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PONTA GROSSA
2021
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo discorrer sobre o Princípio da adequação social no campo
do Direito Penal, descrevendo seu conceito e efeitos, além de explanar sobre a
possibilidade de descriminalização de condutas típicas por meio da aplicação do
referido princípio. Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica de doutrinas, assim
como jurisprudências acerca do tema.
This paper aims to discuss the Principle of social adequacy in the field of Criminal Law,
describing its concept and effects, in addition to explaining the possibility of decriminalizing
typical conduct through the application of that principle. For that, a bibliographical research of
doctrines was carried out, as well as jurisprudence on the subject.
1 INTRODUÇÃO
Os princípios são regras hermenêuticas que possuem a finalidade de orientar o legislador,
assim como o intérprete do direito, garantindo desta forma os direitos fundamentais e a
limitação do poder repressivo do Estado.
A teoria da adequação social parte da premissa de que uma conduta, por mais que seja
submetida ao tipo penal, pode deixar de ser considerada típica quando a mesma se adequa e é
amplamente aceita pela sociedade. Algumas destas condutas já são submetidas ao princípio da
adequação social e se tornaram costumes em nosso meio social, como a prática de perfurar a
orelha de bebês e as tatuagens, que por mais que se enquadrem no tipo penal como condutas
ilícitas, não são penalizadas.
Outras, contudo, ainda são encaradas timidamente pelos tribunais, como a venda de CD’s
e DVD’s piratas, que apesar de ser conduta costumeira em nossa sociedade, ainda é
considerada pelo judiciário uma prática na qual se entende inadmissível a aplicação da
adequação social como forma de torná-la atípica.
Para tanto, a presente pesquisa proporciona uma análise doutrinária e jurisprudencial
acerca do tema, demonstrando os argumentos utilizados para fundamentar a aplicação ou não
do princípio da adequação social a casos que são objeto de debates e que geram dúvidas quanto
à sua tipicidade material.
Concebida por Hans Welzel, o princípio preconiza que nenhuma conduta pode ser
considerada delituosa ou socialmente condenável, mesmo que se enquadre no que está
determinado pela legislação, se tiver ampla aceitação por parte coletividade ou por um grupo
que a pratique, pois as mesmas estão em consonância com a ordem social. Nesse sentido,
embora determinadas condutas sejam formalmente típicas, já que estão expressas no tipo
penal, elas são consideradas materialmente atípicas, por estarem socialmente adequadas e
toleradas.
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Por conseguinte, pode-se destacar que esse princípio constitui-se a partir de um critério
de subjetividade de aceitação ou reprovação, determinado pela sociedade, e que, se desdobra
em uma exteriorização a ser materializada pelo legislador e pela comunidade jurídica. Esse
princípio dispõe, em síntese, que se a sociedade aceita a conduta praticada e essa não contraria
o disposto na Constituição Federal, ela não será punida criminalmente. Isso significa dizer que,
embora formalmente típica, a conduta será materialmente atípica. O doutrinador Cesar
Roberto Bitencourt ressalta que,
há condutas que por sua “adequação social” não podem ser consideradas criminosas.
Em outros termos, segundo esta teoria, as condutas que se consideram “socialmente
adequadas” não se revestem de tipicidade e, por isso, não podem constituir delitos.
(BITENCOURT, 2011, p. 103)
A partir dessa valoração dada pela sociedade é que o Estado irá, então, tipificar
criminalmente essa conduta e determinar uma sanção cabível. Por outro lado, quando a
coletividade passa a tolerar determinada conduta, devido a evolução do pensamento, tais
condutas deixam de ser valoradas negativamente, havendo a adequação da mesma pela
sociedade, e a possibilidade de aceitação na esfera jurídica, deixando de se aplicar pena sobre a
referida prática.
Parece-nos que a adequação social é, sem dúvida, motivo para exclusão da tipicidade,
justamente porque a conduta consensualmente aceita pela sociedade não se ajusta ao
modelo legal incriminador, tendo em vista que este possui, como finalidade precípua,
proibir condutas que firam bens jurídicos tutelados. Ora, se determinada conduta é
acolhida como socialmente adequada deixa de ser considerada lesiva a qualquer bem
jurídico, tornando-se um indiferente penal. (NUCCI, 2011, p. 229-230).
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(TJ-PR - APL: 8995117 PR 899511-7 (Acórdão), Relator: Juiz Eduardo Fagundes, Data de
Julgamento: 23/08/2012, 5ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 948 14/09/2012)
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Entretanto, a sentença tomada pelo Juízo da 5.ª Vara Criminal da Comarca de Maringá
absolveu os réus , pois acreditava que o caso aplicava-se ao princípio da adequação social,
concebido por Hans Welzel e o qual abrange: "não se pode reputar criminosa uma conduta
tolerada pela sociedade, ainda que se enquadre em um descrição típica".
"Segundo este princípio, uma conduta deixa de ser considerada típica, quando
socialmente aceita."
"Não é o caso dos autos. A meu ver, a comercialização de CDs e DVDs falsificados não
se enquadra no conceito de conduta normalmente aceita pela sociedade. Isto porque a
banalização da pirataria não lhe confere legitimidade."
4 CONCLUSÃO
Desta forma, o princípio da adequação deve ser analisada racionalmente diante de casos
concretos a fim de garantir a proteção das garantias penais e ao formalismo legal.
REFERÊNCIAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, parte geral 1. 17ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2011.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral e parte especial. 7ª ed.
rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. 1151 f.