, falaremos um pouco mais sobre isso no futuro.
Este é um exemplo de um sistema não linear e, neste caso, um sistema biestável. E, em
geral, à medida que os nossos modelos se tornam mais complexos, nesse caso,
generalizamos o modelo de zero dimensões para uma dimensão, permitimos a
possibilidade de um albedo dependente da temperatura.
Assim que começarmos a tornar os nossos modelos mais complexos, mais detalhados,
mais sofisticados, apresentamos a possibilidade de um comportamento muito
incomum, potencialmente incomum do sistema.
É um tipo de comportamento não linear. E isso, é algo sobre o qual falaremos um pouco
mais adiante neste curso. É relevante para a questão dos limiares e a possibilidade de,
à medida que continuamos a aquecer o clima da Terra, passaremos certos limiares
críticos nos quais, o sistema climático passará por rápidas transições do estado atual
para um novo estado.
Finalmente, vale a pena notar que esse modelo original construído por um cientista
russo chamado Budyko décadas atrás, em meados do século XX, representava um
verdadeiro enigma para os cientistas climáticos, porque sugeria que uma vez que a Terra
entra num estado coberto de gelo ou congelado, o que aconteceu no passado, é muito
difícil sair desse estado, mesmo com os valores actuais da constante solar, a Terra não
poderá sair desse estado congelado.
A solução encontrada para esse problema tem a ver com os feedbacks do ciclo do
carbono e, com o que acontece com o ciclo climático do carbono, quando isso acontece.
Falaremos mais sobre isso mais adiante neste curso.
Modelando o Sistema Climático: Avançado

8.7 Modelos gerais de circulação


Utilizar o EdGCM para investigar o modelo geral de circulação, um modelo que leva em
consideração mais factores climáticos do que os modelos de balanço energético discutidos nos
capítulos anteriores.

Finalmente, chegamos ao mais complexo dos modelos climáticos, os chamados modelos


de circulação geral, ou GCMs (General Circulation Model).
Os GCMs tentam descrever a geometria tridimensional completa da atmosfera e os
outros componentes do sistema climático da Terra.
Os GCMs atmosféricos resolvem numericamente as equações da física, da dinâmica, da
termodinâmica, da transferência radiativa etc., e da química, aplicada à atmosfera e aos
seus componentes constituintes, incluindo os gases de efeito estufa.
Nos GCMs mais primitivos, nos modelos da geração anterior, o papel do oceano era
tratado de uma maneira muito básica, por exemplo, como um simples pedaço de água,
onde apenas o papel termodinâmico do oceano era considerado.
Os modelos climáticos da geração actual, geralmente, incluem um oceano que
desempenha um papel muito mais activo no sistema climático.
Os principais sistemas actuais são modelados, assim como o seu papel directo no
transporte de calor em direção ao pólo.
Quando a dinâmica do oceano e as suas interações com a atmosfera são explicitamente
explicadas por um modelo climático, os modelos referem-se como GCM ou AOGCM
atmosfera-oceano, ou às vezes simplesmente um modelo acoplado.
Actualmente, a maioria dos centros de modelagem climática de ponta executa AOGCMs.
Além disso, muitos modelos climáticos de ponta actualmente, incluem uma descrição
detalhada do ciclo hidrológico, que combina reservatórios atmosféricos terrestres e
oceânicos de água e os fluxos entre esses reservatórios, bem como o papel da biosfera
terrestre, as camadas de gelo continentais e até o ciclo do carbono dos oceanos e suas
interações com o oceano e a atmosfera.
Ao contrário de modelos climáticos mais simples, como o EBMs, GCMs e AOGCMS, estes
podem ser usados para estudar uma variedade de atributos climáticos além da
temperatura da superfície, como perfis de temperatura atmosférica, perfis verticais,
circulação atmosférica de chuva, circulação oceânica, padrões de vento, distribuição de
neve e gelo e muitas outras variáveis que fazem parte do sistema climático global.
Então, vejamos um modelo climático específico, o EdGCM, que faz parte do projeto
EdGCM, financiado pela National Science Foundation dos EUA e liderado por cientistas
associados ao Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA ou GISS.
Vamos usar o GCM, originalmente usado em várias experiências famosas que,
examinaremos mais adiante na lição, pelo cientista climático James Hansen, diretor do
Instituto de Estudos Espaciais Goddard da NASA décadas atrás, como veremos, usando
um modelo que é bastante bruto para os padrões de hoje.
No entanto, Hansen fez uma previsão muito bem-sucedida, do aquecimento que seria
de esperar se continuássemos a queimar combustíveis fósseis, como infelizmente
fizemos ou temos vindo a fazer.
Esse modelo foi desenvolvido na década de 1980 e, é primitivo novamente, para os
padrões modernos, mas inclui grande parte da física importante existente nos actuais
modelos climáticos de última geração e, é muito menos intensivo computacionalmente.
Os cientistas da EdGCM transportaram o modelo para um formato que pode ser
executado num simples desktop ou laptop. Vamos examinar agora, essas experiências
famosas de James Hansen mais de perto, fazendo as mesmas experiências com o mesmo
modelo, EdGCM, na demonstração a seguir.

Ver mais detalhes no filme do site: https://www.youtube.com/watch?v=vIaDq-46sdo


Então vamos executar um GCM, um GCM muito famoso, de facto, este é o GCM que foi
construído em meados da década de 1980, que foi usado para uma série de
experimentos de modelagem climática muito famosos por James Hansen e pelo seu
grupo, no Instituto de Estudos Espaciais Goddard da NASA, sobre o qual falaremos um
pouco mais adiante nesta lição.
Portanto, esse modelo foi realmente adoptado e colocado num formato que pode ser
executado num PC, ou num Mac, é claro, pelos padrões modernos. Os requisitos
computacionais dos modelos climáticos na década de 80 são muito menores do que os
actuais modelos de última geração. Mas como eles têm algumas décadas, podem, de
facto, ser agora executados com bastante eficiência em laptops ou simples PCs, que é o
que vamos fazer.
Então vamos em frente. Vamos então ao software fazer esta experiência, duplicando o
CO2. Basicamente, parte da concentração de CO2 de 1958 e duplica instantaneamente
essa concentração de CO2, e então podemos ver como o modelo climático responde a
esse aumento repentino de CO2 (ensaiar aqui:
https://www.e-education.psu.edu/meteo469/sites/www.e-
education.psu.edu.meteo469/files/lesson03/0d_EBM.html).
Devido à presença de um oceano, um oceano grande que possui uma grande capacidade
térmica neste modelo, leva bastante tempo para o modelo climático se equilibrar com
o aumento nas concentrações de CO2. De facto, de várias décadas a quase um século.
Portanto, isso ressalta o facto de que, quando analisamos as mudanças climáticas
transitórias, quando vemos essas observações ou resultados de um modelo climático,
estamos a ver um sistema que não está em equilíbrio e que pode levar bastante tempo
para se equilibrar com qualquer mudança imposta.
Então, em última análise, sabemos que esse modelo aquecerá a quantidade que é
consistente com a sensibilidade do modelo em resposta à duplicação de CO2, mas não
alcançará esse aquecimento de equilíbrio por várias décadas a quase um século. E então,
o que vamos fazer agora é continuar a execução desse modelo que iniciamos
anteriormente.
Então estamos a executar esta experiência, que começou em 1957, duplicamos
instantaneamente a concentração de CO2 e depois vamos deixar o modelo equilibrar-se
com a duplicação instantânea de CO2 e, quando ele entra em equilíbrio, este deverá
aquecer numa quantidade que é consistente com a sensibilidade desse modelo em
particular.
Novamente, este é o modelo climático do Instituto Goddard da NASA para estudos
espaciais, da década de 1980, que foi usado numa série de experiências famosas do
cientista climático James Hansen.
Então, nós estamos a executar o modelo, na verdade, estamos a executar isso há vários
dias, e como se pode ver, agora estamos em setembro de 2012.
Começamos em dezembro de 1957, os modelos agora atingem setembro 2012, e como
se pode ver, recebo cerca de um dia de simulação por segundo; portanto, leva a maior
parte do dia a executar esse modelo climático para simular qualquer coisa que se
aproxime de um período de um século.
Mas isto é bastante rápido, por comparação, digamos, com o que acontecia na década
de 1980, quando levaria muito tempo para executar uma simulação como esta num
computador de ponta, agora podemos até executá-lo num desktop.
Então, estamos a deixar os dias passarem, dia após dia, o modelo está a resolver todas
as equações de movimento, está a resolver as equações que governam a atmosfera no
oceano, calculando o fluxo radiativo – que é a radiação solar recebida, está a computar
a distribuição da radiação infravermelha dentro do sistema da Terra, a difusão do calor
num oceano de camada mista, está a resolver todo o conjunto de equações
tridimensionais que descrevem o oceano, a atmosfera e o sistema de criosfera.
O oceano neste modelo é bastante simples para os padrões modernos. Hoje, os modelos
climáticos deste tipo simulam os movimentos complexos das correntes oceânicas. Este
modelo em particular trata o oceano simplesmente como uma laje de água com uma
quantidade adequada de inércia térmica.
Pode absorver calor, pode libertar calor para a atmosfera, pode responder a
desequilíbrios radiativos. Existe uma parametrização do transporte de calor, de modo
que, o oceano transporta uma certa quantidade de calor em direcção ao polo como
sabemos, mas esse transporte de calor é fixo, não é variável como nos modelos
climáticos mais modernos, que permitem mudanças na intensidade das correntes
oceânicas.
Portanto, o oceano é bastante primitivo para os padrões modernos e muitos dos
componentes desse modelo são, de facto, primitivos para os padrões dos modelos de
ponta actualmente, mas, como veremos, esse modelo é suficientemente sofisticado,
para ter algumas previsões surpreendentemente precisas.
Então estamos a chegar ao final de 2012 e o que é que vamos fazer, é deixar esse modelo
terminar até o final de 2012, para que tenhamos mais um ano completo de dados e,
então, começaremos a olhar para a saída desta simulação do modelo climático. Ok,
então vamos examinar os resultados da simulação e, a propósito, há várias experiências
que podem ser realizadas usando um GCM.
Uma delas é a experiência de duplicação de CO2 sobre a qual acabamos de falar. E como
se pode ver existem várias configurações, pode-se dizer ao modelo qual a componente,
qual o modelo de oceânico usar, se um modelo de camada mista com uma
parametrização dos fluxos de calor ou um modelo mais simples, se quiser optar por fazê-
lo. Podemos alterar parâmetros, como a vegetação e a topografia que são também
parametrizáveis.
Portanto, existem muitas configurações diferentes no modelo que podem ser alteradas
e, existem várias experiências pré-classificadas que podem ser executadas no menu
principal do EdGCM. Mas se quiser, pode criar o seu próprio experimento.
Você pode definir todas essas configurações para usar a versão específica do modelo
que deseja usar. Você pode especificar exactamente como alterar as forçantes, sejam
forçantes naturais como CO2 ou outra força antropogénica, forçando metano e os CFCs.
Você pode alterar as forçantes naturais, como a produção solar, ou mesmo as mudanças
na geometria orbital da terra que sabemos serem importantes em escalas de tempo
muito longas.
Portanto, há uma variedade de experimentos que você pode realizar e vários tipos de
experimentos pré-determinados que são indicados aqui. Você pode simular a última era
glacial. Você pode simular a terra bola de neve.
Aludimos ao facto de que, no passado, houveram períodos na evolução da Terra em que
acreditamos que a Terra estava totalmente congelada, e você pode fazer esse
experimento com o EdGCM. Mas vamos continuar a analisar este experimento de
duplicação de CO2 que estávamos a realizar e examinemos a saída agora. Como pode
ver aqui, nós faremos isso muito facilmente e num momento.
Como se pode ver, agora temos os anos de 1958 a 2012 concluídos, por isso temos mais
de 50 anos da produção desse experimento de duplicação de CO2 e, no ano mais recente
de 2012, você viu-me completando um pouco mais cedo.
Então, extrairemos a série temporal de várias variáveis que você pode ver que
selecionei: precipitação, temperatura do ar da superfície, cobertura de gelo oceânico,
conteúdo de água da cobertura de neve da atmosfera, temperatura da superfície do mar
e albedo do solo, ou se desejar poderíamos selecionar o albedo planetário, que incluiria
o solo e, por exemplo, albedo em nuvem.
Então, eu selecionei essas variáveis e agora o que vou fazer é gerar séries temporais,
médias anuais para cada uma dessas variáveis, para cada um dos anos da simulação.
Assim, poderei traçar séries temporais das várias quantidades e você pode ver
calculando as médias anuais.
O software está a passar por cada mês, de cada ano e calculando uma média anual.
Então, vamos deixar este processo terminar e, em seguida, examinaremos a saída.
Ok, calculamos todos esses valores, os valores anuais dessas várias quantidades que
seleccionamos aqui. Agora vamos extraí-los, uma vez que eles agora estão disponíveis
para plotagem. Você pode ver que o período é de 1958 a 2012 e as quantidades que
temos são o vapor de água atmosférico.
Temos a temperatura da superfície do oceano, a cobertura de gelo oceânico. Temos o
albedo planetário, a temperatura do ar na superfície, a temperatura da superfície do
mar, e podemos começar a plotá-los e ver como eles são.
Vamos começar com a temperatura do ar na superfície. Portanto, essa é a temperatura
média global do ar na superfície do modelo e deve estar a ser plotada em breve. Para
expandir um pouco esta janela, podemos mudar a escala aqui.
Então, vamos de 9, 8,5 a 23 numa escala vertical apenas para obter uma escala vertical
mais fina. Portanto, a curva vermelha mostra como se altera a média, como as
temperaturas globais da terra estão a mudar ao longo do tempo no modelo.
A curva azul mostra-nos como as temperaturas do oceano aberto estão a mudar o
modelo, o oceano aberto vai ser mais quente, como pode ver em vários graus e depois,
é a parte da superfície do oceano que não está congelada e o oceano, em geral, que
aquece mais que a terra.
E é mais quente que a terra, em média, porque não atinge as latitudes mais altas, em
particular no hemisfério sul, de modo que as temperaturas do oceano serão mais
quentes que as da terra. O oceano aberto, a curva azul, é mais quente que todo o
oceano, que inclui as regiões cobertas de gelo do oceano, que é a curva verde.
A preto temos a temperatura média global, que é a média de todas as regiões, sejam
elas em mar aberto, no oceano coberto de gelo ou na terra, que é o que a curva negra
representa. Vamos ampliar essa curva.
E assim, podemos ver que começamos em 1958 com uma temperatura média global de
13,8 graus Celsius, aproximadamente a temperatura média global antes do aumento de
CO2 ocorrido desde então.
E aquecemos até 2010 ou 2012 a uma temperatura próxima de 17,8 graus, então
passamos de 13,8 para 17,8, aquecemos cerca de quatro graus Celsius em resposta à
duplicação instantânea de CO2 que levou em 1958. Para que possa ver quanto tempo
leva a temperatura global a equilibrar-se com esse aumento de CO2, que são muitas
décadas.
Embora possamos ver que nos estamos a aproximar assintoticamente de um novo valor
de equilíbrio, se prolongarmos essas décadas no futuro, como se vê, provavelmente
veríamos um aquecimento líquido de 4,5 graus Celsius em relação à temperatura inicial,
ou 13,8 graus Celsius e, isso é consistente com o facto de esse modelo em particular, o
modelo climático GISS do modelo climático do Instituto Goddard da NASA para a década
de 1980, possuir uma sensibilidade climática relativamente alta de cerca de 4,5 graus
Celsius de sensibilidade climática de equilíbrio para duplicação de CO2, e isso é
consistente com o resultado transitório que estamos a ver aqui, enquanto a
temperatura se está a aproximar de sua resposta de equilíbrio à duplicação instantânea
de CO2.
Mas podemos observar muitas outras quantidades neste modelo, além das
temperaturas da superfície. E, é isso que faremos a seguir.
Ok, então analisemos a temperatura da superfície, vamos ver algumas outras
quantidades aqui, todas elas são médias globais.
Veremos a cobertura média global de neve ao longo do tempo e podemos ver que é
expressa como uma percentagem. A percentagem da área de superfície coberta por
neve. E é assim que parece. Se olharmos para a média global que é a curva negra,
podemos ampliar isso, passamos de 5 para 12.
A cobertura global de neve está diminuindo em percentagem, de cerca de 11% na média
anual para pouco mais de 7 por cento, como poderíamos esperar. À medida que a terra
está a aquecer, a cobertura de neve está a diminuir. De facto, essa é uma das
observações complementares que vimos no início do curso, que além do aquecimento
da Terra, vemos que a cobertura global de neve está a diminuir.
É assim que os modelos são projectados para as temperaturas da superfície quentes.
Podemos olhar para a cobertura de gelo do oceano e, novamente, focaremos na média
global.
Então, vamos tentar focarmo-nos nessa curva negra, passaremos de um mínimo de 1 a
um máximo de 5, e essa curva preta é uma cobertura média global de gelo e que está a
diminuir significativamente à medida que a Terra está a aquecer novamente, como
poderíamos esperar.
E, como vimos nas observações, a cobertura global de gelo está a diminuir ao longo do
tempo, de forma bastante dramática. A cobertura de neve do hemisfério norte, onde
temos registos generalizados, está a diminuir significativamente à medida que o modelo
a projecta. E, claro, as temperaturas da superfície estão a aquecer.
Portanto, podemos analisar várias variáveis além da temperatura da superfície neste
modelo e ter uma noção do que mais está a acontecer, o que mais está a acontecer
neste modelo, o que é que este modelo projecta é que, poderíamos olhar para as
observações e ver se as coisas que os modelos projectam estão a acontecer à medida
que aumentamos as concentrações de CO2.
E por que não olhamos para a precipitação média global?
E a precipitação média global está a aumentar, é mais húmida sobre os oceanos do que
sobre terra, e a média global, a média das regiões terrestres e oceânicas é a curva negra.
Se ampliarmos essa curva, isso dá-nos uma ideia de como a precipitação está a mudar,
neste caso, a precipitação é expressa em milímetros por dia, e na média global passamos
de pouco mais de 3 milímetros de precipitação por dia em 1958 para algo próximo cerca
de três milímetros e meio de precipitação por dia em 2012. Portanto, na média global,
a precipitação está a aumentar.
Essa também é uma das projecções robustas dos modelos climáticos, à medida que
aumentamos a temperatura da superfície dos oceanos mais quentes da Terra,
evaporamos mais vapor de água para a atmosfera, a taxa de evaporação aumenta e,
para conservar a água, significa que a taxa de precipitação tem também que aumentar.
Por outras palavras, obtemos um ciclo hidrológico mais vigoroso, evaporação mais
rápida e precipitação mais rápida de água da atmosfera. E assim os modelos projectam
que a precipitação global deve aumentar, mas o que vimos anteriormente nas
observações foi que, de facto, a precipitação é uma variável em que existem grandes
diferenças regionais.
Certas regiões ficam mais húmidas, mas outras ficam mais secas. E, portanto, este é um
caso em que, olhar para a média global olhando para uma única série temporal será um
pouco enganador. Nós precisamos realmente de ir para os padrões espaciais reais de
resposta nos modelos para ver se conseguimos entender o que o modelo está
projectando e, é isso que faremos a seguir.
Ok, agora passamos à opção de mapas. Anteriormente, vimos séries temporais, que nos
dão um único número médio de algumas regiões do globo, geralmente o globo inteiro,
os oceanos ou as regiões terrestres.
Mas também podemos observar a estrutura latitudinal e longitudinal detalhada dessas
tendências em várias variáveis produzidas a partir do modelo. A maneira mais fácil de
fazer isso é escolher, digamos, um período de 5 anos no início da simulação e um período
de 5 anos no final da simulação, para que calculemos a média de algumas das flutuações
das taxas ano a ano e termos uma linha de base inicial que podemos comparar com
algumas médias posteriores no modelo.
Já calculamos as médias para várias variáveis como, precipitação de cobertura de neve,
humidade do solo, temperatura do ar da superfície, temperatura da camada mista do
oceano.
Calculamos tudo isso durante um período base de 1958 a 1963, os primeiros cinco anos
da simulação do modelo, e agora o que vamos fazer é calcular os padrões espaciais
dessas variáveis nos últimos cinco anos da simulação.
Então, vamos fazer isso agora. 2008, nove, dez, onze, doze. Vamos calcular as médias
nesse período, é o que o programa está a fazer agora. Pode ver o programa a passar
pelos meses individuais de cada um desses cinco anos, e depois ele calculará as médias
de todas essas variáveis para cada uma das caixas de grade deste modelo.
E o modelo é de baixa resolução, portanto, como veremos, as caixas de grade individuais
de latitude e longitude estão na ordem de sete graus de latitude e longitude. Portanto,
é uma descrição bastante grosseira da superfície da terra.
Actualmente, os modelos climáticos de ponta são executados com muito mais altas
resoluções, mas este é um modelo climático anterior e, na época, era necessário
resolver a superfície da Terra em caixas de grade de latitude e longitude razoavelmente
grosseiras para obtermos modelos eficientes.
Então agora vamos dar uma olhadela nos padrões espaciais de algumas dessas variáveis.
E, em particular, a diferença entre os cinco anos mais recentes e os primeiros cinco anos
da simulação, dando-nos uma noção de como a simulação que o modelo está a projectar
muda ao longo do tempo e sobre a superfície da Terra.
Ok, então eu extraí os últimos cinco anos da simulação, do período de 2008 a 2012, a
média desse período de cinco anos, e agora vou lê-lo no navegador de dados ou então
ficará disponível para plotagem. Então, como linha de base, levaremos os primeiros
cinco anos, a média dos primeiros cinco da simulação, para ler isso no navegador de
dados.
E como pode ver que agora temos cada uma dessas cinco variáveis: temperatura da
camada mista do oceano, precipitação, cobertura de neve, humidade do solo e
temperatura do ar da superfície, todas as médias anuais para cada um desses dois
períodos de cinco anos. O que vou fazer a seguir é fazer a diferença.
Deixem-me selecionar a temperatura do ar à superfície, vamos calcular a diferença entre
os últimos cinco anos e os primeiros cinco anos da simulação e isso dar-nos-á o padrão
espacial da tendência e da temperatura no mundo.
Então, eu quero os dados um, menos os dados dois, e vamos então plotar isso. Vamos
mudar a escala de cores para que ela se torne mais significativa.
Tudo bem, para que as cores quentes indiquem o aquecimento, as cores frias indicariam
então o arrefecimento, é claro que o mundo inteiro está a aquecer nesta simulação,
aquecendo mais nas altas latitudes, principalmente no hemisfério norte, enquanto
sabemos que o gelo do mar está diminuindo acentuadamente e, portanto, o feedback
de albedo do gelo está a chegar, dando-nos esse aquecimento adicional nas altas
latitudes no hemisfério norte.
E há também uma estrutura interessante no hemisfério sul, talvez um pouco mais
quente nas regiões terrestres do que na maioria das regiões oceânicas, embora as
variações sejam bastante pequenas. Esse é o padrão de temperatura do ar na superfície
projectada.
Obviamente, como se disse antes, este é um modelo climático bastante primitivo para
os padrões modernos e, muitas das variações mais interessantes na circulação oceânica
e na circulação atmosférica, dão-nos padrões mais complicados de mudanças de
temperatura da superfície, nas projecções do “estado actual da arte” os modelos
climáticos de última geração não são realmente resolvidos com este modelo
relativamente primitivo.
Mas é assim que parece ser um padrão de aquecimento da superfície, e agora podemos
observar os padrões de algumas das outras variáveis.
Ok, então agora seleccionamos a precipitação e, vamos observar a mudança na
superfície do globo, a temperatura média anual da temperatura da precipitação diferiu
nos primeiros cinco anos menos, nos últimos cinco anos da simulação.
Ok dados um, menos dados dois e, é isto que obtemos.
Novamente, vamos usar uma escala mais sensata; portanto, passaremos de menos 3,09
para mais 3,09. Portanto, podemos ver que a precipitação geral está a aumentar em
todo o mundo, como já vimos quando plotamos a precipitação média global, mas
existem algumas fortes variações regionais.
Há uma concentração de precipitação aumentada numa faixa próxima ao equador, os
maiores aumentos de precipitação são próximos ao equador, onde temos a Zona de
Convergência intertropical, movimento crescente na atmosfera e, como a superfície é
mais quente e teremos mais vapor de água na atmosfera, temos mais chuvas, na região
onde as chuvas tendem a ocorrer, que é essa zona de convergência intertropical.
Mas, ao irmos para os subtrópicos, podemos ver grandes manchas brancas, e o que isso
indica é que, de facto, no ramo descendente da circulação Hadley, onde tendemos a ver
desertos, essa região está realmente a expandir-se um pouco em direção ao pólo, e
então essa região seca está agora, a expandir-se em direção aos pólos, e é por isso que
vemos essas grandes áreas com pelo menos pequenas reduções nas chuvas nas regiões
subtropicais, contrastando com os grandes aumentos que vemos mais perto do
equador.
E então, quando vamos para latitudes mais altas novamente, podemos começar a ver
que há uma maior tendência, novamente, para o aumento da precipitação nas latitudes
subpolares, e isso está associado a uma migração em direção à faixa de latitude média
da precipitação frontal nos dois hemisférios.
Portanto, quando analisamos o padrão das chuvas, há um padrão muito mais rico de
variação regional que nos diz que, de facto, se queremos entender as mudanças
projectadas nas chuvas, é importante não olhar apenas para as médias globais ou
médias hemisféricas, mas observar os padrões subjacente de mudanças, que é bastante
mais complexo mesmo neste caso.
Obviamente, este é um modelo relativamente simples. Actualmente, nos modelos de
ponta, os padrões de mudança projectada em variáveis como a chuva, são ainda mais
complexos, ainda há mais variáveis regionalmente, porque esses modelos são capazes
de resolver importantes mudanças no oceano e na circulação da atmosfera que afecta
a precipitação regional.
Por exemplo, mudanças no fenómeno da oscilação sul do El Niño, que tem um grande
impacto nos padrões regionais de precipitação. Mas mesmo nesse modelo bastante
básico e bastante primitivo da década de 1980, podemos ver nesse padrão de variação
latitudinal como as chuvas mudam. Mesmo em média, há um aumento nas chuvas
globais, que as mudanças nas chuvas são fortemente variáveis regionalmente e há
algumas regiões nos subtrópicos em que este modelo projecta uma diminuição modesta
nas chuvas.
Então, deixaremos a nossa discussão sobre o EdGCM para trás. Este é, mais uma vez, um
modelo climático relativamente primitivo e sob os padrões modernos, e ainda assim
podemos ver algumas das mudanças que sabemos que são projectadas por modelos
climáticos mais avançados em relação às mudanças de temperatura, mudanças nas
chuvas e mudanças no gelo do mar.
Assim, conforme prosseguimos nas nossas próximas lições e, começarmos a examinar
projecções de modelos climáticos de última geração, veremos que muitas dessas
previsões, com os modelos mais antigos, são sustentadas por modelos mais realistas
que estão disponíveis hoje.
Modelando o Sistema Climático: Avançado

8.8 Validação dos modelos climáticos


Explicando as diferentes formas de validação dos modelos climáticos, com foco no modelo inicial
de GCM de James Hansen.

Agora vamos falar sobre como validamos esses modelos climáticos. Como
demonstramos que eles são confiáveis.
Bem, talvez não exista uma demonstração melhor do que a fornecida por James Hansen.
Ele é um conhecido cientista climático que dirigiu no passado recente o Instituto
Goddard de Estudos Espaciais da NASA.
Hansen foi o primeiro cientista climático a testemunhar no Congresso dos EUA que, as
mudanças climáticas tinham realmente chegado, e isso aconteceu no verão quente de
1988, época em que ainda havia alguma disputa na comunidade científica sobre se a
mudança climática causada pelo homem estava ou não a acontecer de facto.
Hoje, face às muitas evidências acumuladas, o pronunciamento precoce de Hansen no
final dos anos 80 parece especialmente presciente.
Anos antes da comunidade científica concordar que havia uma influência humana
discernível no clima, Hansen já tinha afirmado que havia.
Durante seu famoso testemunho do congresso de 1988, Hansen mostrou os resultados
das simulações que ele tinha realizado usando o NASA GISS GCM, o mesmo modelo
climático explorado nas experiências EdGCM da secção anterior.

Essas simulações incluíam não apenas simulações históricas de mudanças climáticas


passadas, mas três projecções possíveis de aquecimento futuro que dependiam de
diferentes cenários possíveis de utilização de combustíveis fósseis. Por outras palavras,
dependia das escolhas que fizéssemos. Hansen não conseguiu prever quais as escolhas
faríamos, mas foi capaz de apontar para três diferentes cenários possíveis que
poderíamos seguir e o que aconteceria com o modelo previsto em cada um desses
cenários.
As simulações de Hansen de 1988 a esse respeito podem ser vistas como um dos grandes
experimentos de validação na história da modelação climática. Nessas experiências,
Hansen incluiu um cenário futuro de emissões altas, médias e baixas de combustíveis
fósseis, correspondendo às curvas verde-azul e roxa, respectivamente, na figura
anterior.
Como se vê, o cenário real de emissões de combustíveis fósseis que seguimos nas duas
décadas seguintes às projeções de Hansen em 1988, correspondeu mais de perto ao seu
cenário intermediário, a curva azul.
E como se pode ver nas observações subsequentes, a curva vermelha, a previsão para
esse cenário aproximava-se bastante do aquecimento observado. Agora você deve ter
notado, no entanto, se for um crítico, que esse modelo de simulação não capturou o
arrefecimento de vários anos observado em 1992, isso é uma falha da simulação?
Bem, na verdade não. Não havia forma de James Hansen ou qualquer outra pessoa ter
previsto em 1988 a erupção do Monte Pinatubo em 1991. E, em vez de provar uma falha
no modelo, a erupção de Pinatubo realmente proporcionou a Hansen outra
oportunidade importante para validar modelos climáticos. Demorou cerca de seis meses
para que a nuvem vulcânica de aerossol se espalhasse pelo mundo e começasse a ter
uma influência refrescante na Terra. Isso deu a Hansen meio ano para executar o seu
modelo e fazer uma previsão no instante em que Pinatubo ocorreu.
Como se pode ver, ele foi capaz de prever com bastante precisão o arrefecimento de
curto prazo do globo, em pouco menos de 1 grau Celsius, o que resultaria da erupção.
O seu modelo de simulação, é a curva preta em baixo, no gráfico anterior, que na
verdade previa um pouco de arrefecimento.
As observações são mostradas pela curva azul. Mas isso também não foi culpa dele. Os
eventos do El Niño, ocorrem aleatoriamente no tempo e, não havia de como saber que
um evento prolongado como o El Niño ocorreria entre 1991 e 1993, compensasse parte
do arrefecimento vulcânico.
Esses exemplos podem ser os exemplos mais impressionantes de como os modelos
foram validados, mas foram validados de várias maneiras.
De facto, os vários relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas,
incluem centenas de páginas de exercícios de validação de modelos, e mostram que os
modelos fazem um bom trabalho capturando os principais fluxos de balanços
energéticos e radiativos, a circulação geral da atmosfera, os principais sistemas de
corrente oceânica, amplitude e o padrão da resposta sazonal às mudanças nos padrões
de isolamento solar etc.
Em suma, os modelos fazem um excelente trabalho na reprodução de mudanças
passadas, nos padrões climáticos observados hoje, e devemos levá-los a sério quando
se trata de projetar potenciais mudanças climáticas futuras.
Modelando o Sistema Climático: Avançado

8.9 Detectando as mudanças climáticas


Examinar a impressão digital exibida pelos modelos climáticos para mostrar que não há
explicações naturais para a atual taxa de aquecimento atual.

Portanto, já vimos que os modelos climáticos foram usados para fazer previsões muito
bem-sucedidas no passado, e há uma razão para levar suas projecções do futuro muito
a sério.
Podemos usar esses modelos para dar um passo além disso?
Vimos nas lições anteriores que a mudança climática moderna parece anómala e sem
precedentes óbvios no passado histórico. Isso por si só não estabelece que as mudanças
que estamos a ver, o aquecimento da superfície da Terra e muitas outras mudanças,
sejam devidas a impactos humanos.
Usando modelos climáticos, podemos, no entanto, abordar a questão da causalidade.
Podemos usar os modelos para investigar a hipótese (1) de que as alterações observadas
possam ser explicadas apenas por factores naturais, versus a hipótese (2) alternativa de
que elas só podem ser explicadas por uma combinação de factores humanos e naturais.

As investigações que empregam numerosos modelos climáticos de última geração,


como podemos ver, mostram que os factores naturais, por si só, não podem explicar o
registo global de temperatura do século passado, incluindo a tendência de aquecimento
a longo prazo.
Enquanto factores humanos, combinados com esses factores naturais podem. Alguns
podem argumentar que isso, por si só, não é uma evidência convincente.
Talvez, por exemplo, tenhamos simplesmente errado a tendência da produção solar, e
a verdadeira tendência na produção solar se assemelhe muito à tendência dos impactos
humanos, do efeito de estufas forçado e do efeito poluente antropogénico dos
aerossóis.
Nesse caso, podemos estar a interpretar mal a qualidade do ajuste que vimos entre as
simulações e as observações.

Vamos, por uma questão de argumento, aceitar essa crítica.


Existe algum outro tipo de comparação entre observações e previsões de modelos que
possam ser mais robustos nessa situação?
Bem, podemos tentar tirar proveito do facto de os padrões de resposta a diferentes
forçantes, naturais e humanas, poderem parecer diferentes.
Acontece que as expressões superficiais dessas diferentes forçantes não são tão
diferentes. A expressão do aquecimento da superfície devido a um aumento na
produção solar, por exemplo, parece uma quantidade razoável como o padrão de
aquecimento da superfície resultante de um aumento nas concentrações de gases de
efeito estufa.
O padrão vertical de mudança de temperatura, no entanto, como já mencionamos, deve
ser bem diferente. Eles fornecem uma verdadeira impressão digital para procurar.
E, de facto, o processo de usar os padrões esperados de resposta de diferentes forçantes
para determinar quais as forçantes que melhor explicam as tendências observadas é
conhecido como detecção de impressão digital.

O padrão vertical de resposta ao aumento das concentrações de gases de efeito estufa


é aquele em que a troposfera, a parte inferior da atmosfera, os primeiros 10 a 14
quilómetros, como se lembrará, aquece.
Mas a estratosfera, a camada acima dela, arrefece à custa do aquecimento da
troposfera.
Equilibrar o efeito de estufa é um jogo de soma zero, e não há aumento de radiação no
topo da atmosfera, mas apenas uma redistribuição de energia e radiação dentro da
atmosfera.
O padrão vertical de mudança de temperatura que esperávamos para um aumento na
produção solar, no entanto, é aquele em que toda a atmosfera aquece de cima para
baixo, pois há um aumento na radiação recebida no topo da atmosfera, que aquece a
toda a coluna atmosférica.
O padrão da resposta da temperatura a uma erupção vulcânica explosiva ainda é
diferente desses dois padrões.

Ao comparar os padrões observados de mudança vertical de temperatura às simulações


de modelo das respostas a cada um desses três diferentes factores, descobrimos que
apenas o aquecimento de estufa exibe o padrão vertical consistente com a impressão
digital prevista pelos modelos.
De facto, também há um impacto da destruição do ozono no arrefecimento da
estratosfera. Porém, após a correção desse efeito, a tendência remanescente pode ser
vista com clareza, e só pode ser explicada pelo efeito de estufa forçado.
Modelando o Sistema Climático: Avançado

8.1 Interpretar a sensibilidade climática


Explicar a variabilidade das previsões de modelos climáticos e a forma como os cientistas usam as
comparações de modelos de mudanças climáticas para fazer previsões mais precisas.

Uma das principais incógnitas no comportamento do sistema climático, como vimos, é


a chamada sensibilidade.
Quanto aquecimento podemos esperar em resposta a uma duplicação, por exemplo,
das concentrações atmosféricas de CO2?
As evidências actuais sugerem um valor mais provável em torno de 3 graus Celsius de
aquecimento, 3 graus Celsius de aquecimento se dobrarmos as concentrações de CO2
do nível pré-industrial de 280 partes por milhão para 560 partes por milhão.
Mas existe, como vimos, uma ampla faixa, de aproximadamente 1,5 a 4,5 graus Celsius.
Os cientistas tentam restringir as estimativas dessa quantidade-chave, a sensibilidade
de equilíbrio do clima, comparando simulações de modelo com observações.
Por exemplo, os cientistas usam modelos semelhantes aos modelos de balanço de
energia de dimensão zero, que discutimos anteriormente, conduzindo-os com as
mudanças estimadas de factores naturais, mudanças nos vulcões e na produção solar e
factores humanos, aumentam as concentrações de gases de efeito estufa junto com os
poluentes de aerossóis de sulfato.
Como a sensibilidade climática é simplesmente um parâmetro que pode ser alterado no
modelo, os cientistas podem fazer muitas simulações usando valores diferentes da
sensibilidade climática e observar quais os valores que produzem o melhor ajuste com
as observações. Tais experiências podem ser realizadas no período moderno, em
meados do século XIX, durante o qual temos observações em larga escala da
temperatura global.

Durante o período mais recente do último meio século, quando foram disponibilizadas
observações da temperatura do oceano profundo, puderam ser feitas experiências para
comparar o modelo de mudanças simuladas no conteúdo de calor do oceano com as
que foram observadas. Durante o período mais longo do milênio passado, durante o
qual as mudanças de temperatura, como vimos, foram documentadas com base em
dados de proxy climático.
É possível comparar alterações simuladas e observadas por um período mais longo,
fornecendo restrições potencialmente mais apertadas e sensibilidade ao clima.
As simulações climáticas, neste caso, são conduzidas por estimativas de longo prazo de
núcleos de gelo, de forçantes vulcânicas e forças solares, bem como das forçantes
antropogénicas modernas com gases de efeito estufa e aerossóis de sulfato.
Voltando ainda mais atrás, os cientistas podem comparar simulações de modelos
climáticos do arrefecimento durante a altura da última era glaciar, o último máximo
glaciar, há cerca de 21.000 anos, resultante de menores concentrações atmosféricas de
CO2, aumento da cobertura continental de gelo e padrões alterados de insolação solar.
Eles podem comparar essas simulações com evidências de proxy do arrefecimento da
superfície do oceano, derivado de organismos que habitam a superfície sensíveis ao
clima, presos nos núcleos de sedimentos oceânicos.
Finalmente, voltando ainda mais atrás, no tempo ao profundo, ao passado geológico, os
cientistas compararam os resultados do modelo com as evidências geológicas dos
períodos passados de calor e frio.
A evidência geral de todas essas diferentes linhas de evidência, em relação às mudanças
climáticas naturais e causadas por seres humanos numa ampla escala de tempo, é que
a sensibilidade climática de equilíbrio, ECS, provavelmente cai dentro da faixa de 1,5
graus Celsius a 4,5 graus Celsius para o dobro de CO2, com o valor mais provável de
aproximadamente 3 graus Celsius de aquecimento para uma duplicação de CO2.
Dada a variedade completa de evidências disponíveis, a partir de dados de proxy
instrumentais e paleoclimáticos e, as comparações dessas evidências com estimativas
teóricas, há uma probabilidade muito baixa de uma sensibilidade climática trivialmente
pequena, digamos um grau e meio Celsius, ou uma sensibilidade climática
extremamente alta, digamos maior que 7 graus Celsius de sensibilidade climática de
equilíbrio.
Agora, implícita na definição tradicional de sensibilidade climática, está a chamada
noção de Charney de sensibilidade climática.
O conceito prevê a sensibilidade de equilíbrio do clima da Terra às forças de CO2, em
termos da resposta de equilíbrio do sistema climático a uma duplicação das
concentrações de CO2 que inclui todos os feedbacks rápidos.
Ou seja, mudanças no vapor d'água, nuvens, gelo marinho e talvez até pequenas calotes
polares e geleiras. O implícito nessa definição torna-se aparente assim que começamos
a pensar nos impactos duradouros de vários séculos das mudanças climáticas
antropogénicas.
Os feedbacks rápidos não incluem, por exemplo, a lenta retirada das camadas de gelo
continentais ou a lenta resposta das propriedades da superfície e da vegetação da Terra.
Por exemplo, as florestas boreais expandem-se lentamente em direção ao pólo à
medida que o clima aquece.
A contabilização desses feedbacks lentos leva à possibilidade de que, a resposta de
equilíbrio a longo prazo às emissões antrópicas de gases de efeito estufa, seja maior do
que as projeções do IPCC em que nos focamos até agora. Essa noção mais geral de
sensibilidade climática é normalmente referida como sensibilidade do sistema terrestre.
Há boas evidências de registos geológicos de longo prazo das mudanças climáticas, de
que esses feedbacks lentos realmente são importantes e, que o aquecimento final e as
mudanças associadas no clima podem ser substancialmente maiores do que o que está
implícito na simples definição de sensibilidade de Charney implícita nas projecções do
IPCC..

Tanto para o período do meio do plioceno, cerca de 2,8 milhões de anos atrás, quanto
para o período do meio do mioceno, cerca de 15 milhões de anos atrás, as temperaturas
médias globais parecem ter sido mais quentes do que seria esperado, mesmo na faixa
superior da sensibilidade estimada de Charney, que é aproximadamente 4,5 graus
Celsius para duplicação de CO2. Isso sugere uma sensibilidade do sistema terrestre que
pode ser substancialmente maior que a estimativa padrão de Charney da sensibilidade
climática.
Um estudo usando modelos climáticos que incorporam esses feedbacks lentos mostram
que a sensibilidade do sistema da Terra é de facto substancialmente maior que a
sensibilidade nominal de Charney, aproximadamente 50% maior.
Assim, uma estabilização dos níveis de CO2 em níveis duas vezes pré-industriais ao longo
do próximo século pode levar a um aquecimento de 3 graus Celsius nos próximos um a
dois séculos, mas com um eventual aquecimento de cerca de quatro graus e meio
Celsius, uma vez que a superfície da terra, vegetação e mantos de gelo se equilibrarão
com o novo clima. Um processo que pode levar mil anos, mas talvez substancialmente
menos.
1) Em resumo, vimos que uma generalização do modelo de balanço energético de
dimensão zero, conhecido como modelo de balanço de energia unidimensional,
pode ser usada para estudar a dependência latitudinal do balanço de energia e
das distribuições de temperatura. O EBM unidimensional pode ser usado entre
outras aplicações para tentar entender os processos que levam o clima a entrar
e sair da era glaciar.
2) Os modelos tridimensionais completos de circulação geral, GCMs e o sistema
atmosfera-oceano, versões AOGCM do GCM, podem ser usados para modelar os
padrões mais detalhados de variabilidade climática e de mudança climática, e
estudar não apenas as mudanças de temperatura, mas outros campos como
precipitação, padrões de vento, correntes oceânicas, etc. Modelos teóricos de
clima que foram validados de várias maneiras.
3) As previsões de aquecimento realizadas no final dos anos 80 foram confirmadas
e, experiências simulando a resposta a eventos naturais, como erupções
vulcânicas, demonstraram que os modelos climáticos têm a capacidade de fazer
previsões precisas da resposta do clima, tanto para os forçantes naturais e
humanos.
4) Comparações de simulações e observações de modelos, incluindo os chamados
estudos de detecção de impressões digitais, indicam que somente os factores
naturais não podem explicar as tendências observadas no século passado.
Somente uma combinação de factores naturais e humanos pode explicar essas
tendências.
5) Ao comparar simulações de modelos e observações numa variedade de escalas
de tempo, os cientistas restringiram a sensibilidade climática de equilíbrio (ECS),
o aquecimento de equilíbrio esperado, em resposta a uma duplicação das
concentrações de CO2, situando-se em algum ponto entre o intervalo de 1,5 a
4,5 grau Celsius, com uma estimativa mais provável de cerca de três graus Celsius
de aquecimento pela duplicação de CO2.
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What is a GCM?

Citation: IPCC. (n.d.). What is a GCM? Retrieved from Data Distribution Centre:
https://www.ipcc-data.org/guidelines/pages/gcm_guide.html

The`pause' in global warming in historical context: (II). Comparing models to


observations

Citation: Rahmstorf, S. L. (n.d.). The `pause' in global warming in historical context: (II).
Comparing models to observations. Environmental Research Letters, 13(12), 123007.
DOI: 10.1088/1748-9326/aaf372

Present-Day Atmospheric Simulations Using GISS ModelE

Citation: Schmidt, G.A., R. Ruedy, J.E. Hansen, I. Aleinov, N. Bell, M. Bauer, S. Bauer, B.
Cairns, V. Canuto, Y. Cheng, A. Del Genio, G. Faluvegi, A.D. Friend, T.M. Hall, Y. Hu, M.
Kelley, N.Y. Kiang, D. Koch, A.A. Lacis, J. Lerner, K.K. Lo, R.L. Miller, L. Nazarenko, V.
Oinas, J. Perlwitz, J. Perlwitz, D. Rind, A. Romanou, G.L. Russell, M. Sato, D.T. Shindell,
P.H. Stone, S. Sun, N. Tausnev, D. Thresher, and M. Yao, 2006: Present-Day
Atmospheric Simulations Using GISS ModelE: Comparison to In Situ, Satellite, and
Reanalysis Data. J. Climate, 19, 153–192, https://doi.org/10.1175/JCLI3612.1
Cenários de emissões de carbono

9.1 Emissões e cenários


Apresentam-se as 4 Vias de Concentração Representativa (RCPs) e analisa as várias implicações
ambientais e sociais de cada uma.

Agora, que exploramos o funcionamento subjacente do sistema climático e,


experimentamos modelos climáticos reais, estamos em condições de usar modelos
climáticos para fazer projecções de futuras mudanças climáticas. Antes de podermos
projectar as mudanças climáticas causadas pelos seres humanos, devemos, no entanto,
considerar os vários cenários plausíveis para o comportamento humano futuro e as vias
de emissão de gases de efeito estufa resultantes. Vamos então discutir os vários
cenários de emissão.
O que são cenários?
São previsões futuras da actividade humana que representam futuras emissões
plausíveis de gases de efeito estufa e que abrangem uma gama de possibilidades. Os
relatórios anteriores do IPCC, o primeiro, o segundo, o terceiro e o quarto relatórios de
avaliação, usavam um conjunto de cenários chamados de cenários SRES. Eles levavam
em conta suposições variadas sobre factores como crescimento populacional,
desenvolvimento tecnológico, globalização, valores sociais. O problema desses cenários
SRES é que eles não levavam em conta as tentativas de estabilizar ou de reduzir as
próprias emissões. Para o quinto relatório de avaliação, foi desenvolvido um novo
conjunto de cenários chamados Vias de Concentração Representativas, ou
simplesmente RCPs.

Essas vias, que incluem os RCP 2.6, RCP 4.5, RCP 6.0 e RCP 8.5, foram escolhidas para
serem cenários representativos nomeados por sua forçante radiativa total no ano de
2100, uma medida do efeito de aquecimento resultante do aumento das concentrações
de gases de efeito estufa. E medimos esse efeito em watts por metro quadrado,
unidades de potência por unidade de área. Esses cenários reflectem uma série de
políticas, desde a forte mitigação, o RCP 2.6, que visa manter o aquecimento abaixo de
um aquecimento perigoso de 2 graus Celsius em relação ao período pré-industrial, até
aproximadamente o RCP 8.5 que representa o “business as usual”, o que leva até 4 a 5
graus Celsius, 7 a 9 graus Fahrenheit de aquecimento de planeta até 2100.
Eles são referidos como caminhos para enfatizar, mas que não são definitivos, mas antes
projecções forçantes dependentes do tempo, internamente consistentes e dependentes
do tempo que poderiam ser realizados com vários cenários socioeconómicos. Eles
podem levar em consideração políticas de mitigação das mudanças climáticas para
limitar as emissões. Os cenários são nomeados após o forçamento radiativo aproximado
em relação ao período pré-industrial alcançado no ano 2100 ou na estabilização após
2100.
Eles foram criados como modelos de avaliação integrados que incluem o clima, a
economia, o uso da terra, a demografia e a energia, efeitos de uso cujas concentrações
de gases de efeito estufa foram convertidas numa trajectória de emissões usando
modelos do ciclo de carbono. O cenário da RCP2,6, como veremos mais adiante, oferece
perspectivas de limitar o aquecimento a menos de dois graus Celsius, em relação ao
nível pré-industrial de aquecimento que, foi considerado perigoso por muitos cientistas
que avaliam os impactos das mudanças climáticas. Vamos examinar mais
detalhadamente esses vários caminhos de concentração representativos, ou RCPs,
reconhecendo que eles reflectem decisões da nossa parte, sobre mitigação da mudança
climática, redução de emissões de carbono, comprometidos como estamos em limitar
as mudanças climáticas. O cenário RCP 2.6 é um cenário que limita aproximadamente
as concentrações de CO2 a cerca de 450 partes por milhão na atmosfera.
Neste momento, estamos perto de quatrocentas e dez partes por milhão de CO 2
(410ppm) na atmosfera, pelo que não podemos queimar muito carbono, se quisermos
manter os níveis de CO2 abaixo de 450 ppm.
Nesse cenário, o forçamento radiativo atinge um pico de cerca de 3 watts por metro
quadrado antes de cair para 2,6 watts por metro quadrado em 2100. E isso requer uma
forte mitigação das concentrações de gases de efeito estufa no século XXI.
Os cenários RCP 4.5 e RCP 6.0 estabilizam após 2100 a 4,5 watts por metro quadrado e
6 watts por metro quadrado, respectivamente. O cenário do RCP 8.5 é o mais próximo
do cenário de “business as usual” do uso de combustíveis fósseis.
Por outras palavras, se realmente não fizermos nada para limitar a queima contínua de
combustíveis fósseis até o final do século 21, os níveis de CO2 excederão três vezes os
níveis pré-industriais.
No cenário da RCP 8.5, nesse cenário de “business as usual”, o aquecimento global do
planeta aumenta para quatro a cinco graus Celsius até o final do século, sete a nove
graus Fahrenheit.
Qual é o cenário que está mais próximo dos últimos 10 a 20 anos?
Bem, em 2018, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC,
publicou um relatório especial onde analisavam especificamente as metas de 1,5 graus
Celsius e também aquecimento de 2 graus Celsius em relação á época pré-industrial.
Estes são os níveis de aquecimento que muitos cientistas argumentam que, constituem
potencialmente, uma influência humana cada vez mais perigosa no nosso clima.
Agora, um relatório recente do IPCC fez a seguinte declaração: “estima-se que as
actividades humanas tenham causado aproximadamente 1 grau Celsius de aquecimento
global, acima dos níveis pré-industriais, com uma variação provável de 0,8 graus Celsius
a (1,2ºC) um ponto dois graus Celsius, isto porque, há alguma incerteza nas
observações”.
O relatório diz também que é provável que o aquecimento global atinja 1,5ºC graus
Celsius entre 2030 e 2052, se este continuar a aumentar à taxa actual e, essa conclusão
foi declarada com um elevado grau de confiança.
Alguns cientistas criticaram o relatório do IPCC por ser excessivamente conservador,
argumentando que essas suposições podem levar a mais de 2 graus Celsius em meados
do século XXI.
Cenários de emissões de carbono

9.1 Estabilizar as concentrações de CO2


Foco na forma como o mundo ainda pode manter os níveis de CO2 abaixo do limiar do
aquecimento perigoso até 2100, destacando o castigo pela procrastinação.

Os cenários de estabilização envolvem elevar as emissões anuais a um pico até algum


momento do século XXI e, em seguida, diminuí-las rapidamente. Quanto mais alto
permitirmos que o CO2 aumente, maior será a concentração final de CO2.
Como são esses cenários de estabilização?

Elas aumentam em incrementos de 50 partes por milhão. Se estabilizarmos em 550


partes por milhão, as emissões de CO2 deverão atingir um pico de não mais de 8,7 giga
toneladas, ou aproximadamente 9 giga toneladas, não muito longe de onde estamos
agora, e esse pico deve ocorrer antes de 2050, e as emissões devem ser reduzidas abaixo
dos níveis de 1990, aproximadamente 6 giga toneladas de carbono por ano, até o final
do século.
Se estabilizarmos em 450 partes por milhão, o que nos mantém num risco abaixo do
aquecimento perigoso de 2 graus Celsius, do planeta em relação ao tempo pré-
industrial, os números mostram que teríamos que elevar as emissões a um pico antes
de 2010, em aproximadamente 7 giga toneladas e meia por ano e reduzi-las para
aproximadamente quatro giga toneladas por ano, ou seja, aproximadamente 33%
abaixo dos níveis de 1990 até meados deste século.
Obviamente que o comboio já saiu da estação e, isso leva-nos à chamada penalização
por procrastinação. Cada ano que passa de relativa inação, na redução de nossas
emissões de carbono, torna-se cada vez mais difícil estabilizar as concentrações de CO2
abaixo desses níveis críticos.
Então, onde estamos agora?
Já em 2016, parecia que as emissões globais de carbono tinham atingido um pico,
começando a estabilizar e talvez estivessem a começar a ter um declínio lento,
sugerindo que, mesmo face ao crescimento económico global crescente, as emissões de
carbono não estavam a aumentar, ou seja, teríamos uma possível descarbonização de
nossa economia. Agora, vários anos depois, essas emissões de carbono infelizmente
aumentaram um pouco.
Assim, há alguns anos atrás parecia que estávamos no caminho do RCP 2,6 para limitar
o CO2 abaixo de 450 partes por milhão, agora parece que podemos estar mais próximos
desse cenário de “business as usual”, o RCP 8.5, que resulta no triplo das concentrações
de CO2 até o final do século, isto se não nos empenharmos em esforços de mitigação
mais fortes.
Se quisermos estabilizar as concentrações de CO2 abaixo de 450 partes por milhão na
atmosfera, precisaremos baixar as emissões globais de carbono a um pico na próxima
década, abaixo de 10 giga toneladas por ano, e reduzi-las muito mais dramaticamente
para quase zero, quase 80 % até o final deste século, por meio de políticas de mitigação
apropriadas.
No entanto, se continuarmos com a queima habitual de carbono, a meta de 450 partes
por milhão em breve estará fora de alcance, mais uma vez ressaltando a chamada
penalização por procrastinação.
Além disso, devemos levar em consideração nos nossos cenários de estabilização, o
facto de o dióxido de carbono não ser o único gás de efeito estufa produzido pela
actividade humana e, causador das mudanças climáticas.
Metano, óxido nitroso, ozono e outros poluentes aumentaram e, está projectado
continuarem a aumentar.
Como explicamos esses outros gases?
Isso introduz-nos o conceito de CO2 equivalente. Precisamos levar em consideração o
efeito de todos esses outros gases de efeito estufa, e fazemos isso usando o conceito de
CO2 equivalente, que é a concentração de CO2 que seria equivalente em termos de
forçamento radiativo total, na combinação de todos os outros gases de efeito estufa.
Se levarmos em consideração os aumentos de metano, ozono e outros gases de efeito
estufa antropogénicos, a força radiativa líquida é equivalente a aumentar o CO2 para um
nível substancialmente mais elevado de aproximadamente 485 partes por milhão.
Por outras palavras, o valor actual do equivalente de CO2 é de cerca de 485 partes por
milhão.
Esse facto causou uma certa confusão, levando alguns comentaristas, incorretamente,
a soar o alarme de que já é tarde demais para estabilizar as concentrações de CO2 abaixo
de 450 partes por milhão e, portanto, para evitar violar as metas que foram
estabelecidas como constituindo uma interferência antropogénica perigosa com o
sistema climático.
No entanto, se o equivalente de CO2 atingir 485 partes por milhão, isso significa que
estamos comprometidos com o aquecimento líquido que se pode esperar de uma
concentração de 485 partes por milhão de CO2 na atmosfera?
Bem, sim e não. A outra coisa que deixamos de fora é que, os gases de efeito estufa não
são o único impacto humano antropogénico significativo no clima. Sabemos que a
produção de sulfato aerossóis e de outros aerossóis, desempenham um papel
importante no arrefecimento de regiões substanciais dos continentes no hemisfério
norte, em particular durante o século passado.
A melhor estimativa do impacto dessa forçante antropogénica, embora bastante
incerta, seja aproximadamente 0,8 watts por metro quadrado, o que é equivalente
neste contexto à concentração de 60 partes negativas por milhão de CO2 na atmosfera.
Portanto, se subtrairmos 60 partes por milhão de 485 partes por milhão, obteremos 425
partes por milhão, o que se aproxima da actual concentração de CO2 de,
aproximadamente 410 partes por milhão.
Portanto, por outras palavras, se levarmos em conta não apenas o efeito de todos os
outros gases de efeito estufa, mas também o efeito de arrefecimento compensador dos
aerossóis antropogénicos, terminamos aproximadamente onde começamos a
considerar apenas o efeito do aumento da concentração atmosférica de CO2 do
combustível fóssil queimado.
Portanto, é uma simplificação útil considerar simplesmente o CO2 atmosférico apenas
como um proxy, como se fosse a forçante antropogénica total do clima.
Para encerrar esta nossa discussão sobre os cenários de estabilização, esses cenários
são projectados para estabilizar as concentrações atmosféricas de CO2 num nível
específico; quanto menor o nível de estabilização desejado, menor e mais rápido o pico
e as emissões de carbono devem ocorrer.
Para estabilizar abaixo do dobro, as emissões do nível pré-industrial, devem atingir um
pico nas próximas décadas e diminuir para 80% abaixo dos níveis de 1990 em meados
deste século.
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IPCC 2014: Topic 2: Future Climate Changes, Risk and Impacts Section 2.1

Citation: IPCC, 2014: Climate Change 2014: Synthesis Report. Contribution of


Working Groups I, II and III to the Fifth Assessment Report of the
Intergovernmental Panel on Climate Change [Core Writing Team, R.K. Pachauri
and L.A. Meyer (eds.)]. IPCC, Geneva, Switzerland, 56-58.
Aplicação de modelos climáticos: mudanças projectadas no
sistema climático

10.1 Projecções da temperatura à superfície


Análise da incerteza das diferentes vias de concentração representativas, bem como da
variabilidade dos diferentes factores que influenciam as mudanças climáticas.

Portanto, agora que supostamente já temos um entendimento sólido de como os cenários de


emissões de gases de efeito estufa funcionam, estamos prontos para começar a olhar para as
projecções das mudanças climáticas futuras.
Já falamos sobre as diferentes maneiras de recolher dados observacionais que demonstram
como as mudanças climáticas já estão a acontecer.
Isso inclui medições de CO 2 na atmosfera, superfície da terra e temperatura do oceano, furacões
e outros padrões climáticos extremos.
Vamos por isso dar um passo adiante em cada uma dessas áreas e, fazer projecções sobre as
mudanças futuras que podemos esperar nos diferentes cenários.
Porque é que essas projecções são importantes?
Bem, elas são as ferramentas que os formuladores de políticas, urbanistas, engenheiros,
profissionais de saúde e outros precisam para planear o futuro.
Um futuro que já está comprometido com um certo grau de aquecimento global adicional.
A questão básica para começar é, quanto mais quente é a que as projecções indicam que
a Terra se tornará?
Bem, há alguma incerteza nas projecções do modelo quando abordamos esta questão, e
falaremos sobre essas incertezas mais tarde, mas agora vamos examinar as estimativas gerais.
As mudanças globais da temperatura da superfície para o final do século 21 provavelmente
excederão um grau e meio Celsius em relação à média de 1850 a 1900.

Para todos os cenários de RCP, excepto o RCP 2.6, é provável que exceda 2 graus Celsius no
RCP 6.0 e RCP 8.5 e, mais provável que não exceda 2 graus no RCP 4.5. O aquecimento
continuará além de 2100 em todos os cenários do RCP, excepto no RCP 2.6. o aquecimento
continuará exibindo variabilidade ao longo dos anos e ao longo das décadas e, não será
regionalmente uniforme.
É importante ter em mente que, o IPCC usou uma linha de base de 1850 a 1900 para definir a
temperatura pré-industrial. Outros cientistas argumentaram que isso subestima o aquecimento
porque já havia algum aquecimento causado pelos seres humanos no início dos anos 1700, pelo
que esses números reflectem realmente um limite baixo do aquecimento real que provavelmente
veremos.
Ao projectar temperaturas, existem dois tipos de incertezas a serem observadas.
A primeira dessas duas incertezas é a incerteza do cenário e, é representada pelas diferentes
famílias de regiões de cor sombreada em baixo. Corresponde à incerteza ou em que caminho
do comportamento futuro seguiremos. Existem inúmeras interrogações, incluindo, antes de tudo,
sobre futuras emissões antrópicas de aerossóis e possíveis feedbacks do ciclo do carbono, que
podem acelerar a taxa na qual a fracção de CO2 transportada pelo ar aumenta com as emissões
futuras.
Num sentido muito real, a escolha é nossa. A segunda dessas duas incertezas é a incerteza
física e corresponde à largura de cada uma das regiões sombreadas. Grande parte dessa
incerteza vem das incertezas discutidas anteriormente nos feedbacks radiativos da nuvem.

Estima-se que os feedbacks radiativos nas nuvens sejam negativos. A incerteza, no entanto, é
extremamente grande.
Entre os 20 modelos usados na avaliação do IPCC, o feedback radiativo nas nuvens para
duplicação de CO2 varia em torno de 2 watts por metro quadrado negativo, o que seria um
feedback negativo, compensando cerca de metade da forçante radiativa directa do aumento de
CO2 para quase mais 2 watts por metro quadrado, um feedback positivo adicionando quase
metade da força radiativa devido apenas ao aumento de CO2.
Colectivamente, os vários cenários e as suas faixas de incerteza física abrangem uma expansão
muito grande do aquecimento projectado para o próximo século.
Curiosamente, descobrimos que a incerteza do cenário e a incerteza física são quase da mesma
magnitude. Enquanto o aquecimento mais provável varia em cerca de 1/2 a 4 graus Celsius, o
intervalo para qualquer cenário também corresponde aproximadamente a um intervalo máximo
de 4 graus Celsius.
Nesse sentido, aproximadamente metade da expansão mostrada nas várias projecções do
aquecimento futuro está sob o nosso controle.
Depende das escolhas que fizermos sobre futuras emissões. Já discutimos que não se prevê
que o aquecimento global seja uniforme.
Espera-se que nas altas latitudes do norte aqueçam mais e mais rapidamente devido, em grande
parte, ao feedback positivo do albedo no gelo, que se torna muito forte à medida que o gelo do
Ártico derrete.

Espera-se que as regiões terrestres aqueçam mais rapidamente que as regiões oceânicas,
devido aos oceanos que atrasam a inércia térmica. Examinaremos os padrões espaciais médios
anuais de mudança de temperatura da superfície numa simulação do modelo acoplado Princeton
GFDL CM 2.1.
Um dos modelos que contribui para o conjunto de mais de 20 membros do IPCC que estamos a
analisar. Este modelo foi submetido a um cenário de queima de combustíveis fósseis, “business
as usual”, e assistiremos à simulação do modelo à medida que evolui ao longo de todo o curso
do século XXI.
Nesta animação, observe o padrão geral de aquecimento, no link em baixo:
(Animation_of_projected_annual_mean_surface_air_temperature_from_1970-
2100,_based_on_SRES_emissions_scenario_A1B_(NOAA_GFDL_CM2.1_climate_model)
_480p.ogv).
Observe a quebra latitudinal do aquecimento mostrado à direita do mapa, que padrões é
que vê?
Então, enquanto assistimos a esta simulação, são várias as coisas que nos assaltam à cabeça.
No Pacífico equatorial tropical, pode-se ver os eventos El Niño e La Niña indo e vindo, como
acontece no mundo real. Percebemos que o Ártico está a aquecer mais rápido que o resto do
planeta e, aquece mais que o resto do planeta, e isso é algo que é esperado por causa do
chamado feedback do albedo de gelo.
Vemos que as regiões terrestres estão a aquecer mais do que as regiões oceânicas, novamente
algo que esperamos por causa da inércia térmica dos oceanos e, finalmente, há algumas outras
surpresas.
Você percebe aquele trecho no Atlântico Norte, ao sul da Groenlândia, das águas frias do
oceano?
Acontece que, isso tem a característica de uma desaceleração na chamada correia
transportadora da circulação oceânica, sobre a qual falamos anteriormente. Nestas simulações,
você pode ver realmente o efeito de uma desaceleração nesse padrão de circulação oceânica,
à medida que menos calor é entregue nas partes do Atlântico Norte e em algumas áreas do
Atlântico Norte, apesar do aquecimento geral do planeta, que é actualmente frio.
Como dissemos antes, existem dois efeitos que se compensam amplamente quando olhamos
para as projecções da temperatura futura. Por um lado, há o aquecimento comprometido, se
queimamos carbono agora, o oceano continuará a aquecer, esse calor continuará a difundir-se
no oceano por causa da inércia térmica do oceano, e por isso chamamos-lhe de aquecimento
comprometido.
Mas ainda temos algum aquecimento adicional. Compensando esse facto, se pararmos de
queimar carbono, o oceano imediatamente começará a retirar carbono da atmosfera e enterrá-
lo sob a superfície do oceano, levando a uma queda nos níveis atmosféricos de CO2. Na verdade,
esses dois efeitos compensam-se amplamente, e o efeito líquido disso é que o aquecimento total
que obtemos é mais ou menos uma função das emissões cumulativas de carbono até aquele
momento. É o que vemos aqui nesta figura, em baixo, do quinto relatório de avaliação do IPCC
de 2013, que mostra a relação entre as emissões cumulativas de carbono até um determinado
ponto no tempo e, o aquecimento geral resultante disso.
Em resumo, os modelos climáticos projectam um aquecimento de 0,2 a 7 graus Celsius no
próximo século, dependendo de duas variáveis críticas. Número um, das decisões tomadas pela
sociedade em relação às emissões futuras de carbono, e número dois, das incertezas
actualmente irredutíveis em relação à sensibilidade do clima às forças radiativas de gases de
efeito estufa.
Finalmente, projecta-se que a variabilidade de temperaturas no espaço e no tempo seja
considerável, altas ou baixas latitudes quentes, devido a feedbacks positivos relacionados com
derretimento do gelo, a terra aquece mais que os oceanos, devido em grande parte à maior
inércia térmica dos oceanos, e há algumas surpresas potenciais.
Vimos no Atlântico Norte que há uma região ao sul da Groenlândia que realmente pode arrefecer
à medida que a correia transportadora da circulação oceânica diminui.
Aplicação de modelos climáticos: mudanças projectadas no
sistema climático

10.2 Mudanças projectadas na precipitação e seca globais


Examinando as previsões de chuvas e secas à medida que a mudança climática continua.
As mudanças na temperatura da superfície são, obviamente, apenas um dos inúmeros efeitos
das mudanças climáticas antropogénicas. Igualmente, se não mais importante em termos de seu
impacto na civilização, no nosso meio ambiente, são as mudanças nos padrões de chuva e seca.
Como mencionamos anteriormente, a mudança climática é projectada para levar à expansão do
padrão de circulação celular de Hadley, o que resulta numa expansão da zona de ar seco que
afunda, bem fora dos subtropicais, nas latitudes médias.

Isso é particularmente verdadeiro no verão, quando o ITCZ, a Zona de Convergência


Intertropical, a corrente de jato e as frentes polares mudam mais para o lado oposto.
Como resultado, vemos uma diminuição das chuvas nos subtrópicos nas latitudes médias,
incluindo em grandes partes da América do Norte e da Europa.
As chuvas na verdade aumentam nos trópicos profundos, onde há mais vapor de água na
atmosfera por causa de uma atmosfera mais quente e, portanto, há mais humidade para
espremer quando temos o movimento crescente que encontramos na Zona de Convergência
Intertropical.
E assim sendo, vemos um aumento das chuvas nas regiões abrangidas pela zona de
convergência intertropical migratória nos trópicos.

Grandes aumentos de precipitação também são observados nas latitudes subpolares, devido a
uma combinação da mudança de direcção do jato e da frente polar, trazendo essa faixa
secundária de movimento atmosférico crescente para o pólo e, mais uma vez, o facto de uma
atmosfera mais quente reter mais humidade, portanto, quando temos esse movimento
ascendente, obtém-se mais precipitação, seja na forma de chuva ou na forma de neve no
inverno.
Ao considerar as mudanças de precipitação, devemos considerar também o papel dos solos e
da vegetação.
Você vê algo surpreendente aqui, comparando o padrão espacial das mudanças de
precipitação e humidade do solo?
O padrão de humidade do solo, que corresponde ao que consideramos seca, diminui na maioria
dos continentes do mundo.
Mesmo naquelas regiões como as regiões boreais altas da América do Norte Eurásia, onde se
espera ver um aumento da precipitação.

Isso pode parecer um paradoxo, não é?


Porque é que as projecções mostram que a humidade do solo diminui na maioria dos
continentes, apesar de em algumas dessas mesmas regiões ter aumentado a
precipitação?
Bem, à medida que as temperaturas aumentam, você obtém maior evaporação dos solos e,
portanto, pode perder mais humidade por evaporação do que ganha com a precipitação. Isso
leva a uma seca continental mais generalizada.
O aumento da precipitação é projectado na forma de menos chuvas, porém mais intensas, o que
resultará em inundações e na erosão do solo. Portanto, na realidade, algumas regiões sofrerão
mais inundações e mais secas ao mesmo tempo, um desafio que exigirá planeamento e política
de adaptação sérios.

Em resumo, certas mudanças projectadas na precipitação são robustas com um grau razoável
de consenso entre os vários modelos. Por exemplo, sobre o Canadá e Europa, para outras
regiões, no entanto, em grande parte dos Estados Unidos e em grande parte nas zonas tropicais
e subtropicais, do norte da África, não há um acordo claro entre os modelos, o que significa que
as mudanças projectadas são altamente incertas.
Grande parte dessa incerteza vem do facto de que, muitas das mudanças projectadas e dos
padrões de precipitação estão relacionados com as mudanças projectadas na circulação
atmosférica, e essas mudanças são muitas vezes bastante incertas. Relacionado, por exemplo,
com o que pode acontecer com o fenómeno do El Niño no futuro, algo que também é incerto.
Finalmente, descobrimos que em muitas regiões que experimentam aumentos nas chuvas, há
simultaneamente um agravamento da seca, particularmente no verão, pois o aumento da
evaporação devido a solos mais quentes supera os pequenos aumentos na precipitação.
Aplicação de modelos climáticos: mudanças projectadas no
sistema climático

10.3 Mudanças na circulação atmosférica e oceânica


Examinando as mudanças antropogénicas que a mudança climática deve ter na circulação
atmosférica, concentrando-se nas circulações atmosféricas regionais, incluindo a circulação da
monção e o padrão de circulação Walker associado ao El Niño / Oscilação do Sul (ENSO).
Já vimos o padrão de mudança projectada nas chuvas.
É especialmente útil olhar para esse padrão calculado pela média das faixas de latitude, que
fornece uma imagem mais simples de como as chuvas são projectadas para mudar em função
da latitude.
Quando fazemos isso, vemos um padrão latitudinal bastante claro a emergir. Vemos o aumento
da precipitação perto do equador, onde fica o ITCZ.

Diminui dos subtrópicos através das latitudes médias à medida que a célula de Hadley se
expande em direção ao pólo e, aumenta novamente em latitudes subpolares, onde a frente polar
migra para os polos.
Em resumo, estamos a ver o efeito da mudança de direção das zonas de movimento ascendente
e descendente que analisamos durante a visão geral da circulação atmosférica.
Como vimos no caso da onda de calor europeia de 2003 e, novamente na onda de calor de
Moscovo em 2010, e em 2018, em grande parte do hemisfério norte, a corrente de jato
subtropical, que fica acima do ramo descendente da circulação de Hadley, nos subtrópicos e é
associado à subsidência de ar quente e seco nos subtrópicos mudou muito, ao norte de sua
localização habitual no verão. Neste caso, no norte do Sahara e no sul do Mediterrâneo, bem
como nas latitudes média e subpolar da Europa.

Esse evento único em 2003, encapsulou um padrão que se espera que se torne mais prevalente
com as mudanças climáticas futuras, à medida que as várias bandas atmosféricas, incluindo a
circulação de Hadley e as frentes polares, se expandem em direção ao pólo.
Os padrões de circulação das monções também podem mudar. A mais importante das monções
é a monção de verão do sul da Ásia, que é a fonte de grande parte da precipitação anual em
regiões densamente povoadas, como a Índia.
A monção é impulsionada principalmente pelo contraste e pelo aquecimento dos oceanos e da
terra. A terra responde mais fortemente ao aquecimento do verão do que os oceanos, levando a
uma tendência para uma célula de circulação termicamente acionada de grande escala,
semelhante em alguns aspectos à circulação de Hadley.
Há um movimento crescente no interior sobre o platô tibetano e um movimento de afundamento
sobre o Oceano Índico, de modo que o ar quente e húmido sobre o Oceano Índico é atraído para
terra onde se eleva e condensa em vapor de água.
Esse padrão de circulação pode ser influenciado por vários factores, cada um dos quais pode
ser alterado pelas mudanças climáticas antropogénicas. Aparentemente paradoxal, a
precipitação das monções é projectada para permanecer estável ou até aumentar em face de
uma circulação da monção enfraquecida.
Isso tem a ver com o facto de que, embora a circulação possa enfraquecer, haverá mais conteúdo
de vapor de água numa atmosfera aquecida, levando ao potencial de maiores quantidades de
chuva para uma dada força da monção.
No entanto, ainda há um pouco de incerteza quanto a isso, e é vista uma ampla disseminação
entre os modelos avaliados pelo IPCC.
A chamada circulação da correia transportadora, ou circulação termohalina ou circulação
meridional de reviravolta dos oceanos é projectada por muitos modelos para enfraquecer ao
longo do tempo à medida que derretemos o gelo, a camada de gelo da Groenlândia, em
particular, a água doce que flui para o Atlântico Norte que clareia as águas inibindo o movimento
de afundamento que acciona esse transportador de grande escala no oceano.

Agora, se olharmos para esta figura do quinto relatório de avaliação do IPCC, ela mostra um bom
grau de propagação entre as projecções do modelo, quando se trata do enfraquecimento que
esperamos na circulação da correia transportadora ao longo do próximo século.

Os trabalhos mais recentes demonstram agora muito mais consenso, que a correia
transportadora provavelmente não enfraquecerá ainda mais no próximo século, mas que esse
enfraquecimento já está em andamento como podemos ver nas observações.
Sabemos que o fenómeno do El Niño ou Oscilação do Sul El Niño, ENSO, tem uma profunda
influência sobre o clima em escalas plurianuais, levando a alterações regionais substanciais nos
padrões de temperatura e de precipitação em todo o mundo e, influenciando fenómenos
importantes, como a atividade de furacões no Atlântico.

Escusado será dizer que, uma questão-chave quando se trata de mudanças climáticas, é
como as características do ENSO podem mudar no futuro?
Uma das grandes limitações ao projectar futuras mudanças climáticas regionais, é que ainda não
podemos avaliar com segurança como o ENSO mudará no futuro. Os modelos ainda não
mostram um consenso claro sobre como as mudanças climáticas antropogénicas influenciarão
as características do ENSO.
A maioria dos modelos, que se enquadram na metade direita do mapa, projecta um clima mais
parecido com o El Niño, ou seja, uma circulação enfraquecida de Walker, ventos fracos e
ressurgência oceânica no Pacífico tropical oriental e central. E, um padrão de temperatura da
superfície em que o Pacífico equatorial oriental aquece mais do que o Oceano Pacífico equatorial
central e ocidental.
No entanto, alguns outros modelos projectam o oposto, um padrão mais parecido com o da La
Niña. Podemos ficar tentados a concordar com a maioria dos modelos de tendência do El Niño.
No entanto, evidências paleoclimáticas da resposta do ENSO a mudanças naturais passadas
nos forçamentos radiativos de vulcões, flutuações e produção solar, sugerem a possibilidade de
que a minoria de modelos que predizem um futuro mais semelhante ao La Niña possa realmente
estar certa.
Esta questão tem implicações sobre como as mudanças climáticas antropogénicas podem
influenciar a atividade de furacões no Atlântico.
Discutiremos as influências das mudanças climáticas nas actividades dos ciclones tropicais e
nos furacões, com mais detalhes em nossa próxima lição.
Existe uma incerteza ainda maior em relação à amplitude da variabilidade do ENSO, ou seja, se
os eventos individuais do El Niño e La Niña tornar-se-ão maiores ou menores em magnitude.
Modelos que caem na metade superior do mapa, sugerem maiores do El Niños e La Niñas no
futuro, e modelos que caem na metade inferior do mapa, sugerem episódios menores do El Niño
e La Niña no futuro.
Os modelos do IPCC são basicamente divididos em função dessas duas possibilidades. Como
os grandes eventos do El Niño têm um impacto maior nos padrões climáticos regionais e,
enquanto que os eventos menores têm um impacto menor, essa questão tem implicações
significativas nos impactos projectados das mudanças climáticas.
As grandes incertezas na projecção de mudanças no ENSO provavelmente resultam de uma
combinação de factores, incluindo a tendência de modelos climáticos de última geração a
produzir uma divisão irrealista no ITCZ, no Pacífico tropical oriental, e isso influencia a força do
ventos alísios e ressurgência equatorial.
A resolução ainda grosseira da componente oceânica dos modelos pode levar a imprecisões nas
perturbações das ondas oceânicas importantes para o El Niño e La Niña, e a incertezas no
comportamento de nuvens de estratos marinhos cúmulos, que desempenham um papel
importante na radiação equatorial do Pacífico e o balanço de calor também pode complicar o
comportamento do El Niño nos modelos.
Em resumo,
1) É provável que as mudanças climáticas antropogénicas levem a mudanças substanciais
na circulação atmosférica, incluindo uma mudança em sentido contrário do ramo
descendente da circulação Hadley e dos fluxos de jato e da frente polar e dos percursos
das tempestades.
2) Essas mudanças também incluem um enfraquecimento das circulações das monções e
impactos possíveis, porém incertos, no padrão de circulação de Walker associado ao
ENSO. Os modelos sugerem a probabilidade de um enfraquecimento contínuo do
chamado padrão de circulação oceânica da correia transportadora, a circulação
termoalina.
3) A maioria dos modelos indica agora um enfraquecimento ao longo do próximo século, e
as observações sugerem que esse enfraquecimento já está em andamento.
4) Finalmente, as mudanças projectadas no caráter do ENSO são incertas. As projecções
do modelo são divididas em relação a se o estado climático futuro será mais parecido
com o El Niño ou mais com La Niña e se os eventos individuais de El Niño e La Niña
serão maiores ou menores. E se mudarmos o comportamento do El Niño, influenciará
os padrões de seca no sudoeste dos Estados Unidos, influenciará as estações de
furacões no Atlântico tropical e no Pacífico tropical.
Portanto, existem todos os tipos de fenómenos que são de grande interesse e preocupação para
nós, influenciados pelo El Niño, e se a mudança climática mudar o El Niño, afectará esses
fenómenos.
Ainda não sabemos exatamente quais serão esses impactos, portanto, há ainda alguma
incerteza nesses impactos regionais das mudanças climáticas. Mas, mais uma vez, a incerteza
não é nossa amiga, porque não podemos planear ou adaptar-nos, a mudanças que ainda não
se sabe que estão por vir.
Aplicação de modelos climáticos: mudanças projectadas no
sistema climático

10.4 A fusão da criosfera


Analisando o efeito das mudanças climáticas na criosfera, observando particularmente a
destruição dos mantos de gelo continentais e sua contribuição para o aumento do nível do mar.
Vamos falar agora sobre outras quantidades projectadas, como o gelo do mar no Ártico.
Em particular, a quantidade de gelo marinho que resta no final da estação de fusão, em setembro.

Os modelos projectam que, no final do século XXI, as reduções variarão de 43% para o RCP 2.6,
o cenário de estabilização de 2 graus Celsius, a 94% para o RCP 8.5, um cenário de negócios
como de costume ou “business as usual”.
Vamos conversar um pouco sobre as incertezas na modelagem climática e, no caso do gelo do
Ártico, os modelos são bastante conservadores nos declínios que preveem para o gelo do Ártico.
As observações, de facto, mostram níveis mais baixos de gelo marinho agora, do que muitas das
simulações sugerem, e que provavelmente veríamos, muitas décadas a partir de agora. As
observações parecem estar adiantadas em relação às projecções do modelo climático, no que
diz respeito à extensão do gelo marinho do verão no Ártico.
Uma possibilidade neste caso, é a falta de física nos modelos relacionados, por exemplo, da
mecânica de fraturamento e deformação do gelo, que leva os modelos a subestimar a fragilidade
do gelo marinho e, os feedbacks que podem realmente acelerar a perda de gelo marinho no
Ártico.
Quando o gelo do Ártico derrete, esse gelo fica a flutuar no topo das águas do oceano e, portanto,
esse derretimento do gelo contribui para o aumento do nível do mar no mesmo sentido que um
cubo de gelo derretido num copo de água, que contribui para a subida do nível da água à medida
que derrete.
Por outro lado, à medida que os glaciares do mundo continuam a derreter, isso contribui para o
aumento global do nível do mar. Esta é a razão do motivo de tanta atenção que é dada à
estabilidade dos dois maiores mantos de gelo do mundo, as duas principais camadas de gelo da
Groenlândia e a Antártica, e em particular a da Antártica Ocidental, a parte da camada de gelo
antártico que está na altitude mais baixa e, é mais propensa a derreter à medida que os oceanos
em aquecimento desestabilizam as prateleiras de gelo que ajudam a sustentar essa camada de
gelo.

Agora, vamos ver aqui uma simulação (https://www.youtube.com/watch?v=98-Xf_RvFmI)


recente da camada de gelo da Antártica Ocidental sob um cenário de aquecimento global. E o
que vemos é que, enquanto a escala de tempo leva vários séculos para derreter
substancialmente a camada de gelo, no geral, grande parte da camada de gelo da Antártica
Ocidental é vulnerável a derretimento até o final deste século.
O suficiente para poder contribuir por si só com um metro, ou mesmo um pouco mais de um
metro e meio de elevação do nível global do mar. Como veremos mais adiante, isto levou a uma
revisão para cima nas projecções futuras do aumento do nível do mar que, provavelmente
veremos até o final deste século, e é outro lembrete de que os modelos frequentemente
subestimam as mudanças que provavelmente vemos.
Neste caso, os modelos anteriores não incluíram alguns dos efeitos importantes, em particular a
instabilidade resultante do derretimento de falésias de gelo. Os modelos mais antigos não
levavam em conta estas questões físicas. As simulações feitas mais recentemente, mostram
que, poderemos ver um pouco mais de desaparecimento desses gelos ao longo do próximo
século, do que pensávamos que poderíamos ver, apenas alguns há anos atrás.
Outro lembrete de que a incerteza não é nossa amiga. Como vimos, existem certos processos
que estão agora a começar a ser incluídos nos modelos das calotas polares para representar
algumas das coisas que, vemos a acontecer no mundo real, que podem potencialmente acelerar
o colapso das mesmas.
No caso do manto de gelo da Antártica Ocidental, as simulações recentes explicam a
instabilidade dos penhascos de gelo, que tem a ver com o facto de que, quando os penhascos
colapsam, os penhascos atrás deles são mais altos e bonitos, colapsando por conta do seu
próprio peso, o que acelera o processo de criação de gelo no oceano.

E isso pode acelerar consideravelmente a perda de gelo da camada de gelo da Antártica


Ocidental. Existem outros processos que estão apenas a começar a ser incluídos nos modelos
climáticos que também podem permitir uma quebra mais rápida do gelo, colapso mais rápido do
que o que os modelos mais antigos sugeriam que provavelmente aconteceria.
Por exemplo, as fissuras conhecidas como Moulins, permitem que a água derretida, que ocorre
quando a superfície das camadas de gelo começa a derreter, essa água derretida na superfície
pode penetrar no fundo dessas fissuras, até o fundo da camada de gelo, onde lubrifica a base
da camada de gelo, permitindo que o gelo seja mais facilmente exportado através de correntes
de gelo para o oceano.

A física que descreve esse fenómeno, não foi bem representada nos modelos de versões mais
antigas e, está apenas a começar a ser incorporada aos novos modelos. Portanto, é importante
ter em mente que, há uma década ou mais atrás, os modelos climáticos tendiam a indicar que
as duas principais camadas de gelo continentais, a camada de gelo da Groenlândia e a camada
de gelo antártica, provavelmente, não começariam a entrar em colapso até muito mais tarde
neste século.
Considerando que as observações nos dizem que agora, estamos a ver uma perda de gelo das
duas principais camadas de gelo, estamos a começar a entender os processos que
provavelmente estão por trás dessa aceleração e, a incluí-los nos modelos climáticos.
Outro facto que não está bem representado pelos modelos dos mantos de gelo da geração actual
é, o que chamamos de efeito de reforço (buttressing effect).

As prateleiras de gelo dão suporte ao interior através de um efeito, não muito diferente do
contraforte voador empregado tão amplamente na arquitetura medieval. À medida que as
prateleiras de gelo se desintegram, existe o potencial de desestabilização do gelo interior, que
se rompe caindo no oceano.
O efeito foi bem documentado durante a desintegração da plataforma de gelo Larsen B, de uma
península antártica entre janeiro e março de 2002, com a dimensão de uma plataforma de gelo
tão grande quanto o estado de Rhode Island. De facto, em 2016, começamos a ver a quebra de
uma plataforma de gelo Larsen C, ainda maior.
Agora, essas prateleiras de gelo que entraram em colapso durante um período tão curto como
um mês e, no mês seguinte à quebra dessas prateleiras de gelo, vemos uma aceleração no fluxo
de gelo interior para o oceano, sugerindo a possibilidade de que esses processos dinâmicos
acelerem o colapso da Camada de Gelo Antártico Ocidental, a parte da Camada de Gelo
Antártico que é mais vulnerável à ruptura como resultado do aquecimento antropogénico.
É bem possível que, numa década, possamos atingir um nível crítico de aquecimento, onde nos
comprometamos com o colapso de grandes partes da camada de gelo da Antártica Ocidental,
gelo suficiente para nos dar pelo menos um metro a um metro meio de altura adicional, do nível
do mar até o final do século, além do que as estimativas anteriores sugeriram.
Aplicação de modelos climáticos: mudanças projectadas no
sistema climático

10.5 As projecções da subida do nível do mar


Análise mais detalhada sobre quais são as previsões realistas da elevação do nível do mar para os
diferentes RCPs.
Como mencionamos antes, uma das consequências do derretimento das camadas de gelo é a
contribuição que elas podem fornecer para o aumento do nível do mar. Então, vamos dar uma
olhadela nas projecções sobre a subida do nível do mar do quinto relatório de avaliação do IPCC
para os diferentes cenários.

As projecções de aumento do nível do mar do quinto relatório de avaliação do IPCC, mostram


aumentos projectados do nível do mar de cerca de 0,2 a 0,6 metros neste século, para o RCP
2.6, o cenário de estabilização global de 2 graus Celsius.
Enquanto que para o RCP 8.5, o cenário de negócios como de costume ou “business as usual”,
os modelos mostram um aumento até 1 metro do nível do mar neste século.
Estas faixas aqui representadas, são derivadas das projecções de modelos em combinação com
modelos baseados nos processos de comportamento das calotas polares e, na literatura sobre
contribuições das geleiras e das calotas polares.
Estas estimativas são baseadas na avaliação do IPCC de 2013 e, desde então, houve muito
trabalho e modelagem mais detalhada, observando as contribuições projectadas do aumento do
nível do mar devido ao derretimento, em particular da camada de gelo da Antártica Ocidental.
Os trabalhos mais recentes sugerem que, a chamada instabilidade dos penhascos de gelo, física
que não foi refletida nos exercícios anteriores de modelagem das placas de gelo, cuja
instabilidade poderia adicionar um metro inteiro de aumento do nível do mar, até o final deste
século.
Isso significa, pegar nas antigas projecções do IPCC que não incluem essa contribuição, que
chega a um metro de aumento do nível do mar até o final do século, no cenário negócios como
de costume ou “business as usual”, e adicionar outro metro a esse, ou seja, aproximadamente
dois metros ou cerca de seis a oito pés de elevação global do nível do mar.
Neste ponto, e com base numa compreensão abrangente dos processos que contribuem para o
colapso da camada de gelo, não podemos descartar a possibilidade de um aumento de seis a
oito pés no nível do mar até o final deste século, sob uma actividade comercial e industrial com
base na queima habitual de combustíveis fósseis.
Existem vários componentes envolvidos na projecção de aumento futuro do nível do mar, como
já mencionamos. A primeira, é a expansão térmica dos oceanos, que é bastante directa.
A única incerteza real envolvida nesta componente é o próprio aquecimento e a taxa na qual ele
é misturado sob a superfície do oceano.
Essa contribuição é projectada para ser modesta, atingindo apenas uma fração de metro no
próximo século.
O segundo componente é a contribuição do derretimento das montanhas de gelo e das calotes
polares, sem incluir os dois principais mantos continentais. É provável que essa contribuição seja
modesta, apenas uma pequena fração de metro no próximo século.
A terceira contribuição, no entanto, a contribuição do derretimento das duas principais camadas
de gelo é a maior e a mais incerta.
Como já foi mencionado anteriormente, mesmo um aquecimento adicional modesto poderia
desencadear o derretimento das camadas de gelo continentais.
No total, isso pode significar mais de 10 metros de elevação do nível do mar, embora isso possa
levar séculos para que aconteça.
Os modelos no passado projectavam que esses mecanismos levariam muitos séculos para
serem implementados.
Exercícios de modelagem mais recentes sugerem a possibilidade de que o colapso de uma
grande parte da camada de gelo da Antártica Ocidental, e de partes da camada de gelo da
Groenlândia também possa, de facto, ocorrer numa escala de tempo mais curta, escalas de
tempo tão curtas quanto um século ou mais, portanto, isso levou a um aumento na nossa
estimativa de como as camadas de gelo poderiam contribuir para a elevação do nível do mar até
o final deste século.
Não podemos, portanto, descartar um aumento de seis a oito pés no nível do mar até o final
deste século, e se olharmos para 2300 e, permitirmos que esses processos ocorram nas últimas
simulações, não podemos descartar tanto quanto vinte pés ou 6 metros de altura de subida do
nível do mar até 2300, a menos de dois séculos de distância.
Em resumo:
1) Isto significa que o nível global do mar continuará a subir durante o século XXI e,
2) Em todos os cenários de RCP, a taxa de aumento do nível do mar quase certamente
excederá o que foi visto nas últimas décadas, e como o aquecimento do oceano e a
crescente contribuição do derretimento as camadas de gelo começam a contribuir
substancialmente, para o aumento futuro projectado do nível do mar.
Aplicação de modelos climáticos: mudanças projectadas no
sistema climático

10.6 Projecções de ciclones tropicais e furacões


Análise das projecções para futuros ciclones tropicais e furacões, usando a abordagem do modelo
incorporado para analisar como serão as mudanças climáticas
Como as projecções do futuro aumento do nível do mar, também as projecções de futuras de
mudanças nos ciclones tropicais e furacões, são bastante incertas.
Porquê a incerteza?
Bem, os ciclones tropicais ocorrem em escalas espaciais que não são bem resolvidas pelos
modelos climáticos da geração actual. Houveram ou tentaram-se várias abordagens para tentar
lidar com essa limitação. Vamos falar sobre uma abordagem específica, a que chamaremos de
modelagem incorporada.
Os distúrbios de pequena escala, semelhantes aos que geram ciclones tropicais do mundo real,
neste caso, são distribuídos aleatoriamente num modelo climático de uma maneira que imita a
distribuição de distúrbios do mundo real. Alguns desses distúrbios encontrar-se-ão num ambiente
favorável, outros não. Isso é determinado pelo clima em larga escala, representado por uma
simulação de modelo climático.
Foi desenvolvido um modelo dinâmico, que realmente resolve as estruturas-chave, o núcleo
interno, por exemplo, de um furacão que está incorporado ao modelo climático e, é usado para
rastrear cada distúrbio, modelar qualquer potencial desenvolvimento e intensificação desse
distúrbio. Utilizando essa abordagem, podemos combinar as climatologias observadas de
ciclones tropicais, ou seja, os números e intensidades de ciclones tropicais e furacões no mundo
real, nas várias bacias de actividade de ciclones tropicais.
Podemos reproduzir a tendência observada, incluindo o aumento dos números e intensidades
de ciclones tropicais no Atlântico nas últimas décadas. Então, vamos dar uma olhadela mais de
perto nesses resultados, observando a figura a seguir.
O que vemos antes de tudo é que há bastante variabilidade nos resultados obtidos, dependendo
de:
A) A projecção de modelo climático específica que se usa, e;
B) Da bacia produtora de ciclones tropicais em particular, que estamos a analisar.
Globalmente, o número de ciclones tropicais pode realmente diminuir, mas a dissipação e a
intensidade de energia, que são medidas-chave do potencial destrutivo dessas tempestades,
devem aumentar globalmente.
Actualmente, estamos frequentemente e particularmente interessados em bacias específicas,
como a bacia do Atlântico, uma vez que são a maior ameaça no que diz respeito, por exemplo,
aos impactos no território norte-americano.
Ainda há um pouco de debate sobre se o número de tempestades, ou tempestades tropicais,
aumentará ou não, tanto globalmente como em particular nas bacias como o Atlântico Norte e o
Pacífico. Existe um consenso crescente, entre os cientistas mundiais que estudam este
fenómeno, de que as mudanças climáticas e o aquecimento do oceano levarão a furacões mais
intensos.
De facto, parece que estamos a ver esse aumento da intensificação agora, nas observações dos
últimos anos. Como as temperaturas globais dos oceanos atingiram os níveis mais altos de todos
os tempos, vimos a tempestade mais forte já medida em todo o mundo, que foi o furacão Patrícia
no Pacífico Norte.
A tempestade mais forte do hemisfério norte, o furacão Patrícia, e do hemisfério sul, que foi o
furacão Winston. A tempestade mais forte de todos os tempos no Pacífico, foi mais uma vez o
Patrícia e agora o Irma em 2017, que foi a tempestade mais forte já vista no Atlântico aberto.
Há uma estimativa de que houve um aumento na velocidade máxima do vento de cerca de 7%
para cada um grau Celsius aquecimento. (ver aqui neste link:
https://svs.gsfc.nasa.gov/vis/a010000/a012800/a012822/TempViz_Large.gif)
Os oceanos globais aqueceram cerca de 1 grau Celsius, o que levou as estimativas a um
aumento médio da velocidade do vento das tempestades mais fortes, em cerca de sete por cento,
mas o potencial destrutivo de uma tempestade varia conforme a terceira potência do pico da
velocidade do vento.
Assim, o aumento de 7% na velocidade do vento corresponde a um aumento de 23% no potencial
destrutivo. Esse não é um aumento que possa ser medido com facilidade, mas é um aumento
que teve consequências no mundo real em termos de furacões cada vez mais destrutivos que
atingiram o solo.
Aplicação de modelos climáticos: mudanças projectadas no
sistema climático

10.1 Projecções meteorológicas extremas


Análise das projecções para eventos extremos de precipitação e calor, em vários cenários de
mudanças climáticas.
Já vimos que as mudanças climáticas influenciaram a frequência e a intensidade de furacões e
das tempestades tropicais, e que esta provavelmente aumentará ainda mais no futuro.
E a precipitação em geral?
Até agora, o aquecimento observado é de aproximadamente 1 grau Celsius em todo o mundo
em relação à época pré-industrial. Dado o aquecimento projectado de vários graus Celsius ao
longo do próximo século, o que depende, é claro, do cenário preciso das emissões, pode-se
esperar que os aumentos futuros em eventos climáticos extremos sejam muito maiores do que
o que vimos até agora. É esperado um aumento geral de eventos extremos de precipitação e
inundação.
Porquê?
Bem, oceanos mais quentes, evaporam mais água para a atmosfera, a uma taxa mais rápida e,
uma atmosfera mais quente pode reter mais vapor de água, esses recursos implicam um ciclo
hidrológico mais vigoroso e, eventos individuais mais pesados quando as condições forem
propícias para a precipitação.
A física atmosférica básica, em particular, uma relação conhecida como a equação clausius-
clapeyron, diz-nos que, para cada um grau Celsius de aquecimento, podemos esperar um
aumento de 7% na quantidade potencial de vapor de água que a atmosfera pode reter. Isso
significa o potencial de 7% a mais de água precipitável durante qualquer evento de precipitação
em particular.

Dependendo do cenário de emissão específico, podemos esperar um aumento várias vezes


maior no próximo século.
Onde as temperaturas atmosféricas estão acima de zero, esperamos que a precipitação caia sob
a forma de chuva, mas onde as temperaturas estão abaixo de zero, esperamos que caia como
neve.
Os contestatários das mudanças climáticas costumam afirmar que as fortes quedas de neve do
inverno argumentam contra a realidade do aquecimento global, no entanto, nada poderia estar
mais longe da verdade.
Em qualquer cenário realista do próximo século, ainda teremos inverno em regiões de latitude
média, como América do Norte e Europa.
Ainda estará frio o suficiente para nevar em grande parte dessas regiões no inverno e, à medida
que a atmosfera continuar aquecendo e retendo mais vapor d'água, esperamos que essas
quedas de neve sejam mais pesadas.
De facto, há um golpe duplo envolvido aqui.
Também sabemos que as tempestades de inverno a meia latitude provavelmente se tornarão
mais intensas, algo de que já vemos evidências.
Nortadas como aquelas que atingem a costa leste dos EUA, e como vimos nos invernos recentes
que atingiram Washington DC e em Boston com quedas de neve recorde, essas acumulações
de neve podem realmente aumentar num clima quente, mesmo quando a duração da cobertura
de neve diminui, à medida que os invernos diminuem.

As tempestades mais intensas, neste caso, serão associadas a limites frontais mais fortes,
aumentando ainda mais o potencial para grandes quedas de neve.
Finalmente, vamos distinguir entre essas mudanças projectadas na precipitação e mudanças
projectadas na seca.
Como já vimos antes, mesmo as regiões que recebem mais chuvas em geral podem ter uma pior
seca por causa dos solos mais quentes que evaporam mais humidade na atmosfera, os solos
perdem mais humidade à medida que a terra aquece.
E, portanto, as secas são o outro extremo que provavelmente aumentarão com o tempo no futuro.
Figura - Projeções modelo de mudanças na intensidade da precipitação (em cima) e Frequência de dias
secos (em baixo) até o final do século 21 em vários cenários de emissões (com base na média de todos os
modelos do IPCC

E as mudanças projectadas nos extremos de temperatura?


Não é de surpreender que os dias extremos de frios sejam projectados para diminuir à medida
que o planeta aquece, mas as ondas de calor, como vimos no início do curso, já aumentaram
em duração e intensidade devido ao aquecimento do século passado, e elas devem estar sujeitas
a maiores aumentos ao longo do próximo século, com os detalhes dependendo, é claro, do
caminho das emissões.
O aumento do calor e a seca aumentam o número de incêndios, e de facto em lugares como a
América do Norte e o oeste dos Estados Unidos, vimos quase triplicar a extensão dos incêndios
nas últimas décadas, como resultado do aquecimento e da seca de solos. Parte do que produz
esses eventos climáticos extremos são movimentos de grande amplitude no jato, um jato mais
sinuoso e um jato mais lento.

Como a corrente de jato diminui devido à diminuição da temperatura, contrasta com a latitude,
como falamos anteriormente no curso, é provável que a corrente de jato exiba meandros mais
amplos a norte e a sul. E onde se obtém esses grandes picos e vales no jato enquanto ele
atravessa a América do Norte ou a Europa, obtém-se um clima incomum.

À medida que a corrente de jato diminui, esses eventos climáticos incomuns, sejam eles eventos
de alta pressão que causam calor, seca e incêndios florestais, ou baixa pressão que produz
chuvas, esses regimes climáticos tendem a persistir por períodos mais longos, e é isso o que
oferecem esses extremos climáticos verdadeiramente sem precedentes, como vimos no verão
de 2018.
As simulações do modelo climático sugerem que as condições que levam ao comportamento
desse fluxo de jato no verão, provavelmente aumentarão no futuro. Significando mais desses
verões extremos como vimos em 2018 e, é claro, em 2003, com a onda de calor europeia sem
precedentes de 2010, com os incêndios florestais de Moscovo, 2011, com as ondas de calor do
Texas e Oklahoma e a seca, 2016, com os incêndios de Alberta.
Prevê-se que esses eventos climáticos extremos do verão se tornem ainda mais comuns no
futuro devido a essa tendência para extremos climáticos mais persistentes associados à resposta
da corrente de jato ao aquecimento global.
Esse efeito ainda não é bem capturado na maioria das simulações de modelos climáticos que
são usadas para projectar mudanças futuras em eventos climáticos extremos, que precisam ser
lembradas quando tentamos avaliar a forma de como esses eventos aumentarão no futuro.
Readings for Module 6
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IPCC 2014: Topic 2: Future Climate Changes, Risk and Impacts Section 2.2

Citation: IPCC, 2014: Climate Change 2014: Synthesis Report. Contribution of


Working Groups I, II and III to the Fifth Assessment Report of the
Intergovernmental Panel on Climate Change [Core Writing Team, R.K. Pachauri
and L.A. Meyer (eds.)]. IPCC, Geneva, Switzerland, 58-64.

The Weather Amplifier

Citation: Mann, M. E. (2019, March). The Weather Amplifier: Strange waves in


the jet stream foretell a future full of heat waves and floods. Scientific American,
pp. 43-49.
Impactos das mudanças climáticas: O futuro para as pessoas e
para o planeta

11.1 Feedabacks do ciclo de carbono


Exame dos diferentes ciclos de feedback de carbono no sistema climático da Terra.

Este próximo módulo trata de impactos climáticos, e isso pode incluir os impactos em seres
humanos e na civilização humana, mas também noutros sistemas, noutros seres vivos e, no
nosso meio ambiente.
Conversamos num módulo anterior sobre o conceito de feedbacks do ciclo do carbono. A fracção
aérea de CO2 na atmosfera, aumentou apenas para metade do que deveria ter, considerando
as emissões que adicionamos através da queima de combustíveis fósseis, desmatamento e
outras atividades humanas.
Sabemos que o CO2 deve estar a ir algum lugar, ou seja, deverá estar a ser absorvido por outros
subsistemas do clima: o oceano, o solo e a vegetação em particular. De facto, o carbono está a
ser absorvido por vários reservatórios existentes no ciclo global do carbono. Apenas 55% do
carbono emitido apareceu na atmosfera.

Enquanto cerca de 30 a 35% parecem estar a ir para os oceanos e, outros 15 a 20% para a
biosfera terrestre. Por um lado, isto pode parecer uma boa notícia o facto de parte desse carbono
não se está a acumular na atmosfera, está a ser absorvido por esses subsistemas, mas o
problema é que esse padrão de comportamento pode não continuar.
Não há garantia de que o oceano e a biosfera terrestre continuem a ser capazes de absorver a
mesma fracção das emissões de carbono ao longo do tempo e, isso nos leva a uma discussão
sobre os chamados feedbacks do ciclo do carbono. Se considerarmos os oceanos, há vários
factores que podem levar à diminuição da captação de carbono com o passar do tempo.
Como uma lata quente de coca cola que perde sua carbonatação quando você a aquece e
remove a parte superior, a solubilidade do CO2 do oceano diminui à medida que o oceano
aquece.
Quando observamos a captação de carbono no oceano, vemos que uma das principais regiões
de captação é o Atlântico Norte. Isto é em parte devido à formação de carbono enterrando-o nas
águas profundas na região.

Num cenário que exploramos anteriormente, a circulação oceânica da correia transportadora


provavelmente está a enfraquecer.
Isso poderia eliminar um dos principais mecanismos de enterramento de carbono no oceano e
permitir que o CO2 se acumulasse mais rapidamente na atmosfera. Por outro lado, a
produtividade biológica da zona de ressurgência, dessa região no Pacífico equatorial oriental e
central, é uma fonte líquida de carbono para a atmosfera dos oceanos.
Condições mais semelhantes ao El Niño no futuro poderiam suprimir essa fonte de carbono, mas
mais condições leves de El Niño poderiam aumentar essa fonte, acelerando ainda mais a
acúmulação de CO2 na atmosfera.
É provável que essa absorção diminua ao longo do tempo, produzindo um retorno líquido positivo
desequilibrado do ciclo do carbono.
Á medida que o CO2 se acumula na atmosfera e parte desse CO2 se difunde no oceano, ele
está literalmente acidificando o oceano. Isso por vezes chama-se de acidificação do oceano e,
às vezes, é considerado o gêmeo maligno das mudanças climáticas, porque é outra
consequência negativa no nosso meio ambiente da queima de combustíveis fósseis e da
acúmulação de CO2 na atmosfera.

Alguns desses feedbacks do ciclo do carbono estão relacionados com o fenómeno da


acidificação dos oceanos, e para ser específico sobre o que é a acidificação dos oceanos, é que
o aumento de CO2 na atmosfera leva a mais CO2 dissolvido no oceano e isso assume a forma
do íon bicarbonato.

Outros feedbacks do ciclo do carbono oceânico estão relacionados com esse fenómeno de
acidificação oceânica, que está associado especificamente ao aumento da concentração do íon
bicarbonato no oceano, à medida que o CO2 atmosférico se difunde no oceano.
Por um lado, esse processo interfere na produtividade do esqueleto de calcita, formando
organismos oceânicos, como o zooplâncton, que enterra seus esqueletos de carbonato de cálcio
no fundo do mar quando morrem. Essa bomba de carbono oceânica é um mecanismo chave
pelo qual o oceano enterra carbono absorvido da atmosfera em longas escalas de tempo.
Portanto, qualquer diminuição na eficácia da bomba de carbono do oceano representaria um
feedback positivo do ciclo do carbono, aumento da acumulação de CO2 na atmosfera.
Por outro lado, uma vez que a calcificação dos organismos liberta CO2 à medida que constroem
seus esqueletos de carbonato, uma diminuição na produção de calcita por esses organismos
reduzirá o CO2 a um feedback negativo do ciclo do carbono.
Então, claramente, mais uma vez estamos a lidar com a incerteza, há uma certa incerteza na
medida em que algumas dessas retroalimentações positivas e negativas do ciclo do carbono
podem ser realizadas, mas historicamente vimos que a incerteza não é nossa amiga.
À medida que aprendemos mais sobre o sistema, descobrimos frequentemente que ele é mais
sensível à queima de combustíveis fósseis e que as mudanças podem ser maiores do que a
ciência sugeria há alguns anos.
Existem vários outros feedbacks do ciclo do carbono que se aplicam à biosfera terrestre, e que
variam de um feedback negativo forte a um feedback positivo forte.
Entre eles estão:
A) terras mais quentes aumentando a actividade microbiana e solos que libertam CO2 na
atmosfera, pequeno feedback positivo.

B) aumento da produtividade da planta devido a maiores níveis de CO2, potencialmente forte


feedback negativo.
Finalmente, há um feedback negativo sobre o desgaste das rochas de silício, que sabemos ser
um regulador muito importante dos níveis atmosféricos de CO2 em escalas de tempo geológicas
muito longas.
Em resumo, um clima mais quente, com seu ciclo hidrológico mais vigoroso, leva a um aumento
do tempo físico e químico, que é o processo de remover o CO2 da atmosfera, reagindo-o com
as rochas.
Isso ocorre através da formação de ácido carbônico, que dissolve as rochas de silicato,
produzindo sais dissolvidos que escorrem pelos sistemas fluviais, chegando aos oceanos e
depositando-se no fundo do oceano.
Embora cada um desses feedbacks potenciais do ciclo do carbono seja incerto em magnitude e
até sinal em alguns casos, veja as várias barras coloridas na figura em baixo.
O resultado líquido de todos esses feedbacks parece ser um feedback positivo positivo do ciclo
do carbono, ou seja, no geral, isso provavelmente aumentará a acúmulação de CO2 na
atmosfera e o aquecimento adicional.

Existem outros potenciais feedbacks positivos do ciclo do carbono que são ainda mais incertos,
mas que podem ser consideráveis em magnitude. Entre eles estão feedbacks de metano
relacionados à possível libertação de metano congelado atualmente preso no gelo do permafrost
do Ártico e nos chamados clatratos8, uma forma cristalina de metano encontrada em abundância
nas prateleiras continentais dos oceanos.
Isso poderia ser desestabilizado pelo aquecimento modesto do oceano. Como o metano é um
gás de efeito estufa muito potente, essas libertações de quantidades potencialmente grandes de
metano na atmosfera podem ampliar ainda mais o aquecimento do efeito estufa e as mudanças
climáticas associadas.
A principal implicação potencial de um feedback positivo positivo do ciclo do carbono é que as
projecções atuais do aquecimento futuro podem realmente subestimar o grau de aquecimento
esperado de um determinado caminho das emissões de carbono. Voltamos novamente às
ameaças inerentes à incerteza.

8
Um Clatrato é um composto de inclusão, no qual moléculas de uma substância são confinadas em
cavidades formadas pela molécula hospedeira
Ecossistemas e biodiversidade

11.1 O aumento do nível do mar e os impactos costeiros


Explicando o impacto que os diferentes níveis de elevação do nível do mar teriam sobre pessoas
e sociedades em todo o mundo.

Vamos agora começar a falar sobre alguns dos impactos humanos nas mudanças climáticas.
E, talvez não exista impacto maior do que o impacto do aumento do nível do mar.
Projeta-se que o nível do mar suba potencialmente até dois metros, seis a oito pés no próximo
século, e talvez até os cinco metros, mais de 20 pés por volta de 2300, dada a queima habitual
de combustíveis fósseis.
Cenários como dez metros de elevação do nível do mar não estão fora de alcance, por exemplo,
se o lençol de gelo da Antártica Ocidental colapsar mais abruptamente do que o indicado pelas
estimativas incertas do modelo actual.
Os impactos do aumento do nível do mar serão sentidos de maneira diferente pelas diferentes
nações e regiões.
Para países insulares de baixa altitude, como as Maldivas, o Bangladesh ou os Países Baixos
(Holanda) na Europa, mesmo os cenários de elevação do nível do mar inferiores representam
uma ameaça distinta.
De facto, algumas nações insulares como Tuvalu e Kiribati e partes do Alasca já fizeram planos
de contingência para a evacuação.
Mesmo um aumento moderado do nível do mar, muito menos que um metro, pode levar a
aumentos significativos na erosão costeira e a muitos outros problemas, como a intrusão de água
salgada no abastecimento de água doce, já que a água salina penetra cada vez mais no interior
através de estuários e afluentes que contaminam os ecossistemas de água doce e os aquíferos
com base no fornecimento de água doce.
Vemos isso a acontecer regularmente já em lugares como Miami.
Mesmo um aumento moderado do nível do mar seria problemático.
Por outro lado, é projectado um aumento muito maior do nível do mar, de 1 a 5 metros, ao longo
dos próximos dois séculos, considerando as emissões normais actuais.
Com um metro de elevação do nível do mar, veríamos o desaparecimento de regiões mais
baixas, como a Costa do Golfo, incluindo as Florida Keys.
Com uma elevação de cinco a seis metros no nível do mar, veríamos a perda do terço sul da
Flórida e de muitas das principais cidades da Costa do Golfo e da costa leste dos EUA.
Com 10 metros de elevação do nível do mar, a cidade de Nova York ficaria submersa.
Muitas das outras maiores cidades costeiras do mundo, como Rio de Janeiro, Xangai e Sydney,
também seriam inundadas.
Existem várias maneiras diferentes de medir os impactos da elevação do nível do mar. Pode-se
medir o custo do aumento do nível do mar em termos de, por exemplo:
a) a perda de área terrestre, ou;
b) o dano à nossa economia, que é medido pelo produto interno bruto (PIB), ou;
c) o aumento de população impactada directamente pela inundação ou;
d) o aumento da erosão costeira, ou ainda;
e) indirectamente, por exemplo, pela intrusão de água salgada no suprimento de água
doce.
No cenário de 10 metros de elevação do nível do mar, não totalmente fora de questão numa
escala de tempo de alguns séculos, os custos globais, medidos por qualquer uma das métricas
acima, são bastante impressionantes.
Mais de 5.000 quilómetros quadrados de perda de terras costeiras, quase 3 trilhões de dólares
perdidos em termos de PIB e, mais de um terço de mil milhões de pessoas expostas a impactos
directos ou indirectos dessa elevação do nível do mar.
O custo para a civilização desses tipos de impactos é quase inimaginável. A boa notícia é que
ainda podemos evitar um futuro tão catastrófico, deixando as nossas emissões de carbono bem
abaixo da trajectória prevista, estabilizando-as abaixo de níveis que levarão a um aquecimento
do planeta de mais 2 graus.
Esses tipos de impactos, da elevação do nível do mar, transmitem o impacto catastrófico que a
queima de carbono, que vimos a fazer, teria e, leva à urgência de agir para evitar um futuro
catastrófico.
A boa notícia é que ainda há tempo para reduzir nossas emissões de carbono bem abaixo do
deste previsível cenário, o suficiente para mantermos o aquecimento do planeta abaixo dos 2
graus Celsius em relação à era pré-industrial, e assim evitarmos essas elevadas estimativas do
aumento do nível do mar.
Ecossistemas e biodiversidade

11.2 Ecossistemas e biodiversidade


Análise da extinção das diferentes espécies e ecossistemas, à medida que o aquecimento global
continua.

A mudança climática já está a ter um impacto demonstrável nos ecossistemas naturais, e isso é
particularmente evidente quando se olha para alguns nichos, por exemplo, para os ambientes
montanhosos e para latitudes elevadas, onde as espécies são altamente adaptadas às
condições climáticas passadas e foram extintas ou estão em processo de extinção, por causa
das condições climáticas que mudam rapidamente.
Um cartaz de propaganda sobre a extinção relacionada com as mudanças climáticas, talvez, seja
o do sapo de dourado. Este anfíbio magnífico já esteve em todas as zonas elevadas das florestas
sob as nuvens de Monteverde, na Costa Rica.

Descoberto pela primeira vez nos anos 60, este sapo parece ter sido extinto no final dos anos
80. Os cientistas Allan Pounds e seus colegas argumentaram que, o desaparecimento aconteceu
devido às mudanças climáticas associadas a uma seca a longo prazo, já que as nuvens sobre a
florestas foram elevadas a altitudes cada vez mais altas por uma atmosfera aquecida.
Outros cientistas observaram desde então que a influência das mudanças climáticas nesse
evento de extinção, provavelmente era um pouco mais subtil, tendo sido os surtos de um fungo
conhecido como Chytrid (A quitridiomicose é uma doença infecciosa fatal que afecta
os anfíbios), o factor imediato.
As condições de seca podem ter tornado o sapo dourado mais susceptível a esses surtos de
fungos.
Portanto, as extinções relacionadas com as mudanças climáticas não são apenas teóricas, já as
estamos a ver acontecer. Outro cartaz sobre a extinção é o do urso polar. Os ursos polares
exigem um ambiente de gelo marinho para caçar a sua principal fonte de alimento, que são as
focas.
É muito possível que, com um pouco mais de 1 grau Celsius de aquecimento, esse ambiente
desapareça essencialmente dentro do próximo século. Ou seja, haverá um período cada vez
mais longo sem gelo, da primavera ao outono, na maior parte da faixa do habitat dos ursos
polares. Isso significa que a estação em que os ursos polares podem caçar a sua principal fonte
de alimento está a ficar cada vez mais curta.
E, é claro, existem também os recifes de coral do mundo. Apesar de eles ocuparem menos de
0,1% dos oceanos do mundo, os recifes de coral abrigam 25% de todas as espécies marinhas,
constituindo uma importante reserva de biodiversidade marinha.

Os recifes de corais estão ameaçados pelos impactos conjuntos da queima de combustíveis


fósseis e pelo aquecimento das águas oceânicas que, levam a uma descoloração mais difundida
dos recifes de corais e à acidificação do oceano, que literalmente dissolve os recifes de coral,
tornando mais difícil para os corais formar seus esqueletos.
A descoloração dos corais e a acidificação dos oceanos estão a combinar-se com outras
ameaças aos recifes de coral, poluição, radiação ultravioleta, o esgotamento do ozono, são as
consequências de uma tempestade perfeita, que levam os cientistas a concluir que, se
continuarmos com o “business as usual”, o fim da maioria dos recifes de coral do mundo, será
uma questão de décadas. De facto, assistimos o desaparecimento de muitos dos recifes de coral
no Caribe e, com o último evento de descoloração, um evento que acontece já há vários anos
da Grande Barreira de Corais na costa da Austrália, noventa por cento dessa Grande Barreira
de Corais, a maior do mundo, os recifes de corais sofreram e, estão ameaçados de morte senão
houver recuperação. Estes são apenas alguns exemplos ilustrativos de uma ameaça muito mais
ampla, que a mudança climática representa para as espécies animais. É conveniente resumir os
impactos nas espécies animais nos ecossistemas e na biodiversidade, em termos de uma escala
que caracteriza o grau de perda de espécies, em função do aquecimento adicional. Já vimos que
os anfíbios, em particular, estão ameaçados pelo aquecimento global com menos de dois graus
Celsius de aquecimento adicional, podemos ver um desaparecimento generalizado de anfíbios
e, acima de 2 graus Celsius provocaremos uma perda de até um terço de todas as espécies.

Com três graus de aquecimento adicional, pudemos ter uma perda de 50% de todas as espécies
em todo o mundo. Com um aquecimento de quatro graus Celsius, esse aumento chega a 70%.
Isto levou alguns cientistas a afirmar que agora estamos a causar o sexto grande evento de
extinção na história geológica.
Ecossistemas e biodiversidade

10.3 Transferência de recursos hídricos e alimentares


Examinando o efeito do excesso e da falta de água como resultado das mudanças climáticas.

A água é essencial para a vida e, é essencial para a civilização humana. Muita ou pouca água é
um problema.
As mudanças climáticas podem ironicamente dar-nos os dois. A maior ameaça é a incerteza dos
padrões de precipitação cada vez mais irregulares e mutáveis.
Em algumas regiões, como o deserto a sudoeste dos EUA, as mudanças climáticas ameaçam
reduzir a disponibilidade de água doce devido à diminuição das chuvas no inverno e, à queda de
neve que alimentam os principais reservatórios durante o escoamento da primavera.
As projecções actuais são de que o lago Powell, que fornece ao sul de Nevada e grande parte
de seu abastecimento de água doce, pode secar numa questão de décadas extrapolando as
tendências recentes de seca.
Essas reduções no suprimento de água, estão em rota de colisão com as tendências
demográficas, à medida que, centros populacionais como Las Vegas e Phoenix continuam a
expandir-se.
Cenários semelhantes provavelmente ocorrerão no sul da Europa, no Mediterrâneo, no Médio
Oriente, no sul da África e em certas partes da Austrália.
Enquanto isso, outras regiões estão habituadas a receber muita água.
O Bangladesh, já ameaçado pelo aumento do nível do mar, provavelmente verá um aumento
nas inundações devido às intensas chuvas esperadas com uma atmosfera mais quente e
húmida.
Em Veneza, já neste último ano de 2019, vimos as águas subirem até 1,86 metros de altura com
as chuvas torrenciais que atingiram Itália de norte a sul, deixando 80% da cidade inundada.
Desde 1996 que o nível da água não subia assim tanto.
A mudança climática provavelmente desafiará a segurança alimentar global, a situação é
complicada. As estações de crescimento mais longas nas latitudes do Norte podem ser
favoráveis ao cultivo, mas, ao mesmo tempo, eventos climáticos mais extremos podem danificar
as culturas e levar à interrupção dos sistemas de distribuição de alimentos.
Mesmo o aquecimento moderado provavelmente levará a reduções substanciais na
produtividade das principais culturas de cereais cultivadas nos trópicos como o arroz, trigo, sorgo
e milho.
Essas culturas estão a crescer à temperatura ideal e qualquer aquecimento levará a reduções
substanciais no seu rendimento. Juntando a isto tudo está o impacto directo do aumento nas
concentrações ambientais de CO2.
Existem evidências empíricas de que o impacto da chamada fertilização com CO2 também pode
levar a aumentos de produtividade. As plantas necessitam de CO2 para a fotossíntese, portanto,
na medida em que o CO2 é um factor limitante no crescimento da colheita de cereais, o aumento
dos níveis de CO2 pode aumentar a produtividade, mas existem factores adicionais que podem
atenuar esse efeito.
Grandes partes dos continentes tropical e subtropical estão habituados a ver os solos secos
como resultado do aquecimento antropogénico. Uma excepção é a África equatorial central e
oriental, mas há pouco consenso entre os modelos.
Para absorver CO2 para fins de fotossíntese, as plantas devem manter os estômatos abertos,
mas, ao mesmo tempo, isso aumenta a perda de humidade por evapotranspiração, o que é um
problema, pois as condições tornam-se mais secas e a própria água torna-se um factor limitante.
De facto, qualquer aumento no stresse hídrico poderia facilmente compensar os benefícios de
períodos de crescimento mais longos em regiões extratropicais. A evidência geral quando
fazemos simulações de modelos climáticos e as usamos para orientar modelos de culturas é
que, nas regiões extratropicais, com épocas de crescimento potencialmente mais longas,
poderíamos ver um aumento da produtividade agrícola, mas veremos quedas substanciais nas
regiões tropicais.
Um padrão semelhante é válido para o gado, uma vez que a produção depende do stock de
alimentos e da produtividade agrícola. Para um aquecimento superior a 3 graus Celsius,
começamos a ver acentuadas reduções nos rendimentos agrícolas globais.
Algumas das limitações dessas projecções devem, no entanto, ser lembradas, elas podem ser
excessivamente optimistas, porque na verdade não são responsáveis por outros impactos das
mudanças climáticas potencialmente prejudiciais, como a diminuição do suprimento de água
doce para irrigação, eventos climáticos severos, como as catastróficas Inundações no Paquistão
e incêndios na Rússia em 2010, ou os eventos climáticos extremos sem precedentes que
ocorreram no verão de 2018 em todo o hemisfério norte, destruindo plantações e interrompendo
os sistemas de distribuição de alimentos.
De facto, alguns desses eventos climáticos extremos foram responsabilizados por picos recentes
nos preços globais de alimentos. O impacto das mudanças climáticas em eventos climáticos
extremos é uma carta importante e desconhecida. Isso poderia levar-nos a perdas muito mais
acentuadas da produtividade agrícola e pecuária, além de complicar ainda mais a nossa
capacidade para distribuir alimentos em todo o mundo.
Ecossistemas e biodiversidade

11.4 Impactos na saúde humana


Evidências de como as mudanças climáticas podem afectar a saúde e as doenças de forma global,
com foco no movimento de doenças tropicais para zonas não tropicais, à medida que a Terra
aquece.

É provável que as mudanças climáticas impactem a saúde humana de várias maneiras.


Por um lado, podemos esperar uma diminuição da mortalidade devido ao frio extremo, mas por
outro lado, assistiremos a um aumento dramático do calor extremo e das ondas de calor.
Jovens e idosos, bem como os pobres, que têm menos probabilidade de ter acesso ao ar
condicionado moderno, por exemplo, estão em maior risco.
O evento da onda de calor sem precedentes na Europa no verão de 2003, onde mais de 30 mil
vidas foram perdidas, é um possível prenúncio do impacto de futuras ondas de calor mais
frequentes e intensas e, em menor grau, do mesmo modo que as ondas de calor europeias de
2006, 2010 e na América do Norte 2006 e 2010.
Além disso, os tipos de eventos climáticos extremos que vimos nos últimos verões,
particularmente no verão de 2018, ondas de calor sem precedentes, incêndios florestais e
inundações, levarão à perda de milhares de vidas.

Também agora, e já depois da enorme vaga de incêndios na Amazónia, provocados ou não pelo
homem, no final do ano de 2019, assistimos todos horrorizados à enorme vaga de calor do verão
Australiano que conduziu aos maiores incêndios de que há memória, com enormes perdas de
vidas e de bens materiais com mais de 8 milhões de hectares destruídos em todo o país, cerca
de 5 milhões são de terras do estado tendo morrido desde de setembro até dezembro de 2019,
cerca de 24 pessoas.

Pesquisadores da Universidade de Sydney estimaram que mil milhões de animais morreram em


incêndios em todo território.
O ataque sem precedentes do furacão Maria, em Porto Rico, no outono de 2017, levou a milhares
de vidas perdidas.
Outros extremos climáticos podem ter impactos na saúde humana, em alguns casos, sob a forma
de danos físicos e de perda de vidas devido a furacões, como é óbvio.

Mas existem muitos outros exemplos. Eventos intensos de chuvas que levam a inundações e
que podem causar danos físicos ou criar condições que favorecem a propagação de várias
doenças.
As condições de seca representam uma ameaça óbvia limitando o fornecimento de água doce,
mas também podem favorecer o aparecimento de doenças e a desnutrição. Mais uma vez, os
impactos caem desproporcionalmente sobre os pobres que são menos capazes de pagar água
potável, electricidade e cuidados de saúde modernos.
Também é provável que a mudança climática leve à disseminação de vários tipos de doenças
infecciosas. Muitas dessas doenças são disseminadas pelos chamados vectores, pragas, como
insectos e roedores, capazes de espalhar a doença por toda parte.
Em muitos casos, o intervalo dos vectores é determinado pelo clima. Doenças como a febre do
Nilo Ocidental e a malária, por exemplo, são transmitidas por mosquitos. As regiões temperadas,
com a destruição da sua fina camada de gelo são, portanto, são relativamente inóspitas à
doença, pois interrompem o ciclo de vida do vector e, portanto, a própria doença.
À medida que o planeta aquece e as regiões frias recuam na direcção oposta, podemos esperar
que as regiões onde a doença está actualmente, classificada como doença tropical, sejam
endêmicas e se espalhem bem para além dos trópicos.
O surto do vírus do Nilo Ocidental no estado de Nova York em 2005, por exemplo, aconteceu
provavelmente devido a um inverno excepcionalmente quente, que permitiu que os mosquitos
persistissem durante grande parte do ano.
O aquecimento do nordeste dos EUA nos últimos anos também levou à expansão da doença de
Lyme. Algumas pesquisas em curso envolvem o impacto das mudanças climáticas na malária.
O problema é complicado, em parte porque não são apenas as temperaturas médias que
determinam a rapidez com que o parasita da malária se pode reproduzir, acontece que há uma
dependência limiar da temperatura. O parasita da malária reproduz-se a uma taxa
exponencialmente maior acima de um determinado limiar de temperatura, aproximadamente
vinte graus Celsius.
É por isso que as cidades africanas tropicais das montanhas, como Nairóbi, com uma altitude de
quase cinco mil pés e uma temperatura média anual de 19 graus Celsius, geralmente estão livres
de malária, mesmo quando as regiões vizinhas das planícies precisam de enfrentar a doença.
Essa dependência limiar da temperatura, também implica que não se deve considerar apenas
as temperaturas médias, mas também a variabilidade das temperaturas para avaliar possíveis
impactos na propagação da malária.
À medida que as temperaturas aumentam, a isoterma (linha que, num mapa meteorológico,
indica as regiões que têm a mesma temperatura) de vinte graus Celsius sobe e logo Nairobi não
estará imune aos impactos da malária, uma população muito grande de pessoas na África terá
que enfrentar essa doença.
Em resumo, os impactos das mudanças climáticas na saúde provavelmente incluirão, o aumento
da mortalidade devido a ondas de calor mais frequentes e intensas, o aumento da propagação
de doenças por inundações e secas mais difundidas, ameaças à saúde e à vida por danos
causados por tempestades e, a propagação de doenças tropicais com temperaturas mais
quentes.
Ecossistemas e biodiversidade

11.1 Preocupações de segurança


Analisar o impacto que as mudanças climáticas têm e terão sobre as questões de segurança
nacional. Focando-se nas novas linhas costeiras, novas rotas de navegação, refugiados e
terrorismo, tudo isso como resultado ou em parte, devido às mudanças climáticas.

Dada a feroz competição por recursos, que são limitados, seja comida, água, terra etc., é
razoável concluir que as mudanças climáticas podem desafiar a segurança nacional e
internacional.
Um tema recorrente e, a discussão dos impactos na segurança nacional, são as possíveis
implicações militares da retirada do gelo do mar Ártico. Nos últimos anos, a mítica Passagem
Noroeste finalmente abriu-se de maneira semi-regular, ou seja, agora é possível, durante parte
do ano, navios e submarinos viajarem desimpedidos do mar labrador através do Oceano Ártico
para o Oceano Pacífico.
À medida que a trajectória do recuo do gelo marinho continua e, os canais abertos se ampliam e
se aprofundam, provavelmente será possível que grandes embarcações, navios e submarinos
militares façam essa rota.
Isso terá implicações profundas para a segurança nacional. De repente, as várias nações
limítrofes do Oceano Ártico competirão e defenderão uma nova costa do Ártico contra possíveis
invasões e ataques militares.
Outros cenários envolvem o princípio de que, um conflito crescente entre nações e culturas, pode
surgir dos chamados refugiados ambientais, pessoas que fogem de regiões que já não são mais
adequadas para habitação, para outras regiões actualmente ocupadas, aumentando assim a
competição por recursos.
À medida que partes da África subsaariana como o Senegal se tornam muito secas e inóspitas
para a agricultura de subsistência, por exemplo, conduz a uma enxurrada de refugiados fugindo
desse meio ambiente, para o sul menos árido como o Gana.
Outro cenário é o de as populações extremamente grandes do interior da Nigéria, impulsionadas
pelas condições de seca, fugirem para a megacidade de Lagos, ao sul, onde há uma competição
ainda maior por recursos alimentares e hídricos.
Acrescentando a esta mistura incendiária estão as escaramuças que podem surgir entre grupos
e indivíduos que lutam pelos últimos restos das reservas de petróleo desaparecidas do Delta do
Rio Níger e, o favoritismo e a corrupção política que podem ocorrer.
Considere também o impacto de um Médio Oriente cada vez mais seco. Alguns argumentam que
a competição por recursos hídricos escassos ao longo dos anos, foi o que impulsionou em grande
parte o conflito no Oriente Médio, incluindo os eventos da Primavera Árabe de 2010, e continuará
a partir da crise síria de 2018. Esses eventos também têm implicações para o terrorismo
internacional.
A Síria, por exemplo, está a enfrentar a pior seca em pelo menos 900 anos, de acordo com
evidências paleoclimáticas, e essa seca obrigou os agricultores rurais a ir para as cidades onde
agora estão a competir por comida, água e espaço com as pessoas que já lá habitam.
Isso leva ao aumento da concorrência e dos conflitos. E esse ambiente de conflito tem sido usado
como uma ferramenta de recrutamento muito eficaz para organizações terroristas como o ISIS
ou Daesh, que exploram os impactos dessa seca.
Alguns argumentam que deveríamos concentrar-nos menos nas mudanças climáticas e mais em
questões como o terrorismo global.
Bem, esse tipo de argumento envolve uma falácia profunda, porque, como vimos, o impacto das
mudanças climáticas tem implicações directas na competição por recursos, conflitos e até
mesmo no terrorismo global.
Em resumo, os impactos da mudança climática na segurança nacional incluem a necessidade
de defesas nacionais adicionais, à medida que novas rotas e novas linhas costeiras se abrem
como resultado da diminuição do gelo do mar do Ártico e do aumento do conflito decorrente da
competição entre nações e grupos pela diminuição de terras, alimentos e recursos hídricos.
Ecossistemas e biodiversidade

11.6 Pontos de viragem


Análise dos diferentes pontos de inflexão planetária das mudanças climáticas, como o
derretimento permanente das camadas de gelo continentais.

Encerraremos a nossa discussão sobre a ciência das mudanças climáticas com a discussão dos
chamados pontos críticos.
Os pontos de inflexão são importantes porque representam possíveis respostas limiares às
forças climáticas, como o aumento das concentrações de gases de efeito estufa.
Embora muitos dos impactos das mudanças climáticas que observamos, como os aumentos na
temperatura da superfície, sejam projectados para acompanhar o aumento das concentrações
atmosféricas de CO2 de uma maneira contínua relativamente suave, existem outras respostas
que podem ser mais abruptas.
Basta apenas uma pequena quantidade de aquecimento e, alguns dos componentes do sistema
climático mudam abruptamente para outro regime. Vimos um exemplo desse tipo de
comportamento na nossa discussão, no início do curso, sobre o papel do feedback do albedo de
gelo na evolução a longo prazo do clima da Terra e, de como o sistema climático da Terra pode
ter vários estados estacionários para uma determinada quantidade de radiação de energia solar
recebida.
Outro exemplo, relacionado com isso, é o que acontece com as camadas de gelo continentais
quando se começa a derretê-las, a camada de gelo da Groenlândia e a camada de gelo antártica,
que quando se começa a derreter o gelo, esses feedbacks positivos entram em acção, então
temos prateleiras de gelo que começam a entrar em colapso, temos penhascos de gelo que
começam a aparecer no oceano, e logo o processo alimenta-se a si próprio, acelera e é difícil
impedi-lo ou pará-lo.
Mesmo que se traga os níveis de CO2 de volta aos níveis pré-industriais, não se interromperá o
derretimento das camadas de gelo e isso resultará em dezenas de metros de aumento global do
nível do mar.
Outro exemplo que vimos foi a desaceleração da circulação da correia transportadora oceânica.
Depois que se derrete o gelo suficiente e de ele fluir para o Atlântico Norte e arrefecer essas
águas, esse padrão de circulação oceânica entra potencialmente em colapso e não há como
recuperá-lo, pelo menos nas escalas de tempo humanas.
Alguns pontos potenciais de inflexão no sistema climático estão relacionados, por exemplo, com
o fenómeno ENSO, o fenómeno El Niño. Dada a física complicada que descreve o El Niño, é
possível que mesmo uma quantidade adicional modesta de aquecimento possa mudar
fundamentalmente o regime do comportamento do ENSO e todos os impactos globais que isso
causa.
Além disso, sistemas como a monção de verão indiana, são muito sensíveis a modestas
mudanças no clima e, poderíamos potencialmente desligar esse componente crítico do sistema
climático que fornece abastecimento de água a milhões de pessoas no mundo.
Como uma bola de neve descontrolada numa colina, esses pontos de inflexão levam a mudanças
no sistema climático que não podemos reverter nas escalas de tempo humanas.
Por vezes, isso é comparado com um penhasco, do qual caímos após uma certa quantidade de
aquecimento. Com dois graus de aquecimento, cai-se do penhasco e, todos esses pontos de
inflexão entram em acção e, depois, não há como revertê-los.
Na realidade, não sabemos onde estão os diferentes pontos de inflexão, o colapso da circulação
termoalina, o compromisso com o derretimento de toda a camada de gelo da Antártica Ocidental,
apenas sabemos que esses pontos de inflexão estão lá, como minas num campo minado e, a
única estratégia sensata é não avançar demais nesse campo minado para que não comecemos
a desencadear cada vez mais essas mudanças irreversíveis e verdadeiramente catastróficas no
sistema climático.
Readings for Module 7
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IPCC 2014: Topic 2: Future Climate Changes, Risk and Impact

Citation: IPCC, 2014: Climate Change 2014: Synthesis Report. Contribution of


Working Groups I, II and III to the Fifth Assessment Report of the
Intergovernmental Panel on Climate Change [Core Writing Team, R.K. Pachauri
and L.A. Meyer (eds.)]. IPCC, Geneva, Switzerland, 64-74.

National Climate Assessment: Chapter 11: Built Environment, Urban Systems,


and Cities

Citation: Maxwell, K., S. Julius, A. Grambsch, A. Kosmal, L. Larson, and N.


Sonti, 2018: Built Environment, Urban Systems, and Cities. In Impacts, Risks,
and Adaptation in the United States: Fourth National Climate Assessment,
Volume II [Reidmiller, D.R., C.W. Avery, D.R. Easterling, K.E. Kunkel, K.L.M.
Lewis, T.K. Maycock, and B.C. Stewart (eds.)]. U.S. Global Change Research
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National Climate Assessment: Chapter 14: Human Health

Citation: Ebi, K.L., J.M. Balbus, G. Luber, A. Bole, A. Crimmins, G. Glass, S.


Saha, M.M. Shimamoto, J. Trtanj, and J.L. White-Newsome, 2018: Human
Health. In Impacts, Risks, and Adaptation in the United States: Fourth National
Climate Assessment, Volume II [Reidmiller, D.R., C.W. Avery, D.R. Easterling,
K.E. Kunkel, K.L.M. Lewis, T.K. Maycock, and B.C. Stewart (eds.)]. U.S. Global
Change Research Program, Washington, DC, USA, pp. 572–603. doi:
10.7930/NCA4.2018.CH14

National Climate Assessment: Chapter 8: Coastal Effects

Citation: Fleming, E., J. Payne, W. Sweet, M. Craghan, J. Haines, J.F. Hart, H.


Stiller, and A. Sutton-Grier, 2018: Coastal Effects. In Impacts, Risks, and
Adaptation in the United States: Fourth National Climate Assessment, Volume
II [Reidmiller, D.R., C.W. Avery, D.R. Easterling, K.E. Kunkel, K.L.M. Lewis,
T.K. Maycock, and B.C. Stewart (eds.)]. U.S. Global Change Research
Program, Washington, DC, USA, pp. 322–352. doi: 10.7930/NCA4.2018.CH8

Climate Change and Global Food Systems: Potential Impacts on Food Security and
Undernutrition

Citation: Myers, S. S. (2017). Climate Change and Global Food Systems: Potential Impacts
on Food Security and Undernutrition. Annual Review of Public Health, 38(1), 259-277. doi:
10.1146/annurev-publhealth-031816-044356
Qual o caminho a seguir?

12.1 Geo-engenharia: A perspectiva dos cientistas – Parte 1


Considerar medidas específicas de geoengenharia como formas de mitigar as mudanças climáticas.
Duas medidas focadas são: captura e sequestro de carbono e a sua captura directa de ar.

Então agora que já está preparado e com uma melhor compreensão da ciência por trás das
mudanças climáticas, a próxima pergunta é:
O que é que fazemos?
A resposta está na mitigação que, simplesmente, está a tentar fazer algo sobre o problema.
Fundamentalmente, existem duas formas diferentes de mitigação que foram amplamente
discutidas. São elas a geo-engenharia e a redução de emissões de carbono. Começaremos com
a geo-engenharia e uma análise rápida das suas várias formas.
A geo-engenharia é a manipulação intencional do nosso ambiente à escala global. Os impactos
antropogénicos no nosso clima, portanto, não se qualificam como geo-engenharia, porque a sua
intenção não é mudar nosso clima.
A mudança climática foi uma consequência não intencional da queima de combustíveis fósseis.
A geo-engenharia neste momento ainda é amplamente teórica, no sentido de que não foi
implantada à escala global, o que seria necessário para ter um impacto substancial no clima,
mas já existem provas deste conceito.
Houveram demonstrações ou esforços para demonstrar que estes esquemas poderiam ser
viáveis. O primeiro exemplo sobre o qual falaremos é sobre captura e sequestro de carbono, ou
CSC.
Alguns argumentam que isso nem sequer é geo-engenharia, é uma forma diferente de mitigação,
mas vamos tratá-lo como uma questão de geo-engenharia, e é sem dúvida um dos mais seguros
dos esquemas de geo-engenharia propostos, pelo menos aquele que é menos intrusivo em
relação ao sistema Terra.
A principal ideia por trás da CSC é impedir que o carbono libertado pela queima de combustíveis
fósseis entre na atmosfera.
Em princípio, isso permitiria a geração de energia a partir da queima de combustíveis fósseis
como o carvão, com zero ou pelo menos quase zero emissões de carbono.
Uma das limitações é que a CSC só pode ser feita no local da queima de combustíveis fósseis.
Isso só pode ser feito, por exemplo, numa central a carvão e, de facto, a geologia, as condições
e muitos outros factores locais, precisam ser conducentes ao enterro de carbono sob a superfície
da terra.

Portanto, não está claro que isso possa ser implementado à escala global, o que seria necessário
para fazer uma grande diferença.
A CSC só é económica apenas quando pode ser aplicada a grandes fontes pontuais.
No contexto da geração de energia, isso aplica-se quase exclusivamente a centrais a carvão.
No entanto, a CSC também pode ser usada para capturar e sequestrar emissões de carbono
resultantes de processos industriais, como a fabricação de aço e cimento, a refinação de petróleo
e fábricas de papel.
Houveram vários exemplos, ou provas de conceito, que demonstraram que isso pode ser feito,
mas, actualmente, o custo é proibitivo e, num momento em que o carvão já está a lutar para
competir com outras fontes de energia no mercado, não está claro que a queima de carvão com
a CSC, com os custos adicionais que a acompanham, possa ser competitiva contra, por exemplo,
novas fontes de energia renovável.
Outro tipo de geo-engenharia é a chamada captura directa do ar envolvente, ou em essência,
colocar o gênio de volta na garrafa.
Ao contrário da CSC, que tem como alvo as emissões de fontes pontuais importantes, como
centrais a carvão antes de este escapar para a atmosfera, neste caso, o CO2 já está na
atmosfera e, o objetivo é literalmente retirá-lo da atmosfera e enterrá-lo.
Uma maneira simples de fazer isso é cultivar mais árvores, plantar mais árvores, assim como o
desmatamento adiciona CO2 à atmosfera, o reflorestamento pode, em princípio, tirar CO2 da
atmosfera. Obviamente, as coisas nem sempre são tão fáceis quanto parecem.
Quando as árvores morrem, grande parte do carbono retorna à atmosfera quando o material
orgânico se decompõe. Embora o processo de sequestro de carbono por esta via seja incompleto
e ineficiente, há alguns outros problemas com esta abordagem.
O cultivo de mais árvores em regiões cobertas de neve sazonalmente extratropicais tem a
consequência não intencional de realmente aquecer o clima, diminuindo o inverno da Terra e o
albedo do início da primavera.
Existe um esquema proposto por Klaus Lackner, da Universidade Estadual do Arizona, que
envolve a fabricação de milhões de estruturas que podemos considerar árvores artificiais. E que,
tal como as árvores, retiram o CO2 da atmosfera, sendo muito mais eficientes e todo esse
carbono pode ser enterrado sob a superfície.
Actualmente, no entanto, o custo de fazer isto é proibitivo.
Existem outras maneiras muito mais baratas de lidar com as mudanças climáticas.
Indiscutivelmente, muito mais barato que essa tecnologia artificial seria o reflorestamento real.
Plantar árvores, particularmente em regiões tropicais desmatadas, o que seria bom para o meio
ambiente e, sem dúvida, para os ecossistemas do nosso meio ambiente.
No entanto, talvez tenhamos que considerar essa tecnologia como uma medida provisória se
outros esforços para mitigar a mudança climática não forem bem-sucedidos.
Ao limitar os níveis de carbono a níveis perigosos na atmosfera, poderemos ter que recorrer a
algo como a captura directa de ar como uma medida de recurso para impedir o aquecimento
catastrófico do planeta.
Qual o caminho a seguir?

12.2 Geo-engenharia: A perspectiva dos cientistas – Parte 2


Continuar a discussão sobre medidas específicas de geo-engenharia, com foco na gestão da
radiação solar e na fertilização com ferro dos oceanos.

A próxima categoria de geo-engenharia é o que às vezes é chamado de gestão da radiação


solar, que é realmente um eufemismo para bloquear parte da radiação de ondas curtas recebida
do Sol, para que não atinja e aqueça a superfície.
Uma das versões mais discutidas da gestão da radiação solar envolve imitar o que já vimos, uma
erupção vulcânica, fazer com o clima.
Tomemos, por exemplo, a erupção do Monte Pinatubo de 1991. Esta colocou grandes
quantidades de aerossol de sulfato na estratosfera, que ficou ali por vários anos, arrefecendo o
clima global em cerca de meio grau Celsius.
Se pudéssemos fazer o equivalente a detonar uma erupção do Monte Pinatubo
aproximadamente a cada três anos, isso forneceria forças radiativas negativas suficientes para
compensar amplamente o efeito do aquecimento de maiores concentrações de gases de efeito
estufa.
Portanto, pode parecer um esquema sensato, disparar grandes quantidades de aerossol de
sulfato na estratosfera com canhões e fazê-lo com frequência suficiente para termos
essencialmente o equivalente a uma erupção vulcânica perpétua, o suficiente para compensar o
efeito de aquecimento directo dos gases de efeito estufa através o aumento da radiação de ondas
longas que desce em direcção à superfície.
Em modelos muito simples, este jogo parece funcionar de maneira bastante simples, no entanto,
quando os cientistas realmente implementam esse tipo de esquema num modelo climático global
tridimensional totalmente acoplado, o que descobrimos é que o padrão de arrefecimento dos
aerossóis não se parecerá como a imagem que é dada do efeito de aquecimento dos gases de
efeito estufa, portanto, enquanto as temperaturas médias globais correctas podem permanecer
relativamente constantes, isso seria à custa de algumas regiões que aqueceriam ainda mais
rápido, enquanto outras regiões arrefeceriam.
Além disso, experiências de modelagem mostram que tenderíamos a arrefecer os continentes,
o que na realidade desaceleraria o ciclo hidrológico e levaria a menos chuvas e precipitações
nas regiões continentais, piorando a seca.
Também provavelmente agravaríamos o problema da chuva ácida e a destruição do ozono
através da influência química dessas partículas de enxofre na estratosfera.
Isso faz ressaltar o princípio das consequências não intencionais que acompanham a maioria
dos esquemas de geo-engenharia, ou seja, estamos a brincar com um sistema, o sistema
climático global que não entendemos perfeitamente, e é possível que, se implementarmos esses
esquemas, poderemos terminar ainda pior do que o que tínhamos antes.
Em certo sentido, viola o equivalente ao juramento médico de não causar danos. Se nos
envolvermos em alguns desses esquemas, como a gestão da radiação solar, poderíamos
realmente causar danos directos ao clima, além do aquecimento causado pela queima de
combustíveis fósseis e, pelo aumento do efeito estufa.
Finalmente, chegamos a um esquema conhecido como fertilização de ferro dos oceanos. Nesse
caso, o que se propõe é colocar nutrientes de ferro no oceano e, como esse é um nutriente
limitante para as algas em grande parte dos oceanos globais, no Oceano Atlântico Norte, em
particular, colocar ferro na parte superior do oceano poderia em essência fertilizar o oceano,
levando a uma maior actividade biológica.
O princípio aqui é que, em grande parte dos oceanos do mundo, a produtividade biológica é
limitada pela quantidade de nutrientes no alto oceano e, em particular, do ferro, portanto, se você
colocar ferro no alto oceano, poderá fertilizar a produção de algas fotossintéticas, algas que
retiram CO2 da atmosfera e são comidas por outros organismos que finalmente morrem e caem
no fundo do oceano, depositando esse carbono no fundo do oceano.
Neste caso, ao contrário da captura directa de ar, não estamos a trabalhar na parte de ondas
curtas do balanço de energia, o que tentamos fazer é reduzir a radiação de ondas longas
produzida pelo aquecimento da estufa, diminuindo o CO2 atmosférico.
Foram realizados vários testes para verificar se esse mecanismo é viável e, em geral, esses
testes revelam alguns problemas básicos nessa abordagem.
Um deles é que, quando os oceanos são fertilizados, pelo menos regionalmente, embora haja
algum aumento na produtividade das algas, o que acontece é que o carbono simplesmente
circula pelo oceano mais rapidamente, na verdade, não é depositado na água, no fundo do
oceano e, portanto, não está claro que haja exportação líquida de carbono da atmosfera para o
oceano e logo, para o fundo do mesmo, e seria caro implementá-lo em larga escala.
E, finalmente, há outras evidências de que, voltando ao princípio das consequências não
intencionais, a fertilização com ferro pode favorecer selectivamente certos tipos de algas nocivas,
como as que causam as marés vermelhas, um lembrete de que esse tipo de incerteza não é
nossa amiga e que, há um grande perigo na implementação de esquemas massivos de
intervenção planetária quando estamos a lidar com o único planeta que sabemos que nos pode
apoiar e apoiar outras vidas. Mais uma vez, vemos surgir o princípio das consequências não
intencionais.
Se implementássemos esse esquema, poderíamos acabar numa situação pior do que quando
começamos.
Quando se trata de intervenções à escala planetária num sistema, o sistema terrestre que não
entendemos perfeitamente, e que fornece o único lar para a vida que conhecemos no universo,
pode sempre dizer-se que a precaução deve ser o princípio dominante e, nesse caso, seria
imprudente implementar esse tipo de esquema sem conhecer toda a gama de consequências.
Então, o que é que a ciência nos diz sobre a geo-engenharia como um esquema potencial
para mitigar as mudanças climáticas?
Bem, como aprendemos, temos que respeitar o princípio das consequências não intencionais.
Com todos esses esquemas, existem possíveis consequências não intencionais que podem ter
implicações terríveis para nós e para o nosso meio ambiente.
Além disso, a noção de que uma solução para o problema das mudanças climáticas pode ser
simplesmente, envolver-se em intervenções adicionais à escala planetária com o sistema
terrestre, pode ser usada como uma desculpa para não se envolver no trabalho difícil, mas
essencial, de realmente baixar as nossas emissões de carbono e a depleção dos combustíveis
fósseis.
Portanto, se você está à procura de uma solução para o problema da mudança climática, a geo-
engenharia provavelmente não é a correcta.
Qual o caminho a seguir?

12.3 A Redução de emissões: O único caminho viável a seguir


Explicação sobre o porque é que a redução de emissões é o caminho a seguir para a redução das
mudanças climáticas.

Portanto, se concordarmos que a geo-engenharia, provavelmente, não é a abordagem


mais correcta para resolver o problema climático, então qual é?
Bem, em suma, é resolvendo o problema na fonte, impedindo a queima contínua de combustíveis
fósseis e outras atividades que estão a gerar grandes quantidades de gases de efeito estufa e
que estão a aquecer o planeta.
Este é um curso sobre a ciência das mudanças climáticas e, por isso, esse tem sido nosso foco
principal. Por outro lado, nenhuma discussão sobre mudança climática deve passar sem uma
consideração das todas as soluções.
Existem várias outras fontes, soluções e políticas, para aqueles que estão interessados em
aprender muito mais sobre o tema de mitigação das mudanças climáticas.
No entanto, queremos tentar pelo menos, fornecer um resumo básico dessas áreas, para que o
tratamento do tópico seja o mais abrangente possível.
Quando analisamos as várias fontes de emissão de gases de efeito estufa, vemos que a maior
parte delas, 2/3 das nossas emissões, provêm da queima de combustíveis fósseis para energia
e transporte.
O terço restante está distribuído entre várias áreas, incluindo agricultura e uso da terra, mas não
há soluções mágicas.

O carbono é gerado a partir de todas as atividades, de todos os sectores da sociedade, e


precisamos de nos concentrar em cada uma delas para reduzir as nossas emissões de carbono
aos níveis necessários para evitar um aquecimento catastrófico.
Portanto, vimos que as emissões de carbono são geradas a partir de actividades em todos os
sectores da sociedade humana. E, o que isso significa é que, qualquer solução para o problema
climático exigirá mudanças de comportamento na nossa sociedade.
Isso envolve acções individuais, mas também acções colectivas. Do ponto de vista individual, há
muitas coisas que podemos fazer para reduzir a nossa própria pegada de carbono. Em muitos
casos, essas acções são o que chamamos de acções sem arrependimento, ou seja, nunca nos
arrependeremos de as ter tomado.
São coisas que nos tornam mais saudáveis, economizam dinheiro e reduzem as nossas
emissões de carbono. Seja pedalar para ir trabalhar, em vez de ir de carro ou usar os transportes
públicos, reduzir as nossas viagens, alterar os nossos padrões alimentares para os tornar mais
amigos do carbono.

Há tantas coisas que podemos fazer nas nossas vidas diárias que reduzem a nossa pegada de
carbono individual. Por outro lado, os economistas entendem que, se quisermos ver uma
mudança de comportamento em larga escala, as acções voluntárias de indivíduos, por si só, não
conduzirão a uma mudança geral de comportamento, que desejamos ver.
Precisamos incentivar esse comportamento, precisamos de políticas que ajudem a afastarmo-
nos da queima de combustíveis fósseis em direcção a energias renováveis e a práticas mais
amigas do carbono em geral.
E para melhorar essas políticas, precisamos de políticos que estejam dispostos a fazer o que é
certo para nós, e não o que pode ser conveniente para os interesses especiais dos que financiam
as suas campanhas.

Podemos pressionar os nossos decisores políticos a apoiarem políticas que incentivem uma
mudança no consumo dos combustíveis fósseis e, existem muitas formas que podem ser
adotadas para tal, um imposto sobre o carbono, subsídios explícitos à energia renovável e, há
um debate político digno de ser realizado sobre quais as políticas que adoptamos, que devem
ser implementadas para realizar essa mudança dos combustíveis fósseis para as energias
renováveis.
Mas precisamos que os nossos decisores políticos representem os nossos interesses e não
outros interesses especiais.
E a maneira de fazermos isso é pressionando colectivamente os decisores políticos, votando nas
eleições, falando, participando de acções cívicas.
Façamos tudo o que podermos fazer para tentar garantir que as mudanças climáticas se tornem
o foco de nosso discurso político mais amplo.
Qual o caminho a seguir?

12.4 Conclusão: Um caminho de esperança


Conclusão do curso: Explicando porque é que deve haver esperança de que possamos enfrentar as
mudanças climáticas e, o que precisamos fazer para avançar.

Ok, e assim, chegamos ao final do curso.


Espero que agora tenha uma compreensão mais clara da ciência por trás das mudanças
climáticas.
Falamos sobre os princípios da ciência atmosférica e das complexidades do sistema climático.
Discutimos como os dados climáticos são recolhidos e as tendências que eles produzem.
Aprendemos como fazer cálculos básicos e a usar modelos teóricos do sistema climático para
abordar questões sobre futuras mudanças climáticas.
Exploramos os impactos de vários cenários de emissão de gases de efeito estufa. Mais
importante, vimos como as mudanças climáticas afectam as questões sociais, económicas e
ambientais mais amplas. Portanto, é fundamental entender a ciência das mudanças climáticas
para entender os riscos que enfrentamos e as acções que são necessárias.
Então, qual é o objetivo daquilo em que estamos a trabalhar?
Bem, como vimos a ciência, particularmente, a ciência dos impactos das mudanças climáticas,
diz-nos que, uma vez que aquecemos o planeta além de cerca de dois graus Celsius em relação
à era pré-industrial, é provável que vejamos as mudanças climáticas mais danosas e
potencialmente irreversíveis. Dois graus Celsius é provavelmente uma linha que não queremos
cruzar. Isso significa que, idealmente, as políticas devem ter como objetivo manter o aquecimento
abaixo daquele perigoso nível de aquecimento de dois graus Celsius.
O acordo de Paris, como discutimos anteriormente no curso, leva-nos a meio caminho de lá.
Isso leva-nos a meio caminho do aquecimento habitual do planeta, que nos conduz a um
aquecimento de quatro, cinco graus Celsius até o final do século, leva-nos a meio caminho para
estabilizar o aquecimento abaixo dessa marca de dois graus, o que significa que temos que ser
bons a estabelecer os compromissos de Paris e, os países do mundo devem manter seus
compromissos conforme acordado na cúpula de Paris.
Mas temos que ir além de Paris. Precisamos aumentar esses compromissos nos próximos anos,
se quisermos seguir num caminho que continuará a aquecer abaixo daquele nível perigoso de
dois graus.
Então, o que é realmente necessário para estabilizar o aquecimento planetário abaixo de
dois graus Celsius neste momento?
Bem, de 2014 a 2016, vimos baixar a curva desse patamar das emissões de carbono, que é um
primeiro passo e, que é essencial para mantermos os níveis de CO2 abaixo de 450 partes por
milhão, e dar-nos uma boa chance de limitar o aquecimento abaixo de 2 graus Celsius.
Infelizmente, em 2017 e 2018, vimos as emissões de carbono aumentarem um pouco. O que
isso significa agora é que precisamos reduzi-los ainda mais dramaticamente nos próximos anos.
Temos que dobrar essa curva para baixo, temos que ver uma diminuição anual nas emissões de
carbono, algo entre 3 e 4 a 5% ao ano.
E, obviamente, precisaremos de incentivos políticos que ajudem a guiar-nos nesse caminho.
Muitas vezes encontro entre as pessoas preocupadas com as mudanças climáticas, uma
quantidade crescente de desespero e pessimismo.
Há um pouco de exagero nisso, e às vezes existe a noção de que esse problema é grande
demais e, que não há como solucioná-lo. Mas a ciência é realmente muito capacitadora nesse
sentido, porque a ciência diz-nos que ainda há uma oportunidade.
As limitações neste ponto de manter o aquecimento abaixo de níveis catastróficos não estão na
física do clima, os desafios estão na política e nas políticas.
E, portanto, neste ponto, precisamos de nos concentrar em fazer o que é necessário do ponto
de vista político para alcançar as reduções que ainda são possíveis para manter o aquecimento
abaixo de níveis perigosos.
Sim, hoje existe uma grande urgência na acção climática, mas também há razões para esperar
que possamos resolver esse problema.
Readings for Module 8
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IPCC 2014: Topic 3: Future Pathways for Adaption, Mitigation and Sustainable
Development

Citation: IPCC, 2014: Climate Change 2014: Synthesis Report. Contribution of


Working Groups I, II and III to the Fifth Assessment Report of the
Intergovernmental Panel on Climate Change [Core Writing Team, R.K. Pachauri
and L.A. Meyer (eds.)]. IPCC, Geneva, Switzerland, 76-91.

The Economics of 1.5 degree C of Climate Change

Citation: Dietz, S. a. (2018). The Economics of 1.5°C Climate Change. Annual


Review of Environment and Resources, 43(1), 455-480. doi:10.1146/annurev-
environ-102017-025817
Anexos

Energy Balance Model: Application and


Background
One of the oldest and most well-known types of atmospheric science models
are energy balance models. The name of the model suggests how this model
works -- at its simplest, the model attempts to account for all energy coming
in and all energy going out of some system, in this case the Earth. In a simple
global energy balance, the only variable is the temperature of the Earth,
usually signified as Te. The term "balance" suggests that the system is at
equilibrium -- no energy is accumulated.

Mathematically, we can describe the energy balance model as follows:

Energy balance models are typically one-dimensional, that dimension being


latitude. What we are trying to calculate is the temperature at the surface. The
model itself aims to calculate the effective temperature, Te. We are interested
in the temperature at the surface, or Ts. The following calculation is used to
calculate Ts:

Ts = Te + dT

where dT is the greenhouse increment. At this time, the greenhouse increment


is about 33 degrees Kelvin, and is a function of the efficiency of the infrared
absorption.

All this would be fairly simple except for the fact that most energy balance
models are not global models, but zonal, or latitudinal, models. As such, we
must have some equation or part of an equation that accounts for the flow of
energy from one latitudinal zone to the next. The graphic below shows a zonal
one-dimensional energy balance model:

In this schematic, we are showing that the equation has now become:

Radiation energy in = Radiation energy out + transport into another zone

In this model, the incoming energy due to the sun must be adjusted to account
for the spherical shape and orbital variations of the Earth. Each zone can, and
usually does, have its own albedo, or reflectivity. Each zone also has its own
zonal surface temperature which usually includes the greenhouse increment.

In the zonal model, we need to be able to calculate the total energy received
from the sun per unit time. This is given by:

R2H0

where R is the radius of the Earth and H0 is the solar constant. Given that the
Earth's total area can be calculated by 4 R2, we can propose the equation:

where, as before, is the planetary albedo, H0 is the solar constant, and is


the Stefan-Boltzmann constant. The average extraterrestrial solar flux over the
entire surface can by calculated by H0/4.

We also need to consider the fact that not all zones receive the same amount
of incoming radiation, since the incident angle of the sun to a particular zone
varies. There exists some ratio, , that corrects the average incoming
radiation for a given zone. We can then calculate the incoming solar radiation
for a given zone as:

incoming radiation = H0/4

We are also concerned with the surface albedo of each zone. These are
dependent upon the ratio between land and water and the type of land
covering. There exists a critical temperature, Tc, which is that temperature
below which the land becomes ice covered. The typical literature value for
this temperature is -10.0 degrees C. For a given zone, the surface albedo
depends on the surface temperature of that zone. If the surface temperature is
below the critical temperature, the albedo for the zone is the albedo of ice, or
0.68. For temperatures above the critical temperature, several equations are
used. The most typical is:

albedo of the zone = (1-fractional cloud cover for the zone)+(fractional cloud
cover X albedo of the clouds)

Cloud albedo is typically specified as being 0.5. Fractional cloud cover values
are a typical input for a standard energy balance model.

The transport of energy between zones is given by:

Fi = C(Ti - Ts)

where:

• C is a constant equal to 3.80 watt-m-2 C-1


• Ti is the average temperature of the zone
• Ts is the mean global surface temperature

There exist more complicated methodologies, but this equation represents the
fundamental parameters in an energy balance model.

Again, the purpose of the energy balance model is to calculate the temperature
of the zone. A final equation for calculating temperatures is as follows:
This equation is iterated until an equilibrium value is reached, determined by
some user-defined tolerance value.

In this model, the incoming and outgoing energy for the individual "zones"
are calculated, and the individual temperatures and global mean temperature
are calculated.

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