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COMPILAÇÃO

DE EXAMES
Departamento de Produção Jurídica

- Licenciatura em Direito -

- 2º ANO -
Caros estudantes,

No cumprimento do objetivo a que nos propusemos de o Departamento de


Produção Jurídica da AEFDUP atualizar a já existente compilação de exames
do curso de Direito e criação da compilação para o curso de Criminologia,
contactámos os docentes das várias unidades curriculares, no sentido de
atingirmos esta meta.
Assim sendo, disponibilizamos exames e respetivos critérios de correção, de
modo a facilitar o estudo na época de exames de janeiro e junho.
A compilação está organizada por anos e unidades curriculares, por ordem
cronológica, no sentido de facilitar o acesso aos mesmos.

Votos de uma excelente época de exames!

P’la Direção da AEFDUP,


Patrícia Gilvaz.
Teoria Geral
do Direito
Civil
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO TEORIA GERAL DO
DIREITO CIVIL
1ª Frequência — 8.01.2018
Duração da prova: 2 horas

Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das
respostas implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se
justifique, considerar as diversas hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O
rigor e a clareza de exposição serão factores de valorização da prova. A respostas às perguntas
I e II deverão constar de folhas separadas.

I (10 valores)
A comprou a B, negociante de carros antigos e de colecção, um
automóvel da marca Peugeot, modelo 403, com mais de 50 anos. A
assinou um impresso fornecido por B onde constava a identificação
das partes e as condições de pagamento faseado do preço.
Entretanto, tendo A pago apenas as prestações iniciais acordadas e
precisando de dinheiro vendeu o automóvel a C.
A tinha 17 anos quando celebrou o negócio com B e o contrato
entre A e C foi concluído pouco tempo depois.
Volvidos dois anos, diga se A pode pretender “desfazer” os
contratos concluídos com B e C e devolver o automóvel ao
primeiro, uma vez que o preço pago por C foi muito inferior ao
preço de mercado e que A ainda deve a B as seis últimas prestações
do carro.
II (10 valores)
X é autor do livro “A Verdade ou a Mentira”, publicado em 2008,
no qual relata a sua versão dos factos relativos ao desaparecimento
de uma criança ocorrido no Algarve. Neste livro, com o alegado
intuito de repor o seu bom nome profissional, X, polícia de
investigação criminal que acompanhou o caso até dele ser afastado,
pronuncia-se sobre a tese da morte acidental da criança e
subsequente simulação de rapto pelos seus pais. Na capa do livro
encontra-se, a vermelho, a palavra “confidencial” e na contracapa
estão os dizeres “leitura reservada” e “contém revelações únicas”.
Y e Z, pais da criança desaparecida, contestam a tese de X e
consideram-se lesados e ofendidos pelas afirmações contidas no
livro e pelo carácter sensacionalista que acham que lhe foi
conferido. Mais, Y e Z consideram que os seus filhos menores
também estão a ser prejudicados pelas alegações do autor do livro,
pois a invocação de inexistência de rapto da irmã perturba o seu
desenvolvimento.
(a partir do Acórdão do STJ, de 31/01/2017, relator Roque Nogueira)

Pronuncie-se sobre os bens jurídicos em causa e sobre a tutela que


o ordenamento jurídico civil pode conceder aos eventuais lesados.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO TEORIA
GERAL DO DIREITO CIVIL
1ª Frequência — 8.01.2018

Critérios de correcção:
I (10 valores)
— Enquadramento da questão no âmbito das incapacidades de
exercício (menoridade) e do princípio nemo plus iuris e suas
excepções (protecção de terceiros de boa fé).
— Caracterização do contrato A/B como um contrato anulável em
virtude da menoridade de A (arts. 122.o, 123.o); incapacidade de
exercício versus incapacidade de gozo; a incapacidade dos menores
como uma incapacidade geral; inaplicabilidade das excepções do
art. 127.o; suprimento da incapacidade dos menores através do
instituto da representação legal (art. 124.o); anulabilidade dos actos
praticados pelos menores: legitimidade e prazos; aplicação do art.
287.o/2CC.
— Eventual anulabilidade do contrato A/C por menoridade, em
função da data da sua celebração, no prazo de um ano a contar da
maioridade de A. Consolidação do contrato A/C caducado o direito
de A arguir a anulabilidade (art. 125.o/1b)).
— Caracterização das aquisições em causa como aquisições
derivadas translativas; o princípio nemo plus iuris...: Ilegitimidade
de A para transmitir a C um direito de propriedade “pleno”; A
apenas poderia transmitir a C um direito “provisório” em virtude da
anulabilidade do 1o contrato.
— Efeitos da anulação do contrato A/B: art. 289.o, destruição dos
efeitos dos contratos A/B e A/C, retroactivamente.
— Consideração e afastamento da hipótese de protecção de C
enquanto terceiro de boa fé para efeitos do art. 291o: noção de
terceiros de boa fé; requisitos do art. 291.o; constatação da não
verificação do requisito da passagem do tempo (3 anos) sobre o
negócio inválido (A/B) que afecta a aquisição de C.
— A pode arguir a anulabilidade do 1o negócio com os efeitos do
art. 291.o: tudo o que foi prestado deverá ser devolvido e A poderá
devolver o carro a B.
II (10 valores)
Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade.
Breve caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e
tutela descentralizada dos direitos de personalidade.
Reconhecimento fáctico das possíveis violações dos direitos de
personalidade ocorridas na esfera jurídica de X:
- honra; bom nome profissional.
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção moral: Ofensa ao bom nome e reputação deontológica ou
profissional; as camadas da honra e a sua disponibilidade. As
camadas da honra e sua disponibilidade.
Direito à inviolabilidade pessoal na projecção vital: direito à
história pessoal. Irrelevância da exceptio veritatis para a tutela civil.
O art. 484o, CC. Direito à verdade pessoal, caso as revelações não
fossem verídicas.
Reconhecimento fáctico das possíveis violações dos direitos de
personalidade ocorridas na esfera jurídica de Y e Z :
- alegações sobre envolvimento na morte da criança e afirmações
sensacionalistas, consequente exposição mediática.

Bens jurídicos protegidos. Direito à inviolabilidade pessoal na


projecção moral, a honra extrínseca; direito à verdade pessoal;
direito à intimidade da vida privada, nomeadamente na esfera
privada.
Reconhecimento fáctico das possíveis violações dos direitos de
personalidade ocorridas na esfera jurídica dos filhos menores de Y
e Z:
- perturbações no desenvolvimento e exposição pública.
Bens jurídicos protegidos. Direito ao livre desenvolvimento da
personalidade, direito geral de personalidade. Ofensa à integridade
moral, por perturbações psicológicas.
Direito à intimidade da vida privada, nomeadamente na esfera
privada.
Relevo apenas na hipótese de causalidade adequada das
perturbações pela
publicação do livro.
Legitimidade dos pais para a defesa dos direitos de personalidade
dos menores. Afloramentos positivos de cada um destes direitos na
CRP e no CC.
Tensão com o direito do autor à liberdade de criação e de defesa do
seu bom nome.
A colisão de direitos – art. 335o, CC. Prevalência axiológica dos
direitos ligados à essência da pessoa
Consequências normativas da violação dos direitos de
personalidade. A violação dos direitos de personalidade como facto
ilícito. A responsabilidade por facto ilícito – art. 483o, CC. O
carácter extra-patrimonial da lesão dos bens da personalidade.
Os mecanismos de tutela possibilitados pelo art. 70o, n.o 2, CC., in
casu: retirada do livro de circulação; retratação na hipótese de
afirmações inverídicas; recurso a sanção pecuniária compulsória
para o caso de persistência na violação.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO TEORIA
GERAL DO DIREITO CIVIL
Exame Final (Época de recurso) — 19.06.2018
Duração da prova: 2 horas

Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das
respostas implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se
justifique, considerar as diversas hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O
rigor e a clareza de exposição serão factores de valorização da prova. A resposta ao grupo
I deve constar de folha separada da resposta ao grupo II.

I (7+5 valores)
B, toxicodependente, durante uma crise de privação de consumo,
assalta a casa de A e, imobilizando-o, obriga-o a assinar declaração
de venda do seu automóvel sob ameaça de agressão a F, mulher de
A.
Posteriormente, entrega o automóvel a C, “dealer”, em troca de
algumas doses de heroína. Ao tomar conhecimento da localização
do automóvel, A intentou acção cível com vista à recuperação do
automóvel.
1. Pronuncie-se sobre a validade dos negócios em causa e sobre a
viabilidade da pretensão de A.
2. Suponha que os factos descritos foram alvo de ampla divulgação
na imprensa sensacionalista, tendo em conta que B era filho de um
conhecido político no activo. Poderá B reagir contra estas notícias?
II (8 valores)
D é titular de um vasto património imobiliário e, no ano de 2017,
vendeu dois terrenos com viabilidade de construção em altura à
sociedade “Imobiliária do Douro, SA” pelo valor de 800.000 euros.
Já durante este ano, E, filho de D, tendo tomado conhecimento do
negócio, veio arguir a sua anulabilidade. E alega que a sua
autorização seria necessária uma vez que F, seu irmão, é sócio
maioritário da “Imobiliária do Douro, SA”.
Diga se E terá alguma possibilidade de reagir contra o negócio.
Universidade do Porto — Faculdade de Direito Teoria Geral do
Direito Civil
Exame — 19.06.2018
Critérios de Correcção
I
1. Situação do problema no âmbito da divergência entre a vontade e a
declaração e/ou dos vícios de vontade.
Negócio entre A e B:
Problematização da coacção exercida sobre A.
Pressupostos da coacção física e da coacção moral.
A coacção física como forma de divergência entre a vontade e a
declaração. Efeitos da existência de coacção física: a inexistência ou
nulidade da declaração, de acordo com as posições doutrinárias
tradicionais.
A coacção moral como vício de vontade. Regime jurídico e anulabilidade
da declaração. Irrelevância da coacção moral pela existência de coacção
física, pela superior gravidade da sanção desta última.
Negócio entre B e C:
Permuta (negócio oneroso) tendo por objecto bem móvel sujeito a registo
(automóvel). Negócio com objecto contrário à lei. Nulidade, nos termos do
art. 280o, n. 1.
Viabilidade da pretensão de A com fundamento na regra nemo plus juris.
2. Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade.
Breve caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e tutela
descentralizada dos direitos de personalidade.
Reconhecimento fáctico das possíveis violações dos direitos de
personalidade ocorridas na esfera jurídica de B: bom nome. Bem jurídico
protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na projecção moral: ofensa ao
bom nome e reputação; as camadas da honra e a sua disponibilidade.
O artigo 79o do CC. A notoriedade do pai de B e suas consequências.
Irrelevância da exceptio veritatis para a tutela civil. O art. 484o, CC.
Afloramentos positivos de cada um destes direitos na CRP e no CC.
Tensão com o direito à informação. Possível interesse informativo da
notícia pelo seu relevo social ou devido a tomada de posição pelo político
em causa conexionada com os factos.
A colisão de direitos – art. 335o, CC. Prevalência axiológica dos direitos
ligados à essência da pessoa.
Consequências normativas da violação dos direitos de personalidade. A
violação dos direitos de personalidade como facto ilícito. A
responsabilidade por facto ilícito – art. 483o, CC. O carácter extra-
patrimonial da lesão dos bens da personalidade.
Os mecanismos de tutela possibilitados pelo art. 70o, n.o 2, CC; reposição
da verdade dos factos sem menções sensacionalistas; pedido de desculpa;
recurso a sanção pecuniária compulsória para o caso de persistência na
violação.
Ilegitimidade de B para reacção aos danos (alheios) ocorridos na esfera do
pai.

II
Enquadramento da questão no âmbito do art. 877o CC (proibição da venda
de pais a filhos) e da simulação relativa subjectiva (e eventualmente
também objectiva).
A arguição da simulação do negócio celebrado entre D e a SA: E terá que
provar os requisitos da simulação, nomeadamente que as partes
verdadeiras seriam D e F (e eventualmente o negócio seria uma doação).
Nulidade do negócio simulado: art. 240o CC. Alargamento da
legitimidade aos herdeiros legitimários para arguir a simulação, nos termos
do art. 242o, n.o 2, apesar de serem titulares de uma simples expectativa.
Caracterização da SA como uma sociedade comercial (sociedades
anónima): pessoa colectiva de substrato pessoal (corporação), com
reconhecimento normativo condicionado: a aquisição de personalidade
através do registo (art. 5o CSC) e com fim lucrativo. A personalidade da
pessoa colectiva e a personalidade dos seus sócios.
O negócio dissimulado entre D e F: apreciação da sua validade nos termos
do art. 241o. Aplicação do art. 877o. Anulabilidade e prazo para a sua
arguição. O problema da forma.
Em alternativa, E poderia invocar uma hipótese de fraude à lei.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO TEORIA
GERAL DO DIREITO CIVIL
2ª Frequência — 21.05.2018
Duração da prova: 2 horas

Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das
respostas implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se
justifique, considerar as diversas hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas e
apresente exemplos pertinentes. O rigor e a clareza de exposição serão factores de
valorização da prova. As respostas às perguntas I e II deverão constar de folhas
separadas.

I (10 valores)
A é cliente do banco X há vários anos.

Em Outubro de 2012, porém, após vários contactos do seu gestor de conta


B, procedeu à conversão de um depósito a prazo, no valor de 100.000 €,
em obrigações daquela instituição bancária. Nos vários contactos que
manteve com o gestor de conta, A foi informado apenas de que as
obrigações representavam um “empréstimo a um banco com mais de 150
anos” e eram um “produto financeiro seguro e muito vantajoso”.

Acontece que A, pretendendo, em Janeiro de 2018, proceder ao


levantamento de 100.000 €, verificou que, afinal, o “produto” que havia
adquirido tal não lhe permitia, uma vez que o vencimento das obrigações
só ocorreria em Outubro de 2019.
A sente-se assim defraudado nas suas expectativas e enganado e pretende
reaver de imediato o montante em causa e terminar a relação com o banco
X.
1. Pronuncie-se sobre a(s) possibilidade(s) de efectivar a sua pretensão.
2. Suponha que B, deliberadamente e sem o conhecimento do banco,
tentou enganar A, acerca das características das obrigações, com o intuito
de prejudicar a empresa. Que alterações introduziria na resposta anterior à
luz deste facto?
(A partir do Acórdão do STJ, de 18/01/2018, relator Roque Nogueira)

II (10 valores)
Entre a sociedade imobiliária A e o Município B foi celebrado um contrato
de permuta, tendo por objecto três lotes de terreno para construção, no
valor aproximado de 17.000 € cada. Desse mesmo contrato constava a
seguinte cláusula: “o incumprimento do prazo previsto para a entrega do
último lote de terreno [30 de Setembro de 2017], por parte do Município
B, confere a A o direito de exigir do mesmo Município, em substituição
dos referidos lotes, uma indemnização no valor de €150.000, bastando que
para tal remeta comunicação nesse sentido, por carta registada a B”. Por
vicissitudes várias, o Município não cumpriu o prazo acordado e

A exigiu o pagamento da quantia de €150.000.


Os serviços jurídicos de B, reconhecendo embora o incumprimento,
pretendem apenas pagar o valor do lote de terreno ainda não entregue a A.

1. Terá viabilidade esta sua pretensão?


2. Suponha que o incumprimento de B foi devido a devastação provocada
por um grande incêndio florestal na região. Que alterações introduziria na
resposta anterior à luz deste facto?
(A partir do Acórdão do STJ, de 03/11/2015, relator Júlio Gomes)
Universidade do Porto — Faculdade de Direito Teoria Geral do
Direito Civil
2ª Frequência — 21.05.2018
I
Critérios de Correcção
— Enquadramento da questão no âmbito dos vícios da vontade.
Caracterização; confronto com as situações de divergência entre a
vontade e a declaração.
— 1a hipótese: Erro-vício sobre as qualidades do objecto.
Condições gerais de relevância do erro (essencialidade e
propriedade); condições especiais de relevância do erro-vício sobre
o objecto: art. 251o + 247o CC.
— Anulabilidade do negócio: Legitimidade para arguir a
anulabilidade + prazo (art. 287o); consequências da anulação do
negócio: art. 289o.
— 2a hipótese: Dolo. Caracterização do dolo (positivo/negativo);
dolo ilícito, do declaratário (e não de terceiro). Consequências do
dolo. Eventual responsabilidade do banco por actos dos seus
auxiliares. Caracterização do banco como uma pessoa colectiva de
substrato pessoal e reconhecimento normativo condicionado: uma
sociedade anónima, que adquire personalidade jurídica com o
registo (art. 5o CSCom). Responsabilidade civil das pessoas
colectivas. Referência aos arts. 163.o, 165.o e 500.o e 800.o do CC.
II
— Situação do problema no âmbito dos elementos acidentais do
negócio jurídico, nomeadamente no cláusulas acessórias típicas.
—Identificação da cláusula controvertida como cláusula penal
indemnizatória. —Função, admissibilidade, modalidades e regime
da cláusula penal.
a) Inviabilidade da pretensão pela existência da cláusula penal, mas
possibilidade da redução desta nos termos combinados do art. 812o,
n. 1 e 2, CC. b) O funcionamento da cláusula penal indemnizatória
na dependência da imputabilidade culposa do incumprimento ao
devedor (art. 798o).
—Sumário do Acórdão do STJ, de 3/11/2015, relator Júlio Gomes:
I - A faculdade de redução da cláusula penal (art. 812.o, n.o 1, do CC) assenta
na necessidade de combater as actuações abusivas do credor no momento em
que exerce o seus direitos e é inafastável pelas partes, devendo, contudo, atento
o seu cariz excepcional e a rigorosidade dos seus pressupostos, apenas ser
exercida quando se torne indispensável para evitar o abuso, a fim de

salvaguardar a autonomia privada.


II - A referência à equidade constante do n.o 1 do art. 812.o do CC pressupõe
que se efectue uma valoração global na qual assumirá papel preponderante –
mas não exclusivo – o interesse do credor no cumprimento.
III - A faculdade referida em I pode ser exercitada em relação a qualquer
cláusula penal independentemente da sua natureza, embora não exactamente
nos mesmos termos. Nas cláusulas penais de liquidação antecipada do dano,
haverá que atender ao desvio entre o montante liquidado e a quantificação do
dano efectivamente sofrido ao passo que nas cláusulas penais compulsórias
esse desvio é inerente à sua natureza, importando, por isso, que o mecanismo
da redução não a esvazie.
IV - Verificando-se que o incumprimento é unicamente imputável ao devedor e
que o valor de um terreno é expectavelmente acrescido após o seu loteamento,
não é, de maneira evidente, excessiva a cláusula penal em que se prevê que o
inadimplemento de um prazo contratualizado facultará a um contraente o
direito a haver, em substituição de três lotes de terrenos, uma indemnização no
montante de € 150 000, correspondente ao valor aí atribuído aos mesmos.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO TEORIA
GERAL DO DIREITO CIVIL I
Exame — 10.01.2017

Critérios de Correcção

I
• a) Construção/descrição da hipótese fáctica e breve
justificação do seu carácter
abusivo. Valorização de hipótese não constante de textos de
apoio.

• b) Construção/descrição da hipótese fáctica e breve


justificação da sua contrariedade ao princípio da boa-fé.
Valorização de hipótese não constante de
textos de apoio.

• c) Construção/descrição da hipótese fáctica e breve


justificação da sua
contrariedade aos bons costumes. Valorização de hipótese não
constante de textos de apoio

II
Localização da questão no âmbito da aquisição derivada.
Sentido e extensão da regra “nemo plus iuris”. Excepções a esta
regra no direito positivo português.
Identificação da transmissão AB como sucessão mortis causa.
Transmissão BC da casa:
Invalidade do negócio por inobservância da forma legal. Simulação
do contrato de compra venda, indiciada pelo baixo preço e pela
motivação do vendedor. Breve caracterização da simulação.
Nulidade da simulação. Referência ao regime legal da simulação,
arts. 240o, ss, CC.
Transmissão CE da casa:
Afectação pela nulidade precedente.
Consideração de E como possível terceiro de boa-fé. Aplicabilidade
do art. 243o, e do art. 291o CC, devido ao duplo fundamento de
nulidade. O desconhecimento efectivo da simulação como
pressuposto da protecção de E e irrelevância da sua motivação.
Inconveniência de aplicação do art. 291o, não obstante o
preenchimento dos seus requisitos, nomeadamente o
desconhecimento sem culpa da simulação, devido à maior
exigência desta disposição para consolidadação da transmissão na
esfera jurídica de E.
Aluguer BD da embarcação:
Contrato de aluguer de bem móvel sujeito a registo.
Transmissão DF da embarcação:
Venda de bens alheiros. Nulidade do negócio. Fundamento legal.
Consideração de F como possível terceiro de boa-fé. Afastamento
da hipótese devido ao facto de não se tratar de terceiro.
III
a) Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade.
Breve caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e
tutela descentralizada dos direitos de personalidade.
Reconhecimento fáctico das violações dos direitos de personalidade
ocorridas na esfera jurídica de A:
- revelação do envolvimento em negócios jurídicos ilícitos e tráfico
de influências:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção moral, Ofensa ao bom nome e reputação deontológica ou
profissional; as camadas da honra e a sua disponibilidade. As
camadas da honra e sua disponibilidade Irrelevância da exceptio
veritatis para a tutela civil. O art. 484o, CC. Direito à verdade
pessoal, caso as revelações não fossem verídicas.
- Participação em sociedades offshore:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção vital, direito à intimidade da vida privada, nomeadamente
na esfera privada. Possível relativização pela notoriedade da
qualidade do sujeito e interesse público da informação pela
atinência objectiva às funções desempenhadas. O art. 80o, CC.
- repercussão causada na opinião pública e desistência da
candidatura:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção moral. Ofensa ao bom nome e reputação deontológica ou
profissional; as camadas da honra e a sua disponibilidade.
Afloramentos positivos de cada um destes direitos na CRP e no CC.
Tensão com o direito do autor à liberdade de criação.
Consequências normativas da violação dos direitos de
personalidade. A
violação dos direitos de personalidade como facto ilícito. A
responsabilidade por facto ilícito – art. 483o, CC. O carácter extra-
patrimonial da lesão dos bens da personalidade.
Os mecanismos de tutela possibilitados pelo art. 70o, n.o 2, CC.
b) A biografia autorizada e o direito à inviolabilidade pessoal na
projecção vital, maxime, o direito à história pessoal. A autorização
e o consentimento tolerante do ofendido e os seus limites. O
consentimento de outrem e a revelação de factos violadores de
direitos de personalidade; sua irrelevância. Responsabilidade
extracontratual do autor e do biografado.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL * TEORIA GERAL DO DIREITO
CIVIL I Exame — 10.01.2017

Critérios de Correcção

I
• a) Noção de dever jurídico e de ónus. Referência ao direito
subjectivo em sentido
estrito e ao seu lado passivo. A sancionabilidade do
incumprimento do dever jurídico, contraposta à livre adopção
do comportamento no ónus. Exemplificação.

• b) A literalidade do art. 334o do CC. Sentido da ilegitimidade


do exercício. O abuso de direito como ilícito civil e como
facto gerador de responsabilidade civil extracontratual.
Concretizações da irrelevância do exercício abusivo do
direito.

• c) Noção de ausência a partir do regime do CC. A ausência


como instituto ligado à quebra da ligação com o domicílio,
com expressão na administração de bens do ausente. Noção
de desaparecimento e sua conexão com o termo da
personalidade jurídica. O art. 68o, n. 3, CC e suas
implicações. Exemplificação

II
Localização da questão no âmbito da aquisição derivada.
Sentido e extensão da regra “nemo plus iuris”. Excepções a esta
regra no direito positivo português.
Identificação da transmissão AB como sucessão mortis causa.
Transmissão BC da casa:
Simulação do contrato de compra venda, indiciada pelo baixo preço
e pela motivação do vendedor. Breve caracterização da simulação.
Nulidade da simulação. Referência ao regime legal da simulação,
arts. 240o, ss, CC. Transmissão CE da casa:
Afectação pela nulidade precedente.
Consideração de E como possível terceiro de boa-fé. Aplicabilidade
do art. 243o, CC. O desconhecimento efectivo da simulação como
pressuposto da sua protecção. Insuficiência da “desconfiança”.
Impossibilidade de aplicação do art. 291o, devido à necessidade de
E ignorar sem culpa, hipótese em que a desconfiança quanto ao
negócio já seria relevante. Entrega BD da condecoração:
Duas hipóteses:
i) Contrato de depósito simulado . Nulidade
ii) inexistência de negócio jurídico. Não há transmissão de
propriedade. Transmissão DF da condecoração:
Venda de bens alheiros. Nulidade do negócio. Fundamento legal.
Consideração de F como possível terceiro de boa-fé. Na hipótese i),
protecção pelo artigo 243o. Na hipótese ii), inaplicabilidade do art.
243o, por não haver simulação e, em qualquer dos casos
afastamento da aplicação do art. 291o, dado o objecto não ser um
bem imóvel, nem móvel sujeito a registo.

III
a) Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade.
Breve caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e
tutela descentralizada dos direitos de personalidade.
Reconhecimento fáctico das violações dos direitos de personalidade
ocorridas na esfera jurídica de A:
- revelação da sua orientação sexual:
Bem jurídico protegido. Direito à verdade profunda. Direito à
inviolabilidade pessoal na projecção vital, direito à intimidade da
vida privada, nomeadamente na esfera pessoal. Alcance do art. 80o
CC;
- divulgação das suas relações de amizade e inimizade:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção vital, direito à intimidade da vida privada, nomeadamente
na esfera privada. Possível relativização pela notoriedade da
qualidade do sujeito;
- divulgação das alcunhas atribuídas:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção vital, direito à intimidade da vida privada, nomeadamente
na esfera privada. Direito à verdade pessoal, caso as alcunhas não
fossem verídicas;
- repercussão causada na opinião pública e desistência da
candidatura:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção moral. Ofensa ao bom nome e reputação deontológica ou
profissional; as camadas da honra e a sua disponibilidade.
Afloramentos positivos de cada um destes direitos na CRP e no CC.
Tensão com o direito do autor à liberdade de criação.
Consequências normativas da violação dos direitos de
personalidade. A
violação dos direitos de personalidade como facto ilícito. A
responsabilidade por facto ilícito – art. 483o, CC. O carácter extra-
patrimonial da lesão dos bens da personalidade.
Os mecanismos de tutela possibilitados pelo art. 70o, n.o 2, CC.
b) A biografia autorizada e o direito à inviolabilidade pessoal na
projecção vital, maxime, o direito à história pessoal. A autorização
e o consentimento do ofendido. Subhipóteses relevantes:
i) Contrato com o autor. Consentimento vinculante envolvido.
Efeitos. Disponibilidade dos direitos envolvidos.
ii) Não oposição do biografado. Consentimento tolerante
envolvido. Efeitos e disponibilidade dos direitos envolvidos.
Limites do consentimento.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I
Exame Final — 4.01.2016
Duração da prova: 2 horas e 30 minutos
Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das respostas
implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se justifique, considerar as diversas
hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O rigor e a clareza de exposição serão factores de
valorização da prova.

I (8 valores)
A usou a senha de acesso à caixa de correio electrónico da sua namorada B para aceder à área
confidencial da página desta numa rede social. Desta página retirou mensagens íntimas
trocadas por B com terceiros, que imprimiu e remeteu a diversos membros da família, com a
finalidade de lhes dar a conhecer a "verdadeira B". A partir do acesso à página da namorada,
A verificou ainda que nela se encontravam publicadas numerosas fotografias das viagens que
os dois haviam realizado e nas quais ambos se encontravam retratados, situação que muito o
contrariou dado tratar-se de uma pessoa muito reservada. Desagradado com a descoberta de
factos que desconhecia, A resolveu ainda criar perfis de utilizador falsos, em nome de B, para
lhe imputar atitudes e comportamentos socialmente reprováveis no círculo profissional,
familiar e convivial.
a) B pretende agora reagir contra a conduta de A e prevenir a repetição do que considera ser
uma violação dos seus direitos. Quid juris?
b) A, por seu turno, pretende ser indemnizado pela exposição a que foi sujeito nas fotografias
publicadas por B. Terá êxito esta sua pretensão?

II (4 valores)
Do denominado "contrato-tipo para utilização do serviço Banco Direct" consta a seguinte
cláusula: "O Banco reserva-se o direito de alterar, unilateralmente, as presentes Condições
Gerais. A alteração considera-se aceite pelo aderente, se este no prazo de dez dias, a contar da
informação da alteração, não rescindir o presente contrato".
Pronuncie-se sobre a validade desta cláusula.

III (8 valores)
C e D morreram tragicamente num acidente de viação deixando vivo um filho menor.
a) Diga quem é o proprietário de um terreno que se encontrava registado em nome de D,
embora tivesse sido alienado em 2013 a F, e que foi, em consequência da morte daquele,
inscrito a favor do filho na conservatória de registo predial competente.
a) Supondo que C tinha feito um testamento onde previa que E — um amigo de infância —
deveria encarregar-se da educação e amparo do seu filho no caso de este “ficar só no mundo”,
pronuncie-se sobre o regime jurídico aplicável ao filho após a morte dos pais.
TGDC I
Exame final 4.01.2015
Critérios de correcção

I (8valores)
— Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade. Breve
caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e tutela
descentralizada dos direitos de personalidade
a) Reconhecimento fáctico das violações dos direitos de personalidade ocorridas.
— acesso à caixa de correio electrónico de outrem:
Consideração das hipóteses de cedência consentida da senha de acesso e de
acesso não consentido. Tipo de consentimento envolvido.
Bem jurídico protegido. Direito de personalidade violado na apropriação e
utilização da senha de acesso: direito à inviolabilidade pessoal na projecção vital,
nomeadamente na esfera de segredo (coisa secreta ex natura).
Consideração do acesso à área privada/confidencial.
Bem jurídicos protegidos. Direito de personalidade violado: direito à
inviolabilidade pessoal na esfera privada e na esfera pessoal.
Eventual violação de escritos confidenciais e de correspondência. Violação da
esfera privada e pessoal dos terceiros destinatários das mensagens.
— impressão das mensagens trocadas com terceiros e sua divulgação:
Direito(s) de personalidade violado(s): direito à inviolabilidade pessoal na esfera
pessoal e de segredo (coisas secretas ex voluntate). Direito à inviolabilidade
pessoal na projecção moral: honra externa. Ofensa ao crédito e bom nome. Bens
jurídicos protegidos.
— criação de perfis denigritórios falsos:
Direito(s) de personalidade violado(s): direito à identidade pessoal, na vertente
do direito à verdade pessoal e direito à honra externa e reputação. Bens jurídicos
protegidos.
Afloramentos positivos de cada um destes direitos na CRP e no CC.
Consequências normativas da violação dos direitos de personalidade. A violação
dos direitos de personalidade como facto ilícito. A responsabilidade por facto
ilícito – art. 483º, CC. O carácter extra-patrimonial da lesão dos bens da
personalidade.
Os mecanismos de tutela possibilitados pelo art. 70º, n.º 2, CC. Concretização:
proibição de A utilizar a rede social em causa, eliminação das informações falsas,
retractação, reposição da verdade junto dos terceiros envolvidos, pedido de
informações junto dos operadores da rede, pedido de desculpas, etc. Sanção
pecuniária compulsória.
b) Reconhecimento da autonomia da situação de A. Violação do direito de
personalidade à imagem através da captação e da divulgação de imagens e a sua
tutela civil. Relevo da divulgação no caso em análise. Disponibilidade do direito
através de consentimento autorizante. Características do consentimento.
Responsabilidade por factos ilícitos e possível recurso ao art. 70º, n.º 2, para
eliminação das fotografias divulgadas.

II (4 valores)
— Enquadramento da questão no âmbito dos contratos de adesão e, mais
precisamente, no âmbito das cláusulas contratuais gerais. Noção de cláusulas
contratuais gerais.
— A problemática subjacente às cláusulas contratuais gerais e as soluções do DL
446/85, de 25 de Outubro. As cláusulas contratuais gerais enquanto limite “de
facto” ao princípio da liberdade contratual.
— Apreciação da cláusula transcrita à luz dos arts. 15.º, 19.º d), 20.º, 22.º/1 c) e
/2 b) do diploma referido.

III (8valores)
a) Enquadramento do caso no âmbito das aquisições derivadas e das excepções
ao princípio “nemo plus iuris...”.
— Apreciação da validade do negócio D/F; requisitos de forma: art.
875º+220º+286º.
— F adquire (aquisição derivada translativa) mas não regista: o negócio é válido
e eficaz inter partes mas inoponível a terceiros: arts. 4+5º CRP. Noção de terceiro
para efeitos de registo: art. 5º/4 CRP. Identificação do filho de D como terceiro
para efeitos de registo.
— Breve caracterização do registo em Portugal enquanto um registo declarativo
e não constitutivo de direitos. A obrigatoriedade do registo: art. 8ºA CRP.
— Consequências do registo do filho de D: efeito central do registo: arts. 5º+6º
CRP. O filho de D adquire o direito de propriedade a non domino (excepção ao
princípio “nemo plus iuris...”) e o direito de F decai. O filho do D é o proprietário.
b) A incapacidades dos menores. Caracterização (arts. 122º, 123º CC).
— Suprimento da incapacidade do menor (arts. 124.º, 1921.º e 1928º CC). A
tutela e o apadrinhamento civil. O regime da tutela (art. 1935.º ss.). Noção de
apadrinhamento civil e requisitos (art. 2.º L 103/2009; arts. 11.º e 12.º DL
121/2010).
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I
Exame Final — Época de recurso — 2.02.2016

Duração da prova: 2 horas e 30 minutos


Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das respostas
implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se justifique, considerar
as diversas hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O rigor e a clareza de exposição
serão factores de valorização da prova.
A resposta a cada grupo deve constar de folhas separadas.

I (10 valores)
A e B, estudantes de medicina, ofereceram-se como voluntários para testes de
experimentação de um novo medicamento analgésico. Os testes eram planeados e
coordenados por C, um laboratório especializado na condução de ensaios de novos
medicamentos. No momento da sua inscrição como voluntários, A e B foram
informados de que a fase em que iriam participar não envolveria “riscos
significativos”, pois não só já haviam decorrido com êxito as fases de experimentação
laboratorial como a composição química do fármaco era inócua para consumo
humano.
Acontece que, após a tomada do medicamento em causa, A ficou em morte cerebral e
foi declarado morto uma semana após a sua entrada no hospital. B, por seu turno,
após sofrer uma reacção alérgica grave, ficou com danos cerebrais permanentes que
lhe afectam a fala e a memória.
a) B e os herdeiros de A pretendem demandar C. Terá êxito a sua pretensão? Qual ou
quais os fundamentos que, eventualmente, podem aduzir?
b) Pronuncie-se sobre a (in)validade e/ou (i)licitude do consentimento prestado por A
e B, sabendo que ambos receberam 10.000€ pela sua participação no ensaio e que A
só se disponibilizou para participar devido à necessidade de custear o prosseguimento
dos seus estudos.

II (10 valores)
D, nascido em Outubro de 1998, vendeu em Janeiro de 2015 a E, garagista, um
automóvel americano antigo que havia herdado de um seu avô. E, por sua vez,
alienou já este ano o mesmo automóvel a F, seu cliente e coleccionador de
automóveis antigos. F só mais tarde veio a saber que o automóvel pertenceu a D e que
os seus pais pretendiam recuperá-lo.
a) Diga se F poderá ficar descansado relativamente à propriedade do automóvel ou se
poderá vir a temer pela sua reivindicação por D ou pela sua família.
b) Tendo em consideração, diferentemente, que o negócio entre D e E tinha sido
celebrado já em Agosto de 2014, diga se a situação de F se alteraria.
c) Suponha agora que D vem mais tarde arguir a anulabilidade do primeiro negócio
com fundamento na sua incapacidade à época. Poderá E obstar a essa pretensão
argumentando que o comportamento de D configura um “abuso de direito” uma vez
que foi o próprio D que o pressionou a comprar o automóvel, tendo ele anuído apenas
para o ajudar?
TGDC I
Exame recurso 02.02.2016
Critérios de correcção

I (10 valores)
— Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade. Breve
caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e tutela
descentralizada dos direitos de personalidade.
a) Direitos de personalidade violados: direito à vida e direito à integridade física.
Bens jurídicos protegidos. Extensão e caracterização destes direitos.
Afloramentos positivos de cada um destes direitos na CRP e no CC.
Consequências normativas da violação dos direitos de personalidade. A violação
dos direitos de personalidade por falta ou incompletude de informação dos
efeitos do medicamento como facto ilícito que compromete o livre
esclarecimento do ofendido ou por conduta culposa na condução dos ensaios que
ignorou os eventuais efeitos. A responsabilidade por facto ilícito – art. 483º, CC.
Afastamento da responsabilidade de C, se a lesão dos direitos de personalidade
tiver ocorrido por facto que não lhe fosse imputável. O carácter extra-
patrimonial da lesão dos bens da personalidade.
Relativamente ao lesado A: consideração adicional sumária da reparação do
dano morte, arts. 495º e 496º, CC. Correlação desta reparação com o disposto no
art. 68º, n.º 1, CC.
Relativamente ao lesado B: consideração dos mecanismos de tutela
possibilitados pelo art. 70º, n.º 2, CC, nomeadamente, a obrigação de prosseguir
tratamento ou acompanhamento que possibilitasse ou minorasse o dano.
b) Disponibilidade do direito à integridade física através através de
consentimento. Limites para a disponibilidade. Características do consentimento
no âmbito do direito de personalidade. O consentimento in casu como
consentimento vinculante, devido à existência de negócio jurídico bilateral entre
lesados e lesante. Obrigações recíprocas das partes, pelo menos, a toma dos
medicamentos e o pagamento de quantia pecuniária. Possível extensão do poder
jurídico de agressão neste domínio.
Irrelevância da situação económica de um dos lesados para de per si
fundamentar a invalidade do consentimento, nomeadamente no quadro do
negócio usurário.

II (10 valores)
a) Enquadramento da questão no âmbito das incapacidades de exercício de
direitos: a menoridade. Caracterização (arts. 122º, 123º CC).
— Suprimento da incapacidade do menor (arts. 124.º). Anulabilidade dos actos
praticados pelos menores (legitimidade + prazos: art. 125.º).
— A situação jurídica de F: retroactividade da anulação (art. 289.º) e
inaplicabilidade da protecção do art. 291.º (requisitos; enquadramento no
âmbito das aquisições derivadas de direitos e das excepções ao princípio “nemo
plus iuris...”: protecção de terceiros de boa fé).
b) Reequacionamento da situação uma vez que neste caso F beneficiaria da
protecção do art. 291.º a partir de agosto de 2017, não lhe sendo oponível a
acção de de anulação proposta entre Agosto e Outubro de 2017. Aquisição “a non
domino”; excepção ao princípio “nemo plus iuris...”.
c) Noção de abuso de direito; apreciação crítica do art. 334.º e afastamento da
aplicação do instituto no caso em análise, tendo em conta que o direito
reconhecido no art. 125.º visa permitir ao menor, agora maior, corrigir os actos
da sua menoridade.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL II
Exame Final — 1.06.2015
Duração da prova: 2 horas e 30 minutos
Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das respostas implica a sua não
consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se justifique, considerar as diversas hipóteses relevantes.
Fundamente sempre as respostas. O rigor e a clareza de exposição serão factores de valorização da prova.

I (10 valores)
A vendeu a B um automóvel da marca Mercedes em segunda mão por 28.000€. O veículo havido
sido importado da Alemanha e apresentava uma quilometragem de 85.000kms. O aspecto geral
da viatura era bom e B pagou o preço a pronto. A emitiu a seguinte “Declaração”:
Declara, sob compromisso de honra, sem quaisquer reservas e para todos os devidos e legais
efeitos, ter procedido, no dia 20-12-14, à venda de um veículo automóvel a … B … pelo preço de
€ 28.000,00, importância que recebeu deste, da qual lhe dá a correspondente quitação.
Mais declara que, à data da referida venda B, o veículo apresentava uma quilometragem de cerca
de 85.000 Kms.
Por ser verdade e corresponder à sua vontade, vai a presente declaração ser datada e assinada,
em sinal de plena e total concordância com o seu teor.
Porto, 20-12-2014”.
Algum tempo mais tarde, tendo B mandado fazer uma revisão ao carro durante uma viagem à
Suíça, o funcionário da Mercedes de Lausanne efectuou uma busca informática ao histórico do
veículo e verificou que este, numa intervenção mecânica realizada em 28-11-13, na Alemanha,
apresentava no conta-quilómetros uma contagem de 138.410kms.
B vem agora exigir a devolução do preço pago dizendo que nunca teria comprado o carro se
conhecesse o seu verdadeiro estado, correspondente a um preço de não mais do que 17.500€. A
argumenta, porém, que quando importou o carro este “marcava” 79.000kms e que nunca
desconfiou que o conta-quilómetros pudesse ter sido alterado.
Diga se B terá êxito na sua pretensão.
[Ac. do STJ de 28.04.2016 (Abrantes Geraldes), in <www.dgsi.pt>]

II (5+5 valores)
Responda apenas a duas das seguintes questões:
1. C, transportador, e D, agricultor, concluíram um contrato de transporte de mercadorias fixando
o preço respectivo e a data da prestação do serviço. Entretanto D decide apenas transportar
metade dos produtos acordados e envia um e-mail a C dando-lhe conta desse facto. C não
respondeu ao e-mail. Realizado o transporte, C vem cobrar o preço combinado mas D argumenta
que apenas deve 50% desse valor. Quid iuris?
2. E aceitou, em nome de F, empresário têxtil, uma proposta de realização de várias peças de
vestuário encomendadas por X. Na data acordada para a entrega, F alega desconhecer a
encomenda. Acrescenta que E já não era à época da encomenda seu representante uma vez que o
tinha “destituído” em virtude de uma série de problemas gerados com clientes. Será a
argumentação de F procedente?
3. G vendeu a H um automóvel por um preço muito baixo, entendendo que lhe devia uma série de
favores. Reconsiderando posteriormente o seu gesto, G pretende “desfazer” o negócio com
fundamento em reserva mental, declaração não séria e coacção moral. Conseguirá fazê-lo?
TGDC II
Exame final 1.06.2016
Critérios de correcção

I (v. Ac. do STJ de 28.04.2016 (Abrantes Geraldes), in <www.dgsi.pt>)


— Caracterização do contrato celebrado entre A e B. Valor da declaração emitida por A
posteriormente à celebração do negócio (consensual).
— Enquadramento da questão no âmbito dos vícios da vontade. Caracterização;
confronto com as situações de divergência entre a vontade e a declaração
— 1ª hipótese: Erro-vício sobre as qualidades do objecto. Condições gerais de relevância
do erro (essencialidade e propriedade); condições especiais de relevância do erro-vício
sobre o objecto: art. 251º + 247º CC.
— Anulabilidade do negócio: Legitimidade para arguir a anulabilidade + prazo (art.
287º); consequências da anulação do negócio: art. 289º.
— 2ª hipótese: Dolo. Caracterização do dolo (positivo/negativo); dolo ilícito, do
declaratário. Consequências do dolo.

II
1.
— Celebração de um contrato de prestação de serviços entre C e D e acordo das partes
sobre todos os aspectos considerados essenciais (art. 232º).
— Princípio da pontualidade (art. 406º) e necessidade de acordo das partes para a
modificação do contrato.
— Emissão de uma declaração negocial expressa, receptícia, por D; eficácia da
declaração (art. 224º).
— Negação do valor declarativo do silêncio fixado unilateralmente por uma das partes
(art. 218º).
— Obrigação de cumprimento do contrato por D.

2.
— Representação (art. 258º): caracterização; voluntária: procuração; forma da procuração
(arts. 262º/1/2+219º)
— Revogação: caracterização. Liberdade de revogação da procuração e suas restrições:
art. 265º/2/3.
— Protecção de terceiros: a revogação deveria ser levada ao conhecimento do terceiro
sob pena de não lhe ser oponível; ónus da prova da revogação: art. 266º/1
— Aplicação do regime da representação sem poderes no caso de ser efectuada a prova
do conhecimento da revogação pelo terceiro.

3.
— Caracterização sumária das figuras da reserva mental, declaração não séria e coacção
moral.
— Demonstração da incompatibilidade da arguição simultânea das três figuras em função
dos requisitos legais de cada uma.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL II
Exame Final — 4.07.2016

Duração da prova: 2 horas e 30 minutos


Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das respostas implica
a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se justifique, considerar as diversas
hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O rigor e a clareza de exposição serão factores de
valorização da prova.

I (10 valores)
A vendeu aos seus dois irmãos um terreno confinante com um outro de que estes dois
eram proprietários e que outrora havia pertencido a seus pais. O contrato foi outorgado
por X, em nome de A, que no próprio contrato declarou ter o preço sido integralmente
pago. B, filho de A, desconfiado de que o negócio visou apenas prejudicá-lo e beneficiar
os seus tios, uma vez que em variadas ocasiões o pai ameaçou “deserdá-lo” em virtude da
sua vida desregrada, pretende reagir contra o negócio. A argumenta, porém, que
“enquanto for vivo, é dono e senhor dos seus bens”.
1. Diga se B terá alguma possibilidade de ver a sua pretensão atendida.
2. Poderá X vir a testemunhar a favor de B numa acção intentada por este contra o seu
pais e tios?

II (5+5 valores)
1. C entregou à sua afilhada D a quantia de 30.000€, correspondentes às poupanças de
uma vida de trabalho, a fim de D fazer obras em sua casa e construir um novo quarto para
albergar C e lhe proporcionar habitação e agasalho no seu agregado familiar para o resto
da sua vida. Volvidos 2 anos, C continua a viver num lar e pretende obter o dinheiro de
volta. Quid iuris?
2. E enviou, por carta, uma proposta de compra de um conjunto de livros que F
anunciava vender num site de anúncios na internet. F encontrava-se, porém, no
estrangeiro e só tomou conhecimento da carta quando regressou a casa uma semana mais
tarde. F tinha, entretanto, vendido os livros através do telefone a uma outra pessoa que
tinha visto o anúncio. E ficou inconformado com a perda e pretende que os livros lhe
sejam entregues a ele. Diga se E terá razão no seu propósito.
TGDC II
Exame final 4.07.2016
Critérios de correcção

I (10 valores)
— Caracterização do contrato de compra e venda celebrado por A e pelos seus irmãos
como um contrato formal (arts. 875º, 219º e 220º CC)
— Representação (art. 258º): caracterização; voluntária: procuração; forma da procuração
(arts. 262º/1/2+219º)
— Eventual arguição de uma divergência entre a vontade e as declarações de A e dos
seus irmãos: simulação relativa objectiva (quanto à natureza do negócio): art. 240º CC;
requisitos da simulação; consequência: nulidade do negócio simulado: art. 240º/2;
legitimidade para arguir a nulidade dos herdeiros legitimários e efeitos: art. 242º/2.
— Apreciação da validade do negócio dissimulado (doação): o problema da forma: art.
241º/1/2.
— Restrições à prova testemunhal nos casos de simulação: art. 394º/2. Inaplicabilidade a
terceiros: 394º/3.

II (5+5 valores)
1.
— Caracterização do contrato de doação. A doação enquanto contrato consensual quando
acompanhada da tradição da coisa: art. 947º/2.
— Aposição de uma cláusula acessória típica (modo) no contrato (elemento acidental do
negócio jurídico).
— Caracterização da cláusula: cláusula modal versus condição resolutiva.
— Consequências do incumprimento do modo: arts. 965º, 966º.

2.
— Anúncio de venda dos livros: convite a contratar ou proposta contratual? Requisitos da
proposta e tendencial caracterização do anúncio como mero convite a contratar.
— Emissão de uma declaração negocial expressa (proposta), receptícia, por E; eficácia da
declaração (art. 224º).
— Conclusão de um contrato válido e eficaz através do telefone; transmissão da
propriedade.
— Desconsideração da pretensão de E uma vez que a sua proposta não foi aceite por F. E
já poderia ter razão se o anúncio na internet configurasse uma proposta contratual.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I
Exame Final — 26.01.2015
Duração da prova: 2 horas e 30 minutos
Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das respostas
implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se justifique, considerar as diversas
hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O rigor e a clareza de exposição serão factores de
valorização da prova.

I (7 valores)
A morreu durante uma operação cirúrgica mal sucedida realizada horas depois de ter dado
entrada num serviço de urgência hospitalar com fortes dores abdominais. B, sua mulher, quer
intentar uma acção contra o hospital alegando negligência médica, a desnecessidade da
operação realizada bem como a falta de consentimento do marido para a sua realização.
Pretende ser indemnizada pela morte do marido, bem como pelos danos sofridos por si e pelo
seu filho, tendo em conta que este nasceu prematuramente, logo após a morte do pai.
Supondo que na acção em causa vêm a provar-se as faltas médicas alegadas, pronuncie-se
sobre a procedência da pretensão de B.

II (6 valores)
Comente, à luz dos conhecimentos jurídico-civilísticos que adquiriu, a seguinte passagem do
sumário do Acórdão do STJ de 2 de Dezembro de 2013 (Maria Clara Sottomayor):
— “Não constitui abuso do direito a situação do segurado que, decorridos seis anos após a
celebração do contrato de seguro, invoca a exclusão de uma cláusula por falta do
cumprimento dos deveres de comunicação e de informação, sendo completamente natural e
nada contraditório, que o cidadão assine o contrato, confiando que não vai encontrar
percalços na sua execução, e reaja apenas quando esses percalços, normalmente
imprevisíveis na data da celebração do contrato, surgem”.

III (7 valores)
C, menor de idade, vendeu a D um terreno que havia herdado mediante contrato formalmente
válido, tendo-se munido de um documento de identificação falsificado para o efeito. Pouco
tempo depois, D, negociante de imóveis, vendeu o mesmo prédio a E.
Diga quem é o proprietário de terreno, tendo em conta que F, pai de C, pretende arguir a
invalidade do primeiro negócio, já depois da maioridade do seu filho.
FDUP
TGDC I
Exame Final — 26.01.2014

Critérios de correção

I
— Enquadramento: direitos de personalidade e consequências da sua violação.
— Direito geral de personalidade/direitos especiais (art. 70.º CC). Direitos especiais de
personalidade aqui convocados: direito à vida, à integridade física e à liberdade.
Caracterização destes direitos.
— Identificação do consentimento aqui em falta como um consentimento tolerante e
consequente violação ilícita dos direitos de personalidade de A
— Consequências da agressão ilícita de direitos de personalidade (art. 70º/2+483º).
— O dano da morte e sua compensação; os danos dos familiares (art. 496º).
— A tutela do nascituro (art. 66º).

II
— Enquadramento da questão no âmbito dos contratos de adesão e, mais precisamente, no
âmbito das cláusulas contratuais gerais. Noção de cláusulas contratuais gerais.
— A problemática subjacente às cláusulas contratuais gerais e as soluções do DL 446/85, de
25 de Outubro.
— O ónus da comunicação das ccg e o ónus da prova da comunicação das ccg: art. 5º DL
446/85.
— Exclusão das cláusulas não comunicadas (nulidade?): art. 8º DL 446/85.
— O problema do abuso de direito. Caracterização do abuso de direito; análise crítica do art.
334º CC.
— A invocação dos arts. 5º e 8º do DL 446/85 depois de vários anos de vigência do contrato
como um comportamento ilícito com fundamento em abuso de direito? Problematização.

III
— A incapacidades dos menores. Caracterização (arts. 122º, 123º).
— Suprimento da incapacidade dos menores e anulabilidade dos actos praticados sem
intervenção do representante legal: art. 125º (excepção art. 127º).
— Dolo do menor e suas consequências (art. 126º).
— As aquisições derivadas translativas, o princípio “nemo plus iuris...” e as suas excepções.
— Invalidade do negócio C/D: D adquire um direito provisório.
— Invalidade do negócio D/E: princípio “nemo plus iuris...”.
— Identificação de F como um terceiro para efeitos de boa fé (art. 291º).
— O art. 291º como uma excepção à regra das aquisições derivadas.
— Requisitos do art. 291º.
— E poderia adquirir “a non domino” verificados os requisitos do art. 291º/ou logo que C
atingisse a maioridade (uma vez que C não poderia arguir a anulabilidade), dependendo
das datas dos negócios.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I
Exame Final — 26.01.2015
Duração da prova: 2 horas e 30 minutos
Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das respostas
implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se justifique, considerar as diversas
hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O rigor e a clareza de exposição serão factores de
valorização da prova.

I (7 valores)
A morreu durante uma operação cirúrgica mal sucedida realizada horas depois de ter dado
entrada num serviço de urgência hospitalar com fortes dores abdominais. B, sua mulher, quer
intentar uma acção contra o hospital alegando negligência médica, a desnecessidade da
operação realizada bem como a falta de consentimento do marido para a sua realização.
Pretende ser indemnizada pela morte do marido, bem como pelos danos sofridos por si e pelo
seu filho, tendo em conta que este nasceu prematuramente, logo após a morte do pai.
Supondo que na acção em causa vêm a provar-se as faltas médicas alegadas, pronuncie-se
sobre a procedência da pretensão de B.

II (6 valores)
Comente, à luz dos conhecimentos jurídico-civilísticos que adquiriu, a seguinte passagem do
sumário do Acórdão do STJ de 2 de Dezembro de 2013 (Maria Clara Sottomayor):
— “Não constitui abuso do direito a situação do segurado que, decorridos seis anos após a
celebração do contrato de seguro, invoca a exclusão de uma cláusula por falta do
cumprimento dos deveres de comunicação e de informação, sendo completamente natural e
nada contraditório, que o cidadão assine o contrato, confiando que não vai encontrar
percalços na sua execução, e reaja apenas quando esses percalços, normalmente
imprevisíveis na data da celebração do contrato, surgem”.

III (7 valores)
C, menor de idade, vendeu a D um terreno que havia herdado mediante contrato formalmente
válido, tendo-se munido de um documento de identificação falsificado para o efeito. Pouco
tempo depois, D, negociante de imóveis, vendeu o mesmo prédio a E.
Diga quem é o proprietário de terreno, tendo em conta que F, pai de C, pretende arguir a
invalidade do primeiro negócio, já depois da maioridade do seu filho.
TGCD I
19.02.2015

Exame de recurso
Critérios de correcção

I
1.
— Enquadramento da questão no âmbito dos direitos de personalidade e do
consentimento do ofendido (art. 70º CC).
— Identificação dos direitos especiais de personalidade envolvidos no caso: direito à
integridade física e direito à liberdade.
— Requisitos do consentimento: art. 81º/1 + Lei 12/93, 22 de Abril: art. 8º.
— Caracterização do consentimento do dador como um consentimento autorizante e
do consentimento do receptor como um consentimento tolerante.
— Menoridade de A e consequente incapacidade de exercício de direitos (122º, 123º);
reflexos no consentimento.
— Especiais requisitos do transplante atendendo a que se trata de um órgão não
regenerável: art. 6º/2/3/7 Lei 12/93.
2.
— Princípio da gratuitidade: art. 5º Lei 12/93.
— Nulidade do negócio: art. 280º CC
— Órgão como coisa fora do comércio.

II
— Princípio “Nemo plus iuris...” e suas excepções; a aquisição derivada translativa da
Associação e o conflito com a aquisição registada pelos herdeiros.
— Caracterização da Associação com uma pessoa colectiva de substrato pessoal e
com reconhecimento normativo condicionado
— Apreciação da validade da doação: arts. 1682ºA, 1687º (anulabilidade
provavelmente sanada pelo decurso do prazo); negócio eficaz (ainda que anulável)
interpartes mas inoponível a terceiros para efeitos do registo (noção de terceiros): arts.
4º, 5º, 6º CRPredial.
— Consequências da falta de registo: efeito central do registo: arts. 5º+6º CRPredial;
decadência do direito da Associação.

III
a) Noção de capacidade de gozo e de capacidade de exercício; distinção;
incapacidades de gozo e incapacidades de exercício; exemplificação.
b) Noção de direito subjectivo em sentido estrito e de direito potestativo; situações
jurídicas passivas correspondentes; exemplificação.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I E II
Exame Final — Época de recurso — 12.07.2014

Duração da prova: 2 horas e 30 minutos


Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das respostas implica
a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se justifique, considerar as diversas
hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O rigor e a clareza de exposição serão factores de
valorização da prova. A resposta ao grupo I deverá constar de folha separada daquela que contiver a
resposta ao grupo II.

I (5+5 valores)
1. A, coleccionador de relógios, sabendo da intenção de C de lhe vender um valioso
relógio de colecção de que este (C) é proprietário, envia uma carta a B, também
coleccionador, através da qual lhe propõe a venda do mesmo relógio pelo preço de €
2.500. B responde a A, pela mesma forma, aceitando a proposta daquele.
Alguns dias mais tarde, A compra o relógio a C. Diga, fundamentadamente, se B poderá
vir a adquirir o relógio e, em caso afirmativo, em que momento adquirirá.
2. Imagine agora que à carta inicialmente enviada por A a B este (B) responde dizendo
que o preço proposto por A é demasiado elevado, estando contudo disposto a adquirir o
relógio pela quantia de € 1.800. Por sua vez, A, seguindo a mesma via de comunicação,
informa B que aceita vender-lhe o negócio nessas condições, mas que B morre antes de a
resposta de A chegar ao seu conhecimento. Mantendo os demais dados do enunciado,
diga se a resposta à primeira pergunta se mantém a mesma.

II (5+5 valores)
1. E, octogenária, tem vindo a sofrer um agravamento da sua saúde física e mental, sendo
vítima de recorrentes lapsos de memória e de confusão.
F, filho de uma vizinha, convenceu E de que era um seu sobrinho e conseguiu que esta
lhe oferecesse vários objectos em ouro bem como peças de mobiliário valiosas que tinha
guardados em casa.
a) Poderá G, irmã mais nova de E, reagir contra estes negócios tendo em conta que
quando foram realizados se encontrava já pendente uma acção com vista à limitação da
capacidade de E?
b) Supondo que E doou também uma casa de férias a F, mediante contrato formalmente
válido, ainda registada em seu nome mas que tinha sido vendida há muitos anos a H,
pronuncie-se sobre as possibilidades que F terá de vir a adquirir a propriedade da casa.
TGDC I e II
Exame Final — Época de recurso
12.07.2014
Critérios de correcção

I (5+5 valores)
1.
— Caracterização do contrato em causa como um negócio jurídico bilateral ou contrato
(bilateral), consensual (art. 219º CC).
— Caracterização do objecto do negócio como uma coisa (relativamente) futura (art. 211º).
— A carta de A seria uma proposta contratual (declaração expressa, escrita, definição de todos os
elementos considerados essenciais + vontade negocial, receptícia: arts. 217º, 224º, 232º CC;
eficácia da proposta).
— Perfeição do contrato no momento da recepção da carta de B: aceitação (declaração expressa,
escrita, receptícia: arts. 217º, 224º CC).
— Efeitos do contrato: meramente obrigacionais (art. 880º CC); o efeito translativo real a favor
de B dar-se-á com a aquisição da coisa por A (art. 408º/2 CC).
2.
— Valor da resposta de B: rejeição da proposta inicial e nova proposta (art. 233º);
— O contrato conclui-se com a eficácia da resposta de A (doutrina da recepção: 224º CC);
— A morte do proponente não obsta à conclusão do contrato: arts. 226º e 231º CC. O contrato
conclui-se entre A e os herdeiros de B. Estes adquirirão a propriedade quando A a adquirir,
pressupondo que a coisa ainda é futura, ou quando a carta chegar, se A já tiver adquirido a coisa.

II (6+4 valores)
a)
— Enquadramento da questão no âmbito dos vícios na formação da vontade e da falta de
discernimento conducente às incapacidades de exercício;
— Identificação de diferentes hipóteses de anulabilidade dos negócios: erro-vício quanto à
identidade do declaratário (requisitos gerais e especiais de relevância: arts. 251º+247º CC);
qualificado por dolo (positivo, ilícito) do declaratário: arts. 253º, 254º CC); incapacidade
acidental, caso se mostre a falta de discernimento no momento da conclusão do negócio
(requisitos de relevância): art. 257º CC.
— Relevância da pendência de uma acção (de interdição ou inabilitação: distinção, fundamentos
e consequências) com vista à restrição da capacidade de exercício de E; valor dos actos
praticados na pendência da acção: art. 149º (requisitos da anulabilidade; prazo).
— Legitimidade e prazos para arguir a anulabilidade (art. 287º); avaliação da legitimidade da
irmã de E para o efeito; consequências da anulabilidade (art. 289º).
b)
— Enquadramento do caso no âmbito das excepções ao princípio “nemo plus iuris...”.
— Validade do negócio E/H e invalidade do negócio E/F.
— Consequências da falta de registo de H: a inoponibilidade do seu direito a terceiros para efeitos
do registo (art. 5º CRP). Noção de terceiro para efeitos de registo. Breve caracterização do registo
em Portugal enquanto um registo declarativo e não constitutivo de direitos. A obrigatoriedade do
registo: art. 8ºA CRP. Efeito imediato do registo: a presunção da titularidade do direito: art. 7º
CRP.
— Consequências do eventual registo de F: efeito central do registo: arts. 5º+6º CRP. F adquire
um direito provisório (atendendo ao prazo para arguição da anulabilidade do negócio E/F) e o
direito de H decai.
— F adquiria um direito provisório “a non domino” que se tornaria definitivo com a confirmação
do negócio anulável ou com o decurso do prazo de arguição da anulabilidade.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I E II
Exame final — Época de recurso
13.07.2011

Duração da prova: 2 horas e 30 minutos


Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade
das respostas implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se
justifique, considerar as diversas hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O
rigor e a clareza de exposição serão factores de valorização da prova.

I (4+4 valores)
a) A, menor, foi apadrinhado civilmente por B e C, pessoas previamente
habilitadas para o efeito.
Pronuncie-se quanto ao significado do estabelecimento desta nova relação
jurídica.
b) B e C arguiram a anulabilidade de um contrato celebrado por A com
fundamento em menoridade, incapacidade acidental e falta de consciência da
declaração. Diga, justificando a sua resposta, se o tribunal poderá julgar a acção
procedente com base em todos os fundamentos invocados pelos autores.

II (7+5 valores)
a) A e B celebraram um contrato mediante documento particular autenticado,
em Fevereiro de 2009, no qual A, através de um procurador, vendeu a B um terreno
correntemente denominado “Casal do Rego”, com a área de 16 hectares, pelo preço de
500€/hectare. B pagou o preço global acordado.
Em Maio de 2010, A e B chegaram à conclusão que o procurador de A havia
identificado no documento o “Casal do Rego” como um só prédio, quando na
realidade era composto por dois prédios distintos: o “Casal do Rego” —10 hectares
— e a “Quinta de Baixo” — 6 hectares —, com inscrições matriciais e registrais
diversas.
A pretende hoje ver reconhecido o direito de propriedade sobre a “Quinta de
Baixo”. Terá êxito esta sua pretensão?
b) Suponha agora que B, que era titular de um direito legal de preferência na
compra do referido imóvel, apenas tinha exercido o seu direito e adquirido o prédio
em causa para impedir que X, vivamente interessado no terreno pelo qual tinha
oferecido o mesmo preço que B se dispôs a pagar, adquirisse a propriedade do “Casal
do Rego”. B era já proprietário de várias terras na região, inclusive contíguas ao
terreno transaccionado, mas tudo fez para que X, seu inimigo de longa data, não se
tornasse proprietário na zona.
Quid iuris?
TGDC I e II
Exame final — Época de recurso
13.07.2011

Critérios de correcção

I (4+4 valores)
a)
- Caracterização da incapacidade de exercício do menor.
- A relação própria do apadrinhamento civil: Lei n.º 103/2009, de 11.09, regulada
pelo DL n.º 121/2010, de 27.10. Noção de apadrinhamento civil; caracterização da
nova relação como uma relação tendencialmente perpétua; requisitos impostos pela
lei aos padrinhos e aos afilhados; apadrinhamento civil versus tutela; poderes
atribuídos aos padrinhos (responsabilidades parentais) e seus limites; objectivos do
instituto.
b)
- Recorte dos três institutos indicados.
- Explicação da impossibilidade da sua sobreposição na medida em que a
incapacidade acidental e a falta de consciência da declaração se aplicam a maiores
(dotados de capacidade de exercício).
- Identificação da única hipótese em que os actos dos menores podem ser invalidados
com os outros fundamentos invocados (nos casos excepcionais em que o menor é
capaz enunciados no art. 127º CC).

II (7+5 valores)
a)
- Situação do problema no âmbito da divergência entre a vontade real e a vontade
declarada. Problematização e afastamento da hipótese do erro-vício.
- Existência de divergência não intencional e ignorada pelo(s) declaraste(s).
- Verificação de um erro-obstáculo em ambas as declarações negociais.
- Recorte positivo e negativo do erro-obstáculo.
- Subespécie de erro-obstáculo em questão: erro de escrita (art. 249º). Seu relevo.
- Carácter incidental do erro.
- Consequências jurídico-positivas do erro-obstáculo, em geral.
- Consequências jurídico-positivas do erro-obstáculo, in casu: rectificação das
declarações negociais.
- Improcedência da pretensão do vendedor.
- Alusão à hipotética validação do negócio por aceitação: art. 248º CC.
- Afastamento da possibilidade de arguição da anulabilidade ainda que o erro fosse
invalidante em virtude da caducidade do direito: art. 287º.
- Caracterização da posição do procurador (representante voluntário: efeitos da
representação: art. 258º); o art. 259º CC.
[V. Acórdão do STJ de 3.12.98 (Torres Paulo), in http://www.dgsi.pt]
b)
- Identificação do exercício abusivo de um direito.
- Caracterização do abuso de direito; debate entre as diferentes concepções de abuso
de direito defendidas pela doutrina.
- Consequências do exercício abusivo de um direito.
Direito
Comunitário
UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE
DIREITO Direito da União Europeia – 2.o ano
Exame da época normal – 02/01/2018
Regente: Marta Chantal Ribeiro
Duração: 2h30 (sem tolerância)
Estudantes com necessidades especiais: tempo de prova nos
termos da legislação aplicável
Nota: a apresentação e sistematização da resposta e a clareza de
raciocínio são cotadas em 1 valor. As respostas ‘sim’ ou ‘não’, se
não forem acompanhadas de justificação, não serão valorizadas.
I GRUPO (10 valores)
De modo BREVE, mas fundamentado, responda às seguintes
questões:
1. Explique as diferenças entre o funcionalismo e o
neofuncionalismo e diga, na sua opinião, qual das duas teses
reflete melhor a atualidade da União Europeia. (3 v.)

2. De modo breve, indicando os artigos relevantes, mas sem


reproduzir o respetivo arrazoado, diga quais são os modos de
deliberação ao nível do Conselho da União Europeia. (3 v.)

3. A efetividade do Direito da União Europeia está


intrinsecamente ancorada no princípio do primado, sendo
múltiplas as soluções constantes dos tratados e as decisões
jurisprudenciais que o evidenciam. Concorda com a
afirmação? (4 v.)
II GRUPO (9 valores)

Leia o enunciado da situação HIPOTÉTICA e todas as


questões. A seguir, resolva o caso, FUNDAMENTANDO
sempre as suas respostas:
As focas são seres sencientes, ou seja, dotados de sensibilidade à
dor, à angústia, ao medo e a outras formas de sofrimento. Em
2007, numa declaração, a que se seguiu uma resolução, sobre a
proibição de comercialização de produtos derivados da foca na
União Europeia, o Parlamento Europeu adotou um regulamento
destinado a proibir a importação, a exportação e a venda de todos
os produtos derivados da foca.
Na fundamentação do ato, o Parlamento Europeu invocou
diferenças entre as legislações nacionais que regem o comércio, a
importação, o fabrico e a comercialização de produtos derivados
da foca, diferenças estas que afetam negativamente o
funcionamento do mercado interno pela disparidade de
entendimentos dos Estados quanto à proteção das focas (artigo
114.o do TFUE, em especial).
Consequentemente, no regulamento estabeleceram-se as seguintes
regras: primeira, a colocação no mercado interno de produtos
derivados da foca só é permitida se se tratar de produtos derivados
de focas caçadas pelas comunidades inuítes e por outras
comunidades indígenas, segunda, é definido um conjunto
harmonizado e exigente de requisitos, de cuja verificação depende
a colocação no mercado interno destes produtos específicos. O
regulamento veio a ser publicado no JOUE, sem qualquer
indicação da data da sua entrada em vigor. Face ao exposto,
responda às seguintes questões de modo fundamentado:
1. Distinga a resolução do regulamento, ambos adotados pelo
Parlamento Europeu. (2 v.)
2. Aprecie a validade do regulamento tendo em conta os seguintes
princípios: o princípio da atribuição de competências, o princípio
das competências atributivas das instituições e o princípio da
publicidade dos atos. (3 v.)
3. Suponha que um Estado-Membro ficou insatisfeito com as
medidas estabelecidas pelo regulamento. Como assessor jurídico
do Governo desse Estado, que estratégia de atuação recomendaria,
e perante quem, com vista a impedir a aplicação do regulamento
na ordem interna? (2 v.)
4. E se o mesmo regulamento estivesse em apreciação, perante um
juiz do dito Estado-Membro, no âmbito de um processo que
opunha normas do regulamento a disposições constantes de uma
lei interna permissivas da importação de quaisquer produtos
derivados de foca independentemente da proveniência?
Colocando-se no lugar do juiz como atuaria e perante quem? (2 v.)
BOA SORTE
UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE
DIREITO Direito da União Europeia – 2.o ano
Exame da época normal – 02/01/2018
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
Regente: Marta Chantal Ribeiro
Duração: 2h30 (sem tolerância)
Estudantes com necessidades especiais: tempo de prova nos
termos da legislação aplicável
Nota: a apresentação e sistematização da resposta e a clareza de
raciocínio são cotadas em 1 valor. As respostas ‘sim’ ou ‘não’, se
não forem acompanhadas de justificação, não serão valorizadas.
I GRUPO (10 valores)
De modo BREVE, mas fundamentado, responda às seguintes
questões: 1. Critérios:
• - Funcionalismo (David Mitrany; Taylor): o exercício
conjunto de soberanias; integração sectorial; o realismo
quanto à possibilidade de retrocesso do processo de
integração; a possibilidade de integração diferenciada
(exemplos: o Euro e a cooperação reforçada); a possibilidade
de secessão. Tese que melhor retrata a atualidade da União
Europeia (exemplos: artigo 20.o, artigo 48.o, n.o 2, e artigo
50.o, todos do TUE). (2 v.)
• - Neofuncionalismo (Haas): o objetivo da federação
europeia; as instituições supranacionais e os grupos de
interesses no processo de integração; automaticidade do
processo de integração (spillover). (1 v.)

2. Critérios:
- Maioria simples: artigo 238.o, n.o 1, do TFUE (0,5 v.)
-Maioria qualificada: regime regra (artigo 16.o, n.o 3, do TUE)
sujeito a procedimento distintos consoante se delibere ou não
delibere sob proposta da Comissão e/ou consoante estejam ou não
presentes representantes de todos os Estados-Membros (artigo
16.o, n.o 4, do TUE e artigo 238.o do TFUE). (2 v.)
- Unanimidade: artigo 238.o, n.o 4, do TFUE (0,5 v.) 3. Critérios:
- Noção de primado de Direito da União, alcance (condição
existencial da UE; primado interno) e consequências (no mínimo,
inaplicabilidade). Distinção da preempção. (1,5 v.)
- Fundamentos normativos: artigo 4.o, n.o 3, do TUE e Declaração
n.o 17; artigos 258.o a 260.o, 288.o e 267.o do TFUE. (1,25 v.)
- Fundamentos jurisprudenciais: acórdãos Costa/Enel, de
15.07.64, Simmenthal, de 09.03.78, Brasserie du pêcheur, de
05.03.1996, entre outros. (1,25 v.)

II GRUPO (9 valores)
Leia o enunciado da situação HIPOTÉTICA e todas as questões.
A seguir, resolva o caso, FUNDAMENTANDO sempre as suas
respostas:
(...)
1. Distinga a resolução do regulamento, ambos adotados pelo
Parlamento Europeu. (2 v.)
Critérios:
- Resolução: ato atípico de direito derivado, não vinculativo. (0,5
v.)
- Regulamento: ato típico de direito derivado, previsto no artigo
288.o do TFUE. Explicação das características, designadamente, o
carácter de lei (uniformização), a aplicabilidade direta, imediata e
o efeito direto. (1,5 v.)
2. Aprecie a validade do regulamento tendo em conta os seguintes
princípios: o princípio da atribuição de competências, o princípio
das competências atributivas das instituições e o princípio da
publicidade dos atos. (3 v.)
Critérios:
- Princípio da atribuição de competências: explicação (artigo 5.o,
n.o 1 e 2, do TUE); o regulamento é válido face ao disposto no
artigo 4.o, n.o 2, al. a), e no artigo 114.o do TFUE (competência
partilhada). Eventual discussão acerca do princípio da
subsidiariedade. (1 v.)
- Princípio das competências atributivas das instituições:
explicação (artigo 13.o, n.o 2, do TUE); o regulamento é inválido
face ao disposto no artigo 114.o e no artigo 289.o do TFUE (não
foi respeitado o processo legislativo ordinário). (1 v.)
- Princípio da publicidade dos atos: explicação (artigo 297.o do
TFUE); não se trataria de um problema de validade e sim de falta
de produção de efeitos, que mesmo assim não procede face ao
disposto no artigo 297.o, n.o 1, último parágrafo, do TFUE). (1v.)
3. Suponha que um Estado-Membro ficou insatisfeito com as
medidas estabelecidas pelo regulamento. Como assessor jurídico
do Governo desse Estado, que estratégia de atuação
recomendaria, e perante quem, com vista a impedir a aplicação
do regulamento na ordem interna? (2 v.)
Critérios:
- Enquanto requerente privilegiado o Estado-Membro poderia
recorrer ao recurso de anulação (a interpor perante o Tribunal de
Justiça – artigo 51.o do Estatuto do TJUE / 0,5 v.), com
fundamento em incompetência do Parlamento Europeu para a
adoção do regulamento, no prazo de dois meses a contar da
publicação, conforme regulado no artigo 263.o do TFUE (1,5 v.).
4. E se o mesmo regulamento estivesse em apreciação, perante um
juiz do dito Estado-Membro, no âmbito de um processo que
opunha normas do regulamento a disposições constantes de uma
lei interna permissivas da importação de quaisquer produtos
derivados de foca independentemente da proveniência?
Colocando-se no lugar do juiz como atuaria e perante quem? (2
v.)
Critérios:
- Reenvio prejudicial relativo a uma questão de validade.
Aplicação do artigo 267.o do TFUE e da jurisprudência Foto-
Frost (acórdão de 22.10.1987, proc. 314/85) (1,5 v.). Reenvio
obrigatório para o Tribunal de Justiça (interpretação do artigo
256.o, n.o 3, do TFUE) (0,5 v.). BOA SORTE
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO
PORTO EXAME DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
TURMA 2
2/1/2018
14.30 – 17.00 H
I
Considerando os artigos 2o, 4o e 7o TUE e o artigo 2o TFUE,
comente e articule as seguintes afirmações:
“Em dois anos, foram adotadas mais de 13 leis consecutivas que
afetam toda a estrutura do sistema de justiça na Polónia: o
Tribunal Constitucional, o Supremo Tribunal, os tribunais
ordinários, o Conselho Nacional do Poder Judiciário, o
Ministério Público e a Escola Judicial Nacional. O padrão
comum de todas estas mudanças legislativas é que os poderes
executivo ou legislativo foram sistematicamente habilitados a
interferir significativamente com a composição, os poderes, a
administração e o funcionamento dessas autoridades e órgãos. As
mudanças legislativas e seus efeitos combinados colocam em
risco sério a independência do poder judicial e a separação de
poderes na Polónia, que são componentes-chave do estado de
direito”. Comissão Europeia
“A Polónia lamenta o lançamento do procedimento previsto no
artigo 7, que é essencialmente político, não legal (...) a soberania
da Polónia e a ideia da Europa unida podem ser reconciliadas”.
MNE da Polónia.
5 val.
II
Nos últimos anos, empresas que utilizam plataformas tecnológicas
têm disponibilizado o acesso generalizado a transportadores não
profissionais. Essas empresas declaram que não exercem a
atividade de transporte, mas antes prestam um serviço de
intermediação eletrónica abrangida pela livre prestação de
serviços do mercado interno prevista no TFUE (artigos 49o a 62o)
e regulada pelas Diretivas 2006/123/CE, 2000/31/CE e 98/34, e de
são excluídas as atividades de transporte. Os taxistas têm
reclamado que se trata antes da atividade de transporte público
local não coletivo, prevista nos artigos 90o a 100o TFUE e que
não foi até hoje objeto de qualquer regulação na UE, sendo
regulada a nível nacional com regimes diferenciados. Os litígios
nos tribunais nacionais têm-se sucedido. Em 20/12/2017, o TJ
(Proc. 434/15, Elite Taxi) qualificou essa atividade como atividade
de transporte.
1 – Sabendo que ambos os domínios integram a categoria das
competências partilhadas, qual a importância da diferente
qualificação como livre prestação de serviços ou como transporte?
4 val.
A Comissão, na sua Comunicação “Agenda para a Economia
Colaborativa” reflete sobre a hipótese de regulação dessa
atividade pelo Direito da União Europeia.
2 – Embora a Comissão não se refira ao princípio da
subsidiariedade, de que forma este princípio é relevante em
qualquer iniciativa de regulação no domínio referido e que meios
de controlo e garantia estão previstos? 4 val.
3 – O caso Elite Taxi resultou de um reenvio do Juzgado de lo
Mercantil n.° 3 de Barcelona. Considere que em sede de recurso
da decisão do Juzgado de lo Mercantil, o tribunal superior, de cuja
decisão já não há recurso, não respeita a interpretação feita pelo
TJ no acórdão de reenvio e a associação de taxistas Elite Taxi
pretende reivindicar o ressarcimento de prejuízos sofridos por
causa dessa decisão. Quid iuris? 5 val.
4 – Poderia este reenvio ser decidido pelo Tribunal Geral? 2 val.
Bom trabalho! Graça Enes
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA – TURMA 2 2017/2018
EXAME ÉPOCA NORMAL 2/1/2018 CRITÉRIOS E TÓPICOS DE
CORREÇÃO
Em todas as questões, a avaliação tem em consideração a indicação dos
conteúdos programáticos pertinentes, a coerência da articulação entre
estes, a clareza discursiva e a reflexão crítica e contextual das questões.

I – A UE assume um vínculo axiológico ao conjunto dos valores


previstos no artigo 2o TUE, vínculo igualmente assumido pelos EM,
valores essenciais para promover os objetivos da União. Entre estes
encontra-se o Estado de Direito. As medidas legislativas adotadas pela
Polónia contrariam estes valores, especialmente o valor referido, tal
como declara a Comissão Europeia. O artigo 4o, no 3 TUE impõe o
princípio da cooperação leal. Com vista a garantir o respeito por esses
valores, foi instituído um mecanismo de controlo jurídico, previsto e
regulado no artigo 7o TUE. No caso, a Comissão acionou o artigo 7o, no
1 (para situações de alegado risco manifesto de violação grave dos
valores do artigo 2o) – indicar o respetivo procedimento e as
consequências. Será que este mecanismo põe em causa a soberania dos
EM? A integração europeia envolve Estados soberanos e está
comprometida a respeitar a identidade nacional refletida nas estruturas
constitucionais dos EM (artigo 4o, no 2 TUE). Igual manifestação desse
respeito é o reconhecimento de que a União apenas tem competências de
atribuição (artigo 4o, no 1 TUE) e que as competências não atribuídas à
União nos Tratados pertencem aos EM. Assim sucede com a organização
judiciária. Mesmo no âmbito das competências atribuídas a UE encontra
diversos limites no respetivo exercício (artigo 2o TFUE). Contudo,
embora preservem competências próprias, os EM estão vinculados pelo
princípio do primado do direito da União e pelo princípio da cooperação
leal (artigo 4o, no 3 TUE). Assim, mesmo no âmbito das suas
competências próprias, os EM estão condicionados ao respeito dos
valores do artigo 2o. A soberania que mantêm não é uma soberania
absoluta, mas é modelada pelos compromissos internacionais assumidos,
particularmente o empenhamento na União Europeia e no respeito dos
seus valores essenciais. O mecanismo do artigo 7o é um instrumento
jurídico, que envolve as principais instituições europeias, e a decisão a
que conduza está sujeita a controlo judicial, embora apenas em relação a
questões processuais, do TJ (artigo 269o TFUE). Esse mecanismo
assegura essa conciliação.
II – 1) A categoria das competências partilhadas é uma categoria
multiforme cuja titularidade é da União e dos EM. De acordo com o
artigo 2o, no 2 do TFUE, quer a UE, quer os EM estão legitimados a
legislar e a adotar atos juridicamente vinculativos. À luz do artigo 4o, no
1 TFUE as competências partilhadas são delimitadas por exclusão (todos
os domínios não contemplados nos artigos 3o e 6o TFUE). Embora tal
não ocorra com todos os domínios (nomeadamente com aqueles previstos
no artigo 4o, nos 3 e 4, e no artigo 5o TFUE), o princípio da preempção
previsto no artigo 2o, no 2 TFUE implica que à medida que a União vai
exercendo a sua competência os EM ficam impedidos de a exercer nesse
mesmo âmbito. Este princípio vale no âmbito das competências previstas
no artigo 4o, no 2 TFUE. Entre estas encontram-se as liberdades do
mercado interno, onde se inclui a prestação de serviços em geral (artigos
56o a 62o TFUE). A prestação de serviços de transporte é excecionada
desse âmbito pelo artigo 58o TFUE e é submetida às regras especiais
relativas aos transportes (artigos 90o a 100o TFUE). Ao abrigo da

preempção, as competências em matéria de prestação de serviços dos EM


foram restringidas pelo princípio da preempção através do exercício da
competência da EU com as diretivas mencionadas. Como estas diretivas
não são aplicáveis aos serviços de transporte e não houve qualquer
exercício de competência nesse domínio da parte da União, a regulação
permanece na esfera de jurisdição dos EM, apenas condicionada pelas
regras do Tratado. Assim, se a atividade das plataformas for qualificada
como prestação de serviço de intermediação eletrónica estaria no âmbito
das regras comuns instituídas pelas diretivas; se for qualificada como
serviço de transporte a regulação fica sujeita à competência reguladora
dos EM. Se e na medida em que a UE legislar nessa matéria, esse
domínio será objeto da preempção da União.

II – 2) Importância, significado e alcance do princípio da


subsidiariedade. A subsidiariedade como princípio atinente ao exercício
de competências, com especial incidência no âmbito dos atos
legislativos. Os critérios estabelecidos no artigo 5o, no 3 TUE e os
índices aí apontados. A procedimentalização do princípio prevista no
Protocolo relativo à aplicação dos princípios da subsidiariedade e da
proporcionalidade (a “subsidiariedade integrativa” das consultas
previstas no artigo 2o do Protocolo). O controlo político conferido aos
parlamentos nacionais introduzido pelo Protocolo – breve descrição e
alcance dos eventuais pareceres desfavoráveis (“Yellow card”), nos
termos dos artigos 4o a 7o do Protocolo). O controlo judicial de
legalidade, nos termos do artigo 263o TFUE, de acordo com o artigo 8o
do Protocolo, salientando em especial a legitimidade processual ativa do
Comité das Regiões e dos parlamentos nacionais. O controlo judicial dos
tribunais nacionais enquanto tribunais comuns do direito da UE (artigo
19o, no 1, § 2 TUE).
II – 3) O tribunal superior está vinculado pelo acórdão do TJ resultante
do reenvio efetuado pelo tribunal inferior, por força dos princípios do
primado e da cooperação leal (artigo 4o, no 3 TUE). Se entender que a
pronúncia do TJ não é adequada pode fazer um novo reenvio. Se
desrespeitar o acórdão de reenvio, o EM espanhol pode ser
responsabilizado pelos danos daí resultantes para particulares como é o
caso da Associação Elite Taxi (jurisprudência Köbler e Traguetti del
Mediterraneo). Indicação das requisitos da responsabilidade do Estado
(jurisprudência Francovich e Brasserie de Pecheur).
II – 4) Não. Embora o artigo 256o, no 3 preveja que o Tribunal Geral é
competente para conhecer questões prejudiciais determina que as
matérias em que tal pode suceder são determinadas pelo Estatuto. Este,
porém, é omisso, não prevendo quaisquer matérias a conhecer pelo
Tribunal Geral.
UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE
DIREITO Direito da União Europeia – 2.o ano
Exame final (época de recurso) – 03/01/2017
TURMA 1
Regente: Marta Chantal Ribeiro
Duração: 2h30 (sem tolerância)
Estudantes com necessidades especiais: tempo de prova nos
termos da legislação aplicável
Nota: a apresentação da prova, a sistematização da resposta e a
clareza de raciocínio foram cotadas em 1 valor. As respostas
‘sim’ ou ‘não’ desacompanhadas de justificação não foram
valorizadas.
I GRUPO (8 valores)
1. Critérios de correção: Ministro dos Negócios Estrangeiros
francês. Génese (situação da Europa; Jean Monnet) e importância
da Declaração Schuman de 9 de maio de 1950. A via pragmática
na construção da Europa. Características para-federais da CECA
(1951) e evolução para a CEE e CEEA (1957). (3 v.)
2. Critérios de correção: resposta afirmativa. Análise da
composição do Conselho da União Europeia (órgão
intergovernamental: representantes dos governos dos Estados-
Membros: artigos 10.o, n.o 2, e 16.o, n.o 2, do TUE) e dos fins
prosseguidos pelos membros no exercício do seu mandato
(instituição europeia: realização dos fins e objetivos que presidem
à União Europeia: competências do Conselho). Regras de
deliberação (maioria qualificada v. unanimidade). (5 v.)
II GRUPO (11 valores)
1.
a) Critérios de correção: artigo 6.o do TUE e artigo 21.o da
CDFUE (1,5 v.), artigo 10.o e artigo 19.o, n.o 1, do TFUE (0,5
v.).
b) Critérios de correção: violação da obrigação de transposição
da diretiva dentro do prazo (acórdão Ratti, de 05.04.79) (0,5 v.).
Princípio da cooperação leal (artigo 4.o, n.o 3, do TUE) e
princípio do primado / preempção (acórdãos Costa/Enel de
15.07.64, Simmenthal, de 09.03.78, Brasserie du Pêcheur, de
05.03.96; Declaração n.o 17) (1,5 v.).
c) Critérios de correção: ação por incumprimento (artigos 259.o-
260.o): legitimidade ativa (1 v.); processo (fase declarativa e fase
executiva/sanção pecuniária fixa ou temporária) (1 v.).
2.
a) Critérios de correção: artigo 288.o do TFUE; ato individual e
concreto, de natureza administrativa (1,5 v.); exigência de
notificação apenas: artigo 297.o, n.o 2, do TFUE (0,5 v.).
b) Critérios de correção: resposta afirmativa. Condições do
efeito direto horizontal das decisões (acórdão Franz Grad, de
06.10.1970). Princípio da proteção jurisdicional efetiva: artigo do
19.o, n.o 1, do TUE. (2 v.)
c) Critérios de correção: fase de integração económica – noção
de mercado interno: as quatro liberdades, incluindo a livre
circulação de pessoas e ausência de fronteiras (artigo 26.o, n.o 2,
do TFUE). (1 v.)
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO
PORTO EXAME DE RECURSO DE DIREITO DA UNIÃO
EUROPEIA TURMA 2 2/2/2017 14.30 H
DURAÇÃO – 2.30 H
I
Comente a seguinte afirmação:
Do ponto de vista político, a União Europeia é um ‘objecto
político não identificado’. Já do ponto de vista jurídico, é
inquestionável que configura uma ‘comunidade de direito’, em
tudo moldada sobre o modelo do ‘estado de direito’ desenvolvido
nos Estados.
(4 val.)
II
Analise a seguinte situação hipotética:
Uma norma fiscal alemã permite aos contribuintes deduzir à
matéria coletável 30% do valor de propinas pago pela frequência
de estabelecimentos de ensino situados na Alemanha.
Um cidadão alemão, Otto H., viu recusada a dedução de propinas
pagas pela frequência dos seus dois filhos de um colégio na
Escócia.
a) O Sr. Otto H. entende que essa legislação é contrária ao direito
da UE. Quid iuris? (4 val.)
Os serviços da Comissão há já algum tempo analisavam a
legislação fiscal da Alemanha para averiguar da respetiva
compatibilidade com o direito da UE.
b) Caso considere que há um incumprimento do direito da UE,
que medidas poderá a Comissão tomar? Fundamente. (3 val.)
III
Analise a seguinte situação hipotética:
O Regulamento (UE) N.o 165/2014 do Parlamento Europeu e do
Conselho de 4 de fevereiro de 2014, relativo à utilização de
tacógrafos nos transportes rodoviários, contém entre outras as
seguintes disposições:
Artigo 1.o
Objeto e princípios
1. O presente regulamento estabelece as obrigações e os requisitos
relacionados com a construção, instalação, utilização, ensaio e
controlo dos tacógrafos utilizados nos transportes rodoviários
Artigo 12.o
Pedidos de homologação
1. Os fabricantes ou seus mandatários apresentam o pedido de
homologação de um modelo de unidade-veículo, sensor de
movimentos, folha de registo ou cartão tacográfico às autoridades
de homologação para esse efeito designadas por cada Estado-
Membro.
a) Caracterize o ato referido? (3 val.)
b) Fundamente nos Tratados as obrigações decorrentes para os
EM do artigo 12o referido acima. (2 val.)
c) Em Portugal um pedido de homologação efetuado por uma
empresa ao IMTT, autoridade de homologação designada pelo
governo português, foi recusado. A empresa pretende impugnar
esse ato no Tribunal de Justiça da União Europeia. Quid iuris? (4
val.)
Bom trabalho!
EXAME DE RECURSO DE DIREITO DA UNIÃO
EUROPEIA 2/2/2017
CRITÉRIOS E TÓPICOS DE CORREÇÃO
Em todas as questões, a avaliação tem em consideração a
indicação dos conteúdos programáticos pertinentes, a coerência da
articulação entre estes, a clareza discursiva e a reflexão crítica e
contextual das questões.
I – O texto articula duas dimensões diferentes do processo de
integração europeia – a dimensão política e a dimensão jurídica. A
primeira apresenta múltiplos sinais ambíguos (v.g. em sede de
definição das competências, no alcance diverso das diversas
políticas e ações comuns, na substância de uma cidadania
derivada, na preservação das funções essenciais do Estado,
nomeadamente na ordem e segurança, etc.), em torno dos
conceitos fundamentais de governo soberano, território e demos,
os quais apartam a União de uma clássica organização
internacional sem, no entanto, permitirem filiá-la na categoria de
Estado. Já a dimensão jurídica mostra-nos uma União que se
sedimentou como uma ‘comunidade de Direito’ assente na “rule
of law” com uma matriz axiológico-jurídica expressa no artigo 2o
do TUE e que muito deve à jurisprudência do TJ (v.g. acórdão do
TJ “Verdes”, com uma ordem jurídica autónoma, assente em
princípios como o primado e o efeito direto, na proteção dos
direitos fundamentais no quadro de um sistema autónomo de
garantia judicial).
II – a) – O princípio das competências de atribuição previsto no
artigo 5o, nos 1 e 2 do TUE constitui o fundamento dos limites
impostos à atuação da UE. Os domínios respeitantes à fiscalidade
(artigos 110o a 113o do TFUE) estão previstos entre as
competências partilhadas do mercado interno e não incluem o
domínio dos impostos sobre o rendimento dos particulares. Assim,
esta matéria é da competência reservada dos EM, de acordo com o
artigo 5o, no 2 do TUE. Sucede, porém, que o exercício das
competências nacionais não pode pôr em perigo a realização dos
objetivos da União, à luz do princípio da cooperação leal (artigo
4o, no 3 do TUE). Entre os objetivos da União, nomeadamente do
mercado interno (artigo 26o, no 2 do TFUE), está a livre prestação
de serviços, que inclui igualmente a sua dimensão passiva (de
consumidor de serviços), tutelada nos artigos 56o a 62 do TFUE.
É sob a proteção desta liberdade que se encontram os filhos do Sr.
Otto, enquanto beneficiários de serviços de educação na Escócia.
O direito à educação é um direito inscrito no artigo 14o da CDF,
impondo-se no âmbito das competências da União às respetivas
instituições e aos EM. Acresce ainda que, enquanto cidadãos da
União, os filhos do Sr. Otto beneficiam do direito de circular e
permanecer livremente no território dos EM, de acordo com os
artigos 20o, no 2, al. a) e 21o, no 1 do TFUE. Essa discriminação
fiscal prevista na legislação alemã constitui uma restrição indireta
à livre circulação que afeta sem justificação o direito à livre
circulação. As disposições do Tratado referidas preenchem os
requisitos do efeito direto e o Sr. Otto pode exigir (articulação
com o princípio do primado) que a legislação nacional seja
desaplicada.
II – b) – A função da Comissão enquanto “guardiã” dos Tratados,
de acordo com o artigo 17o, no 1 do TUE. Se entender que há um
incumprimento do EM, pode dar início ao procedimento previsto
no artigo 258o do TFUE. Indicação e explicação sucinta das fases
desse procedimento (fase pré-pré-contenciosa, fase pré-
contenciosa e fase contenciosa), com indicação dos seus termos,
dos atos envolvidos e dos seus objetivos. O alcance declarativo do
acórdão do Tribunal e o objetivo compulsório da segunda ação,
segundo o artigo 260 do TFUE.
III – a) – O regulamento no quadro das fontes de Direito da
União: ato unilateral secundário típico e tipificado e, no caso, ato
legislativo (explicação sucinta). Explicação das características
enunciadas no artigo 288o do TFUE (generalidade;
obrigatoriedade em todos os seus elementos e aplicabilidade
direta).
III – b) – Os EM estão vinculados ao princípio da cooperação leal
que encontra previsão no artigo 4o, no 3 do TUE (descrição das
suas dimensões positiva e negativa). Em sede de execução
normativa, o princípio da subsidiariedade (artigo 5o, no 3 do
TUE) aponta para a competência dos EM. Daqui deriva que, de
acordo com o artigo 291o, no 1 do TFUE caiba aos EM, em
princípio, a competência de execução dos atos da União. No
exercício dessa competência gozam os EM de autonomia, mas
estão igualmente vinculados pelos princípios da equivalência e da
efetividade.
III – c) – O acesso à tutela judicial efetiva é um direito previsto na
CDF (artigo 47o). De acordo com o artigo 19o. no 1 do TUE os
tribunais nacionais são os tribunais comuns do direito da União,
estando o TJ limitado pelo princípio das competências atribuídas.
Assim, são da competência dos tribunais portugueses os litígios
que envolvam a aplicação do direito da União entre os particulares
e entidades públicas nacionais como o IMTT, seguindo o regime
processual nacional, definido de acordo com o princípio da
autonomia, mas igualmente no respeito pela equivalência e
efetividade. A intervenção do TJ pode ter lugar pela via do
reenvio prejudicial nas condições do artigo 267o do TFUE. Em
conclusão a empresa não pode impugnar a decisão do IMTT junto
do TJ, mas sim num tribunal português.

UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE


DIREITO Direito da União Europeia – 2.o ano
Exame final (época normal) – 03/01/2017
Regente: Marta Chantal Ribeiro
Duração: 2h30 (sem tolerância)
Estudantes com necessidades especiais: tempo de prova nos termos da
legislação aplicável Nota: a apresentação da prova, a sistematização da
resposta e a clareza de raciocínio são cotadas em 1 valor. As respostas
‘sim’ ou ‘não’, se não forem acompanhadas de justificação, não serão
valorizadas.

I GRUPO (6 valores)
O reenvio prejudicial é o principal fundamento para a afirmação
do primado “interno”.... (6 v.)
Critérios de correção:
• Noção de primado de Direito da União (em especial, mas
não só, artigo 4.o, n.o 3, do TUE, Declaração n.o 17,
acórdãos Costa/Enel, de 15.07.64, e Simmenthal, de
09.03.78), alcance de primado ‘interno’ (acórdão
Simmenthal e artigo 8.o, n.o 4, da CRP) e o reenvio
prejudicial como fundamento – artigo 267.o do TFUE. (3 v.)

• A função dos tribunais nacionais no âmbito do reenvio


prejudicial – cooperação judiciária e características do
reenvio (em especial, acórdãos CILFIT, de 06.10.82, Foto-
Frost, de 22.10.87, e Ferreira da Silva, de 09.09.2015). (3
v.)
II GRUPO (13 valores)

Situação HIPOTÉTICA (...)


1 – Tendo presente os objetivos da diretiva, entende que foi
respeitado o princípio da atribuição? (1 v.)
Critérios de correção: Resposta afirmativa: artigo 5.o, n.o 1 e 2, do
TFUE; artigo 7.o do TUE (0,25) ; artigo 4.o, n.o 1, al. e) (0,5), e
artigo 192.o do TFUE (0,25).
2 – Qual é a relevância no caso da “mera menção (não
explicativa) ao princípio da subsidiariedade”? Por outras
palavras, este facto tem consequências jurídicas? Quais? Entre
outros elementos e disposições, consulte o artigo 5.o do TUE
antes de elaborar a sua resposta (3 v.).
Critérios de correção:

a) Sim, tem relevância (análise do artigo 5.o, n.o 3, do TUE).


Violação do princípio da fundamentação. A fundamentação é
obrigatória de acordo com o artigo 296.o, 2.o parágrafo do
TFUE - base legal e subsidiariedade. (1,5)
b) A falta de fundamentação determina a nulidade do ato: análise
do artigo 263.o do TFUE e do vício correlativo; análise dos
artigos 5.o e 8.o do Protocolo relativo à aplicação dos
princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade
(aplicação do artigo 8.o quando há violação do princípio da
subsidiariedade; o que é diferente do princípio da
fundamentação). (1,5)

3 – Considera que o processo de aprovação da diretiva foi


regular quanto ao quórum deliberativo (por maioria em segunda
leitura)? Para responder, atente no processo legislativo aplicável
no caso. (1 v.)
Critérios de correção: Resposta negativa: análise do artigo 294.o,
os
n. 7, 8 e 9 do TFUE – processo legislativo ordinário, para o qual
remetem os artigos 192.o e 289.o, n.o 1, do TFUE). Não confundir
maioria com maioria qualificada.
4 – O princípio da democracia representativa, que a União
Europeia tem por valor, não exige que a diretiva seja
exclusivamente adotada pelo Parlamento Europeu? (3 v.) Uma
revisão futura dos tratados pode eliminar o funcionamento
democrático da União Europeia? (1 v.)
Critérios de correção:
a. Em tese sim, mas não é essa a solução atual consagrada nos
Tratados: análise do artigo 10.o, n.o 2, do TUE, artigo 39.o da
CDFUE e do artigo 289.o do TFUE (1). Caracterização do
Parlamento Europeu (composição e modo de eleição, sobretudo) e
referência à generalização do processo de co-decisão (1). Reflexão
sobre a natureza da União Europeia no âmbito da questão (1).
b. Questão dos limites materiais à revisão dos Tratados e do
‘acervo comunitário’. Resposta negativa: artigos 2.o, 7.o, 10.o e
49.o do TUE (1 v.). Seria valorizada uma eventual alusão ao
artigo 8.o, n.o 4, da CRP.
5 – Imagine que um cidadão da União Europeia incentivado pela
entrada em vigor, em 4 de novembro de 2016, do Acordo de Paris
relativo às alterações climáticas ....
• a) A interposição de uma ação com este intuito teria
hipótese de ser bem sucedida? Reflita sobre as
características da diretiva antes de responder. (3 v.)
Critérios de correção: Não. Características da diretiva:
técnica de legislação indireta – o efeito direto é uma exceção
(1 v). Critérios do efeito direto. Não tinha expirado o prazo
de transposição e recusa de efeito direto horizontal. Os
paliativos (1,75). Em especial, citação dos acórdãos Ratti, de
05.04.79, Marshall, de 26.02.86, e Marleasing, de 13.11.90
(0,25).

• b) A União Europeia ratificou o Acordo de Paris. Pode


fazê-lo? Se sim, o facto elimina a possibilidade de os
Estados-Membros o ratificarem também? (1 v.)
Critérios de correção: Acordos mistos (0,25). Resposta afirmativa
quanto à primeira pergunta e negativa quanto à segunda:
interpretação do artigo 3.o, n.o 2 (princípio do paralelismo de
competências), do artigo 2.o, n.o 2 (âmbito de ‘ocupação’), dos
artigos 216.o-218.o (0,5) e do artigo 191.o, n.o 4, todos do TFUE
(0,25).

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO


EXAME DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA TURMA 2 3/1/2017
CRITÉRIOS E TÓPICOS DE CORREÇÃO

I – A resposta deve incluir uma exposição sucinta sobre o contexto


político e jurídico em que surge a ‘crise da cadeira vazia’ e uma
apresentação clara a crítica sobre a solução preconizada pelo Acordo do
Luxemburgo entre os EM, de janeiro de 1966, em relação às deliberações
do Conselho. Em especial, a resposta deve apontar de forma clara as
linhas do acordo a incidência desse acordo sobre as regras de deliberação
previstas no Tratado quando um EM invoca um “interesse vital” (a
suspensão da deliberação e a continuação do debate até se alcançar uma
solução aceitável). A resposta deve explicar criticamente o alcance
político e jurídico do “acordo no desacordo” e o modo como afetou o
desenvolvimento do processo de integração. Já antes do Tratado de
Lisboa, na PESC, se previa uma solução com um ‘espírito’ semelhante e
que, após o Tratado de Lisboa, se encontra no artigo 31o, no 2, § 2 do
TUE. O Tratado de Lisboa introduziu no ELSJ soluções normativas que
plasmam um ‘espírito’ semelhante de consideração pelos interesses
fundamentais dos EM e que, tal como na situação anterior, suspendem a
deliberação, prolongam o debate e podem submeter a questão a uma
discussão ao mais alto nível político no Conselho Europeu, tais como os
que se encontram nos artigos 82o, no 3, § 1, 83o, no 3, § 1 e 86o, no 1, §
2 do TFUE.
II – a) As competências da União Europeia são delimitadas por um
princípio de atribuição (artigo 5o do TUE). Significado e alcance. Os
domínios do emprego, da política social e da educação e formação
encontram-se entre as atribuições, mas são domínios em que a União tem
apenas competências de coordenação e de apoio (artigos 5o, no 2 e 6o do
TFUE). Significado e alcance, de acordo com o artigo 2o, no 5 do TFUE.
Mesmo no âmbito do exercício das respetivas competências, os EM estão
vinculados pelo princípio da cooperação leal, de acordo com o artigo 4o,
no 3 do TUE, em especial o § 3. Entre os objetivos da União encontra-se
a cidadania da União e a livre circulação de pessoas (artigo 3o, no 2 do
TUE e artigo 21o, no 1 do TFUE e Diretiva 2004/38/CE), bem como a
livre prestação de serviços no âmbito do mercado interno (artigo 3o, no 3
do TUE e artigo 56o do TFUE), que integra a dimensão dos beneficiários
de serviços (caso Cowan). Em especial, é fundamental a referência à
jurisprudência que consolidou o estatuto da cidadania da União (caso
Grzelczyk; caso Jipa; caso Rothmann) e cujos direitos os EM não podem
por em causa mesmo no exercício de competências próprias. Assim, a
decisão em causa, ao limitar esse apoio à melhoria da formação dos
desempregados à frequência de um estabelecimento de ensino nacional, é
contrária ao Direito da União por constituir uma restrição indireta à livre
circulação do cidadão da União Z. Põe ainda em causa o seu direito a
beneficiar sem restrições dos serviços de educação prestados noutros
EM. O primado e o efeito direto das disposições em causa vinculam
todas as autoridades do Estado e por isso essa decisão deve ser reformada
(princípio da efetividade).
II – b) A UE conta entre os seus valores identitários o Estado de Direito
(artigo 2o do TUE), pelo que o direito a uma tutela jurisdicional efetiva
no âmbito do Direito da União é um princípio geral de direito que agora
encontra consagração na CDF (artigo 47o). Os tribunais comuns de
direito da União são os tribunais nacionais (artigo 19o, no 1, § 2 do TUE;
caso UPA). Tratando-se de um ato de uma autoridade portuguesa, o
tribunal competente para a impugnação desse ato por violação do direito
da União é um tribunal português, o qual está vinculado ao princípio da
cooperação leal (artigo 4o, no 3 do TUE) e deve garantir a efetividade
das normas da União de acordo com o princípio do primado e do efeito
direto (caso Simmenthal).
III – 1) A base jurídica para esse programa de apoio é o artigo 24o, no 1
do TUE. A instituição competente para a aprovação desse programa de
apoio é o Conselho, de acordo com o artigo 26o, no 2 e 28o, no 1 do
TUE. O ato jurídico é a Decisão, de acordo com o artigo 28o, no 1 do
TUE, ato obrigatório em todos os seus elementos e in casu sem
destinatários (artigo 288o, §4 do TFUE). Trata-se de um ato não
legislativo (artigo 24o, no 1, § 2 do TUE) que vincula os EM (artigo 28o,
no 2 do TUE). A forma de deliberação é a maioria qualificada, de acordo
com o artigo 31o, no 2 do TUE, dado que a ação tem na sua base uma
Decisão do Conselho Europeu sobre os interesses estratégicos da União
(admite-se que se defenda a aplicação do no 4 do artigo 31o do TUE,
pelas implicações no domínio militar, ou seja a aplicação da regra geral
da unanimidade prevista no artigo 31o, no 1 do TUE).
III – 2 A) A qualificação ‘A’ significa que o ato foi objeto de uma
aprovação no COREPER (órgão previsto no artigo 16o, no 7 do TUE e
no artigo 240o, no 1 do TFUE), pelo que, em princípio, não será sujeito a
deliberação na reunião do Conselho em cuja agenda esteja inscrito. Esta
função do COREPER resulta dos ‘Acordos do Luxemburgo’. Permite
agilizar as deliberações do Conselho, mas representa o reforço da feição
intergovernamental da integração europeia.
III – 2 B) Apesar de não estar vinculado (artigo 20o, no 4 do TUE) pelos
atos adotados em cooperação reforçada, o EM não participante, como
recorrente privilegiado, pode impugnar essas diretivas, de acordo com o
artigo 263o do TFUE, não tendo que demonstrar qualquer interesse
processual. Igualmente, desse modo, se assegura o respeito das
competências, direitos e deveres dos EM não participantes (artigo 327o
do TFUE).
III – 2 C) A resposta deve enunciar as características da diretiva, de
acordo com o artigo 288o, § 3 do TFUE. A diretiva estabelece uma
divisão de competências normativas entre a União e os EM, impondo
uma obrigação de resultado e de comportamento na sua prossecução, mas
deixando aos EM a liberdade de meios e forma nesse comportamento, na
condição de que as medidas sejam adequadas, efetivas e proporcionadas.
É uma forma de legislação mediata, pois a vinculação dos sujeitos
jurídicos em geral ao regime previsto resultará dos atos internos de
implementação, não tendo a diretiva aplicabilidade direta. A não
implementação da diretiva no prazo previsto constitui uma violação do
princípio da cooperação leal e é um incumprimento do EM, sancionável
nos termos dos artigos 258o e 260o do TFUE. Não tendo havido
implementação, a aplicação da diretiva como base jurídica para a tutela
de direitos de particulares contra o Estado – efeito direto vertical - está
dependente da verificação de um conjunto de requisitos que o TJ
densificou na sua jurisprudência desde o caso Van Duyn; são eles a
prescritividade, suficiência e incondicionalidade. Estes requisitos
verificam-se no caso em apreço, pelo que deve ser reconhecida a
legitimidade processual da Humanitas ao abrigo da diretiva.
III – 2 D) De acordo com o enunciado do artigo 267o, o reenvio seria
facultativo, em princípio, sendo o tribunal nacional um tribunal de
primeira instância. Só não seria assim se no caso não coubesse recurso
ordinário, visto que a verificação desse requisito para a obrigatoriedade
do reenvio ser material e não orgânica. Porém, no caso Foto-Frost o TJ,
numa interpretação derrogatória do artigo 267o, excluiu que um tribunal
nacional declarasse a invalidade de uma norma comunitária, mesmo que
com efeitos apenas no caso sub judice. Os fundamentos são a
competência exclusiva atribuída ao TJ para o controlo de legalidade, nos
termos do artigo 263o, o princípio da certeza jurídica, o princípio da
igualdade e o princípio da unidade jurídica. Crítica.
UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE DIREITO
Direito Comunitário (Direito da União Europeia) – 2.º ano
Exame final (época normal) – 12/01/2015

Regente: Marta Chantal Ribeiro


Duração: 2h30 (sem tolerância)
Estudantes com necessidades especiais: duração de 3h

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

A apresentação da prova, a sistematização da resposta e a clareza de raciocínio foram


cotadas em 1 valor

I GRUPO
(8 valores)

De modo DIRETO, mas fundamentado, responda às seguintes questões:

1. As correntes funcionalistas são, indiscutivelmente, as que melhor explicam o


processo da integração europeia desde o seu primeiro instante. Concorda
com a afirmação? (4 v.)

CRITÉRIOS: (A-B-C: 2 v.; D-E: 2 v.)


A. Sim. B. Enquadramento no Congresso de Haia, Maio de 1947 (confronto entre a
corrente federalista e a corrente pragmática ou funcionalista). C. A inscrição da
Declaração Schuman, de 9 de Maio de 1950, na corrente funcionalista; a criação das três
Comunidades. D. A evolução das Comunidades e da União Europeia: compreensão
atual do funcionalismo (funcionalismo e neo-funcionalismo). E. Tomada de posição (os
atuais art. 48.º, n.º 2, e art. 50.º do TUE).

2. Explique a razão de ser e o alcance da Declaração n.º 17 (Declaração sobre o


primado do direito comunitário) anexa à Ata Final da Conferência
Intergovernamental que adoptou o Tratado de Lisboa, assinado em 13 de
dezembro de 2007. (4 v.)

CRITÉRIOS: (A: 1v.; B: 1v.; C: 2v.)


A. A previsão do primado no Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa
(Tratado Constitucional), de 29 de Outubro de 2004. Apreciação das reações. B. A
revisão efetuada pelo Tratado de Lisboa e a remissão do primado para declaração anexa.
C. Alcance do primado: fundamentos (além da Declaração n.º 17, jurisprudência e
interpretação do art. 4, n.º 3, do TUE e dos art. 288.º, 258.º-260.º e 267.º do TFUE),
conteúdo, consequências, originalidade.
II GRUPO
(11 valores)

Leia o enunciado da situação hipotética e todas as questões. A seguir, resolva o


caso, FUNDAMENTANDO sempre as suas respostas:

(...)

1 – Tendo presente os objetivos do regulamento, examine a sua validade à luz do


princípio da atribuição (1,5 v.).

CRITÉRIOS:

- O regulamento é válido. Explicação do princípio da atribuição (art. 5.º, n.º 1 e 2,


do TUE). (0,5 v.)

- Competência partilhada: base geral: art. 4.º, n.º 2, als. a) e f), do TFUE (0,5 v.);
desenvolvimento: art. 169.º, n.º 2, al. a), e art. 114.º, n.º 1, (0,5 v.) do TFUE).

2 – Classifique o regulamento, fundamentando. (1 v.)

CRITÉRIOS: Ato legislativo (adotado por processo legislativo ordinário): art. 169.º,
n.º 2, al. a), art. 114.º, n.º 1, e art. 289.º, n.º 3, do TFUE.

3 – Explique a natureza do Conselho da União Europeia (1 v.).

CRITÉRIOS: Órgão de natureza mista: intergovernamental (composição: art. 10.º,


n.º 2, e art. 16.º, n.º 2, do TUE) e europeia (competências e objetivos: art. 16.º, n.º 1, do
TUE).

4 – Tendo presente que o Conselho da União Europeia adotou sozinho o


regulamento, considera estar respeitado o princípio das competências atributivas
das instituições? (1,5 v.) A quem coube apresentar a proposta de regulamento? (1
v.)

CRITÉRIOS:

- Não foi respeitado o princípio: interpretação do art. 13.º, n.º 2, do TUE (0,75 v.).
Interpretação do art. 169.º, n.º 2, al. a), art. 114.º, n.º 1, e art. 289.º, n.º 1, do
TFUE: o Conselho delibera conjuntamente com o Parlamento Europeu e após
consulta do Comité Económico e Social (0,75 v.).

- A proposta de regulamento deveria ser apresentada pela Comissão Europeia:


interpretação do art. 17.º, n.º 2, do TUE, art. 114.º, n.º 1, e art. 289.º, n.º 1, do
TFUE. (1 v.)

2
5 – O Estado-Membro A entende que o regulamento é nulo pelo facto de não
conter qualquer fundamentação relativa ao princípio da subsidiariedade.
Pronuncie-se sobre este entendimento do Estado-membro A e explique a que meios
jurisdicionais poderá ele recorrer para reagir. (1,5 v.)

CRITÉRIOS:

- Obrigação de fundamentação dos atos (art. 5.º do Protocolo e art. 296.º do


TFUE), nomeadamente, quanto à observância do princípio da subsidiariedade no
caso de o ato respeitar a uma competência partilhada (art. 5.º, n.º 3, do TUE).
(0,75 v.)

- Recurso de anulação por violação de formalidades essenciais. Os Estados-


membros são requerentes privilegiados (art. 263.º do TFUE). Possível aplicação
da exceção de ilegalidade (art. 277.º do TFUE). (0,75 v.)

6 – Em 6 de Janeiro de 2015, imagine que Maria, intolerante à lactose, ingeriu


leite, por ter interpretado erradamente os caracteres minúsculos de um rótulo da
marca COMPRAQUI, pensando estar a adquirir uma bebida à base de soja. Em
que medida e como poderá Maria reagir contra a atuação do grupo
COMPRAQUI? (1,5 v.)

CRITÉRIOS:

- Violação pelo grupo COMPRAQUI de um ato com aplicabilidade direta: um


regulamento. Explicação. (0,5 v.)

- Efeito direto horizontal do regulamento. Explicação. Invocação, por Maria, do


regulamento junto dos tribunais nacionais, contra o grupo COMPRAQUI, a fim de
reparar eventuais prejuízos sofridos. (1 v.)

7 – Pelo facto de o Estado K, não membro da União Europeia, ser um grande


exportador de compotas para o mercado interno europeu, a Comissão Europeia
entendeu ser adequada a celebração de um acordo com o Estado K, com vista a
facilitar a realização dos objetivos do regulamento. Em que consiste o mercado
interno europeu? (1v.) A União Europeia tem competência para celebrar acordos
com o Estado K? Justifique (1v.)

CRITÉRIOS:
- Explicação da fase de integração económica correspondente a mercado interno (art.
26. º, n.º 2, do TFUE). Distinção de mercado comum. (1v.)
- Sim, tem competência, mesmo tratando-se de um domínio de competência
partilhada. Interpretação do art. 2.º, n.º 2 (preempção), art. 3.º, n.º 2, art. 216.º e art.
218.º do TFUE. (1v.)

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UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE DIREITO
Direito Comunitário (Direito da União Europeia) – 2.º ano
Exame final (época de recurso) – 12/02/2015

TURMA 2

Regente: Marta Chantal Ribeiro


Duração: 2h30 (sem tolerância)
Estudantes com necessidades especiais: duração de 3h

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

A apresentação da prova, a sistematização da resposta e a clareza de raciocínio foram


cotadas em 1 valor

I GRUPO
(6 valores)

O Presidente Jean-Claude Juncker e os membros do colégio de Comissários prestam


hoje juramento formal de tomada de posse no Luxemburgo, no Tribunal de Justiça da
UE. Com este «compromisso solene», os Membros da Comissão comprometem-se,
designadamente, a exercer as suas funções com total independência e no interesse geral
da União (Luxemburgo, 10 Dezembro 2014).

Tendo em conta este comunicado de imprensa, explique a importância da Comissão


Europeia para a garantia do equilíbrio dos interesses dentro da União Europeia.

CRITÉRIOS:
a. Natureza da Comissão Europeia e garantias de independência (processo de nomeação
e condições de exercício do cargo de comissário / art. 17.º e 18.º TUE, e art. 245.º-247.º
TFUE) (2 v.).
b. A Comissão enquanto garante do equilíbrio institucional: o poder de iniciativa da
Comissão e de agente de concertação interinstitucional. (2 v.)
c. A independência da Comissão em relação às outras instituições e aos Estados
(poderes de fiscalização (art. 337.º TFUE) e poderes de acção (art. 258.º, 260.º, 263.º,
265.º do TFUE). (2 v.)

II GRUPO
(13 valores)

Leia o enunciado da situação hipotética e todas as questões. A seguir, resolva o


caso, FUNDAMENTANDO sempre as suas respostas:

(...)
1 – Tendo presente os objetivos da diretiva, examine a sua validade à luz do
princípio da atribuição e da não inter-versão dos atos.

CRITÉRIOS: a. A directiva é válida. Explicação do princípio da atribuição (art. 5.º,


n.º 1 e 2 do TUE). Competência partilhada da EU: art. 4.º, n.º 2, al. e), e art. 191.º-192.º,
n.º 1, do TFUE (1 v.). b. Explicação do princípio da não inter-versão: art. 296.º,
primeiro parágrafo, e art. 192.º, n.º 1, do TFUE (1 v.).

2 – Em que tipo de fonte de direito da União Europeia integra a diretiva?


CRITÉRIOS: Direito derivado - noção; ato jurídico unilateral vinculativo; art.
288.ºdo TFUE. (1 v.)

3 – Um banhista pode processar em tribunal a Câmara Municipal de


Matosinhos responsabilizando-a pela alergia grave de pele que contraiu,
alegadamente pela contaminação das águas balneares?
CRITÉRIOS: No caso sim, por estarem reunidos os requisitos do efeito direto da
directiva. Noção de efeito direto (0,5 v.) e explicação dos requisitos, incluindo o
conceito de Estado (1 v.). Citação de jurisprudência relevante (0,5 v.).

4 – O incumprimento da diretiva pelo Estado português viola que princípio ou


princípios da União Europeia?
CRITÉRIOS: o princípio do primado, que decorre do princípio da solidariedade ou
da cooperação leal (art. 4.º, n.º 3, do TUE) (1 v.). Explicação, fundamentos e citação de
jurisprudência (1 v.).

5 – De que modo é protegido o direito ao ambiente ao nível da União Europeia?


CRITÉRIOS: Explicação do art. 6 do TUE (0,75 v.). Referência ao art. 37.º da
Carta Europeia de Direitos Fundamentais (0,75 v.).

6 – Qual é a estrutura do TJUE? Em 2009, em que tribunal ou instância terá


decorrido a ação? (1,5 v.)
CRITÉRIOS: Análise do art. 19.º do TUE (0,75 v.). A ação decorreu no Tribunal de
Justiça (art. 256.º do TFUE a contrario) (0,75 v.).

7 – O Parlamento Europeu tem legitimidade ativa para intentar a nova ação


contra Portugal e requerer a aplicação de uma multa?
CRITÉRIOS: Não. Só tem legitimidade ativa a Comissão Europeia. Análise do
regime aplicável à ação por incumprimento (art. 258.º e 260.º do TFUE). (1 v.)

2
8 – Qual a razão de nos referirmos hoje a União Europeia e não a Comunidade
Económica Europeia?
CRITÉRIOS: Análise histórica do Tratado de Roma de 1957 (CEE), do Tratado de
Maatricht de 1992 (CE / criação da UE sem personalidade jurídica) e do Tratado de
Lisboa de 2007 (UE substitui todas as Comunidades e possui, doravante, personalidade
jurídica). (2 v.)

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UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE DIREITO
Direito Comunitário (Direito da União Europeia) – 2.º ano
Exame final (época normal) – 11/01/2013

Regente: Prof. Doutora Marta Chantal Ribeiro

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

Nota: A redação, sistematização e poder de síntese foram considerados para efeitos de


avaliação global

I GRUPO
(7 valores)

Pronuncie-se sobre as seguintes questões:

1 – Diga em que medida o Tratado de Lisboa, de 13 de Dezembro de 2007, terá vindo


acentuar ou diminuir a independência da Comissão Europeia face à influência dos
Estados-membros. (3 valores)

Critérios: Haveria que explicar o que se mantém igual no Tratado de Lisboa e o


que há de diferente na perspetiva da acentuação ou diminuição da independência
da Comissão Europeia:
1) Manutenção das tradicionais garantias de independência: artigo 17.º n.º 1,
3 (a novidade do “empenhamento europeu”) e 8 TUE; artigos 234.º, 245.º-
247.º TFUE. (1,5 valores)
2) Virtudes do artigo 17.º, n.º 5, do TUE, mas acordo dos Estados assumido
nas Conclusões da Presidência do Conselho Europeu de Dezembro de 2008.
(1 valor)
3) Maior protagonismo do Conselho Europeu no processo de nomeação da
Comissão. (0,5 valor)
4) Outros argumentos. (pontuação complementar)

2 – Tendo presente a matéria estudada, que lições podemos retirar da seguinte passagem
do acórdão Simmenthal, de 9 de Março de 1978, proc. 106/77:
“Decorre de tudo quanto precede que qualquer juiz nacional tem o dever de, no âmbito
das suas competências, aplicar integralmente o direito comunitário e proteger os
direitos que este confere aos particulares, considerando inaplicável qualquer
disposição eventualmente contrária de direito interno, quer seja esta anterior ou
posterior à norma comunitária”. (4 valores)

Critérios:
1) Princípio do primado: fundamento, alcance e consequências. Primado
‘interno’. (2,75 valores)

2) Princípio do efeito directo. (0,75 valor)


3) Juiz nacional - juiz comum de Direito da União. A cooperação criada pelo
procedimento de reenvio prejudicial. (0,5 valor)

II GRUPO
(13 valores)

Tendo presente a seguinte situação HIPOTÉTICA, responda às questões


colocadas, fundamentando sempre a sua resposta:

Em 14 de novembro de 2012, o Presidente da República português ratificou o


Tratado entre os Estados-membros da União Europeia e a República da Croácia
relativo à Adesão da República da Croácia à União Europeia, assinado em Bruxelas
em 9 de dezembro de 2011. Suponha que Portugal foi o vigésimo quinto Estado-
membro a fazê-lo até ao momento.
Em 7 de janeiro de 2013, uma empresa croata de transporte marítimo apresentou
uma queixa junto da Comissão Europeia, alegando a não transposição, pela Croácia,
da Directiva 2010/AA/EU, adoptada pelo Parlamento Europeu e o Conselho no âmbito
da política dos transportes. A Directiva regula em concreto o nível mínimo de formação
dos marítimos e o prazo de transposição expirou em 30 de novembro de 2012.
A Comissão Europeia considerou a queixa infundada, porque prematura, pese
embora as obrigações que impendem sobre a Croácia de, no momento em que se
efectivar a adesão, não apenas adoptar o acervo comunitário, mas também demonstrar
a sua aplicação.

1 - Em 11 de janeiro de 2013 quantos são os Estados-membros da União Europeia?


Uma das exigências feitas pela União Europeia à Croácia foi a de reforma do setor
judicial e de garantia do respeito pelos direitos fundamentais. Encontra nos tratados
algum fundamento para tanto? (1 valor)
São 27, pois a Croácia ainda não é Estado-membro (justificação: artigo 49.º do
TUE). (0,5 valor)
Sim, conforme dispõe o artigo 49.º, que remete para o artigo 2.º, ambos do TUE.
(0,5 valor)

2 - Examine a validade da directiva à luz dos princípios da atribuição e da não inter-


versão dos atos. Quando no enunciado se refere o ‘Conselho’, qual é a instituição em
causa? No caso, a quem pertenceu a iniciativa legislativa? (4 valores)
Conteúdo do princípio da atribuição e competência da União Europeia (artigo
5.º, n.º 2, do TUE, e artigos 4.º, n.º 2, alínea g) (competência partilhada), e 100.º, n.º
2, do TFUE (foi admitida, como base legal, a invocação do artigo 91, n.º 1, alínea
c), do TFUE - menor cotação). (1,5 valor)
Conteúdo do princípio da não inter-versão: análise do artigo 296.º do TFUE à
luz dos artigos supracitados. (1 valor)
Instituição em causa: Conselho da União Europeia (artigos 13.º e 16.º do TUE;
artigo 289.º, n.º 1 TFUE). (0,5 valor)
Iniciativa legislativa: Comissão Europeia (artigo 17.º, n.º 2, do TUE e artigo
289.º, n.º 1, do TFUE - processo legislativo ordinário / relação com o caso
concreto). (1 valor)

3 - A diretiva em questão pertence à categoria de ‘ato legislativo’? Qual é o regime


aplicável à sua publicidade e entrada em vigor? (2 valores)
Sim (artigo 289.º, n.º 3, do TFUE analisado no caso concreto). (1 valor)
Regime da publicidade e entrada em vigor: artigo 297.º, n.º 1, do TFUE). (1
valor)

4 - Em que consiste a exigência do respeito, pelos Estados aderentes, do ‘acervo


comunitário’? No processo de revisão dos tratados essa exigência também se coloca? (2
valores)
Conteúdo do ‘acervo comunitário’. (1 valor)
Não, pois pela revisão podem-se reduzir as competências da União (artigo 20.º,
n.º 4, e artigo 48.º n.º 2, do TUE). (1 valor)

5 - A queixa à Comissão insere-se em que processo contencioso e qual é a jurisdição


europeia competente para o apreciar? (2 valores)
Ação por incumprimento: artigos 258.º-260.º do TJUE. (1 valor)
Tribunal de Justiça: artigo 19.º do TUE e artigo 256.º do TFUE. (1 valor)

6 - Concorda com o argumento da Comissão Europeia de que a queixa é prematura?


A diretiva poderia ser invocada pela empresa croata junto dos tribunais nacionais? (2
valores)
Quanto à Comissão, sim, porque a Croácia ainda não é um Estado-membro
(relação com a questão 1). (0,5 valor)
Quanto à empresa croata, em abstracto, a directiva só poderia ser invocada
contra o Estado e dentro de certas condições (explicação). (1,5 valor)
UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE DIREITO
Direito Comunitário (Direito da União Europeia) – 2.º ano
Exame final (época de recurso) – 07/02/2013
Regente: Prof. Doutora Marta Chantal Ribeiro
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

Nota: A redação, sistematização e poder de síntese foram considerados para efeitos de


avaliação global

I GRUPO
(10 valores)

A – De entre as várias opções, diga qual é a resposta certa e JUSTIFIQUE DE


MODO SUCINTO a escolha (2 valores cada resposta):

1) A razão principal e direta da criação das Comunidades Europeias na década de 50


foi:
a) O Congresso de Haia de 1947;
b) A Declaração Schuman de 1950;
c) A necessidade de um instrumento europeu de proteção dos Direitos
Fundamentais.

CRITÉRIOS: A Declaração Schuman de 9 de Maio de 1950: solução para os


problemas económico, político e militar que ameaçavam a Europa ocidental.
Explicação do conteúdo da Declaração e impacto.

2) A partir de 1 de Novembro de 2014, quando o Conselho da União Europeia delibere


por maioria qualificada:
a) O processo distingue-se por causa da iniciativa da Comissão;
b) O processo é sempre o mesmo, independentemente da iniciativa da Comissão;
c) O processo distingue-se por causa da iniciativa da Comissão e não só.

CRITÉRIOS: O processo distingue-se por causa da iniciativa da Comissão e não


só. Interpretação do artigo 16.º, n.º 4, do TUE e do artigo 238.º, n.º 2 e 3, do TFUE.

3) Quanto ao direito derivado, o Tratado de Lisboa:


a) Não introduziu nenhuma alteração;
b) Introduziu a distinção expressa entre atos legislativos e atos não legislativos;
c) Introduziu a distinção entre leis europeias e leis-quadro europeias.

CRITÉRIOS: Introduziu a distinção expressa entre atos legislativos e atos não


legislativos. Interpretação dos artigos 288.º, 289.º, n.º 3, 290.º, 291.º e 297.º do
TFUE.

B – Explique o contributo do reenvio prejudicial para a uniformidade de aplicação do


Direito da União Europeia. (4 valores)

CRITÉRIOS:
- Base legal: artigo 267.º do TFUE (0,25)
- Contributo do acórdão VAASSEN-GÖBBELS. (0,75)
- O regime de interpretação dos Tratados e do direito derivado. Contributo do
acórdão CILFIT. Efeitos dos acórdãos. (1,5)
- O regime de apreciação da validade do direito derivado. Contributo do acórdão
FOTO-FROST. Efeitos dos acórdãos. (1,5)

II GRUPO
(10 valores)

Tendo presente a seguinte situação HIPOTÉTICA, responda às questões


colocadas, fundamentando sempre a sua resposta:

Em 15 de setembro de 2012, o Parlamento Europeu e o Conselho de Ministros, com


base numa proposta de 3 milhões de cidadãos da União, e após ouvirem o Comité
Económico e Social bem como o Comité das Regiões, adoptaram um regulamento com
o qual se protegia várias espécies de aves selvagens gravemente ameaçadas no
‘território’ europeu. O regulamento entrou em vigor 30 dias após a sua publicação. A
Comissão Europeia reagiu negativamente à medida ambiental por considerar que as
suas prerrogativas foram negligenciadas no processo de adopção do ato. A reação da
Comissão Europeia foi apoiada por várias associações de caçadores que entenderam
ter sido, também, violado o princípio da subsidiariedade.

1 - Explique a natureza e composição do Conselho de Ministros. (1 valor)


Natureza mista (intergovernamental e órgão da UE). Artigo 16.º, n.º 2 e 6, do
TUE.

2 - Examine a validade do regulamento à luz do princípio da atribuição de


competências. Explique, no caso, a importância do princípio da subsidiariedade. (3
valores)
Conteúdo do princípio da atribuição (artigo 5.º, n.º 2, do TUE e artigo 7.º do
TFUE). Competência partilhada da União Europeia (artigos 4.º, n.º 2 alínea e), e
191.º-192.º do TFUE). Sendo uma competência partilhada há que respeitar o
princípio da subsidiariedade (artigo 5.º, n.º 3, do TUE) - fundamentação.

3 - O poder de iniciativa legislativa é um atributo da cidadania europeia? E no caso


concreto a quem pertence o poder de iniciativa legislativa? (2 valores)
Não. Interpretação do artigo 11.º. n.º 4, do TUE e do artigo 24.º, 1.º parág., do
TFUE
A iniciativa legislativa pertence à Comissão Europeia (artigo 17, n.º 2 TUE e
artigos 192.º, n.º 1, e 289.º, n.º 1, do TFUE), podendo haver uma iniciativa de
cidadania para pressionar legitimamente a Comissão a apresentar uma proposta
(artigo 11.º, n.º 4, do TUE e Regulamento 211/2011)

4 - Qual o procedimento contencioso ao alcance da Comissão Europeia para reagir?


(2 valores)
Recurso de anulação (artigo 263.º do TFUE). Comissão Europeia: recorrente
privilegiado. Fundamento: violação do Tratado / incompetência. Explicação.

5 - O artigo 277.º do TFUE é passível de aplicação tratando-se de um regulamento?


(1 valor)
Sim. A excepção de ilegalidade foi concebida precisamente no âmbito de actos
de alcance geral feridos de um dos vícios previstos no artigo 263.º do TFUE.
Características do regulamento.

6 - As associações de caçadores têm legitimidade para invocar em juízo a violação


do princípio da subsidiariedade? (1 valor)
Não. Interpretação do artigo 8.º do Protocolo relativo à aplicação do Princípio
da Subsidiariedade.
UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE DIREITO
Direito Comunitário (Direito da União Europeia) – 2.º ano

Exame final (época de recurso) – 16/02/2012


Regente: Prof. Doutora Marta Chantal Ribeiro

CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO

Nota: A redacção, sistematização e poder de síntese foram considerados para efeitos de


avaliação global

Pronuncie-se sobre as seguintes questões, FUNDAMENTANDO sempre as suas


respostas:

1 – “Os Tratados podem ser alterados de acordo com um processo de revisão


ordinário”. Concorda com a afirmação? Se sim, exemplifique. A revisão conhece
limites formais e materiais?
- Sim, artigo 48.º TUE. Exemplificação. (1 v.)
- Discussão em torno dos limites formais à revisão: em especial, a revisão no puro
plano intergovernamental. Tomada de posição. (1,5 v.)
- Discussão em torno dos limites materiais à revisão: em especial, a questão do
acervo da União. Tomada de posição. (1,5 v.)

2 – Considera que o princípio do paralelismo de competências está de algum modo


expresso no artigo 3.º, n.º 2, do TFUE? Se sim, qual a sua origem? O princípio
respeita apenas às competências exclusivas?
- Sim. Conteúdo e demonstração. (1 v.)
- O princípio da especialidade e o princípio das competências implícitas. Acórdãos
pioneiros: acórdão AETR, de 31/03/71, e acórdão Kramer, de 14/07/76. (1,5 v.)
- Não. Também afecta as competências concorrentes. Demonstração. (1,5 v.)

3 – “No que respeita à composição da Comissão, o Conselho Europeu recorda que os


tratados em vigor exigem que o número de Comissários seja reduzido em 2009. O
Conselho Europeu acorda em que, na condição de o Tratado de Lisboa entrar em
vigor, será tomada uma decisão, em conformidade com os procedimentos jurídicos
necessários, para que a Comissão possa continuar a ser constituída por um nacional
de cada Estado-Membro” (in Conclusões da Presidência do Conselho Europeu,
Bruxelas - Dezembro de 2008).
Qual o relevo destas ‘Conclusões’ do ponto de vista das fontes de Direito da
União? Qual o seu efeito no que concerne a composição da Comissão?
- Artigo 15.º TUE. Direito derivado: actos atípicos - efeito não vinculativo. (1 v.)
- Interpretação do artigo 17.º, n.º 4 e 5, TUE. O poder do Conselho Europeu (artigo
17.º, n.º 5 TUE) e relação com as ‘Conclusões’. (2 v.)

4 – Imagine a seguinte situação HIPOTÉTICA:


Portugal, fruto de sucessivas medidas legislativas mal reflectidas, mantém em
vigor um dispositivo de acordo com o qual os professores portugueses beneficiam
de condições de progressão na carreira e de progressão salarial mais vantajosas do
que as previstas para os outros professores com cidadania europeia que estiverem
a trabalhar cá.
Um Professor inglês procura-o para que o esclareça acerca dos seus direitos e
dos meios de defesa disponíveis. Elabore a sua resposta tendo em conta os
seguintes aspectos:

a) Em que consiste a cidadania europeia e qual o seu interesse no caso


concreto?
- Artigo 9.º TUE; artigo 20.º, em especial n.º 2, alínea a), e artigo 21.º TFUE. (1
v.)

b) Que liberdade é afectada? É violado algum direito fundamental da União


Europeia?
- Livre circulação dos trabalhadores (artigo 45.º TFUE) (0,5 v.). Não
discriminação em razão da nacionalidade; enquadramento; artigos 18.º e 45.º, n.º
2 TFUE; artigo 15.º, n.º 2 e 3, e artigo 21.º, n.º 2, CDFUE (1,5 v.).

c) É legítimo que Portugal mantenha legislação como a mencionada?


- Violação do princípio do primado do Direito da União. Explicação.
- O princípio da cooperação leal / primado (artigo 4.º, n.º 3 TUE; Declaração n.º
17. Jurisprudência: acórdãos Costa/Enel, de 15/07/64, e Simmenthal, de
09/03/78). (2 v.)

d) Que meios de defesa aconselharia ao seu cliente? A competência do Tribunal


Geral é relevante para o efeito?
- Queixa à Comissão - acção por incumprimento: artigo 258.º-260.º TFUE (1 v.)
- Acção contra o Estado introduzida junto dos tribunais nacionais - efeito directo
das disposições do TFUE (justificação) - invocabilidade de ‘exclusão’
(afastamento do direito nacional contrário). Discussão acerca da eventual
aplicação do princípio da interpretação conforme e do princípio da
responsabilidade do Estado por violação do Direito da União. Eventual reenvio
prejudicial (artigo 267.º TFUE). (2 v.)
- Não. Competência do Tribunal de Justiça (acção por incumprimento e reenvio
prejudicial) - artigo 256, n.º 3, TFUE e Estatuto do TJUE. (1 v.)

2
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
2010/2011
Direito Comunitário – 2º ano Exame final (época de recurso) – 8/02/2011
Duração – 2 horas e 30 minutos Limite de páginas: 8 (oito)

Grupo I (12 valores)


1. Esclareça em que consiste o “federalismo jurídico” da União Europeia. (6
valores)

2. Refira-se aos actos legislativos da União Europeia e explique o procedimento


inerente à adopção dos mesmos. (6 valores)

Grupo II (8 valores)
André, empresário português, entrou, recentemente, em litígio com o Estado
português. No decurso do processo judicial, que instaurou no Tribunal
Administrativo e Fiscal do Porto, veio invocar uma norma de um Regulamento
Comunitário que, de acordo com a sua interpretação, fundamenta o pedido
indemnizatório por ele peticionado. Ao Juiz, porém, tendo em conta todo o
circunstancialismo de facto e de direito que o caso envolve, levantam-se várias
dúvidas acerca do sentido do referido preceito de Direito Comunitário.

Nota: Ao responder às questões que se seguem, não olvide, quando pertinente,


referir os pressupostos de admissibilidade das iniciativas processuais em causa,
bem como os efeitos das decisões judiciais que ocorram como conclusão das
mesmas.
a) Admitindo que o Juiz da causa reputa a questão suscitada como essencial para a
boa decisão da lide, Quid Juris? (2 valores)
b) Imagine, agora, que a mesma questão fora suscitada por André, em última
instância, perante o Supremo Tribunal Administrativo, provocando neste
Tribunal o mesmo género de dúvidas sentidas pelo Juiz de 1ª instância. (2
valores)
c) Suponha agora que o Regulamento Comunitário invocado por André foi
adoptado pelo Conselho Europeu, motivo pelo qual o Juiz da causa o considera
inválido (não tendo disso quaisquer dúvidas) e assim imediatamente o declara no
âmbito do citado processo judicial, razão pela qual André não pôde ser
indemnizado, pois fundava a sua pretensão em tal diploma. Comente as
situações expostas à luz do Direito Comunitário. (4 valores)
Direito Comunitário

Época de recurso

2010/2011

Critérios de correcção

Grupo I

1. Distinção prévia entre federalismo político e federalismo jurídico. Referência à


pretensão federal da União Europeia em termos políticos. O federalismo jurídico da
União (seu substrato): a aplicabilidade directa das normas de Direito Comunitário, a
primazia do Direito Comunitário sobre o direito nacional; a interpretação uniforme das
normas de direito comunitário e a uniforme apreciação de validade das mesmas.
Considerações explicativas sobre os princípios identificados. Paralelismo com Estados
Federais. O papel do T.J.U.E. e sua jurisprudência na aplicação dos princípios referidos.
Referência ao processo especial de carácter não contencioso junto do T.J.U.E. (o
processo de reenvio a título prejudicial de questão de interpretação ou validade de acto
comunitário).

2. Distinção entre Direito Comunitário originário e Direito Comunitário derivado.


Enquadramento dos actos legislativos da União Europeia (regulamentos, directivas e
decisões) nos actos normativos emanados das Instituições da União (288º T.F.U.E).
Noções de regulamento, directiva e decisão e explicitação das mesmas. Procedimento
legislativo ordinário e procedimento legislativo especial (sua aplicação). Descrição
pormenorizada do procedimento legislativo ordinário previsto no artigo 294º do T.
F.U.E..

Grupo II

a) O processo especial de carácter não contencioso: processo de reenvio a título


prejudicial de questão de interpretação das normas da União; competência do Tribunal
de Justiça da União Europeia - artigo 267º do T.F:U.E.. Reenvio facultativo (267º, 2º
parágrafo T.F.U.E). Natureza do acórdão proferido em sede de reenvio prejudicial:
Interpretativo. Efeitos vinculativos apenas no processo em que foi solicitada a
interpretação, no entanto possibilidade da autoridade do acórdão ultrapassar o caso
concreto, na medida em que dispensa os tribunais supremos dos Estados-Membros da
obrigação de reenvio que lhes impõe o art. 267º sempre que a questão de interpretação
perante eles suscitada tenha já sido julgada por acórdão anterior do Tribunal de Justiça.

b) Processo especial de carácter não contencioso: processo de reenvio a título


prejudicial de questão de interpretação das normas da União; competência do Tribunal
de Justiça da União Europeia - artigo 267º do T.F:U.E.. Reenvio obrigatório (267º, 3º
parágrafo T.F.U.E.). Excepções à obrigação de reenvio: falta de pertinência da questão
suscitada; existência de interpretação já anteriormente fornecida pelo Tribunal de
Justiça; total clareza da norma em causa. Natureza do acórdão proferido em sede de
reenvio prejudicial: Interpretativo. Efeitos vinculativos apenas no processo em que foi
solicitada a interpretação, no entanto possibilidade da autoridade do acórdão ultrapassar
o caso concreto, na medida em que dispensa os tribunais supremos dos Estados-
Membros da obrigação de reenvio que lhes impõe o art. 267º sempre que a questão de
interpretação perante eles suscitada tenha já sido julgada por acórdão anterior do
Tribunal de Justiça.

c) Invalidade do regulamento baseada no artigo 15º/1 do T.U.E. – o Conselho


Europeu não exerce função legislativa. O facto deste órgão ter adoptado um
regulamento consubstancia vício de incompetência, originando nulidade. O juiz da
causa não deveria ter declarado o acto inválido, na medida em que é entendimento
jurisprudencial do Tribunal de Justiça da União Europeia (Ac. Foto-Frost ) que as
jurisdições nacionais não são competentes para pronunciar a invalidade dos actos das
Instituições Comunitárias. Essa declaração só poderá ser proferida pelo Tribunal de
Justiça num processo de reenvio a título prejudicial de questão de validade de actos
adoptados pelas Instituições da União – artigo 267º, 1º parágrafo T.F.U.E.. Reenvio
obrigatório. O Direito Comunitário como ordem jurídica autónoma, diversa do Direito
Nacional e do Direito Internacional Público. O Primado do Direito da União Europeia.
Efeitos do Acórdão vinculativos apenas no processo em que foi solicitada a apreciação
de validade, no entanto possibilidade do acórdão produzir efeitos práticos fora do caso
concreto, na medida em que dispensa os tribunais supremos dos Estados-Membros da
obrigação de reenvio que lhes impõe o art. 267º, em virtude de deixar de ter pertinência
qualquer nova questão de apreciação de validade de um acto julgado inválido. A
declaração pelo TJUE da invalidade de um acto da União produz em princípio pleno
efeito retroactivo.
Direito
Penal
Direito
Administrati
vo
DIREITO ADMINISTRATIVO EXAME FINAL 15/06/2018
(5 valores)
1. A Universidade do Porto é atualmente uma fundação pública de
direito privado.
a) Como se integra na organização administrativa portuguesa?
(2 valores)
b) Em que medida lhe é aplicável o Código do Procedimento
Administrativo? A sua resposta seria a mesma se se tratasse de uma
empresa pública sob a forma de sociedade anónima? (3 valores)
(6 valores)
2. Distinga sucintamente entre:
• a) procedimento administrativo comum e procedimentos
administrativos especiais;
• b) normas regulamentares com eficácia interna e normas
regulamentares com eficácia externa;
• c) anulação administrativa e sanação do ato administrativo;

(8 valores)
3. Tendo em vista a abertura de um talho, Frederico apresentou
junto da Câmara Municipal requerimento escrito dirigido à
obtenção da respetiva autorização.
Decorridos 20 dias, foi notificado, através do «Balcão do
empreendedor», de despacho de indeferimento que contém a
identificação das desconformidades do pedido com as disposições
legais e regulamentares aplicáveis sem, no entanto, as concretizar.
Por outro lado, e apesar de no âmbito deste procedimento ser
necessária a pronúncia da Direção-Geral de Alimentação e
Veterinária, não consta do despacho referência a qualquer parecer.
a) Qualifique as figuras organizatórias referidas na hipótese.
(1valor)
b) Identifique e qualifique os atos jurídicos praticados. (2valores)
c) Analise o(s) vício(s) do ato de indeferimento e respetivas
consequências
jurídicas. (2 valores)
d) Quais os mecanismos de reação de que Frederico se poderia
servir? (3 valores)
Não se esqueça de fundamentar as suas respostas.
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar
calado, sugere- -se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática.
Como também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2h30, sem
consulta, salvo legislação adequada. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e
ao sentido geral da prova (1 valor).
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO EXAME FINAL
15/06/2018
I
a)
- As Universidades públicas, como é o caso da Universidade do
Porto, sob a forma de fundação pública de Direito privado, são
pessoas coletivas públicas de substrato fundacional, apenas
residualmente sujeitas ao Direito privado; a autonomia universitária
(cfr. artigo 76.o da CRP); a sua exclusão do âmbito da Lei-Quadro
das Fundações (cfr. artigo 6.o/8 da Lei n.o 24/2012, de 9 de julho,
que aprova a Lei Quadro das Fundações). Em regra, um instituto
público pertence à Administração indireta, mas pode assumir
formas de Administração autónoma (o caso das Universidades
Públicas) ou mesmo independente (o caso das entidades
administrativas independentes), embora com alterações substanciais
ao regime típico (cfr. artigo 48.o da Lei Quadro dos Institutos
Públicos, aprovada pela Lei n.o 3/2004, de 15 de janeiro,
sucessivamente alterada); a Universidade do Porto integra a
Administração autónoma.
b)
- O artigo 2.o do CPA e os diferentes níveis de aplicação do CPA; a
relevância da natureza jurídica da pessoa coletiva (pública ou
privada) e da atividade desempenhada (de caráter administrativo ou
empresarial); a aplicação do CPA, na sua totalidade, às
Universidades Públicas e, portanto, à Universidade do Porto, pese
embora tratar-se de uma fundação pública de Direito privado, e a
aplicação do CPA às empresas públicas, apenas no que se refere aos
princípios gerais da atividade administrativa (parte I do CPA) e, na
medida em que exerçam poderes de autoridade (partes III e IV do
CPA); considerando a natureza jurídica privada das empresas
públicas sob a forma de sociedades anónimas e o caráter
empresarial da atividade empresarial, o seu regime-regra é de
Direito privado (com algumas vinculações de Direito Público), o
que constitui uma imposição do princípio da concorrência (cfr.
artigo 14.o do DL n.o 133/2013, de 3 de outubro).

II
a)
- Os procedimentos administrativos comuns como os
procedimentos regidos pelo CPA e os procedimentos
administrativos especiais como os procedimentos regidos por
legislação especial; exemplos; o artigo 2.o/5 do CPA.
b)
- O regulamento administrativo (noção); análise do artigo 135.o do
CPA; regulamentos administrativos com eficácia interna (noção e
exemplos); regulamentos administrativos com eficácia externa
(noção e exemplos); os regulamentos com eficácia interna não são
suscetíveis de impugnação contenciosa direta por se entender que
não afetam a esfera jurídica dos particulares. Crítica: somos de
opinião que alguns exemplos típicos de normas internas, como as
circulares (especialmente em matéria tributária), só aparentemente
têm uma eficácia interna, em claro prejuízo de uma tutela judicial
efetiva; os órgãos administrativos não estão obrigados a cumprir os
regulamentos internos, não valendo para estas normas internas a
regra da inderrogabilidade singular dos regulamentos (cfr. artigo
142.o/2 do CPA). Crítica: a derrogabilidade singular da circular
parece contrariar a sua natureza, uma vez que o desiderato da
circular é fornecer uma interpretação (geral) de um determinado
preceito ou reduzir de forma antecipada a discricionaridade da
Administração. Acresce que a possibilidade de derrogar
singularmente uma circular ataca os princípios da segurança
jurídica e da igualdade.
c)
- A anulação como a prática de ato administrativo secundário com
fundamento na invalidade de um outro ato, no exercício da função
administrativa de controlo ou fiscalização, no prazo de seis meses.
Cfr. os artigos 165.o e segs. do CPA; a sanação ocorre nos termos
do artigo 164.o do CPA: diferenciação entre as formas de sanação
previstas; o decurso do tempo para a impugnação dos atos
administrativos anuláveis não é uma forma de sanação dos vícios
do ato, tornando-o, isso sim, inimpugnável (consolidando-o na
ordem jurídica), nem transforma um ato inválido num ato válido,
visto que o vício se mantém (assumindo relevo para outros efeitos,
designadamente ao nível da responsabilidade civil da
Administração por atos ilícitos), podendo, inclusive, ser apreciado
incidentalmente (artigo 38.o do CPTA).
III
a) A Câmara Municipal como órgão colegial do tipo executivo a
quem está atribuída a gestão permanente dos assuntos municipais;
órgão do município (autarquia local: pessoa coletiva pública de
população e território, primária, de fins múltiplos, que visa
prosseguir os interesses próprios do agregado populacional
residente na circunscrição concelhia, integrando a Administração
Autónoma); cfr. artigo 56.o e seguintes da Lei das Autarquias
Locais, aprovada pela Lei n.o 169/99, de 18 de setembro, com as
alterações introduzidas pela Lei n.o 5-A/2002, de 11 de Janeiro e
pela Lei n.o 67/2007, de 31 de Janeiro (LAL); a Direção-Geral de
Alimentação e Veterinária como um serviço executivo da
Administração direta central do Estado (cfr. artigos 2.o e
11.o/2/a)/4/a) da Lei n.o 4/2004, de 15 de janeiro, sucessivamente
alterada).
b) Despacho de indeferimento como o ato administrativo praticado
que decide o pedido de Frederico (cfr. artigo 148.o CPA): caráter
regulador e produção de efeitos externos numa situação individual e
concreta. O ato administrativo é uma estatuição autoritária, um
comando jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que produz,
por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste
na criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na
determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora
o direito para um caso concreto. O carácter regulador, constitutivo e
externo dos efeitos jurídicos inovadores produzidos pelo despacho
de indeferimento; qualifica-se como um ato administrativo para
efeitos substantivos e procedimentais (cfr. artigo 148.o do CPA) e
para efeitos adjetivos e processuais (cfr. artigo 51.o do CPTA); ato
administrativo primário, singular, de conteúdo negativo, que
indefere uma pretensão deduzida pela interessada por requerimento
inicial (cfr. artigo 102.o do CPA); põe termo a um procedimento
administrativo de iniciativa externa).
- A notificação como ato instrumental, meramente comunicativo,
do qual devem constar os elementos previstos no n.o 2 do artigo
114.o do CPA, apenas podendo haver lugar notificação por via
eletrónica num dos casos previstos no n.o 2 do artigo 112.o do CPA
(cfr. artigos 62.o e 112.o/1/c) e 2 do CPA).
b)
- Fundamentação insuficiente; vício formal por preterição de
formalidade essencial (cfr. artigos 268.o/4 da CRP e 152.o/1/c) e
153.o do CPA); anulabilidade (cfr. artigo 163.o/1 do CPA).

- A fase de instrução e o princípio do inquisitório (cfr. artigos


58.o, 115.o e 116.o do CPA); a completude do material
instrutório; o parecer obrigatório da DGAV (cfr. artigos 91.o/2 e
92.o do CPA); vício de forma-procedimental; anulabilidade (cfr.
artigo 163.o do CPA).

- Notificação nos termos do artigo 112.o/1/c) e 2 do CPA; artigo


160.o do CPA; ineficácia do ato.

c)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e
recurso hierárquico (cfr. artigos 184.o/1/a), 186.o/1/a), 188.o/1,
189.o/2, 190.o/3, 192.o/2, 197.o do CPA).
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio,
da interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.o/4 da CRP,
51.o/1 e 59.o/4/5 do CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação
administrativa potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial
– artigo 185.o/2 CPA; a suscetibilidade de produção de efeitos
jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade
do ato administrativo.
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo
negativo é adequado intentar, junto do tribunal administrativo
competente, um pedido de condenação à prática do ato legalmente
devido, deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos
37.o/1/b), 51.o/4, 66.o, 67.o/1/b) e 69.o/2 do CPTA).
- É vantajoso o recurso prévio às garantias administrativas: i) a
suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.o/3 do CPA e 59.o/4/5
do CPTA e no caso de impugnação administrativa necessária a
suspensão da eficácia do ato (cfr. artigo 189.o/1 do CPA); ii) o
caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional; iii) a apreciação da legalidade e do mérito (cfr.
artigos 185.o/3 do CPA e 3.o/1 do CPTA): os regimes da revogação
e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.o e seguintes do
CPA); iv) a desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento
de custas judiciais; v) simplicidade, informalidade, celeridade e
quase gratuitidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO 2.º TESTE 15/06/2018
(6 valores)
4. Distinga sucintamente entre:
d) procedimento administrativo comum e procedimentos
administrativos
especiais;
e) normas regulamentares com eficácia interna e normas
regulamentares
com eficácia externa;
f) anulação administrativa e sanação do ato administrativo.

(5 valores)
2. Direito de regresso, obediência hierárquica e tutela de terceiros.
Relacione e comente.

(8 valores)
3. Tendo em vista a abertura de um talho, Frederico apresentou
junto da Câmara Municipal requerimento escrito dirigido à
obtenção da respetiva autorização.
Decorridos 20 dias, foi notificado, através do «Balcão do
empreendedor», de despacho de indeferimento que contém a
identificação das desconformidades do pedido com as disposições
legais e regulamentares aplicáveis sem, no entanto, as concretizar.
Por outro lado, e apesar de no âmbito deste procedimento ser
necessária a pronúncia da Direção-Geral de Alimentação e
Veterinária, não consta do despacho referência a qualquer parecer.
e) Identifique e qualifique os atos jurídicos praticados. (3 valores)
f) Analise o(s) vício(s) do ato de indeferimento e respetivas
consequências jurídicas. (2 valores)
g) Quais os mecanismos de reação de que Frederico se poderia
servir? (3 valores)
Não se esqueça de fundamentar as suas respostas.
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar
calado, sugere- -se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática.
Como também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2h30, sem
consulta, salvo legislação adequada. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e
ao sentido geral da prova (1 valor).

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO 2.o TESTE 15/06/2018


I
a)
- Os procedimentos administrativos comuns como os
procedimentos regidos pelo CPA e os procedimentos
administrativos especiais como os procedimentos regidos por
legislação especial; exemplos; o artigo 2.o/5 do CPA.
b)
- O regulamento administrativo (noção); análise do artigo 135.o do
CPA; regulamentos administrativos com eficácia interna (noção e
exemplos); regulamentos administrativos com eficácia externa
(noção e exemplos); os regulamentos com eficácia interna não são
suscetíveis de impugnação contenciosa direta por se entender que
não afetam a esfera jurídica dos particulares. Crítica: somos de
opinião que alguns exemplos típicos de normas internas, como as
circulares (especialmente em matéria tributária), só aparentemente
têm uma eficácia interna, em claro prejuízo de uma tutela judicial
efetiva; os órgãos administrativos não estão obrigados a cumprir os
regulamentos internos, não valendo para estas normas internas a
regra da inderrogabilidade singular dos regulamentos (cfr. artigo
142.o/2 do CPA). Crítica: a derrogabilidade singular da circular
parece contrariar a sua natureza, uma vez que o desiderato da
circular é fornecer uma interpretação (geral) de um determinado
preceito ou reduzir de forma antecipada a discricionaridade da
Administração. Acresce que a possibilidade de derrogar
singularmente uma circular ataca os princípios da segurança
jurídica e da igualdade.
c)
- A anulação como a prática de ato administrativo secundário com
fundamento na invalidade de um outro ato, no exercício da função
administrativa de controlo ou fiscalização, no prazo de seis meses.
Cfr. os artigos 165.o e segs. do CPA; a sanação ocorre nos termos
do artigo 164.o do CPA: diferenciação entre as formas de sanação
previstas; o decurso do tempo para a impugnação dos atos
administrativos anuláveis não é uma forma de sanação dos vícios
do ato, tornando-o, isso sim, inimpugnável (consolidando-o na
ordem jurídica), nem transforma um ato inválido num ato válido,
visto que o vício se mantém (assumindo relevo para outros efeitos,
designadamente ao nível da responsabilidade civil da
Administração por atos ilícitos), podendo, inclusive, ser apreciado
incidentalmente (artigo 38.o do CPTA).

II
- O artigo 22.o da CRP e o princípio da tutela jurisdicional efetiva do
artigo 268.o da CRP .
- A responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e culposos;
regime aplicável (Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do
Estado e demais Entidades Públicas por Atos de Gestão Pública aprovado
pela Lei n.o 67/2007, de 31 de dezembro).
- Pressupostos da responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos
e culposos (cfr. artigo 7.o a 10.o da Lei n.o 67/2007, de 31 de dezembro):
facto voluntário; ilicitude; culpa; dano; nexo de causalidade.
- As pessoas coletivas públicas ou privadas que exerçam funções
administrativas respondem sempre pelos prejuízos resultantes dos atos
ilícitos e culposos dos seus órgãos ou agentes, tenham os factos sido
praticados com dolo, negligência leve ou negligência grosseira (cfr. artigos
7.o/1 e 8.o/1/2 da Lei n.o 67/2007, de 31 de dezembro).

- No entanto, a pessoa coletiva pública, quando satisfaça uma


indemnização com fundamento em responsabilidade delitual (pessoal) ou
por factos ilícitos e culposos deve por sua vez exigir ao titular do órgão ou
agente que praticou o ato que lhe pague o montante da indemnização
suportada, exercendo assim o direito de regresso (cfr. artigo 8.o/3 da Lei
n.o 67/2007, de 31 de dezembro).
- Entende-se que o direito de regresso assume a natureza de um verdadeiro
direito de crédito com a seguinte configuração:
- No que respeita às entidades administrativas, o direito de regresso é um
direito de crédito da Administração, diretamente fundado na Constituição
(cfr. artigo 271.o/4), que remete a sua disciplina jurídica para o legislador,
sendo que este, na sua liberdade constitutiva, determina a sua
obrigatoriedade e o seu caráter vinculado (cfr. artigos 6.o e 8.o/3 da Lei
n.o 67/2007, de 31 de dezembro, sucessivamente alterada).
- O direito de regresso existe quando o titular do órgão, funcionário ou
agente tenha atuado dolosamente ou tenha procedido com diligência e zelo
manifestamente inferiores àqueles a que se achava obrigado em razão do
cargo.
- O direito de regresso só não existe nas seguintes situações: (i)
negligência leve do autor (cfr. artigos 7.o/1/2 e 8.o/3 da Lei n.o 67/2007,
de 31 de dezembro); (ii) funcionamento anormal do serviço; (iii) exclusão
da responsabilidade civil dos subalternos no cumprimento de comandos
hierárquicos mediante a verificação dos seguintes pressupostos de
aplicação cumulativa (cfr. artigo 271.o/1/2 da CRP): 1.o) que se trate de
um comando hierárquico que reúna três características: seja proveniente de
legítimo superior hierárquico, incida sobre matéria de serviço; não se
traduza na prática de um crime; 2.o) que o subalterno tenha dele
previamente reclamado ou exigido a sua transmissão ou confirmação por
escrito (direito de respeitosa representação).
- Neste caso, o subalterno não pode vir ao processo (contra si proposto)
invocar a sua específica causa de exclusão de responsabilidade civil, visto
que a regra goza, em princípio, de uma eficácia interna na Administração.
- O que ele deve fazer é provocar a intervenção processual do autor do
comando ou da entidade pública, tal como o lesado o poderá fazer em
termos processuais através incidente da intervenção de terceiros.

III
a) Despacho de indeferimento como o ato administrativo praticado
que decide o pedido de Frederico (cfr. artigo 148.o CPA): caráter
regulador e produção de efeitos externos numa situação individual e
concreta. O ato administrativo é uma estatuição autoritária, um
comando jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que produz,
por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste
na criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na
determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora
o direito para um caso concreto. O carácter regulador, constitutivo e
externo dos efeitos jurídicos inovadores produzidos pelo despacho
de indeferimento; qualifica-se como um ato administrativo para
efeitos substantivos e procedimentais (cfr. artigo 148.o do CPA) e
para efeitos adjetivos e processuais (cfr. artigo 51.o do CPTA); ato
administrativo primário, singular, de conteúdo negativo, que
indefere uma pretensão deduzida pela interessada por requerimento
inicial (cfr. artigo 102.o do CPA); põe termo a um procedimento
administrativo de iniciativa externa).
- A notificação como ato instrumental, meramente comunicativo,
do qual devem constar os elementos previstos no n.o 2 do artigo
114.o do CPA, apenas podendo haver lugar notificação por via
eletrónica num dos casos previstos no n.o 2 do artigo 112.o do CPA
(cfr. artigos 62.o e 112.o/1/c) e 2 do CPA).
b)
- Fundamentação insuficiente; vício formal por preterição de
formalidade essencial (cfr. artigos 268.o/4 da CRP e 152.o/1/c) e
153.o do CPA); anulabilidade (cfr. artigo 163.o/1 do CPA).
- A fase de instrução e o princípio do inquisitório (cfr. artigos 58.o,
115.o e 116.o do CPA); a completude do material instrutório; o
parecer obrigatório da DGAV (cfr. artigos 91.o/2 e 92.o do CPA);
vício de forma-procedimental; anulabilidade (cfr. artigo 163.o do
CPA).
- Notificação nos termos do artigo 112.o/1/c) e 2 do CPA; artigo
160.o do CPA; ineficácia do ato.
c)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e
recurso hierárquico (cfr. artigos 184.o/1/a), 186.o/1/a), 188.o/1,
189.o/2, 190.o/3, 192.o/2, 197.o do CPA).
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio,
da interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.o/4 da CRP,
51.o/1 e 59.o/4/5 do CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação
administrativa potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial
– artigo 185.o/2 CPA; a suscetibilidade de produção de efeitos
jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade
do ato administrativo.
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo
negativo é adequado intentar, junto do tribunal administrativo
competente, um pedido de condenação à prática do ato legalmente
devido, deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos
37.o/1/b), 51.o/4, 66.o, 67.o/1/b) e 69.o/2 do CPTA).
- É vantajoso o recurso prévio às garantias administrativas: i) a
suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.o/3 do CPA e 59.o/4/5
do CPTA e no caso de impugnação administrativa necessária a
suspensão da eficácia do ato (cfr. artigo 189.o/1 do CPA); ii) o
caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional; iii) a apreciação da legalidade e do mérito (cfr.
artigos 185.o/3 do CPA e 3.o/1 do CPTA): os regimes da revogação
e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.o e seguintes do
CPA); iv) a desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento
de custas judiciais; v) simplicidade, informalidade, celeridade e
quase gratuitidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO
TESTE ESCRITO 24 - 01 - 2018
(4 val.)
1. O direito administrativo é atualmente uma criação exclusiva do
ordenamento jurídico estadual? Justifique a sua resposta.
(7,5 val.)
2. Distinga, de forma fundamentada, entre:
a) um instituto público e uma universidade sob a forma de fundação
pública de direito privado;
b) atribuições e competências;
c) discricionaridade e autovinculação.
(7,5 val.)
3. Nos termos da alínea dd) do n.o 1 do artigo 33.o da Lei n.o
75/2013, de 12 de setembro, é da competência da câmara municipal
“proceder à aquisição e locação de bens e serviços”.
Em janeiro de 2018 a câmara municipal de um município português
deliberou contratar por ajuste direto os serviços de catering de uma
empresa. Da ata consta o voto de vencido de um vereador que
entende:
a)Que a competência exercida está delegada no Presidente da
câmara municipal, pelo que a câmara municipal não podia deliberar
sobre tais matérias;
b)Que o serviço de catering contratado, para além de se
destinar à apresentação do livro de receitas de um munícipe, é do
filho de um vereador.
Atendendo aos argumentos invocados pelo vereador vencido,
aprecie a validade da deliberação.
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para
estar calado, sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua
completude dogmática. Como também sabe, o ilegível não se pode ler. A
duração da prova é de 2:30h, sem consulta, salvo legislação administrativa. O
professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da prova (1
valor).
DIREITO ADMINISTRATIVO TESTE
24.01.2018

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
1.
- Desconstrução interna do Direito Administrativo: privatização na
forma de atividade da Administração, privatização na forma de
organização, privatização (orgânica e substantiva) do direito
administrativo, a perda de centralidade da administração por atos
com a consequente privatização da interpretação e qualificação
jurídicas do ato administrativo; a Administração Pública sem
Estado.
- Reconstrução do Direito Administrativo pela ordem jurídica
comunitária: o ordenamento comunitário como ordenamento
jurídico geral; o interesse público europeu; a europeização dos
direitos administrativos nacionais; o Direito Administrativo
Europeu (características); é a existência de um Direito
Administrativo europeu a explicar a conformação e integração dos
ordenamentos jurídicos nacionais e das respetivas Administrações.
Administração composta e procedimento administrativo composto
são as novas categorias do Direito Administrativo Europeu; o ato
administrativo transnacional.
2.
a)
- O instituto público é uma pessoa coletiva pública de tipo
institucional, criada para assegurar o desempenho de funções
administrativas pertencentes ao Estado ou a outro ente público.
- O instituto público pertence à Administração indireta, mas pode
assumir formas de Administração autónoma (o caso das
Universidades Públicas) ou mesmo independente (o caso das
entidades administrativas independentes), embora com alterações
substanciais ao regime típico (cfr. artigo 48.o da Lei Quadro dos
Institutos Públicos, aprovada pela Lei n.o 3/2004, de 15 de janeiro,
sucessivamente alterada).
- As universidades sob a forma de fundações públicas de Direito
privado como pessoas coletivas públicas de substrato fundacional,
residualmente sujeitas ao Direito privado; a autonomia universitária
(cfr. artigo 76.o da CRP); a sua exclusão do âmbito da Lei Quadro
das Fundações (cfr. artigo 6.o/8 da Lei n.o 24/2012, de 9 de julho,
que aprova a Lei Quadro das Fundações).

b)
- As pessoas coletivas públicas existem para prosseguir
determinados fins. Aos fins das pessoas coletivas públicas
chamamos atribuições, que, por sua vez, são os fins ou interesses
públicos que a lei incumbe as pessoas coletivas públicas de
prosseguir e realizar.
- Para o fazerem, as pessoas coletivas públicas dispõem de órgãos
que necessitam de poderes funcionais. Ao conjunto de poderes
funcionais de cada órgão chamamos competências. Logo, as
competências são o conjunto de poderes funcionais que a lei
confere aos órgãos administrativos para a realização das atribuições
da pessoa coletiva pública em que estão inseridos.
- As atribuições referem-se, em princípio, às pessoas coletivas
públicas em si, enquanto a competência se reporta aos órgãos.
Compete à lei especificar as atribuições de cada pessoa coletiva
pública e, a outro nível, a competência de cada órgão
administrativo. Por exemplo, no caso dos municípios, estes têm as
atribuições definidas pela Constituição e pela lei (cfr. o artigo
235.o/2 da CRP e o artigo 23.o da Lei n.o 75/2013), as quais são
prosseguidas pelos seus órgãos através dos poderes (competências)
que a lei lhes confere (artigos 24.o e segs, 32.o e segs e 35.o da
referida lei).

c)
- Em extrema síntese, a discricionariedade administrativa deve ser
entendida como uma liberdade de escolha da melhor solução para
cada caso concreto, liberdade que é dada à Administração pelo
legislador. Discricionaridade equivale, assim, a liberdade de
decisão da Administração decorrente da abstenção da lei em
determinar a(s) medida(s) a adotar.
- Atualmente, em virtude da densificação do princípio da
legalidade-juridicidade, em particular da (sua) vertente da
precedência da lei, a discricionaridade tem de ser entendida como
uma concessão legislativa à Administração. Só há poder
discricionário quando e na medida em que a lei o confere. Se no
século XIX a discriconaridade era uma atividade alegal, hoje a
discricionariedade é uma criação da lei, um poder jurídico.
- Em resumo, a Administração, no exercício do poder
discricionário, deve adotar a melhor decisão para o caso concreto,
ou seja, a mais adequada, a mais razoável, aquela que
provavelmente o legislador tomaria se fosse ele a decidir.
- Já quanto à autovinculação administrativa há uma clara relação
com a figura analisada anteriormente.
- Com efeito, o poder discricionário concedido pela lei à
Administração pode ser limitado por esta através de um processo de
autovinculação, estabelecendo regras gerais e abstratas que
vinculem os órgãos administrativos a exercer de determinada
maneira a liberdade de decisão que a lei confere.
- Em vez do exercício do poder discricionário ser feito caso a caso,
a Administração pode elaborar normas gerais onde fixe os critérios
a que ela própria obedecerá na apreciação de um certo tipo de
casos, isto é, fixando critérios de acordo com os quais vai exercer o
seu poder discricionário.
- A autovinculação pode ser feita através de regulamento ou por via
de instruções genéricas internas (no âmbito do poder hierárquico).
Na primeira hipótese, a normalização do poder administrativo tem
efeitos externos, tornando-se inválido o eventual desvio num caso
concreto, mesmo que a decisão coubesse dentro da liberdade
inerente à discricionaridade de que a Administração dispunha. Na
segunda hipótese, os efeitos são puramente internos, ainda que
possam relevar para efeitos disciplinares.

3.
- Qualificação e composição da câmara municipal (cfr. artigos
250.o e 252.o da CRP e 5.o, 6.o, 56.o e 57.o da Lei n.o 169/99, de
18 de setembro); a ata como requisito de eficácia das deliberações
(cfr. artigo 57.o da Lei n.o 75/2013, e 12 de setembro e 34.o do
CPA); o registo na ata do voto de vencido (cfr. artigo 58.o da Lei
n.o 75/2013, de 12 de setembro e 35.o do CPA).
- A delegação de poderes como desconcentração derivada de
poderes (cfr. artigo 267.o/1/2 da CRP e artigos 36.o e 44.o e
seguintes do CPA).
- A aquisição e locação de bens e serviços como uma competência
da Câmara Municipal delegável no Presidente da Câmara
Municipal (cfr. artigos 33.o/1/dd) e 34.o/1 da Lei n.o 75/2013, de
12 de setembro).
- A natureza jurídica da delegação: opção pela tese que defende que
a transferir- se algo para o delegado é o exercício da competência,
não a competência propriamente dita (cfr. artigos 36.o/1, 49.o e
50.o do CPA).
- Requisitos da delegação de poderes (cfr. artigos 36.o, 44.o e 47.o
do CPA); a Câmara Municipal deveria, por exemplo, ter avocado a
competência cujo exercício delegou no Presidente (cfr. artigo 49.o,
n.o 2 do CPA); a deliberação da Câmara Municipal é anulável por
vício (orgânico) de incompetência relativa (cfr. artigo 135.o do
CPA).
- A vinculação quanto ao fim e o princípio da prossecução do
interesse público (cfr. artigos 266.o/ 1 da CRP e 4.o do CPA).
- Princípio da imparcialidade e respetivas garantias (cfr. artigos
266.o/2 da CRP e artigos 9.o e 69.o a 76.o do CPA); o princípio da
imparcialidade está ligado essencialmente a uma postura da
Administração, impondo aos órgãos e agentes administrativos uma
atuação de forma isenta e equidistante relativamente aos interesses
em jogo; vício material de violação de lei (violação do princípio da
imparcialidade); anulabilidade (cfr. artigo 163.o/1 do CPA).
- Circunstância justificativa de impedimento (cfr. artigo 69.o/1/b)
do CPA).
- Arguição e declaração do impedimento: artigos 70.o, 71.o e 72.o
do CPA.
- Causa de perda de mandato: artigos 8.o/2 e 11.o da Lei no 27/96,
de 1 de agosto.
DIREITO ADMINISTRATIVO
EXAME FINAL ÉPOCA DE RECURSO
29-06-2018
(9 valores)
1. Distinga, de forma fundamentada, entre:
a) Direito Administrativo e Direito Administrativo privado (4
valores);
b) Princípio do aproveitamento do ato e anulação (3 valores);
c) Direito à informação procedimental e direito à informação não
procedimental (2 valores).
(6 valores)
2. Imagine que o presidente do conselho diretivo de um instituto
público que tinha como uma das suas atribuições desenvolver os
esforços necessários tendo em vista a recolha e a prestação de
cuidados a animais errantes, decidiu adquirir à empresa “Rações
para animais de estimação”, uma tonelada de ração destinada a
alimentar os cães e os gatos que se encontram à sua guarda. A
ração, perto do fim do seu prazo de validade, foi adquirida a um
preço mais baixo do praticado no mercado.
Um dos vogais do conselho diretivo, indignado com esta aquisição,
chama à atenção para os seguintes aspectos, de que pretende dar
conhecimento ao Ministério da Agricultura:
a) A competência exercida pelo presidente compete, nos
termos dos estatutos, ao órgão colegial a que preside;
b) A empresa “Rações para animais de estimação” pertence ao
presidente do conselho diretivo.
Aprecie a validade da decisão do presidente do conselho
diretivo e enquadre o instituto público na organização
administrativa portuguesa.
(4 valores)
3. Imagine um ato administrativo que aplica uma sanção disciplinar
a um funcionário público sem que este tenha sido ouvido.
Qualifique o ato praticado e aconselhe o funcionário no que se
refere aos mecanismos de reação adequados.
DIREITO ADMINISTRATIVO
EXAME FINAL
ÉPOCA DE RECURSO – CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
29-06-2018
1.
a) O Direito Administrativo como o sistema de normas e princípios
de Direito público que regem o exercício da função administrativa;
o Direito Administrativo privado como normas de Direito privado,
modificadas e integradas por normas e princípios de Direito
Administrativo; exemplo: Decreto-Lei n.o 133/2013, de 3 de
outubro; a privatização do Direito Administrativo; por outro lado, a
necessidade de uma norma de Direito Administrativo autorizar a
aplicação de normas de Direito privado a pessoas coletivas
públicas, delimitando a sua aplicação.
b) O princípio do aproveitamento do ato administrativo previsto no
artigo 163.o, n.o 5 do CPA; os requisitos de aproveitamento do ato:
o ato não é anulado nem sanado, mantendo- se anulável, tomando-
se a opção, uma vez preenchidos os requisitos, de manutenção do
mesmo; a anulação como a prática de um ato administrativo
secundário com fundamento na invalidade de um outro ato, no
exercício da função administrativa de controlo ou fiscalização, no
prazo de seis meses, cfr. os artigos 165.o e seguintes do CPA.
c) O direito à informação procedimental e o direito à informação
não procedimental como direitos fundamentais de natureza análoga
(cfr. artigo 268.o, n.os 1 e 2 da CRP); o direito à informação
procedimental comporta três direitos distintos: o direito à prestação
de informações, o direito à consulta do processo e o direito à
passagem de certidões (cfr. artigos 11.o e 82.o e seguintes do CPA).
A informação procedimental tem como pressuposto a existência de
um procedimento administrativo em curso e só os particulares que
sejam diretamente interessados é que são portadores do direito de
informação do mesmo, considerando-se como tal todas as pessoas
cuja esfera jurídica resulta alterada pela própria instauração do
procedimento ou aqueles que virão a ser provavelmente
beneficiadas ou desfavorecidas pela respetiva decisão final e, por
extensão, os que não detendo essa qualidade, demonstrem ter um
interesse legítimo no conhecimento dos elementos pretendidos, ou
seja, que façam prova, documental, das razões demonstrativas de
um interesse especifico em aceder à informação pretendida que
permita segundo um critério de razoabilidade considerar o
requerente como titular de um interesse atendível. O direito à
informação não procedimental – artigo 17o do CPA (princípio da
administração aberta) e regulado pela Lei n.o 26/2016, de 22 de
agosto, Lei de Acesso aos Documentos Administrativos. Na
informação não procedimental, ao contrário da procedimental, o
direito de acesso é de todos os cidadãos, independentemente de
serem ou estarem interessados num procedimento administrativo ou
numa decisão administrativa, de estarem ou virem a estar em
relação jurídica com a Administração. O direito de acesso aos
registos e arquivos administrativos que deve entender-se em sentido
amplo, considerando-se como tais os dossiers, relatórios, diretivas,
instruções, circulares, notas, estudos, estatísticas, faculta assim a
qualquer pessoa o acesso à informação respeitante a procedimentos
administrativos findos, não estando o exercício desse direito
dependente da invocação, pelo requerente, de qualquer interesse
legítimo ligado aos registos ou documentos a que pretende ter
acesso. Basta por isso a solicitação por escrito, através de
requerimento do qual constem os elementos essenciais à
identificação dos elementos pretendidos, como nome, morada e
assinatura do requerente nos termos do artigo 12.o da LADA. A
intimação para prestação de informações, consulta de processos e
passagem de certidões (cfr. artigo 104.o e seguintes do CPTA). O
direito de queixa junto da CADA como um mecanismo acrescido
de tutela no caso do direito à informação não procedimental.

2.

⎯ O instituto público como uma pessoa coletiva pública


integrada na Administração
Indireta do Estado; sujeição da tutela e a superintendência (cfr.
artigo 199.o, d) da CRP e Lei Quadro dos Institutos Públicos,
aprovada pela Lei n.o 3/2004, de 15 de janeiro, sucessivamente
alterada). O instituto público é uma pessoa coletiva pública de tipo
institucional, criada para assegurar o desempenho de funções
administrativas pertencentes ao Estado ou a outro ente público.

⎯ O ato administrativo praticado pelo Presidente do


Conselho Diretivo (cfr. artigo 148.o do CPA) como um ato
administrativo anulável: a) a delegação de poderes como uma
transferência do exercício dos poderes e não como uma
transferência da titularidade dos poderes (cfr. artigos 36.o e 44.o e
seguintes do CPA); o ato praticado pelo Presidente do Conselho
Diretivo são anuláveis por vício (orgânico) de incompetência
relativa (cfr. artigo 163.o do CPA); b) o princípio da imparcialidade
e respetivas garantias (cfr. n.o 2 do artigo 266.o da CRP e artigos
9.o de CPA); impedimento (cfr. alínea a) do n.o 1 do artigo 69.o do
CPA): comunicação do impedimento, suspensão da atividade,
declaração do impedimento e substituição, os atos em que tiverem
intervindo titulares de órgãos ou agentes impedidos são anuláveis
nos termos gerais (cfr. artigo 70.o e seguintes do CPA); o princípio
da imparcialidade está ligado essencialmente a uma postura da
Administração, impondo aos órgãos e agentes administrativos uma
atuação de forma isenta e equidistante relativamente aos interesses
em jogo; vício material de violação de lei em sentido estrito (cfr.
artigo 163.o do CPA).

3.

⎯Ato administrativo que aplica a sanção disciplinar (cfr. artigo


148.o CPA): caráter regulador e produção de efeitos externos numa
situação individual e concreta. O ato administrativo é uma
estatuição autoritária, um comando jurídico, positivo ou negativo,
vinculativo, que produz, por si só, mesmo perante terceiros, uma
consequência que consiste na criação, modificação ou extinção de
um direito ou dever ou na determinação jurídica de uma coisa,
definindo de forma inovadora o direito para um caso concreto. O
carácter regulador, constitutivo e externo dos efeitos jurídicos
inovadores produzidos; qualifica-se como um ato administrativo
para efeitos substantivos e procedimentais (cfr. artigo 148.o do
CPA) e para efeitos adjetivos e processuais (cfr. artigo 51.o do
CPTA); ato administrativo primário, singular, de conteúdo positivo.

⎯ A configuração da audiência prévia no âmbito de um


procedimento disciplinar como um direito fundamental de defesa
(cfr. artigo 269.o, n.o 3 da CRP); vício formal por preterição de
formalidade essencial, violação do conteúdo de um direito
fundamental (cfr. artigo 161o, n.o 2, d) CPA).
⎯ Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação
e recurso hierárquico (cfr. artigos 184.o/1/a), 186.o/1/a), 188.o/1,
189.o/2, 190.o/3, 192.o/2, 197.o do CPA).
⎯ O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio,
da interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.o/4 da CRP,
51.o/1 e 59.o/4/5 do CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação
administrativa potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial
– artigo 185.o/2 CPA; a suscetibilidade de produção de efeitos
jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade
do ato administrativo.

⎯ Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo


positivoé adequado intentar, junto do tribunal administrativo
competente, um pedido de impugnação do ato (declaração de
nulidade), deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos
37.o/1/a) e 50.o e seguintes do CPTA).
⎯ É vantajoso o recurso prévio às garantias administrativas: i) a
suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.o/3 do CPA e 59.o/4/5
do CPTA e no caso de impugnação administrativa necessária a
suspensão da eficácia do ato (cfr. artigo 189.o/1 do CPA); ii) o
caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional; iii) a apreciação da legalidade e do mérito (cfr.
artigos 185.o/3 do CPA e 3.o/1 do CPTA): os regimes da revogação
e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.o e seguintes do
CPA); iv) a desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento
de custas judiciais; v) simplicidade, informalidade, celeridade e
quase gratuitidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO
EXAME PARCELAR
Época normal 12-06-2017
1. O artigo 148.o do CPA oferece-nos uma nova definição de ato
administrativo. Tendo em consideração as suas implicações
teorético-práticas, inclusive processuais, que elementos nocionais
destacaria. Justifique a resposta.
(4 valores)
2. De acordo com a doutrina e a jurisprudência, os regulamentos
internos estão, tradicionalmente, sujeitos a um regime especial.
Enuncie os seus aspetos essenciais, sem deixar de fazer alguma
observação crítica à luz de um eventual défice de justiciabilidade.
Dê exemplos.
(2 valores)
3. Natureza jurídica do direito de regresso da Administração.
Fundamente.
(8 valores)
4. Idalina viveu com José em união de facto desde 2007, até à
morte deste, em outubro de 2016, altura em que Idalina solicitou à
Caixa Geral de Aposentações o reconhecimento da qualidade de
titular da pensão de sobrevivência e o respetivo pagamento.
Por despacho datado de 28 de maio de 2017, a Caixa Geral de
Aposentações indeferiu o pedido de Idalina por ter apurado não
estarem preenchidos os requisitos legais exigidos, uma vez que José
nunca tinha chegado a dissolver o seu casamento com Maria.
Idalina pretende reagir do despacho de indeferimento por entender:
i) que não foi considerada a sentença de dissolução do casamento,
em 2012, de José com Maria; ii) que o despacho não se encontra
devidamente fundamentado por apenas em sede de consulta do
processo ter percebido a justificação da decisão; iii) que Maria, ex
mulher de José, deveria ter sido ouvida em audiência prévia.
4.1. Comente. (5 valores)
4.2. Que mecanismos de reação aconselharia Idalina a utilizar? (3
valores)
DIREITO ADMINISTRATIVO
EXAME FINAL
Época normal 12-06-2017
1. O sistema administrativo português ainda se define como um
sistema de tipo executivo? Justifique a sua resposta.
(3 valores)
2. Tendo presente a atual complexidade da Administração, refira-se
aos princípios constitucionais que estão na base do pluralismo e
descentramento da Administração.
(4 valores)
3. De acordo com a doutrina e a jurisprudência, os regulamentos
internos estão, tradicionalmente, sujeitos a um regime especial.
Enuncie os seus aspetos essenciais, sem deixar de fazer alguma
observação crítica à luz de um eventual défice de justiciabilidade.
Dê exemplos.
(8 valores)
4. Idalina viveu com José em união de facto desde 2007, até à
morte deste, em outubro de 2016, altura em que Idalina solicitou à
Caixa Geral de Aposentações o reconhecimento da qualidade de
titular da pensão de sobrevivência e o respetivo pagamento.
Por despacho datado de 28 de maio de 2017, a Caixa Geral de
Aposentações indeferiu o pedido de Idalina por ter apurado não
estarem preenchidos os requisitos legais exigidos, uma vez que José
nunca tinha chegado a dissolver o seu casamento com Maria.
Idalina pretende reagir do despacho de indeferimento por entender:
i) que não foi considerada a sentença de dissolução do casamento,
em 2012, de José com Maria; ii) que o despacho não se encontra
devidamente fundamentado por apenas em sede de consulta do
processo ter percebido a justificação da decisão; iii) que Maria, ex
mulher de José, deveria ter sido ouvida em audiência prévia.
4.1. Comente. (5 valores)
4.2. Que mecanismos de reação aconselharia Idalina a utilizar? (3
valores)
DIREITO ADMINISTRATIVO
Exame Parcelar / Época Normal 12-06-2017
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
1. Há dois aspetos ou elementos que se destacam:
iii) Não releva a personalidade jurídica da pessoa jurídica nem a
natureza administrativa do órgão que pratica o ato
administrativo (que, aliás, nem são referidos), destacando-se, ao
invés, o exercício de poderes jurídico-adminis- trativos, isto é, a
capacidade jurídica pública. As pessoas coletivas públicas tanto
dispõem de capacidade jurídica pública como de capacidade
jurídica privada, o mesmo se podendo afirmar de certas pessoas
coletivas privadas, daquelas que atuam no exercício de funções
públicas. Em resumo, a noção de ato administrativo aponta e
tem subjacente uma noção objetiva ou material da
Administração, como, aliás, transparece da figura de organismo
de direito público de extração comunitária. O que agora releva
é a qualidade de sujeito de direito administrativo (formal ou
funcional). De modo que não surpreende que seja a jurisdição
administrativa a competente para julgar “da legalidade das
normas e demais atos jurídicos praticados por quaisquer
entidades, independentemente da sua natureza, no exercício de
poderes públicos” (artigo 4.o/2/d) do ETAF).

iv) Em segundo lugar, a exterioridade dos seus efeitos, criando,


modificando ou extinguindo situações jurídicas, faz eco de uma
conceção unitária e integrada do ato administrativo, de
inspiração alemã, refletindo o interesse prático da noção, que é
o de determinar os atos da Administração aos quais se aplica a
garantia constitucional e legal de tutela jurisdicional (artigo
268.o/4 da CRP e artigo 51.o do CPTA), sem que isso
signifique uma noção meramente adjetiva.
A noção legal atual permite distinguir com clareza os atos
administrativos em sentido próprio dos atos instrumentais (ao
invés do que sucedia com o anterior artigo 120.o) que, em
regra, não produzem efeitos jurídicos externos, sem deixarem
de ser atos jurídicos praticados pela Administração de que,
aliás, depende a preparação, juridicidade e eficácia do ato final,
constitutivo.
Por fim, trata-se, como já foi insinuado, de uma noção dogmática
de ato administrativo.
Demos conta nas aulas da evolução legislativa e doutrinária sobre
esta categoria jurídica fundamental do direito administrativo.
2.
Não são suscetíveis de impugnação contenciosa direta por se
entender que não afetam a esfera jurídica dos particulares. Crítica:
somos de opinião que alguns exemplos típicos de normas internas,
como as circulares (especialmente em matéria tributária), só
aparentemente têm uma eficácia interna, em claro prejuízo de uma
tutela judicial efetiva.
Tal como os regulamentos executivos, o legislador constituinte
pretendeu apenas, com o artigo 112.o/5 da CRP, reagir contra
abusos a que conduziu a prática legislativa de remeter para
despachos ou circulares ministeriais a resolução de qualquer dúvida
ou omissão suscitada pela aplicação da lei.
Em síntese, há que distinguir dois tipos de efeitos: os efeitos
vinculantes sobre os funcionários e agentes e os efeitos vinculantes
sobre os cidadãos.
Os órgãos administrativos não estão obrigados a cumprir os
regulamentos internos, não valendo para estas normas internas a
regra da inderrogabilidade singular dos regulamentos (artigo
142.o/2 do CPA). Crítica: a derrogabilidade singular da circular
parece contrariar a sua natureza, uma vez que o desiderato da
circular é fornecer uma interpretação (geral) de um determinado
preceito ou reduzir de forma antecipada a discricionaridade da
Administração. Acresce que a possibilidade de derrogar
singularmente uma circular ataca os princípios da segurança
jurídica e da igualdade.

3.
Trata-se de saber se estamos perante um direito fundamental das
entidades públicas em relação aos titulares dos seus órgãos,
funcionários ou agentes ou, pelo contrário, de uma mera faculdade.
Entende-se que o direito de regresso assume a natureza de um
verdadeiro direito de crédito com a seguinte configuração:
No que respeita às entidades administrativas, o direito de regresso é
um direito de crédito da Administração, diretamente fundado na
Constituição (cfr. artigo 271.o/4), que remete a sua disciplina
jurídica para o legislador, sendo que este, na sua liberdade
constitutiva, determina a sua obrigatoriedade e o seu caráter
vinculado (cfr. artigos 6.o e 8.o/3 da Lei n.o 67/2007, de 31 de
dezembro, sucessivamente alterada).
O direito de regresso existe quando o titular do órgão, funcionário
ou agente tenha atuado dolosamente ou tenha procedido com
diligência e zelo manifestamente inferiores àqueles a que se achava
obrigado em razão do cargo.
O direito de regresso só não existe nas seguintes situações: (i) culpa
leve do autor (cfr. artigos 7.o/1/2 e 8.o/3 da Lei n.o 67/2007, de 31
de dezembro); (ii) funcionamento anormal do serviço (cfr. artigo
7.o/3/4 da Lei n.o 67/2007, de 31 de dezembro); (iii) exclusão da
responsabilidade civil dos subalternos no cumprimento de
comandos hierárquicos mediante a verificação dos pressupostos de
aplicação cumulativa previstos no artigo 271.o/1/2 da CRP.

4.
4.1.
Ato administrativo (cfr. artigo 148.o CPA): caráter regulador e
produção de efeitos externos numa situação individual e concreta.
O ato administrativo é uma estatuição autoritária, um comando
jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que produz, por si só,
mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste na
criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na
determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora
o direito para um caso concreto. O carácter regulador, constitutivo e
externo dos efeitos jurídicos inovadores produzidos pelo despacho
de indeferimento da Caixa Geral de Aposentações; qualifica-se
como um ato administrativo para efeitos substantivos e
procedimentais (cfr. artigo 148.o do CPA) e para efeitos adjetivos e
processuais (cfr. artigo 51.o do CPTA); ato administrativo primário,
singular, de conteúdo negativo, que indefere uma pretensão
deduzida pela interessada por requerimento inicial (artigo 102.o do
CPA); põe termo a um procedimento administrativo de iniciativa
externa, que deveria ter sido concluído no prazo de 90 dias úteis
(cfr. artigo 128.o/1 do CPA).
A fase de instrução e o princípio do inquisitório (cfr. artigos 58.o,
115.o e 116.o do CPA): à Administração Pública cabe uma atitude
procedimental ativa que se manifesta, entre outros aspetos, no dever
de averiguar oficiosamente todos os factos cujo conhecimento seja
relevante para a justa e célere decisão do procedimento, podendo
para o efeito recorrer a todos os meios de prova admitidos em
Direito; a completude do material instrutório; vício de forma-
procedimental; anulabilidade (cfr. artigo 163.o do CPA); o
principio da colaboração dos interessados (cfr. artigo 60.o do CPA);
o erro sobre os pressupostos de facto; anulabilidade (cfr. artigo
163.o do CPA); Fundamentação insuficiente; vício formal por
preterição de formalidade essencial (cfr. artigos 268.o/4 da CRP e
152.o/1/c) e 153.o do CPA); anulabilidade, artigo 163.o/1 do CPA.
O direito à informação procedimental e não procedimental, em
especial o direito à consulta do processo pelos seus interessados
(cfr. artigos 268.o/1/2 da CRP e 11.o, 17.o e 83.o do CPA).
O conceito de interessado para efeitos do CPA (cfr. artigo 68.o do
CPA); audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 121.o e 122.o
do CPA); o princípio da participação (cfr. artigos 12.o do CPA e
2.o e 267.o/5 da CRP); vício de forma, por preterição de uma
formalidade essencial, anulabilidade (cfr. artigo 163.o do CPA).

4.2.
Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e
recurso hierárquico (cfr. artigos 184.o/1/a), 186.o/1/a), 188.o/1,
189.o/2, 190.o/3, 192.o/2, 197.o do CPA).
O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio, da
interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.o/4 da CRP,
51.o/1 e 59.o/4/5 do CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação
administrativa potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial
– artigo 185.o/2 CPA; a suscetibilidade de produção de efeitos
jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade
do ato administrativo.
Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo negativo
é adequado intentar, junto do tribunal administrativo competente,
um pedido de condenação à prática do ato legalmente devido,
deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos 37.o/1/b),
51.o/4, 66.o, 67.o/1/b) e 69.o/2 do CPTA).
É vantajoso o recurso prévio às garantias administrativas: i) a
suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.o/3 do CPA e 59.o/4/5
do CPTA e no caso de impugnação administrativa necessária a
suspensão da eficácia do ato (cfr. artigo 189.o/1 do CPA); ii) o
caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional; iii) a apreciação da legalidade e do mérito (cfr.
artigos 185.o/3 do CPA e 3.o/1 do CPTA): os regimes da revogação
e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.o e seguintes do
CPA); iv) a desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento
de custas judiciais; v) simplicidade, informalidade, celeridade e
quase gratuitidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO
Exame Final / Época Normal 12-06-2017
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

1. A pergunta coloca, no essencial, a questão de saber o alcance


da revisão do Código do Procedimento Administrativo em
matéria de execução dos atos administrativos e respetivas
refrações no modelo de sistema administrativo vigente.
Se até aqui a Administração podia exercitar ou executar
imediata e coativamente os atos previamente declarados –
executoriedade, que traduz uma ideia de autotutela executiva
da Administração –, agora o regime legal parece inclinar-se
para o modelo de Administração judiciária (artigos 176.o e
183.o do novo CPA), ao favorecer o princípio da intervenção
prévia dos tribunais em prejuízo do privilégio da execução
prévia.
O legislador entendeu, no entanto, condicionar, no n.o 2 do
artigo 8.o do Decreto- -Lei n.o 4/2015, de 7 de janeiro (que
aprovou o novo CPA), a entrada em vigor do novo regime à
aprovação de um diploma que defina os casos, as formas e os
termos em que os atos podem ser impostos coercivamente
pela Administração, mantendo vigente o n.o 2 do artigo 149.o
do anterior Código.
Acresce que nos termos do artigo 212.o da CRP e do artigo
4.o do ETAF, os tribunais da jurisdição administrativa e fiscal
são os tribunais competentes para decidir dos litígios
emergentes de relações jurídico-administrativas, ao contrário
do que acontece no sistema de Administração judiciária.

2. Estão em causa os princípios constitucionais (artigo 267.o/2)


respeitantes à organização administrativa – princípios da
descentralização administrativa e da desconcentração
administrativa. O princípio da subsidiariedade, de inspiração
comunitária e também ele previsto na Lei Fundamental (artigo
6.o/1), revela-se igualmente importante, ao atribuir
preferência às Administrações infra estaduais, em detrimento
da Administração estadual, sendo, por isso, favorável à
ampliação da esfera dos poderes públicos menores, em
particular das Administrações autónomas.
Este princípio, que favorece a repartição de tarefas entre a
Administração estadual e a Administração autónoma, decorre do
artigo 6.o/1 da CRP, que o convoca expressamente no contexto da
autoadministração local e “da descentralização democrática da
Administração pública”.
3.
Não são suscetíveis de impugnação contenciosa direta por se
entender que não afetam a esfera jurídica dos particulares. Crítica:
somos de opinião que alguns exemplos típicos de normas internas,
como as circulares (especialmente em matéria tributária), só
aparentemente têm uma eficácia interna, em claro prejuízo de uma
tutela judicial efetiva.
Tal como os regulamentos executivos, o legislador constituinte
pretendeu apenas, com o artigo 112.o/5 da CRP, reagir contra
abusos a que conduziu a prática legislativa de remeter para
despachos ou circulares ministeriais a resolução de qualquer dúvida
ou omissão suscitada pela aplicação da lei.
Em síntese, há que distinguir dois tipos de efeitos: os efeitos
vinculantes sobre os funcionários e agentes e os efeitos vinculantes
sobre os cidadãos.
Os órgãos administrativos não estão obrigados a cumprir os
regulamentos internos, não valendo para estas normas internas a
regra da inderrogabilidade singular dos regulamentos (artigo
142.o/2 do CPA). Crítica: a derrogabilidade singular da circular
parece contrariar a sua natureza, uma vez que o desiderato da
circular é fornecer uma interpretação (geral) de um determinado
preceito ou reduzir de forma antecipada a discricionaridade da
Administração. Acresce que a possibilidade de derrogar
singularmente uma circular ataca os princípios da segurança
jurídica e da igualdade.
Não são suscetíveis de impugnação contenciosa direta por se
entender que não afetam a esfera jurídica dos particulares. Crítica:
somos de opinião que alguns exemplos típicos de normas internas,
como as circulares (especialmente em matéria tributária), só
aparentemente têm uma eficácia interna, em claro prejuízo de uma
tutela judicial efetiva.
4.
4.1.
Ato administrativo (cfr. artigo 148.o CPA): caráter regulador e
produção de efeitos externos numa situação individual e concreta.
O ato administrativo é uma estatuição autoritária, um comando
jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que produz, por si só,
mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste na
criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na
determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora
o direito para um caso concreto. O carácter regulador, constitutivo e
externo dos efeitos jurídicos inovadores produzidos pelo despacho
de indeferimento da Caixa Geral de Aposentações; qualifica-se
como um ato administrativo para efeitos substantivos e
procedimentais (cfr. artigo 148.o do CPA) e para efeitos adjetivos e
processuais (cfr. artigo 51.o do CPTA); ato administrativo primário,
singular, de conteúdo negativo, que indefere uma pretensão
deduzida pela interessada por requerimento inicial (cfr. artigo 102.o
do CPA); põe termo a um procedimento administrativo de iniciativa
externa, que deveria ter sido concluído no prazo de 90 dias úteis
(cfr. artigo 128.o/1 do CPA).
A fase de instrução e o princípio do inquisitório (cfr. artigos 58.o,
115.o e 116.o do CPA): à Administração Pública cabe uma atitude
procedimental ativa que se manifesta, entre outros aspetos, no dever
de averiguar oficiosamente todos os factos cujo conhecimento seja
relevante para a justa e célere decisão do procedimento, podendo
para o efeito recorrer a todos os meios de prova admitidos em
Direito; a completude do material instrutório; vício de forma-
procedimental; anulabilidade (cfr. artigo 163.o do CPA); o
princípio da colaboração dos interessados (cfr. artigo 60.o do CPA);
o erro sobre os pressupostos de facto; anulabilidade (cfr. artigo
163.o do CPA); Fundamentação insuficiente; vício formal por
preterição de formalidade essencial (cfr. artigos 268.o/4 da CRP e
152.o/1/c) e 153.o do CPA); anulabilidade, artigo 163.o/1 do CPA.
O direito à informação procedimental e não procedimental, em
especial o direito à consulta do processo pelos seus interessados
(cfr. artigos 268.o/1/2 da CRP e 11.o, 17.o e 83.o do CPA).
O conceito de interessado para efeitos do CPA (cfr. artigo 68.o do
CPA); audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 121.o e 122.o
do CPA); o princípio da participação (cfr. artigos 12.o do CPA e
2.o e 267.o/5 da CRP); vício de forma, por preterição de uma
formalidade essencial, anulabilidade (cfr. artigo 163.o do CPA).
4.2.
Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e
recurso hierárquico (cfr. artigos 184.o/1/a), 186.o/1/a), 188.o/1,
189.o/2, 190.o/3, 192.o/2, 197.o do CPA).
O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio, da
interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.o/4 da CRP,
51.o/1 e 59.o/4/5 do CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação
administrativa potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial
– artigo 185.o/2 CPA; a suscetibilidade de produção de efeitos
jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade
do ato administrativo.
Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo negativo
é adequado intentar, junto do tribunal administrativo competente,
um pedido de condenação à prática do ato legalmente devido,
deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos 37.o/1/b),
51.o/4, 66.o, 67.o/1/b) e 69.o/2 do CPTA).
É vantajoso o recurso prévio às garantias administrativas: i) a
suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.o/3 do CPA e 59.o/4/5
do CPTA e no caso de impugnação administrativa necessária a
suspensão da eficácia do ato (cfr. artigo 189.o/1 do CPA); ii) o
caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional; iii) a apreciação da legalidade e do mérito (cfr.
artigos 185.o/3 do CPA e 3.o/1 do CPTA): os regimes da revogação
e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.o e seguintes do
CPA); iv) a desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento
de custas judiciais; v) simplicidade, informalidade, celeridade e
quase gratuitidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO
23 - 01 - 2017
Obs.: a primeira questão deverá ser respondida numa folha de teste
em separado.
I
(5 valores)
Comente a seguinte afirmação no que seja indispensável para
justificar a sua concordância ou discordância:
“Muito do que se entende por discricionariedade de facto não existe
se tivermos em conta que na maioria dos casos só há uma solução
possível”.
II
(7 valores)
Revele a importância teorético-prática da distinção entre:
a) Critério subjetivo/orgânico e critério funcional/material de
definição do âmbito de aplicação do Direito Administrativo; (3,5
valores)
b) Institutos públicos e universidades sob a forma de fundações
públicas de Direito privado. (3,5 valores)
Ao proceder às respetivas distinções, não deixe de apresentar os
exemplos pertinentes a cada uma delas.
III
(7 valores)
Imagine que um superior hierárquico decide delegar no seu
imediato inferior hierárquico a competência para decidir sobre a
atribuição de subsídios ao abrigo do Regime de Apoio à
Reconversão da Vinha.
Verificando que as decisões tomadas pelo delegado nem sempre
seguiam o mesmo critério no que se refere ao valor a atribuir
(aspeto este deixado, em grande medida, à discricionariedade do
órgão com competência decisória), o delegante decide, com
referência a dois pedidos de atribuição de apoio apresentados que
considera mais complexos, ordenar ao delegado o seu deferimento,
definindo o valor a atribuir.
1. Pronuncie-se sobre os aspetos juridicamente relevantes. (4,5
valores)
2. Poderia o delegado decidir sobre o pedido de atribuição de apoio
apresentado pela melhor amiga da sua mulher? (2,5 valores)

Tópicos de correção
I
1. Interpretação e discricionariedade
Desde logo, passa a resposta a dar pela distinção teorética, na
aplicação da lei pela Administração, entre aquilo que, na estrutura
da norma, são (1) operações (ainda) de mera interpretação (e de
integração de lacunas extralegais), o mesmo é dizer, que se incluem
ainda no domínio vinculado da normas jurídico-administrativa, e as
(2) operações que já traduzem o exercício do poder discricionário
(em sentido amplo)
A primeira distinção que importa assim fazer nesta matéria é entre
(1) as atividades de (1a) interpretação da lei, (1b) preenchimento de
lacunas extralegais, e de (2) exercício da discricionariedade (que
poderemos considerar um preenchimento de lacunas intralegais).
Pois bem, as duas primeiras operações (interpretação e integração
de lacunas) são (têm que ser) levadas a cabo pela Administração,
enquanto primeira aplicadora da lei, mesmo que a norma aplicada
lhe confira meros poderes vinculados.
Mas elas não suscitam naturalmente os problemas levantados pelo
exercício de poderes discricionários.
Com efeito, as tarefas de interpretação e integração de lacunas
constituem em princípio operações típicas da ciência jurídica,
essencialmente objetivas, cujo acerto pode e deve por isso o juiz
administrativo controlar.
Na ciência jurídica, não deixe de se ter presente, parte-se
necessariamente da dogmática premissa de que, de entre as várias
interpretações possíveis de uma determinada norma entre si
concorrentes, só uma é a juridicamente correta, sendo as demais
inválidas (o mesmo se passando com o recurso aos lugares
paralelos em que se traduz, em primeira linha, a integração de
lacunas).
É certo que, e como vimos supra, hoje se reconhece e aceita que
tais operações não serão puramente lógico-dedutivas, envolvendo
espaços de criação jurídica, e que são terreno também,
naturalmente, de divergência e controvérsia.
Mas a verdade é que estamos sempre e de todo o modo ainda na
zona da legalidade ou juridicidade, ou seja, no campo próprio de
atuação dos juristas, e por conseguinte também dos juízes (isto é,
dos tribunais), os quais, reitere- se, poderão e deverão revê-las
(substituindo designadamente a interpretação ou integração levada
a cabo pelo órgão administrativo pela sua própria interpretação ou
integração). O mesmo é dizer, repita-se, e facilitando um pouco a
explicação, que estamos ainda no domínio do exercício de poderes
vinculados, por contraposição ao dos poderes discricionários.
Ora, a discricionariedade começa onde acaba a interpretação (e a
integração de lacunas extralegais).
2. Os casos de imperativo de controlo jurisdicional total
O plano do alcance e limites do controlo jurisdicional dos atos
administrativos discricionários traduz uma «subida» para o nível
constitucional, nomeadamente das decorrências do princípio da
separação ou divisão de poderes, está em causa o posicionamento
de maior ou menor independência da Administração (do poder
executivo) face aos outros dois poderes do Estado (ao poder
legislativo e ao poder judicial).
Ora, pode acontecer neste plano que o exercício de uma
competência qualificável como discricionária numa primeira
análise, dado o caráter incerto do resultado da aplicação da norma
em causa – e ao qual já não se siga necessariamente por essa razão
a consequência da respetiva sujeição a um controlo judicial total e
positivo –, por motivos de decorrentes do princípio da separação de
poderes acabe por ser submetido também a esse controlo total e
positivo.
Exemplo típico da hipótese a que se acaba de fazer referência será o
do exercício daqueles poderes que, por razões de ordem vária, são
atribuídos pelo legislador a órgãos administrativos, mas que têm
natureza jurisdicional (traduzindo desvios ao princípio da separação
de poderes em matérias não essenciais, consentidos pela moderna
aceção – mais flexível – deste fundamental princípio da
organização política e jurídica do Estado).
Incluem-se desde logo neste universo os poderes sancionatórios, de
aplicação (chamemos-lhes assim) de «direitos penais e processuais
penais menores» (entre outros, os contraordenacionais, os
disciplinares-desportivos, os disciplinares-profissionais e mesmo os
disciplinares-funcionariais). Mas não só: também integram tal
conjunto certas competências atribuídas às entidades reguladoras de
atividades ou serviços de interesse económico geral, de resolução
de conflitos inter-privados, nomeadamente entre operadores
económicos dos setores regulados.
Nestes âmbitos, o órgão administrativo, ao exercer uma
competência materialmente jurisdicional, funciona afinal, se bem
virmos, como um tribunal de primeira instância. Caberá por isso
aos tribunais propriamente ditos, quando instados para tanto, um
controlo total e positivo destas específicas atividades que a
Administração por vezes também desenvolve, enquanto mera
«hospedeira» da função (jurisdicional) a que elas se reconduzem.
Tais poderes de qualificação da infração e de determinação da
medida da sanção serão, no primeiro sentido (impróprio),
discricionários (pois resulta de uma pura e inquestionável
constatação, face à indeterminação normativa típica dos estatutos
disciplinares e das normas contraordenacionais, a liberdade de
conformação de que goza a autoridade aplicadora da lei). Mas já
não o serão no segundo sentido, sujeitos como estão – ainda que
por esta particular razão – a um controlo judicial sucessivo
máximo.
3. Conceitos imprecisos e vinculação
3.1. Os conceitos classificatórios: conceitos jurídicos, conceitos
técnico- científicos e conceitos descritivo-empíricos
Os conceitos classificatórios, aparentando ser conceitos imprecisos,
não deixam dúvidas no sentido do seu carácter vinculado: a sua
(aparente) imprecisão é resolvida em sede ainda de interpretação
jurídica, em virtude
das remissões que eles (implicitamente) operam para parâmetros
decisórios tão precisos quanto os das regras jurídicas. Quanto a
estes, importa todavia distinguir os diversos tipos de parâmetros
decisórios a que a Administração deverá recorrer por via de tais
remissões.
Pode ser, e desde logo, uma remissão para a própria ciência
jurídica. Estamos agora a falar dos conceitos jurídicos, que não são
meros conceitos legais, mas antes conceitos já enraizados na
dogmática jurídica, e cujo exato significado (não obstante a sua
aparente imprecisão) pode e deve ser encontrado nesta ciência que,
por definição, o juiz domina (não obstante, obviamente, a
possibilidade da existência de controvérsias doutrinárias, em termos
similares aos já referidos a respeito da interpretação das normas
jurídicas).
Pode ainda um outro tipo de conceitos classificatórios remeter o
aplicador e intérprete da norma para as normas extrajurídicas das
chamadas ciências exatas, ou seja, para os domínios da física, da
química, da medicina, da matemática, etc.: estamos agora no
universo dos conceitos técnico-científicos.
Finalmente, podem ainda outros conceitos – os chamados conceitos
descritivo-empíricos – remeter para circunstâncias de tempo ou de
lugar ou para conhecimentos não científicos, mas empíricos, que
estão na posse das pessoas comuns que lidam com a matéria em
causa – razão pela qual tais conhecimentos ou circunstâncias, uma
vez (re)conhecidas, hão-de ditar ao aplicador/intérprete uma
solução unívoca, e que será a única solução correta a adotar no
caso.
3.2. Os conceitos imprecisos-tipo: a teoria dos conceitos imprecisos
de W. Jellinek e a teoria da folga de Otto Bachof
Quando se diz que assiste à Administração uma margem de livre
apreciação no preenchimento dos conceitos imprecisos ou
indeterminados- tipo, significa isto, muito sinteticamente, que, por
um lado, tais conceitos apresentam um “núcleo duro” de situações
passíveis de ocorrer na vida real onde não existe qualquer
possibilidade de valoração administrativa autónoma (no sentido de
incluir ou excluir a situação concreta do conceito).
E significa isto também que, em lado oposto, um outro conjunto
virtual de situações se pode configurar, situações essas que, ao
invés, e com o mesmo grau de certeza (sem haver lugar também a
um valoração administrativa autónoma), não cabem
(manifestamente) no conceito.
Em ambas as hipóteses o preenchimento do conceito constitui uma
tarefa interpretativa necessariamente objeto de controlo judicial a
posteriori.
Mas entre esses dois extremos, o conceito apresenta uma «auréola»,
uma zona cinzenta ou indefinida, onde se agrupam situações
intermédias – as quais, quando ocorrem, proporcionam à
Administração uma folga em cada operação de subsunção do caso
concreto à previsão normativa, que lhe permite incluir ou excluir
no/do conceito a situação concreta cuja resolução lhe incumba.
Note-se que não está em discussão a própria ocorrência dos
pressupostos de facto cuja verificação a lei exige para que a
Administração possa exercer a competência em questão, mas tão só
uma determinada qualificação, ou (como melhor veremos) um
aditamento ou complemento, em cada caso, a esses pressupostos
imperfeitos ou incompletos desenhados em abstrato na hipótese da
norma legal.
Naturalmente, a verificação em concreto da ocorrência dos próprios
pressupostos legalmente definidos, essa sim, é em regra um
elemento vinculado, e não de escolha ou ponderação discricionária,
e como tal objeto dos poderes de cognição do juiz administrativo.
4. Os casos de atenuação ou eliminação das prerrogativas de
avaliação
Joga contra a chamada reserva de discricionariedade o ser o órgão
competente um órgão individual inserido na cadeia hierárquica,
como um diretor-geral ou um diretor de serviços.
A qualidade da matéria é também um fator relevante. Importa
lembrar desde logo a matéria dos direitos fundamentais: se
estivermos perante atos de aplicação de normas restritivas de
direitos, liberdades e garantias, caso a norma atributiva da margem
de apreciação passe o teste da constitucionalidade (por se tratar de
matéria objeto de reserva de lei, e a mais sensível de entre as que a
Constituição reserva ao legislador), então, e de todo modo, terá que
se reduzir ao mínimo (quando não a zero) a dita margem.
Naturalmente, o mesmo se diga das demais matérias reservadas à
lei (e que não são poucas na nossa lei fundamental).
Quanto aos conceitos de valor, uma categoria aponta para um maior
controlo judicial, é a daqueles cujo preenchimento não requer uma
valoração eminentemente pessoal do órgão administrativo, mas
antes objetiva, como são desde logo os que dizem respeito à moral
pública e aos bons costumes.
Estes últimos apelam a valorações pré-existentes na comunidade
(ou dominantes no extrato populacional que para o efeito releve), às
conceções éticas vigentes, que a Administração (e depois dela o
juiz) deverá primeiramente averiguar e para as quais se terá que
remeter, não devendo o titular do órgão administrativo (ou sequer o
julgador, no momento sucessivo do controlo) sobrepor a essas
valorações objetivas o seu próprio juízo ético pessoal. É claro o
parentesco do preenchimento destes conceitos com a operação de
subsunção: ao intérprete e aplicador da lei podem-se-lhe deparar
neste caso parâmetros cognitivos/decisórios tão precisos quanto os
das regras jurídicas.
5. A discricionariedade administrativa, por norma, como
habilitação legal para a Administração completar ou integrar o
pressuposto de facto normativo imperfeito
A discricionariedade apenas opera, por regra, no âmbito dos
pressupostos de facto das mesmas normas jurídico-administrativas,
em caso de (intencional) imperfeição, incompletude ou
indeterminação desses pressupostos na descrição que as ditas
normas deles empreendam em abstrato. Nesse sentido, ela passa por
uma prévia tarefa de complementação, em concreto (caso a caso –
sempre que seja chamada a aplicar a norma) dos ditos pressupostos
normativos imperfeitos ou incompletos.
A consequência jurídica, ou seja, a conduta a adotar pela
Administração, não é por isso em regra o resultado de uma escolha
livre da Administração.
Partindo da dogmática premissa de que quase toda a atividade
administrativa – mesmo esta (a discricionária) – é uma atividade
jurídica, a uma vez sujeita ao direito e criadora de direito
(configurando-se o exercício do poder discricionário, neste último
caso não como processo cognitivo lógico- formal, dedutivo ou
semântico, mas como processo «tópico-teleológico»), estará nesta
hipótese a Administração obrigada a duas operações consecutivas:
(i) Num primeiro momento, a adotar naquele caso critérios
objetivos que complementem os critérios legais;
(ii)E num segundo momento a retirar a devida consequência,
ou seja, a tomar a decisão ou medida resultante da aplicação
cumulada de uns e outros critérios (dos critérios legais e dos
critérios adotados para o caso concreto), que face a tais critérios (no
seu conjunto) será a única solução possível (solução unívoca).
Estamos a falar evidentemente de uma estrutura lógica do iter
decisório, e não necessariamente de uma sequência cronológica e
formalmente seccionada nos dois momentos que se acaba de
distinguir.
O que importa pois é que os fundamentos da decisão sejam
objetivos, no sentido de (em jeito de exercício lógico) serem
passíveis de uma prévia enunciação em abstrato, agregável à norma
legal (aos respetivos pressupostos) – fazendo um todo com ela, com
(possibilidade de) abstração portanto das concretas circunstâncias
da aplicação da norma legal àquele caso particular.
Os critérios desta forma aditados aos critérios legais constituirão
assim uma verdadeira regulação suplementar, o mesmo é dizer que
serão (conjuntamente com a previsão legal) a norma para aquela
situação concreta.
Frise-se, entretanto, que nunca se ressalvará em demasia as distintas
naturezas das operações de concretização/execução criativa da lei
levadas a cabo pela Administração ativa e pelos tribunais. Mas uma
vez precavidos quanto à dissemelhança destas duas funções do
Estado (administrativa e jurisdicional), e portanto das operações
que as concretizam, sempre diremos que a atividade administrativa
discricionária (não por acaso qualificada por alguns autores como
de preenchimento de lacunas intralegais) evoca de algum modo as
situações em que o juiz, na tarefa de integração das lacunas
extralegais, e à falta de normas reguladoras de «lugares paralelos»
que possam ser aplicadas analogicamente à situação sub judicio, se
«senta no lugar do legislador» e faz (só para aquele caso) a norma
que o legislador faria se «ali estivesse».
De acordo com este entendimento, reitere-se, a discricionariedade
administrativa deixa de ser, por norma, uma possibilidade de livre
escolha entre duas ou mais consequências jurídicas possíveis (entre
duas ou mais condutas igualmente legítimas).
Diferentemente, o que sucede é que, em virtude da (intencional)
insuficiência ou imprecisão, na previsão legal, dos critérios
determinantes de uma ou outra dessas consequências (de uma ou
outra dessas condutas), fica a Administração obrigada, no plano da
aplicação da lei, e antes do mais, a especificar ela própria os
pressupostos da sua própria atuação, assim completando (em cada
situação concreta) os inacabados pressupostos legais.
E só depois desta primeira operação se produzirá a consequência
jurídica, ou seja, só então se enunciará a solução a adotar naquela
situação concreta – a qual, depois de completados ou aperfeiçoados
os pressupostos legais, será então a única solução legítima ou
possível para o aplicador da lei, deixando assim de ou ser uma entre
duas ou mais soluções legítimas.
A ideia que preside a esta tese é muito simples: a fim de evitar a
arbitrariedade em que obviamente se traduziria uma completa
indiferença da lei e do direito perante a escolha pela Administração
de uma ou outra de entre um leque de condutas (todas elas)
legalmente admissíveis, a determinação de qualquer dessas
consequências jurídicas terá sempre que se basear em critérios
objetivos também por ela (Administração) previamente definidos.
Como é evidente, esta obrigatória tarefa de complementação dos
pressupostos legais traduz-se antes do mais no exercício de um
dever jurídico de boa administração; e deverá orientar-se pelos
princípios gerais da atividade administrativa (desde logo pelos
princípios da razoabilidade e da racionalidade), com os quais se terá
que obrigatoriamente conformar.
É esta segunda tese (a da regra da discricionariedade administrativa
como habilitação legal para completar ou integrar o pressuposto de
facto normativo imperfeito) a sustentada pela doutrina mais
autorizada, seja no direito comparado, seja entre nós (cfr. Rogério
Ehrhradt Soares, Sérvulo Correia e Vieira de Andrade) – a qual,
não apenas por esse argumento (de autoridade), mas sobretudo pelo
seu mérito intrínseco (que tentámos evidenciar), deverá ser a
posição adotada.
6. Da legalidade à juridicidade: a vinculação da Administração
aos princípios gerais da atividade administrativa
Partindo do correto pressuposto de que também o exercício do
poder discricionário não pode ser uma atividade alheia ao direito,
de que não pode o resultado desse exercício ser indiferente ao
direito (não podendo valer juridicamente o mesmo qualquer escolha
que Administração faça ao abrigo desse poder), a resposta passou (e
passa) pela sujeição ao mesmo direito do poder discricionário.
Só que não já uma sujeição à lei, no sentido positivista/oitocentista
de regra jurídica escrita, na medida em que, de facto, e por
definição, o poder discricionário se exerce para lá do alcance da
regra jurídica: o que se trata agora é da submissão da
discricionariedade administrativa ao crivo dos princípios jurídicos,
mais precisamente dos chamados princípios gerais da atividade
administrativa.
Como vimos já, a mudança a que se assiste é a do princípio da
legalidade da administração, que se transmuta num mais lato
princípio de juridicidade. O clássico e fundamental parâmetro da
atividade administrativa começa a ser entendido já não como
princípio de legalidade estrita (de sujeição a regras legais), mas
como um princípio de juridicidade, através designadamente da
sujeição da Administração, quer na atividade de gestão pública,
quer na atividade de gestão privada, não apenas à lei (no sentido
estrito de regras legais), mas também aos direitos fundamentais e
aos princípios gerais de direito administrativo.
Foi (e é) esta a contrapartida da maior abertura manifestada ao
fenómeno da expansão da discricionariedade administrativa, depois
de uma primeira reação de negação e repúdio: a sua limitação pelos
direitos fundamentais e por princípios jurídicos.
II
a)
- A Administração Pública transformou-se numa realidade
complexa, multiforme e heterogénea. Já não há uma
correspondência entre entidades, fins, atividade e regime. A
conceção orgânica ou subjetiva deverá ser complementada ou
substituída por uma conceção funcional ou material apta para
traduzir a integração e a interatividade de elementos de diversa
natureza – público e privada – considerando as características dos
serviços ou das tarefas de que essas entidades são instrumentos de
realização em função do fim prosseguido.
- As dificuldades do processo de qualidade como pessoa coletiva
pública; enunciação dos diversos critérios (iniciativa da criação, fim
prosseguido, capacidade jurídica, regime jurídico, subordinação ou
não, obrigatoriedade da sua existência, exercício ou não da função
administrativa); o critério misto da iniciativa da criação e do fim
prosseguido (por ex.).
- As formas de privatização da Administração Pública.
- O Direito Administrativo de agora não se define (exclusivamente)
por um critério estatutário, uma vez que abrange a atividade de
todas as entidades, públicas ou privadas, que exercem funções
administrativas. Define-se por um critério que tem por referência a
atividade desenvolvida.
- As pessoas coletivas públicas sujeitas a um regime de Direito
privado administrativizado (por exemplo, as entidades públicas
empresariais) e as pessoas coletivas privadas sujeitas a um regime
de Direito Administrativo na medida em que exerçam funções
administrativas (por exemplo, os concessionários).
- O artigo 2.o do CPA e os diferentes níveis de aplicação do Direito
Administrativo.
b)
- O instituto público é uma pessoa coletiva pública de tipo
institucional, criada para assegurar o desempenho de funções
administrativas pertencentes ao Estado ou a outro ente público.
- O instituto público pertence à Administração indireta, mas pode
assumir formas de Administração autónoma (o caso das
Universidades Públicas) ou mesmo independente (o caso das
entidades administrativas independentes), embora com alterações
substanciais ao regime típico (cfr. artigo 48.o da Lei Quadro dos
Institutos Públicos, aprovada pela Lei n.o 3/2004, de 15 de janeiro,
sucessivamente alterada).
- As universidades sob a forma de fundações públicas de Direito
privado, como pessoas coletivas públicas de substrato fundacional,
residualmente sujeitas ao Direito privado; a autonomia universitária
(cfr. artigo 76.o da CRP); a sua exclusão do âmbito da Lei Quadro
das Fundações (cfr. artigo 6.o/8 da Lei n.o 24/2012, de 9 de julho,
que aprova a Lei Quadro das Fundações).
III
1.
- A hierarquia administrativa e o dever geral de obediência como a
obrigação de o subalterno cumprir as ordens e instruções de serviço
dos seus legítimos superiores hierárquicos, dadas em (i) matéria e
(ii) sob a forma legal.
- Delegação de poderes como desconcentração derivada de poderes
(cfr. artigo 267.o/1/2 da CRP e artigos 36.o e 44.o e seguintes do
CPA);
- A natureza jurídica da (sub)delegação (opção pela tese que
defende que a transferir-se algo para o delegado é o exercício da
competência, não a competência propriamente dita), sendo que a
delegação cria entre o delegante e o delegado uma relação jurídica
nova (cfr. artigos 36.o/1, 49.o e 50.o do CPA). - A substituição da
relação de hierarquia por uma relação de delegação de poderes; os
poderes do delegante (cfr. artigo 49.o do CPA).
- Os limites à atividade discricionária colocados pelos princípios
gerais da atividade administrativa, designadamente, pelos princípios
da igualdade e da proporcionalidade (cfr. artigos 266.o/ 2 da CRP e
6.o e 7.o do CPA); princípios esses entendidos como parâmetros
normativos autónomos (ou critérios) da decisão administrativa
discricionária e do respetivo controlo jurisdicional; sob pena de
vício material de violação de lei em sentido estrito (cfr. artigo
163.o/1 do CPA); o dever de fundamentação nos termos do artigo
152.o/1/d) do CPA.
2.
- Princípio da imparcialidade e respetivas garantias (cfr. artigos
266.o/2 da CRP e artigos 9.o e 69.o a 76.o do CPA); o princípio da
imparcialidade está ligado essencialmente a uma postura da
Administração, impondo aos órgãos e agentes administrativos uma
atuação de forma isenta e equidistante relativamente aos interesses
em jogo; vício material de violação de lei (violação do princípio da
imparcialidade); anulabilidade (cfr. artigo 163.o/1 do CPA).
- Circunstância justificativa de escusa ou suspeição (cfr. artigo
73.o/1/d) do CPA);
- Motivo de escusa (cfr. artigo 74.o e artigos 70.o/4/5/6, 71.o e 72.o
ex vi artigo 75.o/1/3 do CPA); decisão de procedência da escusa
(suspensão e substituição) ou de improcedência (continuação da
atividade); os atos em que tiverem intervindo titulares de órgãos ou
agentes em relação aos quais tenha havido decisão positiva de
suspeição ou de escusa são anuláveis nos termos gerais (cfr. artigo
163.o/1 do CPA) sem prejuízo do disposto no artigo 76.o/4 do
CPA.
DIREITO ADMINISTRATIVO I
EXAME PARCELAR
22 – 01 – 2016

(3 valores)
1. Comente a seguinte afirmação:
“O Direito Administrativo da União Europeia não trouxe apenas alterações às
funções e natureza das entidades público-administrativas, trouxe também
alterações ao nível dos principais institutos administrativos”.

COLAÇO ANTUNES, A Ciência Jurídica Administrativa, Coimbra, Almedina, 2014, página 151.

(4 valores)
2. A Porto Vivo, Sociedade de Reabilitação da Baixa Portuense, S.A. é uma empresa
pública sob a forma de sociedade comercial.
a) Qual a sua natureza jurídica?
b) Privatização na forma de organização ou na forma de atividade?
Fundamente as suas respostas.

(6 valores)
3. Distinga sucintamente entre:
a) Administração independente e Administração autónoma;
b) Poderes vinculados e poderes discricionários;
c) Direitos subjetivos e interesses legalmente protegidos.

(3 valores)
4. Imagine que Brálio António, alarmado com o estado de ruína de um muro
situado numa das ruas centrais da cidade de Ponta Ruiva, apresentou, junto da
Câmara Municipal, um requerimento em que solicitava a demolição do referido
muro por constituir perigo para a segurança das pessoas.

A Câmara Municipal indeferiu o pedido, argumentando que a competência para


decidir sobre o mesmo estava delegada no Presidente da Câmara, que a havia por
sua vez subdelegado no vereador responsável pelo pelouro da Fiscalização e
Proteção Civil.

Que considerações lhe suscita a resposta da Câmara Municipal ao pedido de Brálio?


1
(3 valores)
5. No uso das suas competências próprias, o Presidente da Câmara Municipal de
Aljezur decidiu embargar uma obra por violação dos regulamentos municipais.

O engenheiro Joaquim Augusto, funcionário da Câmara Municipal, apresentou


junto do tribunal administrativo competente, ação para perda de mandato,
alegando que a referida decisão havia sido motivada por interesses próprios da
filha do Presidente da Câmara, proprietária do terreno vizinho, e que, na verdade,
a construção embargada respeitava as disposições aplicáveis.

Comente o argumento apresentado pelo “impertinente” engenheiro.

Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado, sugere-
-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também sabe, o
ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3 horas, sem consulta, salvo legislação adequada.
O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da prova (1 valor).

2
DIREITO ADMINISTRATIVO I
EXAME PARCELAR
22 – 01 – 2016
Critérios de correção

1.
⎯ Modelação do Direito Administrativo pela ordem jurídica comunitária: a
europeização dos direitos administrativos nacionais (distinção face ao Direito
Administrativo Europeu); o ordenamento comunitário como ordenamento
jurídico geral; o interesse público europeu; o Direito Administrativo Europeu
(características).
⎯ O Direito Administrativo de agora não se define (exclusivamente) por um
critério estatutário, uma vez que abrange a atividade de todas as entidades,
públicas ou privadas, que exercem funções administrativas. Define-se por um
critério que tem por referência a atividade desenvolvida à maneira do que tem
vindo a ser defendido pelo Tribunal de Justiça e sua jurisprudência (a figura
comunitária do organismo de direito público).
⎯ As relações entre a Administração Comunitária e as Administrações Públicas
nacionais; a aproximação entre os sistemas administrativos de tipo francês e de
tipo britânico (em especial, o privilégio da execução prévia no novo CPA); o ato
administrativo transnacional.

2.
a)
⎯ As formas de organização da empresa pública (cfr. artigo 13.º/1 do Decreto-Lei
n.º 133/2013, de 3 de outubro); a empresa pública sob a forma de sociedade
comercial como uma pessoa coletiva privada sob influência pública dominante
(cfr. artigos 5.º/1 e 9.º do Decreto-Lei n.º 133/2013, de 3 de outubro); os critérios
de qualificação de uma pessoa coletiva pública (iniciativa da criação, fim
prosseguido, capacidade jurídica, regime jurídico, subordinação ou não ao
Estado, obrigatoriedade da sua existência, exercício ou não da função
administrativa); o critério misto da iniciativa da criação e do fim prosseguido
(Cfr. Colaço Antunes, Existe un criterio para la persona colectiva de derecho
público?, in “Revista de Administración Pública”, n.º 183, Madrid,
setembro/dezembro (2010), páginas 51 a 71); os diferentes efeitos da influência

3
pública dominante na qualificação da natureza jurídica das empresas e nas
fundações públicas.

b)
⎯ A privatização na forma de organização e na forma de atividade. Do processo
de privatização formal da Administração Pública distingue-se a
despublicização ou privatização material de tarefas.
⎯ Fundamentos da reserva constitucional (insuficiente e enfraquecida?) de
Direito Administrativo e das formas públicas de organização.
⎯ A sujeição das empresas públicas a um regime de Direito Administrativo
privado. As especificidades do regime das empresas públicas sob a forma de
sociedades comerciais.

3.
a)
⎯ A Administração Independente (noção). Do Estado Social ao Estado Mínimo
Regulador. Tipos e exemplos de entidades administrativas independentes cfr.
artigo 267.º/3 CRP). Em especial, as autoridades reguladoras independentes
(cfr. Lei n.º 67/2013, de 28 de agosto). Características: nomeação,
independência, mandato, inamobilidade e irresponsabilidade dos seus
titulares; a sua atividade não está sujeita a superintendência nem a controlo de
mérito; funções de consulta, de informação e de proposta ao Governo, assim
como funções de administração ativa, incluindo poderes regulamentares e
sancionatórios; os limites referem-se à amplitude dos seus poderes bem como
ao número e extensão dos setores administrativos confiados; os mecanismos de
prestação de contas previstos na Lei n.º 67/2013, de 28 de agosto.
⎯ Administração autónoma (noção); descentralização em sentido próprio (cfr.
artigos 267.º/1/2 e 237.º da CRP); autogoverno e autodeterminação como
características próprias; autarquias locais e associações públicas; tutela de
legalidade (cfr. artigos 199.º, alínea d) e 242.º da CRP, Lei n.º 27/96, de 1 de
agosto e artigo 45.º da Lei n.º 2/2013, de 10 de janeiro).

b)
⎯ Vinculação e discricionaridade como as duas formas típicas pelas quais a lei
modela a atividade da Administração Pública.

4
⎯ Na competência administrativa vinculada a verificação da hipótese legal
desencadeia, ao invés da competência discricionária, necessariamente uma
certa solução administrativa, a prevista na estatuição legal. Nesta situação, a
Administração não tem poder de escolha de soluções, tomando a solução
prevista pelo legislador.
⎯ O poder discricionário como um poder intrinsecamente jurídico; a vinculação
quanto ao fim e à competência; a discricionaridade como a escolha da melhor
solução possível para a prossecução do interesse público sem se divorciar dos
direitos e interesses legítimos; o interesse público como fundamento e limite da
discricionaridade administrativa; a ponderação dos vários interesses
secundários concorrentes como o momento essencial da realização-
concretização do interesse público primário; discricionaridade quanto à decisão
de praticar ou não o ato administrativo, quanto ao momento da sua prática e
quanto ao seu conteúdo; limites e controlo jurisdicional do poder
discricionário (lei, princípios constitucionais relati vos ao exercício
da atividade administrativa, auto vinculação); os vícios do ato
administrativo discricionário (vícios materiais de violação de lei;
vícios orgânicos; vícios de forma; desvio de poder); o vício material
de desvio de poder e suas consequências jurídicas; os princípios gerais
da atividade administrativa, como parâmetros normativos autónomos (ou
critérios) da decisão administrativa discricionária e do respetivo controlo
jurisdicional.

c)
⎯ Direitos subjetivos: tipos, proteção direta e imediata, tutela jurisdicional
efetiva, exemplos.
⎯ Interesses legalmente protegidos: proteção jurídica indireta ou reflexa,
dependência da realização do próprio interesse público, tutela jurisdicional
mais restrita, exemplos.
⎯ Tendencial aproximação na CRP e na lei e até por alguma doutrina.

4.
⎯ A delegação de poderes como desconcentração derivada de poderes (cfr. artigo
267.º/1/2 da CRP e artigos 36.º e 44.º e seguintes do CPA);
⎯ Natureza jurídica da (sub)delegação (opção pela tese que defende que a
transferir-se algo para o delegado é o exercício da competência, não a

5
competência propriamente dita), sendo que a delegação cria entre o delegante e
o delegado uma relação jurídica nova (cfr. artigos 36.º/1, 49.º e 50.º do CPA).
⎯ Competência da Câmara Municipal (cfr. artigo 33.º/1/w) da Lei n.º 75/2013, de
12 de setembro), delegável no seu Presidente (cfr. artigo 34.º/1, a contrario da
Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro); requisitos da delegação de poderes (cfr.
artigos 44.º/1 e 47.º do CPA); e subdelegável no vereador (cfr. artigo 34.º/1, a
contrario da Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro); requisitos da subdelegação de
poderes (cfr. artigos 46.º e 47.º do CPA CPA); em cada momento só há um órgão
competente; a Câmara Municipal deveria ter enviado oficiosamente o pedido
para o órgão competente (cfr. artigo 41.º/1 do CPA), sem prejuízo da
possibilidade de avocar a competência, cujo exercício estava subdelegado no
vereador, ou de revogar o ato de delegação (cfr. artigos 49.º/2 e 50.º/a) do CPA);
os atos praticados pela Câmara Municipal são anuláveis por vício (orgânico) de
incompetência relativa (cfr. artigo 163.º/1 do CPA).

5.

⎯ Princípio da imparcialidade e respetivas garantias (cfr. n.º 2 do artigo 266.º da


CRP e artigos 9.º e 69.º e seguintes do CPA); o princípio da imparcialidade está
ligado essencialmente a uma postura procedimental da Administração Pública,
impondo aos órgãos e agentes administrativos uma atuação de forma isenta e
equidistante relativamente aos interesses em jogo; circunstância justificativa
de impedimento (cfr. alínea b) do n.º 1 do artigo 69.º do CPA): comunicação do
impedimento (cfr. artigo 70.ºdo CPA); suspensão da atividade (cfr. artigo 71.º do
CPA); declaração do impedimento e substituição (cfr. artigo 72.º do CPA); os
atos em que tiverem intervindo titulares de órgãos ou agentes impedidos são
anuláveis nos termos gerais (cfr. 76.º/1 e 163.º do CPA); vício material de
violação de lei (violação do princípio da imparcialidade); anulabilidade (cfr.
artigo 163.º/1 do CPA).
⎯ O princípio da prossecução do interesse público (cfr. artigo 266.º/1 CRP e 4.º do
CPA); vício material de desvio de poder; nulidade (cfr. artigo 161.º/2/e) do CPA).
⎯ Tutela de legalidade, meramente inspetiva (vide artigos 199.º/d), 242.º/1, 288.º,
alínea n) da CRP e 2.º, 3.º e 5.º da Lei n.º 27/96, de 1 de agosto); causa de perda
de mandato (cfr. n.º 2 do artigo 8.º e artigo 11.º da Lei n.º 27/96, de 1 de agosto).

6
D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V O II

EXAME PARCELAR

14 - 06 - 2016

1. Comente de forma fundamentada as seguintes afirmações:

a) “Aquilo que caracteriza uma operação material é justamente a produção


exclusiva de efeitos de facto, o que se traduz na alteração da realidade
física ou material”. (3 valores)

b) “O poder discricionário também pode ser exercido por via


regulamentar”. (3 valores)

c) “Nem sempre o subalterno pode ser responsabilizado pelos atos que


pratica no exercício das suas funções”. (3 valores)

2. Imagine que foi emitida, pela Direção Regional de Economia, Licença de


Posto de Abastecimento de Combustíveis, para o período de cinco anos, ao
posto do Sr. Joaquim situado na margem da EN 1 ao km 25, em Vila Franca de
Xira.
A D. Idalina, proprietária de um posto de combustíveis vizinho, situado
naquela estrada nacional, pretende impugnar a referida licença, invocando: i)
que por altura da sua emissão a entidade competente era a Infraestruturas de
Portugal, S.A.; ii) que não foi ouvida como se impunha; iii) que os requisitos de
que a lei faz depender a atribuição daquele tipo de licenças não foram
preenchidos; iv) que o período de 5 anos da licença correspondia ao máximo
admitido por lei.

a) Identifique e qualifique as formas de atuação administrativa relevantes


referidas na hipótese. (2 valores)
b) Identifique os vícios e correspondentes sanções. (2,5 valores)
c) Quais os mecanismos de reação (administrativa e contenciosa) de que a D.
Idalina se poderia servir? (2 valores)
d) Quais as vantagens do recurso aos mecanismos de impugnação
administrativa face ao recurso aos tribunais? (2,5 valores)

Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado,
sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também
sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2:30h, sem consulta, salvo legislação
administrativa. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da
prova (1 valor).
D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V O II

EXAME PARCELAR – CRITÉRIOS DE CORREÇÃO 14 -

06 - 2016

1.
a)
- As formas jurídicas de atuação administrativa, soft administration, e
operações materiais: traços distintivos;
- Noção e exemplos de operações materiais e a necessidade de um título que
as legitime em virtude da sua relação com o princípio da legalidade;
- A vinculação aos princípios gerais da atividade administrativa (cfr. artigos
266.º da CRP e 3.º e seguintes do CPA).
- Manifestações da relevância jurídica das operações materiais: a
responsabilidade civil administrativa e as ações de condenação à adoção ou
abstenção de comportamentos pela Administração Pública e por particulares e
de condenação da Administração Púbica à adoção das condutas necessárias ao
restabelecimento de direitos ou interesses violados (cfr. artigo 37.º/1/h)/i)/ k) do
CPTA).

b)
- A v inculação e a discricionariedade como as duas formas típicas pelas
quais a lei modela a atividade da Administração Pública; o poder
discricionário como um poder intrinsecamente jurídico; a vinculação quanto ao
fim e à competência; os limites ao poder discricionário (lei, princípios
constitucionais relativos ao exercício da atividade administrativa, auto
vinculação); a discricionariedade como a escolha da melhor solução possível
para a prossecução do interesse público sem se divorciar dos direitos e
interesses legítimos; o regulamento administrativo; a relação entre lei e
regulamento (cfr. artigos 112.º/5/6/7 da CRP e 135.º e 136.º do CPA); os
regulamentos complementares, de desenvolvimento e integrativos; os
regulamentos independentes e autónomos; os regulamentos delegados ou
autorizados (nos termos limitados em que são admitidos); em suma, a
discricionariedade em matéria de poder regulamentar coloca-se em relação a
estes regulamentos, com especial ênfase para os regulamentos independentes
e autónomos.

c)
- A responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e culposos;
regime aplicável (Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do
Estado e demais Entidades Públicas por Atos de Gestão Pública aprovado pela
Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro); pressupostos da responsabilidade delitual
(pessoal) ou por factos ilícitos e culposos (cfr. artigo 7.º a 10.º da Lei n.º
67/2007, de 31 de dezembro): facto voluntário; ilicitude; culpa; dano; nexo de
causalidade.
- As pessoas coletivas públicas ou privadas que exerçam funções
administrativas respondem sempre pelos prejuízos resultantes dos atos
ilícitos e culposos dos seus órgãos ou agentes, tenham os factos sido praticados
com dolo, culpa leve ou culpa grave (cfr. artigos 7.º/1 e 8.º/1/2 da Lei n.º
67/2007, de 31 de dezembro).
- No entanto, a pessoa coletiva pública, quando satisfaça uma indemnização
com fundamento em responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e
culposos deve por sua vez exigir ao titular do órgão ou agente que praticou o
ato que lhe pague o montante da indemnização suportada, exercendo assim o
direito de regresso (cfr. artigos 6.º e 8.º/3 da Lei n.º 67/2007, de 31 de
dezembro).
- O direito de regresso existe quando o titular do órgão, funcionário ou
agente tenha atuado dolosamente ou tenha procedido com diligência e zelo
manifestamente inferiores àqueles a que se achava obrigado em razão do
cargo.
- O direito de regresso só não existe nas seguintes situações: (i) culpa leve do
autor (cfr. artigos 7.º/1/2 e 8.º/3 da Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro); (ii)
funcionamento anormal do serviço (cfr. artigo 7.º/3/4 da Lei n.º 67/2007, de 31
de dezembro); (iii) exclusão da responsabilidade civil dos subalternos no
cumprimento de comandos hierárquicos mediante a verificação dos seguintes
pressupostos de aplicação cumulativa (cfr. artigo 271.º/1/2 da CRP): 1.º) que se
trate de um comando hierárquico que reúna três características: seja
proveniente de legítimo superior hierárquico, incida sobre matéria de serviço;
não se traduza na prática de um crime; 2.º) que o subalterno tenha dele
previamente reclamado ou exigido a sua transmissão ou confirmação por
escrito (direito de respeitosa representação).
- Outra questão é a de saber se o subalterno pode vir ao processo (contra ele
proposto) invocar a sua específica causa de exclusão de responsabilidade civil
como fundamento de improcedência da ação indemnizatória.

2.
a ) Ato administrativo (cfr. artigo 148.º CPA): caráter regulador e produção de
efeitos externos numa situação individual e concreta. O ato administrativo é uma
estatuição autoritária, um comando jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que
produz, por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste na
criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na determinação
jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora o direito para um caso
concreto. Ato administrativo primário, de conteúdo positivo. Licença ou
autorização constitutiva, por contraposição às autorizações permissivas. Produz
efeitos jurídicos favoráveis para o seu destinatário e desfavoráveis perante
terceiros (D. Idalina). A noção de relação jurídica poligonal. A licença foi sujeita
pelo seu autor a uma cláusula acessória, mais precisamente, a termo final (cfr.
artigo 149.º do CPA).

b)
- Vício orgânico de incompetência (absoluta – nulidade, artigo 161.º, n.º 2,
alínea b) do CPA; relativa – anulabilidade, artigos 163.º, n.º 1 do CPA).
- O conceito de interessado para efeitos do CPA (cfr. artigo 68.º do CPA);
audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 121.º e 122.º do CPA); o princípio da
participação (cfr. artigos 12.º do CPA e 2.º e 267.º/5 da CRP); vício de forma, por
preterição de uma formalidade essencial, anulabilidade (artigos 163.º CPA).
- Vício material de violação de lei, por violação do regime aplicável –
anulabilidade (cfr. artigo 163.º CPA).
- Não há vícios de mérito. A definição do tempo da licença é da
discricionariedade da Administração Pública (quanto ao quando), até ao limite
máximo fixado na lei (5 anos). Os critérios de aposição de cláusulas acessórias (cfr.
artigo 149.º do CPA).

c)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e recurso
hierárquico (cfr. artigos 184.º/1/a), 186.º/1/a), 188.º/1, 189.º/2, 190.º/3, 192.º/2, 197.º
do CPA); os condicionalismos da revogação de atos constitutivos de direitos (cfr.
artigo 167.º/2 do CPA.
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio, da
interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do
CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação administrativa
potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA; a
suscetibilidade de produção de efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como
critério de recorribilidade do ato administrativo; a licença como ato impugnável
nos termos dos artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA.
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo positivo, é
adequado interpor um pedido de impugnação, deduzido sob a forma da ação
administrativa (cfr. artigos 37.º, n.º 1, alínea a) e 50.º e seguintes do CPTA).
- Do carácter não suspensivo do pedido de impugnação (cfr. artigo 50.º/2 do
CPTA), resulta a necessidade premente de tutela cautelar (cfr. artigos 112.º/1 do
CPTA e 268.º/4 da CRP). A providência cautelar conservatória de suspensão de
eficácia do ato administrativo (cfr. artigos 112.º/2/a) do CPTA). A proibição de
executar o ato administrativo (cfr. artigo 128.º do CPTA).

d)
- A suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.º/3 do CPA e 59.º/4/5 do CPTA e no caso
de impugnação administrativa necessária a suspensão da eficácia do ato (cfr.
artigo 189.º/1 do CPA).
- O caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional;
- A apreciação da legalidade e do mérito (cfr. artigos 185.º/3 do CPA e 3.º/1 do
CPTA): os regimes da revogação e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.º e
seguintes do CPA).
- A desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento de custas judiciais.
- Simplicidade, informalidade, celeridade e quase gratuitidade.
D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V O I/ II

EXAME FINAL

14 - 06 - 2016

(3 valores)
1. Comente, criticamente, a seguinte afirmação:

“O dever de boa administração, agora consagrado no artigo 5.º do CPA,


constitui uma das manifestações da influência do Direito Europeu no Direito
Administrativo nacional”.

(6 valores)
2. Revele a importância teorético-prática da distinção entre:

a) Entidades administrativas independentes e concessionários;


b) Tutela de mérito e tutela de legalidade.

3. Imagine que foi emitida, pela Direção Regional de Economia, Licença de


Posto de Abastecimento de Combustíveis, para o período de cinco anos, ao
posto do Sr. Joaquim situado na margem da EN 1 ao km 25, em Vila Franca de
Xira.
A D. Idalina, proprietária de um posto de combustíveis vizinho, situado
naquela estrada nacional, pretende impugnar a referida licença, invocando: i)
que por altura da sua emissão a entidade competente era a Infraestruturas de
Portugal, S.A.; ii) que não foi ouvida como se impunha; iii) que os requisitos de
que a lei faz depender a atribuição daquele tipo de licenças não foram
preenchidos; iv) que o período de 5 anos da licença correspondia ao máximo
admitido por lei.

a) Qualifique as figuras organizatórias referidas na hipótese. (1 valor)


b) Identifique e qualifique as formas de atuação administrativa relevantes
referidas na hipótese. (2 valores)
c) Identifique os vícios e correspondentes sanções. (2,5 valores)
d) Quais os mecanismos de reação (administrativa e contenciosa) de que a
D. Idalina se poderia servir? (2 valores)
e) Quais as vantagens do recurso aos mecanismos de impugnação
administrativa face ao recurso aos tribunais? (2,5 valores)

Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado,
sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também
sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3:00h, sem consulta, salvo legislação
administrativa. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da
prova (1 valor).
D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V O I / II

EXAME FINAL – CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

14 - 06 - 2016

1.
- A modelação do Direito Administrativo pela ordem jurídica comunitária: a
europeização dos direitos administrativos nacionais (distinção face ao Direito
Administrativo Europeu); o ordenamento comunitário como ordenamento
jurídico geral; o interesse público europeu; o Direito Administrativo Europeu
(características).
- As relações entre a Administração Comunitária e as Administrações
Públicas nacionais; a aproximação entre os sistemas administrativos de tipo
francês e de tipo britânico (em especial, o privilégio da execução prévia no novo
CPA).
- A cultura da Administração de resultado como uma das manifestações da
europeização dos direitos administrativos nacionais; os critérios de eficiência e
de eficácia; o dever de boa administração na Carta Europeia dos Direitos
Fundamentais (cfr. artigo 41.º); o dever de boa administração como a exigência
de uma atuação correta (de acordo com as normas e princípios aplicáveis),
eficiente e eficaz (cfr. artigo 5.º do CPA).

2.
a)
- O Estado mínimo regulador.
- O artigo 267.º/3 da CRP; as entidades administrativas independentes
desprovidas de personalidade jurídica e com funções de garantia dos direitos
fundamentais (por exemplo, a Comissão de Acesso aos Documentos
Administrativos), e as autoridades reguladoras independentes, que são
pessoas coletivas públicas com funções de regulação e/ou de supervisão.
Características: nomeação, independência, mandato, inamobilidade e
irresponsabilidade dos seus titulares; a sua atividade não está sujeita a
superintendência nem a controlo de mérito; funções de consulta, de
informação e de proposta ao Governo, assim como funções de administração
ativa, incluindo poderes regulamentares e sancionatórios; os limites referem-
se à amplitude dos seus poderes bem como ao número e extensão dos sectores
administrativos confiados. São institutos públicos de regime especial (cfr.
artigo 48.º/1/f) da Lei Quadro dos Institutos Públicos e Lei n.º 67/2013, de 28
de agosto). Integram a Administração Independente.
- Os concessionários como pessoas coletivas privadas às quais
Administração Pública delegou determinadas tarefas de natureza pública;
forma de privatização quanto à execução da tarefa; os concessionários podem
dispor de poderes regulamentares públicos, têm capacidade para a prática de
atos administrativos, estão sujeitos a controlo e fiscalização pública (cfr. artigo
267.º/6 da CRP), respondem nos termos do regime jurídico da responsabilidade
civil extracontratual, estão sujeitos à jurisdição administrativa (cfr. artigo
4.º/1/d) do ETAF), integram a Administração Pública em sentido material ou
funcional, é-lhes aplicável, no exercício de poderes administrativos de
autoridade e quando disposições de Direito Administrativo os regulem
especificamente, o Código do Procedimento Administrativo, com exceção da
parte respeitante à regulamentação dos órgãos administrativos (cfr. artigo
2.º/1/2 do CPA).

b)
- A tutela administrativa consiste no conjunto dos poderes (intersubjetivos) de
intervenção de uma pessoa coletiva na gestão de outra pessoa coletiva, a fim de
assegurar a legalidade ou o mérito da sua atuação; espécies de tutela (tutela de
legalidade e tutela de mérito) quanto ao fim; tutela integrativa, inspetiva,
sancionatória, revogatória e substitutiva quanto ao conteúdo; tutela de
legalidade/Administração Autónoma; tutela de mérito/Administração Indireta;
artigo 199.º/d) d CRP.

3.
a)
- Direção Regional de Economia: administração direta periférica do Estado;
desprovida de personalidade jurídica; sujeição a poderes de direção;
- Infraestruturas de Portugal, S.A.: empresa pública sob a forma de
sociedade anónima (pessoa coletiva privada sujeita a influência pública
dominante nos termos do artigo 9.º/1 do Decreto-Lei n.º 133/2013, de 3 de
outrubro); Administração Indireta; sujeição a tutela de legalidade e de mérito
e a superintendência.

b ) Ato administrativo (cfr. artigo 148.º CPA): caráter regulador e produção de


efeitos externos numa situação individual e concreta. O ato administrativo é uma
estatuição autoritária, um comando jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que
produz, por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste na
criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na determinação
jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora o direito para um caso
concreto. Ato administrativo primário, de conteúdo positivo. Licença ou
autorização constitutiva, por contraposição às autorizações permissivas. Produz
efeitos jurídicos favoráveis para o seu destinatário e desfavoráveis perante
terceiros (D. Idalina). A noção de relação jurídica poligonal. A licença foi sujeita
pelo seu autor a uma cláusula acessória, mais precisamente, a termo final (cfr.
artigo 149.º do CPA).

c)
- Vício orgânico de incompetência (absoluta – nulidade, artigo 161.º, n.º 2,
alínea b) do CPA; relativa – anulabilidade, artigos 163.º, n.º 1 do CPA).
- O conceito de interessado para efeitos do CPA (cfr. artigo 68.º do CPA);
audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 121.º e 122.º do CPA); o princípio da
participação (cfr. artigos 12.º do CPA e 2.º e 267.º/5 da CRP); vício de forma, por
preterição de uma formalidade essencial, anulabilidade (artigos 163.º CPA).
- Vício material de violação de lei, por violação do regime aplicável –
anulabilidade (cfr. artigo 163.º CPA).
- Não há vícios de mérito. A definição do tempo da licença é da
discricionariedade da Administração Pública (quanto ao quando), até ao limite
máximo fixado na lei (5 anos). Os critérios de aposição de cláusulas acessórias (cfr.
artigo 149.º do CPA).

d)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e recurso
hierárquico (cfr. artigos 184.º/1/a), 186.º/1/a), 188.º/1, 189.º/2, 190.º/3, 192.º/2, 197.º
do CPA); os condicionalismos da revogação de atos constitutivos de direitos (cfr.
artigo 167.º/2 do CPA.
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio, da
interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do
CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação administrativa
potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA; a
suscetibilidade de produção de efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como
critério de recorribilidade do ato administrativo; a licença como ato impugnável
nos termos dos artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA.
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo positivo, é
adequado interpor um pedido de impugnação, deduzido sob a forma da ação
administrativa (cfr. artigos 37.º, n.º 1, alínea a) e 50.º e seguintes do CPTA).
- Do carácter não suspensivo do pedido de impugnação (cfr. artigo 50.º/2 do
CPTA), resulta a necessidade premente de tutela cautelar (cfr. artigos 112.º/1 do
CPTA e 268.º/4 da CRP). A providência cautelar conservatória de suspensão de
eficácia do ato administrativo (cfr. artigos 112.º/2/a) do CPTA). A proibição de
executar o ato administrativo (cfr. artigo 128.º do CPTA).
e)
- A suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.º/3 do CPA e 59.º/4/5 do CPTA e no caso
de impugnação administrativa necessária a suspensão da eficácia do ato (cfr.
artigo 189.º/1 do CPA).
- O caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional;
- A apreciação da legalidade e do mérito (cfr. artigos 185.º/3 do CPA e 3.º/1 do
CPTA): os regimes da revogação e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.º e
seguintes do CPA).
- A desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento de custas judiciais.
- Simplicidade, informalidade, celeridade e quase gratuitidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO I /II

Exame Final
Época de Recurso

12 / 07 / 2016

(4 valores)
1. Explique as razões que, a dada altura, vieram perturbar os critérios de distinção
entre as pessoas coletivas públicas e as pessoas coletivas privadas, com reflexos no
entendimento de Administração pública.

(4,5 valores)
2. Considere as seguintes situações:
a) Despacho do Diretor-Geral dos Assuntos Farmacêuticos, exarado ao abrigo de
uma competência concorrente com o Ministro da Saúde, que ordena o
encerramento de um posto de medicamentos;
b) Despacho do Ministro da Administração Interna que aplica uma sanção
disciplinar a um agente da PSP;
c) Contrato de arrendamento celebrado entre a Câmara Municipal do Porto e a
Senhora Ofélia.
Justificando devidamente, diga se alguma das situações tem subjacente um ato que
o destinatário possa impugnar imediatamente junto dos tribunais administrativos.

(10,5 valores)
3.
A Adelaide apresentou junto da sua entidade empregadora – o Município
da Trofa –, um pedido de pagamento do trabalho extraordinário prestado em
dias de descanso complementar e feriados.

Página 1 de 11
Dentro do prazo legal, foi-lhe notificado o ofício que indeferiu o
peticionado, por o trabalho extraordinário prestado não ter sido devidamente
autorizado como a lei o impõe.
Adelaide ficou surpreendida pelo sentido da decisão e pela justificação
apresentada, uma vez que tem conhecimento que a Câmara Municipal não
diligenciou junto da sua Divisão de Recursos Humanos, no sentido de perceber
se esta autorização teria ou não sido concedida.
Tendo solicitado para consultar o processo por forma a confirmar as suas
suspeitas, este pedido foi-lhe recusado.

a) Qualifique as figuras organizatórias referidas na hipótese. (2 valores)

b) Identifique e qualifique as formas de atuação administrativa relevantes


referidas na hipótese. (2 valores)

c) Identifique o(s) vício(s) e correspondente(s) sanção(ões). (2 valores)

d) Quais os mecanismos de reação (administrativa e contenciosa) de que a


Adelaide se poderia servir? (2,5 valores)

e) A Adelaide tem direito a consultar o seu processo? O que poderia fazer em


face da recusa de consulta do seu processo? (2 valores)

Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado, sugere-
se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também sabe, o
ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3 horas, sem consulta, salvo legislação adequada. O
professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da prova (1 valor).
Página 2 de 11
DIREITO ADMINISTRATIVO I e II

Exame Final / Época de Recurso

12 / 07 / 2016

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

1. Sendo certo que o problema não é novo, começou a colocar-se com mais agudeza
a partir da segunda metade do século passado, quando as pessoas coletivas públicas
primárias começaram a criar entidades instrumentais que só detinham
parcialmente os predicados da publicidade, a par da criação de pessoas jurídicas
atípicas de direito privado. Deu-se, assim, início ao processo de privatização da
Administração nas suas formas de organização.

O interesse principal da distinção entre pessoas coletivas públicas e pessoas


coletivas privadas reside na identificação do regime jurídico aplicável (público ou
privado) e da respetiva jurisdição competente.

No que se refere aos critérios qualificatórios da publicidade do ente, inclinamo-nos


para um critério misto, com relevo para o da iniciativa pública e, sobretudo, do
critério teleológico do interesse público, sendo que ultimamente tem prevalecido o
critério da capacidade jurídica (cfr. os artigos 2.º, 135.º e 148.º do CPA e o artigo
4.º/ 1/ d) do ETAF). Isto sem prejuízo de entendermos que é necessário uma
distinção ontológica entre o mundo das pessoas coletivas públicas e o das pessoas
coletivas privadas, em vez de uma conceção objetivo-funcional de Administração
pública.

Para maiores desenvolvimentos, cfr. COLAÇO ANTUNES, A Ciência Jurídica


Administrativa, Coimbra, 2016, p. 117 e segs.

2.

a) Coloca-se aqui, atendendo à competência concorrente, o problema da


“definitividade” vertical do ato e, nessa medida, do recurso hierárquico
necessário (artigo 184.º e segs. do CPA) como pressuposto processual da ação

Página 3 de 11
administrativa, sendo que no ensino desta matéria se advogou, com base no
artigo 268.º/ 4 da CRP e nos artigos 185.º/2 do CPA e 59.º/ 4/ 5 do CPTA, a
impugnação (administrativa) facultativa como regra geral; pedido de
anulação, declaração de nulidade deduzido sob a forma da ação adminis-
trativa (cfr. artigos 50.º e segs. do CPTA e 4.º/1/ b) do ETAF);

b) Ato administrativo em sentido próprio, imediatamente impugnável junto dos


tribunais administrativos (artigos 148.º do CPA, 51.º/1 do CPTA e 268.º/4 da
CRP); pedido de anulação e de declaração de nulidade deduzido sob a forma
da ação administrativa (cfr. artigos 50.º e segs. do CPTA e 4.º/1/ b) do ETAF);

c) Ato de gestão privada (contrato pelo qual alguém se obriga a proporcionar a


outrem o gozo temporário de coisa imóvel mediante retribuição – renda –,
artigos 1022.º e 1023.º do Código Civil.

3.
a)
- Município da Trofa; autarquia local; município; pessoa coletiva pública
primária, de base territorial; descentralização em sentido próprio (cfr. artigos 6.º,
235.º, 236.º/1, 237.º e 242.º da CRP); características (autogoverno e
autodeterminação); Administração Autónoma Territorial;
- Câmara Municipal da Trofa: órgão executivo, colegial do município (cfr. artigo
239.º da CRP);
- Divisão de recursos humanos: princípio da desconcentração; administração
direta do município.

b)
- Ato administrativo (cfr. artigo 148.º CPA): caráter regulador e produção de
efeitos externos numa situação individual e concreta. O ato administrativo é uma
estatuição autoritária, um comando jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que
produz, por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste na

Página 4 de 11
criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na determinação jurídica
de uma coisa, definindo de forma inovadora o direito para um caso concreto. Ato
administrativo primário, de conteúdo negativo, que indefere uma pretensão
deduzida pelo interessado (a Adelaide) por requerimento inicial (artigo 102.º do
CPA).

c)
- Fundamentação insuficiente; vício formal por preterição de formalidade
essencial (cfr. artigos 268.º/4 da CRP e 152.º/1/c) e 153.º do CPA); anulabilidade,
artigo 163.º, n.º 1 do CPA.
- A fase de instrução; o princípio do inquisitório (cfr. artigos 58.º, 115.º e 116.º
do CPA): à Administração Pública cabe uma atitude procedimental ativa que se
manifesta, entre outros aspetos, no dever de averiguar oficiosamente todos os factos
cujo conhecimento seja relevante para a justa e célere decisão do procedimento,
podendo para o efeito recorrer a todos os meios de prova admitidos em Direito; a
completude do material instrutório; vício de forma-procedimental; anulabilidade (cfr.
artigo 163.º do CPA).

d)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e recurso
hierárquico (cfr. artigos 184.º/1/a), 186.º/1/a), 188.º/1, 189.º/2, 190.º/3, 192.º/2, 197.º
do CPA); os condicionalismos da revogação de atos constitutivos de direitos (cfr.
artigo 167.º/2 do CPA.
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio, da interposição
de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do CPTA); a
regra geral é hoje a da impugnação administrativa potestativa/facultativa, salvo
previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA; a suscetibilidade de produção de
efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade do ato
administrativo;
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo negativo é
adequado interpor um pedido de condenação à prática do ato legalmente devido,
deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos 37.º, n.º 1, alínea b), 66.º,
67.º/1/b) e 69.º/2 do CPTA).

Página 5 de 11
e)
- O direito à informação procedimental, em especial o direito à consulta do
processo pelos seus interessados (cfr. artigos 268.º/1 da CRP e 11.º e 83.º do CPA); a
intimação para prestação de informações, consulta de processos ou passagem de
certidões (cfr. artigos 36.º/1/d) e 104.º e seguintes do CPTA).

Página 6 de 11
DIREITOADMINISTRATIVOII

Exame Parcelar

Época de Recurso

12-07-2016

(5 valores)
1. Comente a seguinte citação:
“Apesar da sua amplitude em termos orgânicos (…) e até procedimentais, o acto
impugnável ou processual não pode deixar de corresponder, no essencial, à noção
de acto regulador (…)”.
COLAÇO ANTUNES, A Teoria do Acto e a Justiça Administrativa, Coimbra, 2015, p. 124.

(4 valores)
2. Distinga sucintamente regulamentos administrativos com eficácia interna e
regulamentos administrativos com eficácia externa.

(10 valores)
3.
Adelaide apresentou junto da sua entidade empregadora – o Município da
Trofa –, um pedido de pagamento do trabalho extraordinário prestado em dias
de descanso complementar e feriados.
Dentro do prazo legal, foi-lhe notificado o ofício que indeferiu o
peticionado, por o trabalho extraordinário prestado não ter sido devidamente
autorizado como a lei o impõe.
Adelaide ficou surpreendida pelo sentido da decisão e pela justificação
apresentada, uma vez que tem conhecimento que a Câmara Municipal não
diligenciou junto da sua Divisão de Recursos Humanos, no sentido de perceber
se esta autorização teria ou não sido concedida.

Página 7 de 11
Tendo solicitado para consultar o processo por forma a confirmar as suas
suspeitas, este pedido foi-lhe recusado.

f) Identifique e qualifique as formas de atuação administrativa relevantes


referidas na hipótese. (2 valores)

g) Identifique o(s) vício(s) e correspondente(s) sanção(ões). (2,5 valores)

h) Quais os mecanismos de reação (administrativa e contenciosa) de que a


Adelaide se poderia servir? (3 valores)

i) A Adelaide tem direito a consultar o seu processo? O que poderia fazer


em face da recusa de consulta do seu processo? (2,5 valores)

Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado, sugere-
se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também sabe, o
ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2:30 horas, sem consulta, salvo legislação adequada.
O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da prova (1 valor).

Página 8 de 11
DIREITO ADMINISTRATIVO II

Exame Parcelar / Época de Recurso

12-07-2016

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

1. A problematicidade da questão exige um percurso pelas construções dogmáticas


sobre o ato administrativo. Opção por uma noção restrita, coincidente substantiva
e processualmente.

O carácter regulador do ato administrativo como característica essencial da noção


restrita – o ato administrativo é uma estatuição autoritária, um comando jurídico,
vinculativo, que produz, por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que
consiste na criação, modificação ou extinção de um direito ou na determinação
jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora o direito para um caso concreto.
O caráter regulador tem ainda o mérito de reafirmar a primariedade da lei na
definição do interesse público.

As entidades privadas dotadas de poderes jurídico-administrativos estão investidas


de uma capacidade jurídica especial (pública) para a prática de atos administrativos
(cfr. artigos 2.º/1 e 148.º do CPA).

O artigo 51.º/1 do CPTA equipara, para efeitos contenciosos, as decisões material-


mente administrativas de entidades privadas (bem como as praticadas por órgãos
públicos não pertencentes à Administração) a verdadeiros atos administrativos (cfr.
ainda o artigo 4.º/1/c)/d) do ETAF).

O procedimento administrativo como uma realidade indissociável da prática de atos


administrativos: a figura dos “atos destacáveis” (cfr. artigo 51.º/1/3 do CPTA).

Cfr. artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA: o critério de recorribilidade do ato


administrativo é o da suscetibilidade de produção de efeitos externos (e daí a
eventual lesividade), e já não o da definitividade e executoriedade do ato.

2. O regulamento administrativo (noção).

Regulamentos administrativos com eficácia interna (noção e exemplos).

Regulamentos administrativos com eficácia externa (noção e exemplos).

Página 9 de 11
Em princípio, apenas os regulamentos administrativos com eficácia externa são
suscetíveis de impugnação contenciosa direta. A impugnação de normas e a
condenação à emissão de normas, artigo 72.º e segs do CPTA.

Princípio da inderrogabilidade singular dos regulamentos administrativos.


Segundo esta regra, a partir do momento que o regulamento entra em vigor vincula
todos: Administração, tribunais e particulares. Todos têm de cumprir o que o
regulamento administrativo prescreve, a começar pelo autor da norma
administrativa. Assim sendo, os órgãos administrativos não podem, na sua ação,
violar os comandos regulamentares, sob pena de a ver jurisdicionalmente declarada
inválida. Não pode, portanto, a Administração revogar, por via individual e
concreta, os regulamentos que ela própria elaborou enquanto não forem eliminados
da ordem jurídica. Cfr. artigo 135.º e segs do CPA.

Quanto ao âmbito da eficácia, a regra da inderrogabilidade singular só vale, em


regra, para os regulamentos externos. Problematizámos, a este propósito, a
singularidade da circular administrativa.

3.

a)
- Ato administrativo (cfr. artigo 148.º CPA): caráter regulador e produção de
efeitos externos numa situação individual e concreta. O ato administrativo é uma
estatuição autoritária, um comando jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que
produz, por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste na
criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na determinação jurídica
de uma coisa, definindo de forma inovadora o direito para um caso concreto. Ato
administrativo primário, de conteúdo negativo, que indefere uma pretensão
deduzida pelo interessado (a Adelaide) por requerimento inicial (artigo 102.º do
CPA).

b)
- Fundamentação insuficiente; vício formal por preterição de formalidade
essencial (cfr. artigos 268.º/4 da CRP e 152.º/1/c) e 153.º do CPA); anulabilidade,
artigo 163.º, n.º 1 do CPA.
- A fase de instrução; o princípio do inquisitório (cfr. artigos 58.º, 115.º e 116.º
do CPA): à Administração Pública cabe uma atitude procedimental ativa que se
Página 10 de 11
manifesta, entre outros aspetos, no dever de averiguar oficiosamente todos os factos
cujo conhecimento seja relevante para a justa e célere decisão do procedimento,
podendo para o efeito recorrer a todos os meios de prova admitidos em Direito; a
completude do material instrutório; vício de forma-procedimental; anulabilidade (cfr.
artigo 163.º do CPA).

c)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e recurso
hierárquico (cfr. artigos 184.º/1/a), 186.º/1/a), 188.º/1, 189.º/2, 190.º/3, 192.º/2, 197.º
do CPA); os condicionalismos da revogação de atos constitutivos de direitos (cfr.
artigo 167.º/2 do CPA.
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio, da interposição
de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do CPTA); a
regra geral é hoje a da impugnação administrativa potestativa/facultativa, salvo
previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA; a suscetibilidade de produção de
efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade do ato
administrativo;
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo negativo é
adequado interpor um pedido de condenação à prática do ato legalmente devido,
deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos 37.º, n.º 1, alínea b), 66.º,
67.º/1/b) e 69.º/2 do CPTA).

d)
- O direito à informação procedimental, em especial o direito à consulta do
processo pelos seus interessados (cfr. artigos 268.º/1 da CRP e 11.º e 83.º do CPA); a
intimação para prestação de informações, consulta de processos ou passagem de
certidões (cfr. artigos 36.º/1/d) e 104.º e seguintes do CPTA).

Página 11 de 11
DIREITO ADMINISTRATIVO I/II

EXAME FINAL – ÉPOCA DE RECURSO

13 – 07 – 2015

(4 valores)
1. Comente a seguinte afirmação:
“A figura do organismo de direito público veio ampliar o âmbito de aplicação do
Direito Administrativo.”

(5 valores)
2. Revele a importância teorético-prática da distinção entre:
a) Associações públicas e institutos públicos (2,5 val.);
b) Interesse público primário e interesses públicos secundários (2,5 val.).

(10 valores)
3. Imagine que Brálio, trabalhador público no Instituto dos Rios e Afluentes,
I.P., foi notificado da aplicação da sanção disciplinar de despedimento no
âmbito de um procedimento disciplinar que lhe havia sido instaurado meses
antes. Em momento algum Brálio foi notificado do início deste procedimento ou
chamado a pronunciar-se em sede de audiência prévia. Por outro lado, da
decisão que lhe foi comunicada constava apenas, para além da data e da
assinatura do seu autor, a indicação da sanção a aplicar e a referência a que “a
mesma se devia à violação do dever de obediência e de respeito no exercício das
suas funções, designadamente, por falta do uso de gravata enquanto fazia o
atendimento ao balcão, violando assim a circular interna n.º 456/2014”.
3.1. Identifique e qualifique as formas de atuação administrativa relevantes
referidas na hipótese. (4 val.)

1
3.2. Quais os mecanismos de reação (administrativa e contenciosa) de que
Brálio se poderá servir? Imagine que há uma norma especial que impõe,
nestes casos, a interposição de recurso hierárquico. (4 val.)
3.3. Quais os fundamentos que poderia invocar? Identifique os vícios e
correspondentes sanções. (2 val.)

Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado,
sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como
também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3:00h, sem consulta, salvo
legislação administrativa. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido
geral da prova (1 valor).

2
DIREITO ADMINISTRATIVO I/II

EXAME FINAL – ÉPOCA DE RECURSO

13 – 07 – 2015

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

1.
⎯ O conceito de entidades adjudicantes é utilizado para delimitar o âmbito
subjetivo de aplicação dos procedimentos pré-contratuais públicos, sendo, por isso
mesmo, apenas relevante para a fase pré contratual, de escolha do co contraente, e
não já para a fase de execução do contrato (cfr. artigo 2.º/2/a) do CCP).
⎯ A atribuição de funções públicas a entidades privadas não cabe nos esquemas de
organização administrativa clássica: a privatização na forma de organização.
⎯ Merece a qualificação de organismo de direito público qualquer organismo que
reúna, cumulativamente, as seguintes características: (i) ter sido criado para
satisfazer especificamente necessidades de interesse geral, com caráter não
industrial ou comercial; (ii) ser dotado de personalidade jurídica; e (iii)
desempenhar uma atividade sujeita a influência pública dominante, seja porque
maioritariamente financiada pelo Estado, pelas autarquias locais ou regionais ou
por outros organismos de direito público, seja porque a sua gestão esteja sujeita a
controlo por parte destes últimos ou seja, ainda, porque nos seus órgãos de
administração, direção ou fiscalização, mais de metade dos membros são
designados pelo Estado, pelas autarquias locais, pelas Regiões Autónomas, ou por
outros organismos de direito público.
⎯ A noção de organismo de direito público é uma noção funcional, de inspiração
europeia, assente em critérios de natureza substantiva, que procura superar, pelo
menos para o efeito de aplicação do regime da contratação pública, a qualificação
formal como privada, da personalidade jurídica de uma entidade materialmente
pública para o Direito da União Europeia, implicando por isso o abandono da
tradicional distinção entre Direito público e Direito privado e a revisão da própria
noção de relação jurídica administrativa, com óbvias refrações no âmbito da
jurisdição administrativa.

3
2.
a)
⎯ O instituto público pertence, em regra, à Administração indireta, mas pode
assumir formas de Administração autónoma (o caso das Universidades) e de
Administração independente (caso das entidades administrativas independentes),
embora com alterações substanciais ao regime típico (artigo 48.º da Lei Quadro dos
Institutos Públicos). O instituto público é uma pessoa coletiva pública de tipo
institucional, criada para assegurar o desempenho de funções administrativas
pertencentes ao Estado ou a outro ente público. Devolução de poderes ou
descentralização por serviços, imprópria ou personalizada (cfr. artigo 267.º/1/2 da
CRP).
⎯ As associações públicas enquadram-se na Administração autónoma não
territorial (ou associativa): descentralização em sentido próprio (cfr. artigos
267.º/1/2 e 237.º da CRP). São pessoas coletivas públicas de natureza associativa
criadas por ato do poder público, que desempenham tarefas administrativas
próprias, pertinentes aos interesses dos seus membros e que se governam a si
próprias, embora sujeitos a tutela administrativa (de mera legalidade, ao invés dos
institutos públicos quando integram a Administração indireta; cfr. o artigo 45.º da
Lei n.º 2/2013, de 10 de janeiro).

b)

⎯ O interesse público primário ou essencial é o interesse específico posto pela


lei; os interesses públicos secundários são representados pelas entidades
administrativas chamadas a participar (através de pareceres, por exemplo)
num procedimento administrativo, permitindo, a par da consideração das
legítimas posições jurídicas dos particulares, a melhor realização do interesse
público (primário) com o menor sacrifício dos direitos e interesses legalmente
protegidos.
⎯ Objeto de ponderação procedimental são os interesses públicos secundários,
cuja função é a de ajudar à melhor e proporcionalística concreção do interesse-
fim, o interesse público primário (cfr. Colaço Antunes, O Direito Administrativo
e a sua Justiça no Início do Século XXI, Coimbra, 2001, página 32 e seguintes e
47 e seguintes).

4
3.

3.1.

⎯ Ato que aplica a sanção disciplinar a Brálio: ato administrativo (artigo 148.º
CPA): caráter regulador e produção de efeitos externos numa situação individual e
concreta. O ato administrativo é uma estatuição autoritária, um comando jurídico,
positivo ou negativo, vinculativo, que produz, por si só, mesmo perante terceiros,
uma consequência que consiste na criação, modificação ou extinção de um direito
ou dever ou na determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora o
direito para um caso concreto. Ato administrativo impositivo, de conteúdo positivo,
com efeitos desfavoráveis para o seu destinatário.
⎯ Circular: considerando a sua natureza controvertida, vem tradicionalmente
incluída nos regulamentos internos (apesar de não ter natureza regulamentar) e
por isso não diretamente impugnável contenciosamente.

3.2.
⎯ A regra geral é hoje a da impugnação administrativa potestativa/facultativa,
salvo previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA. O acesso à jurisdição
administrativa não depende, em regra, da interposição de recurso hierárquico (cfr.
artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do CPTA); a suscetibilidade de produção de
efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como critérios de recorribilidade do ato
administrativo. No entanto, havendo lei especial que preveja a interposição de
recurso hierárquico necessário – suspensão dos efeitos do ato (cfr. artigo 189.º/1 do
CPA) e dos prazos procedimentais (cfr. artigos 190.º/1/2 CPA). O artigo 59.º, n.º 5 do
CPTA afasta o requisito da definitividade vertical como pressuposto processual da
ação administrativa impugnatória, mas não afasta as normas especiais que o
prevejam.
⎯ O ato que impõe uma sanção disciplinar como ato um impugnável nos termos
dos artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA: o critério de recorribilidade do ato
administrativo é o da suscetibilidade de produção de efeitos externos, e já não o da
definitividade e executoriedade do ato.
⎯ Ora, tratando-se este de um ato administrativo impositivo, de conteúdo
positivo, à primeira vista seria de interpor um pedido de impugnação, deduzido sob
a forma da ação administrativa especial (cfr. artigos 46.º/1/2/a) e 50.º e seguintes do
CPTA), no entanto, a solução adequada passaria pela cumulação do pedido
impugnatório com o pedido de condenação e restabelecimento da situação que
5
existiria se o ato ilegal não tivesse sido praticado (cfr. artigos 4.º/2/a) e 47.º/2/a)/b)
do CPTA), seguindo-se também neste caso a forma da ação administrativa especial
(cfr. artigo 5.º CPTA).

3.3
⎯ Audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 121.º e 122.º do CPA); o princípio
da participação (cfr. artigos 12.º do CPA e 267.º/5 da CRP); vício de forma, por
preterição de uma formalidade essencial; o direito de audiência prévia como direito
fundamental de defesa (cfr. artigo 269.º/3 CRP); nulidade (cfr. artigo 161.º/2/d) do
CPA).
⎯ Falta de fundamentação de ato impositivo, desfavorável ao seu destinatário,
(cfr. artigos 152.º/1/a), 153.º e 163.º do CPA e 268.º/3 CRP); vício de forma por
preterição de uma formalidade essencial; anulabilidade (cfr. artigo 163.º/1 do CPA).
⎯ Falta de menções obrigatórias (cfr. artigo 151.º/c)/d) e 150.º/2 do CPA); vício
material de violação de lei; inexistência jurídica.

6
DIREITOADMINISTRATIVOII

EXAME PARCELAR – ÉPOCA DE RECURSO

13 – 07 – 2015

(6 valores)
1. Revele a importância teorético-prática da distinção entre:
a) Omissão ilegal e deferimento tácito (3 val.);
b) Convalidação e consolidação do ato (3 val.).

(2,5 valores)
2. Comente a seguinte afirmação:
“A solução adotada pelo artigo 167.º/2/5 do novo CPA constitui uma tímida
aproximação ao já estatuído nos artigos 302.º/e) e 334.º do CCP.”

(10,5 valores)
3. Imagine que Brálio, trabalhador público no Instituto dos Rios e Afluentes,
I.P., foi notificado da aplicação da sanção disciplinar de despedimento no
âmbito de um procedimento disciplinar que lhe havia sido instaurado meses
antes. Em momento algum Brálio foi notificado do início deste procedimento ou
chamado a pronunciar-se em sede de audiência prévia. Por outro lado, da
decisão que lhe foi comunicada constava apenas, para além da data e da
assinatura do seu autor, a indicação da sanção a aplicar e a referência a que “a
mesma se devia à violação do dever de obediência e de respeito no exercício das
suas funções, designadamente, por falta do uso de gravata enquanto fazia o
atendimento ao balcão, violando assim a circular interna n.º 456/2014”.
3.1. Identifique e qualifique as formas de atuação administrativa relevantes
referidas na hipótese. (4 val.)

7
3.2. Quais os mecanismos de reação (administrativa e contenciosa) de que
Brálio se poderá servir? Imagine que há uma norma especial que impõe,
nestes casos, a interposição de recurso hierárquico. (4 val.)
3.3. Quais os fundamentos que poderia invocar? Identifique os vícios e
correspondentes sanções. (2,5 val.)

Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado,
sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como
também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3:00h, sem consulta, salvo
legislação administrativa. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido
geral da prova (1 valor).

8
DIREITOADMINISTRATIVOII

EXAME PARCELAR – ÉPOCA DE RECURSO

13 – 07 – 2015

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

1.
a)
⎯ O princípio genérico de decisão (cfr. artigo 13.º do CPA): pressupostos do dever
de decidir.
⎯ O deferimento tácito (cfr. artigo 130.º do CPA): fundamentos, âmbito, efeitos e
utilidade da figura.
⎯ A omissão ilegal (cfr. artigos 129.º do CPA e 67.º/1/a) do CPTA): a omissão
ilegal pressupõe o incumprimento do dever de decidir que a lei não qualifique como
de deferimento tácito; a reclamação e o recurso hierárquico contra a omissão ilegal
de atos administrativos (cfr. artigos 184.º/1/b), 187.º, 188.º/3, 192.º/2 e 197.º/4 do
CPA); o pedido de condenação à prática de ato legalmente devido (cfr. artigos
67.º/1/a) e 46.º/1/2/b) do CPTA).

b)
⎯ O decurso do tempo para a impugnação dos atos administrativos anuláveis
não é uma forma de sanação dos vícios do ato, tornando-o, isso sim,
inimpugnável (consolidando-o na ordem jurídica), nem transforma um ato
inválido num ato válido, visto que o vício se mantém (assumindo relevo para
outros efeitos, designadamente ao nível da responsabilidade civil da
Administração por atos ilícitos), podendo, inclusive, ser apreciado
incidentalmente (cfr. artigo 38.º do CPTA).
⎯ Sobre a sanação dos atos ilegais, cfr. o artigo 164.º do CPA.

2.
⎯ Face à rigidez do artigo 140.º do anterior CPA (até por comparação com o
regime do CCP), o novo artigo 167.º/2 do CPA veio introduzir a
9
possibilidade de revogação de atos constitutivos de direitos, ainda que
sujeita a pressupostos estritos, mediante o pagamento da indemnização
devida.
⎯ O regime proposto no novo CPA é agora mais próximo do regime da
resolução unilateral dos contratos administrativos (cfr. artigo 302.º/e) do
CCP), sendo, no entanto, de notar, ressalvadas as exceções, que os
pressupostos elegidos para a resolução do contrato por razões de
interesse público, continuarem a parecerem-nos mais flexíveis,
atendendo à natureza consensual da relação jurídica e à predominância
dos motivos administrativos, inclusive de natureza discricionária.
⎯ Assim sendo, o poder de resolução unilateral deve ser interpretado
restritivamente, como um poder excecional ligado a um interesse público
“imperioso”.

3.
3.1.

⎯ Ato que aplica a sanção disciplinar a Brálio: ato administrativo (artigo 148.º
CPA): caráter regulador e produção de efeitos externos numa situação individual e
concreta. O ato administrativo é uma estatuição autoritária, um comando jurídico,
positivo ou negativo, vinculativo, que produz, por si só, mesmo perante terceiros,
uma consequência que consiste na criação, modificação ou extinção de um direito
ou dever ou na determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora o
direito para um caso concreto. Ato administrativo impositivo, de conteúdo positivo,
com efeitos desfavoráveis para o seu destinatário.
⎯ Circular: considerando a sua natureza controvertida, vem tradicionalmente
incluída nos regulamentos internos (apesar de não ter natureza regulamentar) e
por isso não diretamente impugnável contenciosamente.

3.2.
⎯ A regra geral é hoje a da impugnação administrativa potestativa/facultativa,
salvo previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA. O acesso à jurisdição
administrativa não depende, em regra, da interposição de recurso hierárquico (cfr.
artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do CPTA); a suscetibilidade de produção de
efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como critérios de recorribilidade do ato
10
administrativo. No entanto, havendo lei especial que preveja a interposição de
recurso hierárquico necessário – suspensão dos efeitos do ato (cfr. artigo 189.º/1 do
CPA) e dos prazos procedimentais (cfr. artigos 190.º/1/2 CPA). O artigo 59.º, n.º 5 do
CPTA afasta o requisito da definitividade vertical como pressuposto processual da
ação administrativa impugnatória, mas não afasta as normas especiais que o
prevejam.
⎯ O ato que impõe uma sanção disciplinar como ato um impugnável nos termos
dos artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA: o critério de recorribilidade do ato
administrativo é o da suscetibilidade de produção de efeitos externos, e já não o da
definitividade e executoriedade do ato.
⎯ Ora, tratando-se este de um ato administrativo impositivo, de conteúdo
positivo, à primeira vista seria de interpor um pedido de impugnação, deduzido sob
a forma da ação administrativa especial (cfr. artigos 46.º/1/2/a) e 50.º e seguintes do
CPTA), no entanto, a solução adequada passaria pela cumulação do pedido
impugnatório com o pedido de condenação e restabelecimento da situação que
existiria se o ato ilegal não tivesse sido praticado (cfr. artigos 4.º/2/a) e 47.º/2/a)/b)
do CPTA), seguindo-se também neste caso a forma da ação administrativa especial
(cfr. artigo 5.º CPTA).

3.3
⎯ Audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 121.º e 122.º do CPA); o princípio
da participação (cfr. artigos 12.º do CPA e 267.º/5 da CRP); vício de forma, por
preterição de uma formalidade essencial; o direito de audiência prévia como direito
fundamental de defesa (cfr. artigo 269.º/3 CRP); nulidade (cfr. artigo 161.º/2/d) do
CPA).
⎯ Falta de fundamentação de ato impositivo, desfavorável ao seu destinatário,
(cfr. artigos 152.º/1/a), 153.º e 163.º do CPA e 268.º/3 CRP); vício de forma por
preterição de uma formalidade essencial; anulabilidade (cfr. artigo 163.º/1 do CPA).
⎯ Falta de menções obrigatórias (cfr. artigo 151.º/c)/d) e 150.º/2 do CPA); vício
material de violação de lei; inexistência jurídica.

11
FACULDADE DE DIREITO

DA UNIVERSIDADE DO PORTO

Direito Administrativo I

(2011/12)

Diga sucintamente o que entende por:

1. Órgão da Administração Pública.

2. Tutela de legalidade.

3. Devolução de poderes.

4. Administração Pública em sentido material.

II

Desenvolva um dos seguintes temas:

Administração estadual indirecta: sua caracterização no actual contexto


português.

Os princípios de direito administrativo como paradigma da moderna


Administração Pública.

III

Considerando a legislação portuguesa, caracterize as principais funções


autárquicas e a distribuição de competências pelos respectivos órgãos.

Cotação: I grupo – 1,5 valores cada resposta;

II grupo – 7 valores;

III grupo – 7 calores.


FACULDADE DE DIREITO

DA

UNIVERSIDADE DO PORTO

Direito Administrativo I

(2011/12)

Critério de correcção:

1. Nas perguntas do grupo I, pretendem-se respostas sucintas mas em linguagem técnica


precisa. Valorizam-se os complementadas de exemplos e de delimitação de figuras
próximas ou afins.

2. No tema do grupo 2, pretende-se um desenvolvimento alargado, devidamente


estruturado, bem redigido dos pontos de vista da linguagem técnica e da língua
portuguesa. Pretende-se que o aluno apresente uma exposição geral da matéria nos
termos em que foi apresentada na sebenta e em que é geralmente apresentada nos
manuais da especialidade. São aspectos a valorar positivamente os fundamentos legais,
as posições da doutrina e da jurisprudência, as abordagens críticas e outros elementos
relevantes.

3. No tema do grupo 3, pretende-se que o aluno realce os aspectos mais importantes


do direito positivo, mostrando que tem capacidade de síntese, capacidade de
estruturação e conhecimento suficiente da lei relevante, que demonstrará com
indicações expressas de diplomas e artigos.

Consideram-se muito satisfatórias as respostas dadas de acordo com os ensinamentos


das lições adoptadas ou de qualquer dos manuais geralmente adoptados, especialmente
o Manual do Prof. Doutor Freitas do Amaral.

Dia de Consulta da prova: 7 de Janeiro, das 14 às 16 horas.


DIREITO ADMINISTRATIVO II

Exame – Época normal

29 – 06 – 2012

(4 valores)
1. Comente a seguinte citação:
“Apesar da sua amplitude em termos orgânicos (…) e até procedimentais, o acto
impugnável ou processual não pode deixar de corresponder, no essencial, à noção de
acto regulador (…)”.

Colaço Antunes, A Teoria do Acto e a Justiça Administrativa - O Novo Contrato Natural,


Coimbra, 2006, pág. 124.

(4 valores)
2. Revele a importância teorético-prática da distinção entre:
a) Ato silente positivo e omissão ilegal.
b) Regulamentos administrativos com eficácia interna e regulamentos
administrativos com eficácia externa.

(3 valores)
3. O dever de indemnizar e o direito de regresso na responsabilidade
administrativa delitual. Sujeitos e pressupostos.

(8 valores)
4. António, funcionário público, apresentou o seu pedido de reforma junto da
Caixa Geral de Aposentações, tendo o mesmo sido indeferido sem qualquer
justificação. António decidiu então apresentar recurso junto do superior hierárquico
do autor do ato, alegando: (i) que não foi ouvido durante o procedimento; (ii) que
não foram averiguados os factos que interessavam à decisão; (iii) que a decisão lhe
foi comunicada sem que se indicassem as razões; (iv) que não foi respeitado o
parecer (não vinculativo) solicitado pelos serviços.

1
1. Classifique o ato administrativo praticado. (1 valor)
2. Analise os fundamentos invocados pelo António e identifique os vícios
e correspondentes sanções. (3,5 valores)
3. António apresentou recurso hierárquico por estar convencido de que
este seria um pressuposto necessário para o acesso aos tribunais
administrativos. Concorda? Justifique. (1,5 valores)
4. Em que termos poderia António reagir contenciosamente? (2 valores)

Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar
calado, sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática.
Como também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3:00 horas, sem
consulta, salvo legislação adequada. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e
ao sentido geral da prova (1 valor).

2
DIREITO ADMINISTRATIVO II

EXAME – ÉPOCA NORMAL


29 / 06 / 2012

Critérios de Correção

1.
⎯ A problematicidade da questão exige um percurso pelas construções
dogmáticas sobre o ato administrativo. Opção por uma noção restrita coincidente
substantiva e processualmente.
⎯ O carácter regulador do ato administrativo como característica essencial da sua
noção restrita, – o ato administrativo é uma estatuição autoritária, um comando
jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que produz, por si só, mesmo perante
terceiros, uma consequência que consiste na criação, modificação ou extinção de um
direito ou dever ou na determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma
inovadora o direito para um caso concreto. O caráter regular tem ainda o mérito de
reafirmar a primariedade da lei na definição do interesse público.
⎯ As entidades privadas dotadas de poderes públicos estão investidas de uma
capacidade formal para a prática de atos administrativos (cfr. artigos 2.º e 120.º do
CPA).
⎯ O artigo 51.º/2 do CPTA equipara, para efeitos contenciosos, as decisões
materialmente administrativas de entidades privadas a verdadeiros atos
administrativos (cfr. ainda 4.º/1/d) do ETAF).
⎯ O procedimento administrativo como uma realidade indissociável da prática de
atos administrativos: a figura dos atos destacáveis (cfr. artigo 51.º/1/3 do CPTA).
⎯ Cfr. artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA: o critério de recorribilidade do ato
administrativo é o da suscetibilidade de produção de efeitos externos (e daí a
eventual lesividade), e já não o da definitividade e executoriedade do ato.

3
2.
a)
⎯ O princípio genérico de decisão (cfr. artigo 9.º do CPA): pressupostos do dever
de decidir.
⎯ Consequências jurídicas que derivam da ausência de uma decisão expressa no
prazo legalmente previsto: artigos 108.º e 109.º/2/3 do CPA e 67.º/1/a) do CPTA.
⎯ O deferimento tácito (cfr. artigo 108.º do CPA): fundamentos, âmbito, efeitos e
utilidade da figura.
⎯ A omissão ilegal (cfr. artigos 109.º/2/3 do CPA e 67.º/1/a) do CPTA): o artigo
67.º/1/a) do CPTA derrogou a norma do n.º 1 do artigo 109.º do CPA, na parte em
que esta reconhecia ao interessado a faculdade de presumir indeferida a pretensão
para poder exercer o respetivo meio legal de impugnação; a omissão ilegal
pressupõe o incumprimento do dever de decidir que a lei não qualifique como de
deferimento tácito; o pedido de condenação à prática de ato legalmente devido (cfr.
artigos 67.º/1/a) e 46.º/1/2/b) do CPTA).

b)
⎯ O regulamento administrativo (noção).
⎯ Regulamentos administrativos com eficácia interna (noção e exemplos).
⎯ Regulamentos administrativos com eficácia externa (noção e exemplos).
⎯ Apenas os regulamentos administrativos com eficácia externa são suscetíveis
de impugnação contenciosa. A impugnação de normas e a declaração de ilegalidade
por omissão (cfr. artigos 46.º/1/2/c)/d) e 72.º e seguintes do CPTA).
⎯ Princípio da inderrogabilidade singular dos regulamentos administrativos
Segundo esta regra, a partir do momento que o regulamento entra em vigor vincula
todos: Administração, tribunais e particulares. Todos têm de cumprir o que o
regulamento administrativo prescreve, a começar pelo autor da norma
administrativa. Assim sendo, os órgãos administrativos não podem, na sua ação,
violar os comandos regulamentares, sob pena de a ver jurisdicionalmente declarada
inválida. Não pode, portanto, a Administração revogar, por via individual e
concreta, os regulamentos que ela própria elaborou enquanto não forem eliminados
da ordem jurídica. Cfr. os artigos 114.º e seguintes do CPA. Quanto ao âmbito da
eficácia, a regra da inderrogabilidade singular só vale para os regulamentos
externos.

4
3.
⎯ A responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e culposos; regime
aplicável (Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais
Entidades Públicas por Atos de Gestão Pública aprovado pela Lei n.º 67/2007, de 31
de dezembro).
⎯ Pressupostos da responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e
culposos (cfr. artigo 7.º a 10.º da Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro): facto
voluntário; ilicitude; culpa; dano; nexo de causalidade.
⎯ As pessoas coletivas públicas ou privadas que exerçam funções administrativas
respondem sempre pelos prejuízos resultantes dos atos ilícitos e culposos dos seus
órgãos ou agentes, tenham os factos sido praticados com dolo, negligência leve ou
negligência grosseira (cfr. artigos 7.º/1 e 8.º/1/2 da Lei n.º 67/2007, de 31 de
dezembro).
⎯ No entanto, a pessoa coletiva pública, quando satisfaça uma indemnização com
fundamento em responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e culposos
deve por sua vez exigir ao titular do órgão ou agente que praticou o ato que lhe
pague o montante da indemnização suportada, exercendo assim o direito de
regresso (cfr. artigo 8.º/3 da Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro).
⎯ O direito de regresso existe quando o titular do órgão, funcionário ou agente
tenha atuado dolosamente ou tenha procedido com diligência e zelo
manifestamente inferiores àqueles a que se achava obrigado em razão do cargo.
⎯ O direito de regresso só não existe nas seguintes situações: (i) negligência leve
do autor (cfr. artigos 7.º/1/2 e 8.º/3 da Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro); (ii)
funcionamento anormal do serviço; (iii) exclusão da responsabilidade civil dos
subalternos no cumprimento de comandos hierárquicos mediante a verificação dos
seguintes pressupostos de aplicação cumulativa (cfr. artigo 271.º/1/2 da CRP): 1.º)
que se trate de um comando hierárquico que reúna três características: seja
proveniente de legítimo superior hierárquico, incida sobre matéria de serviço; não
se traduza na prática de um crime; 2.º) que o subalterno tenha dele previamente
reclamado ou exigido a sua transmissão ou confirmação por escrito (direito de
respeitosa representação).
⎯ Neste caso, o subalterno não pode vir ao processo (contra si proposto) invocar a
sua específica causa de exclusão de responsabilidade civil, visto que a regra goza,
em princípio, de uma eficácia interna na Administração.

5
⎯ O que ele deve fazer é provocar a intervenção processual do autor do comando
ou da entidade pública, tal como o lesado o poderá fazer em termos processuais
através incidente da intervenção de terceiros.

4.

4.1. Ato primário, de conteúdo negativo (também podem ser considerados outros
critérios tais como os relativos aos destinatários e aos efeitos).

4.2.
⎯ A audiência prévia dos interessados (artigos 100.º a 103.º do CPA); o princípio da
colaboração da Administração com os particulares (artigo 7.º/1/b) do CPA) e o
princípio da participação (artigos 8.º CPA e 267.º/5 da CRP); vício de forma, por
preterição de uma formalidade essencial; anulabilidade (artigo 135.º do CPA).
⎯ A fase instrutória do procedimento administrativo (cfr. artigos 86 a 99.º do CPA):
os princípios do inquisitório (artigo 56.º do CPA) e da completude do material
instrutório; vício de forma-procedimental; anulabilidade (cfr. artigos 135.º e 136.º do
CPA).
⎯ O dever de fundamentação (cfr. artigos 268.º/3 da CRP, 123.º/1/d), 124.º/1/c) e
125.º do CPA); vício de forma, por preterição de uma formalidade essencial;
anulabilidade (cfr. artigos 135.º e 136.º do CPA).
⎯ Função e natureza dos pareceres (cfr. artigo 98.º/ 2 do CPA); o órgão com
competência para a decisão poderia não seguir o parecer, caso em que está obrigado
a indicar as razões que o levaram a afastar-se deste (artigo 124.º/1/c) do CPA).

4.3
⎯ O acesso à jurisdição administrativa não depende da interposição de recurso
hierárquico (cfr. artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do CPTA); a suscetibilidade
de produção de efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como critérios de
recorribilidade do ato administrativo.
⎯ A regra geral é hoje a da impugnação administrativa potestativa.
⎯ A natureza da decisão do superior hierárquico e do subalterno; os princípios
constitucionais da garantia da tutela jurisdicional efetiva, da desconcentração
administrativa e, sobretudo, da separação da Administração da Justiça.

6
⎯ Diferentes posições sobre o alcance das disposições do CPTA, inclusive sobre as
implicações no direito substantivo.
⎯ Cfr. Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 499/96.

4.4
⎯ Tratando-se de um ato administrativo de conteúdo negativo é adequado o
pedido de condenação à prática de ato devido, nos termos do disposto
conjugadamente nos artigos 51.º/4, 67.º/1/b) do CPTA.
⎯ Ação Administrativa especial (cfr. artigos 46.º/1/2/b) do CPTA).
⎯ O pedido deverá ser interposto no prazo de 3 meses nos termos do artigo
69.º/2/3 do CPTA, junto do tribunal administrativo de círculo territorialmente
competente nos termos do artigo 16.º do CPTA (cfr. artigos 212.º/3 da CRP e 1.º do
ETAF).

7
DIREIT O ADMINISTRA TIVO I

EXAME PARCELAR

31 - 01 - 2011

(4 valores)

1. O critério da personalidade jurídica é hoje suficiente para distinguir a


pessoa colectiva pública da pessoa colectiva privada? Fundamente a
sua resposta.

(5 valores)

2. Apesar da alienação semântica, poderá afirmar-se, com rigor, que,


desde 1957 (CEE), existia um Direito Administrativo Comunitário?
Justifique.

(3 valores)

3. Glose a seguinte frase apenas no que seja indispensável para


manifestar a sua concordância ou discordância: «À luz do actual
ordenamento jurídico-administratrivo, os institutos públicos podem
configurar diversas formas de Administração».

(7 valores)
4. Imagine que o Presidente de uma Câmara Municipal decidiu renovar
a frota automóvel do seu Município, adquirindo para o efeito 10
veículos automóveis da marca “Veloz”, ao stand “Bom e Barato”,
propriedade do Sr. António Coelho.
Questionado em reunião de Assembleia Municipal, o Presidente da
Câmara justificou a sua decisão numa disposição legal, nos termos da

1
qual, “As autarquias locais podem adquirir os veículos automóveis que
considerem necessários para garantir a deslocação em serviço dos seus
membros”.
O vereador da oposição, indignado com esta aquisição que
considera desnecessária e sumptuária, chama ainda à atenção para os
seguintes aspectos, de que pretende dar conhecimento à Inspecção-
Geral das Autarquias Locais:
a) A competência exercida está subdelegada nele próprio, pelo que
o Presidente da Câmara Municipal não podia decidir sobre esta
matéria;
b) O Presidente da Câmara Municipal é habitualmente
presenteado pelo Sr. António Coelho, designadamente com
viagens e aparelhos electrónicos diversos.

4.1 (4,5 valores) Aprecie a validade da decisão do Presidente da Câmara


Municipal.

4.2 (2,5 valores) Suponha agora que o Presidente da Câmara Municipal,


em virtude da actual contestação, decide proferir o seguinte despacho:
“Revogo a decisão de aquisição de 10 veículos automóveis da marca
“Veloz”, ao stand “Bom e Barato”, propriedade do Sr. António Coelho.
Dispenso, por desnecessária, a audiência do interessado. Notifique-se”.

O Sr. António Coelho não percebe por que razão não foi ouvido quanto
a esta decisão. Comente.

Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar
calado, sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática.
Como também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2:30h, sem consulta,
salvo legislação administrativa. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao
sentido geral da prova (1 valor).

2
DIREITO ADMINISTRATIVO I

EXAME PARCELAR

31 - 01 - 2011

Critérios de Correcção

1. A personalidade jurídica traduz-se na aptidão para ser titular autónomo


de relações jurídicas. Esta idoneidade traduz-se, nas pessoas colectivas, num
processo técnico de organização de relações jurídicas conexionadas com
determinados interesses colectivos. A personalidade colectiva é um artifício
jurídico que pressupõe o reconhecimento de interesses colectivos diferentes
dos interesses dos indivíduos que compõem um grupo ou que beneficiam de
um dado património.

Privatização das formas de organização da Administração Pública.


Distinção entre privatização formal e despublicização (subtracção ou
alteração do vínculo de interesse público).

Pessoa colectiva pública e pessoa colectiva privada; enunciação dos


diversos critérios (iniciativa da criação, fim prosseguido, capacidade jurídica,
regime jurídico, subordinação ou não, obrigatoriedade da sua existência,
exercício ou não da função administrativa).

A administração pública transformou-se numa realidade complexa,


multiforme e heterogénea. Já não há uma correspondência entre entidades,
fins, actividade e regime. E quando se perde a identificação entre pessoas
colectivas públicas e pessoas colectivas de Direito Público, não faz sentido
continuar a definir a Administração Pública apenas em função dos seus
intervenientes, ou do regime aplicável. A concepção orgânica ou subjectiva
deverá ser complementada ou substituída por uma concepção funcional ou
material apta para traduzir a integração e a interactividade de elementos de
diversa natureza, – público e privada, – considerando as características dos

3
serviços ou das tarefas de que essas entidades são instrumentos de
realização em função do fim prosseguido.

A figura comunitária do organismo de direito público.

O critério misto da iniciativa da criação e do fim prosseguido (Cfr.


Colaço Antunes, Existe un criterio para la persona colectiva de derecho
público?, in “Revista de Administración Pública”, n.º 183, Madrid,
Setembro/Dezembro (2010), páginas 51 a 71.)

2. Pretende insinuar-se com a questão em apreço que o Direito


Administrativo Europeu, apesar da alienação semântica, só se afirmou a
partir do Acto Único Europeu e, sucessivamente, com as alterações
fundamentais ao Tratado de Roma (Maastricht, Amesterdão, Nice e, mais
recentemente, o Tratado de Lisboa).

Faltavam então os elementos constituintes: um ordenamento jurídico


de fins gerais e o particular como verdadeiro sujeito de direito. Acrescem
outros factores decisivos como a afirmação de um interesse público
comunitário que exige, crescentemente, a actuação, em função comunitária,
das Administrações nacionais. (Cfr. Colaço Antunes, O Direito
Administrativo sem Estado, página 51 e seguintes).

É a existência de um Direito Administrativo europeu a explicar a


conformação e integração dos ordenamentos jurídicos nacionais e das
respectivas Administrações. Administração composta e procedimento
administrativo composto são as novas categorias do Direito Administrativo
Europeu.

3. O instituto público pertence à Administração indirecta, mas pode assumir


formas de Administração autónoma (o caso das Universidades Públicas) ou
mesmo independente (o caso das entidades administrativas independentes),

4
embora com alterações substanciais ao regime típico (cfr. artigo 48.º da Lei
Quadro dos Institutos Públicos, aprovada pela Lei n.º 3/2004, de 15 de
Janeiro, sucessivamente alterada). O instituto público é uma pessoa
colectiva pública de tipo institucional, criada para assegurar o desempenho
de funções administrativas pertencentes ao Estado ou a outro ente público.

4.1.

⎯ Vinculação e discricionaridade como as duas formas típicas pelas


quais a lei modela a actividade da Administração Pública; o poder
discricionário como um poder intrinsecamente jurídico; a vinculação
quanto ao fim e à competência; a discricionaridade como a escolha da
melhor solução possível para a prossecução do interesse público sem
se divorciar dos direitos e interesses legítimos; o interesse público
como fundamento e limite da discricionaridade administrativa; a
ponderação dos vários interesses secundários concorrentes como o
momento essencial da realização-concretização do interesse público
primário; discricionaridade quanto à decisão de praticar ou não o acto
administrativo, quanto ao momento da sua prática e quanto ao seu
conteúdo.
⎯ Os limites à actividade discricionária colocados pelos princípios gerais
da actividade administrativa, designadamente, pelos princípios da
legalidade (cfr. artigos 266.º, n.º2 da Constituição da República
Portuguesa (CRP) e 3.º do Código do Procedimento Administrativo
(CPA)), da proporcionalidade (cfr. artigos 266.º, n.º 2 da CRP e 5.º, n.º
2 do CPA), e da prossecução do interesse público (cfr. artigos 266.º,
n.º1 da CRP e 4.º do CPA); princípios esses entendidos como
parâmetros normativos autónomos (ou critérios) da decisão
administrativa discricionária e do respectivo controlo jurisdicional;
sob pena de vício material de violação de lei em sentido estrito (artigo
135.º do CPA).

5
⎯ Natureza jurídica da (sub)delegação (opção pela tese que defende que
a transferir-se algo para o delegado é o exercício da competência, não
a competência propriamente dita), sendo que a delegação cria entre o
delegante e o delegado uma relação jurídica nova, que não é uma
relação hierárquica (cfr. n.º 2 do artigo 111.º da CRP, artigos 29.º, 35.º
e seguintes do CPA e n.º 1 do artigo 65.º da Lei das Autarquias Locais
(LAL)).
⎯ A aquisição de bens móveis como uma competência da Câmara
Municipal (cfr. alínea d) do n.º 1 do artigo 64.º da LAL), delegável no
seu Presidente (cfr. n.º 1 do artigo 65.º da LAL, a contrario, e n.º 3 do
artigo 35.º do CPA); requisitos da delegação de poderes (cfr. artigos
29.º, 35.º, 37.º, 133.º, n.º1, 130.º, n.º2 e 135.º do CPA); e subdelegável
no vereador (cfr. n.º 2 do artigo 65.º da LAL, a contrario, e n.º 1 do
artigo 35.º do CPA); requisitos da subdelegação de poderes (cfr.
artigos 29.º, 35.º, 36.º, n.º1 e 37.º do CPA); o Presidente da Câmara
Municipal poderia ter avocado a competência cujo exercício delegou no
vereador (cfr. artigo 39.º, n.º2 do CPA); os actos praticados pelo
Presidente da Câmara são anuláveis por vício (orgânico) de
incompetência relativa (cfr. artigo 135.º do CPA).
⎯ Princípio da imparcialidade e respectivas garantias (cfr. n.º 2 do
artigo 266.º da CRP e artigos 6.º e 44.º a 51.º do CPA); circunstância
justificativa de escusa ou suspeição (cfr. alínea c) do n.º1 do artigo 48.º
do CPA: motivo de escusa do Presidente da Câmara Municipal (cfr.
artigo 49.º e 45.º, n.º 4, ex vi n.º 1 do artigo 50.º do CPA); decisão de
procedência da escusa (suspensão e substituição, - cfr. artigos 46.º e
47.º ex vi artigo 50.º, n.º 3 do CPA) ou de improcedência (continuação
da actividade); os actos em que tiverem intervindo titulares de órgãos
ou agentes em relação aos quais tenha havido decisão administrativa
de suspeição são anuláveis nos termos gerais (cfr. n.º 1 do artigo 51.º e
artigo 135.º do CPA); o princípio da imparcialidade está ligado
essencialmente a uma postura da Administração, impondo aos órgãos
e agentes administrativos uma actuação de forma isenta e

6
equidistante relativamente aos interesses em jogo; vício material de
violação de lei em sentido estrito (cfr. artigo 135.º do CPA).
⎯ Tutela de legalidade, meramente inspectiva (vide artigos 199.º, alínea
d), 242.º, n.º1, 288.º, alínea n) da CRP e 2.º, 3.º e 5.º da Lei da Tutela
Administrativa). Cfr. ainda a Orgânica da Inspecção-Geral das
Autarquias Locais, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 326-A/2007, de 28
de Setembro).

4.2.

⎯ Revogação do acto administrativo praticado (cfr. artigos 140.º e


seguintes do CPA).
⎯ A audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 100.º a 103.º do CPA);
o princípio da colaboração da Administração com os particulares (cfr.
artigo 7.º, n.º 1, alínea b) do CPA) e o princípio da participação (cfr.
artigos 267.º, n.º 5 da CRP e 8.º do CPA); vício de forma, por preterição
de uma formalidade essencial, tendo como consequência jurídica a
anulabilidade do acto, (cfr. artigo 135.º do CPA); dever de
fundamentação (cfr. artigos 268.º, n.º 3 da CRP, 123.º, n.º1, alínea d),
124.º, n.º 1, alínea e) e 125.º do CPA); vício de forma, por preterição de
uma formalidade essencial (cfr. artigos 268.º, n.º 3 da CRP e 135.º do
CPA).

7
DIREITO ADMINISTRATIVO ( I) e II

E XAME F INAL – É POCA DE R ECU RSO

23 / 07 / 2011

(11 valores)
1. Comente as frases seguintes no que seja indispensável para
justificar a sua concordância ou discordância:

a) “A natureza do interesse público é uma natureza jurídico-


legal.” (3 val.)

b) “O instituto público pertence à Administração indirecta, mas


pode assumir formas de Administração autónoma ou mesmo
independente”. (2 val.)

c) “O desvio de poder é a única ilegalidade possível no exercício


de poderes discricionários”. (3 val.)

d) “A impugnação contenciosa de um acto administrativo suspende


sempre a eficácia desse acto”. (3 val.)

(8 valores)
2. Por anúncio publicado no Diário da República, IIª Série, nº 16, em
25 de Fevereiro de 2011, a Câmara Municipal de Vila Real publicitou
o lançamento do concurso público para aquisição do “Projecto de
Execução para a Construção das Piscinas Municipais do Calvário”,
classificado como um tipo de contrato de prestação de serviços.

1
A sociedade “José António - Arquitectos, Lda.” submeteu a sua
proposta em 17 de Março de 2011, tendo apresentado todos os
documentos exigidos.

Em 18 de Junho de 2011, o Presidente da Câmara Municipal de Vila


Real adjudicou o referido contrato à sociedade “Moreira e Sá,
Arquitectos, Lda.”.

A sociedade “José António - Arquitectos, Lda.”, preterida no concurso,


considera que a adjudicação é ilegal e pretende reagir
contenciosamente, alegando: (i) erro grosseiro de valorização por
parte dos membros do júri ao não pontuarem um dos factores de
avaliação; (ii) falta de fundamentação das classificações atribuídas
pelos membros do júri a vários parâmetros de avaliação; (iii) falta de
imparcialidade de dois membros do júri que se veio a descobrir terem
sido presenteados pela sociedade beneficiária do acto de adjudicação.

a) Como qualificaria o acto de adjudicação praticado pelo


Presidente da Câmara Municipal? Justifique. (3 val.)
b) Qual o pedido ou pedidos processuais que a sociedade “José
António, - Arquitectos, Lda.” deve utilizar para fazer valer a sua
pretensão? Não deixe de se referir aos pressupostos processuais.
(5 val.)

Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado, sugere-
se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também sabe, o
ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2:30 horas, sem consulta, salvo legislação adequada.
O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da prova (1 valor).

2
DIREITO ADMINISTRATIVO ( I) e II

E XAME F INAL – É POCA DE R ECU RSO

23 / 07 / 2011

Critérios de correcção

1.
a) O interesse público principal (ou essencial) apresenta-se
prejudicialmente definido e qualificado pela lei, assumindo-se como
fundamento e limite de toda a actividade administrativa, sobretudo
quando discricionária. Afasta-se, assim, uma concepção formal e
abstracta de interesse público essencial (Rogério Soares e Vieira de
Andrade) que permitiria, segundo Sérvulo Correia, equacionar aquele
como o resultado ponderativo de vários interesses públicos
secundários (o que devolveria à Administração uma discricionaridade
quanto aos fins que ela não tem nem pode ter, visto que o fim é
precisamente um dos limites incontornáveis e vinculados de toda e
qualquer actividade discricionária).
O interesse público primário ou essencial é o interesse
específico posto pela lei; os interesses públicos secundários são
representados pelos Ministérios e entidades administrativas
chamadas a participar (através de pareceres, por exemplo) num
procedimento de licenciamento, permitindo, a par da consideração
das legítimas posições jurídicas dos particulares, a melhor realização
do interesse público (primário) com o menor sacrifício dos direitos e
interesses legalmente protegidos.
Objecto de ponderação procedimental são os interesses públicos
secundários, cuja função é a de ajudar à melhor e proporcionalística concreção
do interesse-fim, o interesse público primário. (Cfr. Colaço Antunes, O Direito
Administrativo e a sua Justiça no Início do Século XXI, Coimbra, 2001, página
32 e seguintes e 47 e seguintes).

3
b) O instituto público pertence à Administração indirecta, mas pode
assumir formas de Administração autónoma (o caso das
Universidades Públicas) ou mesmo independente (o caso das
entidades administrativas independentes), embora com alterações
substanciais ao regime típico (cfr. artigo 48.º da Lei Quadro dos
Institutos Públicos, aprovada pela Lei n.º 3/2004, de 15 de Janeiro,
sucessivamente alterada). O instituto público é uma pessoa colectiva
pública de tipo institucional, criada para assegurar o desempenho de
funções administrativas pertencentes ao Estado ou a outro ente
público.

c) O poder discricionário como um poder intrinsecamente jurídico; a


vinculação quanto ao fim e à competência; limites e controlo
jurisdicional do poder discricionário (lei, princípios constitucionais
relativos ao exercício da actividade administrativa, auto-vinculação);
a discricionaridade como a escolha da melhor solução possível para a
prossecução do interesse público sem se divorciar dos direitos e
interesses legítimos; o interesse público como fundamento e limite da
discricionaridade administrativa; a individualização dos vários
interesses concorrentes como o momento essencial da
discricionaridade; os vícios do acto administrativo discricionário
(vícios materiais de violação de lei; vícios orgânicos; vícios de forma;
desvio de poder); o vício material de desvio de poder e suas
consequências jurídicas.

d) Do carácter não suspensivo do pedido de impugnação (cfr. artigo


50.º/2 do CPTA), resulta a necessidade premente de tutela cautelar
(cfr. artigos 112.º/1 do CPTA e 268.º/4 da CRP). A providência
cautelar conservatória de suspensão de eficácia do acto
administrativo (cfr. artigos 112.º/2/a), 120.º/1/a), 120.º/1/b) e 120.º/2
do CPTA). A proibição de executar um acto administrativo (cfr. artigo
128.º do CPTA).

4
2.
a)
⎯ Acto de adjudicação como acto administrativo para efeitos
substantivos ou procedimentais (cfr. artigo 120.º do CPA), - acto
administrativo destacável respeitante à formação de um contrato
(contrato de prestação de serviços).
⎯ Acto administrativo para efeitos contenciosos (cfr. artigos
268.º/4 da CRP, 51.º/ 1 e 100.º/1 do CPTA).
⎯ O acto de adjudicação tem um carácter positivo ambivalente.

b)
⎯ O acto de adjudicação como acto impugnável nos termos dos
artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA: o critério de recorribilidade
do acto administrativo é o da susceptibilidade de produção de efeitos
externos (e daí a eventual lesividade), e já não o da definitividade e
executoriedade do acto.
⎯ Vício material de violação de lei: anulabilidade (cfr. artigos
135.º e 136.º do CPA).
⎯ Dever de fundamentação (cfr. artigos 268.º/3 da CRP,
123.º/1/d), 124.º e 125.º); vício de forma, por preterição de uma
formalidade essencial (cfr. artigos 135.º e 136.º do CPA).
⎯ Princípio da imparcialidade e respectivas garantias (cfr.
artigos 266.º/2 da CRP, 6.º e 44.º a 51.º do CPA); circunstância
justificativa de escusa ou suspeição (cfr. artigo 48.º/1/c) do CPA);
decisão de procedência da escusa (suspensão e substituição, - cfr.
artigos 46.º e 47.º ex vi artigo 50.º/3 do CPA) ou de improcedência
(continuação da actividade); os actos em que tiverem intervindo
titulares de órgãos ou agentes em relação aos quais tenha havido
decisão administrativa de suspeição são anuláveis nos termos
gerais (cfr. artigos 51.º/1, 135.º e 136.º do CPA).
⎯ Ora, tratando-se este de um acto administrativo anulável, de
conteúdo ambivalente, é adequado cumular um pedido de anulação

5
do acto administrativo (pedido de impugnação) com um pedido de
condenação à substituição desse acto por outro, nos termos do
disposto conjugadamente nos artigos 51.º/1, 47.º/2/a) e 4.º/2/c) do
CPTA.
⎯ Regime do contencioso pré-contratual (cfr. artigos 46.º/3,
100.º/ 1 e 36.º/1/b) do CPTA).
⎯ Tem legitimidade activa a candidata preterida, - a sociedade
“José António - Arquitectos, Lda.”, - enquanto titular de uma
situação jurídica legitimante que a habilita a recorrer contenciosa-
mente deste acto (critério de lesividade) – o interesse directo e
pessoal a que se referem os artigos 9.º/1 e 55.º/1/a) do CPTA,
aplicável por via do artigo 100.º/1 do CPTA), – assim como interesse
em agir.
⎯ E legitimidade passiva o Município de Vila Real (cfr. artigo
10.º/1/2/4 do CPTA).
⎯ A sociedade “Moreira e Sá, Arquitectos, Lda.” ocupa a posição de
contra-interessada (cfr. artigo 57.º do CPTA, aplicável por via do
artigo 100.º/1 do CPTA), em litisconsórcio necessário passivo com o
Município de Vila Real.
⎯ O pedido deverá ser interposto no prazo de 30 dias nos termos
dos artigos 101.º, 36.º/1/b) e 36.º/2 do CPTA, junto do tribunal
administrativo de círculo territorialmente competente nos termos do
artigo 20.º do CPTA (cfr. artigos 4.º/1/e), 24.º, 25.º e 37.º, a contrario,
e 44.º do ETAF), seguindo-se a tramitação prevista nos artigos 78.º e
seguintes do CPTA, aplicável por via do disposto no n.º 1 do artigo
102.º do CPTA, com as especificidades que decorrem do disposto nos
artigos 102.º/2/3 e 103.º do CPTA.
⎯ Por outro lado, deverá ser intentada, a título preliminar, um
pedido cautelar para a suspensão judicial de eficácia do acto de
adjudicação, de forma a impedir a celebração do contrato de
prestação de serviços – providência cautelar conservatória de
suspensão de eficácia do acto administrativo (cfr. artigo 112.º/1/2/a)
do CPTA).

6
⎯ A providência cautelar deverá ser requerida junto do tribunal
competente para decidir a causa principal (cfr. artigo 20.º/6 do
CPTA).
⎯ Os critérios de concessão da providência cautelar são os do n.º 6
do artigo 132.º do CPTA, uma vez que o acto a suspender foi
praticado no âmbito de um procedimento administrativo pré-
contratual.

7
Finanças
Públicas
Finanças Públicas – Critérios de correção

Exame – Época de Recurso 2 de Fevereiro de 2018

Grupo I
1 – Imagine que no Orçamento do Estado estão previstas normas com o
seguinte teor:

• a) Autorização legislativa para alterar o regime geral do Processo Civil;

• b) Permissão para aumentar o montante das despesas em Educação;

• c) Concessão de um prazo de validade de 500 dias para a previsão


orçamental;

• d) Determinação do valor líquido das despesas com a comunicação


social estatal;

• e) Estatuição de um défice estrutural de 3%.

Quid Juris?

Processo de previsão orçamental – os órgãos de soberania relevantes;


conceito de cavaleiros orçamentais; validade jurídica da autorização
legislativa – discussão; previsão das despesas; as alterações orçamentais; o
princípio da especificação; o princípio da anualidade; os duodécimos; as
exceções ao princípio; princípio da não compensação; o orçamento líquido e
o orçamento bruto; conceito de défice estrutural; os seus limites; referência
às normas constitucionais e legais.

2 – Comente a seguinte afirmação, realçando todos os aspetos que considerar


relevantes: “As finanças locais estão baseadas numa ideia de dependência do
Estado”.

As autarquias locais; a autonomia orçamental, patrimonial e financeira; a


consideração da afirmação como parcialmente verdadeira; relação com o
Estado, os princípios orçamentais; a ideia de solidariedade; as receitas das
autarquias; os impostos; as transferências; referências legais e
constitucionais

Grupo II

Defina, resumidamente, os seguintes conceitos:

• Neutralidade nas importações;

• Equidade vertical;

• Taxas específicas;
• Técnica do englobamento;

• Lucro tributável e dividendos.


Finanças Públicas

Exame Final 12 de janeiro de 2018


Duração . 2 horas
Os Grupos I e II são respondidos em FOLHAS SEPARADAS

Grupo I

1. Imagine que o Governo aprovou um Orçamento do Estado em que se


previa:

• a) Um montante de dívida na ordem dos 120.% do PIB;

• b) Uma receita que especificamente serviria para diminuir o


défice do Sistema Nacional de
Saúde;

• c) A existência de um fundo secreto;

• d) A determinação do regime geral das transferências de verbas


do Orçamento do Estado
para o Orçamento das Regiões Autónomas;

• e) Um conjunto de programas orçamentais para 4 anos;

2. Quid Juris? (5 valores)


Aprovação do Orçamento pela Assembleia da República; consagração
do limite da dívida; equilíbrio orçamental; não consignação; exceção ao
princípio; transparência; possibilidade de fundos secretos; solidariedade
financeira; autonomia regional; anualidade; programas plurianuais –
previsão; referência às normas constitucionais e legais

3. – Comente de forma desenvolvida, - atendendo aos conceitos presentes e


tipologia – a seguinte afirmação “ao referir a dívida pública tanto se
pode pensar numa receita, como numa despesa”.
(5 valores)
Noção de dívida; receita presente e despesa futura; equidade
intergeracional; tipos: flutuante e fundada; outras classificações; efeitos
da dívida sobre a situação orçamental; referência às normas legais e
constitucionais
Grupo II

4. Defina, resumidamente, os princípios fiscais relevantes para as finanças


públicas.

(4 valores)
4. Distinga entre:

• Preço e tarifa;

• Taxa e renda social;

• Dedução específica e dedução à coleta;

• Liquidação e auto-liquidação.

(1,5 valores por alínea)

Finanças Públicas

Critérios de Correção

Grupo II

Definir resumidamente os princípios fiscais da neutralidade, equidade e


simplicidade. Definir e distinguir resumidamente os seguintes conceitos:

• Preço e Tarifa;

• Taxa e Renda Social;

• Dedução específica e dedução à coleta;

• Liquidação e auto-liquidação.
Finanças Públicas

Exame de recurso
9 de fevereiro de 2017

Critérios de Correção

Grupo I

1. Enunciar os principais impostos no sistema fiscal português em função da sua


importância em termos de receita fiscal e seus objetivos:

• O IVA, IRS, IRC e a importância crescente dos IEC(s);

• Caraterização breve destes impostos (incidência pessoal e real, taxas e


objetivos);

• A importância das contribuições obrigatórias para a segurança social na


prossecução de
objetivos fiscais.

2. Definir e distinguir resumidamente os seguintes conceitos:

• Taxa e preço;

• Taxas específicas e taxas ad valorem;

• Matéria coletável e lucro tributável;

• Liquidação e auto-liquidação.

3.

Comente a seguinte afirmação: “O princípio da responsabilidade financeira


está intimamente associado à ideia de prestar contas”.

Regime da Conta Geral do Estado;


Controlo interno e externo;
Controlo político, administrativo e jurisdicional;
Controlo prévio, concomitante e sucessivo;
O plano institucional: Assembleia da República, Governo e Tribunal de Contas.
Justificação constitucional e legal

4. Distinga de forma sucinta:

a) Finanças públicas neutras e finanças públicas intervencionistas;


A relação neutra entre despesas e receitas públicas Relação com o liberalismo
Reduzidas funções do Estado;
A influência de Keynes;
O Estado social.
b) Orçamento de exercício e orçamento de gerência;

A fase de tesouraria e de cobrança;


A fase de planificação e de planificação de médio prazo; Exemplos.

c. Dívida fundada e dívida flutuante;

A dívida de curto prazo (exercício orçamental); A dívida de médio e longo


prazo;
A autorização;
Justificação legal e constitucional.

d. Finanças públicas regionais e finanças públicas locais.

A autonomia patrimonial, orçamental e financeira; Diferentes áreas


territoriais;
Os poderes tributários;
O peso das transferências;

Justificação legal e constitucional.


Faculdade de Direito da Universidade do Porto Finanças Públicas (2o
ano) - Exame final – 16 de janeiro de 2017

Grupo I
1. Explique resumidamente a seguinte afirmação:
O IRS é um imposto anual, baseado numa estrutura classificatória, com
regimes geral e específicos.
(4 valores)
2. Distinga entre:

• Matéria coletável e lucro tributável;

• Gastos e prejuízos fiscais;

• Taxas liberatórias e taxas especiais;

• Liquidação e auto-liquidação.

(1,5 por alínea)


Grupo II
3. Comente a seguinte afirmação: “As regras orçamentais clássicas
baseiam-se, fundamentalmente, no procedimento orçamental”.
(5 valores)
4. Hoje, em Portugal, a maior preponderância quanto à produção e
controlo do Orçamento do Estado está no Governo ou no Parlamento?
(5 valores)

Duração: 2:30h (o tempo de resposta deve ser dividido de acordo com a


cotação) Importante: cada grupo deve ser respondido numa folha de
exame separada, não podendo para cada grupo ultrapassar-se essa
folha.
A clareza, correção formal, objetividade e capacidade de síntese são
elementos tidos em conta na avaliação das respostas.
Bom Trabalho
Finanças Públicas

Época Normal 2017

Critérios de Correção

Grupo I

5. Explicar os seguintes conceitos em sede de IRS:

• Anualidade do imposto;

• Categorias de rendimentos;

• Deduções específicas;

• A técnica do englobamento;

• Taxas progressivas, liberatórias e especiais;

• Deduções à coleta;

• Mínimo de existência.

6. Definir e distinguir resumidamente os seguintes conceitos:

• Matéria coletável e lucro tributável;

• Gastos e prejuízos fiscais;

• Taxas liberatórias e taxas especiais;

• Liquidação e auto-liquidação.

7. Aplicação da Constituição e da Lei de Enquadramento Orçamental


Noção clássica dos princípios relacionados com a estrutura do
Orçamento
Os princípios contemporâneos e sua conexão com os resultados e
perspetivas de médio prazo Exemplos de princípios clássicos
Exemplos de princípios contemporâneos
Noção de procedimento - a fase de produção e execução do Orçamento
A vertente económica do Orçamento
Os critérios do PEC
A responsabilidade pelo cumprimento dos princípios

8. Referência aos artigos da Constituição e da Lei de Enquadramento


Orçamental Descrição da intervenção do Governo e da Assembleia da
República
A tendência de preponderância do executivo
O papel do Ministro das Finanças
As alterações orçamentais
A execução como um ato técnico
O controlo político
O papel dos parlamentos na discussão pública dos orçamentos

A relação do Governo com as instituições da União Europeia

A modificação da participação parlamentar


Faculdade de Direito da Universidade do Porto

Finanças Públicas (2º ano)

Exame final e critérios de correção – 05 de janeiro de 2015

Parte I
(a resposta certa está sublinhada)

1) Define-se como dívida pública fundada aquela que:


a. se destina a ser amortizada em ano económico subsequente àquele em que
foi contraída;
b. se destina a ser amortizada mais de um ano após ter sido contraída;
c. se destina a ser amortizada mais de cinco anos após ter sido contraída;
d. é inscrita no orçamento dos serviços integrados;
e. nenhuma das respostas anteriores.

2) Nos termos da lei, o Tribunal de Contas é chamado a:


a. dar parecer consultivo relativamente à proposta de Orçamento de Estado;
b. dar parecer vinculativo relativamente à proposta de Orçamento de Estado;
c. dar parecer consultivo relativamente à proposta de Conta Geral do Estado;
d. dar parecer vinculativo relativamente à proposta de Conta Geral do Estado;
e. nenhuma das respostas anteriores.

3) O chamado “efeito multiplicador” traduz uma relação entre:


a. o aumento (inicial) do consumo e o aumento (final) do investimento, em função
da propensão marginal para aforrar
b. o aumento (inicial) do investimento e o acréscimo (final) do rendimento, em
função da propensão marginal para consumir;
c. o acréscimo (inicial) do rendimento e o aumento (final) do investimento, em
função da propensão marginal para consumir;
d. o aumento (inicial) do consumo e o acréscimo (final) do rendimento, em função
da propensão marginal para importar;
e. nenhuma das respostas anteriores.

4) Os municípios têm competência para:


a. fixar, livremente, a taxa da derrama aplicável às pessoas coletivas sediadas na sua
circunscrição;
b. fixar, dentro dos limites estipulados na lei, a taxa de IRC aplicável às pessoas
coletivas sediadas na sua circunscrição;
c. fixar, dentro dos limites estipulados na lei, a taxa de IMI aplicável aos prédios
urbanos situados na sua circunscrição;
d. fixar, livremente, os benefícios fiscais aplicáveis às pessoas singulares com domicílio
na sua circunscrição;
e. nenhuma das respostas anteriores.
5) O chamado “duplo cabimento orçamental” refere-se a:

a. cobrança de taxas por parte dos municípios ;


b. pagamento de despesas por parte dos governos regionais;
c. pagamento dos encargos com a dívida pública;
d. pagamento de despesas a cuja cobertura tenha sido consignada determinada
receita;
e. nenhuma das respostas anteriores.

6) As chamadas “deduções específicas” são aplicáveis:


a. após a determinação do rendimento de cada categoria;
b. após o englobamento;
c. após o apuramento da coleta;
d. aquando da determinação dos benefícios fiscais aplicáveis;
e. nenhuma das respostas anteriores.

7) Os impostos especiais sobre o consumo (IECs) são, normalmente, impostos:


a. acessórios;
b. sobre o património;
c. extra-fiscais;
d. pessoais;
e. nenhuma das respostas anteriores.

8) O sistema português de segurança social pode definir-se, quanto ao financiamento, como:


a. tendencialmente misto, combinando o financiamento por repartição (no regime
previdencial) e capitalização (no sistema de proteção social e cidadania);
b. tendencialmente misto, combinando o financiamento por capitalização (no
regime previdencial) e repartição (no sistema de proteção social e cidadania);
c. tendencialmente de capitalização;
d. tendencialmente de repartição;
e. nenhuma das respostas anteriores.
Parte II

1) Refira os diferentes tipos de responsabilidade decorrentes do incumprimento das


regras de execução orçamental, detendo-se em especial no papel desempenhado pelo
Tribunal de Contas no apuramento e sancionamento das mesmas.

a. Relacionar os diferentes tipos de fiscalização (enunciados nos art. 107º CRP e


58º ss. LEO) com as diferentes responsabilidades decorrentes da execução
orçamental, descritas genericamente no art. 70º LEO;
b. Descrever brevemente os tipos de responsabilidade não-financeira, referindo
as entidades responsáveis pelo seu apuramento; em especial quanto à
responsabilidade política, é importante referir os arts. 73º, nº 2, 190º e 191º
CRP;
c. Relativamente à responsabilidade financeira, começar por referir os arts. 214º
CRP e 71º LEO, descrevendo depois brevemente as diferentes formas que pode
assumir (reintegratória e sancionatória, direta e subsidiária, individual ou
solidária) e que vêm descritas nos arts. 57º ss da LOPTC.

2) Explique se, e em que medida, os princípios da equidade e da neutralidade fiscal


podem ser conflituantes entre si, explicando também em que medida serão os
mesmos aptos a prosseguir as principais políticas financeiras que conhece.

a. Explicar em que consiste cada um dos princípios, relacionando-os com uma


filosofia mais (a equidade) ou menos (a neutralidade) interventiva das finanças
públicas;

b. Distinguir equidade horizontal e vertical, explicando as suas consagrações no


nosso ordenamento jurídico-fiscal; é importante, em especial, mencionar os
arts. 103, nº1, e 104º da CRP, 5º, 6º e 7º da LGT e explicar brevemente como
funciona o mecanismo da progressividade por escalões em sede de IRS;

c. Concluir que o princípio da equidade é a inspiração da política de redistribuição,


e que as “finanças neutras” são pouco compatíveis quer com esta, quer com a
de estabilização; mas serão, para os partidários do liberalismo financeiro, um
motor do desenvolvimento.

3) Distinga, no âmbito das finanças locais, equilíbrio financeiro vertical e horizontal,


explicando os mecanismos através dos quais se procura alcançar cada um deles.

a. Enquadrar a questão no relacionamento entre o estado e as autarquias


(equidade vertical) e entre as próprias autarquias (equidade horizontal),
referindo a este propósito os arts. 81º, al. d) e 238º, nº 2, da CRP; importante
também mencionar alguns dos princípios estruturantes das finanças locais, em
especial os referidos nos arts. 8º, 10º e 11º da LFL;
b. Explicar e que consiste cada um daqueles tipos de equilíbrio e as razões de
fundo que justificam a sua expressa previsão legal, com o auxílio do art. 10º, nº
3 e 4, da LFL;

c. Relacionar o equilíbrio vertical com o FSM e o equilíbrio horizontal com o FEF e


seus componentes (arts. 25º ss da LFL), explicando brevemente os critérios
enunciados para a distribuição das contribuições (do estado e dos próprios
municípios) no âmbito de cada um.

COTAÇÃO:

parte 1: 1,25 valores cada questão, havendo uma penalização de 0,25 val. por cada resposta
errada;

parte 2: 10 valores, repartidos por três questões de igual valor entre si.

DURAÇÃO TOTAL: 2:30h


Faculdade de Direito da Universidade do Porto

Finanças Públicas (2º ano)

Exame final – 07 de fevereiro de 2015

Parte I
Escolha apenas a afirmação que lhe parecer mais correta ou completa
(cotação: 1,25 val. cada pergunta, com penalização de 0,25 val. por cada resposta errada)

A RESPOSTA CORRECTA É A SUBLINHADA

1) Nos termos do nosso direito orçamental:


a. o orçamento de estado deve apresentar, em todas as suas componentes, um
saldo global nulo ou positivo;
b. os serviços integrados e a segurança social devem apresentar um saldo primário
positivo, devendo os serviços e fundos autónomos apresentar saldo global nulo
ou positivo;
c. os serviços integrados devem apresentar um saldo primário positivo, devendo
os serviços e fundos autónomos e a segurança social apresentar saldo global
nulo ou positivo;
d. o orçamento de estado deve apresentar, em todas as suas componentes, um
saldo primário nulo ou positivo;
e. nenhuma das respostas anteriores.

2) Estão sujeitas à jurisdição do Tribunal de Contas, entre outras, as seguintes entidades:


a. As empresas públicas e as entidades públicas empresariais;
b. As empresas públicas, as entidades públicas empresariais e a generalidade das
fundações de direito privado;
c. As empresas públicas, as entidades públicas empresariais e as empresas
privadas que contratem com o Estado;
d. As empresas públicas, as entidades públicas empresariais e as empresas
participadas;
e. nenhuma das respostas anteriores.

3) O IVA caracteriza‐se como um imposto:


a. monofásico;
b. específico;
c. cumulativo;
d. plurifásico;
e. nenhuma das respostas anteriores.
4) A competência para criar impostos cabe:
a. à Assembleia da República;
b. à Assembleia da República e ao Governo (desde que munido de autorização
parlamentar);
c. à Assembleia da República, ao Governo (desde que munido de autorização
parlamentar) e às Assembleias Legislativas Regionais (desde que preenchidos os
pressupostos da Lei das Finanças Regionais);
d. à Assembleia da República, ao Governo (desde que munido de autorização
parlamentar), às Assembleias Legislativas Regionais (desde que preenchidos os
pressupostos da Lei das Finanças Regionais) e às Assembleias Municipais (desde que
preenchidos os pressupostos da Lei das Finanças Locais);
e. nenhuma das respostas anteriores.

5) Nos termos do chamado “dispositivo‐travão”:

a. o Tribunal de Contas pode impedir a administração de efetuar uma despesa não


inscrita no OE;
b. o Governo não pode efetuar despesas sem cabimento orçamental;
c. a Assembleia da República não pode, durante a execução orçamental, diminuir as
receitas ou aumentar as despesas previstas no OE;
d. o Governo pode impedir a fiscalização, pelo Tribunal de Contas, de despesas
inferiores a €350.000;
e. nenhuma das respostas anteriores.

6) Nos termos da lei:


a. o Governo pode livremente contrair empréstimos e realizar outras operações de
crédito;
b. o Governo apenas pode contrair empréstimos e realizar outras operações de
crédito mediante autorização da AR;
c. o Governo pode livremente contrair empréstimos e realizar outras operações de
crédito desde que estes deem origem a divida fundada;
d. o Governo pode livremente contrair empréstimos e realizar outras operações de
crédito desde que estes deem origem a divida flutuante;
e. nenhuma das respostas anteriores.

7) O Fundo de Equilíbrio Financeiro é um instrumento destinado a:


a. promover o equilíbrio horizontal entre as autarquias locais;
b. promover o equilíbrio vertical entre as autarquias locais e o Estado;
c. promover o equilíbrio do Orçamento de Estado;
d. impedir o excessivo endividamento das Regiões Autónomas;
e. nenhuma das respostas anteriores.

8) A “lei de Wagner” relativa às despesas públicas afirma que:


a. o crescimento da despesa púbica tende a ser pelo menos proporcional ao do
rendimento nacional;
b. as despesas de capital devem ser tendencialmente cobertas por receitas de capital;
c. o aumento das despesas de investimento conduz, a prazo, a um aumento
exponencial do rendimento nacional;
d. as despesas correntes não podem ser cobertas mediante o recurso ao crédito;
e. nenhuma das respostas anteriores.
Faculdade de Direito da Universidade do Porto

Finanças Públicas (2º ano)

Exame final – 07 de fevereiro de 2015

Parte II
1) Explique em que se traduz o chamado fenómeno da “desorçamentação” de alguns
setores do Estado, explicando em que se traduz e por que formas conseguem as
entidades envolvidas satisfazer os seus encargos financeiros.

A questão pede que se identifiquem os setores de atividade pública que se situam fora do
chamado “perímetro orçamental”, sendo essencial referir as finanças das regiões autónomas e
das autarquias locais (como expressamente refere o art. 5º, nº 2, da LEO) e o setor empresarial
do estado. Depois de identificados, deve explicar‐se como se concilia esta desorçamentação com
o princípio da plenitude orçamental, referindo‐se a necessidade de transferências financeiras
para aquelas entidades (que no caso das regiões e autarquias vêm até previstas expressamente
no art. 32. LEO) como forma de assegurar a sua sustentabilidade.

2) Descreva os poderes tributários das Regiões Autónomas, referindo nomeadamente


onde se fundam e os caracteres que entende como mais importantes.

Os poderes tributários das RAs estão previstos no art. 227º CRP, sendo depois desenvolvidos e explicitados
na LFRA. São de natureza normativa (poder de criar impostos vigentes apenas na circunscrição respetiva,
bem como o de adaptar o sistema tributário às especificidades da região, nos termos dos arts. 55º ss LFRA)
e administrativa (arts. 61º ss LFRA). Para além disto, as RAs têm ainda direito às verbas resultantes da
cobrança dos impostos (nacionais) indicados nos arts. 24º ss LFRA.

3) Explique quais os principais critérios em que tem assentado, nas formulações da lei e da
doutrina, o dever de pagar impostos, referindo o que diz a esse propósito a nossa lei
tributária.

Os critérios de repartição da carga fiscal (que não se confundem, como é claro, com os fins da tributação ou
com os objetivos de política financeira) têm sido, fundamentalmente, o do benefício e o da capacidade
contributiva. Pretendia‐se nesta questão a explicação do sentido e das dificuldades de aplicação de cada um
e uma indicação sobre o respetivo acolhimento no nosso sistema fiscal, e em especial no art. 4º LGT: a
capacidade contributiva como critério geral para criação de impostos, o benefício como critério aplicável
em sede de taxas (e, em certa medida, nos impostos sobre o consumo).

COTAÇÃO: PARTE 1 ‐ 1,25 valores cada questão, havendo uma penalização de 0,25 val. por
cada resposta errada; PARTE 2 ‐ 10 valores, repartidos por três questões de igual valor.

DURAÇÃO TOTAL: 2:30h

A PARTE II DEVE SER RESPONDIDA NUM MÁXIMO DE QUATRO PÁGINAS.

A CLAREZA, CORREÇÃO FORMAL, OBJETIVIDADE E CAPACIDADE DE SÍNTESE SERÃO TIDAS EM


CONSIDERAÇÃO NA AVALIAÇÃO DAS RESPOSTAS.
Faculdade de Direito da Universidade do Porto
Finanças Públicas (2º ano) - Exame final – 10 de janeiro de 2014

Enunciado e critérios de correção

Nome:

Parte I
(o enunciado da parte II será entregue aquando da entrega desta folha)

Assinale, em cada questão, apenas UMA hipótese que lhe pareça correta.

1) Os juros de um depósito a prazo auferidos por um residente:


a. são tributados a título de mais-valias, a uma taxa liberatória de 28%;
b. são tributados a título de rendimentos do trabalho independente, estando
sujeitos à obrigação de pagamento por conta;
c. são tributados a título de rendimentos de capitais, sendo em regra englobados
como qualquer outro rendimento;
d. estão isentos de tributação;
e. nenhuma das respostas anteriores.
(A resposta correta seria: “são tributados a título de rendimentos de capitais, não
sendo em regra englobados”)

2) Na ordem jurídica portuguesa, a tributação do consumo é feita por via dos seguintes
impostos:
a. IVA e Impostos aduaneiros;
b. IVA, impostos aduaneiros e IEC’s;
c. IVA, impostos aduaneiros e IMI;
d. IVA, IMI e IEC’s;
e. nenhuma das respostas anteriores.

3) Em sede de IRC, “matéria colectável” significa:


a. o lucro tributável após dedução de amortizações e depreciações;
b. o lucro tributável após ser sujeito às deduções à coleta;
c. o lucro tributável após dedução de prejuízos e benefícios fiscais;
d. a soma do lucro tributável com as variações patrimoniais positivas;
e. nenhuma das respostas anteriores.

4) A execução do orçamento por duodécimos ocorre apenas quando:


a. a proposta de lei do orçamento seja rejeitada;
b. o governo em funções se encontre demitido a 15 de outubro;
c. o termo da legislatura ocorra entre 15 de outubro e 31 de dezembro;
d. o défice orçamental ultrapasse os 7%;
e. nenhuma das respostas anteriores.
(a resposta correta seria: “em qualquer das situações previstas no nº 1 do art. 12.º-
H da Lei de Enquadramento Orçamental.”)
5) o princípio orçamental da não-consignação apenas pode ser derrogado por:

a. lei de valor reforçado;


b. diploma legal;
c. diploma legal ou disposição contratual;
d. disposições legais referentes ao financiamento do sistema de segurança social;
e. nenhuma das respostas anteriores.

6) A fixação do valor de uma taxa é feita com base no(s) seguinte(s) critério(s):
a. a cobertura dos custos suportados pela entidade credora da taxa;
b. o ganho auferido pela entidade devedora da taxa;
c. ambas as respostas anteriores;
d. o défice orçamental da entidade credora da taxa no ano económico precedente;
e. nenhuma das respostas anteriores.

7) As regiões autónomas podem criar impostos vigentes no respectivo território, desde


que:
a. sejam devidamente autorizadas para esse efeito pela Assembleia da
República;
b. a matéria desses impostos não seja já objeto de incidência de um imposto de
âmbito nacional;
c. da criação desse imposto não resulte um aumento da carga fiscal dos
contribuintes da região;
d. todas as respostas anteriores;
e. nenhuma das respostas anteriores.

8) O regime contributivo da Segurança Social é obrigatório para:


a. os titulares de rendimentos do trabalho dependente;
b. os titulares de rendimentos do trabalho dependente, comerciais ou
empresariais;
c. os titulares de rendimentos do trabalho dependente, comerciais, empresariais ou
de capitais;
d. os titulares de rendimentos do trabalho dependente, comerciais, empresariais, de
capitais ou de pensões;
e. nenhuma das respostas anteriores.

Parte II

1) Indique, explicando, as diferentes formas pelas quais se exerce o controlo da


execução do Orçamento de Estado.

Deveria referir-se os três tipos de fiscalização da execução orçamental (administrativo,


judicial e político), os órgãos responsáveis por cada um, os atos materiais em que se
traduzem e o(s) momentos(s) em que são exercidos.

2) Diga o que entende por progressividade fiscal, explicando as diferentes aceções em


que o conceito pode ser entendido e aplicando-o aos tipos de impostos que estudou.
Pretende-se que o aluno explique o que entende por progressividade, quer quanto ao
mecanismo de taxas (como sucede com o IRS e em certos casos com o IMT), quer na
conceção do imposto (como pode defender-se quanto ao IVA), relacionando o
conceito com a função redistributiva das finanças públicas e com o princípio da
equidade em sentido vertical.

3) Pode afirmar-se que as autarquias locais dispõem de poderes tributários? Justifique.

Descrição breve dos poderes tributários das autarquias, sendo importante uma
explicação da à figura da derrama, e a referência à possibilidade de conformação da
taxa do IMI e aos poderes quanto à fixação de taxas e preços.

4) Comente a seguinte afirmação: “o sistema português de segurança social tem como


única fonte de financiamento as contribuições dos trabalhadores, existindo uma
relação de verdadeira correspetividade estre as contribuições recebidas e as
prestações atribuídas.”

Comentário crítico da afirmação transcrita, indicando as diferentes fontes de


financiamento do sistema de segurança social, pondo em causa a ideia de
correspetividade entre contribuições e prestações (e a consequente natureza
tributária das primeiras) e explicando brevemente as causas desse fato.

Notas importantes:

- todas as respostas pressupõem a correta fundamentação com as normas legais e


constitucionais aplicáveis, sendo esse um elemento essencial na atribuição das cotações.

- a clareza e objetividade das respostas é tida em conta.

- cotação: parte 1: 1,25 valores cada questão, havendo uma penalização de 0,25 val. por cada
resposta errada; parte 2: 2,5 valores cada questão.

- duração: 2 horas.
Faculdade de Direito da Universidade do Porto
Finanças Públicas (2º ano) - Exame final – 15 de fevereiro de 2013
Enunciado e critérios de correcção

Parte I

1) As prestações pecuniárias atribuídas pela segurança social:


a. estão isentas do pagamento de IRS;
b. estão sujeitas, a título de IRS, ao pagamento de uma taxa liberatória de 21,5%;
c. obrigam os seus beneficiários a realizar, nos meses de Julho, Setembro e
Dezembro, três pagamentos por conta do IRS devido no final do ano;
d. estão sujeitas ao regime geral de retenção na fonte, a título de IRS;
e. nenhuma das respostas anteriores.

2) O pagamento por conta é uma obrigação a que apenas estão sujeitos:


a. todos os sujeitos passivos de IRS e IRC;
b. todos os sujeitos passivos de IRC;
c. todos os sujeitos passivos de IRC e os sujeitos passivos de IRS titulares de
rendimentos das categorias A e H;
d. os sujeitos passivos de IRS titulares de rendimentos da categoria B;
e. nenhuma das respostas anteriores.

(nota: a resposta correcta seria: “Os sujeitos passivos de IRC e os sujeitos passivos de
IRS titulares de rendimentos da categoria B”.)

3) Em sede de Orçamento de Estado, o financiamento de uma Universidade Pública


constituída sob a forma de fundação inscreve-se:
a. no orçamento dos serviços integrados;
b. no orçamento dos serviços e fundos autónomos;
c. no orçamento dos serviços integrados ou no orçamento dos serviços e fundos
autónomos, consoante se trate de uma fundação de direito público ou de direito
privado;
d. trata-se de um financiamento sem inscrição orçamental;
e. nenhuma das respostas anteriores

4) Em sede de Orçamento de Estado é correto dizer-se que:


a. o princípio da não-consignação é uma decorrência do princípio da unidade;
b. o princípio do equilíbrio é entendido de um modo idêntico nos diferentes sub-
orçamentos;
c. o princípio da não-compensação é uma decorrência do princípio da
universalidade;
d. o princípio da unidade é desrespeitado pela existência de um sub-orçamento para
a segurança social;
e. nenhuma das respostas anteriores.

5) A execução do orçamento por utilização de duodécimos ocorre apenas quando:


a. a proposta de lei do orçamento seja rejeitada;
b. o governo em funções se encontre demitido a 15 de outubro;
c. o termo da legislatura ocorra entre 15 de outubro e 31 de dezembro;
d. todas as anteriores;
e. nenhuma das respostas anteriores

(nota: a resposta correta teria de abarcar todas as situações previstas no art. 12-H,
nº 1, da Lei de enquadramento orçamental)
6) O regime contributivo da Segurança Social é obrigatório para:
a. os titulares de rendimentos do trabalho dependente;
b. os titulares de rendimentos do trabalho dependente, comerciais ou
empresariais;
c. os titulares de rendimentos do trabalho dependente, comerciais, empresariais ou
de capitais;
d. os titulares de rendimentos do trabalho dependente, comerciais, empresariais, de
capitais ou de pensões;
e. nenhuma das respostas anteriores.

Cotação da Parte I: 1,5 val. cada questão, com penalização de 0,5 val. por cada resposta errada.
Salvaguarda-se que nunca será atribuída cotação negativa ao conjunto das seis questões, ainda
que todas estejam erradas.

Parte II

1) Distinga os seguintes conceitos (2 val. cada alínea):

a. “Deduções específicas” e “deduções à coleta” : definir cada um dos conceitos, referindo o


momento da técnica fiscal em que têm aplicação e as disposições relevantes do código do IRS.

b. “Taxa liberatória” e “taxa ad valorem”: definir cada um dos conceitos, chamando a atenção
para o facto de o segundo se aplicar sobretudo aos impostos indirectos e indicando as
disposições onde, em sede de impostos sobre o rendimento, encontramos o primeiro.

c. “Regime contributivo” e “regime não-contributivo”, em sede de segurança social: distinguir


os dois regimes, relacionando-os com os pilares e sistemas da segurança social e indicando o
respectivo fundamento legal em sede de código contributivo e de lei de bases da segurança
social.

2) Explique o que entende por “equilíbrio do orçamento”, referindo as diversas aceções em que a
expressão pode ser (e é) utilizada e explicando a importância do conceito em todo o processo
orçamental. (5 val.)
A resposta deveria começar por referir a importância do equilíbrio enquanto fim último do
orçamento, indicador de uma correta previsão e afectação dos recursos disponíveis pelas
necessidades do estado. Posteriormente deveria explicar-se o porquê de nem todas as receitas (e
despesas) deverem ser consideradas para efeito do seu cálculo, indicando-se as diferentes
perspectivas possíveis (receitas e despesas efectivas/não efetivas, correntes/de capital e
ordinárias/extraordinárias), concluindo-se com a indicação das opções tomadas a este respeito na
nossa lei de enquadramento orçamental para cada um dos sub-orçamentos e explicando a
diferença entre saldo global e saldo primário.
Faculdade de Direito da Universidade do Porto
Finanças Públicas (2º ano)

Exame final – 10 de Fevereiro de 2012

Duração: 2 horas
O exame não deverá exceder UMA folha de exame

Grupo I

Distinga, de forma clara e objectiva, os seguintes conceitos:

a) Rendimento tributável e Matéria colectável;


b) Retenção na fonte e Pagamento por conta;
c) Serviços integrados e Serviços e fundos autónomos;
d) Dedução específica e Dedução à colecta.

Grupo II

“De todos os princípios que regem a elaboração e execução do Orçamento de Estado, o da


não‐consignação é sem qualquer dúvida o mais importante. ”

Comente a afirmação transcrita, justificando a sua concordância ou discordância com a mesma


e explicando em que consiste o referido princípio e quais as excepções que comporta.

Grupo III

Refira, justificando, as principais razões pelas quais se tem vindo a colocar em causa a
sustentabilidade do financiamento do nosso sistema de Segurança Social.

Cotações: Grupo I: 2,5 val. cada alínea; Grupos II e III: 5 val. cada.
Faculdade de Direito da Universidade do Porto
Finanças Públicas (2º ano)

Exame final – 10 de Fevereiro de 2012

Critérios de correcção

Grupo I (2,5 val. cada alínea)

Pretende‐se a noção breve, mas precisa, de cada um dos conceitos apresentados, bem como a
comparação (igualmente breve) entre ambos.

Grupo II (5 val.)
Pretende‐se que a resposta enuncie correctamente o princípio da não consignação e indique
(ainda que apenas por remissão para a lei) as suas excepções. Posteriormente deverá ser feita
uma análise crítica à afirmação transcrita, relativizando‐a em função da importância igual ou
superior de outros princípios orçamentais (em especial o do equilíbrio, mas também o da
unidade ou o da universalidade), notória quer na falta de dignidade constitucional do princípio
da não consignação, quer nas numerosas excepções que comporta.

Grupo III (5 val.)

Pretende‐se que a resposta identifique as principais fontes de financiamento do sistema


público de segurança social português e os principais problemas de que as mesmas padecem
(envelhecimento da população, aumento do desemprego, aumento do número e volume das
prestações sociais, fraude mais ou menos generalizada, falta de coordenação com o sistema
fiscal etc.), referindo de seguida (e analisando‐as criticamente) algumas alternativas possíveis
para contrariar essa tendência (incentivo aos regimes complementares, políticas de emprego,
redução de algumas prestações, aumento da idade de reforma, etc.).

Nota: em todos os grupos é valorizada a indicação de todas as normas jurídicas aplicáveis,


bem como a correcção formal e a objectividade das respostas.
Exame
Finanças Públicas
24 de Janeiro de 2011

Duração: 3 horas
Responda a todas as questões
Todos os grupos de questões têm igual valor.
O exame não deverá exceder 2 folhas de exame (8 páginas).

Grupo I
Defina o sistema de segurança social Português e a sua ligação com o normativo fiscal.

Grupo II
Distinga de um modo objectivo e claro os seguintes conceitos:

a. Imposto e taxa;
b. Taxa específica e taxa ad valorem;
c. Liquidação e pagamento;
d. Matéria colectável e rendimento tributável.

Grupo III
Defina sector empresarial do Estado, classificando-o e indicando os respectivos regimes
jurídicos.

Grupo IV
Defina objectivamente os seguintes conceitos:

a. Não consignação;
b. Pagamento por conta;
c. Taxas liberatórias;
d. Conta Geral do Estado;
e. Depreciação.
Exame
Finanças Públicas
24 de Janeiro de 2011

Critérios de correcção

Grupo I: Explicação breve da estrutura e principais características do Sistema de


Segurança Social português, referindo nomeadamente os seus diferentes subsistemas e
pilares e as questões relativas ao seu financiamento; referência à natureza de imposto
que revestem as contribuições obrigatórias, á possibilidade de dedução das
contribuições para efeitos fiscais e ao impacto que do novo Código Contributivo.

Grupo II: definição breve, em cada alínea, de cada um dos dois conceitos apresentados
e contraposição das suas principais diferenças entre ambos, com recurso às normas
legais aplicáveis..

Grupo III: explicação da forma como o SEE está actualmente estruturado, com recurso
às noções de Empresa Pública, Empresa Participada e Entidade Pública Empresarial, e
aos principais problemas que este sector coloca às finanças públicas (nomeadamente à
questão da desorçamentação de que é alvo); breve explicação do respectivo regime
jurídico, com recurso às normas legais aplicáveis.

Grupo IV: definição breve, em cada alínea, de cada um dos conceitos apresentados,
com recurso às normas legais aplicáveis.

Nota: a clareza e objectividade da exposição (relativamente ao que era questionado),


bem como a capacidade de síntese, foram tidas em conta na avaliação das respostas.
Exame
Finanças Públicas – Época de Recurso
16 de Fevereiro de 2011

Duração: 3 horas
Responda a todas as questões
Todos os grupos de questões têm igual valor.
O exame não deverá exceder 2 folhas de exame (8 páginas).

Grupo I
Defina o sistema de segurança social Português e a sua ligação com o normativo fiscal.

Grupo II
Distinga de um modo objectivo e claro os seguintes conceitos:

a. Dedução específica e dedução à colecta;


b. Taxa específica e taxa ad valorem;
c. Depreciação e amortização;
d. Matéria colectável e rendimento tributável.

Grupo III
Defina sector empresarial do Estado, classificando-o e indicando os respectivos regimes
jurídicos.

Grupo IV
Defina objectivamente os seguintes conceitos:

a. Equilíbrio;
b. Rendimentos em espécie;
c. Taxas de retenção na fonte;
d. Conta Geral do Estado;
e. Serviços integrados.
Exame
Finanças Públicas
24 de Janeiro de 2011

Critérios de correcção

Grupo I: Explicação breve da estrutura e principais características do Sistema de


Segurança Social português, referindo nomeadamente os seus diferentes subsistemas e
pilares e as questões relativas ao seu financiamento; referência à natureza de imposto
que revestem as contribuições obrigatórias, à possibilidade de dedução das
contribuições para efeitos fiscais e ao impacto que do novo Código Contributivo.

Grupo II: definição breve, em cada alínea, de cada um dos dois conceitos apresentados
e contraposição das suas principais diferenças entre ambos, com recurso às normas
legais aplicáveis..

Grupo III: explicação da forma como o SEE está actualmente estruturado, com recurso
às noções de Empresa Pública, Empresa Participada e Entidade Pública Empresarial, e
aos principais problemas que este sector coloca às finanças públicas (nomeadamente à
questão da desorçamentação de que é alvo); breve explicação do respectivo regime
jurídico, com recurso às normas legais aplicáveis.

Grupo IV: definição breve, em cada alínea, de cada um dos conceitos apresentados,
com recurso às normas legais aplicáveis.

Nota: a clareza e objectividade da exposição (relativamente ao que era questionado),


bem como a capacidade de síntese, foram tidas em conta na avaliação das respostas.
Direito
Fiscal
Exame
Direito Fiscal
Duração da prova: 2 horas.
As suas respostas não podem exceder 1 folha de exame.
Fatores de avaliação: concisão, clareza e organização nas
respostas.
9. Explique criticamente o processo de coordenação fiscal na
União Europeia à luz dos princípios fiscais europeus e
internacionais. (Cotação: 5 valores)

10. Defina os seguintes conceitos, fundamentando sempre as suas


respostas com base nas normas fiscais aplicáveis:

• Rendimentos da categoria B; (Cotação: 2,5 valores)

• Entreposto fiscal; (Cotação: 2,5 valores)

• Sujeitos passivos em sede de IVA. (Cotação: 2,5


valores)

3. Distinga os seguintes conceitos, fundamentando sempre as


suas respostas com base nas normas fiscais aplicáveis:

• Taxas de tributação autónomas e taxas liberatórias;


(Cotação: 2,5 valores)

• Sujeitos passivos em sede de IMI e IMT; (Cotação: 2,5


valores)

• Liquidação em sede de Imposto de Selo (transmissões


gratuitas) e nos
Impostos aduaneiros. (Cotação: 2,5 valores)

Direito Fiscal
Critérios de Correção
1. Descrever a evolução histórica do processo de coordenação
fiscal na União Europeia e identificar os principais diplomas
legislativos fiscais à luz dos princípios fiscais europeus e
internacionais.
2. Definir, objetivamente, com apelo à legislação relevante:
• Rendimentos da categoria B: ver CIRS;

• Entreposto fiscal: ver CIEC(s);

• Sujeitos passivos em sede de IVA: ver CIVA.

3. Distinguir, com apelo à legislação relevante:


a. Taxas de tributação autónomas e taxas liberatórias: ver CIRC e
CIRS;
b. Sujeitos passivos em sede de IMI e IMT: ver CIMI e CIMT;
c. Liquidação em sede de imposto de selo nas transmissões
gratuitas e nos impostos aduaneiros: ver CIS e CAU.
Porto, 13/06/2018
Glória Teixeira
Critérios de Correção

- O IRS: o sistema de taxas, deduções e benefícios fiscais aplicáveis;


- O IRC: os sistemas de tributação, as taxas e os benefícios fiscais aplicáveis. Breve
análise de direito internacional fiscal: os princípios da residência e da territorialidade (os
conceitos de estabelecimento estável e a técnica da retenção na fonte);
- As contribuições obrigatórias para a Segurança Social e a sua importância na
redistribuição do rendimento: o sistema de Segurança Social português e os regimes
estatuídos pelo legislador.
II

a) Definir e distinguir os conceitos com base na doutrina nacional e internacional e


analisando a legislação aplicável: artigos 21º a 23º da LGT. Exemplificação com
base na legislação (24º a 28º LGT) e jurisprudência selecionada e indicada na
disciplina.
b) Identificação dos conceitos como formas de benefícios fiscais. Definição e
distinção dos mesmos com base na doutrina nacional. Exemplificação com base
na legislação (CIRS) e jurisprudência selecionada e indicada na disciplina.
c) Definir e distinguir os conceitos com base na doutrina nacional e europeia e
analisando a legislação aplicável: artigos 19º a 23º do CIVA e 19º a 21º do RITI.
Âmbito de aplicação em sede de IVA. Exemplificação. Sobre a matéria o
Acórdão do TJUE in processo C-333/91.
d) Definir e distinguir os conceitos com base na doutrina nacional e analisando a
legislação aplicável: artigos 2º, 7º, 17º e 38º do CIMI. Âmbito de aplicação em
sede de IMI, IMT e IS.
e) Identificação dos conceitos como conceitos fundamentais do Código Aduaneiro
da União. Definição e distinção dos mesmos com base na doutrina nacional e
europeia e analisando a legislação aplicável: artigos 59º a 68º e 69º a 76º do
Código Aduaneiro da União. Âmbito de aplicação em sede de impostos
aduaneiros.

Porto, 28/7/15.

Glória Teixeira

Ana Sofia Carvalho

1
DIREITO FISCAL
EXAME DA ÉPOCA RECURSO
20 de JULHO de 2011
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO

GRUPO I – COTAÇÃO 10 VALORES

Questão: (máximo 2 páginas)

Comente a seguinte afirmação, enquadrando a sua resposta doutrinal e legalmente:

Os impostos sobre o rendimento apresentam-se como impostos mais complexos, preferindo-se os impostos sobre o
consumo por se tratarem de impostos mais fáceis de gerir e aplicar.
Por outro lado, os impostos sobre o património podem penalizar mais fortemente os contribuintes mas poderão
contribuir para uma melhor redistribuição da riqueza.

Definir as bases de incidência, liquidação e taxas dos impostos sobre o rendimento, consumo e
património, sob uma dupla perspectiva crítica e doutrinal.

GRUPO II – COTAÇÃO 10 VALORES

Questão: (Máximo 3 páginas)


NOTA IMPORTANTE:
A situação simulada abaixo refere-se a 31.12.2011 e o enquadramento legal aplicável é o conhecido à data
de hoje.

A de 45 anos é Administrador da sociedade ABC S.A., que em 2011 apresentou um lucro contabilístico de € 450
740,00. Recebeu em Fevereiro de 2011 uma gratificação de € 25 000.00 por conta de lucros do exercício de 2010.
Além de administrador da sociedade ABC S.A., A recebeu ainda da sociedade ABC S.A., por ser accionista, o valor de €
26 000.00 de dividendos líquidos. Como administrador recebeu de ordenados € 174 351,00 em 2011 + € 17 500,00 de
subsídio de refeição + € 24 760,00 de ajudas de custo das quais apenas apresentou contas por um valor de € 12
500.00 até 31 de Dezembro de 2011. Como consultor – Economista - A recebeu durante 2011 € 24 600.00 (IVA
incluído) tendo feito retenção na fonte de € 4 300.00. Vive em união de facto desde Janeiro de 2009 com B,
Licenciada em Direito, de 40 anos. B tem uma filha C, que vive com A e B. A jovem C fez 26 anos em 2011 e está a
concluir o Mestrado na FDUP. Têm residência no Porto. B é Diplomata e trabalha na Embaixada de Portugal em
Madrid há 4 anos. Recebeu de ordenado, como diplomata, no ano de 2011 € 101 440,00. Recebeu B por liquidação e
partilha de empresa AAA Lda., onde nunca aplicou qualquer valor e da qual o pai fora sócio, o valor de € 75 000.00. A
vendeu 1 000 acções que tinha da empresa BBB, S.A. tendo contabilizado uma menos valia de € 555,00. A subscreveu
um PPR do Millennium-BCP de € 2 000.00. Aplicação idêntica e com o mesmo valor foi feita por B.
Pagaram pela propina de C na FDUP o valor de € 918,00.

Analise a situação fiscal de A, B e C no ano de 2011, preocupando-se com o enquadramento de cada informação
acima descrita, em sede de Impostos sobre o Rendimento, IVA e Segurança Social.

1
Nota: Importante esclarecer:
1. A e B podem (devem) entregar Declaração Modelo 3 de IRS conjunta?
2. B é residente, para efeitos fiscais, onde? Porquê?

NOTA: Tudo o que se refira a IRC não era questão colocada.

A e B por cumprirem o artigo 14º nºs 1 e 2 do CIRS e Lei respectiva podem entregar declaração MODELO 3
de IRS conjunta e equiparados a contribuintes casados. Podem, mas há que analisar se devem. Para o efeito
analisar os diversos tipos de rendimento e fazer simulação de liquidação. Pode ser interessante entregar 2
declarações. Neste caso há opção, ao contrário dos contribuintes casados:

B é residente para efeitos fiscais em Portugal (Porto) nos termos da alínea d) do artigo 16º do CIRS, embora
exerça actividade no estrangeiro.

Agregado familiar A + B por opção ou A e B (individuais) por opção. C não faz parte do agregado familiar – artigo
13º nº4 alínea b) do CIRS e artigo 14º CIRS;

Sujeito Passivo A
Categoria A – ordenado, gratificação, parte de subsidio refeição (excedente nos ternos legais) ajudas de custo
( totalidade para não prestação de contas e excesso no restante)- artigo 2º nº2; nº 2 alínea b) nº 3; alínea d) nº 3;
Categoria E – Dividendos líquidos – artigo 5º nº 2 alínea h) do CIRS. Já sujeitos a taxa liberatória – artigo 71º CIRS
( possibilidade de opção por englobamento) no caso presente sem interesse;
Categoria B – Actividade por conta própria – consultoria – artigo 3º diversas alíneas do CIRS. Abordagem da
retenção na fonte e IVA;
PPR não é dedução pessoal nos termos do EBF e a partir de 01.01.2011;
Menos-valias – não são rendimento. Não há dedução de perdas na categoria G, portanto é irrelevante esta
informação;
Código Contributivo – Inclusão da actividade categoria A; solicitação de dispensa para actividades da categoria B
– artigos 46º; artigo 133º e 157º do CC

Sujeito Passivo B
Categoria A – Ordenado – artigo 2º nº 2 ;
Categoria G - Valor de liquidação e partilha a título gratuito – artigo 10º nº1 alínea b);
PPR não é dedução pessoal nos termos do EBF e a partir de 01.01.2011;
Código Contributivo – artigo 113º e seguintes do CC e Lei 12-A/2008. Se o contrato não for em funções públicas
esta abrangido pela CGA e não pelo CC

Poderia a resposta referir aspectos de taxas e períodos de liquidação nos termos do CIRS e IVA.

2
Direitos
Fundamentais
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Direitos Fundamentais - 2º Ano (Época Normal - 1 de Junho de 2015)
Duração: 2h45 (Distribuição tendencial - I – 30 mn, II -1h, III - 1h)
Observação: Pode ser consultada TODA a legislação e NADA MAIS que
legislação.

I. Responda sucintamente às seguintes questões (1,5 valores cada):


a) São admissíveis “leis medida” em matéria de direitos fundamentais?
b) Distinga direitos de personalidade de direitos fundamentais.
c) Distinga direitos fundamentais de pessoas colectivas de direitos fundamentais de
exercício colectivo.

II. Comente DUAS das seguintes afirmações (3,25 valores cada):


1. Os direitos fundamentais nas Constituições Portuguesas fizeram o caminho da
trilogia liberdade-segurança-propriedade de 1822 à trilogia da dignidade-liberdade-
igualdade de 1976 (Jorge Miranda)
2. A ciência dos direitos fundamentais (…) converteu-se numa medida apreciável, numa
ciência da jurisprudência constitucional (Alexy).
3. No que respeita à previsão dos direitos fundamentais, não é o passado mas o futuro o
problema da constituição (Kirchof).
4. ”O recurso ao direito fundamental ao ambiente, como “direito de defesa” contra
quaisquer agressões ilegais na esfera individual constitucionalmente protegida, tanto
vale relativamente a entidades públicas como privadas(...), o que permite também
considerar o universo das relações jurídicas interprivadas de ambiente.”

III. Pronuncie-se sobre TRÊS das seguintes questões, do ponto de vista da


dogmática constitucional (3 valores cada):
1. O semanário Tretas, numa reportagem sobre o mundo da moda, afirmou que a
conhecida modelo Ana era viciada em tabaco e andava em tratamento nos fumadores
anónimos. Nessa reportagem publicou fotografias de Ana de cigarro aceso na boca. Ana
processou a jornalista social autora do texto e directora do semanário. Alegou ser falso
que fosse viciada em tabaco, que aquela fotografia tinha sido tirada no exercício da sua
profissão de modelo para publicidade de uma marca de tabaco e que tal publicação
prejudicava gravemente a sua reputação pessoal e profissional, constituindo difamação.
2. Bento e Carolina, casados entre si, celebraram com Diana um contrato de
maternidade de substituição em virtude de Carolina não ter útero.
3. Em face dos recentes desacatos que se verificaram em algumas escolas entre
alunos de minorias religiosas, o Governo, através de portaria:
i) proibiu a utilização de símbolos religiosos (v.g.véu islâmico) apenas aos
alunos estrangeiros;
ii) determinou que devem constar do processo de todos os estudantes dados
sobre a respectiva crença religiosa.
4. Alegando a necessidade de transparência, o jornal Y pretende divulgar factos (ainda
que verdadeiros) da vida privada dos candidatos à Assembleia da República, v.g. quanto
à respectiva orientação sexual.
5. Catarina, grávida de 8 meses, pretende que Daniel, sentado em mesa próxima da sua
num restaurante e inveterado fumador, apague a respectiva cigarrilha.
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Direitos Fundamentais - 2º Ano (Época Normal - 1 de Junho de 2015)
Critérios indicativos de correcção

I. (1,5 valores cada):


a) Não são admissíveis
Explanação do conceito de leis medidas
Em matéria de restrições é obrigatória a cumulação das características de generalidade e
abstracção (18º/3 da CRP), sendo que esta última característica não existe no caso das
leis medida
b) Distinção das duas figuras, sobreposição, Direito Civil e Direito Constitucional,
diferente projecção de eficácia, eficácia vertical e horizontal.
c) Distinção entre a titularidade de direitos por pessoas colectivas (artigo 12º/2 CRP e
referência ao princípio da universalidade vs princípio da especialidade) e a titularidade
individual e o eventual/necessário exercício e/ou gozo colectivo. Exemplos.

II. Comentário de DUAS das afirmações (3,25 valores cada):


1.Comentário efectivo da afirmação
A evolução histórica e respectiva concretização constitucional
2. Comentário efectivo da afirmação
O princípio da concordância prática como mediação entre a dogmática e a prática
constitucional, mormente no que tange à resolução de conflitos e colisões
A natureza da jurisdição constitucional v.g. quanto a direitos sociais (aferição da reserva
do possível e da proibição do retrocesso, mínimo de existência condigna
3. Comentário efectivo da afirmação
Referência a novas questões e aos chamados “novos direitos”
Entre outros, os direitos de quarta geração
Equilíbrio entre a problematização social e a cristalização constitucional
O papel das Constituições quanto aos direitos económicos, sociais e culturais
4. Comentário efectivo da afirmação
Vertentes de previsão e relevância da matéria ambiental na CRP
A característica da multilateralidade no direito do ambiente
A “importação “ e especial tratamento de conceitos como os de vizinhança do direito
civil
Responsabilidade

III. Discussão de TRÊS das questões (3 valores cada):


Em geral
- Identificação dos bens e direitos em causa
- Identificação de situação de conflito ou colisão
- Discussão dos pressupostos de restrição e afectação de direitos, v.g. os do artigo 18º da
CRP (proporcionalidade, etc)

1. Liberdade de expressão/informação e referência específica à limitação da verdade ou


conceito jurisprudencial de animus considerado para divulgação de boa fé da notícia
Direito à imagem
2. Direito à integridade, livre desenvolvimento da personalidade, constituição de
família, artigos 8º e 39º da Lei 32/2006. Discussão.
3. Componentes e vertentes da liberdade de religião, individual e colectiva, institucional
e organizativa; o Estado moderno como Estado não confessional: reconhecimento de
legitimidade de intervenção ao Estado na preservação da liberdade de religião e
religiões
CRP e lei nº 16/2001
Artigo 41º e 43º - Liberdade de consciência e religião e liberdade de aprender
Artigo 18º - Exigência de lei formal
Artigo 13º - Princípio da igualdade
Artigo 15º - Princípio da equiparação quanto a estrangeiros
Protecção de dados sensíveis – artigo 35º e artigo 7º da Lei 67/98
4. Liberdade de expressão/informação em confronto com direito à honra e reserva da
intimidade da vida privada a toeira das três esferas.
A vida privada das figuras públicas. Discussão das causas de justificação para
divulgação de informação
5. Discussão do direito à integridade física e do direito à saúde
Referência à autolimitação de direitos
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Direitos Fundamentais - 2º Ano (Época de Recurso - 3 de Julho de 2015)

Duração da prova: 2h30 (aproximadamente 30 minutos por questão)

I. Comente as seguintes afirmações, APRESENTANDO SEMPRE A BASE NORMATIVA E


ILUSTRANDO COM EXEMPLOS (4 valores por questão)

1. “Aceitando que o legislador constituinte teve uma clara intenção de proteger


especialmente os direitos, liberdades e garantias e sendo compreensíveis, em 1976, (…)
os esforços em regulamentar pormenorizadamente o regime da sua protecção
privilegiada, não pode ignorar-se que a expressão constitucional dessa intenção louvável
é, hoje, problemática e insusceptível de pretender uma aplicação fundada em
interpretação literal [dos nºs 2 e 3 do artigo 18º da CRP]” (Jorge Reis Novais)

2. “Nada que custe dinheiro pode ser absoluto. Nenhum direito cuja efectividade
pressupõe um gasto selectivo dos valores arrecadados pelo contribuinte pode, enfim, ser
protegido de maneira unilateral pelo poder judicial sem consideração das consequências
orçamentárias, pelas quais, em última instância, os outros dois poderes são também
responsáveis.” (Holmes e Sunstein)

3. “Não nos parece que este Tribunal [Constitucional] tenha legitimidade para eleger,
sem mais, um modelo pré-determinado de homem a seguir, que veicule as concepções
ideológicas dominantes da sociedade, quando não estão em causa interesses públicos
relevantes ou direitos fundamentais de terceiros, o que poderá conduzir a uma (…)
noção paternalista de dignidade, visando garantir a segurança do cidadão contra si
próprio, através da usurpação de parcelas da sua liberdade e autonomia individuais”.
(Benedita MacCrorie, adaptado)

4. “As questões relativas à protecção dos bens ambiente e identidade genética têm
semelhanças fundamentais: evolução histórica, decorrência de novas realidades
tecnológicas e inelutável necessidade de resolução a nível internacional”
II. Analise as seguintes situações (4 valores)

O Governo pretende convocar uma conferência de imprensa para anunciar o conjunto de


medidas a adoptar para evitar o contágio da crise grega. De entre tais medidas, constam:
1.A emissão de um decreto-lei destinado a concretizar o princípio constitucional da não
equiparação entre portugueses e estrangeiros, contemplando: 1. A regra, sem excepções,
da preferência da escolha de cidadãos portugueses no acesso àfunção pública; 2. A
admissão de estrangeiros legalmente residentes em Portugal nas Forças Armadas;
2.A punição, por portaria (regulamento) do Ministro da Justiça, do crime de «abandono
do local de trabalho por motivo de greve»;
3.A proibição, por decreto-lei, de os cidadãos portugueses se deslocarem, emqualquer
circunstância, ao estrangeiro durante as férias de Natal, propiciando, deste modo, a
permanência dos recursos financeiros em Portugal;
4. No ano de 2016, com o objetivo de reforçar os laços morais, a solidariedade e a
coesão social entre os portugueses, todos os contribuintes não isentos de pagamento de
IRS ficam obrigados a doar a uma instituição religiosa de solidariedade social, cujo
nome indicarão na declaração de IRS referente ao ano de 2015, uma importância
pecuniária de montante à sua livre escolha, desde que superior ao valor simbólico de um
euro.
Quid juris?
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Direitos Fundamentais - 2º Ano (Época de Recurso - 3 de Julho de 2015)
Critérios indicativos de correcção
Duração da prova: 2h30

I. (4 valores por questão)

1. Regime constitucional de restrições de direitos


Restrições implícitas

Limites imanentes

Processo de conversão de direitos prima facie em direitos definitivos

Teoria do Tatbestand restrito

Hipótese de regulação unitária dos direitos fundamentais

2. Vinculação das entidades públicas aos direitos fundamentais


Os direitos sociais

Cláusula do possível

Princípio do não retrocesso

Hipótese de regulação unitária dos direitos fundamentais

3. Conceito de dignidade da pessoa humana


Autodeterminação e direito ao livre desenvolvimento da personalidade

Referência a situações concretas de aplicação do princípio

4. Contextualização e explicação das duas semelhanças referidas na afirmação


II. (4 valores)

Identificação das situações de potencial conflito ou colisão


Identificação dos direitos e bens envolvidos
Artigos 15º, 44º, 47º, 57º, 275º/2 CRP
Requisitos formais previstos no artigo 18º da CRP
Requisitos materiais previstos no artigo 18º da CRP
Análise do princípio da proporcionalidade nas suas três vertentes
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Direitos Fundamentais - 2º Ano (Época Normal - 21 de Junho de 2011)
Duração: 2h45
I. (2,75 valores cada):
1. Comente a seguinte afirmação: “As situações de colisão e conflito de Direitos Fundamentais são
típicas do sistema e surgem cada vez com mais frequência, dada a expansibilidade típica daqueles
últimos. No entanto, a solução destas colisões entre direitos, liberdades e garantias – ou entre estes
direitos e valores comunitários – não pode ser resolvida através de uma preferência abstracta, com recurso
à ideia de uma ordem hierárquica dos valores constitucionais”.
2. O artigo 36.º da Constituição da República Portuguesa consagra uma vertente objectiva dos Direitos
Fundamentais. Identifique-a e caracterize-a.
3. Pode um órgão administrativo recusar-se a praticar um acto administrativo legalmente vinculado por
considerar violado um direito, liberdade e garantia? Em caso afirmativo, distinga em que situações é, ou
não, essa recusa admissível, fundamentando.
4. Comente a seguinte afirmação: “Da minha perspectiva, não há (…) que separar dois regimes
distintos, o dos direitos, liberdades e garantias e o dos direitos económicos, sociais e culturais, antes
considerar que tais regras jurídicas devem ser aplicadas a todos os direitos fundamentais (…). Da mesma
maneira como a aplicação do regime dos direitos, liberdades e garantias aos direitos económicos, sociais e
culturais (…) resulta sim da identidade de natureza dos direitos fundamentais” (Vasco Pereira da Silva)
5. Comente a seguinte afirmação: “O ‘direito a ser deixado só’ corresponde a uma liberdade
juridicamente protegida” (Luísa Neto, adaptado).
6. Comente a seguinte afirmação: “Mais do que num Estado Social, acentua-se hoje estarmos numa
sociedade de risco: as incertezas são muitas e uma catástrofe ecológica afecta de igual modo vários
destinatários. Assim, a protecção que o Estado pode garantir contra estes riscos generalizados não é
absoluta e o Estado está entre a espada e a parede: acentua-se que o Estado tem de regular menos e
intervir menos (teorias neo-liberais) mas a matéria ambiental é sem dúvida das que mais exige
intervenção do Estado.” (Luísa Neto, adaptado).
II. Analise a seguinte situação (3,5 valores):
O Governo pretende convocar uma conferência de imprensa para anunciar o conjunto de medidas a
adoptar para fazer face à crise económico-financeira mundial e, consequentemente, também nacional. De
entre tais medidas, constam:
a) A emissão de um decreto-lei destinado a concretizar o princípio constitucional da não
equiparação entre portugueses e estrangeiros, contemplando: 1. A regra,sem excepções, da
preferência da escolha de cidadãos portugueses no acesso àfunção pública; 2. A admissão de
estrangeiros legalmente residentes em Portugal nas Forças Armadas;
b) A punição, por portaria (regulamento) do Ministro da Justiça, do crime de «abandono do local
de trabalho por motivo de greve»;
c) A proibição, por decreto-lei, de os cidadãos portugueses se deslocarem, emqualquer
circunstância, ao estrangeiro durante as férias de Natal, propiciando, deste modo, a permanência
dos recursos financeiros em Portugal.
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Direitos Fundamentais - 2º Ano
Época Normal - 21 de Junho de 2011
Critérios indicativos de correcção
Duração: 2h45

I. (2,75 valores cada)


1. Situações de afectação de direitos
Formas de resolução hermenêutica: restrições implícitas/tatbestand a priori/limites
imanentes
Critérios de resolução de conflitos e colisões

2. Noção e fundamento dos Direitos Fundamentais


Teorias explicativas dos Direitos Fundamentais
Dimensões objectiva e subjectiva/pluridimensionalidade
Direito e Garantia Institucional

3. Vinculação das entidades públicas (Administração) pelos Direitos Fundamentais


A Fiscalização Administrativa da Constitucionalidade
Artigos 3º/18º/22º/266º/271º CRP e artigo 133º CPA

4. Identificação da teoria defendida e explanação dos seus fundamentos


Dogmática unitária dos direitos fundamentais
Unicidade de regime

5. Direito à reserva de vida privada: esferas e conteúdo


Origem do conceito “direito a ser deixado só”
Actualização das formas de protecção face a novos desafios

6. Caracterização do Estado Social


Sociedade de Risco
Formas de intervenção das políticas públicas ambientais
A reserva do tecnologicamente possível

II. (3,5 valores, distribuídos globalmente pelas três alíneas, no sentido da


valorização da resposta)
Identificação das situações de potencial conflito ou colisão e dos direitos e bens
envolvidos
Artigos 15º, 44º, 47º, 57º, 275º/2 CRP
Requisitos formais previstos no artigo 18º da CRP/165º1b) CRP/165º1c) CRP
Requisitos materiais previstos no artigo 18º da CRP
Análise do princípio da proporcionalidade nas suas três vertentes

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