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Segunda-feira, 27 de Novembro de 2006 I Série

Número 34

BOLETIM OFICIAL
SUPLEMENTO
SUMÁRIO

CONSELHO DE MINISTROS:

Decreto-Legislativo nº 2/2006:
Regula as medidas tutelares sócio-educativas a menores, quando,
tendo completado doze anos e antes de perfazerem dezasseis,
sejam agentes de algum facto qualificado pela lei como crime e
a organização e funcionamento dos Centros Sócio-Educativos.

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CONSELHO DE MINISTROS cooperação do educando. Por isso que qualquer medida


tutelar sócio educativa perpassa necessariamente pelo
––––––– interesse do menor.

Decreto-Legislativo nº 2/2006 Porque a intervenção tutelar educativa não visa a


punição, a mesma só deve ocorrer quando a necessidade
de 27 de Novembro
de correcção da personalidade subsistir no momento da
Preâmbulo aplicação da medida.

O sistema legal referente a crianças e adolescentes, Nos outros casos, a autonomia individual prevalece
penalmente inimputáveis, que ainda vigora entre nós sobre a defesa dos bens jurídicos e as expectativas da
assenta em fundamentos não totalmente consonante comunidade.
com o regime de direitos, liberdades e garantias positi- Como resultado dos critérios acabados de enunciar,
vados na Constituição da República de 1992. Para além o diploma segue os seguintes princípios gerais na sua
de que se revela tal sistema, na prática, ineficaz para a formatação:
satisfação das demandas nacionais no que concerne a
respostas eficazes, que na actualidade se pretendem a – Natureza formalmente penal, mas materialmente
um tempo tutelares, sociais e educativas com relação a socializadora e educativa;
condutas que a lei qualifica como crime, quando sejam
seus agentes menores que, tendo completado doze anos – Reconhecimento expresso de todas as garantias
de idade, ainda não tenham atingido os dezasseis. que derivem do respeito dos direitos constitu-
cionais e das especiais exigências do interesse
E num tempo em que, forçoso é reconhecê-lo, não raro do menor;
a violação das normas penais por parte dos menores
dessa faixa etária não tem a sua etiologia em situações – Aproximação do processo tutelar sócio-educativo
de debilidade económica, nem de desamparo familiar, do processo penal, com especial relevo pela
mas sim de uma determinação firme de confronto com a observância do direito de audição, e de defesa,
lei e com plena consciência de um resultado socialmente do princípio do contraditório e da judicialidade,
danoso que advém de tal confronto e que, não obstante, entendida esta no sentido de que a toda e qual-
se mantém o pretendido. quer conduta que reclame uma medida tutelar
deve corresponder uma acção disciplinada e
Ocorre mais que o conflito com a lei e a inobservância e regulada pelas autoridades judiciais.
violação dos fundamentos normativos da sociedade vem
sendo uma constante por parte dos menores inimputáveis O processo organiza-se segundo dois momentos: o
e, cada dia que passa, denota-se maior intensidade na inquérito, presidido pelo Ministério Público, e a fase
lesão dos interesses e valores pessoais e patrimoniais que jurisdicional, presidida pelo juiz.
a lei penal intenta proteger. A titularidade do inquérito pelo Ministério Público, que
Substancialmente com essas razões, através da Lei nº toma aqui a designação tradicional entre nós de «Cura-
3/VI/2006, de 28 de Agosto, o Governo obteve autorização dor de Menores», não dispensa a intervenção do juiz,
da Assembleia Nacional para elaborar e aprovar um novo sempre que estejam em causa actos que ferem direitos
regime tutelar para menores de idade compreendida fundamentais, como é próprio do modelo garantístico
entre os doze e os dezasseis anos que sejam agentes de representado pelas normas de processo penal. E, do mes-
facto qualificado por lei como crime. mo passo, o Ministério Público continua a ter um papel
a desempenhar na fase jurisdicional, quer sustentando
Como principais aspectos da intervenção normativa a acção quer contribuindo para a formação de consenso
que se leva a cabo no âmbito da dita autorização legis- nos casos em que for relevante.
lativa, para além da concretização das situações que
justificam uma intervenção por pratica de facto que a A organização da audiência constitui, no seu essencial,
lei penal qualifica como crime – sustentada no principio espaço de consenso e de informalização.
da legalidade –, faz também parte da coluna dorsal do As medidas cautelares organizam-se, tal como na me-
presente diploma o estabelecimento da tipicidade no que dida definitiva, no interesse do menor, mas sem abstrair
tange às medidas que, em concreto, são aplicáveis a me- que se está perante um facto indiciador do cometimento
nores inimputáveis e que se graduam na sua intensidade de acto criminógeno que justifica que a sociedade obtenha
e duração em função da gravidade da conduta e da idade garantias seguras de fazer com que a intervenção pro-
do agente do facto, que vão da admoestação, passando cessual tutelar cumpra o fim que lhe subjaz – de poder
por actos restaurativos de diversa índole, até à medida trazer o ainda inimputável penal para o reconhecimento
mais extremada de um regime de internamento em Cen- da necessidade de observância das normas mínimas da
tro Sócio-Educativo, sempre com o escopo simultâneo da convivência social, educando para o direito.
educação e responsabilização do menor pela sua conduta.
Ressalva-se, contudo, que, por ocasião da fase de execução Os princípios de necessidade, de adequação e de pro-
da medida tutelar que tiver sido judicialmente decretada, porcionalidade têm naturalmente inteiro cabimento,
preconiza o diploma a maior flexibilidade possível na como também o da tipicidade, por ocasião da adopção de
sua aplicação, inclusive com a demanda da permanente tais medidas.

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Evita-se, tanto quanto possível, o primeiro contacto TÍTULO I


institucional do menor com as estruturas tutelares de
internamento, prevendo a sua entrega aos pais, repre- MEDIDAS TUTELARES SÓCIO-EDUCATIVAS
sentante legal ou pessoa que tenha a sua guarda de facto,
CAPÍTULO I
com imposição de obrigações, sempre que indiciado do
cometimento de facto qualificado de crime pela lei. Disposições Gerais
Todavia, não fica excluída a possibilidade, em situações Artigo 2.º
mais graves, da guarda provisória do menor em centro
Finalidades das medidas
sócio-educativo ou mesmo em estabelecimento dos órgãos
de polícia. 1. As medidas tutelares sócio-educativas visam a edu-
As medidas cautelares são aplicadas pelo juiz e têm cação do menor para o direito e a sua inserção, de forma
como pressuposto a existência de indícios do facto, a digna e responsável, na vida em comunidade.
previsão de aplicação de medida tutelar e a existência
2. As causas que excluem ou diminuem a ilicitude ou a
fundada de perigo de fuga ou de cometimento de outros
culpa são consideradas para a avaliação da necessidade
factos qualificados por lei como crime.
e da espécie de medida.
Visa-se, por último, com o presente diploma, dis- Artigo 3º
ciplinar o funcionamento e a intervenção de Centros
Sócio-Educativos na execução de medidas tutelares de Tipicidade e aplicação da lei no tempo
internamento, instituídas pela lei e aplicadas no âmbito
judicial e teve-se nisso o cuidado de dar satisfação às Só pode aplicar-se medida tutelar sócio-educativa a
seguintes preocupações: menor que seja agente de facto qualificado pela lei como
crime e passível de medida tutelar por lei anterior ao
– Os Centros prosseguem as suas atribuições, em momento da sua prática.
estrita obediência às decisões das autoridades
Artigo 4.º
judiciais competentes e, no exercício das suas
funções, articulam-se em permanência com os Princípio da legalidade
Serviços de Reinserção Social do departamento
governamental da área da Justiça; 1. São medidas tutelares sócio-educativas:

– A vida nos Centros deve inspirar-se na vida normal a) A admoestação;


em sociedade e permitir que o menor mantenha
contactos com o exterior, benéficos para o seu b) A reparação ao ofendido;
processo educativo e de socialização; c) A realização de tarefas a favor da comunidade;
– O menor internado conserva os direitos e as ga-
d) A imposição de regras de conduta;
rantias que a lei lhe reconhece e que não sejam
afectados pelo conteúdo da decisão que aplica e) A imposição de obrigações;
a medida;
f) O internamento em centro sócio-educativo.
– O mesmo sucede relativamente aos pais que, den-
tro dos mesmos limites, conservam, durante o 2. As medidas tutelares referidas nas alíneas a) e e)
internamento, todos os direitos e deveres em do número anterior são consideradas medidas não ins-
relação à pessoa do filho. titucionais.
Assim, Artigo 5.º

Ao abrigo da autorização legislativa concedida pela Lei Execução das medidas tutelares sócio-educativas
n.º 3/VII/2006, de 28 de Agosto;
A execução das medidas tutelares sócio-educativas
No uso da faculdade conferida pela alínea b) do pode prolongar-se até o jovem completar vinte e um anos,
nº 2 do artigo 203º da Constituição, o Governo decreta o momento em que cessa obrigatoriamente.
seguinte:
Artigo 6.º
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
Critérios de escolha das medidas
Artigo 1.º
1. A imposição de qualquer medida tutelar sócio-duca-
Âmbito da lei
tiva tem por objectivo criar ou fortalecer condições para
1. O presente diploma regula as medidas tutelares sócio- que o comportamento do menor se adeqúe às normas e
educativas, aplicáveis a menores, quando, tendo completado valores jurídicos essenciais da vida em sociedade.
doze anos e antes de perfazerem dezasseis, sejam agentes
2. A medida tutelar deve ser proporcional à gravidade
de algum facto qualificado pela lei como crime.
do facto e à necessidade de educação do menor para o
2. O presente diploma regula ainda a organização e direito, manifestada na prática do facto e subsistente no
funcionamento dos Centros Sócio-Educativos. momento da decisão.

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3. Na escolha da medida tutelar sócio-educativa apli- 3. A realização de tarefas a favor da comunidade pode
cável, o tribunal deve ter em conta a sua exequibilidade ser executada em fins-de-semana ou dias feriados.
prática, atentas as possibilidades reais dos serviços e as
demais circunstâncias concretas que interessam à sua 4. O juiz deve, em todos os casos, procurar obter a
eficácia e dar preferência, de entre as que se mostrem adesão do menor à realização de tarefas a favor da comu-
adequadas e suficientes, à medida que represente menor nidade, sendo necessário o consentimento deste quando
intervenção na autonomia de decisão e de condução de tiver idade superior a catorze anos.
vida do menor e que seja susceptível de obter a sua maior Artigo 10.º
adesão e a adesão de seus pais, representante legal ou
pessoa que tenha a sua guarda de facto. Imposição de regras de conduta

4. A escolha da medida tutelar aplicável é sempre 1. Podem ser impostas, entre outras, as seguintes
orientada pelo interesse do menor. regras de conduta com a obrigação de:

CAPÍTULO II a) Não frequentar certos meios, locais ou espectáculos;

Conteúdo das Medidas b) Não acompanhar determinadas pessoas;

Artigo 7º c) Não frequentar certos grupos ou associações;

Admoestação d) Não ter em seu poder certos objectos.

A admoestação consiste na advertência solene feita pelo 2. As regras de conduta não podem representar limita-
juiz ao menor, exprimindo o carácter ilícito da conduta e ções abusivas ou desrazoáveis à autonomia de decisão e
o seu desvalor e consequências e exortando-o a adequar de condução de vida do menor e têm a duração máxima
o seu comportamento às normas e valores jurídicos e a de dois anos.
inserir-se, de uma forma digna e responsável, na vida
Artigo 11º
em comunidade.
Imposição de obrigações
Artigo 8º

Reparação ao ofendido
1. A imposição de obrigações pode consistir na obriga-
ção de o menor:
1. A reparação ao ofendido pode consistir em o menor:
a) Frequentar um estabelecimento de ensino com
a) Apresentar desculpas ao ofendido; sujeição a controlo de assiduidade e aprovei-
tamento;
b) Compensar economicamente o ofendido, no todo
ou em parte, pelos danos causados; b) Frequentar um centro de formação profissional
ou seguir uma formação profissional, ainda
c) Exercer, em benefício do ofendido, actividade que que não certificada;
tenha conexão com o dano, sempre que for
possível e adequado. c) Frequentar sessões de orientação em instituição
psicopedagógica e seguir as directrizes que lhe
2. A actividade exercida em benefício do ofendido não forem fixadas;
pode ocupar mais de dois dias por semana e três horas
por dia e respeita o período de repouso do menor, deven- d) Submeter-se a programas de tratamento médico,
do salvaguardar um dia de descanso semanal e ter em médico-psiquiátrico, psicológico ou equiparado
conta a frequência da escolaridade, bem como outras junto de entidade ou de instituição oficial ou
actividades que o tribunal considere importantes para a particular, em regime de internamento ou em
formação do menor. regime ambulatório.

3. A actividade exercida em benefício do ofendido tem 2. A submissão a programas de tratamento visa, nome-
o limite máximo de doze horas, distribuídas, no máximo, adamente, o tratamento das seguintes situações:
por quatro semanas.
2. Habituação alcoólica;
4. A medida de reparação nas modalidades previstas nas
3. Consumo habitual de estupefacientes;
alíneas b) e c) do nº 1 exige o consentimento do ofendido.
Artigo 9.º 4. Doença infecto-contagiosa ou sexualmente trans-
missível.
Realização de tarefas a favor da comunidade
3. O juiz deve, em todos os casos, procurar a adesão
1. A realização de tarefas a favor da comunidade do menor ao programa de tratamento, sendo necessário
consiste em o menor exercer actividade em benefício de o consentimento do menor quando tiver idade superior
entidade, pública ou privada, de fim não lucrativo. a catorze anos.
2. A actividade exercida tem a duração máxima de 4. É correspondentemente aplicável o disposto no nº 2
sessenta horas, não podendo exceder três meses. do artigo 10º.

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Artigo 12.º 4. A medida de internamento em regime fechado tem
Internamento
a duração máxima de três anos, quando o menor tiver
praticado facto qualificado como crime a que correspon-
1. A medida de internamento visa proporcionar ao da pena máxima, abstractamente aplicável, de prisão
menor, por via do afastamento temporário do seu meio superior a cinco anos.
habitual e da utilização de programas e métodos peda-
gógicos, a interiorização de valores conformes ao direito 5. A medida de internamento em regime fechado tem
e a aquisição de recursos que lhe permitam, no futuro, a duração máxima de cinco anos, quando o menor tiver
conduzir a sua vida de modo social e juridicamente res- praticado facto qualificado como crime contra a vida ou
ponsável. integridade física das pessoas a que corresponda a pena
máxima, abstractamente aplicável, de prisão igual ou
2. Quando se decretar a medida de internamento em superior a dez anos.
centro sócio-educativo devem ser fixadas pelo tribunal as
obrigações a que o menor fica especialmente sujeito em CAPÍTULO III
matéria de instrução, preparação profissional e utilização
dos seus tempos livres. Regime das Medidas

Artigo 13º Artigo 15.º

Regimes de internamento Não cumulação

1. A medida de internamento em centro sócio-edu- Sem prejuízo do disposto no nº 2 do artigo 13.º, as


cativo aplica-se segundo um dos seguintes regimes de medidas tutelares sócio-educativas não podem ser apli-
execução: cadas cumulativamente por um mesmo facto ao mesmo
a) Regime aberto; menor.

b) Regime semiaberto; Artigo 16.º

c) Regime fechado. Realização de tarefas a favor da comunidade

2. A medida de internamento em regime semiaberto é 1. Se for aplicada medida de realização de tarefas a


aplicável quando o menor tiver cometido facto qualificado favor da comunidade, o tribunal fixa, na decisão, a mo-
como crime contra as pessoas, a que corresponda pena dalidade da medida.
máxima, abstractamente aplicável, de prisão superior
a três anos ou tiver cometido dois ou mais factos quali- 2. O tribunal pode deferir aos serviços de reinserção
ficados como crimes, a que corresponda pena máxima, social a definição da forma da prestação de actividade.
abstractamente aplicável, superior a três anos. Artigo 17.º
3. A medida de internamento em regime fechado é Imposição de obrigações, frequência de programas formati-
aplicável quando se verifiquem cumulativamente os vos e acompanhamento educativo
seguintes pressupostos:
Antes de aplicar as medidas de realização de tarefas, ou
a) Ter o menor cometido facto qualificado como crime de imposição de obrigações que consistam na frequência
a que corresponda pena máxima, abstracta- de programas de educação escolar ou de formação profis-
mente aplicável, de prisão superior a cinco sional, o tribunal deve pedir aos serviços de reinserção
anos ou ter cometido dois ou mais factos con- social informação sobre instituições ou entidades junto
tra as pessoas qualificados como crimes a que das quais o menor deve cumprir a medida, respectivos
corresponda pena máxima, abstractamente programas, horários, condições de frequência e vagas
aplicável, de prisão superior a três anos; e disponíveis.
b) Ter o menor idade superior a 14 anos à data da Artigo 18º
aplicação da medida.
Internamento em regime aberto
Artigo 14.º

Duração da medida de internamento Os menores submetidos ao internamento em regime


aberto, prosseguem a sua actividade quotidiana normal
1. A medida de internamento em Centro Sócio-Educa- no exterior, designadamente a respeitante à sua vida
tivo não pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, escolar, profissional e religiosa, mas ficam subordina-
nem exceder o limite máximo da pena de prisão prevista dos ao regime interno do Centro Sócio-Educativo, onde
para o crime correspondente ao facto. passam a residir durante o período do cumprimento da
2. A medida de internamento em regime aberto e medida tutelar.
semiaberto tem a duração mínima de três meses e a Artigo 19º
máxima de dois anos.
Internamento em regime semiaberto
3. A medida de internamento em regime fechado tem a
duração mínima de seis meses e a máxima de dois anos, Os menores submetidos ao regime semiaberto residem
salvo o disposto no número seguinte. no Centro Sócio-Educativo durante o período de execução

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da medida tutelar e cumprem o programa educativo ou 4. Nos casos previstos no número anterior, o processo
profissional que lhe tiverem sido determinados pelo tri- não é iniciado ou, se o tiver sido, é arquivado.
bunal para ser realizado, fora da instituição tutelar.
5. Fora das áreas abrangidas pela jurisdição do tri-
Artigo 20º bunal ou juízo de família e menores cabe ao tribunal de
comarca ou, havendo, ao juízo cível, conhecer das causas
Internamento em regime fechado
que àqueles estão atribuídas.
Os menores submetidos ao regime fechado de interna- Artigo 23.º
mento, residem no Centro Sócio-Educativo, realizando
Diligências urgentes
dentro do mesmo os programas educativos e de formação
que lhes forem determinados. O tribunal do local da prática do facto e o do local onde
Artigo 21º o menor for encontrado, realizam as diligências urgen-
tes, nomeadamente a aplicação da medida provisória de
Execução participada colocação em regime de internamento.

1. O tribunal associa à execução de medidas tutelares Artigo 24º.


sócio-educativas, sempre que for possível e adequado Carácter individual do processo
aos fins educativos visados, os pais ou outras pessoas
significativas para o menor, familiares ou não. 1. Sem prejuízo do disposto no número seguinte, orga-
niza-se um único processo relativamente a cada menor,
2. O tribunal delimita a colaboração das pessoas re- ainda que lhe sejam atribuídos factos diversos ocorridos
feridas no número anterior, relativamente a serviços e na mesma ou em diferentes comarcas.
entidades encarregados de acompanhar e assegurar a
execução das medidas, em ordem a garantir a conjugação 2. A conexão só opera em relação a processos que se
de esforços. encontrem simultaneamente na fase de inquérito, na fase
jurisdicional ou na fase de execução.
CAPÍTULO IV Secção II

Competências para a aplicação de medidas tute- Ministério Público


lares socio-educativas
Artigo 25.º
Secção I Competência
Tribunais
1. Compete ao Ministério Público:
Artigo 22.º
a) Dirigir o inquérito nos processos tutelares pre-
Competência vistos no presente diploma;

1. Compete ao tribunal ou juízo de família e menores b) Promover as diligências que tiver por convenien-
da residência habitual do menor: tes e recorrer, na defesa da lei e no interesse
do menor;
a) A apreciação de factos qualificados pela lei como
crime, praticados por menor que tenha comple- c) Promover a execução das medidas tutelares só-
tado doze anos e antes de perfazer dezasseis, e cio-educativas e das custas e demais quantias
a aplicação de medida tutelar que couber; devidas ao Estado;
d) Dar, obrigatoriamente, parecer sobre recursos,
b) A aplicação, a execução e a revisão das medidas
pedidos e queixas interpostos ou apresentados
tutelares sócio-educativas;
nos termos da lei;
c) A declaração de cessação ou de extinção das me- e) Dar, obrigatoriamente, parecer sobre o projecto
didas tutelares sócio-educativas. educativo pessoal de menor em acompanha-
2. É, igualmente, da exclusiva competência do tribunal mento educativo ou internado em centro
a aplicação de qualquer medida provisória ou cautelar e a sócio-educativo;
prática de quaisquer actos que pela lei processual penal f) Realizar visitas a centros educativos e contactar
tenham a natureza de acto jurisdicional. com os menores internados.
3. Cessa a competência do tribunal ou juízo de família 2. É correspondentemente aplicável o disposto nos
e menores quando: artigos 22º e 23º.

a) For aplicada pena de prisão efectiva, em processo Artigo 26º


penal, por crime praticado pelo menor com Curador de Menores
idade superior a dezasseis anos;
O Magistrado do Ministério Público competente para
b) O menor completar dezoito anos antes da data da a prática das diligências e actos compreendidos no artigo
decisão em primeira instância. anterior toma a designação de Curador de Menores.

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TÍTULO II f) Ser acompanhado pelos pais, representante legal


ou pessoa que tiver a sua guarda de facto,
PROCESSO TUTELAR salvo decisão fundada no seu interesse ou em
CAPÍTULO I necessidades do processo;

Princípios Gerais g) Oferecer provas e requerer diligências;

Artigo 27.º h) Ser informado dos direitos que lhe assistem;

Segredo processual i) Recorrer, nos termos da lei, das decisões que lhe
forem desfavoráveis.
1. O processo tutelar sócio-educativo é secreto até a
abertura da fase jurisdicional, salvo se no interesse do 3. O menor não presta juramento em caso algum.
menor o Juiz da causa entender que deva dar publicida-
de a qualquer acto, diligência ou peça processual e sem 4. Os direitos referidos nas alíneas g) e i) do nº 2 podem
prejuízo do cumprimento de determinações em contrário ser exercidos, em nome do menor, pelo seu defensor, pe-
dos tribunais superiores ou de precatórios de outras au- los pais, representante legal ou pessoa que tenha a sua
toridades judiciárias. guarda de facto.
Artigo 30.º
2. A publicidade do processo faz-se com respeito pela
personalidade do menor e pela sua vida privada, devendo, Audição do menor
na medida do possível, preservar a sua identidade.
1. A audição do menor é sempre realizada pela auto-
3. Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, o ridade judiciária.
menor, o seu defensor, os seus pais e representante legal,
em qualquer momento, até à abertura da fase jurisdicio- 2. A autoridade judiciária pode designar um assistente
nal, têm acesso aos autos, provas, documentos constantes social ou outra pessoa especialmente habilitada para
do processo tutelar sócio-educativo e seus apensos, com acompanhar o menor em acto processual e, se for caso
a finalidade de requererem quaisquer diligencias, exer- disso, proporcionar ao menor o apoio psicológico neces-
cerem o contraditório e recorrerem das decisões. sário por técnico especializado.

Artigo 28º Artigo 31.º

Processos urgentes Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica

Correm durante as férias judiciais os processos tutela- 1. Quando, em qualquer fase do processo, se verificar
res sócio-educativos previstos no presente diploma. que o menor sofre de anomalia psíquica que o impede de
compreender o sentido da intervenção tutelar, o processo
Artigo 29º é arquivado.
Direitos do menor
2. No caso previsto no número anterior, o Curador de Meno-
1. A participação do menor em qualquer diligência res encaminha o menor para os serviços de saúde mental.
processual, ainda que sob detenção ou guarda, faz-se de
3. O despacho de arquivamento é notificado ao menor,
modo que se sinta livre na sua pessoa e com o mínimo
aos pais, representante legal ou pessoa que tenha a sua
de constrangimento.
guarda de facto e ao ofendido.
2. Em qualquer fase do processo, o menor tem espe-
CAPÍTULO II
cialmente direito a:
Identificação, Detenção e Medidas Cautelares
a) Ser ouvido, oficiosamente ou quando o requerer,
pela autoridade judiciária; Secção I

b) Não responder a perguntas feitas por qualquer Identificação


entidade sobre os factos que lhe forem impu- Artigo 32.º
tados ou sobre o conteúdo das declarações que
acerca deles prestar; Formalidades

c) Não responder sobre a sua conduta, o seu carácter 1. O procedimento de identificação de menor obedece
ou a sua personalidade; às formalidades previstas no processo penal, com as
seguintes especialidades:
d) Ser assistido por especialista em psiquiatria, psi-
cologia, ou serviço social, sempre que o solicite, 2. Na impossibilidade de apresentação de documento, o
para efeitos de avaliação da necessidade de órgão de polícia criminal procura, de imediato, comunicar
aplicação de medida tutelar; com os pais, representante legal ou pessoa que tenha a
guarda de facto do menor.
e) Ser assistido por defensor em todos os actos pro-
cessuais em que participar e, quando detido, 3. O menor não pode permanecer em posto policial, para
comunicar, mesmo em privado, com ele; efeito de identificação, por mais de três horas.

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Secção II Artigo 36.º

Detenção Comunicação

Artigo 33.º Salvo quando haja risco de a inviabilizar, a detenção


Pressupostos da detenção do menor fora de flagrante delito é precedida de comunicação aos
pais, representante legal ou pessoa que tenha a guarda
1 A detenção do menor apenas pode ser efectuada nos de facto do menor.
seguintes casos:
1. Sem prejuízo do disposto no número anterior, qual-
a) Em flagrante delito, por facto qualificado como quer detenção é comunicada, no mais curto prazo e pelo
crime, punível com pena de prisão, para, no meio mais rápido, aos pais, representante legal ou pessoa
mais curto prazo, sem nunca exceder vinte e que tiver a guarda de facto do menor.
quatro horas, ser apresentado ao juiz, a fim
de ser interrogado ou para sujeição a medida Artigo 37.º
cautelar; Confiança do menor

b) Fora de flagrante delito, quando o menor tiver 1. Quando não for possível apresentá-lo imediatamente
cometido facto qualificado como crime contra ao juiz, o menor detido é confiado aos pais, ao represen-
as pessoas, a que corresponda pena máxima, tante legal ou a quem tenha a sua guarda de facto.
abstractamente aplicável, de prisão superior a
três anos ou tiver cometido dois ou mais factos 2. Se a confiança do menor, nos termos do número
qualificados como crimes, a que corresponda anterior, não for suficiente para garantir a sua presença
pena máxima, abstractamente aplicável, supe- perante o juiz ou para assegurar as finalidades da de-
rior a três anos, cujo procedimento não depen- tenção, o menor é recolhido no Centro Sócio-Educativo
da de queixa ou de acusação particular; mais próximo ou em instalações próprias e adequadas
de entidade policial, sem ser encarcerado, sendo-lhe, em
c) Para assegurar a presença imediata ou, não
qualquer caso, ministrados os cuidados e a assistência
sendo possível, no mais curto prazo, sem nun-
médica, psicológica e social que forem aconselhados pela
ca exceder doze horas, perante o juiz, para
sua idade, sexo e condições individuais.
aplicação ou execução de medida cautelar, ou
em acto processual presidido por autoridade Artigo 38.º
judiciária;
Primeiro interrogatório
d) Para sujeição, em regime ambulatório ou de inter-
namento, a perícia psiquiátrica ou sobre a per- Quando assistirem ao primeiro interrogatório, o de-
sonalidade, sem nunca exceder doze horas. fensor, os pais, o representante legal ou a pessoa que
tiver a guarda de facto do menor abstêm-se de qualquer
Artigo 34º interferência.
Entidades que podem procederem à detenção em flagrante Secção III
delito
Medidas cautelares
1. A detenção em flagrante delito pode ser efectuada:
Artigo 39.º
a) Pela autoridade judiciária ou qualquer entidade
policial; Adequação e proporcionalidade

b) Por qualquer pessoa, se não estiver presente As medidas cautelares devem ser adequadas às exi-
autoridade judiciária ou entidade policial, gências preventivas ou processuais que o caso requerer
nem puderem ser chamadas em tempo útil, e proporcionadas à gravidade do facto e às medidas
entregando-se imediatamente o menor àquelas tutelares sócio-educativas aplicáveis.
entidades.
Artigo 40.º
2. O juiz, depois de interrogado o menor detido em flagrante Tipicidade
delito, deve proceder à sua soltura, à aplicação de termo de
identidade e residência ou sujeitá-lo a uma das medidas cau- São medidas cautelares:
telares previstas no artigo 41º, conforme couber.
a) A entrega do menor aos pais, representante legal,
Artigo 35º
pessoa que tenha a sua guarda de facto ou
Entidades que podem procederem à detenção outra pessoa idónea, com imposição de obri-
fora de flagrante delito gações ao menor;
A detenção fora de flagrante delito apenas pode ser b) A guarda do menor em instituição pública ou
efectuada por mandado do juiz, a requerimento do cura- privada;
dor de menores, durante o inquérito e, na fase jurisdi-
cional, mesmo oficiosamente. c) A guarda do menor em centro sócio-educativo.

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I SÉRIE — NO 34 SUP. «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 27 DE NOVEMBRO DE 2006 9
Artigo 41.º Artigo 45.º

Pressupostos Cessação

1. A aplicação de medidas cautelares pressupõe: As medidas cautelares cessam logo que deixarem de
se verificar os pressupostos da sua aplicação.
a) A existência de indícios do facto qualificado pela Artigo 46.º
lei como crime;
Pedido de informação
b) A previsibilidade de aplicação de medida tutelar; e A fim de fundamentar as decisões sobre a substituição e
a cessação da medida de guarda em Centro Sócio-Educa-
c) A existência fundada de perigo de fuga ou de co-
tivo o juiz, oficiosamente ou a requerimento, deve solicitar
metimento de outros factos qualificados pela
informação aos serviços de reinserção social.
lei como crime.
Artigo 47º
2. A medida prevista na alínea c) do artigo anterior só Extinção
pode ser aplicada quando se verificarem os pressupostos
previstos na alínea a) do n.º 3 do artigo 13.º. 1. As medidas cautelares extinguem-se:

3. No caso previsto no número anterior, a medida é a) Quando tiver decorrido o prazo da sua duração;
executada em Centro Sócio-Educativo semiaberto, se o b) Com a suspensão do processo;
menor tiver idade inferior a 14 anos. Se o menor tiver
idade igual ou superior a 14 anos, o juiz determina a c) Com o arquivamento do inquérito ou do processo;
execução da medida em Centro Sócio-Educativo de regime d) Com o trânsito em julgado da decisão.
semiaberto ou fechado.
2. As medidas cautelares extinguem-se, também,
Artigo 42º quando a decisão de primeira instância, ainda que não
Formalidades transitada em julgado, não tiver aplicado qualquer me-
dida ou tiver aplicado medida menos grave do que a de
1. As medidas cautelares são aplicadas por despacho internamento tutelar.
do juiz, a requerimento do curador de menores durante
CAPÍTULO III
o inquérito e, posteriormente, mesmo oficiosamente.
Inquérito
2. A aplicação de medidas cautelares exige a audição
Secção I
prévia do curador de menores, se não for o requerente, do
defensor e, sempre que possível, dos pais, representante Abertura
legal ou pessoa que tenha a guarda de facto do menor. Artigo 48.º

3. O despacho referido no n.º 1 é notificado ao menor Denúncia


e comunicado ao defensor, aos pais, representante legal 1. Salvo o disposto no número seguinte, qualquer pes-
ou pessoa que tenha a sua guarda de facto. soa pode denunciar ao curador de menores ou a órgão de
Artigo 43.º polícia criminal, facto qualificado pela lei como crime,
praticado por menor que tenha completado doze anos e
Duração antes de perfazer dezasseis anos.
1. A medida de guarda de menor em Centro Sócio-Edu- 2. Se o facto for qualificado como crime, cujo procedi-
cativo tem o prazo máximo de três meses, prorrogável até mento depende de queixa ou de acusação particular, a
ao limite máximo de mais três meses em casos de especial legitimidade para a denúncia cabe ao ofendido.
complexidade, devidamente fundamentados.
3. A denúncia não está sujeita a formalismo especial, mas
2. O prazo de duração das restantes medidas cautelares deve, sempre que possível, indicar os meios de prova.
é de seis meses até à decisão do tribunal de 1.ª instância 4. A denúncia apresentada a órgão de polícia crimi-
e de um ano até ao trânsito em julgado da decisão. nal é transmitida, no mais curto prazo, ao curador de
Artigo 44.º
menores.
Artigo 49º
Revisão
Denúncia obrigatória
1. Oficiosamente ou a requerimento, as medidas cau-
Sem prejuízo do disposto no nº 2 do artigo anterior, a
telares são substituídas, se o juiz concluir que a medida
denúncia é obrigatória:
aplicada não realiza as finalidades pretendidas.
a) Para os órgãos de polícia criminal, quanto a factos
2. As medidas cautelares são revistas, oficiosamente, de que tomem conhecimento;
de dois em dois meses.
b) Para os funcionários públicos, quanto a factos de
3. O curador de menores e o defensor são ouvidos, se que tomem conhecimento no exercício das suas
não forem os requerentes. funções e por causa delas.

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10 I SÉRIE — NO 34 SUP. «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 27 DE NOVEMBRO DE 2006
Artigo 50º Artigo 55.º

Abertura Diligências

Adquirida a notícia do facto, o curador de menores


O inquérito é constituído pelas diligências que se
determina a abertura de inquérito.
mostrarem necessárias e, quando útil às finalidades do
Secção II processo, por uma sessão conjunta de prova.
Formalidades
Artigo 56.º
Artigo 51.º
Disciplina processual
Direcção, objecto e prazo

1. O inquérito é dirigido pelo curador de menores, 1. Os actos de inquérito efectuam-se pela ordem que o
assistido pelos serviços de reinserção social e por órgãos curador de menores reputar mais conveniente.
de polícia criminal.
2. O curador de menores indefere, por despacho, os
2. O inquérito compreende o conjunto de diligências actos requeridos que não interessem à finalidade do
que visam investigar a existência de facto qualificado inquérito ou sirvam apenas para protelar o andamento
pela lei como crime e determinar a necessidade de edu- do processo.
cação do menor para o direito, com vista à decisão sobre
a aplicação de medida tutelar. Artigo 57.º

3. A assistência dos serviços de reinserção social tem Sessão conjunta de prova


por objecto a realização dos meios de obtenção da prova
nos termos da lei A sessão conjunta de prova tem por objectivo examinar
contraditoriamente os indícios recolhidos e as circunstân-
4. O prazo para a conclusão do inquérito é de três
cias relativas à personalidade do menor e à sua inserção
meses, podendo, mediante despacho fundamentado, ser
familiar, educativa e social, com a finalidade de funda-
prorrogado por mais três meses, em razão de especial
mentar a suspensão do processo ou o despacho final de
complexidade.
promoção para a abertura da fase jurisdicional.
Artigo 52.º
Artigo 58º
Cooperação
Obrigação de comparência na sessão conjunta de prova
O curador de menores pratica os actos e assegura os
meios de prova necessários à realização do inquérito e
1. Na sessão conjunta de prova é obrigatória a presença
pode solicitar as diligências e informações que entender
do menor, do defensor e dos pais, representante legal ou
convenientes a qualquer entidade pública ou privada.
quem tenha a sua guarda de facto.
Artigo 53.º

Audição do menor
2. Quando se mostrar necessária à finalidade do acto o
curador de menores determina a comparência do ofendido.
1. Aberto o inquérito, o curador de menores ouve o
menor, no mais curto prazo. 3. O Curador de Menores pode ainda determinar a
comparência de outras pessoas, nomeadamente o Centro
2. A audição pode ser dispensada quando for caso de Sócio-Educativo e de reinserção social.
arquivamento liminar e pode ser adiada no interesse do
menor. Artigo 59º
Artigo 54.º
Notificações e adiamento da sessão conjunta de prova
Arquivamento liminar
1. A notificação para a sessão conjunta de prova faz-se
1. O curador de menores procede ao arquivamento
com a antecedência mínima de cinco dias, com menção de
liminar do inquérito quando, sendo o facto qualificado
segunda data para o caso de o menor não poder compare-
como crime, punível com pena de prisão de máximo não
cer e da cominação das consequências a que se referem
superior a um ano e, perante a informação a que se refere
os números seguintes.
o n.º 2 do artigo 51º, se revelar desnecessária a aplicação
de medida tutelar sócio-educativa, mais gravosa que a
2. A sessão é adiada, se o menor faltar.
admoestação, face à reduzida gravidade dos factos, à
conduta anterior e posterior do menor e à sua inserção 3. Na ausência de outras pessoas que tenham sido con-
familiar, educativa e social. vocadas, o curador de menores decide sobre se a sessão
2. O despacho de arquivamento é comunicado ao menor deve ou não ser adiada.
e aos pais, ao representante legal ou a pessoa que tenha
a sua guarda de facto. 4. A sessão conjunta de prova só pode ser adiada uma vez.

3. O despacho de arquivamento é também notificado 5. Se o menor faltar na data novamente designada, é


ao ofendido. representado por defensor.

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I SÉRIE — NO 34 SUP. «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 27 DE NOVEMBRO DE 2006 11
Secção III Secção IV

Suspensão do processo Encerramento


Artigo 60º Artigo 62º
Regime
Modalidades
1. Verificando-se a necessidade de medida tutelar,
o curador de menores pode decidir pela suspensão do O curador de menores encerra o inquérito, arquivando-
processo, quando, sendo o facto qualificado como crime o ou requerendo a abertura da fase jurisdicional.
punível com pena de prisão de máximo não superior a três Artigo 63.º
anos, os pais, representante legal ou quem tenha a guarda
de facto do menor apresentem um plano de conduta que Arquivamento
evidencie estar disposto a evitar, no futuro, a prática de
factos qualificados pela lei como crime. 1. O curador de menores arquiva o inquérito logo que
conclua pela:
2. O plano de conduta é também subscrito pelo menor
que tenha mais de catorze anos de idade. a) Inexistência do facto;
3. Os pais do menor, seu representante legal ou quem b) Insuficiência de indícios da prática do facto;
tiver a sua guarda de facto, podem obter a cooperação dos
serviços de reinserção social para a elaboração e execução c) Desnecessidade de aplicação de medida tutelar,
do plano de conduta. sendo o facto qualificado como crime punível
com pena de prisão de máximo não superior
4. O plano de conduta pode consistir, nomeadamente: a três anos.
a) Na apresentação de desculpas ao ofendido;
2. É correspondentemente aplicável o disposto no n.º
b) No ressarcimento, efectivo ou simbólico, total ou 3 do artigo 54º.
parcial, do dano, com dispêndio de dinheiro de
Artigo 64.º
bolso ou com a prestação de uma actividade a
favor do ofendido, observados os limites fixados Intervenção hierárquica
no artigo 8.º;
1. Da decisão de arquivamento cabe recurso hierárqui-
c) Na consecução de certos objectivos de formação co, no prazo de cinco dias.
pessoal nas áreas escolar, profissional ou de
ocupação de tempos livres; 2. No prazo de trinta dias, contado da data da notifi-
d) Na realização de tarefas a favor da comunidade, cação do despacho de arquivamento, o imediato superior
observados os limites fixados no artigo 9º; hierárquico do curador de menores pode determinar o
prosseguimento dos autos, indicando as diligências ou a
e) Na não frequência de determinados lugares ou no sequência a observar.
afastamento de certas redes de companhia.
Artigo 65.º
5. Os pais, representante legal ou quem tiver a guarda
Requerimento para abertura da fase jurisdicional
de facto do menor são ouvidos sobre o plano de conduta,
quando o não tenham subscrito. Devendo o processo prosseguir, o curador de menores
6. A suspensão do processo faz-se pelo prazo máximo requer a abertura da fase jurisdicional.
de um ano e interrompe o prazo do inquérito.
Artigo 66.º
Artigo 61.º
Requisitos do requerimento
Termo
O requerimento para abertura da fase jurisdicional
1. No decurso do período de suspensão, o curador de
contém:
menores determina o prosseguimento do processo, se ve-
rificar que não está a ser observado o plano de conduta. a) A identificação do menor, seus pais, representante
2. Esgotado o prazo de suspensão e cumprido o plano legal ou quem tenha a sua guarda de facto;
de conduta, o curador de menores arquiva o inquérito;
b) A descrição dos factos, incluindo, quando possível,
caso contrário, o inquérito prossegue com as diligências
o lugar, o tempo e motivação da sua prática e
a que houver lugar.
o grau de participação do menor;
3. Se, no período de suspensão, for recebida notícia
de facto qualificado como crime imputado ao menor, a c) A qualificação jurídico-criminal dos factos;
denúncia ou participação é junta aos autos e o inquéri-
d) A indicação de condutas anteriores, contemporâ-
to prossegue, sendo o objecto do processo alargado aos
neas ou posteriores aos factos e das condições
novos factos.
de inserção familiar, educativa e social que per-
4. É correspondentemente aplicável o disposto no nº 3 mitam avaliar da personalidade do menor e da
do artigo 54.º. necessidade da aplicação de medida tutelar;

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12 I SÉRIE — NO 34 SUP. «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 27 DE NOVEMBRO DE 2006

e) A indicação da medida a aplicar ou das razões por Secção II


que se torna desnecessária; Audiência
f) Os meios de prova; Artigo 70º

g) A data e a assinatura. Designação da audiência

Artigo 67º 1. Realizadas as diligências a que houver lugar, o juiz


Princípio da não adesão designa dia para a audiência.

O pedido civil é deduzido em separado perante o tri- 2. A designação da audiência faz-se para a data mais
bunal competente. próxima compatível com a notificação das pessoas que
nela devem participar.
CAPÍTULO IV
3. Se o menor se encontrar sujeito a medida cautelar,
Fase jurisdicional a data de audiência é designada com precedência sobre
qualquer outro processo.
Secção I

Natureza e actos preliminares 4. O despacho que designa dia para a audiência contém:

Artigo 68.º a) Indicação dos factos imputados ao menor e a sua


qualificação criminal;
Natureza
b) Os pressupostos de conduta e de personalidade
1. A fase jurisdicional compreende:
que justificam a aplicação de medida tutelar;
a) A comprovação judicial dos factos;
c) A medida proposta;
b) A avaliação da necessidade de aplicação de me-
d) A indicação do lugar, dia e hora da audiência;
dida tutelar;

c) A determinação da medida tutelar; e) A indicação de defensor, se não tiver sido cons-


tituído.
d) A execução da medida tutelar.
5. As indicações constantes das alíneas a) a c) podem
2. A fase jurisdicional é presidida pelo juiz. ser exaradas por remissão, no todo ou em parte, para o
requerimento de abertura da fase jurisdicional.
Artigo 69.º

Despacho inicial
6. O despacho é notificado ao curador de menores.

1. Recebido o requerimento para abertura da fase 7. O despacho, com o requerimento do curador de me-
jurisdicional, o juiz: nores quando tenha havido remissão, é ainda notificado
ao menor, aos pais ou representante legal e ao defensor,
a) Verifica se existem questões prévias que obstem com indicação de que podem ser apresentados meios de
ao conhecimento da causa; prova na audiência.

b) Arquiva o processo quando, sendo o facto quali- Artigo 71.º


ficado como crime punível com pena de prisão Notificações
de máximo superior a três anos, lhe merecer
concordância a proposta do curador de menores O despacho que designa dia para a audiência é no-
no sentido de que não é necessária a aplicação tificado às pessoas que nela devam comparecer, com a
de medida tutelar. antecedência mínima de oito dias.

2. Não se verificando nenhuma das situações referidas Artigo 72.º


no número anterior, o juiz determina o prosseguimento Local da audiência e trajo profissional
do processo, mandando notificar o menor, os pais ou re-
presentante legal e o defensor de que podem: 1. Oficiosamente ou a requerimento, o juiz pode deter-
minar que a audiência decorra fora das instalações do
a) Requerer diligências, no prazo de dez dias; tribunal, tendo em conta, nomeadamente, a natureza e
b) Alegar, no mesmo prazo, ou diferir a alegação gravidade dos factos e a idade, personalidade e condições
para a audiência; físicas e psicológicas do menor.

c) Indicar, no mesmo prazo, os meios de prova a 2. Os magistrados, os advogados e os funcionários de


produzir em audiência, se não requererem justiça usam trajo profissional na audiência, salvo quan-
diligências. do o juiz, oficiosamente ou a requerimento, considerar
que não é aconselhável, pela natureza ou gravidade dos
3. É correspondentemente aplicável o disposto no nº factos, pela personalidade do menor ou pela finalidade
3 do artigo 54º. da intervenção tutelar.

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I SÉRIE — NO 34 SUP. «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 27 DE NOVEMBRO DE 2006 13
Artigo 73.º Artigo 77.º

Audição separada Comparência do menor

1. O juiz pode ordenar que o menor ou qualquer outra 1. Em caso de falta do menor, a audiência é adiada e
pessoa que tenha sido chamada ao processo, sejam tem- os pais, representante legal ou quem tenha a sua guarda
porariamente afastados do local da audiência, quando de facto devem apresentar justificação no próprio dia, em
houver razões para crer que a sua presença possa: que se especifique a razão da impossibilidade e o tempo
provável da duração do impedimento.
a) Afectar o menor na sua integridade psíquica, di-
minuir a sua espontaneidade ou prejudicar a 2. Sempre que possível, a justificação de falta é acom-
sua capacidade de reconstituição dos factos; panhada de prova, sendo exigido atestado médico, se o
motivo for doença.
b) Inibir qualquer participante de dizer a verdade.
Artigo 78.º
2. Voltando ao local da audiência, o menor é resumi-
damente informado pelo juiz do que se tiver passado na Medida compulsória
sua ausência.
1. Se se tornar necessário para assegurar a realização
3. O juiz pode ouvir as pessoas separadamente ou em da audiência, o juiz emite mandados de detenção do
conjunto. menor e determina as diligências necessárias para a
realização da audiência no mais curto prazo, que não
Artigo 74.º
pode exceder doze horas.
Assistência
2. É correspondentemente aplicável o disposto na alí-
1. O juiz assegura que a prova seja produzida de forma nea b) do artigo 34º.
a não ferir a sensibilidade do menor ou de outros menores
Artigo 79º
envolvidos e que o decurso dos actos lhes seja acessível,
tendo em conta a sua idade e o seu grau de desenvolvi- Formalidades
mento intelectual e psicológico.
1. Aberta a audiência, o juiz expõe o objecto e a fina-
2. Para efeito do disposto no número anterior, o juiz lidade do acto, em linguagem simples e clara, de forma
pode determinar a assistência de médicos, de psicólogos, a ser compreendido pelo menor, tendo em atenção a sua
de outros especialistas ou de pessoa da confiança do idade e grau de desenvolvimento.
menor e determinar a utilização dos meios técnicos ou
processuais que lhe pareçam adequados. 2. De seguida, se não considerar que a medida pro-
posta pelo curador de menores é desproporcionada ou
Artigo 75.º
desadequada e não se tratar de medida tutelar de inter-
Organização e regime da audiência namento, o juiz:
1. A audiência é contínua, decorrendo sem interrupção ou a) Interroga o menor e pergunta-lhe se aceita a
adiamento até ao encerramento, salvo as suspensões neces- proposta;
sárias para alimentação e repouso dos participantes.
b) Ouve, sobre a proposta, os pais ou o represen-
2. Na organização da agenda e na programação das tante legal do menor, o defensor e, se estiver
sessões, são especialmente ponderadas a idade e a con- presente, o ofendido.
dição física e psicológica do menor.
3. Não sendo obtido consenso à proposta referida no
Artigo 76º
número anterior, o juiz pode continuar a procurar con-
Deveres de participação e de presença senso para outra medida que considere adequada, salvo
a medida tutelar de internamento, determinando a in-
1. É obrigatória a participação na audiência do curador tervenção dos serviços de reinserção social, suspendendo
de menores e do defensor. a audiência, por prazo não superior a 30 dias.
2. São convocados para a audiência:
4. Se for obtida a concordância de todos, o juiz homologa
a) O menor; a proposta do curador de menores, ou aplica a medida
proposta, nos termos do número anterior.
b) Os pais, representante legal ou quem tenha a
Artigo 80º
guarda de facto do menor;
Continuação da audiência
c) O ofendido;
1. Quando considerar desproporcional ou desadequada
d) Qualquer pessoa cuja participação seja necessária
a medida proposta pelo curador de menores, ou não existir
para assegurar as finalidades da audiência.
consenso sobre ela e, bem assim, se a proposta respeitar
3. Oficiosamente ou a requerimento, o juiz pode dis- a medida tutelar de internamento, o juiz determina a
pensar a comparência do menor ou de quaisquer outras prossecução da audiência e expõe as questões que con-
pessoas, ou ouvi-los separadamente, se o interesse do sidera relevantes para a solução do caso, precisando as
menor o justificar. que são controvertidas.

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14 I SÉRIE — NO 34 SUP. «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 27 DE NOVEMBRO DE 2006

2. De seguida, indica os meios de prova a produzir e declarações, podendo o curador de menores e o defensor
concede a palavra ao curador de menores e ao defensor requerer que sejam aditados os elementos que se mos-
para dizerem se têm provas complementares a oferecer, trarem necessários à boa decisão da causa.
deferindo as que considerar necessárias ao esclareci-
Artigo 85.º
mento do caso.
Alegações
3. Segue-se a produção de prova, decidindo o juiz, por
despacho, os incidentes que sobre ela se suscitarem. 1. Produzida a prova, o juiz concede a palavra ao cura-
Artigo 81º dor de menores e ao defensor para alegações, por trinta
minutos cada uma, prorrogável por mais quinze, se o
Regime das provas
justificar a complexidade da causa.
1. Para a formação da convicção do tribunal e a funda-
2. Oficiosamente ou a requerimento, o juiz pode ouvir
mentação da decisão, valem apenas as provas produzidas
o menor e os pais, o representante legal ou quem tiver a
ou examinadas em audiência.
sua guarda de facto, até ao encerramento da audiência.
2. Ressalvam-se do disposto no número anterior, as pro-
vas contidas em actos processuais, cuja leitura, em audiên- 3. Encerrada a audiência, o juiz recolhe para decidir,
cia, seja permitida nos termos dos artigos seguintes. podendo fazer-se acompanhar pelos técnicos do serviço de
reinserção social para serem auscultados, sobre a medida
Artigo 82.º tutelar a ser aplicada e sobre o modo da sua execução.
Leitura de autos
4. Em caso de complexidade, é designada data para
1. Sem prejuízo do disposto no número seguinte, é leitura da decisão, dentro de cinco dias.
permitida a leitura em audiência de autos de qualquer
Artigo 86.º
das fases do processo tutelar sócio-educativo que não con-
tenham declarações do menor, seus pais, representante Decisão
legal ou quem tenha a sua guarda de facto.
1. A decisão inicia-se por um relatório que contém:
2. A leitura de declarações anteriormente prestadas
pelo menor, pelos pais ou representante legal ou por quem a) A identificação do menor e dos pais, representante
tenha a sua guarda de facto é permitida: legal ou de quem tenha a sua guarda de facto
e do ofendido, quando o houver;
a) A pedido dos próprios ou, se não houver oposição,
independentemente da entidade perante a b) A indicação dos factos imputados ao menor, sua
qual tenham sido prestadas; qualificação e medida tutelar proposta, se a
houver.
b) Quando tenham sido prestadas perante a auto-
ridade judiciária. 2. Ao relatório segue-se a fundamentação que consiste
Artigo 83.º na enumeração dos factos provados e não provados, indi-
cação da sua qualificação e exposição, tão completa quan-
Declarações e inquirições
to concisa, das razões que justificam o arquivamento ou
1. O menor, os pais, o representante legal ou quem a aplicação de medida tutelar, com indicação das provas
tenha a sua guarda de facto são ouvidos pelo juiz. que serviram para formar a convicção do tribunal.

2. Se o interesse do menor não o desaconselhar e for 3. A decisão termina pela parte dispositiva que contém:
requerido, o juiz pode autorizar que o curador de menores
e o defensor inquiram directamente os pais, o represen- a) As disposições legais aplicáveis;
tante legal ou quem tenha a guarda de facto do menor.
b) A decisão de arquivamento ou de aplicação de
3. As testemunhas, os peritos e os consultores técnicos medida tutelar;
são inquiridos directamente pelo curador de menores e
pelo defensor. c) A designação das entidades, públicas ou privadas,
a quem é deferida a execução da medida tutelar
4. O curador de menores e o defensor podem sempre e o seu acompanhamento;
propor a formulação de perguntas adicionais.
d) O destino a dar a coisas ou objectos relacionados
Artigo 84º com os factos;
Documentação
e) A comunicação da decisão ao serviço de reinserção
1. As declarações prestadas em audiência são docu- social;
mentadas em acta quando o tribunal dispuser de meios
idóneos para assegurar a sua reprodução integral. f) A data e a assinatura do juiz.

2. Se o tribunal não dispuser dos meios referidos no 4. No caso de ser aplicada medida de internamento, o
número anterior, o juiz dita para a acta uma súmula das tribunal indica o regime de execução da medida.

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Artigo 87.º Artigo 91.º

Publicidade da decisão Âmbito do recurso

1. É obrigatória a presença do menor na sessão em 1. O recurso abrange toda a decisão.


que for tornada pública ou lida a decisão, salvo se, no
2. O recurso interposto em matéria de facto aproveita
seu interesse, for dispensada.
a todos os menores que tenham sido julgados no mesmo
2. É também obrigatória a presença do curador de processo.
menores e do defensor. Artigo 92.º

3. A decisão é explicada ao menor. Efeito do recurso

4. A leitura da decisão equivale à sua notificação. 1. No exame preliminar, o relator verifica se deve man-
ter o efeito atribuído ao recurso e confirma-o ou altera-o,
Secção IV determinando, neste caso, as providências adequadas.
Recursos
2. O recurso interposto de decisão que aplique ou
Artigo 88.º mantenha medida cautelar é decidido no prazo máximo
de quinze dias.
Admissibilidade do recurso
Artigo 93º
1. Só é permitido recorrer de decisão que: Conferência e repetição da prova

a) Ponha termo ao processo; O recurso é julgado em conferência, sendo o processo


reencaminhado à primeira instância para repetição ou
b) Aplique ou mantenha medida cautelar;
complemento de prova, quando se mostre necessário para
c) Aplique ou reveja medida tutelar; habilitar a instância a formular a sua decisão final.

d) Recuse impedimento deduzido contra o juiz ou o TÍTULO III


curador de menores; EXECUÇÃO DAS MEDIDAS
e) Condene no pagamento de quaisquer importâncias; CAPÍTULO I
f) Afecte direitos pessoais ou patrimoniais do menor Princípios Gerais
ou de terceiros.
Artigo 94º
2. O recurso é interposto para o tribunal judicial de Exequibilidade das decisões
segunda instância, se houver, ou para o Supremo Tri-
bunal de Justiça, que julgam definitivamente, de facto A execução de medida só pode ter lugar por força de
e de direito. decisão transitada em julgado que determine a medida
aplicada.
3. O juiz do tribunal recorrido fixa provisoriamente o
Artigo 95º
efeito do recurso.
Entidades encarregadas de acompanhar e assegurar
Artigo 89.º
a execução das medidas tutelares sócio-educativas
Prazo de interposição
1. Sem prejuízo de poderes específicos de acompanha-
1. O prazo para interposição do recurso é de cinco dias. mento e promoção de medidas que entender necessárias
para ou durante a execução da medida tutelar aplicada ao
2. Se o recurso for interposto por declaração na acta, a menor e que ficam incumbidos ao curador de menores, na
motivação pode ser apresentada no prazo de cinco dias, decisão o tribunal fixa a entidade encarregada de acom-
contado da data da interposição. panhar e assegurar a execução da medida aplicada.
Artigo 90.º 2. Exceptuados os casos em que a entidade encarregada
de acompanhar e assegurar a execução da medida está
Legitimidade
determinada na lei, o tribunal pode encarregar da sua
Têm legitimidade para recorrer: execução a serviço público, instituição de solidariedade
social, organização não governamental e qualquer outra
a) O curador de menores, mesmo no interesse do entidade, pública ou privada, ou pessoa, a título indivi-
menor; dual, considerados idóneos.
Artigo 96.º
b) O menor, os pais, o representante legal ou quem
tenha a sua guarda de facto; Dever de informação

c) Qualquer pessoa que tiver a defender direito 1. As entidades encarregadas de acompanhar e as-
afectado pela decisão. segurar a execução das medidas, informam o tribunal,

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nos termos e com a periodicidade estabelecida na lei, enumeração no n.º 1 do artigo 4.º, e, relativamente às
ou, sendo esta omissa, por este determinados, sobre modalidades de cada uma, pelo grau de limitação que,
a execução da medida aplicada e sobre a evolução do em concreto, impliquem na autonomia de decisão e de
processo educativo do menor, bem como sempre que se condução de vida do menor.
verifiquem circunstâncias susceptíveis de fundamentar
Artigo 99 º
a revisão das medidas.
Recursos
2. O menor, os pais, o representante legal ou quem
tenha a sua guarda de facto e o defensor têm acesso, 1. O menor, os pais, o representante legal ou quem
nos termos previstos na lei, às informações referidas no tenha a sua guarda de facto e o defensor podem interpor
número anterior, sempre que o solicitem e o tribunal recurso de qualquer decisão tomada durante a execução
autorize. de medida tutelar que imponha restrições superiores às
decorrentes da decisão judicial.
Artigo 97º

Processo individual do menor 2. O recurso é dirigido, por escrito, ao tribunal compe-


tente para a execução, que decide em definitivo.
1. A informação relativa a menor submetido a medida
tutelar sócio-educativa integra um processo individual, 3. O tribunal pode fixar efeito suspensivo ao recurso,
organizado pelo serviço de reinserção social. relativamente às decisões susceptíveis de alterar subs-
tancialmente as condições de execução da medida.
2. Por cada menor é organizado um único processo.
4. O recurso é decidido no prazo de cinco dias a contar
3. O acesso ao processo individual é reservado às en- da data do seu recebimento, ouvidos o curador de menores
tidades e pessoas previstas na lei, podendo o juiz, nos e as pessoas que o tribunal considere necessárias.
casos em que esteja em causa a intimidade do menor ou Artigo 100º
de outras pessoas, restringir o direito de acesso.
Extinção das medidas tutelares sócio-educativas
4. O disposto no número anterior não é aplicável ao
ministério público. O tribunal competente para a execução declara extinta
a medida, notificando por escrito o menor, o defensor, os
5. Os processos referidos no presente artigo são obriga- pais, o representante legal ou quem tenha a sua guarda
toriamente destruídos, decorridos cinco anos sobre a data de facto e a entidade encarregada de acompanhar e as-
da cessação da última medida tutelar sócio-educativa segurar a execução.
aplicada por facto qualificado de crime cometido antes
de atingir a idade da imputabilidade penal. CAPÍTULO II
Artigo 98 º Revisão das medidas Tutelares Socio-Educativas
Execução sucessiva de medidas tutelares sócio-educativas Artigo 101.º

1. Quando for determinada a execução sucessiva de Pressupostos


medidas tutelares sócio-educativas no mesmo processo,
1. A medida tutelar é revista quando:
a ordem pela qual são executadas é fixada pelo tribunal,
que pode ouvir, para o efeito, as pessoas, entidades ou a) A execução se tiver tornado impossível, por facto
serviços que entender convenientes. não imputável ao menor;
2. No caso de execução sucessiva de medidas tutelares b) A execução se tiver tornado excessivamente one-
sócio-educativas, a execução efectua-se por ordem de- rosa para o menor;
crescente do grau de gravidade, salvo quando o tribunal
entender que a execução prévia de uma determinada c) No decurso da execução a medida se tiver tornado
medida favorece a execução de outra aplicada ou entender desajustada ao menor, por forma que frustre
que a situação concreta e o interesse do menor aconse- manifestamente os seus fins;
lham execução segundo ordem diferente.
d) A continuação da execução se revelar desneces-
3. Para efeito do disposto no número anterior: sária devido aos progressos educativos alcan-
çados pelo menor;
a) A execução de medida de internamento prevalece
sobre a execução das restantes medidas, cujo e) O menor se tiver colocado intencionalmente em
cumprimento se suspende, se for o caso; situação que inviabilize o cumprimento da
medida;
b) A execução de medida de internamento de regi-
me mais restritivo prevalece sobre medida de f) O menor tiver violado, de modo grosseiro ou per-
internamento de regime menos restritivo, cujo sistente, os deveres inerentes ao cumprimento
cumprimento se suspende, se for o caso. da medida;

4. O grau de gravidade das medidas tutelares só- g) O menor, com mais de 16 anos, cometer infracção
cio-educativas afere-se pela ordem crescente da sua criminal.

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Artigo 102.º c) Substituir a medida por outra mais adequada,
Modalidades e periodicidade
igualmente não institucional, desde que tal não
da revisão das medidas tutelares sócio-educativas represente para o menor uma maior limitação
na sua autonomia de decisão e de condução da
1. A revisão tem lugar, oficiosamente, a requerimento sua vida;
do curador de menores, do menor, do defensor, dos pais,
do representante legal, ou de quem tenha a sua guarda d) Reduzir a duração da medida;
de facto ou mediante proposta dos serviços de reinserção
e) Pôr termo à medida, declarando-a extinta.
social.
2. Quando proceder à revisão das medidas não insti-
2. A revisão oficiosa pode ter lugar a todo o tempo,
tucionais, pelas razões indicadas nas alíneas e) e f) do
sendo obrigatória decorrido um ano após:
artigo 101º, o juiz pode:
a) O início da execução da medida;
a) Advertir solenemente o menor para a gravidade
b) A anterior revisão; da sua conduta e para as eventuais consequên-
cias daí decorrentes;
c) A aplicação de medida cuja execução não se tiver
iniciado, logo que for cumprido mandado de b) Modificar as condições da execução da medida;
condução do menor ao local que o tribunal tiver
c) Substituir a medida por outra mais adequada,
determinado.
igualmente não institucional, mesmo que tal
3. Para efeitos de se dar início ao processo de revisão, represente para o menor uma maior limitação
nos termos da alínea c) do número anterior, a entidade na sua autonomia de decisão e de condução da
encarregada de acompanhar e assegurar a execução da sua vida;
medida comunica, de imediato, ao tribunal competente
d) Ordenar o internamento em regime semiaberto,
a data do início da execução.
por período de um a quatro fins-de-semana.
4. A medida de internamento, em regime semiaberto e 3. A substituição da medida, nos termos previstos na
em regime fechado, é obrigatoriamente revista seis meses alínea c) do nº 1 e na alínea c) do nº 2, pode ser deter-
após o início da execução ou a anterior revisão. minada por tempo igual ou inferior ao que falte para o
5. A revisão, a requerimento, de medidas tutelares cumprimento da medida substituída.
sócio-educativas pode ter lugar a todo o tempo, salvo no Artigo 104º
caso da medida de internamento.
Efeitos da revisão da medida de internamento
6. A revisão, a requerimento, da medida de interna-
mento pode ter lugar três meses após o início da sua 1. Quando proceder à revisão da medida de interna-
execução ou após a última decisão de revisão. mento pelas razões indicadas nas alíneas a) a d) do artigo
101.º, o tribunal pode:
7. No caso de revisão a requerimento das pessoas refe-
ridas no n.º 1, o juiz deve ouvir o curador de menores, o a) Manter a medida aplicada;
menor e a entidade encarregada da execução da medida. b) Reduzir a duração da medida;
Nos restantes casos, ouve o menor, sempre que o entender
conveniente. c) Modificar o regime da execução, estabelecendo um
regime mais aberto;
8. No caso previsto no n.º 2 do artigo anterior, o juiz
ouve o curador de menores, o menor e os serviços de d) Substituir a medida de internamento por qual-
reinserção social. quer medida não institucional, por tempo igual
ou inferior ao que falte cumprir;
9. A decisão de revisão é notificada ao menor, ao de-
fensor, aos pais, ao representante legal ou a quem tenha e) Suspender a execução da medida, por tempo igual
a sua guarda de facto e às entidades encarregadas da ou inferior ao que falte para o seu cumprimen-
execução. to, sob condição de o menor não voltar a prati-
car qualquer facto qualificado como crime;
Artigo 103.º

Efeitos da revisão das medidas tutelares sócio-educativas f) Pôr termo à medida aplicada, declarando-a extinta.
não institucionais
2. Quando proceda à revisão da medida de internamen-
1. Quando proceder à revisão das medidas não insti- to em Centro Sócio-Educativo pelas razões indicadas nas
tucionais, pelas razões indicadas nas alíneas a) a d) do alíneas e) e f) do artigo 101.º, o juiz pode, sem prejuízo do
artigo 101º, o tribunal pode: disposto no número seguinte:

a) Manter a medida aplicada; a) Advertir solenemente o menor para a gravidade


da sua conduta e para as eventuais consequên-
b) Modificar as condições da execução da medida; cias daí decorrentes;

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b) Prorrogar a medida aplicada, sem alteração do CAPÍTULO IV


respectivo regime, por um período até um sex-
to da sua duração, nunca excedendo o limite Internamento em Centro Sócio-Educativo
máximo legal de duração previsto; Artigo 108º

c) Modificar o regime da execução, substituindo-o por Remissão


outro de grau imediatamente mais restritivo,
pelo tempo que falte cumprir. À execução da medida tutelar de internamento são apli-
cáveis as disposições do Título IV do presente diploma.
3. A substituição do regime de execução, nos termos TÍTULO IV
da alínea c) do número anterior, apenas pode ser de-
terminada quando, consoante o caso, se verifiquem os CENTROS SOCIO-EDUCATIVOS
pressupostos previstos nos números 3º e 4º do artigo 17.º,
sendo correspondentemente aplicável, com as devidas CAPÍTULO I
adaptações, o disposto no artigo 151.º.
Disposições Gerais
4. O disposto no n.º 1 é aplicável, com as devidas adap- Artigo 109º
tações, aos casos de revisão obrigatória da medida a que
Objecto
se refere o n.º 2 do artigo 102.º
Os Centros Sócio-Educativos, adiante designados
CAPÍTULO III «Centros», são estabelecimentos destinados à colocação de
menores, com doze anos de idade e antes de perfazerem
Regras de execução das medidas dezasseis, a quem tenham sido aplicados judicialmente
não institucionais medida tutelar sócio-educativa de internamento nos
termos do presente diploma.
Artigo 105º
Artigo 110º
Admoestação
Natureza e finalidades dos Centros
1. A medida de admoestação é executada imediatamen-
te, se houver renúncia ao recurso, ou no prazo de oito dias 1. Os Centros funcionam junto dos Serviços de Reinser-
contado do trânsito em julgado da decisão. ção Social do departamento governamental responsável
pela área da justiça.
2. A admoestação é feita na presença do defensor do 2. Os Centros destinam-se exclusivamente:
menor e do curador de menores, podendo o juiz autorizar a
presença de outras pessoas, se a considerar conveniente. a) À execução de medida tutelar sócio-educativa de
internamento;
3. Os pais do menor, o representante legal ou quem ti-
ver a sua guarda de facto podem estar presentes, salvo se b) À medida provisória de guarda cautelar;
o juiz entender que a isso se opõe o interesse do menor.
c) À colocação provisória para efeitos da apresenta-
Artigo 106.º ção prevista no número 3 artigo 38º do presente
diploma.
Reparação ao ofendido e realização de tarefas
a favor da comunidade 3. A decisão judicial de colocação do menor no Centro,
é sempre precedida de audição da direcção do Centro,
1. No caso de aplicar a medida de reparação ao ofendido, destinada, designadamente, à informação sobre a exis-
nas modalidades previstas nas alíneas b) e c) do n.º 1 do ar- tência de vaga.
tigo 8º, o tribunal pode encarregar os serviços de reinserção
social de acompanhar a execução da medida. 4. Sempre que se mostre aconselhável a aplicação de
medida tutelar de internamento e haja inexistência de
2. No caso de aplicar a medida de realização de tarefas vaga no Centro na Comarca da residência do educando,
a favor da comunidade, incumbe aos serviços de reinser- o Tribunal pode decidir pela sua colocação noutro Centro
ção social acompanhar a execução da medida sempre que que se achar disponível, dando-se sempre preferência ao
esse acompanhamento não possa ser adequadamente que existir na ilha onde ele resida.
assegurado pela entidade destinatária da prestação ou 5. Na falta de Centros nas condições do número an-
da tarefa. terior, o tribunal deve sustar a adopção da medida de
Artigo 107º
internamento, que será substituída, enquanto perdurar
a falta de vaga, por obrigações de conduta que se mos-
Outras medidas não institucionais trarem mais próximas da realização do fim a que se pro-
põem com aquela intervenção tutelar, salvo se se tratar
Incumbe aos serviços de reinserção social acompanhar de medida de internamento em regime fechado, caso
a execução das demais medidas não institucionais pre- em que o educando é recolhido em instalações próprias
vistas no presente diploma. e adequadas de entidade policial, sem ser encarcerado,

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sendo-lhe ministrados os cuidados e a assistência médi- d) Tomar conhecimento do Plano Educativo Pes-
ca, psicológica e social que forem aconselhados pela sua soal (PEP) e da evolução da situação de cada
idade, sexo e condições individuais. educando;

6. Conta-se, como tempo de internamento, o período e) Tomar conhecimento regular dos procedimentos
em que o menor ficar submetido a qualquer das medidas disciplinares em curso e das medidas disci-
provisórias referidas no número anterior. plinares aplicadas aos educandos e avaliar os
seus efeitos pedagógicos;
CAPÍTULO II

Criação, Composição e Funcionamento f) Tomar conhecimento e decidir das exposições,


dos Centros e Comissões de Acompanhamento queixas e reclamações apresentados pelos
educandos, pelos pais, representante legais
Artigo 111º ou defensores, relativos a decisões ou ao fun-
cionamento do Centro;
Criação dos Centros e das Comissões de Acompanhamento

Os Centros são criados por Portaria do membro do Go- g) Exercer os demais poderes que, por lei, regula-
verno responsável pela área da Justiça, que nesse mesmo mento interno, delegação ou subdelegação, lhe
diploma designa uma Comissão destinada a acompanhar sejam conferidos.
a actividade dos mesmos.
Artigo 114º
Artigo 112º
Director
Composição e Funcionamento da Comissão
de Acompanhamento
1. O Centro é dirigido por um Director, a quem compete,
1. A Comissão de Acompanhamento, referida no artigo nomeadamente:
anterior, é composta por cinco membros, designados pelo
membro do governo responsável pela área da justiça, a) Coordenar, globalmente, todas as actividades
mediante proposta do serviço de reinserção social, dentre desenvolvidas no âmbito do Centro;
cidadãos de reconhecida idoneidade cívica.
b) Coordenar e orientar as actividades relacionadas
2. A Comissão de Acompanhamento reúne, ordina- com o apoio, acompanhamento e manutenção
riamente, uma vez por mês e, extraordinariamente, por dos educandos, mantendo com estes contacto
sua iniciativa ou mediante proposta de, pelo menos, directo;
dois membros da comissão, e, excepcionalmente, por
convocatória urgente do director do Centro, efectuada
c) Submeter à aprovação da Comissão de Acompa-
por qualquer meio.
nhamento e dar conhecimento ao serviço da
3. As reuniões são convocadas, por escrito, com um mí- reinserção social, dentro dos prazos que lhe
nimo de cinco dias de antecedência, devendo a convocató- forem fixados, do projecto de intervenção edu-
ria conter a agenda de trabalhos, sem prejuízo do disposto cativa e o regulamento interno do Centro;
quanto a convocatórias urgentes em que a reunião terá
lugar no mais curto espaço de tempo possível. d) Assegurar a execução do projecto de intervenção
educativa e o cumprimento do regulamento
4. Das actas das reuniões são lavrados extractos das interno do Centro, bem como das leis, regu-
decisões relativas a cada educando, para efeitos judiciais lamentos, decisões e orientações aplicáveis
ou outros. ao Centro;
Artigo 113º
e) Aprovar as informações, avaliações, relatórios e
Competências da Comissão de Acompanhamento perícias elaborados sobre os educandos,

Á Comissão de Acompanhamento compete pronunciar- f) Submeter à aprovação do serviço de reinserção


se sobre todas as matérias relacionadas com a interven- social, dentro dos prazos que lhe forem fixados,
ção educativa do Centro, nomeadamente: o plano e o relatório anual de actividades, bem
como o orçamento e as contas do Centro;
a) Apreciar e aprovar as propostas de projecto de in-
tervenção educativa e de regulamento interno
g) Assegurar a permanente articulação do Centro
do Centro, bem como as propostas de alteração
com os tribunais e com entidades públicas e
dos mesmos;
particulares que intervêm em áreas de inte-
b) Apreciar o plano e o relatório anual de actividades resse para o desenvolvimento da actividade
do Centro; do Centro;

c) Tomar conhecimento de todas as decisões judiciais h) Autorizar o internamento hospitalar do educando


relativas aos educandos; e, em casos de urgência, exames de diagnóstico

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ou outras intervenções que requeiram anestesia ou mandado das autoridades judiciárias e deve ser acom-
geral, dando de, imediato, conhecimento do facto panhada da respectiva ordem ou mandado de condução
ao tribunal e aos pais, representante legal ou que, inequivocamente, determine a colocação do educando
pessoa que detenha a guarda do educando; no Centro, bem como a duração do internamento.

i) Exercer os demais poderes que, por lei, regula- 2. Compete ao serviço de reinserção social a entrega
mento, delegação ou subdelegação, lhe sejam do menor ao Centro, para execução da medida judiciária
conferidos. referida no número anterior.

2. O director é coadjuvado, no exercício das suas fun- 3. Sempre que se mostre necessário ao cumprimento
ções, por um técnico, que o substitui nas suas faltas e da ordem ou mandado referidos no número anterior o
impedimentos. serviço de reinserção social deve solicitar a colaboração
das entidades policiais para o efeito.
Artigo 115º
Artigo 119º
Educandos
Cessação do internamento
Para efeitos do presente diploma, consideram-se edu-
candos os menores colocados nos Centros Sócio-Educa- 1. O internamento cessa mediante mandado da auto-
tivos, em cumprimento de decisões judiciais. ridade judicial competente.

CAPÍTULO III 2. Na preparação da saída do educando por cessação


do internamento, o Centro deve envolver os pais, o re-
Principios Orientadores presentante legal ou pessoa que detenha a sua guarda,
Artigo 116º bem como, quando necessário e com respeito pelos seus
direitos e preservação da sua dignidade e intimidade, os
Princípios orientadores da intervenção dos Centros
serviços da comunidade que possam contribuir para a
1. A intervenção dos Centros subordina-se ao princí- sua reinserção.
pio de que o educando é sujeito de direitos e deveres e
CAPÍTULO V
de que mantém todos os direitos pessoais e sociais cujo
exercício não seja incompatível com a execução da me- Execução da medida
dida aplicada.
Artigo 120º
2. Os programas e métodos pedagógicos e terapêuticos Articulação do Centro com o tribunal e o serviço
utilizados nos Centros, subordinam-se ao princípio da de reinserção social
adequação, considerando a finalidade e a duração do
internamento e as necessidades do educando, nomeada- 1. Para além do envio, nos prazos fixados pelo tribu-
mente ao nível do seu desenvolvimento pessoal e social nal, das informações e relatórios solicitados, o director
e do reforço do seu sentido de responsabilidade. do Centro deve manter com o tribunal, o curador de
menores e o serviço de reinserção social uma constante
Artigo 117º
articulação, prestando informação oportuna e adequada
Dever de colaboração sobre as ocorrências relevantes no processo de execução
da medida aplicada, apresentando as propostas que
Aos pais, ao representante legal ou pessoa que detenha
considere adequadas e solicitando os esclarecimentos
a guarda de facto do menor, incumbe o dever de colabo-
necessários à correcta execução da mesma.
ração com os Centros, nomeadamente:
2. O director do Centro deve enviar ao tribunal, ao
a) Prestar as informações que lhe sejam solicitadas e
curador de menores e ao serviço de reinserção social,
avisar imediatamente o Centro das ocorrências
no prazo máximo de quarenta e oito horas após a sua
relevantes para o processo educativo e para a
verificação, informação sobre as seguintes situações ou
saúde e estabilidade emocional do educando;
ocorrências:
b) Cumprir as regras do Centro relativas a visitas
a) Recusa ou suspensão de visitas ou de comunica-
e contactos com o educando;
ções escritas ou telefónicas aos pais, represen-
c) Colaborar, com as autoridades judiciárias, com o tante legal ou pessoa que detenha a guarda do
Centro e com as entidades policiais na recon- educando;
dução do educando, quando este se encontre
b) Instauração e decisão de procedimento discipli-
em situação de ausência não autorizada.
nar, bem como decisão sobre reclamação da
CAPÍTULO IV aplicação de medida disciplinar;

Medida de colocação de menor c) Indícios da prática de ilícito penal pelo educando


ou em que o educando é ofendido;
Artigo 118º

Colocação e apresentação d) Doença grave ou acidente de que resulte in-


terrupção ou impedimento de frequência de
1. A apresentação do educando no Centro para execução actividades formativas por período previsível
da medida de internamento, depende, sempre, de ordem superior a um mês;

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e) Internamento hospitalar; Centro, não possam ficar na sua posse, será lavrado um
auto de entrega ao Centro com a descrição dos bens, da-
f) Recusa de tratamento clínico; tado e assinado pelo técnico que proceda à recepção do
educando e pelo responsável pela entrega ou condução
g) Tentativa de suicídio;
do educando ao Centro.
h) Greve de fome.
6. O original do auto deve constar do processo indivi-
3. A ausência, não autorizada, é comunicada ao tribu- dual, sendo entregue uma cópia ao educando.
nal e ao curador de menores, no prazo de 24 horas. Artigo 124º

Artigo 121º Saídas

Colaboração com as autoridades policiais 1. Na sua intervenção, o Centro deve incluir saídas
controladas regulares, da totalidade ou de grupos de
O Centro deve manter estreita colaboração com as enti- educandos, para prossecução de actividades formativas,
dades policiais, e, sempre que se verifiquem, no perímetro culturais ou recreativas.
interno ou externo do Centro, situações susceptíveis de
2. As saídas individuais são limitadas ao cumprimento
pôr em causa a ordem e a segurança do mesmo, o direc-
de obrigações judiciais, satisfação de necessidades de
tor ou, na sua ausência, qualquer outro funcionário do
saúde ou outros motivos igualmente ponderosos, sendo
Centro, deve dar conhecimento imediato às autoridades
sempre acompanhadas por funcionários do Centro e
policiais, solicitando a adopção de medidas adequadas
limitadas ao tempo mínimo indispensável e precedidas
ao caso.
de autorização escrita do director do Centro.
Artigo 122º
Artigo 125º
Execução da medida Intervenção hospitalar

1. O Centro deve proporcionar ao educando diferentes Em situação de doença que exija urgente intervenção
opções de actividades formativas, desportivas e de tempos terapêutica que não possa ser prestada no Centro sem
livres, fazendo intervir, sempre que possível, elementos agravar o estado clínico do educando, o director pode pro-
da comunidade na animação dessas actividades. ceder à sua evacuação para estabelecimento hospitalar
adequado, informando o tribunal e o curador de menores,
2. O Centro deve proporcionar ao educando apoio psi- em prazo não inferior a doze horas.
cológico e terapêutico individualizado, de forma a ajudá-
Artigo 126º
lo a ultrapassar as dificuldades pessoais e sociais que
apresenta, nomeadamente as que motivaram a aplicação Projecto de intervenção educativa
da medida de internamento.
1. A actividade de cada Centro concretiza-se no projecto
Artigo 123º de intervenção educativa.
Acolhimento 2. O projecto de intervenção educativa específica, sem-
pre que possível, a programação faseada da intervenção,
1. No momento do acolhimento do educando, deve ser- diferenciando os objectivos em cada fase e os respectivos
lhe proporcionado um ambiente de empatia e de ajuda, sistemas de reforços, positivos e negativos, dentro dos
que o auxiliem a compreender o sentido da decisão de limites fixados pelo presente diploma.
internamento e a aceitar as regras do Centro.
Artigo 127º
2. O acolhimento inclui a visita orientada ao Centro, a Regulamento interno
informação completa e esclarecedora dos seus direitos e
deveres, das regras de funcionamento quanto a horários 1. Com vista a garantir a convivência tranquila e orde-
e actividades, do regime disciplinar, bem como dos pro- nada dos educandos e a assegurar a realização do projecto
cedimentos para efectuar pedidos, apresentar queixas e de intervenção educativa é obrigatória a existência, em
interpor recursos. cada Centro, de um regulamento interno.

3. O disposto no número anterior é aplicável, com as 2. Constituem matérias a consagrar no regulamento


devidas adaptações, aos pais, representante legal ou interno, nomeadamente, as seguintes:
pessoa que detenha a guarda do educando, quando os a) Horários e regimes de funcionamento interno;
mesmos acompanhem o educando na apresentação ou
em momento posterior. b) Regras para o acolhimento dos educandos;
c) Regime disciplinar;
4. O técnico responsável pelo acolhimento deve certifi-
car-se, através de documento de identificação, ou, na sua d) Regras de atribuição de prémios a educandos;
falta, de outro meio idóneo, se a identidade do educando
e) Normas de higiene e segurança;
corresponde à referida na decisão judicial que determina
o internamento. f) Regime de visitas ao Centro;
5. Dos objectos e valores pessoais que o educando g) Objectos pessoais cuja posse é autorizada, e em
seja portador e que, segundo o regulamento interno do que circunstâncias.

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3. Deve, ainda, constar do regulamento interno a or- Artigo 132º


ganização dos serviços e a orgânica do centro, nomeada- Entrega de documentos, bens e valores
mente a composição da equipa de coordenação.
1. No momento da saída, por cessação do internamen-
4. Os regulamentos são aprovados pela Comissão de to, ao educando devem ser entregues os documentos
Acompanhamento do Centro, prevista no artigo 111º do pessoais, os certificados de habilitações escolares e pro-
presente diploma, sob proposta do seu director e homolo- fissionais e os bens e valores que lhe pertencem e que se
gados por despacho do membro do Governo responsável encontrem à guarda do Centro.
pela área da Justiça.
2. Dos certificados de habilitações escolares e profis-
Artigo 128º
sionais não deve constar qualquer menção que permita
Planos de actividades a identificação do cumprimento de medida tutelar.

As actividades que integram o projecto de intervenção 3. A entrega é acompanhada de uma relação de docu-
educativa dos Centros, são desenvolvidas e concretizadas mentos, bens e valores recebidos, a qual será assinada em
em planos trimestrais. duplicado, ficando um exemplar no processo individual
do educando.
Artigo 129º
Artigo 133º
Processo individual do educando
Dinheiro

1. As decisões judiciais e os documentos técnicos que 1. O dinheiro do educando é constituído por todas
integram o processo individual elaborado nos termos do as quantias, de proveniência conhecida e autorizada,
artigo 97º, são transferidos para o Centro durante o pe- susceptíveis de serem colocadas na sua titularidade,
ríodo em que o menor esteja a cumprir nele uma medida nomeadamente as resultantes de:
tutelar sócio-educativa de internamento.
a) Bolsas de formação;
2. O acesso ao processo individual no Centro é reser-
vado às pessoas autorizadas pelo director, podendo o b) Remunerações por trabalho;
juiz, nos casos em que esteja em causa a intimidade do
c) Prestações sociais;
educando ou de outras pessoas, restringir o direito de
acesso. d) Donativos de familiares ou outras pessoas idóneas.
3. O disposto no número anterior não é aplicável ao 2. O educando deve ser orientado de forma a adquirir
Ministério Público. hábitos de gestão do seu dinheiro, bem como a responsabi-
lizar-se pelo ressarcimento de danos, devendo manter um
Artigo 130º
fundo de reserva constituído por, pelo menos, um terço
Plano pessoal do educando de todas as quantias recebidas durante o internamento,
à excepção dos donativos de familiares ou de outras pes-
1. No prazo de trinta dias, após a colocação do menor, soas idóneas, quando outro destino for expressamente
o Centro deve elaborar, com o envolvimento efectivo determinado pelos doadores.
do educando, um Plano Educativo Pessoal (PEP) para
cumprimento da medida tutelar. 3. O Centro deve manter actualizada, no processo in-
dividual, uma conta corrente dos proventos e despesas
2. O PEP deve integrar as áreas em que o menor carece do educando e informar, sempre que este o solicite, o
de desenvolvimento, tendo em atenção a avaliação psico- montante do dinheiro de que é titular.
social que antecedeu a colocação, os objectivos a atingir e
Artigo 134º
as actividades de formação pessoal, escolar, profissional,
e de inserção sócio-familiar a desenvolver. Tabaco, álcool e drogas

3. O plano referido nos números anteriores é comuni- 1. É proibido introduzir, guardar ou consumir, no
cado ao tribunal, ao curador de menores e ao serviço de Centro, bebidas alcoólicas, drogas ou quaisquer outras
reinserção social. substâncias ou produtos de efeitos equiparáveis.

CAPÍTULO VI 2. Não é permitido aos educandos deter na sua posse


tabaco, isqueiros ou fósforos, nem fumar no Centro.
Regras gerais de funcionamento dos Centros
CAPÍTULO VII
Artigo 131º
Segurança dos Centros
Documentos
Artigo 135º
O Centro deve zelar pela obtenção e manutenção actu- Medidas preventivas e de vigilância
alizada dos documentos pessoais do educando, designa-
damente os de identificação, devendo constar do processo 1. Em ordem a assegurar a tranquilidade, disciplina e
individual, cópia dos referidos documentos. segurança no Centro, nomeadamente sempre que exis-

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tam fundadas suspeitas de introdução ou existência de Artigo 139º


substâncias ou objectos perigosos, proibidos por lei ou Conceito e classificação de infracção
regulamento, podem ser efectuadas:
1. Constitui infracção disciplinar a violação pelo edu-
a) Inspecções a locais e dependências individuais cando dos deveres a que se acha submetido, de acordo com
ou colectivas; as regras previstas no regulamento interno do Centro.
b) Revistas pessoais, bem como às roupas e objectos
2. As infracções previstas no número anterior, podem
dos educandos.
ser classificadas no regulamento interno como leves,
2. As revistas a educandos são efectuadas sempre por graves e muito graves.
pessoal educativo, sem a presença de pessoas de sexo Artigo 140º
diferente ou de outros educandos e conduzidas de forma
a não ofender a sua dignidade pessoal. Deveres especiais do pessoal dos Centros

3. Por razões de segurança, a saída de educandos de lo- Qualquer pessoa integrada na estrutura do Centro, tem
cais em que existam ferramentas, utensílios ou materiais o dever de obstar, por si mesma ou em colaboração com
cortantes ou perigosos, pode ser precedida de revista. outra e pelos meios lícitos que estiverem ao seu alcance,
ainda que se encontre fora do seu horário de trabalho,
Artigo 136º
a prática de infracção disciplinar dos educandos e o de
Apreensão de objectos, substâncias ou valores proibidos ou participar ao director infracção disciplinar por si directa-
ilegítimos mente constatada ou da qual tenha conhecimento.
1. Sempre que sejam detectados objectos ou subs- Artigo 141º
tâncias proibidos, o pessoal que procede à inspecção ou
Objectivo e tipicidade e das medidas disciplinares
revista faz a sua apreensão imediata.
1. As medidas disciplinares aplicáveis visam incutir
2. O disposto no número anterior aplica-se igualmente
no educando o respeito pelos valores que inspiram os
à detecção de valores ou de quantias, em dinheiro, na
deveres ou regras violadas e a sua motivação, para a não
posse de educandos, cuja origem seja desconhecida ou
repetição de tais condutas.
ilegítima.
3. A apreensão é registada em auto, com indicação do 2. São medidas disciplinares:
dia, hora e local, descrição pormenorizada dos objectos, a) Admoestação;
substâncias ou valores apreendidos, circunstancialismo
que envolveu a apreensão e assinatura do funcionário e b) Imposição de deveres ou condutas;
do educando ou pessoa a quem foram apreendidos.
Artigo 142º
Artigo 137º
Admoestação
Contenção física pessoal
A admoestação consiste numa censura firme, solene e
1. A contenção física pessoal do educando deve limitar- inequívoca que caracterize ou destaque a regra ou o dever
se, estritamente, à utilização da força física indispensável infringidos e as respectivas consequências.
e proporcional para imobilização e eventual remoção do
Artigo 143º
educando do local da ocorrência, quando, pela sua condu-
ta, esteja a pôr em risco a sua vida ou integridade física, Imposição de determinados deveres ou condutas
ou a vida e integridade física de outras pessoas.
1. A imposição de determinados deveres ou condutas
2. Após a imobilização ou remoção do educando, deve ao educando, pode consistir:
ter lugar uma intervenção pedagógica, no sentido de o
fazer reflectir sobre as causas que levaram à sua conten- a) Na obrigação de se desculpar, pessoalmente, pe-
ção física, relembrando-lhe os deveres a que está sujeito rante o ofendido ou a direcção da instituição,
e as consequências do seu incumprimento. conforme couber;

CAPÍTULO VIII b) Na realização de uma tarefa para benefício colec-


tivo no Centro;
Regime Disciplinar
c) Na reparação dos prejuízos ou dos danos causados
Artigo 138º
preferencialmente através do seu trabalho;
Subsidiariedade do procedimento
e das medidas disciplinares d) Na suspensão de participação em algumas ou em
todas as actividades recreativas programadas;
As medidas disciplinares e o procedimento disciplinar
constituem o último recurso dos Centros para corrigir e) Na suspensão do convívio com os companheiros,
as condutas dos educandos que constituam infracções traduzindo-se na impossibilidade temporária
disciplinares, só sendo aplicáveis quando as actuações de contacto total ou parcial do educando com
educativas não se revelem possíveis ou adequadas, ou os seus companheiros, através de meios que o
não sejam voluntariamente aceites pelo educando. mantenham separado dos seus pares.

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2. Na execução da medida de suspensão do convívio com Artigo 148º


os companheiros, deve utilizar-se um espaço adequado,
Competência e prazos
devendo o Centro organizar as condições que permitam o
seu acompanhamento educativo, e, se necessário, clínico 1. Em face da participação de ocorrência e no mais curto
ou psicológico, de forma a ajudá-lo a reflectir na gravi- espaço de tempo possível, o director ou quem o substitua,
dade da sua conduta e a interiorizar os valores ínsitos à determina a instauração de procedimento disciplinar,
norma violada. designa o instrutor e fixa o prazo para a sua conclusão.
3. As medidas previstas nas alíneas a) a c) deste ar-
tigo são cumuláveis entre si e com qualquer das outras 2. A designação de instrutor não deve recair sobre o
medidas incluindo a admoestação. técnico responsável pelo acompanhamento do educando,
nem sobre pessoa que tenha tido intervenção directa ou
Artigo 144º indirecta na ocorrência que originou o procedimento.
Competência para a aplicação das medidas disciplinares
3. A conclusão do procedimento disciplinar, deve ocor-
1. O director do Centro tem competência para a apli- rer no mais curto espaço de tempo possível, não podendo,
cação de qualquer das medidas disciplinares previstas em caso algum, ultrapassar dez dias úteis.
no presente diploma.
Artigo 149º
2. Para além do director, para aplicação da admoesta-
ção e das medidas previstas nas alíneas a) e b) do artigo Arquivamento
anterior, têm competência os técnicos que, no momento
da prática da infracção ou do seu conhecimento, estejam Se o instrutor concluir, em qualquer fase do procedi-
directamente em contacto com o educando. mento, pela inexistência de infracção disciplinar ou pela
exclusão da responsabilidade disciplinar do educando,
3. As medidas cuja aplicação seja da competência exclu- propõe o arquivamento, dando-se imediato conhecimento
siva do director podem ser aplicadas pelo seu substituto ao educando.
legal, em caso de ausência ou impedimento deste.
Artigo 150º
Artigo 145º
Aplicação da medida disciplinar
Garantia de audição e de defesa do educando
no procedimento disciplinar
1. Concluído o procedimento, o instrutor submete-o ao
O início do procedimento disciplinar é comunicado ao director do Centro para decisão.
educando, assim como os factos que lhe são imputados
e as medidas disciplinares aplicáveis, sendo-lhe garan- 2. Antes de aplicar a medida disciplinar, o director
tido o direito de ser ouvido e do contraditório, podendo do Centro pode, se o considerar suficiente e adequado,
constituir defensor. propor ao educando medidas de reparação do dano ou de
conciliação com o ofendido, ou a realização de uma tarefa
Artigo 146º
para benefício colectivo no Centro.
Dispensa de procedimento disciplinar
3. A aceitação e o cumprimento pelo educando da
1. A aplicação das medidas educativas de admoestação proposta referida no número anterior extinguem o pro-
bem como das previstas na alínea a) do artigo 143º não cedimento.
carecem de procedimento disciplinar desde que a infrac-
ção a que respeitem seja leve e tenha sido directamente 4. A execução da medida disciplinar inicia-se no mais
presenciada por profissional envolvido na intervenção breve prazo possível, após a notificação ao educando da
junto do educando. decisão que a aplicou.
2. Na situação prevista no número anterior, antes de Artigo 151º
aplicar a medida, o profissional deve dar ao educando a
possibilidade de, oralmente e de forma sumária, explicar Comunicação e registo do processo
as razões que o levaram ao cometimento da infracção. e das medidas disciplinares

Artigo 147º 1. A instauração do processo, bem como a decisão que


Procedimento disciplinar aplicar medida disciplinar, são comunicadas ao tribunal,
ao curador de menores, ao educando, aos pais deste e seu
O procedimento disciplinar consta de: representante legal ou a quem detiver a sua guarda de
facto, no prazo de vinte e quatro horas.
a) Participação de ocorrência;
b) Registo de audição do educando; 2. Com excepção da admoestação e da medida prevista
na alínea a) do artigo 143º, é obrigatório o registo das
c) Relatório com a súmula das declarações de even- medidas disciplinares aplicadas no processo individual
tuais testemunhas ou ofendidos, do resultado do educando, através da junção ao mesmo de cópia do
de outras diligências realizadas, bem como a relatório e da decisão que concluem o procedimento
proposta fundamentada de decisão. disciplinar.

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Artigo 152º responsáveis pela política da educação, emprego e soli-
Recurso gracioso
dariedade social, estabelece anualmente o rol dos estabe-
lecimentos, empresas e associações, publicas e privadas,
1. O educando, os pais, o representante legal ou quem habilitadas e autorizadas a acolherem e orientarem os
tenha a sua guarda de facto e o defensor, podem recor- menores na realização de programas educativos ou de
rer da decisão que aplicou a medida disciplinar, para a formação profissional decretadas em processo tutelar
Comissão de Acompanhamento. sócio-educativo.

2. A admoestação é insusceptível de recurso. Artigo 157º

3. O recurso, com a explicitação sumária das razões Dotação orçamental


em que assenta a discordância com a decisão proferida,
é apresentado, por escrito, ao director do Centro no No Orçamento do Estado deve ser anualmente inscrita,
prazo máximo de quarenta e oito horas, a contar da co- consignada e dotada verba específica, previsivelmente
municação ao educando da decisão que aplicou medida adequada à cabal execução das medidas tutelares sócio-
disciplinar, que o encaminhará de imediato à comissão educativas previstas no presente diploma.
de Acompanhamento. Artigo 158º

4. O recurso não impede o início da execução da medida Derrogação e direito subsidiário


disciplinar.
1. Sem prejuízo do disposto nos artigos 159º e 160º são
5. Apresentado o recurso, a entidade competente para a
derrogadas todas as disposições do Decreto-Lei nº 17/83,
sua decisão pode no prazo máximo de vinte e quatro horas
de 2 de Abril, respeitantes a medidas tutelares sócio-
determinar a suspensão da continuidade da execução se,
educativas aplicáveis a menores que, tendo completado
pela análise sumária das razões invocadas, for de concluir
doze anos de idade e antes de perfazerem dezasseis anos
que o mesmo tem fundamentos atendíveis.
de idade, sejam agentes de algum facto qualificado pela
Artigo 153º lei como crime.

Competência e prazo do recurso gracioso 2. Em tudo quanto seja omisso o presente diploma,
aplicam-se, com as devidas adaptações, os princípios do
No prazo de oito dias úteis, a contar da data do seu
direito penal e processual penal e as normas em vigor
recebimento, o recurso é obrigatoriamente decidido pela
contidas nos respectivos Códigos.
Comissão de Acompanhamento.
Artigo 159º
Artigo 154º

Notificação da decisão Não aplicação a processos pendentes

1. A decisão sobre o recurso é notificada ao educando, As disposições de natureza processual do presente di-
aos pais, representante legal ou pessoa que detenha a ploma, não se aplicam aos processos tutelares iniciados
sua guarda de facto e ao defensor, no prazo de quarenta anteriormente à data do início da vigência do presente
e oito horas. diploma, quando, da sua aplicabilidade imediata, possa
resultar quebra de harmonia e unidade dos vários actos
2. A decisão que sobre o mesmo recair, é igualmente do processo.
dado a conhecer ao autor da decisão recorrida, ao tribunal
e ao curador de menores. Artigo 160º

Artigo 155º Entrada em vigor

Recurso contencioso
O presente diploma entra em vigor noventa dias após
Da decisão graciosa, cabe recurso para o tribunal que a sua publicação.
decretou a medida de internamento tutelar, no prazo de
cinco dias, pelo educando, seu defensor, pais ou repre- Visto e aprovado em Conselho de Ministros.
sentante legal.
José Maria Pereira Neves - José Manuel Gomes Andrade
TÍTULO V
Promulgado em 27 de Novembro de 2006
DISPOSIÇÕES DIVERSAS, TRANSITÓRIAS
E FINAIS Publique-se.
Artigo 156º
O Presidente da República, PEDRO VERONA RODRIGUES
Estabelecimentos para seguimento de programas de forma- PIRES
ção de menores
Referendado em 27 de Novembro de 2006
Portaria do membro do governo responsável pela
área da Justiça, ouvidos os departamentos ministeriais O Primeiro-Ministro, José Maria Pereira Neves

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26 I SÉRIE — NO 34 SUP. «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 27 DE NOVEMBRO DE 2006

FAÇA A RENOVAÇÃO DA SUA ASSINATURA PARA 2007


TABELA I – ASSINATURAS
País Estrangeiro
Ano Semestre Ano Semestre
Preço Preço Preço Preço
I Série 8.386$00 6.205$00 11.237$00 8.721$00
II Série 5.770$00 3.627$00 7.913$00 6.265$00
III Série 4.731$00 3.154$00 6.309$00 4.731$00

TABELA II – PORTES DE CORREIO


Destino Semestral Anual
Cabo Verde 4.361$00 8.721$00
Estrangeiro 8.721$00 17.442$00

TABELA III – AVISOS E ANUNCIOS


Valores em escudos CV

1 Página 8.386$00
1/2 Página 4.193$00
1/4 Página 1.677$00
TABELA IV – VENDA DE BOLETIM AVULSO
Preço avulso por cada página é de 15$00 (quinze escudos)

B O L E T I M OFICIAL
Registo legal, nº 2/2001, de 21 de Dezembro de 2001 Av. Amílcar Cabral/Calçada Diogo Gomes,cidade da Praia, República Cabo Verde.
C.P. 113 • Tel. (238) 612145, 4150 • Fax 61 42 09
AVISO Email: incv@gov1.gov.cv
Site: www.incv.gov.cv
Por ordem superior e para constar, comunica-se que não serão aceites ASSINATURAS
quaisquer originais destinados ao Boletim Oficial desde que não tragam
aposta a competente ordem de publicação, assinada e autenticada com Para o país: Para países estrangeiros:
selo branco.
Sendo possível, a Administração da Imprensa Nacional agradece o Ano Semestre Ano Semestre
envio dos originais sob a forma de suporte electrónico (Disquete, CD, I Série ...................... 8.386$00 6.205$00 I Série ...................... 11.237$00 8.721$00
Zip, ou email).
II Série...................... 5.770$00 3.627$00 II Série...................... 7.913$00 6.265$00
Os prazos de reclamação de faltas do Boletim Oficial para o Concelho
da Praia, demais concelhos e estrangeiro são, respectivamente, 10, 30 e III Série ................... 4.731$00 3.154$00 III Série .................... 6.309$00 4.731$00
60 dias contados da sua publicação.
Os períodos de assinaturas contam-se por anos civis e seus semestres. Os números publicados antes
Toda a correspondência quer oficial, quer relativa a anúncios e à de ser tomada a assinatura, são considerados venda avulsa.
assinatura do Boletim Oficial deve ser enviada à Administração da
Imprensa Nacional. AVULSO por cada página ............................................................................................ 15$00
A inserção nos Boletins Oficiais depende da ordem de publicação neles PREÇO DOS AVISOS E ANÚNCIOS
aposta, competentemente assinada e autenticada com o selo branco, ou,
na falta deste, com o carimbo a óleo dos serviços donde provenham. 1 Página .......................................................................................................................... 8.386$00

Não serão publicados anúncios que não venham acompanhados da 1/2 Página ....................................................................................................................... 4.193$00
importância precisa para garantir o seu custo. 1/4 Página ....................................................................................................................... 1.677$00

Quando o anúncio for exclusivamente de tabelas intercaladas no texto, será o respectivo espaço
acrescentado de 50%.

PREÇO DESTE NÚMERO — 390$00


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