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DE EXAMES
Departamento de Produção Jurídica
- Licenciatura em Direito -
- 2º ANO -
Caros estudantes,
Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das
respostas implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se
justifique, considerar as diversas hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O
rigor e a clareza de exposição serão factores de valorização da prova. A respostas às perguntas
I e II deverão constar de folhas separadas.
I (10 valores)
A comprou a B, negociante de carros antigos e de colecção, um
automóvel da marca Peugeot, modelo 403, com mais de 50 anos. A
assinou um impresso fornecido por B onde constava a identificação
das partes e as condições de pagamento faseado do preço.
Entretanto, tendo A pago apenas as prestações iniciais acordadas e
precisando de dinheiro vendeu o automóvel a C.
A tinha 17 anos quando celebrou o negócio com B e o contrato
entre A e C foi concluído pouco tempo depois.
Volvidos dois anos, diga se A pode pretender “desfazer” os
contratos concluídos com B e C e devolver o automóvel ao
primeiro, uma vez que o preço pago por C foi muito inferior ao
preço de mercado e que A ainda deve a B as seis últimas prestações
do carro.
II (10 valores)
X é autor do livro “A Verdade ou a Mentira”, publicado em 2008,
no qual relata a sua versão dos factos relativos ao desaparecimento
de uma criança ocorrido no Algarve. Neste livro, com o alegado
intuito de repor o seu bom nome profissional, X, polícia de
investigação criminal que acompanhou o caso até dele ser afastado,
pronuncia-se sobre a tese da morte acidental da criança e
subsequente simulação de rapto pelos seus pais. Na capa do livro
encontra-se, a vermelho, a palavra “confidencial” e na contracapa
estão os dizeres “leitura reservada” e “contém revelações únicas”.
Y e Z, pais da criança desaparecida, contestam a tese de X e
consideram-se lesados e ofendidos pelas afirmações contidas no
livro e pelo carácter sensacionalista que acham que lhe foi
conferido. Mais, Y e Z consideram que os seus filhos menores
também estão a ser prejudicados pelas alegações do autor do livro,
pois a invocação de inexistência de rapto da irmã perturba o seu
desenvolvimento.
(a partir do Acórdão do STJ, de 31/01/2017, relator Roque Nogueira)
Critérios de correcção:
I (10 valores)
— Enquadramento da questão no âmbito das incapacidades de
exercício (menoridade) e do princípio nemo plus iuris e suas
excepções (protecção de terceiros de boa fé).
— Caracterização do contrato A/B como um contrato anulável em
virtude da menoridade de A (arts. 122.o, 123.o); incapacidade de
exercício versus incapacidade de gozo; a incapacidade dos menores
como uma incapacidade geral; inaplicabilidade das excepções do
art. 127.o; suprimento da incapacidade dos menores através do
instituto da representação legal (art. 124.o); anulabilidade dos actos
praticados pelos menores: legitimidade e prazos; aplicação do art.
287.o/2CC.
— Eventual anulabilidade do contrato A/C por menoridade, em
função da data da sua celebração, no prazo de um ano a contar da
maioridade de A. Consolidação do contrato A/C caducado o direito
de A arguir a anulabilidade (art. 125.o/1b)).
— Caracterização das aquisições em causa como aquisições
derivadas translativas; o princípio nemo plus iuris...: Ilegitimidade
de A para transmitir a C um direito de propriedade “pleno”; A
apenas poderia transmitir a C um direito “provisório” em virtude da
anulabilidade do 1o contrato.
— Efeitos da anulação do contrato A/B: art. 289.o, destruição dos
efeitos dos contratos A/B e A/C, retroactivamente.
— Consideração e afastamento da hipótese de protecção de C
enquanto terceiro de boa fé para efeitos do art. 291o: noção de
terceiros de boa fé; requisitos do art. 291.o; constatação da não
verificação do requisito da passagem do tempo (3 anos) sobre o
negócio inválido (A/B) que afecta a aquisição de C.
— A pode arguir a anulabilidade do 1o negócio com os efeitos do
art. 291.o: tudo o que foi prestado deverá ser devolvido e A poderá
devolver o carro a B.
II (10 valores)
Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade.
Breve caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e
tutela descentralizada dos direitos de personalidade.
Reconhecimento fáctico das possíveis violações dos direitos de
personalidade ocorridas na esfera jurídica de X:
- honra; bom nome profissional.
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção moral: Ofensa ao bom nome e reputação deontológica ou
profissional; as camadas da honra e a sua disponibilidade. As
camadas da honra e sua disponibilidade.
Direito à inviolabilidade pessoal na projecção vital: direito à
história pessoal. Irrelevância da exceptio veritatis para a tutela civil.
O art. 484o, CC. Direito à verdade pessoal, caso as revelações não
fossem verídicas.
Reconhecimento fáctico das possíveis violações dos direitos de
personalidade ocorridas na esfera jurídica de Y e Z :
- alegações sobre envolvimento na morte da criança e afirmações
sensacionalistas, consequente exposição mediática.
Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das
respostas implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se
justifique, considerar as diversas hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O
rigor e a clareza de exposição serão factores de valorização da prova. A resposta ao grupo
I deve constar de folha separada da resposta ao grupo II.
I (7+5 valores)
B, toxicodependente, durante uma crise de privação de consumo,
assalta a casa de A e, imobilizando-o, obriga-o a assinar declaração
de venda do seu automóvel sob ameaça de agressão a F, mulher de
A.
Posteriormente, entrega o automóvel a C, “dealer”, em troca de
algumas doses de heroína. Ao tomar conhecimento da localização
do automóvel, A intentou acção cível com vista à recuperação do
automóvel.
1. Pronuncie-se sobre a validade dos negócios em causa e sobre a
viabilidade da pretensão de A.
2. Suponha que os factos descritos foram alvo de ampla divulgação
na imprensa sensacionalista, tendo em conta que B era filho de um
conhecido político no activo. Poderá B reagir contra estas notícias?
II (8 valores)
D é titular de um vasto património imobiliário e, no ano de 2017,
vendeu dois terrenos com viabilidade de construção em altura à
sociedade “Imobiliária do Douro, SA” pelo valor de 800.000 euros.
Já durante este ano, E, filho de D, tendo tomado conhecimento do
negócio, veio arguir a sua anulabilidade. E alega que a sua
autorização seria necessária uma vez que F, seu irmão, é sócio
maioritário da “Imobiliária do Douro, SA”.
Diga se E terá alguma possibilidade de reagir contra o negócio.
Universidade do Porto — Faculdade de Direito Teoria Geral do
Direito Civil
Exame — 19.06.2018
Critérios de Correcção
I
1. Situação do problema no âmbito da divergência entre a vontade e a
declaração e/ou dos vícios de vontade.
Negócio entre A e B:
Problematização da coacção exercida sobre A.
Pressupostos da coacção física e da coacção moral.
A coacção física como forma de divergência entre a vontade e a
declaração. Efeitos da existência de coacção física: a inexistência ou
nulidade da declaração, de acordo com as posições doutrinárias
tradicionais.
A coacção moral como vício de vontade. Regime jurídico e anulabilidade
da declaração. Irrelevância da coacção moral pela existência de coacção
física, pela superior gravidade da sanção desta última.
Negócio entre B e C:
Permuta (negócio oneroso) tendo por objecto bem móvel sujeito a registo
(automóvel). Negócio com objecto contrário à lei. Nulidade, nos termos do
art. 280o, n. 1.
Viabilidade da pretensão de A com fundamento na regra nemo plus juris.
2. Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade.
Breve caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e tutela
descentralizada dos direitos de personalidade.
Reconhecimento fáctico das possíveis violações dos direitos de
personalidade ocorridas na esfera jurídica de B: bom nome. Bem jurídico
protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na projecção moral: ofensa ao
bom nome e reputação; as camadas da honra e a sua disponibilidade.
O artigo 79o do CC. A notoriedade do pai de B e suas consequências.
Irrelevância da exceptio veritatis para a tutela civil. O art. 484o, CC.
Afloramentos positivos de cada um destes direitos na CRP e no CC.
Tensão com o direito à informação. Possível interesse informativo da
notícia pelo seu relevo social ou devido a tomada de posição pelo político
em causa conexionada com os factos.
A colisão de direitos – art. 335o, CC. Prevalência axiológica dos direitos
ligados à essência da pessoa.
Consequências normativas da violação dos direitos de personalidade. A
violação dos direitos de personalidade como facto ilícito. A
responsabilidade por facto ilícito – art. 483o, CC. O carácter extra-
patrimonial da lesão dos bens da personalidade.
Os mecanismos de tutela possibilitados pelo art. 70o, n.o 2, CC; reposição
da verdade dos factos sem menções sensacionalistas; pedido de desculpa;
recurso a sanção pecuniária compulsória para o caso de persistência na
violação.
Ilegitimidade de B para reacção aos danos (alheios) ocorridos na esfera do
pai.
II
Enquadramento da questão no âmbito do art. 877o CC (proibição da venda
de pais a filhos) e da simulação relativa subjectiva (e eventualmente
também objectiva).
A arguição da simulação do negócio celebrado entre D e a SA: E terá que
provar os requisitos da simulação, nomeadamente que as partes
verdadeiras seriam D e F (e eventualmente o negócio seria uma doação).
Nulidade do negócio simulado: art. 240o CC. Alargamento da
legitimidade aos herdeiros legitimários para arguir a simulação, nos termos
do art. 242o, n.o 2, apesar de serem titulares de uma simples expectativa.
Caracterização da SA como uma sociedade comercial (sociedades
anónima): pessoa colectiva de substrato pessoal (corporação), com
reconhecimento normativo condicionado: a aquisição de personalidade
através do registo (art. 5o CSC) e com fim lucrativo. A personalidade da
pessoa colectiva e a personalidade dos seus sócios.
O negócio dissimulado entre D e F: apreciação da sua validade nos termos
do art. 241o. Aplicação do art. 877o. Anulabilidade e prazo para a sua
arguição. O problema da forma.
Em alternativa, E poderia invocar uma hipótese de fraude à lei.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO TEORIA
GERAL DO DIREITO CIVIL
2ª Frequência — 21.05.2018
Duração da prova: 2 horas
Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das
respostas implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se
justifique, considerar as diversas hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas e
apresente exemplos pertinentes. O rigor e a clareza de exposição serão factores de
valorização da prova. As respostas às perguntas I e II deverão constar de folhas
separadas.
I (10 valores)
A é cliente do banco X há vários anos.
II (10 valores)
Entre a sociedade imobiliária A e o Município B foi celebrado um contrato
de permuta, tendo por objecto três lotes de terreno para construção, no
valor aproximado de 17.000 € cada. Desse mesmo contrato constava a
seguinte cláusula: “o incumprimento do prazo previsto para a entrega do
último lote de terreno [30 de Setembro de 2017], por parte do Município
B, confere a A o direito de exigir do mesmo Município, em substituição
dos referidos lotes, uma indemnização no valor de €150.000, bastando que
para tal remeta comunicação nesse sentido, por carta registada a B”. Por
vicissitudes várias, o Município não cumpriu o prazo acordado e
Critérios de Correcção
I
• a) Construção/descrição da hipótese fáctica e breve
justificação do seu carácter
abusivo. Valorização de hipótese não constante de textos de
apoio.
II
Localização da questão no âmbito da aquisição derivada.
Sentido e extensão da regra “nemo plus iuris”. Excepções a esta
regra no direito positivo português.
Identificação da transmissão AB como sucessão mortis causa.
Transmissão BC da casa:
Invalidade do negócio por inobservância da forma legal. Simulação
do contrato de compra venda, indiciada pelo baixo preço e pela
motivação do vendedor. Breve caracterização da simulação.
Nulidade da simulação. Referência ao regime legal da simulação,
arts. 240o, ss, CC.
Transmissão CE da casa:
Afectação pela nulidade precedente.
Consideração de E como possível terceiro de boa-fé. Aplicabilidade
do art. 243o, e do art. 291o CC, devido ao duplo fundamento de
nulidade. O desconhecimento efectivo da simulação como
pressuposto da protecção de E e irrelevância da sua motivação.
Inconveniência de aplicação do art. 291o, não obstante o
preenchimento dos seus requisitos, nomeadamente o
desconhecimento sem culpa da simulação, devido à maior
exigência desta disposição para consolidadação da transmissão na
esfera jurídica de E.
Aluguer BD da embarcação:
Contrato de aluguer de bem móvel sujeito a registo.
Transmissão DF da embarcação:
Venda de bens alheiros. Nulidade do negócio. Fundamento legal.
Consideração de F como possível terceiro de boa-fé. Afastamento
da hipótese devido ao facto de não se tratar de terceiro.
III
a) Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade.
Breve caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e
tutela descentralizada dos direitos de personalidade.
Reconhecimento fáctico das violações dos direitos de personalidade
ocorridas na esfera jurídica de A:
- revelação do envolvimento em negócios jurídicos ilícitos e tráfico
de influências:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção moral, Ofensa ao bom nome e reputação deontológica ou
profissional; as camadas da honra e a sua disponibilidade. As
camadas da honra e sua disponibilidade Irrelevância da exceptio
veritatis para a tutela civil. O art. 484o, CC. Direito à verdade
pessoal, caso as revelações não fossem verídicas.
- Participação em sociedades offshore:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção vital, direito à intimidade da vida privada, nomeadamente
na esfera privada. Possível relativização pela notoriedade da
qualidade do sujeito e interesse público da informação pela
atinência objectiva às funções desempenhadas. O art. 80o, CC.
- repercussão causada na opinião pública e desistência da
candidatura:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção moral. Ofensa ao bom nome e reputação deontológica ou
profissional; as camadas da honra e a sua disponibilidade.
Afloramentos positivos de cada um destes direitos na CRP e no CC.
Tensão com o direito do autor à liberdade de criação.
Consequências normativas da violação dos direitos de
personalidade. A
violação dos direitos de personalidade como facto ilícito. A
responsabilidade por facto ilícito – art. 483o, CC. O carácter extra-
patrimonial da lesão dos bens da personalidade.
Os mecanismos de tutela possibilitados pelo art. 70o, n.o 2, CC.
b) A biografia autorizada e o direito à inviolabilidade pessoal na
projecção vital, maxime, o direito à história pessoal. A autorização
e o consentimento tolerante do ofendido e os seus limites. O
consentimento de outrem e a revelação de factos violadores de
direitos de personalidade; sua irrelevância. Responsabilidade
extracontratual do autor e do biografado.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL * TEORIA GERAL DO DIREITO
CIVIL I Exame — 10.01.2017
Critérios de Correcção
I
• a) Noção de dever jurídico e de ónus. Referência ao direito
subjectivo em sentido
estrito e ao seu lado passivo. A sancionabilidade do
incumprimento do dever jurídico, contraposta à livre adopção
do comportamento no ónus. Exemplificação.
II
Localização da questão no âmbito da aquisição derivada.
Sentido e extensão da regra “nemo plus iuris”. Excepções a esta
regra no direito positivo português.
Identificação da transmissão AB como sucessão mortis causa.
Transmissão BC da casa:
Simulação do contrato de compra venda, indiciada pelo baixo preço
e pela motivação do vendedor. Breve caracterização da simulação.
Nulidade da simulação. Referência ao regime legal da simulação,
arts. 240o, ss, CC. Transmissão CE da casa:
Afectação pela nulidade precedente.
Consideração de E como possível terceiro de boa-fé. Aplicabilidade
do art. 243o, CC. O desconhecimento efectivo da simulação como
pressuposto da sua protecção. Insuficiência da “desconfiança”.
Impossibilidade de aplicação do art. 291o, devido à necessidade de
E ignorar sem culpa, hipótese em que a desconfiança quanto ao
negócio já seria relevante. Entrega BD da condecoração:
Duas hipóteses:
i) Contrato de depósito simulado . Nulidade
ii) inexistência de negócio jurídico. Não há transmissão de
propriedade. Transmissão DF da condecoração:
Venda de bens alheiros. Nulidade do negócio. Fundamento legal.
Consideração de F como possível terceiro de boa-fé. Na hipótese i),
protecção pelo artigo 243o. Na hipótese ii), inaplicabilidade do art.
243o, por não haver simulação e, em qualquer dos casos
afastamento da aplicação do art. 291o, dado o objecto não ser um
bem imóvel, nem móvel sujeito a registo.
III
a) Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade.
Breve caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e
tutela descentralizada dos direitos de personalidade.
Reconhecimento fáctico das violações dos direitos de personalidade
ocorridas na esfera jurídica de A:
- revelação da sua orientação sexual:
Bem jurídico protegido. Direito à verdade profunda. Direito à
inviolabilidade pessoal na projecção vital, direito à intimidade da
vida privada, nomeadamente na esfera pessoal. Alcance do art. 80o
CC;
- divulgação das suas relações de amizade e inimizade:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção vital, direito à intimidade da vida privada, nomeadamente
na esfera privada. Possível relativização pela notoriedade da
qualidade do sujeito;
- divulgação das alcunhas atribuídas:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção vital, direito à intimidade da vida privada, nomeadamente
na esfera privada. Direito à verdade pessoal, caso as alcunhas não
fossem verídicas;
- repercussão causada na opinião pública e desistência da
candidatura:
Bem jurídico protegido. Direito à inviolabilidade pessoal na
projecção moral. Ofensa ao bom nome e reputação deontológica ou
profissional; as camadas da honra e a sua disponibilidade.
Afloramentos positivos de cada um destes direitos na CRP e no CC.
Tensão com o direito do autor à liberdade de criação.
Consequências normativas da violação dos direitos de
personalidade. A
violação dos direitos de personalidade como facto ilícito. A
responsabilidade por facto ilícito – art. 483o, CC. O carácter extra-
patrimonial da lesão dos bens da personalidade.
Os mecanismos de tutela possibilitados pelo art. 70o, n.o 2, CC.
b) A biografia autorizada e o direito à inviolabilidade pessoal na
projecção vital, maxime, o direito à história pessoal. A autorização
e o consentimento do ofendido. Subhipóteses relevantes:
i) Contrato com o autor. Consentimento vinculante envolvido.
Efeitos. Disponibilidade dos direitos envolvidos.
ii) Não oposição do biografado. Consentimento tolerante
envolvido. Efeitos e disponibilidade dos direitos envolvidos.
Limites do consentimento.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I
Exame Final — 4.01.2016
Duração da prova: 2 horas e 30 minutos
Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das respostas
implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se justifique, considerar as diversas
hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O rigor e a clareza de exposição serão factores de
valorização da prova.
I (8 valores)
A usou a senha de acesso à caixa de correio electrónico da sua namorada B para aceder à área
confidencial da página desta numa rede social. Desta página retirou mensagens íntimas
trocadas por B com terceiros, que imprimiu e remeteu a diversos membros da família, com a
finalidade de lhes dar a conhecer a "verdadeira B". A partir do acesso à página da namorada,
A verificou ainda que nela se encontravam publicadas numerosas fotografias das viagens que
os dois haviam realizado e nas quais ambos se encontravam retratados, situação que muito o
contrariou dado tratar-se de uma pessoa muito reservada. Desagradado com a descoberta de
factos que desconhecia, A resolveu ainda criar perfis de utilizador falsos, em nome de B, para
lhe imputar atitudes e comportamentos socialmente reprováveis no círculo profissional,
familiar e convivial.
a) B pretende agora reagir contra a conduta de A e prevenir a repetição do que considera ser
uma violação dos seus direitos. Quid juris?
b) A, por seu turno, pretende ser indemnizado pela exposição a que foi sujeito nas fotografias
publicadas por B. Terá êxito esta sua pretensão?
II (4 valores)
Do denominado "contrato-tipo para utilização do serviço Banco Direct" consta a seguinte
cláusula: "O Banco reserva-se o direito de alterar, unilateralmente, as presentes Condições
Gerais. A alteração considera-se aceite pelo aderente, se este no prazo de dez dias, a contar da
informação da alteração, não rescindir o presente contrato".
Pronuncie-se sobre a validade desta cláusula.
III (8 valores)
C e D morreram tragicamente num acidente de viação deixando vivo um filho menor.
a) Diga quem é o proprietário de um terreno que se encontrava registado em nome de D,
embora tivesse sido alienado em 2013 a F, e que foi, em consequência da morte daquele,
inscrito a favor do filho na conservatória de registo predial competente.
a) Supondo que C tinha feito um testamento onde previa que E — um amigo de infância —
deveria encarregar-se da educação e amparo do seu filho no caso de este “ficar só no mundo”,
pronuncie-se sobre o regime jurídico aplicável ao filho após a morte dos pais.
TGDC I
Exame final 4.01.2015
Critérios de correcção
I (8valores)
— Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade. Breve
caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e tutela
descentralizada dos direitos de personalidade
a) Reconhecimento fáctico das violações dos direitos de personalidade ocorridas.
— acesso à caixa de correio electrónico de outrem:
Consideração das hipóteses de cedência consentida da senha de acesso e de
acesso não consentido. Tipo de consentimento envolvido.
Bem jurídico protegido. Direito de personalidade violado na apropriação e
utilização da senha de acesso: direito à inviolabilidade pessoal na projecção vital,
nomeadamente na esfera de segredo (coisa secreta ex natura).
Consideração do acesso à área privada/confidencial.
Bem jurídicos protegidos. Direito de personalidade violado: direito à
inviolabilidade pessoal na esfera privada e na esfera pessoal.
Eventual violação de escritos confidenciais e de correspondência. Violação da
esfera privada e pessoal dos terceiros destinatários das mensagens.
— impressão das mensagens trocadas com terceiros e sua divulgação:
Direito(s) de personalidade violado(s): direito à inviolabilidade pessoal na esfera
pessoal e de segredo (coisas secretas ex voluntate). Direito à inviolabilidade
pessoal na projecção moral: honra externa. Ofensa ao crédito e bom nome. Bens
jurídicos protegidos.
— criação de perfis denigritórios falsos:
Direito(s) de personalidade violado(s): direito à identidade pessoal, na vertente
do direito à verdade pessoal e direito à honra externa e reputação. Bens jurídicos
protegidos.
Afloramentos positivos de cada um destes direitos na CRP e no CC.
Consequências normativas da violação dos direitos de personalidade. A violação
dos direitos de personalidade como facto ilícito. A responsabilidade por facto
ilícito – art. 483º, CC. O carácter extra-patrimonial da lesão dos bens da
personalidade.
Os mecanismos de tutela possibilitados pelo art. 70º, n.º 2, CC. Concretização:
proibição de A utilizar a rede social em causa, eliminação das informações falsas,
retractação, reposição da verdade junto dos terceiros envolvidos, pedido de
informações junto dos operadores da rede, pedido de desculpas, etc. Sanção
pecuniária compulsória.
b) Reconhecimento da autonomia da situação de A. Violação do direito de
personalidade à imagem através da captação e da divulgação de imagens e a sua
tutela civil. Relevo da divulgação no caso em análise. Disponibilidade do direito
através de consentimento autorizante. Características do consentimento.
Responsabilidade por factos ilícitos e possível recurso ao art. 70º, n.º 2, para
eliminação das fotografias divulgadas.
II (4 valores)
— Enquadramento da questão no âmbito dos contratos de adesão e, mais
precisamente, no âmbito das cláusulas contratuais gerais. Noção de cláusulas
contratuais gerais.
— A problemática subjacente às cláusulas contratuais gerais e as soluções do DL
446/85, de 25 de Outubro. As cláusulas contratuais gerais enquanto limite “de
facto” ao princípio da liberdade contratual.
— Apreciação da cláusula transcrita à luz dos arts. 15.º, 19.º d), 20.º, 22.º/1 c) e
/2 b) do diploma referido.
III (8valores)
a) Enquadramento do caso no âmbito das aquisições derivadas e das excepções
ao princípio “nemo plus iuris...”.
— Apreciação da validade do negócio D/F; requisitos de forma: art.
875º+220º+286º.
— F adquire (aquisição derivada translativa) mas não regista: o negócio é válido
e eficaz inter partes mas inoponível a terceiros: arts. 4+5º CRP. Noção de terceiro
para efeitos de registo: art. 5º/4 CRP. Identificação do filho de D como terceiro
para efeitos de registo.
— Breve caracterização do registo em Portugal enquanto um registo declarativo
e não constitutivo de direitos. A obrigatoriedade do registo: art. 8ºA CRP.
— Consequências do registo do filho de D: efeito central do registo: arts. 5º+6º
CRP. O filho de D adquire o direito de propriedade a non domino (excepção ao
princípio “nemo plus iuris...”) e o direito de F decai. O filho do D é o proprietário.
b) A incapacidades dos menores. Caracterização (arts. 122º, 123º CC).
— Suprimento da incapacidade do menor (arts. 124.º, 1921.º e 1928º CC). A
tutela e o apadrinhamento civil. O regime da tutela (art. 1935.º ss.). Noção de
apadrinhamento civil e requisitos (art. 2.º L 103/2009; arts. 11.º e 12.º DL
121/2010).
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I
Exame Final — Época de recurso — 2.02.2016
I (10 valores)
A e B, estudantes de medicina, ofereceram-se como voluntários para testes de
experimentação de um novo medicamento analgésico. Os testes eram planeados e
coordenados por C, um laboratório especializado na condução de ensaios de novos
medicamentos. No momento da sua inscrição como voluntários, A e B foram
informados de que a fase em que iriam participar não envolveria “riscos
significativos”, pois não só já haviam decorrido com êxito as fases de experimentação
laboratorial como a composição química do fármaco era inócua para consumo
humano.
Acontece que, após a tomada do medicamento em causa, A ficou em morte cerebral e
foi declarado morto uma semana após a sua entrada no hospital. B, por seu turno,
após sofrer uma reacção alérgica grave, ficou com danos cerebrais permanentes que
lhe afectam a fala e a memória.
a) B e os herdeiros de A pretendem demandar C. Terá êxito a sua pretensão? Qual ou
quais os fundamentos que, eventualmente, podem aduzir?
b) Pronuncie-se sobre a (in)validade e/ou (i)licitude do consentimento prestado por A
e B, sabendo que ambos receberam 10.000€ pela sua participação no ensaio e que A
só se disponibilizou para participar devido à necessidade de custear o prosseguimento
dos seus estudos.
II (10 valores)
D, nascido em Outubro de 1998, vendeu em Janeiro de 2015 a E, garagista, um
automóvel americano antigo que havia herdado de um seu avô. E, por sua vez,
alienou já este ano o mesmo automóvel a F, seu cliente e coleccionador de
automóveis antigos. F só mais tarde veio a saber que o automóvel pertenceu a D e que
os seus pais pretendiam recuperá-lo.
a) Diga se F poderá ficar descansado relativamente à propriedade do automóvel ou se
poderá vir a temer pela sua reivindicação por D ou pela sua família.
b) Tendo em consideração, diferentemente, que o negócio entre D e E tinha sido
celebrado já em Agosto de 2014, diga se a situação de F se alteraria.
c) Suponha agora que D vem mais tarde arguir a anulabilidade do primeiro negócio
com fundamento na sua incapacidade à época. Poderá E obstar a essa pretensão
argumentando que o comportamento de D configura um “abuso de direito” uma vez
que foi o próprio D que o pressionou a comprar o automóvel, tendo ele anuído apenas
para o ajudar?
TGDC I
Exame recurso 02.02.2016
Critérios de correcção
I (10 valores)
— Situação do problema no âmbito dos direitos de personalidade. Breve
caracterização dos direitos de personalidade. Tutela geral e tutela
descentralizada dos direitos de personalidade.
a) Direitos de personalidade violados: direito à vida e direito à integridade física.
Bens jurídicos protegidos. Extensão e caracterização destes direitos.
Afloramentos positivos de cada um destes direitos na CRP e no CC.
Consequências normativas da violação dos direitos de personalidade. A violação
dos direitos de personalidade por falta ou incompletude de informação dos
efeitos do medicamento como facto ilícito que compromete o livre
esclarecimento do ofendido ou por conduta culposa na condução dos ensaios que
ignorou os eventuais efeitos. A responsabilidade por facto ilícito – art. 483º, CC.
Afastamento da responsabilidade de C, se a lesão dos direitos de personalidade
tiver ocorrido por facto que não lhe fosse imputável. O carácter extra-
patrimonial da lesão dos bens da personalidade.
Relativamente ao lesado A: consideração adicional sumária da reparação do
dano morte, arts. 495º e 496º, CC. Correlação desta reparação com o disposto no
art. 68º, n.º 1, CC.
Relativamente ao lesado B: consideração dos mecanismos de tutela
possibilitados pelo art. 70º, n.º 2, CC, nomeadamente, a obrigação de prosseguir
tratamento ou acompanhamento que possibilitasse ou minorasse o dano.
b) Disponibilidade do direito à integridade física através através de
consentimento. Limites para a disponibilidade. Características do consentimento
no âmbito do direito de personalidade. O consentimento in casu como
consentimento vinculante, devido à existência de negócio jurídico bilateral entre
lesados e lesante. Obrigações recíprocas das partes, pelo menos, a toma dos
medicamentos e o pagamento de quantia pecuniária. Possível extensão do poder
jurídico de agressão neste domínio.
Irrelevância da situação económica de um dos lesados para de per si
fundamentar a invalidade do consentimento, nomeadamente no quadro do
negócio usurário.
II (10 valores)
a) Enquadramento da questão no âmbito das incapacidades de exercício de
direitos: a menoridade. Caracterização (arts. 122º, 123º CC).
— Suprimento da incapacidade do menor (arts. 124.º). Anulabilidade dos actos
praticados pelos menores (legitimidade + prazos: art. 125.º).
— A situação jurídica de F: retroactividade da anulação (art. 289.º) e
inaplicabilidade da protecção do art. 291.º (requisitos; enquadramento no
âmbito das aquisições derivadas de direitos e das excepções ao princípio “nemo
plus iuris...”: protecção de terceiros de boa fé).
b) Reequacionamento da situação uma vez que neste caso F beneficiaria da
protecção do art. 291.º a partir de agosto de 2017, não lhe sendo oponível a
acção de de anulação proposta entre Agosto e Outubro de 2017. Aquisição “a non
domino”; excepção ao princípio “nemo plus iuris...”.
c) Noção de abuso de direito; apreciação crítica do art. 334.º e afastamento da
aplicação do instituto no caso em análise, tendo em conta que o direito
reconhecido no art. 125.º visa permitir ao menor, agora maior, corrigir os actos
da sua menoridade.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL II
Exame Final — 1.06.2015
Duração da prova: 2 horas e 30 minutos
Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das respostas implica a sua não
consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se justifique, considerar as diversas hipóteses relevantes.
Fundamente sempre as respostas. O rigor e a clareza de exposição serão factores de valorização da prova.
I (10 valores)
A vendeu a B um automóvel da marca Mercedes em segunda mão por 28.000€. O veículo havido
sido importado da Alemanha e apresentava uma quilometragem de 85.000kms. O aspecto geral
da viatura era bom e B pagou o preço a pronto. A emitiu a seguinte “Declaração”:
Declara, sob compromisso de honra, sem quaisquer reservas e para todos os devidos e legais
efeitos, ter procedido, no dia 20-12-14, à venda de um veículo automóvel a … B … pelo preço de
€ 28.000,00, importância que recebeu deste, da qual lhe dá a correspondente quitação.
Mais declara que, à data da referida venda B, o veículo apresentava uma quilometragem de cerca
de 85.000 Kms.
Por ser verdade e corresponder à sua vontade, vai a presente declaração ser datada e assinada,
em sinal de plena e total concordância com o seu teor.
Porto, 20-12-2014”.
Algum tempo mais tarde, tendo B mandado fazer uma revisão ao carro durante uma viagem à
Suíça, o funcionário da Mercedes de Lausanne efectuou uma busca informática ao histórico do
veículo e verificou que este, numa intervenção mecânica realizada em 28-11-13, na Alemanha,
apresentava no conta-quilómetros uma contagem de 138.410kms.
B vem agora exigir a devolução do preço pago dizendo que nunca teria comprado o carro se
conhecesse o seu verdadeiro estado, correspondente a um preço de não mais do que 17.500€. A
argumenta, porém, que quando importou o carro este “marcava” 79.000kms e que nunca
desconfiou que o conta-quilómetros pudesse ter sido alterado.
Diga se B terá êxito na sua pretensão.
[Ac. do STJ de 28.04.2016 (Abrantes Geraldes), in <www.dgsi.pt>]
II (5+5 valores)
Responda apenas a duas das seguintes questões:
1. C, transportador, e D, agricultor, concluíram um contrato de transporte de mercadorias fixando
o preço respectivo e a data da prestação do serviço. Entretanto D decide apenas transportar
metade dos produtos acordados e envia um e-mail a C dando-lhe conta desse facto. C não
respondeu ao e-mail. Realizado o transporte, C vem cobrar o preço combinado mas D argumenta
que apenas deve 50% desse valor. Quid iuris?
2. E aceitou, em nome de F, empresário têxtil, uma proposta de realização de várias peças de
vestuário encomendadas por X. Na data acordada para a entrega, F alega desconhecer a
encomenda. Acrescenta que E já não era à época da encomenda seu representante uma vez que o
tinha “destituído” em virtude de uma série de problemas gerados com clientes. Será a
argumentação de F procedente?
3. G vendeu a H um automóvel por um preço muito baixo, entendendo que lhe devia uma série de
favores. Reconsiderando posteriormente o seu gesto, G pretende “desfazer” o negócio com
fundamento em reserva mental, declaração não séria e coacção moral. Conseguirá fazê-lo?
TGDC II
Exame final 1.06.2016
Critérios de correcção
II
1.
— Celebração de um contrato de prestação de serviços entre C e D e acordo das partes
sobre todos os aspectos considerados essenciais (art. 232º).
— Princípio da pontualidade (art. 406º) e necessidade de acordo das partes para a
modificação do contrato.
— Emissão de uma declaração negocial expressa, receptícia, por D; eficácia da
declaração (art. 224º).
— Negação do valor declarativo do silêncio fixado unilateralmente por uma das partes
(art. 218º).
— Obrigação de cumprimento do contrato por D.
2.
— Representação (art. 258º): caracterização; voluntária: procuração; forma da procuração
(arts. 262º/1/2+219º)
— Revogação: caracterização. Liberdade de revogação da procuração e suas restrições:
art. 265º/2/3.
— Protecção de terceiros: a revogação deveria ser levada ao conhecimento do terceiro
sob pena de não lhe ser oponível; ónus da prova da revogação: art. 266º/1
— Aplicação do regime da representação sem poderes no caso de ser efectuada a prova
do conhecimento da revogação pelo terceiro.
3.
— Caracterização sumária das figuras da reserva mental, declaração não séria e coacção
moral.
— Demonstração da incompatibilidade da arguição simultânea das três figuras em função
dos requisitos legais de cada uma.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL II
Exame Final — 4.07.2016
I (10 valores)
A vendeu aos seus dois irmãos um terreno confinante com um outro de que estes dois
eram proprietários e que outrora havia pertencido a seus pais. O contrato foi outorgado
por X, em nome de A, que no próprio contrato declarou ter o preço sido integralmente
pago. B, filho de A, desconfiado de que o negócio visou apenas prejudicá-lo e beneficiar
os seus tios, uma vez que em variadas ocasiões o pai ameaçou “deserdá-lo” em virtude da
sua vida desregrada, pretende reagir contra o negócio. A argumenta, porém, que
“enquanto for vivo, é dono e senhor dos seus bens”.
1. Diga se B terá alguma possibilidade de ver a sua pretensão atendida.
2. Poderá X vir a testemunhar a favor de B numa acção intentada por este contra o seu
pais e tios?
II (5+5 valores)
1. C entregou à sua afilhada D a quantia de 30.000€, correspondentes às poupanças de
uma vida de trabalho, a fim de D fazer obras em sua casa e construir um novo quarto para
albergar C e lhe proporcionar habitação e agasalho no seu agregado familiar para o resto
da sua vida. Volvidos 2 anos, C continua a viver num lar e pretende obter o dinheiro de
volta. Quid iuris?
2. E enviou, por carta, uma proposta de compra de um conjunto de livros que F
anunciava vender num site de anúncios na internet. F encontrava-se, porém, no
estrangeiro e só tomou conhecimento da carta quando regressou a casa uma semana mais
tarde. F tinha, entretanto, vendido os livros através do telefone a uma outra pessoa que
tinha visto o anúncio. E ficou inconformado com a perda e pretende que os livros lhe
sejam entregues a ele. Diga se E terá razão no seu propósito.
TGDC II
Exame final 4.07.2016
Critérios de correcção
I (10 valores)
— Caracterização do contrato de compra e venda celebrado por A e pelos seus irmãos
como um contrato formal (arts. 875º, 219º e 220º CC)
— Representação (art. 258º): caracterização; voluntária: procuração; forma da procuração
(arts. 262º/1/2+219º)
— Eventual arguição de uma divergência entre a vontade e as declarações de A e dos
seus irmãos: simulação relativa objectiva (quanto à natureza do negócio): art. 240º CC;
requisitos da simulação; consequência: nulidade do negócio simulado: art. 240º/2;
legitimidade para arguir a nulidade dos herdeiros legitimários e efeitos: art. 242º/2.
— Apreciação da validade do negócio dissimulado (doação): o problema da forma: art.
241º/1/2.
— Restrições à prova testemunhal nos casos de simulação: art. 394º/2. Inaplicabilidade a
terceiros: 394º/3.
II (5+5 valores)
1.
— Caracterização do contrato de doação. A doação enquanto contrato consensual quando
acompanhada da tradição da coisa: art. 947º/2.
— Aposição de uma cláusula acessória típica (modo) no contrato (elemento acidental do
negócio jurídico).
— Caracterização da cláusula: cláusula modal versus condição resolutiva.
— Consequências do incumprimento do modo: arts. 965º, 966º.
2.
— Anúncio de venda dos livros: convite a contratar ou proposta contratual? Requisitos da
proposta e tendencial caracterização do anúncio como mero convite a contratar.
— Emissão de uma declaração negocial expressa (proposta), receptícia, por E; eficácia da
declaração (art. 224º).
— Conclusão de um contrato válido e eficaz através do telefone; transmissão da
propriedade.
— Desconsideração da pretensão de E uma vez que a sua proposta não foi aceite por F. E
já poderia ter razão se o anúncio na internet configurasse uma proposta contratual.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I
Exame Final — 26.01.2015
Duração da prova: 2 horas e 30 minutos
Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das respostas
implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se justifique, considerar as diversas
hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O rigor e a clareza de exposição serão factores de
valorização da prova.
I (7 valores)
A morreu durante uma operação cirúrgica mal sucedida realizada horas depois de ter dado
entrada num serviço de urgência hospitalar com fortes dores abdominais. B, sua mulher, quer
intentar uma acção contra o hospital alegando negligência médica, a desnecessidade da
operação realizada bem como a falta de consentimento do marido para a sua realização.
Pretende ser indemnizada pela morte do marido, bem como pelos danos sofridos por si e pelo
seu filho, tendo em conta que este nasceu prematuramente, logo após a morte do pai.
Supondo que na acção em causa vêm a provar-se as faltas médicas alegadas, pronuncie-se
sobre a procedência da pretensão de B.
II (6 valores)
Comente, à luz dos conhecimentos jurídico-civilísticos que adquiriu, a seguinte passagem do
sumário do Acórdão do STJ de 2 de Dezembro de 2013 (Maria Clara Sottomayor):
— “Não constitui abuso do direito a situação do segurado que, decorridos seis anos após a
celebração do contrato de seguro, invoca a exclusão de uma cláusula por falta do
cumprimento dos deveres de comunicação e de informação, sendo completamente natural e
nada contraditório, que o cidadão assine o contrato, confiando que não vai encontrar
percalços na sua execução, e reaja apenas quando esses percalços, normalmente
imprevisíveis na data da celebração do contrato, surgem”.
III (7 valores)
C, menor de idade, vendeu a D um terreno que havia herdado mediante contrato formalmente
válido, tendo-se munido de um documento de identificação falsificado para o efeito. Pouco
tempo depois, D, negociante de imóveis, vendeu o mesmo prédio a E.
Diga quem é o proprietário de terreno, tendo em conta que F, pai de C, pretende arguir a
invalidade do primeiro negócio, já depois da maioridade do seu filho.
FDUP
TGDC I
Exame Final — 26.01.2014
Critérios de correção
I
— Enquadramento: direitos de personalidade e consequências da sua violação.
— Direito geral de personalidade/direitos especiais (art. 70.º CC). Direitos especiais de
personalidade aqui convocados: direito à vida, à integridade física e à liberdade.
Caracterização destes direitos.
— Identificação do consentimento aqui em falta como um consentimento tolerante e
consequente violação ilícita dos direitos de personalidade de A
— Consequências da agressão ilícita de direitos de personalidade (art. 70º/2+483º).
— O dano da morte e sua compensação; os danos dos familiares (art. 496º).
— A tutela do nascituro (art. 66º).
II
— Enquadramento da questão no âmbito dos contratos de adesão e, mais precisamente, no
âmbito das cláusulas contratuais gerais. Noção de cláusulas contratuais gerais.
— A problemática subjacente às cláusulas contratuais gerais e as soluções do DL 446/85, de
25 de Outubro.
— O ónus da comunicação das ccg e o ónus da prova da comunicação das ccg: art. 5º DL
446/85.
— Exclusão das cláusulas não comunicadas (nulidade?): art. 8º DL 446/85.
— O problema do abuso de direito. Caracterização do abuso de direito; análise crítica do art.
334º CC.
— A invocação dos arts. 5º e 8º do DL 446/85 depois de vários anos de vigência do contrato
como um comportamento ilícito com fundamento em abuso de direito? Problematização.
III
— A incapacidades dos menores. Caracterização (arts. 122º, 123º).
— Suprimento da incapacidade dos menores e anulabilidade dos actos praticados sem
intervenção do representante legal: art. 125º (excepção art. 127º).
— Dolo do menor e suas consequências (art. 126º).
— As aquisições derivadas translativas, o princípio “nemo plus iuris...” e as suas excepções.
— Invalidade do negócio C/D: D adquire um direito provisório.
— Invalidade do negócio D/E: princípio “nemo plus iuris...”.
— Identificação de F como um terceiro para efeitos de boa fé (art. 291º).
— O art. 291º como uma excepção à regra das aquisições derivadas.
— Requisitos do art. 291º.
— E poderia adquirir “a non domino” verificados os requisitos do art. 291º/ou logo que C
atingisse a maioridade (uma vez que C não poderia arguir a anulabilidade), dependendo
das datas dos negócios.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I
Exame Final — 26.01.2015
Duração da prova: 2 horas e 30 minutos
Nota prévia: Apenas é permitida a consulta de códigos não anotados. A ilegibilidade das respostas
implica a sua não consideração. Na resposta a cada questão deve, sempre que se justifique, considerar as diversas
hipóteses relevantes. Fundamente sempre as respostas. O rigor e a clareza de exposição serão factores de
valorização da prova.
I (7 valores)
A morreu durante uma operação cirúrgica mal sucedida realizada horas depois de ter dado
entrada num serviço de urgência hospitalar com fortes dores abdominais. B, sua mulher, quer
intentar uma acção contra o hospital alegando negligência médica, a desnecessidade da
operação realizada bem como a falta de consentimento do marido para a sua realização.
Pretende ser indemnizada pela morte do marido, bem como pelos danos sofridos por si e pelo
seu filho, tendo em conta que este nasceu prematuramente, logo após a morte do pai.
Supondo que na acção em causa vêm a provar-se as faltas médicas alegadas, pronuncie-se
sobre a procedência da pretensão de B.
II (6 valores)
Comente, à luz dos conhecimentos jurídico-civilísticos que adquiriu, a seguinte passagem do
sumário do Acórdão do STJ de 2 de Dezembro de 2013 (Maria Clara Sottomayor):
— “Não constitui abuso do direito a situação do segurado que, decorridos seis anos após a
celebração do contrato de seguro, invoca a exclusão de uma cláusula por falta do
cumprimento dos deveres de comunicação e de informação, sendo completamente natural e
nada contraditório, que o cidadão assine o contrato, confiando que não vai encontrar
percalços na sua execução, e reaja apenas quando esses percalços, normalmente
imprevisíveis na data da celebração do contrato, surgem”.
III (7 valores)
C, menor de idade, vendeu a D um terreno que havia herdado mediante contrato formalmente
válido, tendo-se munido de um documento de identificação falsificado para o efeito. Pouco
tempo depois, D, negociante de imóveis, vendeu o mesmo prédio a E.
Diga quem é o proprietário de terreno, tendo em conta que F, pai de C, pretende arguir a
invalidade do primeiro negócio, já depois da maioridade do seu filho.
TGCD I
19.02.2015
Exame de recurso
Critérios de correcção
I
1.
— Enquadramento da questão no âmbito dos direitos de personalidade e do
consentimento do ofendido (art. 70º CC).
— Identificação dos direitos especiais de personalidade envolvidos no caso: direito à
integridade física e direito à liberdade.
— Requisitos do consentimento: art. 81º/1 + Lei 12/93, 22 de Abril: art. 8º.
— Caracterização do consentimento do dador como um consentimento autorizante e
do consentimento do receptor como um consentimento tolerante.
— Menoridade de A e consequente incapacidade de exercício de direitos (122º, 123º);
reflexos no consentimento.
— Especiais requisitos do transplante atendendo a que se trata de um órgão não
regenerável: art. 6º/2/3/7 Lei 12/93.
2.
— Princípio da gratuitidade: art. 5º Lei 12/93.
— Nulidade do negócio: art. 280º CC
— Órgão como coisa fora do comércio.
II
— Princípio “Nemo plus iuris...” e suas excepções; a aquisição derivada translativa da
Associação e o conflito com a aquisição registada pelos herdeiros.
— Caracterização da Associação com uma pessoa colectiva de substrato pessoal e
com reconhecimento normativo condicionado
— Apreciação da validade da doação: arts. 1682ºA, 1687º (anulabilidade
provavelmente sanada pelo decurso do prazo); negócio eficaz (ainda que anulável)
interpartes mas inoponível a terceiros para efeitos do registo (noção de terceiros): arts.
4º, 5º, 6º CRPredial.
— Consequências da falta de registo: efeito central do registo: arts. 5º+6º CRPredial;
decadência do direito da Associação.
III
a) Noção de capacidade de gozo e de capacidade de exercício; distinção;
incapacidades de gozo e incapacidades de exercício; exemplificação.
b) Noção de direito subjectivo em sentido estrito e de direito potestativo; situações
jurídicas passivas correspondentes; exemplificação.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I E II
Exame Final — Época de recurso — 12.07.2014
I (5+5 valores)
1. A, coleccionador de relógios, sabendo da intenção de C de lhe vender um valioso
relógio de colecção de que este (C) é proprietário, envia uma carta a B, também
coleccionador, através da qual lhe propõe a venda do mesmo relógio pelo preço de €
2.500. B responde a A, pela mesma forma, aceitando a proposta daquele.
Alguns dias mais tarde, A compra o relógio a C. Diga, fundamentadamente, se B poderá
vir a adquirir o relógio e, em caso afirmativo, em que momento adquirirá.
2. Imagine agora que à carta inicialmente enviada por A a B este (B) responde dizendo
que o preço proposto por A é demasiado elevado, estando contudo disposto a adquirir o
relógio pela quantia de € 1.800. Por sua vez, A, seguindo a mesma via de comunicação,
informa B que aceita vender-lhe o negócio nessas condições, mas que B morre antes de a
resposta de A chegar ao seu conhecimento. Mantendo os demais dados do enunciado,
diga se a resposta à primeira pergunta se mantém a mesma.
II (5+5 valores)
1. E, octogenária, tem vindo a sofrer um agravamento da sua saúde física e mental, sendo
vítima de recorrentes lapsos de memória e de confusão.
F, filho de uma vizinha, convenceu E de que era um seu sobrinho e conseguiu que esta
lhe oferecesse vários objectos em ouro bem como peças de mobiliário valiosas que tinha
guardados em casa.
a) Poderá G, irmã mais nova de E, reagir contra estes negócios tendo em conta que
quando foram realizados se encontrava já pendente uma acção com vista à limitação da
capacidade de E?
b) Supondo que E doou também uma casa de férias a F, mediante contrato formalmente
válido, ainda registada em seu nome mas que tinha sido vendida há muitos anos a H,
pronuncie-se sobre as possibilidades que F terá de vir a adquirir a propriedade da casa.
TGDC I e II
Exame Final — Época de recurso
12.07.2014
Critérios de correcção
I (5+5 valores)
1.
— Caracterização do contrato em causa como um negócio jurídico bilateral ou contrato
(bilateral), consensual (art. 219º CC).
— Caracterização do objecto do negócio como uma coisa (relativamente) futura (art. 211º).
— A carta de A seria uma proposta contratual (declaração expressa, escrita, definição de todos os
elementos considerados essenciais + vontade negocial, receptícia: arts. 217º, 224º, 232º CC;
eficácia da proposta).
— Perfeição do contrato no momento da recepção da carta de B: aceitação (declaração expressa,
escrita, receptícia: arts. 217º, 224º CC).
— Efeitos do contrato: meramente obrigacionais (art. 880º CC); o efeito translativo real a favor
de B dar-se-á com a aquisição da coisa por A (art. 408º/2 CC).
2.
— Valor da resposta de B: rejeição da proposta inicial e nova proposta (art. 233º);
— O contrato conclui-se com a eficácia da resposta de A (doutrina da recepção: 224º CC);
— A morte do proponente não obsta à conclusão do contrato: arts. 226º e 231º CC. O contrato
conclui-se entre A e os herdeiros de B. Estes adquirirão a propriedade quando A a adquirir,
pressupondo que a coisa ainda é futura, ou quando a carta chegar, se A já tiver adquirido a coisa.
II (6+4 valores)
a)
— Enquadramento da questão no âmbito dos vícios na formação da vontade e da falta de
discernimento conducente às incapacidades de exercício;
— Identificação de diferentes hipóteses de anulabilidade dos negócios: erro-vício quanto à
identidade do declaratário (requisitos gerais e especiais de relevância: arts. 251º+247º CC);
qualificado por dolo (positivo, ilícito) do declaratário: arts. 253º, 254º CC); incapacidade
acidental, caso se mostre a falta de discernimento no momento da conclusão do negócio
(requisitos de relevância): art. 257º CC.
— Relevância da pendência de uma acção (de interdição ou inabilitação: distinção, fundamentos
e consequências) com vista à restrição da capacidade de exercício de E; valor dos actos
praticados na pendência da acção: art. 149º (requisitos da anulabilidade; prazo).
— Legitimidade e prazos para arguir a anulabilidade (art. 287º); avaliação da legitimidade da
irmã de E para o efeito; consequências da anulabilidade (art. 289º).
b)
— Enquadramento do caso no âmbito das excepções ao princípio “nemo plus iuris...”.
— Validade do negócio E/H e invalidade do negócio E/F.
— Consequências da falta de registo de H: a inoponibilidade do seu direito a terceiros para efeitos
do registo (art. 5º CRP). Noção de terceiro para efeitos de registo. Breve caracterização do registo
em Portugal enquanto um registo declarativo e não constitutivo de direitos. A obrigatoriedade do
registo: art. 8ºA CRP. Efeito imediato do registo: a presunção da titularidade do direito: art. 7º
CRP.
— Consequências do eventual registo de F: efeito central do registo: arts. 5º+6º CRP. F adquire
um direito provisório (atendendo ao prazo para arguição da anulabilidade do negócio E/F) e o
direito de H decai.
— F adquiria um direito provisório “a non domino” que se tornaria definitivo com a confirmação
do negócio anulável ou com o decurso do prazo de arguição da anulabilidade.
UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I E II
Exame final — Época de recurso
13.07.2011
I (4+4 valores)
a) A, menor, foi apadrinhado civilmente por B e C, pessoas previamente
habilitadas para o efeito.
Pronuncie-se quanto ao significado do estabelecimento desta nova relação
jurídica.
b) B e C arguiram a anulabilidade de um contrato celebrado por A com
fundamento em menoridade, incapacidade acidental e falta de consciência da
declaração. Diga, justificando a sua resposta, se o tribunal poderá julgar a acção
procedente com base em todos os fundamentos invocados pelos autores.
II (7+5 valores)
a) A e B celebraram um contrato mediante documento particular autenticado,
em Fevereiro de 2009, no qual A, através de um procurador, vendeu a B um terreno
correntemente denominado “Casal do Rego”, com a área de 16 hectares, pelo preço de
500€/hectare. B pagou o preço global acordado.
Em Maio de 2010, A e B chegaram à conclusão que o procurador de A havia
identificado no documento o “Casal do Rego” como um só prédio, quando na
realidade era composto por dois prédios distintos: o “Casal do Rego” —10 hectares
— e a “Quinta de Baixo” — 6 hectares —, com inscrições matriciais e registrais
diversas.
A pretende hoje ver reconhecido o direito de propriedade sobre a “Quinta de
Baixo”. Terá êxito esta sua pretensão?
b) Suponha agora que B, que era titular de um direito legal de preferência na
compra do referido imóvel, apenas tinha exercido o seu direito e adquirido o prédio
em causa para impedir que X, vivamente interessado no terreno pelo qual tinha
oferecido o mesmo preço que B se dispôs a pagar, adquirisse a propriedade do “Casal
do Rego”. B era já proprietário de várias terras na região, inclusive contíguas ao
terreno transaccionado, mas tudo fez para que X, seu inimigo de longa data, não se
tornasse proprietário na zona.
Quid iuris?
TGDC I e II
Exame final — Época de recurso
13.07.2011
Critérios de correcção
I (4+4 valores)
a)
- Caracterização da incapacidade de exercício do menor.
- A relação própria do apadrinhamento civil: Lei n.º 103/2009, de 11.09, regulada
pelo DL n.º 121/2010, de 27.10. Noção de apadrinhamento civil; caracterização da
nova relação como uma relação tendencialmente perpétua; requisitos impostos pela
lei aos padrinhos e aos afilhados; apadrinhamento civil versus tutela; poderes
atribuídos aos padrinhos (responsabilidades parentais) e seus limites; objectivos do
instituto.
b)
- Recorte dos três institutos indicados.
- Explicação da impossibilidade da sua sobreposição na medida em que a
incapacidade acidental e a falta de consciência da declaração se aplicam a maiores
(dotados de capacidade de exercício).
- Identificação da única hipótese em que os actos dos menores podem ser invalidados
com os outros fundamentos invocados (nos casos excepcionais em que o menor é
capaz enunciados no art. 127º CC).
II (7+5 valores)
a)
- Situação do problema no âmbito da divergência entre a vontade real e a vontade
declarada. Problematização e afastamento da hipótese do erro-vício.
- Existência de divergência não intencional e ignorada pelo(s) declaraste(s).
- Verificação de um erro-obstáculo em ambas as declarações negociais.
- Recorte positivo e negativo do erro-obstáculo.
- Subespécie de erro-obstáculo em questão: erro de escrita (art. 249º). Seu relevo.
- Carácter incidental do erro.
- Consequências jurídico-positivas do erro-obstáculo, em geral.
- Consequências jurídico-positivas do erro-obstáculo, in casu: rectificação das
declarações negociais.
- Improcedência da pretensão do vendedor.
- Alusão à hipotética validação do negócio por aceitação: art. 248º CC.
- Afastamento da possibilidade de arguição da anulabilidade ainda que o erro fosse
invalidante em virtude da caducidade do direito: art. 287º.
- Caracterização da posição do procurador (representante voluntário: efeitos da
representação: art. 258º); o art. 259º CC.
[V. Acórdão do STJ de 3.12.98 (Torres Paulo), in http://www.dgsi.pt]
b)
- Identificação do exercício abusivo de um direito.
- Caracterização do abuso de direito; debate entre as diferentes concepções de abuso
de direito defendidas pela doutrina.
- Consequências do exercício abusivo de um direito.
Direito
Comunitário
UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE
DIREITO Direito da União Europeia – 2.o ano
Exame da época normal – 02/01/2018
Regente: Marta Chantal Ribeiro
Duração: 2h30 (sem tolerância)
Estudantes com necessidades especiais: tempo de prova nos
termos da legislação aplicável
Nota: a apresentação e sistematização da resposta e a clareza de
raciocínio são cotadas em 1 valor. As respostas ‘sim’ ou ‘não’, se
não forem acompanhadas de justificação, não serão valorizadas.
I GRUPO (10 valores)
De modo BREVE, mas fundamentado, responda às seguintes
questões:
1. Explique as diferenças entre o funcionalismo e o
neofuncionalismo e diga, na sua opinião, qual das duas teses
reflete melhor a atualidade da União Europeia. (3 v.)
2. Critérios:
- Maioria simples: artigo 238.o, n.o 1, do TFUE (0,5 v.)
-Maioria qualificada: regime regra (artigo 16.o, n.o 3, do TUE)
sujeito a procedimento distintos consoante se delibere ou não
delibere sob proposta da Comissão e/ou consoante estejam ou não
presentes representantes de todos os Estados-Membros (artigo
16.o, n.o 4, do TUE e artigo 238.o do TFUE). (2 v.)
- Unanimidade: artigo 238.o, n.o 4, do TFUE (0,5 v.) 3. Critérios:
- Noção de primado de Direito da União, alcance (condição
existencial da UE; primado interno) e consequências (no mínimo,
inaplicabilidade). Distinção da preempção. (1,5 v.)
- Fundamentos normativos: artigo 4.o, n.o 3, do TUE e Declaração
n.o 17; artigos 258.o a 260.o, 288.o e 267.o do TFUE. (1,25 v.)
- Fundamentos jurisprudenciais: acórdãos Costa/Enel, de
15.07.64, Simmenthal, de 09.03.78, Brasserie du pêcheur, de
05.03.1996, entre outros. (1,25 v.)
II GRUPO (9 valores)
Leia o enunciado da situação HIPOTÉTICA e todas as questões.
A seguir, resolva o caso, FUNDAMENTANDO sempre as suas
respostas:
(...)
1. Distinga a resolução do regulamento, ambos adotados pelo
Parlamento Europeu. (2 v.)
Critérios:
- Resolução: ato atípico de direito derivado, não vinculativo. (0,5
v.)
- Regulamento: ato típico de direito derivado, previsto no artigo
288.o do TFUE. Explicação das características, designadamente, o
carácter de lei (uniformização), a aplicabilidade direta, imediata e
o efeito direto. (1,5 v.)
2. Aprecie a validade do regulamento tendo em conta os seguintes
princípios: o princípio da atribuição de competências, o princípio
das competências atributivas das instituições e o princípio da
publicidade dos atos. (3 v.)
Critérios:
- Princípio da atribuição de competências: explicação (artigo 5.o,
n.o 1 e 2, do TUE); o regulamento é válido face ao disposto no
artigo 4.o, n.o 2, al. a), e no artigo 114.o do TFUE (competência
partilhada). Eventual discussão acerca do princípio da
subsidiariedade. (1 v.)
- Princípio das competências atributivas das instituições:
explicação (artigo 13.o, n.o 2, do TUE); o regulamento é inválido
face ao disposto no artigo 114.o e no artigo 289.o do TFUE (não
foi respeitado o processo legislativo ordinário). (1 v.)
- Princípio da publicidade dos atos: explicação (artigo 297.o do
TFUE); não se trataria de um problema de validade e sim de falta
de produção de efeitos, que mesmo assim não procede face ao
disposto no artigo 297.o, n.o 1, último parágrafo, do TFUE). (1v.)
3. Suponha que um Estado-Membro ficou insatisfeito com as
medidas estabelecidas pelo regulamento. Como assessor jurídico
do Governo desse Estado, que estratégia de atuação
recomendaria, e perante quem, com vista a impedir a aplicação
do regulamento na ordem interna? (2 v.)
Critérios:
- Enquanto requerente privilegiado o Estado-Membro poderia
recorrer ao recurso de anulação (a interpor perante o Tribunal de
Justiça – artigo 51.o do Estatuto do TJUE / 0,5 v.), com
fundamento em incompetência do Parlamento Europeu para a
adoção do regulamento, no prazo de dois meses a contar da
publicação, conforme regulado no artigo 263.o do TFUE (1,5 v.).
4. E se o mesmo regulamento estivesse em apreciação, perante um
juiz do dito Estado-Membro, no âmbito de um processo que
opunha normas do regulamento a disposições constantes de uma
lei interna permissivas da importação de quaisquer produtos
derivados de foca independentemente da proveniência?
Colocando-se no lugar do juiz como atuaria e perante quem? (2
v.)
Critérios:
- Reenvio prejudicial relativo a uma questão de validade.
Aplicação do artigo 267.o do TFUE e da jurisprudência Foto-
Frost (acórdão de 22.10.1987, proc. 314/85) (1,5 v.). Reenvio
obrigatório para o Tribunal de Justiça (interpretação do artigo
256.o, n.o 3, do TFUE) (0,5 v.). BOA SORTE
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO
PORTO EXAME DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
TURMA 2
2/1/2018
14.30 – 17.00 H
I
Considerando os artigos 2o, 4o e 7o TUE e o artigo 2o TFUE,
comente e articule as seguintes afirmações:
“Em dois anos, foram adotadas mais de 13 leis consecutivas que
afetam toda a estrutura do sistema de justiça na Polónia: o
Tribunal Constitucional, o Supremo Tribunal, os tribunais
ordinários, o Conselho Nacional do Poder Judiciário, o
Ministério Público e a Escola Judicial Nacional. O padrão
comum de todas estas mudanças legislativas é que os poderes
executivo ou legislativo foram sistematicamente habilitados a
interferir significativamente com a composição, os poderes, a
administração e o funcionamento dessas autoridades e órgãos. As
mudanças legislativas e seus efeitos combinados colocam em
risco sério a independência do poder judicial e a separação de
poderes na Polónia, que são componentes-chave do estado de
direito”. Comissão Europeia
“A Polónia lamenta o lançamento do procedimento previsto no
artigo 7, que é essencialmente político, não legal (...) a soberania
da Polónia e a ideia da Europa unida podem ser reconciliadas”.
MNE da Polónia.
5 val.
II
Nos últimos anos, empresas que utilizam plataformas tecnológicas
têm disponibilizado o acesso generalizado a transportadores não
profissionais. Essas empresas declaram que não exercem a
atividade de transporte, mas antes prestam um serviço de
intermediação eletrónica abrangida pela livre prestação de
serviços do mercado interno prevista no TFUE (artigos 49o a 62o)
e regulada pelas Diretivas 2006/123/CE, 2000/31/CE e 98/34, e de
são excluídas as atividades de transporte. Os taxistas têm
reclamado que se trata antes da atividade de transporte público
local não coletivo, prevista nos artigos 90o a 100o TFUE e que
não foi até hoje objeto de qualquer regulação na UE, sendo
regulada a nível nacional com regimes diferenciados. Os litígios
nos tribunais nacionais têm-se sucedido. Em 20/12/2017, o TJ
(Proc. 434/15, Elite Taxi) qualificou essa atividade como atividade
de transporte.
1 – Sabendo que ambos os domínios integram a categoria das
competências partilhadas, qual a importância da diferente
qualificação como livre prestação de serviços ou como transporte?
4 val.
A Comissão, na sua Comunicação “Agenda para a Economia
Colaborativa” reflete sobre a hipótese de regulação dessa
atividade pelo Direito da União Europeia.
2 – Embora a Comissão não se refira ao princípio da
subsidiariedade, de que forma este princípio é relevante em
qualquer iniciativa de regulação no domínio referido e que meios
de controlo e garantia estão previstos? 4 val.
3 – O caso Elite Taxi resultou de um reenvio do Juzgado de lo
Mercantil n.° 3 de Barcelona. Considere que em sede de recurso
da decisão do Juzgado de lo Mercantil, o tribunal superior, de cuja
decisão já não há recurso, não respeita a interpretação feita pelo
TJ no acórdão de reenvio e a associação de taxistas Elite Taxi
pretende reivindicar o ressarcimento de prejuízos sofridos por
causa dessa decisão. Quid iuris? 5 val.
4 – Poderia este reenvio ser decidido pelo Tribunal Geral? 2 val.
Bom trabalho! Graça Enes
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA – TURMA 2 2017/2018
EXAME ÉPOCA NORMAL 2/1/2018 CRITÉRIOS E TÓPICOS DE
CORREÇÃO
Em todas as questões, a avaliação tem em consideração a indicação dos
conteúdos programáticos pertinentes, a coerência da articulação entre
estes, a clareza discursiva e a reflexão crítica e contextual das questões.
I GRUPO (6 valores)
O reenvio prejudicial é o principal fundamento para a afirmação
do primado “interno”.... (6 v.)
Critérios de correção:
• Noção de primado de Direito da União (em especial, mas
não só, artigo 4.o, n.o 3, do TUE, Declaração n.o 17,
acórdãos Costa/Enel, de 15.07.64, e Simmenthal, de
09.03.78), alcance de primado ‘interno’ (acórdão
Simmenthal e artigo 8.o, n.o 4, da CRP) e o reenvio
prejudicial como fundamento – artigo 267.o do TFUE. (3 v.)
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
I GRUPO
(8 valores)
(...)
CRITÉRIOS:
- Competência partilhada: base geral: art. 4.º, n.º 2, als. a) e f), do TFUE (0,5 v.);
desenvolvimento: art. 169.º, n.º 2, al. a), e art. 114.º, n.º 1, (0,5 v.) do TFUE).
CRITÉRIOS: Ato legislativo (adotado por processo legislativo ordinário): art. 169.º,
n.º 2, al. a), art. 114.º, n.º 1, e art. 289.º, n.º 3, do TFUE.
CRITÉRIOS:
- Não foi respeitado o princípio: interpretação do art. 13.º, n.º 2, do TUE (0,75 v.).
Interpretação do art. 169.º, n.º 2, al. a), art. 114.º, n.º 1, e art. 289.º, n.º 1, do
TFUE: o Conselho delibera conjuntamente com o Parlamento Europeu e após
consulta do Comité Económico e Social (0,75 v.).
2
5 – O Estado-Membro A entende que o regulamento é nulo pelo facto de não
conter qualquer fundamentação relativa ao princípio da subsidiariedade.
Pronuncie-se sobre este entendimento do Estado-membro A e explique a que meios
jurisdicionais poderá ele recorrer para reagir. (1,5 v.)
CRITÉRIOS:
CRITÉRIOS:
CRITÉRIOS:
- Explicação da fase de integração económica correspondente a mercado interno (art.
26. º, n.º 2, do TFUE). Distinção de mercado comum. (1v.)
- Sim, tem competência, mesmo tratando-se de um domínio de competência
partilhada. Interpretação do art. 2.º, n.º 2 (preempção), art. 3.º, n.º 2, art. 216.º e art.
218.º do TFUE. (1v.)
3
UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE DIREITO
Direito Comunitário (Direito da União Europeia) – 2.º ano
Exame final (época de recurso) – 12/02/2015
TURMA 2
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
I GRUPO
(6 valores)
CRITÉRIOS:
a. Natureza da Comissão Europeia e garantias de independência (processo de nomeação
e condições de exercício do cargo de comissário / art. 17.º e 18.º TUE, e art. 245.º-247.º
TFUE) (2 v.).
b. A Comissão enquanto garante do equilíbrio institucional: o poder de iniciativa da
Comissão e de agente de concertação interinstitucional. (2 v.)
c. A independência da Comissão em relação às outras instituições e aos Estados
(poderes de fiscalização (art. 337.º TFUE) e poderes de acção (art. 258.º, 260.º, 263.º,
265.º do TFUE). (2 v.)
II GRUPO
(13 valores)
(...)
1 – Tendo presente os objetivos da diretiva, examine a sua validade à luz do
princípio da atribuição e da não inter-versão dos atos.
2
8 – Qual a razão de nos referirmos hoje a União Europeia e não a Comunidade
Económica Europeia?
CRITÉRIOS: Análise histórica do Tratado de Roma de 1957 (CEE), do Tratado de
Maatricht de 1992 (CE / criação da UE sem personalidade jurídica) e do Tratado de
Lisboa de 2007 (UE substitui todas as Comunidades e possui, doravante, personalidade
jurídica). (2 v.)
3
UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE DIREITO
Direito Comunitário (Direito da União Europeia) – 2.º ano
Exame final (época normal) – 11/01/2013
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
I GRUPO
(7 valores)
2 – Tendo presente a matéria estudada, que lições podemos retirar da seguinte passagem
do acórdão Simmenthal, de 9 de Março de 1978, proc. 106/77:
“Decorre de tudo quanto precede que qualquer juiz nacional tem o dever de, no âmbito
das suas competências, aplicar integralmente o direito comunitário e proteger os
direitos que este confere aos particulares, considerando inaplicável qualquer
disposição eventualmente contrária de direito interno, quer seja esta anterior ou
posterior à norma comunitária”. (4 valores)
Critérios:
1) Princípio do primado: fundamento, alcance e consequências. Primado
‘interno’. (2,75 valores)
II GRUPO
(13 valores)
I GRUPO
(10 valores)
CRITÉRIOS:
- Base legal: artigo 267.º do TFUE (0,25)
- Contributo do acórdão VAASSEN-GÖBBELS. (0,75)
- O regime de interpretação dos Tratados e do direito derivado. Contributo do
acórdão CILFIT. Efeitos dos acórdãos. (1,5)
- O regime de apreciação da validade do direito derivado. Contributo do acórdão
FOTO-FROST. Efeitos dos acórdãos. (1,5)
II GRUPO
(10 valores)
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
2
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
2010/2011
Direito Comunitário – 2º ano Exame final (época de recurso) – 8/02/2011
Duração – 2 horas e 30 minutos Limite de páginas: 8 (oito)
Grupo II (8 valores)
André, empresário português, entrou, recentemente, em litígio com o Estado
português. No decurso do processo judicial, que instaurou no Tribunal
Administrativo e Fiscal do Porto, veio invocar uma norma de um Regulamento
Comunitário que, de acordo com a sua interpretação, fundamenta o pedido
indemnizatório por ele peticionado. Ao Juiz, porém, tendo em conta todo o
circunstancialismo de facto e de direito que o caso envolve, levantam-se várias
dúvidas acerca do sentido do referido preceito de Direito Comunitário.
Época de recurso
2010/2011
Critérios de correcção
Grupo I
Grupo II
(8 valores)
3. Tendo em vista a abertura de um talho, Frederico apresentou
junto da Câmara Municipal requerimento escrito dirigido à
obtenção da respetiva autorização.
Decorridos 20 dias, foi notificado, através do «Balcão do
empreendedor», de despacho de indeferimento que contém a
identificação das desconformidades do pedido com as disposições
legais e regulamentares aplicáveis sem, no entanto, as concretizar.
Por outro lado, e apesar de no âmbito deste procedimento ser
necessária a pronúncia da Direção-Geral de Alimentação e
Veterinária, não consta do despacho referência a qualquer parecer.
a) Qualifique as figuras organizatórias referidas na hipótese.
(1valor)
b) Identifique e qualifique os atos jurídicos praticados. (2valores)
c) Analise o(s) vício(s) do ato de indeferimento e respetivas
consequências
jurídicas. (2 valores)
d) Quais os mecanismos de reação de que Frederico se poderia
servir? (3 valores)
Não se esqueça de fundamentar as suas respostas.
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar
calado, sugere- -se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática.
Como também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2h30, sem
consulta, salvo legislação adequada. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e
ao sentido geral da prova (1 valor).
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO EXAME FINAL
15/06/2018
I
a)
- As Universidades públicas, como é o caso da Universidade do
Porto, sob a forma de fundação pública de Direito privado, são
pessoas coletivas públicas de substrato fundacional, apenas
residualmente sujeitas ao Direito privado; a autonomia universitária
(cfr. artigo 76.o da CRP); a sua exclusão do âmbito da Lei-Quadro
das Fundações (cfr. artigo 6.o/8 da Lei n.o 24/2012, de 9 de julho,
que aprova a Lei Quadro das Fundações). Em regra, um instituto
público pertence à Administração indireta, mas pode assumir
formas de Administração autónoma (o caso das Universidades
Públicas) ou mesmo independente (o caso das entidades
administrativas independentes), embora com alterações substanciais
ao regime típico (cfr. artigo 48.o da Lei Quadro dos Institutos
Públicos, aprovada pela Lei n.o 3/2004, de 15 de janeiro,
sucessivamente alterada); a Universidade do Porto integra a
Administração autónoma.
b)
- O artigo 2.o do CPA e os diferentes níveis de aplicação do CPA; a
relevância da natureza jurídica da pessoa coletiva (pública ou
privada) e da atividade desempenhada (de caráter administrativo ou
empresarial); a aplicação do CPA, na sua totalidade, às
Universidades Públicas e, portanto, à Universidade do Porto, pese
embora tratar-se de uma fundação pública de Direito privado, e a
aplicação do CPA às empresas públicas, apenas no que se refere aos
princípios gerais da atividade administrativa (parte I do CPA) e, na
medida em que exerçam poderes de autoridade (partes III e IV do
CPA); considerando a natureza jurídica privada das empresas
públicas sob a forma de sociedades anónimas e o caráter
empresarial da atividade empresarial, o seu regime-regra é de
Direito privado (com algumas vinculações de Direito Público), o
que constitui uma imposição do princípio da concorrência (cfr.
artigo 14.o do DL n.o 133/2013, de 3 de outubro).
II
a)
- Os procedimentos administrativos comuns como os
procedimentos regidos pelo CPA e os procedimentos
administrativos especiais como os procedimentos regidos por
legislação especial; exemplos; o artigo 2.o/5 do CPA.
b)
- O regulamento administrativo (noção); análise do artigo 135.o do
CPA; regulamentos administrativos com eficácia interna (noção e
exemplos); regulamentos administrativos com eficácia externa
(noção e exemplos); os regulamentos com eficácia interna não são
suscetíveis de impugnação contenciosa direta por se entender que
não afetam a esfera jurídica dos particulares. Crítica: somos de
opinião que alguns exemplos típicos de normas internas, como as
circulares (especialmente em matéria tributária), só aparentemente
têm uma eficácia interna, em claro prejuízo de uma tutela judicial
efetiva; os órgãos administrativos não estão obrigados a cumprir os
regulamentos internos, não valendo para estas normas internas a
regra da inderrogabilidade singular dos regulamentos (cfr. artigo
142.o/2 do CPA). Crítica: a derrogabilidade singular da circular
parece contrariar a sua natureza, uma vez que o desiderato da
circular é fornecer uma interpretação (geral) de um determinado
preceito ou reduzir de forma antecipada a discricionaridade da
Administração. Acresce que a possibilidade de derrogar
singularmente uma circular ataca os princípios da segurança
jurídica e da igualdade.
c)
- A anulação como a prática de ato administrativo secundário com
fundamento na invalidade de um outro ato, no exercício da função
administrativa de controlo ou fiscalização, no prazo de seis meses.
Cfr. os artigos 165.o e segs. do CPA; a sanação ocorre nos termos
do artigo 164.o do CPA: diferenciação entre as formas de sanação
previstas; o decurso do tempo para a impugnação dos atos
administrativos anuláveis não é uma forma de sanação dos vícios
do ato, tornando-o, isso sim, inimpugnável (consolidando-o na
ordem jurídica), nem transforma um ato inválido num ato válido,
visto que o vício se mantém (assumindo relevo para outros efeitos,
designadamente ao nível da responsabilidade civil da
Administração por atos ilícitos), podendo, inclusive, ser apreciado
incidentalmente (artigo 38.o do CPTA).
III
a) A Câmara Municipal como órgão colegial do tipo executivo a
quem está atribuída a gestão permanente dos assuntos municipais;
órgão do município (autarquia local: pessoa coletiva pública de
população e território, primária, de fins múltiplos, que visa
prosseguir os interesses próprios do agregado populacional
residente na circunscrição concelhia, integrando a Administração
Autónoma); cfr. artigo 56.o e seguintes da Lei das Autarquias
Locais, aprovada pela Lei n.o 169/99, de 18 de setembro, com as
alterações introduzidas pela Lei n.o 5-A/2002, de 11 de Janeiro e
pela Lei n.o 67/2007, de 31 de Janeiro (LAL); a Direção-Geral de
Alimentação e Veterinária como um serviço executivo da
Administração direta central do Estado (cfr. artigos 2.o e
11.o/2/a)/4/a) da Lei n.o 4/2004, de 15 de janeiro, sucessivamente
alterada).
b) Despacho de indeferimento como o ato administrativo praticado
que decide o pedido de Frederico (cfr. artigo 148.o CPA): caráter
regulador e produção de efeitos externos numa situação individual e
concreta. O ato administrativo é uma estatuição autoritária, um
comando jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que produz,
por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste
na criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na
determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora
o direito para um caso concreto. O carácter regulador, constitutivo e
externo dos efeitos jurídicos inovadores produzidos pelo despacho
de indeferimento; qualifica-se como um ato administrativo para
efeitos substantivos e procedimentais (cfr. artigo 148.o do CPA) e
para efeitos adjetivos e processuais (cfr. artigo 51.o do CPTA); ato
administrativo primário, singular, de conteúdo negativo, que
indefere uma pretensão deduzida pela interessada por requerimento
inicial (cfr. artigo 102.o do CPA); põe termo a um procedimento
administrativo de iniciativa externa).
- A notificação como ato instrumental, meramente comunicativo,
do qual devem constar os elementos previstos no n.o 2 do artigo
114.o do CPA, apenas podendo haver lugar notificação por via
eletrónica num dos casos previstos no n.o 2 do artigo 112.o do CPA
(cfr. artigos 62.o e 112.o/1/c) e 2 do CPA).
b)
- Fundamentação insuficiente; vício formal por preterição de
formalidade essencial (cfr. artigos 268.o/4 da CRP e 152.o/1/c) e
153.o do CPA); anulabilidade (cfr. artigo 163.o/1 do CPA).
c)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e
recurso hierárquico (cfr. artigos 184.o/1/a), 186.o/1/a), 188.o/1,
189.o/2, 190.o/3, 192.o/2, 197.o do CPA).
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio,
da interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.o/4 da CRP,
51.o/1 e 59.o/4/5 do CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação
administrativa potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial
– artigo 185.o/2 CPA; a suscetibilidade de produção de efeitos
jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade
do ato administrativo.
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo
negativo é adequado intentar, junto do tribunal administrativo
competente, um pedido de condenação à prática do ato legalmente
devido, deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos
37.o/1/b), 51.o/4, 66.o, 67.o/1/b) e 69.o/2 do CPTA).
- É vantajoso o recurso prévio às garantias administrativas: i) a
suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.o/3 do CPA e 59.o/4/5
do CPTA e no caso de impugnação administrativa necessária a
suspensão da eficácia do ato (cfr. artigo 189.o/1 do CPA); ii) o
caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional; iii) a apreciação da legalidade e do mérito (cfr.
artigos 185.o/3 do CPA e 3.o/1 do CPTA): os regimes da revogação
e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.o e seguintes do
CPA); iv) a desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento
de custas judiciais; v) simplicidade, informalidade, celeridade e
quase gratuitidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO 2.º TESTE 15/06/2018
(6 valores)
4. Distinga sucintamente entre:
d) procedimento administrativo comum e procedimentos
administrativos
especiais;
e) normas regulamentares com eficácia interna e normas
regulamentares
com eficácia externa;
f) anulação administrativa e sanação do ato administrativo.
(5 valores)
2. Direito de regresso, obediência hierárquica e tutela de terceiros.
Relacione e comente.
(8 valores)
3. Tendo em vista a abertura de um talho, Frederico apresentou
junto da Câmara Municipal requerimento escrito dirigido à
obtenção da respetiva autorização.
Decorridos 20 dias, foi notificado, através do «Balcão do
empreendedor», de despacho de indeferimento que contém a
identificação das desconformidades do pedido com as disposições
legais e regulamentares aplicáveis sem, no entanto, as concretizar.
Por outro lado, e apesar de no âmbito deste procedimento ser
necessária a pronúncia da Direção-Geral de Alimentação e
Veterinária, não consta do despacho referência a qualquer parecer.
e) Identifique e qualifique os atos jurídicos praticados. (3 valores)
f) Analise o(s) vício(s) do ato de indeferimento e respetivas
consequências jurídicas. (2 valores)
g) Quais os mecanismos de reação de que Frederico se poderia
servir? (3 valores)
Não se esqueça de fundamentar as suas respostas.
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar
calado, sugere- -se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática.
Como também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2h30, sem
consulta, salvo legislação adequada. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e
ao sentido geral da prova (1 valor).
II
- O artigo 22.o da CRP e o princípio da tutela jurisdicional efetiva do
artigo 268.o da CRP .
- A responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e culposos;
regime aplicável (Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do
Estado e demais Entidades Públicas por Atos de Gestão Pública aprovado
pela Lei n.o 67/2007, de 31 de dezembro).
- Pressupostos da responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos
e culposos (cfr. artigo 7.o a 10.o da Lei n.o 67/2007, de 31 de dezembro):
facto voluntário; ilicitude; culpa; dano; nexo de causalidade.
- As pessoas coletivas públicas ou privadas que exerçam funções
administrativas respondem sempre pelos prejuízos resultantes dos atos
ilícitos e culposos dos seus órgãos ou agentes, tenham os factos sido
praticados com dolo, negligência leve ou negligência grosseira (cfr. artigos
7.o/1 e 8.o/1/2 da Lei n.o 67/2007, de 31 de dezembro).
III
a) Despacho de indeferimento como o ato administrativo praticado
que decide o pedido de Frederico (cfr. artigo 148.o CPA): caráter
regulador e produção de efeitos externos numa situação individual e
concreta. O ato administrativo é uma estatuição autoritária, um
comando jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que produz,
por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste
na criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na
determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora
o direito para um caso concreto. O carácter regulador, constitutivo e
externo dos efeitos jurídicos inovadores produzidos pelo despacho
de indeferimento; qualifica-se como um ato administrativo para
efeitos substantivos e procedimentais (cfr. artigo 148.o do CPA) e
para efeitos adjetivos e processuais (cfr. artigo 51.o do CPTA); ato
administrativo primário, singular, de conteúdo negativo, que
indefere uma pretensão deduzida pela interessada por requerimento
inicial (cfr. artigo 102.o do CPA); põe termo a um procedimento
administrativo de iniciativa externa).
- A notificação como ato instrumental, meramente comunicativo,
do qual devem constar os elementos previstos no n.o 2 do artigo
114.o do CPA, apenas podendo haver lugar notificação por via
eletrónica num dos casos previstos no n.o 2 do artigo 112.o do CPA
(cfr. artigos 62.o e 112.o/1/c) e 2 do CPA).
b)
- Fundamentação insuficiente; vício formal por preterição de
formalidade essencial (cfr. artigos 268.o/4 da CRP e 152.o/1/c) e
153.o do CPA); anulabilidade (cfr. artigo 163.o/1 do CPA).
- A fase de instrução e o princípio do inquisitório (cfr. artigos 58.o,
115.o e 116.o do CPA); a completude do material instrutório; o
parecer obrigatório da DGAV (cfr. artigos 91.o/2 e 92.o do CPA);
vício de forma-procedimental; anulabilidade (cfr. artigo 163.o do
CPA).
- Notificação nos termos do artigo 112.o/1/c) e 2 do CPA; artigo
160.o do CPA; ineficácia do ato.
c)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e
recurso hierárquico (cfr. artigos 184.o/1/a), 186.o/1/a), 188.o/1,
189.o/2, 190.o/3, 192.o/2, 197.o do CPA).
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio,
da interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.o/4 da CRP,
51.o/1 e 59.o/4/5 do CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação
administrativa potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial
– artigo 185.o/2 CPA; a suscetibilidade de produção de efeitos
jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade
do ato administrativo.
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo
negativo é adequado intentar, junto do tribunal administrativo
competente, um pedido de condenação à prática do ato legalmente
devido, deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos
37.o/1/b), 51.o/4, 66.o, 67.o/1/b) e 69.o/2 do CPTA).
- É vantajoso o recurso prévio às garantias administrativas: i) a
suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.o/3 do CPA e 59.o/4/5
do CPTA e no caso de impugnação administrativa necessária a
suspensão da eficácia do ato (cfr. artigo 189.o/1 do CPA); ii) o
caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional; iii) a apreciação da legalidade e do mérito (cfr.
artigos 185.o/3 do CPA e 3.o/1 do CPTA): os regimes da revogação
e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.o e seguintes do
CPA); iv) a desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento
de custas judiciais; v) simplicidade, informalidade, celeridade e
quase gratuitidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO
TESTE ESCRITO 24 - 01 - 2018
(4 val.)
1. O direito administrativo é atualmente uma criação exclusiva do
ordenamento jurídico estadual? Justifique a sua resposta.
(7,5 val.)
2. Distinga, de forma fundamentada, entre:
a) um instituto público e uma universidade sob a forma de fundação
pública de direito privado;
b) atribuições e competências;
c) discricionaridade e autovinculação.
(7,5 val.)
3. Nos termos da alínea dd) do n.o 1 do artigo 33.o da Lei n.o
75/2013, de 12 de setembro, é da competência da câmara municipal
“proceder à aquisição e locação de bens e serviços”.
Em janeiro de 2018 a câmara municipal de um município português
deliberou contratar por ajuste direto os serviços de catering de uma
empresa. Da ata consta o voto de vencido de um vereador que
entende:
a)Que a competência exercida está delegada no Presidente da
câmara municipal, pelo que a câmara municipal não podia deliberar
sobre tais matérias;
b)Que o serviço de catering contratado, para além de se
destinar à apresentação do livro de receitas de um munícipe, é do
filho de um vereador.
Atendendo aos argumentos invocados pelo vereador vencido,
aprecie a validade da deliberação.
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para
estar calado, sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua
completude dogmática. Como também sabe, o ilegível não se pode ler. A
duração da prova é de 2:30h, sem consulta, salvo legislação administrativa. O
professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da prova (1
valor).
DIREITO ADMINISTRATIVO TESTE
24.01.2018
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
1.
- Desconstrução interna do Direito Administrativo: privatização na
forma de atividade da Administração, privatização na forma de
organização, privatização (orgânica e substantiva) do direito
administrativo, a perda de centralidade da administração por atos
com a consequente privatização da interpretação e qualificação
jurídicas do ato administrativo; a Administração Pública sem
Estado.
- Reconstrução do Direito Administrativo pela ordem jurídica
comunitária: o ordenamento comunitário como ordenamento
jurídico geral; o interesse público europeu; a europeização dos
direitos administrativos nacionais; o Direito Administrativo
Europeu (características); é a existência de um Direito
Administrativo europeu a explicar a conformação e integração dos
ordenamentos jurídicos nacionais e das respetivas Administrações.
Administração composta e procedimento administrativo composto
são as novas categorias do Direito Administrativo Europeu; o ato
administrativo transnacional.
2.
a)
- O instituto público é uma pessoa coletiva pública de tipo
institucional, criada para assegurar o desempenho de funções
administrativas pertencentes ao Estado ou a outro ente público.
- O instituto público pertence à Administração indireta, mas pode
assumir formas de Administração autónoma (o caso das
Universidades Públicas) ou mesmo independente (o caso das
entidades administrativas independentes), embora com alterações
substanciais ao regime típico (cfr. artigo 48.o da Lei Quadro dos
Institutos Públicos, aprovada pela Lei n.o 3/2004, de 15 de janeiro,
sucessivamente alterada).
- As universidades sob a forma de fundações públicas de Direito
privado como pessoas coletivas públicas de substrato fundacional,
residualmente sujeitas ao Direito privado; a autonomia universitária
(cfr. artigo 76.o da CRP); a sua exclusão do âmbito da Lei Quadro
das Fundações (cfr. artigo 6.o/8 da Lei n.o 24/2012, de 9 de julho,
que aprova a Lei Quadro das Fundações).
b)
- As pessoas coletivas públicas existem para prosseguir
determinados fins. Aos fins das pessoas coletivas públicas
chamamos atribuições, que, por sua vez, são os fins ou interesses
públicos que a lei incumbe as pessoas coletivas públicas de
prosseguir e realizar.
- Para o fazerem, as pessoas coletivas públicas dispõem de órgãos
que necessitam de poderes funcionais. Ao conjunto de poderes
funcionais de cada órgão chamamos competências. Logo, as
competências são o conjunto de poderes funcionais que a lei
confere aos órgãos administrativos para a realização das atribuições
da pessoa coletiva pública em que estão inseridos.
- As atribuições referem-se, em princípio, às pessoas coletivas
públicas em si, enquanto a competência se reporta aos órgãos.
Compete à lei especificar as atribuições de cada pessoa coletiva
pública e, a outro nível, a competência de cada órgão
administrativo. Por exemplo, no caso dos municípios, estes têm as
atribuições definidas pela Constituição e pela lei (cfr. o artigo
235.o/2 da CRP e o artigo 23.o da Lei n.o 75/2013), as quais são
prosseguidas pelos seus órgãos através dos poderes (competências)
que a lei lhes confere (artigos 24.o e segs, 32.o e segs e 35.o da
referida lei).
c)
- Em extrema síntese, a discricionariedade administrativa deve ser
entendida como uma liberdade de escolha da melhor solução para
cada caso concreto, liberdade que é dada à Administração pelo
legislador. Discricionaridade equivale, assim, a liberdade de
decisão da Administração decorrente da abstenção da lei em
determinar a(s) medida(s) a adotar.
- Atualmente, em virtude da densificação do princípio da
legalidade-juridicidade, em particular da (sua) vertente da
precedência da lei, a discricionaridade tem de ser entendida como
uma concessão legislativa à Administração. Só há poder
discricionário quando e na medida em que a lei o confere. Se no
século XIX a discriconaridade era uma atividade alegal, hoje a
discricionariedade é uma criação da lei, um poder jurídico.
- Em resumo, a Administração, no exercício do poder
discricionário, deve adotar a melhor decisão para o caso concreto,
ou seja, a mais adequada, a mais razoável, aquela que
provavelmente o legislador tomaria se fosse ele a decidir.
- Já quanto à autovinculação administrativa há uma clara relação
com a figura analisada anteriormente.
- Com efeito, o poder discricionário concedido pela lei à
Administração pode ser limitado por esta através de um processo de
autovinculação, estabelecendo regras gerais e abstratas que
vinculem os órgãos administrativos a exercer de determinada
maneira a liberdade de decisão que a lei confere.
- Em vez do exercício do poder discricionário ser feito caso a caso,
a Administração pode elaborar normas gerais onde fixe os critérios
a que ela própria obedecerá na apreciação de um certo tipo de
casos, isto é, fixando critérios de acordo com os quais vai exercer o
seu poder discricionário.
- A autovinculação pode ser feita através de regulamento ou por via
de instruções genéricas internas (no âmbito do poder hierárquico).
Na primeira hipótese, a normalização do poder administrativo tem
efeitos externos, tornando-se inválido o eventual desvio num caso
concreto, mesmo que a decisão coubesse dentro da liberdade
inerente à discricionaridade de que a Administração dispunha. Na
segunda hipótese, os efeitos são puramente internos, ainda que
possam relevar para efeitos disciplinares.
3.
- Qualificação e composição da câmara municipal (cfr. artigos
250.o e 252.o da CRP e 5.o, 6.o, 56.o e 57.o da Lei n.o 169/99, de
18 de setembro); a ata como requisito de eficácia das deliberações
(cfr. artigo 57.o da Lei n.o 75/2013, e 12 de setembro e 34.o do
CPA); o registo na ata do voto de vencido (cfr. artigo 58.o da Lei
n.o 75/2013, de 12 de setembro e 35.o do CPA).
- A delegação de poderes como desconcentração derivada de
poderes (cfr. artigo 267.o/1/2 da CRP e artigos 36.o e 44.o e
seguintes do CPA).
- A aquisição e locação de bens e serviços como uma competência
da Câmara Municipal delegável no Presidente da Câmara
Municipal (cfr. artigos 33.o/1/dd) e 34.o/1 da Lei n.o 75/2013, de
12 de setembro).
- A natureza jurídica da delegação: opção pela tese que defende que
a transferir- se algo para o delegado é o exercício da competência,
não a competência propriamente dita (cfr. artigos 36.o/1, 49.o e
50.o do CPA).
- Requisitos da delegação de poderes (cfr. artigos 36.o, 44.o e 47.o
do CPA); a Câmara Municipal deveria, por exemplo, ter avocado a
competência cujo exercício delegou no Presidente (cfr. artigo 49.o,
n.o 2 do CPA); a deliberação da Câmara Municipal é anulável por
vício (orgânico) de incompetência relativa (cfr. artigo 135.o do
CPA).
- A vinculação quanto ao fim e o princípio da prossecução do
interesse público (cfr. artigos 266.o/ 1 da CRP e 4.o do CPA).
- Princípio da imparcialidade e respetivas garantias (cfr. artigos
266.o/2 da CRP e artigos 9.o e 69.o a 76.o do CPA); o princípio da
imparcialidade está ligado essencialmente a uma postura da
Administração, impondo aos órgãos e agentes administrativos uma
atuação de forma isenta e equidistante relativamente aos interesses
em jogo; vício material de violação de lei (violação do princípio da
imparcialidade); anulabilidade (cfr. artigo 163.o/1 do CPA).
- Circunstância justificativa de impedimento (cfr. artigo 69.o/1/b)
do CPA).
- Arguição e declaração do impedimento: artigos 70.o, 71.o e 72.o
do CPA.
- Causa de perda de mandato: artigos 8.o/2 e 11.o da Lei no 27/96,
de 1 de agosto.
DIREITO ADMINISTRATIVO
EXAME FINAL ÉPOCA DE RECURSO
29-06-2018
(9 valores)
1. Distinga, de forma fundamentada, entre:
a) Direito Administrativo e Direito Administrativo privado (4
valores);
b) Princípio do aproveitamento do ato e anulação (3 valores);
c) Direito à informação procedimental e direito à informação não
procedimental (2 valores).
(6 valores)
2. Imagine que o presidente do conselho diretivo de um instituto
público que tinha como uma das suas atribuições desenvolver os
esforços necessários tendo em vista a recolha e a prestação de
cuidados a animais errantes, decidiu adquirir à empresa “Rações
para animais de estimação”, uma tonelada de ração destinada a
alimentar os cães e os gatos que se encontram à sua guarda. A
ração, perto do fim do seu prazo de validade, foi adquirida a um
preço mais baixo do praticado no mercado.
Um dos vogais do conselho diretivo, indignado com esta aquisição,
chama à atenção para os seguintes aspectos, de que pretende dar
conhecimento ao Ministério da Agricultura:
a) A competência exercida pelo presidente compete, nos
termos dos estatutos, ao órgão colegial a que preside;
b) A empresa “Rações para animais de estimação” pertence ao
presidente do conselho diretivo.
Aprecie a validade da decisão do presidente do conselho
diretivo e enquadre o instituto público na organização
administrativa portuguesa.
(4 valores)
3. Imagine um ato administrativo que aplica uma sanção disciplinar
a um funcionário público sem que este tenha sido ouvido.
Qualifique o ato praticado e aconselhe o funcionário no que se
refere aos mecanismos de reação adequados.
DIREITO ADMINISTRATIVO
EXAME FINAL
ÉPOCA DE RECURSO – CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
29-06-2018
1.
a) O Direito Administrativo como o sistema de normas e princípios
de Direito público que regem o exercício da função administrativa;
o Direito Administrativo privado como normas de Direito privado,
modificadas e integradas por normas e princípios de Direito
Administrativo; exemplo: Decreto-Lei n.o 133/2013, de 3 de
outubro; a privatização do Direito Administrativo; por outro lado, a
necessidade de uma norma de Direito Administrativo autorizar a
aplicação de normas de Direito privado a pessoas coletivas
públicas, delimitando a sua aplicação.
b) O princípio do aproveitamento do ato administrativo previsto no
artigo 163.o, n.o 5 do CPA; os requisitos de aproveitamento do ato:
o ato não é anulado nem sanado, mantendo- se anulável, tomando-
se a opção, uma vez preenchidos os requisitos, de manutenção do
mesmo; a anulação como a prática de um ato administrativo
secundário com fundamento na invalidade de um outro ato, no
exercício da função administrativa de controlo ou fiscalização, no
prazo de seis meses, cfr. os artigos 165.o e seguintes do CPA.
c) O direito à informação procedimental e o direito à informação
não procedimental como direitos fundamentais de natureza análoga
(cfr. artigo 268.o, n.os 1 e 2 da CRP); o direito à informação
procedimental comporta três direitos distintos: o direito à prestação
de informações, o direito à consulta do processo e o direito à
passagem de certidões (cfr. artigos 11.o e 82.o e seguintes do CPA).
A informação procedimental tem como pressuposto a existência de
um procedimento administrativo em curso e só os particulares que
sejam diretamente interessados é que são portadores do direito de
informação do mesmo, considerando-se como tal todas as pessoas
cuja esfera jurídica resulta alterada pela própria instauração do
procedimento ou aqueles que virão a ser provavelmente
beneficiadas ou desfavorecidas pela respetiva decisão final e, por
extensão, os que não detendo essa qualidade, demonstrem ter um
interesse legítimo no conhecimento dos elementos pretendidos, ou
seja, que façam prova, documental, das razões demonstrativas de
um interesse especifico em aceder à informação pretendida que
permita segundo um critério de razoabilidade considerar o
requerente como titular de um interesse atendível. O direito à
informação não procedimental – artigo 17o do CPA (princípio da
administração aberta) e regulado pela Lei n.o 26/2016, de 22 de
agosto, Lei de Acesso aos Documentos Administrativos. Na
informação não procedimental, ao contrário da procedimental, o
direito de acesso é de todos os cidadãos, independentemente de
serem ou estarem interessados num procedimento administrativo ou
numa decisão administrativa, de estarem ou virem a estar em
relação jurídica com a Administração. O direito de acesso aos
registos e arquivos administrativos que deve entender-se em sentido
amplo, considerando-se como tais os dossiers, relatórios, diretivas,
instruções, circulares, notas, estudos, estatísticas, faculta assim a
qualquer pessoa o acesso à informação respeitante a procedimentos
administrativos findos, não estando o exercício desse direito
dependente da invocação, pelo requerente, de qualquer interesse
legítimo ligado aos registos ou documentos a que pretende ter
acesso. Basta por isso a solicitação por escrito, através de
requerimento do qual constem os elementos essenciais à
identificação dos elementos pretendidos, como nome, morada e
assinatura do requerente nos termos do artigo 12.o da LADA. A
intimação para prestação de informações, consulta de processos e
passagem de certidões (cfr. artigo 104.o e seguintes do CPTA). O
direito de queixa junto da CADA como um mecanismo acrescido
de tutela no caso do direito à informação não procedimental.
2.
3.
3.
Trata-se de saber se estamos perante um direito fundamental das
entidades públicas em relação aos titulares dos seus órgãos,
funcionários ou agentes ou, pelo contrário, de uma mera faculdade.
Entende-se que o direito de regresso assume a natureza de um
verdadeiro direito de crédito com a seguinte configuração:
No que respeita às entidades administrativas, o direito de regresso é
um direito de crédito da Administração, diretamente fundado na
Constituição (cfr. artigo 271.o/4), que remete a sua disciplina
jurídica para o legislador, sendo que este, na sua liberdade
constitutiva, determina a sua obrigatoriedade e o seu caráter
vinculado (cfr. artigos 6.o e 8.o/3 da Lei n.o 67/2007, de 31 de
dezembro, sucessivamente alterada).
O direito de regresso existe quando o titular do órgão, funcionário
ou agente tenha atuado dolosamente ou tenha procedido com
diligência e zelo manifestamente inferiores àqueles a que se achava
obrigado em razão do cargo.
O direito de regresso só não existe nas seguintes situações: (i) culpa
leve do autor (cfr. artigos 7.o/1/2 e 8.o/3 da Lei n.o 67/2007, de 31
de dezembro); (ii) funcionamento anormal do serviço (cfr. artigo
7.o/3/4 da Lei n.o 67/2007, de 31 de dezembro); (iii) exclusão da
responsabilidade civil dos subalternos no cumprimento de
comandos hierárquicos mediante a verificação dos pressupostos de
aplicação cumulativa previstos no artigo 271.o/1/2 da CRP.
4.
4.1.
Ato administrativo (cfr. artigo 148.o CPA): caráter regulador e
produção de efeitos externos numa situação individual e concreta.
O ato administrativo é uma estatuição autoritária, um comando
jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que produz, por si só,
mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste na
criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na
determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora
o direito para um caso concreto. O carácter regulador, constitutivo e
externo dos efeitos jurídicos inovadores produzidos pelo despacho
de indeferimento da Caixa Geral de Aposentações; qualifica-se
como um ato administrativo para efeitos substantivos e
procedimentais (cfr. artigo 148.o do CPA) e para efeitos adjetivos e
processuais (cfr. artigo 51.o do CPTA); ato administrativo primário,
singular, de conteúdo negativo, que indefere uma pretensão
deduzida pela interessada por requerimento inicial (artigo 102.o do
CPA); põe termo a um procedimento administrativo de iniciativa
externa, que deveria ter sido concluído no prazo de 90 dias úteis
(cfr. artigo 128.o/1 do CPA).
A fase de instrução e o princípio do inquisitório (cfr. artigos 58.o,
115.o e 116.o do CPA): à Administração Pública cabe uma atitude
procedimental ativa que se manifesta, entre outros aspetos, no dever
de averiguar oficiosamente todos os factos cujo conhecimento seja
relevante para a justa e célere decisão do procedimento, podendo
para o efeito recorrer a todos os meios de prova admitidos em
Direito; a completude do material instrutório; vício de forma-
procedimental; anulabilidade (cfr. artigo 163.o do CPA); o
principio da colaboração dos interessados (cfr. artigo 60.o do CPA);
o erro sobre os pressupostos de facto; anulabilidade (cfr. artigo
163.o do CPA); Fundamentação insuficiente; vício formal por
preterição de formalidade essencial (cfr. artigos 268.o/4 da CRP e
152.o/1/c) e 153.o do CPA); anulabilidade, artigo 163.o/1 do CPA.
O direito à informação procedimental e não procedimental, em
especial o direito à consulta do processo pelos seus interessados
(cfr. artigos 268.o/1/2 da CRP e 11.o, 17.o e 83.o do CPA).
O conceito de interessado para efeitos do CPA (cfr. artigo 68.o do
CPA); audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 121.o e 122.o
do CPA); o princípio da participação (cfr. artigos 12.o do CPA e
2.o e 267.o/5 da CRP); vício de forma, por preterição de uma
formalidade essencial, anulabilidade (cfr. artigo 163.o do CPA).
4.2.
Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e
recurso hierárquico (cfr. artigos 184.o/1/a), 186.o/1/a), 188.o/1,
189.o/2, 190.o/3, 192.o/2, 197.o do CPA).
O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio, da
interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.o/4 da CRP,
51.o/1 e 59.o/4/5 do CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação
administrativa potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial
– artigo 185.o/2 CPA; a suscetibilidade de produção de efeitos
jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade
do ato administrativo.
Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo negativo
é adequado intentar, junto do tribunal administrativo competente,
um pedido de condenação à prática do ato legalmente devido,
deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos 37.o/1/b),
51.o/4, 66.o, 67.o/1/b) e 69.o/2 do CPTA).
É vantajoso o recurso prévio às garantias administrativas: i) a
suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.o/3 do CPA e 59.o/4/5
do CPTA e no caso de impugnação administrativa necessária a
suspensão da eficácia do ato (cfr. artigo 189.o/1 do CPA); ii) o
caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional; iii) a apreciação da legalidade e do mérito (cfr.
artigos 185.o/3 do CPA e 3.o/1 do CPTA): os regimes da revogação
e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.o e seguintes do
CPA); iv) a desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento
de custas judiciais; v) simplicidade, informalidade, celeridade e
quase gratuitidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO
Exame Final / Época Normal 12-06-2017
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
Tópicos de correção
I
1. Interpretação e discricionariedade
Desde logo, passa a resposta a dar pela distinção teorética, na
aplicação da lei pela Administração, entre aquilo que, na estrutura
da norma, são (1) operações (ainda) de mera interpretação (e de
integração de lacunas extralegais), o mesmo é dizer, que se incluem
ainda no domínio vinculado da normas jurídico-administrativa, e as
(2) operações que já traduzem o exercício do poder discricionário
(em sentido amplo)
A primeira distinção que importa assim fazer nesta matéria é entre
(1) as atividades de (1a) interpretação da lei, (1b) preenchimento de
lacunas extralegais, e de (2) exercício da discricionariedade (que
poderemos considerar um preenchimento de lacunas intralegais).
Pois bem, as duas primeiras operações (interpretação e integração
de lacunas) são (têm que ser) levadas a cabo pela Administração,
enquanto primeira aplicadora da lei, mesmo que a norma aplicada
lhe confira meros poderes vinculados.
Mas elas não suscitam naturalmente os problemas levantados pelo
exercício de poderes discricionários.
Com efeito, as tarefas de interpretação e integração de lacunas
constituem em princípio operações típicas da ciência jurídica,
essencialmente objetivas, cujo acerto pode e deve por isso o juiz
administrativo controlar.
Na ciência jurídica, não deixe de se ter presente, parte-se
necessariamente da dogmática premissa de que, de entre as várias
interpretações possíveis de uma determinada norma entre si
concorrentes, só uma é a juridicamente correta, sendo as demais
inválidas (o mesmo se passando com o recurso aos lugares
paralelos em que se traduz, em primeira linha, a integração de
lacunas).
É certo que, e como vimos supra, hoje se reconhece e aceita que
tais operações não serão puramente lógico-dedutivas, envolvendo
espaços de criação jurídica, e que são terreno também,
naturalmente, de divergência e controvérsia.
Mas a verdade é que estamos sempre e de todo o modo ainda na
zona da legalidade ou juridicidade, ou seja, no campo próprio de
atuação dos juristas, e por conseguinte também dos juízes (isto é,
dos tribunais), os quais, reitere- se, poderão e deverão revê-las
(substituindo designadamente a interpretação ou integração levada
a cabo pelo órgão administrativo pela sua própria interpretação ou
integração). O mesmo é dizer, repita-se, e facilitando um pouco a
explicação, que estamos ainda no domínio do exercício de poderes
vinculados, por contraposição ao dos poderes discricionários.
Ora, a discricionariedade começa onde acaba a interpretação (e a
integração de lacunas extralegais).
2. Os casos de imperativo de controlo jurisdicional total
O plano do alcance e limites do controlo jurisdicional dos atos
administrativos discricionários traduz uma «subida» para o nível
constitucional, nomeadamente das decorrências do princípio da
separação ou divisão de poderes, está em causa o posicionamento
de maior ou menor independência da Administração (do poder
executivo) face aos outros dois poderes do Estado (ao poder
legislativo e ao poder judicial).
Ora, pode acontecer neste plano que o exercício de uma
competência qualificável como discricionária numa primeira
análise, dado o caráter incerto do resultado da aplicação da norma
em causa – e ao qual já não se siga necessariamente por essa razão
a consequência da respetiva sujeição a um controlo judicial total e
positivo –, por motivos de decorrentes do princípio da separação de
poderes acabe por ser submetido também a esse controlo total e
positivo.
Exemplo típico da hipótese a que se acaba de fazer referência será o
do exercício daqueles poderes que, por razões de ordem vária, são
atribuídos pelo legislador a órgãos administrativos, mas que têm
natureza jurisdicional (traduzindo desvios ao princípio da separação
de poderes em matérias não essenciais, consentidos pela moderna
aceção – mais flexível – deste fundamental princípio da
organização política e jurídica do Estado).
Incluem-se desde logo neste universo os poderes sancionatórios, de
aplicação (chamemos-lhes assim) de «direitos penais e processuais
penais menores» (entre outros, os contraordenacionais, os
disciplinares-desportivos, os disciplinares-profissionais e mesmo os
disciplinares-funcionariais). Mas não só: também integram tal
conjunto certas competências atribuídas às entidades reguladoras de
atividades ou serviços de interesse económico geral, de resolução
de conflitos inter-privados, nomeadamente entre operadores
económicos dos setores regulados.
Nestes âmbitos, o órgão administrativo, ao exercer uma
competência materialmente jurisdicional, funciona afinal, se bem
virmos, como um tribunal de primeira instância. Caberá por isso
aos tribunais propriamente ditos, quando instados para tanto, um
controlo total e positivo destas específicas atividades que a
Administração por vezes também desenvolve, enquanto mera
«hospedeira» da função (jurisdicional) a que elas se reconduzem.
Tais poderes de qualificação da infração e de determinação da
medida da sanção serão, no primeiro sentido (impróprio),
discricionários (pois resulta de uma pura e inquestionável
constatação, face à indeterminação normativa típica dos estatutos
disciplinares e das normas contraordenacionais, a liberdade de
conformação de que goza a autoridade aplicadora da lei). Mas já
não o serão no segundo sentido, sujeitos como estão – ainda que
por esta particular razão – a um controlo judicial sucessivo
máximo.
3. Conceitos imprecisos e vinculação
3.1. Os conceitos classificatórios: conceitos jurídicos, conceitos
técnico- científicos e conceitos descritivo-empíricos
Os conceitos classificatórios, aparentando ser conceitos imprecisos,
não deixam dúvidas no sentido do seu carácter vinculado: a sua
(aparente) imprecisão é resolvida em sede ainda de interpretação
jurídica, em virtude
das remissões que eles (implicitamente) operam para parâmetros
decisórios tão precisos quanto os das regras jurídicas. Quanto a
estes, importa todavia distinguir os diversos tipos de parâmetros
decisórios a que a Administração deverá recorrer por via de tais
remissões.
Pode ser, e desde logo, uma remissão para a própria ciência
jurídica. Estamos agora a falar dos conceitos jurídicos, que não são
meros conceitos legais, mas antes conceitos já enraizados na
dogmática jurídica, e cujo exato significado (não obstante a sua
aparente imprecisão) pode e deve ser encontrado nesta ciência que,
por definição, o juiz domina (não obstante, obviamente, a
possibilidade da existência de controvérsias doutrinárias, em termos
similares aos já referidos a respeito da interpretação das normas
jurídicas).
Pode ainda um outro tipo de conceitos classificatórios remeter o
aplicador e intérprete da norma para as normas extrajurídicas das
chamadas ciências exatas, ou seja, para os domínios da física, da
química, da medicina, da matemática, etc.: estamos agora no
universo dos conceitos técnico-científicos.
Finalmente, podem ainda outros conceitos – os chamados conceitos
descritivo-empíricos – remeter para circunstâncias de tempo ou de
lugar ou para conhecimentos não científicos, mas empíricos, que
estão na posse das pessoas comuns que lidam com a matéria em
causa – razão pela qual tais conhecimentos ou circunstâncias, uma
vez (re)conhecidas, hão-de ditar ao aplicador/intérprete uma
solução unívoca, e que será a única solução correta a adotar no
caso.
3.2. Os conceitos imprecisos-tipo: a teoria dos conceitos imprecisos
de W. Jellinek e a teoria da folga de Otto Bachof
Quando se diz que assiste à Administração uma margem de livre
apreciação no preenchimento dos conceitos imprecisos ou
indeterminados- tipo, significa isto, muito sinteticamente, que, por
um lado, tais conceitos apresentam um “núcleo duro” de situações
passíveis de ocorrer na vida real onde não existe qualquer
possibilidade de valoração administrativa autónoma (no sentido de
incluir ou excluir a situação concreta do conceito).
E significa isto também que, em lado oposto, um outro conjunto
virtual de situações se pode configurar, situações essas que, ao
invés, e com o mesmo grau de certeza (sem haver lugar também a
um valoração administrativa autónoma), não cabem
(manifestamente) no conceito.
Em ambas as hipóteses o preenchimento do conceito constitui uma
tarefa interpretativa necessariamente objeto de controlo judicial a
posteriori.
Mas entre esses dois extremos, o conceito apresenta uma «auréola»,
uma zona cinzenta ou indefinida, onde se agrupam situações
intermédias – as quais, quando ocorrem, proporcionam à
Administração uma folga em cada operação de subsunção do caso
concreto à previsão normativa, que lhe permite incluir ou excluir
no/do conceito a situação concreta cuja resolução lhe incumba.
Note-se que não está em discussão a própria ocorrência dos
pressupostos de facto cuja verificação a lei exige para que a
Administração possa exercer a competência em questão, mas tão só
uma determinada qualificação, ou (como melhor veremos) um
aditamento ou complemento, em cada caso, a esses pressupostos
imperfeitos ou incompletos desenhados em abstrato na hipótese da
norma legal.
Naturalmente, a verificação em concreto da ocorrência dos próprios
pressupostos legalmente definidos, essa sim, é em regra um
elemento vinculado, e não de escolha ou ponderação discricionária,
e como tal objeto dos poderes de cognição do juiz administrativo.
4. Os casos de atenuação ou eliminação das prerrogativas de
avaliação
Joga contra a chamada reserva de discricionariedade o ser o órgão
competente um órgão individual inserido na cadeia hierárquica,
como um diretor-geral ou um diretor de serviços.
A qualidade da matéria é também um fator relevante. Importa
lembrar desde logo a matéria dos direitos fundamentais: se
estivermos perante atos de aplicação de normas restritivas de
direitos, liberdades e garantias, caso a norma atributiva da margem
de apreciação passe o teste da constitucionalidade (por se tratar de
matéria objeto de reserva de lei, e a mais sensível de entre as que a
Constituição reserva ao legislador), então, e de todo modo, terá que
se reduzir ao mínimo (quando não a zero) a dita margem.
Naturalmente, o mesmo se diga das demais matérias reservadas à
lei (e que não são poucas na nossa lei fundamental).
Quanto aos conceitos de valor, uma categoria aponta para um maior
controlo judicial, é a daqueles cujo preenchimento não requer uma
valoração eminentemente pessoal do órgão administrativo, mas
antes objetiva, como são desde logo os que dizem respeito à moral
pública e aos bons costumes.
Estes últimos apelam a valorações pré-existentes na comunidade
(ou dominantes no extrato populacional que para o efeito releve), às
conceções éticas vigentes, que a Administração (e depois dela o
juiz) deverá primeiramente averiguar e para as quais se terá que
remeter, não devendo o titular do órgão administrativo (ou sequer o
julgador, no momento sucessivo do controlo) sobrepor a essas
valorações objetivas o seu próprio juízo ético pessoal. É claro o
parentesco do preenchimento destes conceitos com a operação de
subsunção: ao intérprete e aplicador da lei podem-se-lhe deparar
neste caso parâmetros cognitivos/decisórios tão precisos quanto os
das regras jurídicas.
5. A discricionariedade administrativa, por norma, como
habilitação legal para a Administração completar ou integrar o
pressuposto de facto normativo imperfeito
A discricionariedade apenas opera, por regra, no âmbito dos
pressupostos de facto das mesmas normas jurídico-administrativas,
em caso de (intencional) imperfeição, incompletude ou
indeterminação desses pressupostos na descrição que as ditas
normas deles empreendam em abstrato. Nesse sentido, ela passa por
uma prévia tarefa de complementação, em concreto (caso a caso –
sempre que seja chamada a aplicar a norma) dos ditos pressupostos
normativos imperfeitos ou incompletos.
A consequência jurídica, ou seja, a conduta a adotar pela
Administração, não é por isso em regra o resultado de uma escolha
livre da Administração.
Partindo da dogmática premissa de que quase toda a atividade
administrativa – mesmo esta (a discricionária) – é uma atividade
jurídica, a uma vez sujeita ao direito e criadora de direito
(configurando-se o exercício do poder discricionário, neste último
caso não como processo cognitivo lógico- formal, dedutivo ou
semântico, mas como processo «tópico-teleológico»), estará nesta
hipótese a Administração obrigada a duas operações consecutivas:
(i) Num primeiro momento, a adotar naquele caso critérios
objetivos que complementem os critérios legais;
(ii)E num segundo momento a retirar a devida consequência,
ou seja, a tomar a decisão ou medida resultante da aplicação
cumulada de uns e outros critérios (dos critérios legais e dos
critérios adotados para o caso concreto), que face a tais critérios (no
seu conjunto) será a única solução possível (solução unívoca).
Estamos a falar evidentemente de uma estrutura lógica do iter
decisório, e não necessariamente de uma sequência cronológica e
formalmente seccionada nos dois momentos que se acaba de
distinguir.
O que importa pois é que os fundamentos da decisão sejam
objetivos, no sentido de (em jeito de exercício lógico) serem
passíveis de uma prévia enunciação em abstrato, agregável à norma
legal (aos respetivos pressupostos) – fazendo um todo com ela, com
(possibilidade de) abstração portanto das concretas circunstâncias
da aplicação da norma legal àquele caso particular.
Os critérios desta forma aditados aos critérios legais constituirão
assim uma verdadeira regulação suplementar, o mesmo é dizer que
serão (conjuntamente com a previsão legal) a norma para aquela
situação concreta.
Frise-se, entretanto, que nunca se ressalvará em demasia as distintas
naturezas das operações de concretização/execução criativa da lei
levadas a cabo pela Administração ativa e pelos tribunais. Mas uma
vez precavidos quanto à dissemelhança destas duas funções do
Estado (administrativa e jurisdicional), e portanto das operações
que as concretizam, sempre diremos que a atividade administrativa
discricionária (não por acaso qualificada por alguns autores como
de preenchimento de lacunas intralegais) evoca de algum modo as
situações em que o juiz, na tarefa de integração das lacunas
extralegais, e à falta de normas reguladoras de «lugares paralelos»
que possam ser aplicadas analogicamente à situação sub judicio, se
«senta no lugar do legislador» e faz (só para aquele caso) a norma
que o legislador faria se «ali estivesse».
De acordo com este entendimento, reitere-se, a discricionariedade
administrativa deixa de ser, por norma, uma possibilidade de livre
escolha entre duas ou mais consequências jurídicas possíveis (entre
duas ou mais condutas igualmente legítimas).
Diferentemente, o que sucede é que, em virtude da (intencional)
insuficiência ou imprecisão, na previsão legal, dos critérios
determinantes de uma ou outra dessas consequências (de uma ou
outra dessas condutas), fica a Administração obrigada, no plano da
aplicação da lei, e antes do mais, a especificar ela própria os
pressupostos da sua própria atuação, assim completando (em cada
situação concreta) os inacabados pressupostos legais.
E só depois desta primeira operação se produzirá a consequência
jurídica, ou seja, só então se enunciará a solução a adotar naquela
situação concreta – a qual, depois de completados ou aperfeiçoados
os pressupostos legais, será então a única solução legítima ou
possível para o aplicador da lei, deixando assim de ou ser uma entre
duas ou mais soluções legítimas.
A ideia que preside a esta tese é muito simples: a fim de evitar a
arbitrariedade em que obviamente se traduziria uma completa
indiferença da lei e do direito perante a escolha pela Administração
de uma ou outra de entre um leque de condutas (todas elas)
legalmente admissíveis, a determinação de qualquer dessas
consequências jurídicas terá sempre que se basear em critérios
objetivos também por ela (Administração) previamente definidos.
Como é evidente, esta obrigatória tarefa de complementação dos
pressupostos legais traduz-se antes do mais no exercício de um
dever jurídico de boa administração; e deverá orientar-se pelos
princípios gerais da atividade administrativa (desde logo pelos
princípios da razoabilidade e da racionalidade), com os quais se terá
que obrigatoriamente conformar.
É esta segunda tese (a da regra da discricionariedade administrativa
como habilitação legal para completar ou integrar o pressuposto de
facto normativo imperfeito) a sustentada pela doutrina mais
autorizada, seja no direito comparado, seja entre nós (cfr. Rogério
Ehrhradt Soares, Sérvulo Correia e Vieira de Andrade) – a qual,
não apenas por esse argumento (de autoridade), mas sobretudo pelo
seu mérito intrínseco (que tentámos evidenciar), deverá ser a
posição adotada.
6. Da legalidade à juridicidade: a vinculação da Administração
aos princípios gerais da atividade administrativa
Partindo do correto pressuposto de que também o exercício do
poder discricionário não pode ser uma atividade alheia ao direito,
de que não pode o resultado desse exercício ser indiferente ao
direito (não podendo valer juridicamente o mesmo qualquer escolha
que Administração faça ao abrigo desse poder), a resposta passou (e
passa) pela sujeição ao mesmo direito do poder discricionário.
Só que não já uma sujeição à lei, no sentido positivista/oitocentista
de regra jurídica escrita, na medida em que, de facto, e por
definição, o poder discricionário se exerce para lá do alcance da
regra jurídica: o que se trata agora é da submissão da
discricionariedade administrativa ao crivo dos princípios jurídicos,
mais precisamente dos chamados princípios gerais da atividade
administrativa.
Como vimos já, a mudança a que se assiste é a do princípio da
legalidade da administração, que se transmuta num mais lato
princípio de juridicidade. O clássico e fundamental parâmetro da
atividade administrativa começa a ser entendido já não como
princípio de legalidade estrita (de sujeição a regras legais), mas
como um princípio de juridicidade, através designadamente da
sujeição da Administração, quer na atividade de gestão pública,
quer na atividade de gestão privada, não apenas à lei (no sentido
estrito de regras legais), mas também aos direitos fundamentais e
aos princípios gerais de direito administrativo.
Foi (e é) esta a contrapartida da maior abertura manifestada ao
fenómeno da expansão da discricionariedade administrativa, depois
de uma primeira reação de negação e repúdio: a sua limitação pelos
direitos fundamentais e por princípios jurídicos.
II
a)
- A Administração Pública transformou-se numa realidade
complexa, multiforme e heterogénea. Já não há uma
correspondência entre entidades, fins, atividade e regime. A
conceção orgânica ou subjetiva deverá ser complementada ou
substituída por uma conceção funcional ou material apta para
traduzir a integração e a interatividade de elementos de diversa
natureza – público e privada – considerando as características dos
serviços ou das tarefas de que essas entidades são instrumentos de
realização em função do fim prosseguido.
- As dificuldades do processo de qualidade como pessoa coletiva
pública; enunciação dos diversos critérios (iniciativa da criação, fim
prosseguido, capacidade jurídica, regime jurídico, subordinação ou
não, obrigatoriedade da sua existência, exercício ou não da função
administrativa); o critério misto da iniciativa da criação e do fim
prosseguido (por ex.).
- As formas de privatização da Administração Pública.
- O Direito Administrativo de agora não se define (exclusivamente)
por um critério estatutário, uma vez que abrange a atividade de
todas as entidades, públicas ou privadas, que exercem funções
administrativas. Define-se por um critério que tem por referência a
atividade desenvolvida.
- As pessoas coletivas públicas sujeitas a um regime de Direito
privado administrativizado (por exemplo, as entidades públicas
empresariais) e as pessoas coletivas privadas sujeitas a um regime
de Direito Administrativo na medida em que exerçam funções
administrativas (por exemplo, os concessionários).
- O artigo 2.o do CPA e os diferentes níveis de aplicação do Direito
Administrativo.
b)
- O instituto público é uma pessoa coletiva pública de tipo
institucional, criada para assegurar o desempenho de funções
administrativas pertencentes ao Estado ou a outro ente público.
- O instituto público pertence à Administração indireta, mas pode
assumir formas de Administração autónoma (o caso das
Universidades Públicas) ou mesmo independente (o caso das
entidades administrativas independentes), embora com alterações
substanciais ao regime típico (cfr. artigo 48.o da Lei Quadro dos
Institutos Públicos, aprovada pela Lei n.o 3/2004, de 15 de janeiro,
sucessivamente alterada).
- As universidades sob a forma de fundações públicas de Direito
privado, como pessoas coletivas públicas de substrato fundacional,
residualmente sujeitas ao Direito privado; a autonomia universitária
(cfr. artigo 76.o da CRP); a sua exclusão do âmbito da Lei Quadro
das Fundações (cfr. artigo 6.o/8 da Lei n.o 24/2012, de 9 de julho,
que aprova a Lei Quadro das Fundações).
III
1.
- A hierarquia administrativa e o dever geral de obediência como a
obrigação de o subalterno cumprir as ordens e instruções de serviço
dos seus legítimos superiores hierárquicos, dadas em (i) matéria e
(ii) sob a forma legal.
- Delegação de poderes como desconcentração derivada de poderes
(cfr. artigo 267.o/1/2 da CRP e artigos 36.o e 44.o e seguintes do
CPA);
- A natureza jurídica da (sub)delegação (opção pela tese que
defende que a transferir-se algo para o delegado é o exercício da
competência, não a competência propriamente dita), sendo que a
delegação cria entre o delegante e o delegado uma relação jurídica
nova (cfr. artigos 36.o/1, 49.o e 50.o do CPA). - A substituição da
relação de hierarquia por uma relação de delegação de poderes; os
poderes do delegante (cfr. artigo 49.o do CPA).
- Os limites à atividade discricionária colocados pelos princípios
gerais da atividade administrativa, designadamente, pelos princípios
da igualdade e da proporcionalidade (cfr. artigos 266.o/ 2 da CRP e
6.o e 7.o do CPA); princípios esses entendidos como parâmetros
normativos autónomos (ou critérios) da decisão administrativa
discricionária e do respetivo controlo jurisdicional; sob pena de
vício material de violação de lei em sentido estrito (cfr. artigo
163.o/1 do CPA); o dever de fundamentação nos termos do artigo
152.o/1/d) do CPA.
2.
- Princípio da imparcialidade e respetivas garantias (cfr. artigos
266.o/2 da CRP e artigos 9.o e 69.o a 76.o do CPA); o princípio da
imparcialidade está ligado essencialmente a uma postura da
Administração, impondo aos órgãos e agentes administrativos uma
atuação de forma isenta e equidistante relativamente aos interesses
em jogo; vício material de violação de lei (violação do princípio da
imparcialidade); anulabilidade (cfr. artigo 163.o/1 do CPA).
- Circunstância justificativa de escusa ou suspeição (cfr. artigo
73.o/1/d) do CPA);
- Motivo de escusa (cfr. artigo 74.o e artigos 70.o/4/5/6, 71.o e 72.o
ex vi artigo 75.o/1/3 do CPA); decisão de procedência da escusa
(suspensão e substituição) ou de improcedência (continuação da
atividade); os atos em que tiverem intervindo titulares de órgãos ou
agentes em relação aos quais tenha havido decisão positiva de
suspeição ou de escusa são anuláveis nos termos gerais (cfr. artigo
163.o/1 do CPA) sem prejuízo do disposto no artigo 76.o/4 do
CPA.
DIREITO ADMINISTRATIVO I
EXAME PARCELAR
22 – 01 – 2016
(3 valores)
1. Comente a seguinte afirmação:
“O Direito Administrativo da União Europeia não trouxe apenas alterações às
funções e natureza das entidades público-administrativas, trouxe também
alterações ao nível dos principais institutos administrativos”.
COLAÇO ANTUNES, A Ciência Jurídica Administrativa, Coimbra, Almedina, 2014, página 151.
(4 valores)
2. A Porto Vivo, Sociedade de Reabilitação da Baixa Portuense, S.A. é uma empresa
pública sob a forma de sociedade comercial.
a) Qual a sua natureza jurídica?
b) Privatização na forma de organização ou na forma de atividade?
Fundamente as suas respostas.
(6 valores)
3. Distinga sucintamente entre:
a) Administração independente e Administração autónoma;
b) Poderes vinculados e poderes discricionários;
c) Direitos subjetivos e interesses legalmente protegidos.
(3 valores)
4. Imagine que Brálio António, alarmado com o estado de ruína de um muro
situado numa das ruas centrais da cidade de Ponta Ruiva, apresentou, junto da
Câmara Municipal, um requerimento em que solicitava a demolição do referido
muro por constituir perigo para a segurança das pessoas.
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado, sugere-
-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também sabe, o
ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3 horas, sem consulta, salvo legislação adequada.
O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da prova (1 valor).
2
DIREITO ADMINISTRATIVO I
EXAME PARCELAR
22 – 01 – 2016
Critérios de correção
1.
⎯ Modelação do Direito Administrativo pela ordem jurídica comunitária: a
europeização dos direitos administrativos nacionais (distinção face ao Direito
Administrativo Europeu); o ordenamento comunitário como ordenamento
jurídico geral; o interesse público europeu; o Direito Administrativo Europeu
(características).
⎯ O Direito Administrativo de agora não se define (exclusivamente) por um
critério estatutário, uma vez que abrange a atividade de todas as entidades,
públicas ou privadas, que exercem funções administrativas. Define-se por um
critério que tem por referência a atividade desenvolvida à maneira do que tem
vindo a ser defendido pelo Tribunal de Justiça e sua jurisprudência (a figura
comunitária do organismo de direito público).
⎯ As relações entre a Administração Comunitária e as Administrações Públicas
nacionais; a aproximação entre os sistemas administrativos de tipo francês e de
tipo britânico (em especial, o privilégio da execução prévia no novo CPA); o ato
administrativo transnacional.
2.
a)
⎯ As formas de organização da empresa pública (cfr. artigo 13.º/1 do Decreto-Lei
n.º 133/2013, de 3 de outubro); a empresa pública sob a forma de sociedade
comercial como uma pessoa coletiva privada sob influência pública dominante
(cfr. artigos 5.º/1 e 9.º do Decreto-Lei n.º 133/2013, de 3 de outubro); os critérios
de qualificação de uma pessoa coletiva pública (iniciativa da criação, fim
prosseguido, capacidade jurídica, regime jurídico, subordinação ou não ao
Estado, obrigatoriedade da sua existência, exercício ou não da função
administrativa); o critério misto da iniciativa da criação e do fim prosseguido
(Cfr. Colaço Antunes, Existe un criterio para la persona colectiva de derecho
público?, in “Revista de Administración Pública”, n.º 183, Madrid,
setembro/dezembro (2010), páginas 51 a 71); os diferentes efeitos da influência
3
pública dominante na qualificação da natureza jurídica das empresas e nas
fundações públicas.
b)
⎯ A privatização na forma de organização e na forma de atividade. Do processo
de privatização formal da Administração Pública distingue-se a
despublicização ou privatização material de tarefas.
⎯ Fundamentos da reserva constitucional (insuficiente e enfraquecida?) de
Direito Administrativo e das formas públicas de organização.
⎯ A sujeição das empresas públicas a um regime de Direito Administrativo
privado. As especificidades do regime das empresas públicas sob a forma de
sociedades comerciais.
3.
a)
⎯ A Administração Independente (noção). Do Estado Social ao Estado Mínimo
Regulador. Tipos e exemplos de entidades administrativas independentes cfr.
artigo 267.º/3 CRP). Em especial, as autoridades reguladoras independentes
(cfr. Lei n.º 67/2013, de 28 de agosto). Características: nomeação,
independência, mandato, inamobilidade e irresponsabilidade dos seus
titulares; a sua atividade não está sujeita a superintendência nem a controlo de
mérito; funções de consulta, de informação e de proposta ao Governo, assim
como funções de administração ativa, incluindo poderes regulamentares e
sancionatórios; os limites referem-se à amplitude dos seus poderes bem como
ao número e extensão dos setores administrativos confiados; os mecanismos de
prestação de contas previstos na Lei n.º 67/2013, de 28 de agosto.
⎯ Administração autónoma (noção); descentralização em sentido próprio (cfr.
artigos 267.º/1/2 e 237.º da CRP); autogoverno e autodeterminação como
características próprias; autarquias locais e associações públicas; tutela de
legalidade (cfr. artigos 199.º, alínea d) e 242.º da CRP, Lei n.º 27/96, de 1 de
agosto e artigo 45.º da Lei n.º 2/2013, de 10 de janeiro).
b)
⎯ Vinculação e discricionaridade como as duas formas típicas pelas quais a lei
modela a atividade da Administração Pública.
4
⎯ Na competência administrativa vinculada a verificação da hipótese legal
desencadeia, ao invés da competência discricionária, necessariamente uma
certa solução administrativa, a prevista na estatuição legal. Nesta situação, a
Administração não tem poder de escolha de soluções, tomando a solução
prevista pelo legislador.
⎯ O poder discricionário como um poder intrinsecamente jurídico; a vinculação
quanto ao fim e à competência; a discricionaridade como a escolha da melhor
solução possível para a prossecução do interesse público sem se divorciar dos
direitos e interesses legítimos; o interesse público como fundamento e limite da
discricionaridade administrativa; a ponderação dos vários interesses
secundários concorrentes como o momento essencial da realização-
concretização do interesse público primário; discricionaridade quanto à decisão
de praticar ou não o ato administrativo, quanto ao momento da sua prática e
quanto ao seu conteúdo; limites e controlo jurisdicional do poder
discricionário (lei, princípios constitucionais relati vos ao exercício
da atividade administrativa, auto vinculação); os vícios do ato
administrativo discricionário (vícios materiais de violação de lei;
vícios orgânicos; vícios de forma; desvio de poder); o vício material
de desvio de poder e suas consequências jurídicas; os princípios gerais
da atividade administrativa, como parâmetros normativos autónomos (ou
critérios) da decisão administrativa discricionária e do respetivo controlo
jurisdicional.
c)
⎯ Direitos subjetivos: tipos, proteção direta e imediata, tutela jurisdicional
efetiva, exemplos.
⎯ Interesses legalmente protegidos: proteção jurídica indireta ou reflexa,
dependência da realização do próprio interesse público, tutela jurisdicional
mais restrita, exemplos.
⎯ Tendencial aproximação na CRP e na lei e até por alguma doutrina.
4.
⎯ A delegação de poderes como desconcentração derivada de poderes (cfr. artigo
267.º/1/2 da CRP e artigos 36.º e 44.º e seguintes do CPA);
⎯ Natureza jurídica da (sub)delegação (opção pela tese que defende que a
transferir-se algo para o delegado é o exercício da competência, não a
5
competência propriamente dita), sendo que a delegação cria entre o delegante e
o delegado uma relação jurídica nova (cfr. artigos 36.º/1, 49.º e 50.º do CPA).
⎯ Competência da Câmara Municipal (cfr. artigo 33.º/1/w) da Lei n.º 75/2013, de
12 de setembro), delegável no seu Presidente (cfr. artigo 34.º/1, a contrario da
Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro); requisitos da delegação de poderes (cfr.
artigos 44.º/1 e 47.º do CPA); e subdelegável no vereador (cfr. artigo 34.º/1, a
contrario da Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro); requisitos da subdelegação de
poderes (cfr. artigos 46.º e 47.º do CPA CPA); em cada momento só há um órgão
competente; a Câmara Municipal deveria ter enviado oficiosamente o pedido
para o órgão competente (cfr. artigo 41.º/1 do CPA), sem prejuízo da
possibilidade de avocar a competência, cujo exercício estava subdelegado no
vereador, ou de revogar o ato de delegação (cfr. artigos 49.º/2 e 50.º/a) do CPA);
os atos praticados pela Câmara Municipal são anuláveis por vício (orgânico) de
incompetência relativa (cfr. artigo 163.º/1 do CPA).
5.
6
D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V O II
EXAME PARCELAR
14 - 06 - 2016
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado,
sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também
sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2:30h, sem consulta, salvo legislação
administrativa. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da
prova (1 valor).
D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V O II
06 - 2016
1.
a)
- As formas jurídicas de atuação administrativa, soft administration, e
operações materiais: traços distintivos;
- Noção e exemplos de operações materiais e a necessidade de um título que
as legitime em virtude da sua relação com o princípio da legalidade;
- A vinculação aos princípios gerais da atividade administrativa (cfr. artigos
266.º da CRP e 3.º e seguintes do CPA).
- Manifestações da relevância jurídica das operações materiais: a
responsabilidade civil administrativa e as ações de condenação à adoção ou
abstenção de comportamentos pela Administração Pública e por particulares e
de condenação da Administração Púbica à adoção das condutas necessárias ao
restabelecimento de direitos ou interesses violados (cfr. artigo 37.º/1/h)/i)/ k) do
CPTA).
b)
- A v inculação e a discricionariedade como as duas formas típicas pelas
quais a lei modela a atividade da Administração Pública; o poder
discricionário como um poder intrinsecamente jurídico; a vinculação quanto ao
fim e à competência; os limites ao poder discricionário (lei, princípios
constitucionais relativos ao exercício da atividade administrativa, auto
vinculação); a discricionariedade como a escolha da melhor solução possível
para a prossecução do interesse público sem se divorciar dos direitos e
interesses legítimos; o regulamento administrativo; a relação entre lei e
regulamento (cfr. artigos 112.º/5/6/7 da CRP e 135.º e 136.º do CPA); os
regulamentos complementares, de desenvolvimento e integrativos; os
regulamentos independentes e autónomos; os regulamentos delegados ou
autorizados (nos termos limitados em que são admitidos); em suma, a
discricionariedade em matéria de poder regulamentar coloca-se em relação a
estes regulamentos, com especial ênfase para os regulamentos independentes
e autónomos.
c)
- A responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e culposos;
regime aplicável (Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do
Estado e demais Entidades Públicas por Atos de Gestão Pública aprovado pela
Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro); pressupostos da responsabilidade delitual
(pessoal) ou por factos ilícitos e culposos (cfr. artigo 7.º a 10.º da Lei n.º
67/2007, de 31 de dezembro): facto voluntário; ilicitude; culpa; dano; nexo de
causalidade.
- As pessoas coletivas públicas ou privadas que exerçam funções
administrativas respondem sempre pelos prejuízos resultantes dos atos
ilícitos e culposos dos seus órgãos ou agentes, tenham os factos sido praticados
com dolo, culpa leve ou culpa grave (cfr. artigos 7.º/1 e 8.º/1/2 da Lei n.º
67/2007, de 31 de dezembro).
- No entanto, a pessoa coletiva pública, quando satisfaça uma indemnização
com fundamento em responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e
culposos deve por sua vez exigir ao titular do órgão ou agente que praticou o
ato que lhe pague o montante da indemnização suportada, exercendo assim o
direito de regresso (cfr. artigos 6.º e 8.º/3 da Lei n.º 67/2007, de 31 de
dezembro).
- O direito de regresso existe quando o titular do órgão, funcionário ou
agente tenha atuado dolosamente ou tenha procedido com diligência e zelo
manifestamente inferiores àqueles a que se achava obrigado em razão do
cargo.
- O direito de regresso só não existe nas seguintes situações: (i) culpa leve do
autor (cfr. artigos 7.º/1/2 e 8.º/3 da Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro); (ii)
funcionamento anormal do serviço (cfr. artigo 7.º/3/4 da Lei n.º 67/2007, de 31
de dezembro); (iii) exclusão da responsabilidade civil dos subalternos no
cumprimento de comandos hierárquicos mediante a verificação dos seguintes
pressupostos de aplicação cumulativa (cfr. artigo 271.º/1/2 da CRP): 1.º) que se
trate de um comando hierárquico que reúna três características: seja
proveniente de legítimo superior hierárquico, incida sobre matéria de serviço;
não se traduza na prática de um crime; 2.º) que o subalterno tenha dele
previamente reclamado ou exigido a sua transmissão ou confirmação por
escrito (direito de respeitosa representação).
- Outra questão é a de saber se o subalterno pode vir ao processo (contra ele
proposto) invocar a sua específica causa de exclusão de responsabilidade civil
como fundamento de improcedência da ação indemnizatória.
2.
a ) Ato administrativo (cfr. artigo 148.º CPA): caráter regulador e produção de
efeitos externos numa situação individual e concreta. O ato administrativo é uma
estatuição autoritária, um comando jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que
produz, por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste na
criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na determinação
jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora o direito para um caso
concreto. Ato administrativo primário, de conteúdo positivo. Licença ou
autorização constitutiva, por contraposição às autorizações permissivas. Produz
efeitos jurídicos favoráveis para o seu destinatário e desfavoráveis perante
terceiros (D. Idalina). A noção de relação jurídica poligonal. A licença foi sujeita
pelo seu autor a uma cláusula acessória, mais precisamente, a termo final (cfr.
artigo 149.º do CPA).
b)
- Vício orgânico de incompetência (absoluta – nulidade, artigo 161.º, n.º 2,
alínea b) do CPA; relativa – anulabilidade, artigos 163.º, n.º 1 do CPA).
- O conceito de interessado para efeitos do CPA (cfr. artigo 68.º do CPA);
audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 121.º e 122.º do CPA); o princípio da
participação (cfr. artigos 12.º do CPA e 2.º e 267.º/5 da CRP); vício de forma, por
preterição de uma formalidade essencial, anulabilidade (artigos 163.º CPA).
- Vício material de violação de lei, por violação do regime aplicável –
anulabilidade (cfr. artigo 163.º CPA).
- Não há vícios de mérito. A definição do tempo da licença é da
discricionariedade da Administração Pública (quanto ao quando), até ao limite
máximo fixado na lei (5 anos). Os critérios de aposição de cláusulas acessórias (cfr.
artigo 149.º do CPA).
c)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e recurso
hierárquico (cfr. artigos 184.º/1/a), 186.º/1/a), 188.º/1, 189.º/2, 190.º/3, 192.º/2, 197.º
do CPA); os condicionalismos da revogação de atos constitutivos de direitos (cfr.
artigo 167.º/2 do CPA.
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio, da
interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do
CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação administrativa
potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA; a
suscetibilidade de produção de efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como
critério de recorribilidade do ato administrativo; a licença como ato impugnável
nos termos dos artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA.
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo positivo, é
adequado interpor um pedido de impugnação, deduzido sob a forma da ação
administrativa (cfr. artigos 37.º, n.º 1, alínea a) e 50.º e seguintes do CPTA).
- Do carácter não suspensivo do pedido de impugnação (cfr. artigo 50.º/2 do
CPTA), resulta a necessidade premente de tutela cautelar (cfr. artigos 112.º/1 do
CPTA e 268.º/4 da CRP). A providência cautelar conservatória de suspensão de
eficácia do ato administrativo (cfr. artigos 112.º/2/a) do CPTA). A proibição de
executar o ato administrativo (cfr. artigo 128.º do CPTA).
d)
- A suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.º/3 do CPA e 59.º/4/5 do CPTA e no caso
de impugnação administrativa necessária a suspensão da eficácia do ato (cfr.
artigo 189.º/1 do CPA).
- O caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional;
- A apreciação da legalidade e do mérito (cfr. artigos 185.º/3 do CPA e 3.º/1 do
CPTA): os regimes da revogação e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.º e
seguintes do CPA).
- A desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento de custas judiciais.
- Simplicidade, informalidade, celeridade e quase gratuitidade.
D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V O I/ II
EXAME FINAL
14 - 06 - 2016
(3 valores)
1. Comente, criticamente, a seguinte afirmação:
(6 valores)
2. Revele a importância teorético-prática da distinção entre:
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado,
sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também
sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3:00h, sem consulta, salvo legislação
administrativa. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da
prova (1 valor).
D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V O I / II
14 - 06 - 2016
1.
- A modelação do Direito Administrativo pela ordem jurídica comunitária: a
europeização dos direitos administrativos nacionais (distinção face ao Direito
Administrativo Europeu); o ordenamento comunitário como ordenamento
jurídico geral; o interesse público europeu; o Direito Administrativo Europeu
(características).
- As relações entre a Administração Comunitária e as Administrações
Públicas nacionais; a aproximação entre os sistemas administrativos de tipo
francês e de tipo britânico (em especial, o privilégio da execução prévia no novo
CPA).
- A cultura da Administração de resultado como uma das manifestações da
europeização dos direitos administrativos nacionais; os critérios de eficiência e
de eficácia; o dever de boa administração na Carta Europeia dos Direitos
Fundamentais (cfr. artigo 41.º); o dever de boa administração como a exigência
de uma atuação correta (de acordo com as normas e princípios aplicáveis),
eficiente e eficaz (cfr. artigo 5.º do CPA).
2.
a)
- O Estado mínimo regulador.
- O artigo 267.º/3 da CRP; as entidades administrativas independentes
desprovidas de personalidade jurídica e com funções de garantia dos direitos
fundamentais (por exemplo, a Comissão de Acesso aos Documentos
Administrativos), e as autoridades reguladoras independentes, que são
pessoas coletivas públicas com funções de regulação e/ou de supervisão.
Características: nomeação, independência, mandato, inamobilidade e
irresponsabilidade dos seus titulares; a sua atividade não está sujeita a
superintendência nem a controlo de mérito; funções de consulta, de
informação e de proposta ao Governo, assim como funções de administração
ativa, incluindo poderes regulamentares e sancionatórios; os limites referem-
se à amplitude dos seus poderes bem como ao número e extensão dos sectores
administrativos confiados. São institutos públicos de regime especial (cfr.
artigo 48.º/1/f) da Lei Quadro dos Institutos Públicos e Lei n.º 67/2013, de 28
de agosto). Integram a Administração Independente.
- Os concessionários como pessoas coletivas privadas às quais
Administração Pública delegou determinadas tarefas de natureza pública;
forma de privatização quanto à execução da tarefa; os concessionários podem
dispor de poderes regulamentares públicos, têm capacidade para a prática de
atos administrativos, estão sujeitos a controlo e fiscalização pública (cfr. artigo
267.º/6 da CRP), respondem nos termos do regime jurídico da responsabilidade
civil extracontratual, estão sujeitos à jurisdição administrativa (cfr. artigo
4.º/1/d) do ETAF), integram a Administração Pública em sentido material ou
funcional, é-lhes aplicável, no exercício de poderes administrativos de
autoridade e quando disposições de Direito Administrativo os regulem
especificamente, o Código do Procedimento Administrativo, com exceção da
parte respeitante à regulamentação dos órgãos administrativos (cfr. artigo
2.º/1/2 do CPA).
b)
- A tutela administrativa consiste no conjunto dos poderes (intersubjetivos) de
intervenção de uma pessoa coletiva na gestão de outra pessoa coletiva, a fim de
assegurar a legalidade ou o mérito da sua atuação; espécies de tutela (tutela de
legalidade e tutela de mérito) quanto ao fim; tutela integrativa, inspetiva,
sancionatória, revogatória e substitutiva quanto ao conteúdo; tutela de
legalidade/Administração Autónoma; tutela de mérito/Administração Indireta;
artigo 199.º/d) d CRP.
3.
a)
- Direção Regional de Economia: administração direta periférica do Estado;
desprovida de personalidade jurídica; sujeição a poderes de direção;
- Infraestruturas de Portugal, S.A.: empresa pública sob a forma de
sociedade anónima (pessoa coletiva privada sujeita a influência pública
dominante nos termos do artigo 9.º/1 do Decreto-Lei n.º 133/2013, de 3 de
outrubro); Administração Indireta; sujeição a tutela de legalidade e de mérito
e a superintendência.
c)
- Vício orgânico de incompetência (absoluta – nulidade, artigo 161.º, n.º 2,
alínea b) do CPA; relativa – anulabilidade, artigos 163.º, n.º 1 do CPA).
- O conceito de interessado para efeitos do CPA (cfr. artigo 68.º do CPA);
audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 121.º e 122.º do CPA); o princípio da
participação (cfr. artigos 12.º do CPA e 2.º e 267.º/5 da CRP); vício de forma, por
preterição de uma formalidade essencial, anulabilidade (artigos 163.º CPA).
- Vício material de violação de lei, por violação do regime aplicável –
anulabilidade (cfr. artigo 163.º CPA).
- Não há vícios de mérito. A definição do tempo da licença é da
discricionariedade da Administração Pública (quanto ao quando), até ao limite
máximo fixado na lei (5 anos). Os critérios de aposição de cláusulas acessórias (cfr.
artigo 149.º do CPA).
d)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e recurso
hierárquico (cfr. artigos 184.º/1/a), 186.º/1/a), 188.º/1, 189.º/2, 190.º/3, 192.º/2, 197.º
do CPA); os condicionalismos da revogação de atos constitutivos de direitos (cfr.
artigo 167.º/2 do CPA.
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio, da
interposição de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do
CPTA); a regra geral é hoje a da impugnação administrativa
potestativa/facultativa, salvo previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA; a
suscetibilidade de produção de efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como
critério de recorribilidade do ato administrativo; a licença como ato impugnável
nos termos dos artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA.
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo positivo, é
adequado interpor um pedido de impugnação, deduzido sob a forma da ação
administrativa (cfr. artigos 37.º, n.º 1, alínea a) e 50.º e seguintes do CPTA).
- Do carácter não suspensivo do pedido de impugnação (cfr. artigo 50.º/2 do
CPTA), resulta a necessidade premente de tutela cautelar (cfr. artigos 112.º/1 do
CPTA e 268.º/4 da CRP). A providência cautelar conservatória de suspensão de
eficácia do ato administrativo (cfr. artigos 112.º/2/a) do CPTA). A proibição de
executar o ato administrativo (cfr. artigo 128.º do CPTA).
e)
- A suspensão dos prazos de interposição de ação junto dos tribunais
administrativos nos termos dos artigos 190.º/3 do CPA e 59.º/4/5 do CPTA e no caso
de impugnação administrativa necessária a suspensão da eficácia do ato (cfr.
artigo 189.º/1 do CPA).
- O caráter não preclusivo das garantias administrativas relativamente à
tutela jurisdicional;
- A apreciação da legalidade e do mérito (cfr. artigos 185.º/3 do CPA e 3.º/1 do
CPTA): os regimes da revogação e da anulação administrativas (cfr. artigos 165.º e
seguintes do CPA).
- A desnecessidade de patrocínio jurídico e de pagamento de custas judiciais.
- Simplicidade, informalidade, celeridade e quase gratuitidade.
DIREITO ADMINISTRATIVO I /II
Exame Final
Época de Recurso
12 / 07 / 2016
(4 valores)
1. Explique as razões que, a dada altura, vieram perturbar os critérios de distinção
entre as pessoas coletivas públicas e as pessoas coletivas privadas, com reflexos no
entendimento de Administração pública.
(4,5 valores)
2. Considere as seguintes situações:
a) Despacho do Diretor-Geral dos Assuntos Farmacêuticos, exarado ao abrigo de
uma competência concorrente com o Ministro da Saúde, que ordena o
encerramento de um posto de medicamentos;
b) Despacho do Ministro da Administração Interna que aplica uma sanção
disciplinar a um agente da PSP;
c) Contrato de arrendamento celebrado entre a Câmara Municipal do Porto e a
Senhora Ofélia.
Justificando devidamente, diga se alguma das situações tem subjacente um ato que
o destinatário possa impugnar imediatamente junto dos tribunais administrativos.
(10,5 valores)
3.
A Adelaide apresentou junto da sua entidade empregadora – o Município
da Trofa –, um pedido de pagamento do trabalho extraordinário prestado em
dias de descanso complementar e feriados.
Página 1 de 11
Dentro do prazo legal, foi-lhe notificado o ofício que indeferiu o
peticionado, por o trabalho extraordinário prestado não ter sido devidamente
autorizado como a lei o impõe.
Adelaide ficou surpreendida pelo sentido da decisão e pela justificação
apresentada, uma vez que tem conhecimento que a Câmara Municipal não
diligenciou junto da sua Divisão de Recursos Humanos, no sentido de perceber
se esta autorização teria ou não sido concedida.
Tendo solicitado para consultar o processo por forma a confirmar as suas
suspeitas, este pedido foi-lhe recusado.
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado, sugere-
se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também sabe, o
ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3 horas, sem consulta, salvo legislação adequada. O
professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da prova (1 valor).
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DIREITO ADMINISTRATIVO I e II
12 / 07 / 2016
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
1. Sendo certo que o problema não é novo, começou a colocar-se com mais agudeza
a partir da segunda metade do século passado, quando as pessoas coletivas públicas
primárias começaram a criar entidades instrumentais que só detinham
parcialmente os predicados da publicidade, a par da criação de pessoas jurídicas
atípicas de direito privado. Deu-se, assim, início ao processo de privatização da
Administração nas suas formas de organização.
2.
Página 3 de 11
administrativa, sendo que no ensino desta matéria se advogou, com base no
artigo 268.º/ 4 da CRP e nos artigos 185.º/2 do CPA e 59.º/ 4/ 5 do CPTA, a
impugnação (administrativa) facultativa como regra geral; pedido de
anulação, declaração de nulidade deduzido sob a forma da ação adminis-
trativa (cfr. artigos 50.º e segs. do CPTA e 4.º/1/ b) do ETAF);
3.
a)
- Município da Trofa; autarquia local; município; pessoa coletiva pública
primária, de base territorial; descentralização em sentido próprio (cfr. artigos 6.º,
235.º, 236.º/1, 237.º e 242.º da CRP); características (autogoverno e
autodeterminação); Administração Autónoma Territorial;
- Câmara Municipal da Trofa: órgão executivo, colegial do município (cfr. artigo
239.º da CRP);
- Divisão de recursos humanos: princípio da desconcentração; administração
direta do município.
b)
- Ato administrativo (cfr. artigo 148.º CPA): caráter regulador e produção de
efeitos externos numa situação individual e concreta. O ato administrativo é uma
estatuição autoritária, um comando jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que
produz, por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste na
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criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na determinação jurídica
de uma coisa, definindo de forma inovadora o direito para um caso concreto. Ato
administrativo primário, de conteúdo negativo, que indefere uma pretensão
deduzida pelo interessado (a Adelaide) por requerimento inicial (artigo 102.º do
CPA).
c)
- Fundamentação insuficiente; vício formal por preterição de formalidade
essencial (cfr. artigos 268.º/4 da CRP e 152.º/1/c) e 153.º do CPA); anulabilidade,
artigo 163.º, n.º 1 do CPA.
- A fase de instrução; o princípio do inquisitório (cfr. artigos 58.º, 115.º e 116.º
do CPA): à Administração Pública cabe uma atitude procedimental ativa que se
manifesta, entre outros aspetos, no dever de averiguar oficiosamente todos os factos
cujo conhecimento seja relevante para a justa e célere decisão do procedimento,
podendo para o efeito recorrer a todos os meios de prova admitidos em Direito; a
completude do material instrutório; vício de forma-procedimental; anulabilidade (cfr.
artigo 163.º do CPA).
d)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e recurso
hierárquico (cfr. artigos 184.º/1/a), 186.º/1/a), 188.º/1, 189.º/2, 190.º/3, 192.º/2, 197.º
do CPA); os condicionalismos da revogação de atos constitutivos de direitos (cfr.
artigo 167.º/2 do CPA.
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio, da interposição
de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do CPTA); a
regra geral é hoje a da impugnação administrativa potestativa/facultativa, salvo
previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA; a suscetibilidade de produção de
efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade do ato
administrativo;
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo negativo é
adequado interpor um pedido de condenação à prática do ato legalmente devido,
deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos 37.º, n.º 1, alínea b), 66.º,
67.º/1/b) e 69.º/2 do CPTA).
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e)
- O direito à informação procedimental, em especial o direito à consulta do
processo pelos seus interessados (cfr. artigos 268.º/1 da CRP e 11.º e 83.º do CPA); a
intimação para prestação de informações, consulta de processos ou passagem de
certidões (cfr. artigos 36.º/1/d) e 104.º e seguintes do CPTA).
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DIREITOADMINISTRATIVOII
Exame Parcelar
Época de Recurso
12-07-2016
(5 valores)
1. Comente a seguinte citação:
“Apesar da sua amplitude em termos orgânicos (…) e até procedimentais, o acto
impugnável ou processual não pode deixar de corresponder, no essencial, à noção
de acto regulador (…)”.
COLAÇO ANTUNES, A Teoria do Acto e a Justiça Administrativa, Coimbra, 2015, p. 124.
(4 valores)
2. Distinga sucintamente regulamentos administrativos com eficácia interna e
regulamentos administrativos com eficácia externa.
(10 valores)
3.
Adelaide apresentou junto da sua entidade empregadora – o Município da
Trofa –, um pedido de pagamento do trabalho extraordinário prestado em dias
de descanso complementar e feriados.
Dentro do prazo legal, foi-lhe notificado o ofício que indeferiu o
peticionado, por o trabalho extraordinário prestado não ter sido devidamente
autorizado como a lei o impõe.
Adelaide ficou surpreendida pelo sentido da decisão e pela justificação
apresentada, uma vez que tem conhecimento que a Câmara Municipal não
diligenciou junto da sua Divisão de Recursos Humanos, no sentido de perceber
se esta autorização teria ou não sido concedida.
Página 7 de 11
Tendo solicitado para consultar o processo por forma a confirmar as suas
suspeitas, este pedido foi-lhe recusado.
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado, sugere-
se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também sabe, o
ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2:30 horas, sem consulta, salvo legislação adequada.
O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da prova (1 valor).
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DIREITO ADMINISTRATIVO II
12-07-2016
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
Página 9 de 11
Em princípio, apenas os regulamentos administrativos com eficácia externa são
suscetíveis de impugnação contenciosa direta. A impugnação de normas e a
condenação à emissão de normas, artigo 72.º e segs do CPTA.
3.
a)
- Ato administrativo (cfr. artigo 148.º CPA): caráter regulador e produção de
efeitos externos numa situação individual e concreta. O ato administrativo é uma
estatuição autoritária, um comando jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que
produz, por si só, mesmo perante terceiros, uma consequência que consiste na
criação, modificação ou extinção de um direito ou dever ou na determinação jurídica
de uma coisa, definindo de forma inovadora o direito para um caso concreto. Ato
administrativo primário, de conteúdo negativo, que indefere uma pretensão
deduzida pelo interessado (a Adelaide) por requerimento inicial (artigo 102.º do
CPA).
b)
- Fundamentação insuficiente; vício formal por preterição de formalidade
essencial (cfr. artigos 268.º/4 da CRP e 152.º/1/c) e 153.º do CPA); anulabilidade,
artigo 163.º, n.º 1 do CPA.
- A fase de instrução; o princípio do inquisitório (cfr. artigos 58.º, 115.º e 116.º
do CPA): à Administração Pública cabe uma atitude procedimental ativa que se
Página 10 de 11
manifesta, entre outros aspetos, no dever de averiguar oficiosamente todos os factos
cujo conhecimento seja relevante para a justa e célere decisão do procedimento,
podendo para o efeito recorrer a todos os meios de prova admitidos em Direito; a
completude do material instrutório; vício de forma-procedimental; anulabilidade (cfr.
artigo 163.º do CPA).
c)
- Garantias administrativas impugnatórias adequadas: reclamação e recurso
hierárquico (cfr. artigos 184.º/1/a), 186.º/1/a), 188.º/1, 189.º/2, 190.º/3, 192.º/2, 197.º
do CPA); os condicionalismos da revogação de atos constitutivos de direitos (cfr.
artigo 167.º/2 do CPA.
- O acesso à jurisdição administrativa não depende, em princípio, da interposição
de recurso hierárquico (cfr. artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do CPTA); a
regra geral é hoje a da impugnação administrativa potestativa/facultativa, salvo
previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA; a suscetibilidade de produção de
efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como critério de recorribilidade do ato
administrativo;
- Ora, tratando-se este de um ato administrativo de conteúdo negativo é
adequado interpor um pedido de condenação à prática do ato legalmente devido,
deduzido sob a forma da ação administrativa (cfr. artigos 37.º, n.º 1, alínea b), 66.º,
67.º/1/b) e 69.º/2 do CPTA).
d)
- O direito à informação procedimental, em especial o direito à consulta do
processo pelos seus interessados (cfr. artigos 268.º/1 da CRP e 11.º e 83.º do CPA); a
intimação para prestação de informações, consulta de processos ou passagem de
certidões (cfr. artigos 36.º/1/d) e 104.º e seguintes do CPTA).
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DIREITO ADMINISTRATIVO I/II
13 – 07 – 2015
(4 valores)
1. Comente a seguinte afirmação:
“A figura do organismo de direito público veio ampliar o âmbito de aplicação do
Direito Administrativo.”
(5 valores)
2. Revele a importância teorético-prática da distinção entre:
a) Associações públicas e institutos públicos (2,5 val.);
b) Interesse público primário e interesses públicos secundários (2,5 val.).
(10 valores)
3. Imagine que Brálio, trabalhador público no Instituto dos Rios e Afluentes,
I.P., foi notificado da aplicação da sanção disciplinar de despedimento no
âmbito de um procedimento disciplinar que lhe havia sido instaurado meses
antes. Em momento algum Brálio foi notificado do início deste procedimento ou
chamado a pronunciar-se em sede de audiência prévia. Por outro lado, da
decisão que lhe foi comunicada constava apenas, para além da data e da
assinatura do seu autor, a indicação da sanção a aplicar e a referência a que “a
mesma se devia à violação do dever de obediência e de respeito no exercício das
suas funções, designadamente, por falta do uso de gravata enquanto fazia o
atendimento ao balcão, violando assim a circular interna n.º 456/2014”.
3.1. Identifique e qualifique as formas de atuação administrativa relevantes
referidas na hipótese. (4 val.)
1
3.2. Quais os mecanismos de reação (administrativa e contenciosa) de que
Brálio se poderá servir? Imagine que há uma norma especial que impõe,
nestes casos, a interposição de recurso hierárquico. (4 val.)
3.3. Quais os fundamentos que poderia invocar? Identifique os vícios e
correspondentes sanções. (2 val.)
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado,
sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como
também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3:00h, sem consulta, salvo
legislação administrativa. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido
geral da prova (1 valor).
2
DIREITO ADMINISTRATIVO I/II
13 – 07 – 2015
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
1.
⎯ O conceito de entidades adjudicantes é utilizado para delimitar o âmbito
subjetivo de aplicação dos procedimentos pré-contratuais públicos, sendo, por isso
mesmo, apenas relevante para a fase pré contratual, de escolha do co contraente, e
não já para a fase de execução do contrato (cfr. artigo 2.º/2/a) do CCP).
⎯ A atribuição de funções públicas a entidades privadas não cabe nos esquemas de
organização administrativa clássica: a privatização na forma de organização.
⎯ Merece a qualificação de organismo de direito público qualquer organismo que
reúna, cumulativamente, as seguintes características: (i) ter sido criado para
satisfazer especificamente necessidades de interesse geral, com caráter não
industrial ou comercial; (ii) ser dotado de personalidade jurídica; e (iii)
desempenhar uma atividade sujeita a influência pública dominante, seja porque
maioritariamente financiada pelo Estado, pelas autarquias locais ou regionais ou
por outros organismos de direito público, seja porque a sua gestão esteja sujeita a
controlo por parte destes últimos ou seja, ainda, porque nos seus órgãos de
administração, direção ou fiscalização, mais de metade dos membros são
designados pelo Estado, pelas autarquias locais, pelas Regiões Autónomas, ou por
outros organismos de direito público.
⎯ A noção de organismo de direito público é uma noção funcional, de inspiração
europeia, assente em critérios de natureza substantiva, que procura superar, pelo
menos para o efeito de aplicação do regime da contratação pública, a qualificação
formal como privada, da personalidade jurídica de uma entidade materialmente
pública para o Direito da União Europeia, implicando por isso o abandono da
tradicional distinção entre Direito público e Direito privado e a revisão da própria
noção de relação jurídica administrativa, com óbvias refrações no âmbito da
jurisdição administrativa.
3
2.
a)
⎯ O instituto público pertence, em regra, à Administração indireta, mas pode
assumir formas de Administração autónoma (o caso das Universidades) e de
Administração independente (caso das entidades administrativas independentes),
embora com alterações substanciais ao regime típico (artigo 48.º da Lei Quadro dos
Institutos Públicos). O instituto público é uma pessoa coletiva pública de tipo
institucional, criada para assegurar o desempenho de funções administrativas
pertencentes ao Estado ou a outro ente público. Devolução de poderes ou
descentralização por serviços, imprópria ou personalizada (cfr. artigo 267.º/1/2 da
CRP).
⎯ As associações públicas enquadram-se na Administração autónoma não
territorial (ou associativa): descentralização em sentido próprio (cfr. artigos
267.º/1/2 e 237.º da CRP). São pessoas coletivas públicas de natureza associativa
criadas por ato do poder público, que desempenham tarefas administrativas
próprias, pertinentes aos interesses dos seus membros e que se governam a si
próprias, embora sujeitos a tutela administrativa (de mera legalidade, ao invés dos
institutos públicos quando integram a Administração indireta; cfr. o artigo 45.º da
Lei n.º 2/2013, de 10 de janeiro).
b)
4
3.
3.1.
⎯ Ato que aplica a sanção disciplinar a Brálio: ato administrativo (artigo 148.º
CPA): caráter regulador e produção de efeitos externos numa situação individual e
concreta. O ato administrativo é uma estatuição autoritária, um comando jurídico,
positivo ou negativo, vinculativo, que produz, por si só, mesmo perante terceiros,
uma consequência que consiste na criação, modificação ou extinção de um direito
ou dever ou na determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora o
direito para um caso concreto. Ato administrativo impositivo, de conteúdo positivo,
com efeitos desfavoráveis para o seu destinatário.
⎯ Circular: considerando a sua natureza controvertida, vem tradicionalmente
incluída nos regulamentos internos (apesar de não ter natureza regulamentar) e
por isso não diretamente impugnável contenciosamente.
3.2.
⎯ A regra geral é hoje a da impugnação administrativa potestativa/facultativa,
salvo previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA. O acesso à jurisdição
administrativa não depende, em regra, da interposição de recurso hierárquico (cfr.
artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do CPTA); a suscetibilidade de produção de
efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como critérios de recorribilidade do ato
administrativo. No entanto, havendo lei especial que preveja a interposição de
recurso hierárquico necessário – suspensão dos efeitos do ato (cfr. artigo 189.º/1 do
CPA) e dos prazos procedimentais (cfr. artigos 190.º/1/2 CPA). O artigo 59.º, n.º 5 do
CPTA afasta o requisito da definitividade vertical como pressuposto processual da
ação administrativa impugnatória, mas não afasta as normas especiais que o
prevejam.
⎯ O ato que impõe uma sanção disciplinar como ato um impugnável nos termos
dos artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA: o critério de recorribilidade do ato
administrativo é o da suscetibilidade de produção de efeitos externos, e já não o da
definitividade e executoriedade do ato.
⎯ Ora, tratando-se este de um ato administrativo impositivo, de conteúdo
positivo, à primeira vista seria de interpor um pedido de impugnação, deduzido sob
a forma da ação administrativa especial (cfr. artigos 46.º/1/2/a) e 50.º e seguintes do
CPTA), no entanto, a solução adequada passaria pela cumulação do pedido
impugnatório com o pedido de condenação e restabelecimento da situação que
5
existiria se o ato ilegal não tivesse sido praticado (cfr. artigos 4.º/2/a) e 47.º/2/a)/b)
do CPTA), seguindo-se também neste caso a forma da ação administrativa especial
(cfr. artigo 5.º CPTA).
3.3
⎯ Audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 121.º e 122.º do CPA); o princípio
da participação (cfr. artigos 12.º do CPA e 267.º/5 da CRP); vício de forma, por
preterição de uma formalidade essencial; o direito de audiência prévia como direito
fundamental de defesa (cfr. artigo 269.º/3 CRP); nulidade (cfr. artigo 161.º/2/d) do
CPA).
⎯ Falta de fundamentação de ato impositivo, desfavorável ao seu destinatário,
(cfr. artigos 152.º/1/a), 153.º e 163.º do CPA e 268.º/3 CRP); vício de forma por
preterição de uma formalidade essencial; anulabilidade (cfr. artigo 163.º/1 do CPA).
⎯ Falta de menções obrigatórias (cfr. artigo 151.º/c)/d) e 150.º/2 do CPA); vício
material de violação de lei; inexistência jurídica.
6
DIREITOADMINISTRATIVOII
13 – 07 – 2015
(6 valores)
1. Revele a importância teorético-prática da distinção entre:
a) Omissão ilegal e deferimento tácito (3 val.);
b) Convalidação e consolidação do ato (3 val.).
(2,5 valores)
2. Comente a seguinte afirmação:
“A solução adotada pelo artigo 167.º/2/5 do novo CPA constitui uma tímida
aproximação ao já estatuído nos artigos 302.º/e) e 334.º do CCP.”
(10,5 valores)
3. Imagine que Brálio, trabalhador público no Instituto dos Rios e Afluentes,
I.P., foi notificado da aplicação da sanção disciplinar de despedimento no
âmbito de um procedimento disciplinar que lhe havia sido instaurado meses
antes. Em momento algum Brálio foi notificado do início deste procedimento ou
chamado a pronunciar-se em sede de audiência prévia. Por outro lado, da
decisão que lhe foi comunicada constava apenas, para além da data e da
assinatura do seu autor, a indicação da sanção a aplicar e a referência a que “a
mesma se devia à violação do dever de obediência e de respeito no exercício das
suas funções, designadamente, por falta do uso de gravata enquanto fazia o
atendimento ao balcão, violando assim a circular interna n.º 456/2014”.
3.1. Identifique e qualifique as formas de atuação administrativa relevantes
referidas na hipótese. (4 val.)
7
3.2. Quais os mecanismos de reação (administrativa e contenciosa) de que
Brálio se poderá servir? Imagine que há uma norma especial que impõe,
nestes casos, a interposição de recurso hierárquico. (4 val.)
3.3. Quais os fundamentos que poderia invocar? Identifique os vícios e
correspondentes sanções. (2,5 val.)
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado,
sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como
também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3:00h, sem consulta, salvo
legislação administrativa. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido
geral da prova (1 valor).
8
DIREITOADMINISTRATIVOII
13 – 07 – 2015
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
1.
a)
⎯ O princípio genérico de decisão (cfr. artigo 13.º do CPA): pressupostos do dever
de decidir.
⎯ O deferimento tácito (cfr. artigo 130.º do CPA): fundamentos, âmbito, efeitos e
utilidade da figura.
⎯ A omissão ilegal (cfr. artigos 129.º do CPA e 67.º/1/a) do CPTA): a omissão
ilegal pressupõe o incumprimento do dever de decidir que a lei não qualifique como
de deferimento tácito; a reclamação e o recurso hierárquico contra a omissão ilegal
de atos administrativos (cfr. artigos 184.º/1/b), 187.º, 188.º/3, 192.º/2 e 197.º/4 do
CPA); o pedido de condenação à prática de ato legalmente devido (cfr. artigos
67.º/1/a) e 46.º/1/2/b) do CPTA).
b)
⎯ O decurso do tempo para a impugnação dos atos administrativos anuláveis
não é uma forma de sanação dos vícios do ato, tornando-o, isso sim,
inimpugnável (consolidando-o na ordem jurídica), nem transforma um ato
inválido num ato válido, visto que o vício se mantém (assumindo relevo para
outros efeitos, designadamente ao nível da responsabilidade civil da
Administração por atos ilícitos), podendo, inclusive, ser apreciado
incidentalmente (cfr. artigo 38.º do CPTA).
⎯ Sobre a sanação dos atos ilegais, cfr. o artigo 164.º do CPA.
2.
⎯ Face à rigidez do artigo 140.º do anterior CPA (até por comparação com o
regime do CCP), o novo artigo 167.º/2 do CPA veio introduzir a
9
possibilidade de revogação de atos constitutivos de direitos, ainda que
sujeita a pressupostos estritos, mediante o pagamento da indemnização
devida.
⎯ O regime proposto no novo CPA é agora mais próximo do regime da
resolução unilateral dos contratos administrativos (cfr. artigo 302.º/e) do
CCP), sendo, no entanto, de notar, ressalvadas as exceções, que os
pressupostos elegidos para a resolução do contrato por razões de
interesse público, continuarem a parecerem-nos mais flexíveis,
atendendo à natureza consensual da relação jurídica e à predominância
dos motivos administrativos, inclusive de natureza discricionária.
⎯ Assim sendo, o poder de resolução unilateral deve ser interpretado
restritivamente, como um poder excecional ligado a um interesse público
“imperioso”.
3.
3.1.
⎯ Ato que aplica a sanção disciplinar a Brálio: ato administrativo (artigo 148.º
CPA): caráter regulador e produção de efeitos externos numa situação individual e
concreta. O ato administrativo é uma estatuição autoritária, um comando jurídico,
positivo ou negativo, vinculativo, que produz, por si só, mesmo perante terceiros,
uma consequência que consiste na criação, modificação ou extinção de um direito
ou dever ou na determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma inovadora o
direito para um caso concreto. Ato administrativo impositivo, de conteúdo positivo,
com efeitos desfavoráveis para o seu destinatário.
⎯ Circular: considerando a sua natureza controvertida, vem tradicionalmente
incluída nos regulamentos internos (apesar de não ter natureza regulamentar) e
por isso não diretamente impugnável contenciosamente.
3.2.
⎯ A regra geral é hoje a da impugnação administrativa potestativa/facultativa,
salvo previsão em lei especial – artigo 185.º/2 CPA. O acesso à jurisdição
administrativa não depende, em regra, da interposição de recurso hierárquico (cfr.
artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do CPTA); a suscetibilidade de produção de
efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como critérios de recorribilidade do ato
10
administrativo. No entanto, havendo lei especial que preveja a interposição de
recurso hierárquico necessário – suspensão dos efeitos do ato (cfr. artigo 189.º/1 do
CPA) e dos prazos procedimentais (cfr. artigos 190.º/1/2 CPA). O artigo 59.º, n.º 5 do
CPTA afasta o requisito da definitividade vertical como pressuposto processual da
ação administrativa impugnatória, mas não afasta as normas especiais que o
prevejam.
⎯ O ato que impõe uma sanção disciplinar como ato um impugnável nos termos
dos artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA: o critério de recorribilidade do ato
administrativo é o da suscetibilidade de produção de efeitos externos, e já não o da
definitividade e executoriedade do ato.
⎯ Ora, tratando-se este de um ato administrativo impositivo, de conteúdo
positivo, à primeira vista seria de interpor um pedido de impugnação, deduzido sob
a forma da ação administrativa especial (cfr. artigos 46.º/1/2/a) e 50.º e seguintes do
CPTA), no entanto, a solução adequada passaria pela cumulação do pedido
impugnatório com o pedido de condenação e restabelecimento da situação que
existiria se o ato ilegal não tivesse sido praticado (cfr. artigos 4.º/2/a) e 47.º/2/a)/b)
do CPTA), seguindo-se também neste caso a forma da ação administrativa especial
(cfr. artigo 5.º CPTA).
3.3
⎯ Audiência prévia dos interessados (cfr. artigos 121.º e 122.º do CPA); o princípio
da participação (cfr. artigos 12.º do CPA e 267.º/5 da CRP); vício de forma, por
preterição de uma formalidade essencial; o direito de audiência prévia como direito
fundamental de defesa (cfr. artigo 269.º/3 CRP); nulidade (cfr. artigo 161.º/2/d) do
CPA).
⎯ Falta de fundamentação de ato impositivo, desfavorável ao seu destinatário,
(cfr. artigos 152.º/1/a), 153.º e 163.º do CPA e 268.º/3 CRP); vício de forma por
preterição de uma formalidade essencial; anulabilidade (cfr. artigo 163.º/1 do CPA).
⎯ Falta de menções obrigatórias (cfr. artigo 151.º/c)/d) e 150.º/2 do CPA); vício
material de violação de lei; inexistência jurídica.
11
FACULDADE DE DIREITO
DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Direito Administrativo I
(2011/12)
2. Tutela de legalidade.
3. Devolução de poderes.
II
III
II grupo – 7 valores;
DA
UNIVERSIDADE DO PORTO
Direito Administrativo I
(2011/12)
Critério de correcção:
29 – 06 – 2012
(4 valores)
1. Comente a seguinte citação:
“Apesar da sua amplitude em termos orgânicos (…) e até procedimentais, o acto
impugnável ou processual não pode deixar de corresponder, no essencial, à noção de
acto regulador (…)”.
(4 valores)
2. Revele a importância teorético-prática da distinção entre:
a) Ato silente positivo e omissão ilegal.
b) Regulamentos administrativos com eficácia interna e regulamentos
administrativos com eficácia externa.
(3 valores)
3. O dever de indemnizar e o direito de regresso na responsabilidade
administrativa delitual. Sujeitos e pressupostos.
(8 valores)
4. António, funcionário público, apresentou o seu pedido de reforma junto da
Caixa Geral de Aposentações, tendo o mesmo sido indeferido sem qualquer
justificação. António decidiu então apresentar recurso junto do superior hierárquico
do autor do ato, alegando: (i) que não foi ouvido durante o procedimento; (ii) que
não foram averiguados os factos que interessavam à decisão; (iii) que a decisão lhe
foi comunicada sem que se indicassem as razões; (iv) que não foi respeitado o
parecer (não vinculativo) solicitado pelos serviços.
1
1. Classifique o ato administrativo praticado. (1 valor)
2. Analise os fundamentos invocados pelo António e identifique os vícios
e correspondentes sanções. (3,5 valores)
3. António apresentou recurso hierárquico por estar convencido de que
este seria um pressuposto necessário para o acesso aos tribunais
administrativos. Concorda? Justifique. (1,5 valores)
4. Em que termos poderia António reagir contenciosamente? (2 valores)
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar
calado, sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática.
Como também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 3:00 horas, sem
consulta, salvo legislação adequada. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e
ao sentido geral da prova (1 valor).
2
DIREITO ADMINISTRATIVO II
Critérios de Correção
1.
⎯ A problematicidade da questão exige um percurso pelas construções
dogmáticas sobre o ato administrativo. Opção por uma noção restrita coincidente
substantiva e processualmente.
⎯ O carácter regulador do ato administrativo como característica essencial da sua
noção restrita, – o ato administrativo é uma estatuição autoritária, um comando
jurídico, positivo ou negativo, vinculativo, que produz, por si só, mesmo perante
terceiros, uma consequência que consiste na criação, modificação ou extinção de um
direito ou dever ou na determinação jurídica de uma coisa, definindo de forma
inovadora o direito para um caso concreto. O caráter regular tem ainda o mérito de
reafirmar a primariedade da lei na definição do interesse público.
⎯ As entidades privadas dotadas de poderes públicos estão investidas de uma
capacidade formal para a prática de atos administrativos (cfr. artigos 2.º e 120.º do
CPA).
⎯ O artigo 51.º/2 do CPTA equipara, para efeitos contenciosos, as decisões
materialmente administrativas de entidades privadas a verdadeiros atos
administrativos (cfr. ainda 4.º/1/d) do ETAF).
⎯ O procedimento administrativo como uma realidade indissociável da prática de
atos administrativos: a figura dos atos destacáveis (cfr. artigo 51.º/1/3 do CPTA).
⎯ Cfr. artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA: o critério de recorribilidade do ato
administrativo é o da suscetibilidade de produção de efeitos externos (e daí a
eventual lesividade), e já não o da definitividade e executoriedade do ato.
3
2.
a)
⎯ O princípio genérico de decisão (cfr. artigo 9.º do CPA): pressupostos do dever
de decidir.
⎯ Consequências jurídicas que derivam da ausência de uma decisão expressa no
prazo legalmente previsto: artigos 108.º e 109.º/2/3 do CPA e 67.º/1/a) do CPTA.
⎯ O deferimento tácito (cfr. artigo 108.º do CPA): fundamentos, âmbito, efeitos e
utilidade da figura.
⎯ A omissão ilegal (cfr. artigos 109.º/2/3 do CPA e 67.º/1/a) do CPTA): o artigo
67.º/1/a) do CPTA derrogou a norma do n.º 1 do artigo 109.º do CPA, na parte em
que esta reconhecia ao interessado a faculdade de presumir indeferida a pretensão
para poder exercer o respetivo meio legal de impugnação; a omissão ilegal
pressupõe o incumprimento do dever de decidir que a lei não qualifique como de
deferimento tácito; o pedido de condenação à prática de ato legalmente devido (cfr.
artigos 67.º/1/a) e 46.º/1/2/b) do CPTA).
b)
⎯ O regulamento administrativo (noção).
⎯ Regulamentos administrativos com eficácia interna (noção e exemplos).
⎯ Regulamentos administrativos com eficácia externa (noção e exemplos).
⎯ Apenas os regulamentos administrativos com eficácia externa são suscetíveis
de impugnação contenciosa. A impugnação de normas e a declaração de ilegalidade
por omissão (cfr. artigos 46.º/1/2/c)/d) e 72.º e seguintes do CPTA).
⎯ Princípio da inderrogabilidade singular dos regulamentos administrativos
Segundo esta regra, a partir do momento que o regulamento entra em vigor vincula
todos: Administração, tribunais e particulares. Todos têm de cumprir o que o
regulamento administrativo prescreve, a começar pelo autor da norma
administrativa. Assim sendo, os órgãos administrativos não podem, na sua ação,
violar os comandos regulamentares, sob pena de a ver jurisdicionalmente declarada
inválida. Não pode, portanto, a Administração revogar, por via individual e
concreta, os regulamentos que ela própria elaborou enquanto não forem eliminados
da ordem jurídica. Cfr. os artigos 114.º e seguintes do CPA. Quanto ao âmbito da
eficácia, a regra da inderrogabilidade singular só vale para os regulamentos
externos.
4
3.
⎯ A responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e culposos; regime
aplicável (Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais
Entidades Públicas por Atos de Gestão Pública aprovado pela Lei n.º 67/2007, de 31
de dezembro).
⎯ Pressupostos da responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e
culposos (cfr. artigo 7.º a 10.º da Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro): facto
voluntário; ilicitude; culpa; dano; nexo de causalidade.
⎯ As pessoas coletivas públicas ou privadas que exerçam funções administrativas
respondem sempre pelos prejuízos resultantes dos atos ilícitos e culposos dos seus
órgãos ou agentes, tenham os factos sido praticados com dolo, negligência leve ou
negligência grosseira (cfr. artigos 7.º/1 e 8.º/1/2 da Lei n.º 67/2007, de 31 de
dezembro).
⎯ No entanto, a pessoa coletiva pública, quando satisfaça uma indemnização com
fundamento em responsabilidade delitual (pessoal) ou por factos ilícitos e culposos
deve por sua vez exigir ao titular do órgão ou agente que praticou o ato que lhe
pague o montante da indemnização suportada, exercendo assim o direito de
regresso (cfr. artigo 8.º/3 da Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro).
⎯ O direito de regresso existe quando o titular do órgão, funcionário ou agente
tenha atuado dolosamente ou tenha procedido com diligência e zelo
manifestamente inferiores àqueles a que se achava obrigado em razão do cargo.
⎯ O direito de regresso só não existe nas seguintes situações: (i) negligência leve
do autor (cfr. artigos 7.º/1/2 e 8.º/3 da Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro); (ii)
funcionamento anormal do serviço; (iii) exclusão da responsabilidade civil dos
subalternos no cumprimento de comandos hierárquicos mediante a verificação dos
seguintes pressupostos de aplicação cumulativa (cfr. artigo 271.º/1/2 da CRP): 1.º)
que se trate de um comando hierárquico que reúna três características: seja
proveniente de legítimo superior hierárquico, incida sobre matéria de serviço; não
se traduza na prática de um crime; 2.º) que o subalterno tenha dele previamente
reclamado ou exigido a sua transmissão ou confirmação por escrito (direito de
respeitosa representação).
⎯ Neste caso, o subalterno não pode vir ao processo (contra si proposto) invocar a
sua específica causa de exclusão de responsabilidade civil, visto que a regra goza,
em princípio, de uma eficácia interna na Administração.
5
⎯ O que ele deve fazer é provocar a intervenção processual do autor do comando
ou da entidade pública, tal como o lesado o poderá fazer em termos processuais
através incidente da intervenção de terceiros.
4.
4.1. Ato primário, de conteúdo negativo (também podem ser considerados outros
critérios tais como os relativos aos destinatários e aos efeitos).
4.2.
⎯ A audiência prévia dos interessados (artigos 100.º a 103.º do CPA); o princípio da
colaboração da Administração com os particulares (artigo 7.º/1/b) do CPA) e o
princípio da participação (artigos 8.º CPA e 267.º/5 da CRP); vício de forma, por
preterição de uma formalidade essencial; anulabilidade (artigo 135.º do CPA).
⎯ A fase instrutória do procedimento administrativo (cfr. artigos 86 a 99.º do CPA):
os princípios do inquisitório (artigo 56.º do CPA) e da completude do material
instrutório; vício de forma-procedimental; anulabilidade (cfr. artigos 135.º e 136.º do
CPA).
⎯ O dever de fundamentação (cfr. artigos 268.º/3 da CRP, 123.º/1/d), 124.º/1/c) e
125.º do CPA); vício de forma, por preterição de uma formalidade essencial;
anulabilidade (cfr. artigos 135.º e 136.º do CPA).
⎯ Função e natureza dos pareceres (cfr. artigo 98.º/ 2 do CPA); o órgão com
competência para a decisão poderia não seguir o parecer, caso em que está obrigado
a indicar as razões que o levaram a afastar-se deste (artigo 124.º/1/c) do CPA).
4.3
⎯ O acesso à jurisdição administrativa não depende da interposição de recurso
hierárquico (cfr. artigos 268.º/4 da CRP, 51.º/1 e 59.º/4/5 do CPTA); a suscetibilidade
de produção de efeitos jurídicos externos e a ilegalidade como critérios de
recorribilidade do ato administrativo.
⎯ A regra geral é hoje a da impugnação administrativa potestativa.
⎯ A natureza da decisão do superior hierárquico e do subalterno; os princípios
constitucionais da garantia da tutela jurisdicional efetiva, da desconcentração
administrativa e, sobretudo, da separação da Administração da Justiça.
6
⎯ Diferentes posições sobre o alcance das disposições do CPTA, inclusive sobre as
implicações no direito substantivo.
⎯ Cfr. Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 499/96.
4.4
⎯ Tratando-se de um ato administrativo de conteúdo negativo é adequado o
pedido de condenação à prática de ato devido, nos termos do disposto
conjugadamente nos artigos 51.º/4, 67.º/1/b) do CPTA.
⎯ Ação Administrativa especial (cfr. artigos 46.º/1/2/b) do CPTA).
⎯ O pedido deverá ser interposto no prazo de 3 meses nos termos do artigo
69.º/2/3 do CPTA, junto do tribunal administrativo de círculo territorialmente
competente nos termos do artigo 16.º do CPTA (cfr. artigos 212.º/3 da CRP e 1.º do
ETAF).
7
DIREIT O ADMINISTRA TIVO I
EXAME PARCELAR
31 - 01 - 2011
(4 valores)
(5 valores)
(3 valores)
(7 valores)
4. Imagine que o Presidente de uma Câmara Municipal decidiu renovar
a frota automóvel do seu Município, adquirindo para o efeito 10
veículos automóveis da marca “Veloz”, ao stand “Bom e Barato”,
propriedade do Sr. António Coelho.
Questionado em reunião de Assembleia Municipal, o Presidente da
Câmara justificou a sua decisão numa disposição legal, nos termos da
1
qual, “As autarquias locais podem adquirir os veículos automóveis que
considerem necessários para garantir a deslocação em serviço dos seus
membros”.
O vereador da oposição, indignado com esta aquisição que
considera desnecessária e sumptuária, chama ainda à atenção para os
seguintes aspectos, de que pretende dar conhecimento à Inspecção-
Geral das Autarquias Locais:
a) A competência exercida está subdelegada nele próprio, pelo que
o Presidente da Câmara Municipal não podia decidir sobre esta
matéria;
b) O Presidente da Câmara Municipal é habitualmente
presenteado pelo Sr. António Coelho, designadamente com
viagens e aparelhos electrónicos diversos.
O Sr. António Coelho não percebe por que razão não foi ouvido quanto
a esta decisão. Comente.
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar
calado, sugere-se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática.
Como também sabe, o ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2:30h, sem consulta,
salvo legislação administrativa. O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao
sentido geral da prova (1 valor).
2
DIREITO ADMINISTRATIVO I
EXAME PARCELAR
31 - 01 - 2011
Critérios de Correcção
3
serviços ou das tarefas de que essas entidades são instrumentos de
realização em função do fim prosseguido.
4
embora com alterações substanciais ao regime típico (cfr. artigo 48.º da Lei
Quadro dos Institutos Públicos, aprovada pela Lei n.º 3/2004, de 15 de
Janeiro, sucessivamente alterada). O instituto público é uma pessoa
colectiva pública de tipo institucional, criada para assegurar o desempenho
de funções administrativas pertencentes ao Estado ou a outro ente público.
4.1.
5
⎯ Natureza jurídica da (sub)delegação (opção pela tese que defende que
a transferir-se algo para o delegado é o exercício da competência, não
a competência propriamente dita), sendo que a delegação cria entre o
delegante e o delegado uma relação jurídica nova, que não é uma
relação hierárquica (cfr. n.º 2 do artigo 111.º da CRP, artigos 29.º, 35.º
e seguintes do CPA e n.º 1 do artigo 65.º da Lei das Autarquias Locais
(LAL)).
⎯ A aquisição de bens móveis como uma competência da Câmara
Municipal (cfr. alínea d) do n.º 1 do artigo 64.º da LAL), delegável no
seu Presidente (cfr. n.º 1 do artigo 65.º da LAL, a contrario, e n.º 3 do
artigo 35.º do CPA); requisitos da delegação de poderes (cfr. artigos
29.º, 35.º, 37.º, 133.º, n.º1, 130.º, n.º2 e 135.º do CPA); e subdelegável
no vereador (cfr. n.º 2 do artigo 65.º da LAL, a contrario, e n.º 1 do
artigo 35.º do CPA); requisitos da subdelegação de poderes (cfr.
artigos 29.º, 35.º, 36.º, n.º1 e 37.º do CPA); o Presidente da Câmara
Municipal poderia ter avocado a competência cujo exercício delegou no
vereador (cfr. artigo 39.º, n.º2 do CPA); os actos praticados pelo
Presidente da Câmara são anuláveis por vício (orgânico) de
incompetência relativa (cfr. artigo 135.º do CPA).
⎯ Princípio da imparcialidade e respectivas garantias (cfr. n.º 2 do
artigo 266.º da CRP e artigos 6.º e 44.º a 51.º do CPA); circunstância
justificativa de escusa ou suspeição (cfr. alínea c) do n.º1 do artigo 48.º
do CPA: motivo de escusa do Presidente da Câmara Municipal (cfr.
artigo 49.º e 45.º, n.º 4, ex vi n.º 1 do artigo 50.º do CPA); decisão de
procedência da escusa (suspensão e substituição, - cfr. artigos 46.º e
47.º ex vi artigo 50.º, n.º 3 do CPA) ou de improcedência (continuação
da actividade); os actos em que tiverem intervindo titulares de órgãos
ou agentes em relação aos quais tenha havido decisão administrativa
de suspeição são anuláveis nos termos gerais (cfr. n.º 1 do artigo 51.º e
artigo 135.º do CPA); o princípio da imparcialidade está ligado
essencialmente a uma postura da Administração, impondo aos órgãos
e agentes administrativos uma actuação de forma isenta e
6
equidistante relativamente aos interesses em jogo; vício material de
violação de lei em sentido estrito (cfr. artigo 135.º do CPA).
⎯ Tutela de legalidade, meramente inspectiva (vide artigos 199.º, alínea
d), 242.º, n.º1, 288.º, alínea n) da CRP e 2.º, 3.º e 5.º da Lei da Tutela
Administrativa). Cfr. ainda a Orgânica da Inspecção-Geral das
Autarquias Locais, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 326-A/2007, de 28
de Setembro).
4.2.
7
DIREITO ADMINISTRATIVO ( I) e II
23 / 07 / 2011
(11 valores)
1. Comente as frases seguintes no que seja indispensável para
justificar a sua concordância ou discordância:
(8 valores)
2. Por anúncio publicado no Diário da República, IIª Série, nº 16, em
25 de Fevereiro de 2011, a Câmara Municipal de Vila Real publicitou
o lançamento do concurso público para aquisição do “Projecto de
Execução para a Construção das Piscinas Municipais do Calvário”,
classificado como um tipo de contrato de prestação de serviços.
1
A sociedade “José António - Arquitectos, Lda.” submeteu a sua
proposta em 17 de Março de 2011, tendo apresentado todos os
documentos exigidos.
Obs.: Superando o hábito (que nem sempre faz o monge) de falar-escrever para estar calado, sugere-
se sobriedade nas respostas, sem prejuízo da sua completude dogmática. Como também sabe, o
ilegível não se pode ler. A duração da prova é de 2:30 horas, sem consulta, salvo legislação adequada.
O professor não é indiferente à qualidade discursiva e ao sentido geral da prova (1 valor).
2
DIREITO ADMINISTRATIVO ( I) e II
23 / 07 / 2011
Critérios de correcção
1.
a) O interesse público principal (ou essencial) apresenta-se
prejudicialmente definido e qualificado pela lei, assumindo-se como
fundamento e limite de toda a actividade administrativa, sobretudo
quando discricionária. Afasta-se, assim, uma concepção formal e
abstracta de interesse público essencial (Rogério Soares e Vieira de
Andrade) que permitiria, segundo Sérvulo Correia, equacionar aquele
como o resultado ponderativo de vários interesses públicos
secundários (o que devolveria à Administração uma discricionaridade
quanto aos fins que ela não tem nem pode ter, visto que o fim é
precisamente um dos limites incontornáveis e vinculados de toda e
qualquer actividade discricionária).
O interesse público primário ou essencial é o interesse
específico posto pela lei; os interesses públicos secundários são
representados pelos Ministérios e entidades administrativas
chamadas a participar (através de pareceres, por exemplo) num
procedimento de licenciamento, permitindo, a par da consideração
das legítimas posições jurídicas dos particulares, a melhor realização
do interesse público (primário) com o menor sacrifício dos direitos e
interesses legalmente protegidos.
Objecto de ponderação procedimental são os interesses públicos
secundários, cuja função é a de ajudar à melhor e proporcionalística concreção
do interesse-fim, o interesse público primário. (Cfr. Colaço Antunes, O Direito
Administrativo e a sua Justiça no Início do Século XXI, Coimbra, 2001, página
32 e seguintes e 47 e seguintes).
3
b) O instituto público pertence à Administração indirecta, mas pode
assumir formas de Administração autónoma (o caso das
Universidades Públicas) ou mesmo independente (o caso das
entidades administrativas independentes), embora com alterações
substanciais ao regime típico (cfr. artigo 48.º da Lei Quadro dos
Institutos Públicos, aprovada pela Lei n.º 3/2004, de 15 de Janeiro,
sucessivamente alterada). O instituto público é uma pessoa colectiva
pública de tipo institucional, criada para assegurar o desempenho de
funções administrativas pertencentes ao Estado ou a outro ente
público.
4
2.
a)
⎯ Acto de adjudicação como acto administrativo para efeitos
substantivos ou procedimentais (cfr. artigo 120.º do CPA), - acto
administrativo destacável respeitante à formação de um contrato
(contrato de prestação de serviços).
⎯ Acto administrativo para efeitos contenciosos (cfr. artigos
268.º/4 da CRP, 51.º/ 1 e 100.º/1 do CPTA).
⎯ O acto de adjudicação tem um carácter positivo ambivalente.
b)
⎯ O acto de adjudicação como acto impugnável nos termos dos
artigos 268.º/4 da CRP e 51.º/1 do CPTA: o critério de recorribilidade
do acto administrativo é o da susceptibilidade de produção de efeitos
externos (e daí a eventual lesividade), e já não o da definitividade e
executoriedade do acto.
⎯ Vício material de violação de lei: anulabilidade (cfr. artigos
135.º e 136.º do CPA).
⎯ Dever de fundamentação (cfr. artigos 268.º/3 da CRP,
123.º/1/d), 124.º e 125.º); vício de forma, por preterição de uma
formalidade essencial (cfr. artigos 135.º e 136.º do CPA).
⎯ Princípio da imparcialidade e respectivas garantias (cfr.
artigos 266.º/2 da CRP, 6.º e 44.º a 51.º do CPA); circunstância
justificativa de escusa ou suspeição (cfr. artigo 48.º/1/c) do CPA);
decisão de procedência da escusa (suspensão e substituição, - cfr.
artigos 46.º e 47.º ex vi artigo 50.º/3 do CPA) ou de improcedência
(continuação da actividade); os actos em que tiverem intervindo
titulares de órgãos ou agentes em relação aos quais tenha havido
decisão administrativa de suspeição são anuláveis nos termos
gerais (cfr. artigos 51.º/1, 135.º e 136.º do CPA).
⎯ Ora, tratando-se este de um acto administrativo anulável, de
conteúdo ambivalente, é adequado cumular um pedido de anulação
5
do acto administrativo (pedido de impugnação) com um pedido de
condenação à substituição desse acto por outro, nos termos do
disposto conjugadamente nos artigos 51.º/1, 47.º/2/a) e 4.º/2/c) do
CPTA.
⎯ Regime do contencioso pré-contratual (cfr. artigos 46.º/3,
100.º/ 1 e 36.º/1/b) do CPTA).
⎯ Tem legitimidade activa a candidata preterida, - a sociedade
“José António - Arquitectos, Lda.”, - enquanto titular de uma
situação jurídica legitimante que a habilita a recorrer contenciosa-
mente deste acto (critério de lesividade) – o interesse directo e
pessoal a que se referem os artigos 9.º/1 e 55.º/1/a) do CPTA,
aplicável por via do artigo 100.º/1 do CPTA), – assim como interesse
em agir.
⎯ E legitimidade passiva o Município de Vila Real (cfr. artigo
10.º/1/2/4 do CPTA).
⎯ A sociedade “Moreira e Sá, Arquitectos, Lda.” ocupa a posição de
contra-interessada (cfr. artigo 57.º do CPTA, aplicável por via do
artigo 100.º/1 do CPTA), em litisconsórcio necessário passivo com o
Município de Vila Real.
⎯ O pedido deverá ser interposto no prazo de 30 dias nos termos
dos artigos 101.º, 36.º/1/b) e 36.º/2 do CPTA, junto do tribunal
administrativo de círculo territorialmente competente nos termos do
artigo 20.º do CPTA (cfr. artigos 4.º/1/e), 24.º, 25.º e 37.º, a contrario,
e 44.º do ETAF), seguindo-se a tramitação prevista nos artigos 78.º e
seguintes do CPTA, aplicável por via do disposto no n.º 1 do artigo
102.º do CPTA, com as especificidades que decorrem do disposto nos
artigos 102.º/2/3 e 103.º do CPTA.
⎯ Por outro lado, deverá ser intentada, a título preliminar, um
pedido cautelar para a suspensão judicial de eficácia do acto de
adjudicação, de forma a impedir a celebração do contrato de
prestação de serviços – providência cautelar conservatória de
suspensão de eficácia do acto administrativo (cfr. artigo 112.º/1/2/a)
do CPTA).
6
⎯ A providência cautelar deverá ser requerida junto do tribunal
competente para decidir a causa principal (cfr. artigo 20.º/6 do
CPTA).
⎯ Os critérios de concessão da providência cautelar são os do n.º 6
do artigo 132.º do CPTA, uma vez que o acto a suspender foi
praticado no âmbito de um procedimento administrativo pré-
contratual.
7
Finanças
Públicas
Finanças Públicas – Critérios de correção
Grupo I
1 – Imagine que no Orçamento do Estado estão previstas normas com o
seguinte teor:
Quid Juris?
Grupo II
• Equidade vertical;
• Taxas específicas;
• Técnica do englobamento;
Grupo I
(4 valores)
4. Distinga entre:
• Preço e tarifa;
• Liquidação e auto-liquidação.
Finanças Públicas
Critérios de Correção
Grupo II
• Preço e Tarifa;
• Liquidação e auto-liquidação.
Finanças Públicas
Exame de recurso
9 de fevereiro de 2017
Critérios de Correção
Grupo I
• Taxa e preço;
• Liquidação e auto-liquidação.
3.
Grupo I
1. Explique resumidamente a seguinte afirmação:
O IRS é um imposto anual, baseado numa estrutura classificatória, com
regimes geral e específicos.
(4 valores)
2. Distinga entre:
• Liquidação e auto-liquidação.
Critérios de Correção
Grupo I
• Anualidade do imposto;
• Categorias de rendimentos;
• Deduções específicas;
• A técnica do englobamento;
• Deduções à coleta;
• Mínimo de existência.
• Liquidação e auto-liquidação.
Parte I
(a resposta certa está sublinhada)
COTAÇÃO:
parte 1: 1,25 valores cada questão, havendo uma penalização de 0,25 val. por cada resposta
errada;
parte 2: 10 valores, repartidos por três questões de igual valor entre si.
Parte I
Escolha apenas a afirmação que lhe parecer mais correta ou completa
(cotação: 1,25 val. cada pergunta, com penalização de 0,25 val. por cada resposta errada)
Parte II
1) Explique em que se traduz o chamado fenómeno da “desorçamentação” de alguns
setores do Estado, explicando em que se traduz e por que formas conseguem as
entidades envolvidas satisfazer os seus encargos financeiros.
A questão pede que se identifiquem os setores de atividade pública que se situam fora do
chamado “perímetro orçamental”, sendo essencial referir as finanças das regiões autónomas e
das autarquias locais (como expressamente refere o art. 5º, nº 2, da LEO) e o setor empresarial
do estado. Depois de identificados, deve explicar‐se como se concilia esta desorçamentação com
o princípio da plenitude orçamental, referindo‐se a necessidade de transferências financeiras
para aquelas entidades (que no caso das regiões e autarquias vêm até previstas expressamente
no art. 32. LEO) como forma de assegurar a sua sustentabilidade.
Os poderes tributários das RAs estão previstos no art. 227º CRP, sendo depois desenvolvidos e explicitados
na LFRA. São de natureza normativa (poder de criar impostos vigentes apenas na circunscrição respetiva,
bem como o de adaptar o sistema tributário às especificidades da região, nos termos dos arts. 55º ss LFRA)
e administrativa (arts. 61º ss LFRA). Para além disto, as RAs têm ainda direito às verbas resultantes da
cobrança dos impostos (nacionais) indicados nos arts. 24º ss LFRA.
3) Explique quais os principais critérios em que tem assentado, nas formulações da lei e da
doutrina, o dever de pagar impostos, referindo o que diz a esse propósito a nossa lei
tributária.
Os critérios de repartição da carga fiscal (que não se confundem, como é claro, com os fins da tributação ou
com os objetivos de política financeira) têm sido, fundamentalmente, o do benefício e o da capacidade
contributiva. Pretendia‐se nesta questão a explicação do sentido e das dificuldades de aplicação de cada um
e uma indicação sobre o respetivo acolhimento no nosso sistema fiscal, e em especial no art. 4º LGT: a
capacidade contributiva como critério geral para criação de impostos, o benefício como critério aplicável
em sede de taxas (e, em certa medida, nos impostos sobre o consumo).
COTAÇÃO: PARTE 1 ‐ 1,25 valores cada questão, havendo uma penalização de 0,25 val. por
cada resposta errada; PARTE 2 ‐ 10 valores, repartidos por três questões de igual valor.
Nome:
Parte I
(o enunciado da parte II será entregue aquando da entrega desta folha)
Assinale, em cada questão, apenas UMA hipótese que lhe pareça correta.
2) Na ordem jurídica portuguesa, a tributação do consumo é feita por via dos seguintes
impostos:
a. IVA e Impostos aduaneiros;
b. IVA, impostos aduaneiros e IEC’s;
c. IVA, impostos aduaneiros e IMI;
d. IVA, IMI e IEC’s;
e. nenhuma das respostas anteriores.
6) A fixação do valor de uma taxa é feita com base no(s) seguinte(s) critério(s):
a. a cobertura dos custos suportados pela entidade credora da taxa;
b. o ganho auferido pela entidade devedora da taxa;
c. ambas as respostas anteriores;
d. o défice orçamental da entidade credora da taxa no ano económico precedente;
e. nenhuma das respostas anteriores.
Parte II
Descrição breve dos poderes tributários das autarquias, sendo importante uma
explicação da à figura da derrama, e a referência à possibilidade de conformação da
taxa do IMI e aos poderes quanto à fixação de taxas e preços.
Notas importantes:
- cotação: parte 1: 1,25 valores cada questão, havendo uma penalização de 0,25 val. por cada
resposta errada; parte 2: 2,5 valores cada questão.
- duração: 2 horas.
Faculdade de Direito da Universidade do Porto
Finanças Públicas (2º ano) - Exame final – 15 de fevereiro de 2013
Enunciado e critérios de correcção
Parte I
(nota: a resposta correcta seria: “Os sujeitos passivos de IRC e os sujeitos passivos de
IRS titulares de rendimentos da categoria B”.)
(nota: a resposta correta teria de abarcar todas as situações previstas no art. 12-H,
nº 1, da Lei de enquadramento orçamental)
6) O regime contributivo da Segurança Social é obrigatório para:
a. os titulares de rendimentos do trabalho dependente;
b. os titulares de rendimentos do trabalho dependente, comerciais ou
empresariais;
c. os titulares de rendimentos do trabalho dependente, comerciais, empresariais ou
de capitais;
d. os titulares de rendimentos do trabalho dependente, comerciais, empresariais, de
capitais ou de pensões;
e. nenhuma das respostas anteriores.
Cotação da Parte I: 1,5 val. cada questão, com penalização de 0,5 val. por cada resposta errada.
Salvaguarda-se que nunca será atribuída cotação negativa ao conjunto das seis questões, ainda
que todas estejam erradas.
Parte II
b. “Taxa liberatória” e “taxa ad valorem”: definir cada um dos conceitos, chamando a atenção
para o facto de o segundo se aplicar sobretudo aos impostos indirectos e indicando as
disposições onde, em sede de impostos sobre o rendimento, encontramos o primeiro.
2) Explique o que entende por “equilíbrio do orçamento”, referindo as diversas aceções em que a
expressão pode ser (e é) utilizada e explicando a importância do conceito em todo o processo
orçamental. (5 val.)
A resposta deveria começar por referir a importância do equilíbrio enquanto fim último do
orçamento, indicador de uma correta previsão e afectação dos recursos disponíveis pelas
necessidades do estado. Posteriormente deveria explicar-se o porquê de nem todas as receitas (e
despesas) deverem ser consideradas para efeito do seu cálculo, indicando-se as diferentes
perspectivas possíveis (receitas e despesas efectivas/não efetivas, correntes/de capital e
ordinárias/extraordinárias), concluindo-se com a indicação das opções tomadas a este respeito na
nossa lei de enquadramento orçamental para cada um dos sub-orçamentos e explicando a
diferença entre saldo global e saldo primário.
Faculdade de Direito da Universidade do Porto
Finanças Públicas (2º ano)
Duração: 2 horas
O exame não deverá exceder UMA folha de exame
Grupo I
Grupo II
Grupo III
Refira, justificando, as principais razões pelas quais se tem vindo a colocar em causa a
sustentabilidade do financiamento do nosso sistema de Segurança Social.
Cotações: Grupo I: 2,5 val. cada alínea; Grupos II e III: 5 val. cada.
Faculdade de Direito da Universidade do Porto
Finanças Públicas (2º ano)
Critérios de correcção
Pretende‐se a noção breve, mas precisa, de cada um dos conceitos apresentados, bem como a
comparação (igualmente breve) entre ambos.
Grupo II (5 val.)
Pretende‐se que a resposta enuncie correctamente o princípio da não consignação e indique
(ainda que apenas por remissão para a lei) as suas excepções. Posteriormente deverá ser feita
uma análise crítica à afirmação transcrita, relativizando‐a em função da importância igual ou
superior de outros princípios orçamentais (em especial o do equilíbrio, mas também o da
unidade ou o da universalidade), notória quer na falta de dignidade constitucional do princípio
da não consignação, quer nas numerosas excepções que comporta.
Duração: 3 horas
Responda a todas as questões
Todos os grupos de questões têm igual valor.
O exame não deverá exceder 2 folhas de exame (8 páginas).
Grupo I
Defina o sistema de segurança social Português e a sua ligação com o normativo fiscal.
Grupo II
Distinga de um modo objectivo e claro os seguintes conceitos:
a. Imposto e taxa;
b. Taxa específica e taxa ad valorem;
c. Liquidação e pagamento;
d. Matéria colectável e rendimento tributável.
Grupo III
Defina sector empresarial do Estado, classificando-o e indicando os respectivos regimes
jurídicos.
Grupo IV
Defina objectivamente os seguintes conceitos:
a. Não consignação;
b. Pagamento por conta;
c. Taxas liberatórias;
d. Conta Geral do Estado;
e. Depreciação.
Exame
Finanças Públicas
24 de Janeiro de 2011
Critérios de correcção
Grupo II: definição breve, em cada alínea, de cada um dos dois conceitos apresentados
e contraposição das suas principais diferenças entre ambos, com recurso às normas
legais aplicáveis..
Grupo III: explicação da forma como o SEE está actualmente estruturado, com recurso
às noções de Empresa Pública, Empresa Participada e Entidade Pública Empresarial, e
aos principais problemas que este sector coloca às finanças públicas (nomeadamente à
questão da desorçamentação de que é alvo); breve explicação do respectivo regime
jurídico, com recurso às normas legais aplicáveis.
Grupo IV: definição breve, em cada alínea, de cada um dos conceitos apresentados,
com recurso às normas legais aplicáveis.
Duração: 3 horas
Responda a todas as questões
Todos os grupos de questões têm igual valor.
O exame não deverá exceder 2 folhas de exame (8 páginas).
Grupo I
Defina o sistema de segurança social Português e a sua ligação com o normativo fiscal.
Grupo II
Distinga de um modo objectivo e claro os seguintes conceitos:
Grupo III
Defina sector empresarial do Estado, classificando-o e indicando os respectivos regimes
jurídicos.
Grupo IV
Defina objectivamente os seguintes conceitos:
a. Equilíbrio;
b. Rendimentos em espécie;
c. Taxas de retenção na fonte;
d. Conta Geral do Estado;
e. Serviços integrados.
Exame
Finanças Públicas
24 de Janeiro de 2011
Critérios de correcção
Grupo II: definição breve, em cada alínea, de cada um dos dois conceitos apresentados
e contraposição das suas principais diferenças entre ambos, com recurso às normas
legais aplicáveis..
Grupo III: explicação da forma como o SEE está actualmente estruturado, com recurso
às noções de Empresa Pública, Empresa Participada e Entidade Pública Empresarial, e
aos principais problemas que este sector coloca às finanças públicas (nomeadamente à
questão da desorçamentação de que é alvo); breve explicação do respectivo regime
jurídico, com recurso às normas legais aplicáveis.
Grupo IV: definição breve, em cada alínea, de cada um dos conceitos apresentados,
com recurso às normas legais aplicáveis.
Direito Fiscal
Critérios de Correção
1. Descrever a evolução histórica do processo de coordenação
fiscal na União Europeia e identificar os principais diplomas
legislativos fiscais à luz dos princípios fiscais europeus e
internacionais.
2. Definir, objetivamente, com apelo à legislação relevante:
• Rendimentos da categoria B: ver CIRS;
Porto, 28/7/15.
Glória Teixeira
1
DIREITO FISCAL
EXAME DA ÉPOCA RECURSO
20 de JULHO de 2011
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
Os impostos sobre o rendimento apresentam-se como impostos mais complexos, preferindo-se os impostos sobre o
consumo por se tratarem de impostos mais fáceis de gerir e aplicar.
Por outro lado, os impostos sobre o património podem penalizar mais fortemente os contribuintes mas poderão
contribuir para uma melhor redistribuição da riqueza.
Definir as bases de incidência, liquidação e taxas dos impostos sobre o rendimento, consumo e
património, sob uma dupla perspectiva crítica e doutrinal.
A de 45 anos é Administrador da sociedade ABC S.A., que em 2011 apresentou um lucro contabilístico de € 450
740,00. Recebeu em Fevereiro de 2011 uma gratificação de € 25 000.00 por conta de lucros do exercício de 2010.
Além de administrador da sociedade ABC S.A., A recebeu ainda da sociedade ABC S.A., por ser accionista, o valor de €
26 000.00 de dividendos líquidos. Como administrador recebeu de ordenados € 174 351,00 em 2011 + € 17 500,00 de
subsídio de refeição + € 24 760,00 de ajudas de custo das quais apenas apresentou contas por um valor de € 12
500.00 até 31 de Dezembro de 2011. Como consultor – Economista - A recebeu durante 2011 € 24 600.00 (IVA
incluído) tendo feito retenção na fonte de € 4 300.00. Vive em união de facto desde Janeiro de 2009 com B,
Licenciada em Direito, de 40 anos. B tem uma filha C, que vive com A e B. A jovem C fez 26 anos em 2011 e está a
concluir o Mestrado na FDUP. Têm residência no Porto. B é Diplomata e trabalha na Embaixada de Portugal em
Madrid há 4 anos. Recebeu de ordenado, como diplomata, no ano de 2011 € 101 440,00. Recebeu B por liquidação e
partilha de empresa AAA Lda., onde nunca aplicou qualquer valor e da qual o pai fora sócio, o valor de € 75 000.00. A
vendeu 1 000 acções que tinha da empresa BBB, S.A. tendo contabilizado uma menos valia de € 555,00. A subscreveu
um PPR do Millennium-BCP de € 2 000.00. Aplicação idêntica e com o mesmo valor foi feita por B.
Pagaram pela propina de C na FDUP o valor de € 918,00.
Analise a situação fiscal de A, B e C no ano de 2011, preocupando-se com o enquadramento de cada informação
acima descrita, em sede de Impostos sobre o Rendimento, IVA e Segurança Social.
1
Nota: Importante esclarecer:
1. A e B podem (devem) entregar Declaração Modelo 3 de IRS conjunta?
2. B é residente, para efeitos fiscais, onde? Porquê?
A e B por cumprirem o artigo 14º nºs 1 e 2 do CIRS e Lei respectiva podem entregar declaração MODELO 3
de IRS conjunta e equiparados a contribuintes casados. Podem, mas há que analisar se devem. Para o efeito
analisar os diversos tipos de rendimento e fazer simulação de liquidação. Pode ser interessante entregar 2
declarações. Neste caso há opção, ao contrário dos contribuintes casados:
B é residente para efeitos fiscais em Portugal (Porto) nos termos da alínea d) do artigo 16º do CIRS, embora
exerça actividade no estrangeiro.
Agregado familiar A + B por opção ou A e B (individuais) por opção. C não faz parte do agregado familiar – artigo
13º nº4 alínea b) do CIRS e artigo 14º CIRS;
Sujeito Passivo A
Categoria A – ordenado, gratificação, parte de subsidio refeição (excedente nos ternos legais) ajudas de custo
( totalidade para não prestação de contas e excesso no restante)- artigo 2º nº2; nº 2 alínea b) nº 3; alínea d) nº 3;
Categoria E – Dividendos líquidos – artigo 5º nº 2 alínea h) do CIRS. Já sujeitos a taxa liberatória – artigo 71º CIRS
( possibilidade de opção por englobamento) no caso presente sem interesse;
Categoria B – Actividade por conta própria – consultoria – artigo 3º diversas alíneas do CIRS. Abordagem da
retenção na fonte e IVA;
PPR não é dedução pessoal nos termos do EBF e a partir de 01.01.2011;
Menos-valias – não são rendimento. Não há dedução de perdas na categoria G, portanto é irrelevante esta
informação;
Código Contributivo – Inclusão da actividade categoria A; solicitação de dispensa para actividades da categoria B
– artigos 46º; artigo 133º e 157º do CC
Sujeito Passivo B
Categoria A – Ordenado – artigo 2º nº 2 ;
Categoria G - Valor de liquidação e partilha a título gratuito – artigo 10º nº1 alínea b);
PPR não é dedução pessoal nos termos do EBF e a partir de 01.01.2011;
Código Contributivo – artigo 113º e seguintes do CC e Lei 12-A/2008. Se o contrato não for em funções públicas
esta abrangido pela CGA e não pelo CC
Poderia a resposta referir aspectos de taxas e períodos de liquidação nos termos do CIRS e IVA.
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Direitos
Fundamentais
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Direitos Fundamentais - 2º Ano (Época Normal - 1 de Junho de 2015)
Duração: 2h45 (Distribuição tendencial - I – 30 mn, II -1h, III - 1h)
Observação: Pode ser consultada TODA a legislação e NADA MAIS que
legislação.
2. “Nada que custe dinheiro pode ser absoluto. Nenhum direito cuja efectividade
pressupõe um gasto selectivo dos valores arrecadados pelo contribuinte pode, enfim, ser
protegido de maneira unilateral pelo poder judicial sem consideração das consequências
orçamentárias, pelas quais, em última instância, os outros dois poderes são também
responsáveis.” (Holmes e Sunstein)
3. “Não nos parece que este Tribunal [Constitucional] tenha legitimidade para eleger,
sem mais, um modelo pré-determinado de homem a seguir, que veicule as concepções
ideológicas dominantes da sociedade, quando não estão em causa interesses públicos
relevantes ou direitos fundamentais de terceiros, o que poderá conduzir a uma (…)
noção paternalista de dignidade, visando garantir a segurança do cidadão contra si
próprio, através da usurpação de parcelas da sua liberdade e autonomia individuais”.
(Benedita MacCrorie, adaptado)
4. “As questões relativas à protecção dos bens ambiente e identidade genética têm
semelhanças fundamentais: evolução histórica, decorrência de novas realidades
tecnológicas e inelutável necessidade de resolução a nível internacional”
II. Analise as seguintes situações (4 valores)
Limites imanentes
Cláusula do possível