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Patologia - Resumo Robbins 11 - Vasos Sanguíneos
Patologia - Resumo Robbins 11 - Vasos Sanguíneos
As doenças arteriais são responsáveis por mais morbidade e mortalidade do que qualquer
outra categoria de doença humana. Menos frequentemente, os distúrbios venosos causam problemas
clinicamente significativos. Os distúrbios vasculares podem provocar doença clínica através de dois
mecanismos principais:
Estreitamento ou obstrução total do lúmen, seja progressivamente (e.g., por aterosclerose)
seja repentinamente (e.g., por trombose ou embolia).
Enfraquecimento das paredes vasculares, com consequente dilatação ou ruptura.
Patologia
Células endoteliais
Muito se aprendeu ao longo da última década sobre como se formam novos vasos
sanguíneos e como eles se alteram ao longo do tempo. Estudos com peixes-zebra, facilitados pela
genética cada vez mais clara e rapidamente compreendida deste pequeno organismo,
proporcionaram insights extraordinários sobre o desenvolvimento cardiovascular, incluindo
formação de vasos sanguíneos no embrião (vasculogênese).
A formação dos vasos é um processo complexo, envolvendo interações celulares altamente
direcionadas e específicas com fatores regulatórios e substratos aderentes. A angiogênese envolve
diferenciação, proliferação e interações das células endoteliais e musculares lisas para criar novos
vasos sanguíneos maduros. A formação de um revestimento muscular confere propriedades vaso-
elásticas e vaso-motoras aos vasos sanguíneos, que conseguem suportar as demandas variáveis da
perfusão tecidual. A indução de angiogênese visando a uma melhor perfusão dos tecidos em
doenças isquêmicas é o objetivo terapêutico. Por outro lado, a angiogênese contribui para a
patogênese do desenvolvimento de tumores, artrite, retinopatia diabética e outras doenças. Assim,
uma compreensão dos mecanismos celulares e moleculares básicos da angiogênese deverá resultar,
no futuro, em terapias de estimulação ou inibição da angiogênese.
Anomalias congênitas
Arteriosclerose
Arteriosclerose (literalmente, “endurecimento das artérias”) é um termo genérico para o
espessamento e perda da elasticidade das paredes arteriais. São reconhecidos três padrões de
arteriosclerose; esses padrões variam em sua fisiopatologia e consequências clínicas e patológicas.
Aterosclerose
As pressões arteriais locais e sistêmica devem ser rigidamente controladas. Pressões muito
reduzidas provocam perfusão inadequada dos órgãos, resultando em disfunção e por fim em morte
dos tecidos sub-perfundidos. Por outro lado, pressões elevadas impulsionando o fluxo sanguíneo em
demanda metabólica excessiva não trazem nenhum benefício, e ainda podem provocar disfunção e
danos aos vasos sanguíneos e órgãos. A pressão arterial elevada é chamada hipertensão. Conforme
discutido anteriormente, a hipertensão representa um fator de risco para a aterosclerose. Nesta
seção, discutiremos primeiro os mecanismos de controle da pressão arterial normal, em seguida os
possíveis mecanismos de hipertensão, e por fim as alterações patológicas nos vasos sanguíneos de
pequeno calibre associadas á doença.
Aneurismas e dissecções
Um aneurisma é uma dilatação anormal localizada de um vaso sanguíneo ou da parede do
coração. Quando um aneurisma está delimitado por componentes da parede arterial ou da parede do
coração enfraquecidos, ele é chamado aneurisma verdadeiro. São desse tipo os aneurismas
ateroscleróticos, sifilíticos e vasculares congênitos, e o aneurisma do ventrículo esquerdo, que pode
ocorre após infarto do miocárdio. Por outro lado, um aneurisma falso (também chamado pseudo-
aneurisma) é uma brecha na parede vascular levando a um hematoma que se comunica livremente
com o espaço intra-vascular (“hematoma pulsátil”). O aneurisma falso mais comum é uma ruptura
pós-infarto do miocárdio que foi contida por uma aderência pericárdica, ou um vazamento na
junção (anastomose) de um enxerto vascular com uma artéria natural. Surge uma dissecção arterial
quando o sangue penetra a parede da artéria, como um hematoma dissecando suas camadas. As
dissecções podem ocorrer em artérias aneurismáticas, mas não sempre. Aneurismas e dissecções são
mais relevantes quando atingem a aorta. Tanto os aneurismas verdadeiros e falsos quanto as
dissecções podem causar rupturas.
As duas causas mais importantes de aneurismas da aorta são aterosclerose e degeneração
cística da média arterial. No entanto, qualquer vaso pode ser atingido por uma ampla variedade de
transtornos que enfraquecem a parede, incluindo trauma (aneurismas traumáticos ou
arteriovenosos), defeitos congênitos, como aqueles potencializados por aneurismas saculares, que
são pequenas dilatações esféricas, mais frequentemente no cérebro (capítulo 28), infecções
(aneurismas micóticos) ou sífilis. Aneurismas arteriais também podem ser provocados por doenças
sistêmicas, como em algumas vasculites.
Infecções em uma artéria importante, enfraquecendo sua parede, provocam um aneurisma
micótico. Trombose e ruptura são possíveis complicações. Aneurismas micóticos podem surgir (1) a
partir da embolia e interrupção de um êmbolo séptico em determinado ponto no interior de um vaso,
geralmente como uma complicação de endocardite infecciosa; (2) como uma extensão de um
processo supurativo adjacente; ou (3) por organismos circulantes infectando diretamente a parede
arterial.
Para objetivos descritivos, os aneurismas podem ser classificados conforme sua forma e
tamanho macroscópicos. Aneurismas saculares são essencialmente esféricos (acometendo apenas
uma porção da parede vascular), e variam entre 5 e 20cm de diâmetro, sendo frequentemente
preenchidos parcial ou completamente por um trombo. Por outro lado, os aneurismas podem ser
fusiformes (envolvendo um longo segmento). Aneurismas fusiformes variam em diâmetro (até
20cm) e em comprimento; muitos acometem grandes segmentos da aorta abdominal ou mesmo das
ilíacas. Contudo, essas formas não são específicas para nenhuma doença ou manifestação clínica.
Não está claro se os imunocomplexos são depositados nas paredes vasculares a partir da
circulação, se são formados no próprio local, ou ambos (capítulo 6). Contudo, muitas vasculites de
vasos de pequeno calibre apresentam uma escassez de depósitos de imunocomplexos vasculares,
portanto devem ser investigados outros mecanismos para essas vasculites pauci-imunes.
Anticorpos anti-citoplasma de neutrófilos. O plasma de muitos pacientes com vasculite
reage com antígenos citoplasmáticos nos neutrófilos, indicando a presença de anticorpos anti-
citoplasmáticos de neutrófilos (ANCA). Os ANCA são um grupo heterogêneo de auto-anticorpos
direcionados contra certas enzimas encontradas principalmente no interior dos grânulos azurófilos
ou primário em neutrófilos, no lisossoma de monócitos e nas células endoteliais. A descrição desses
anticorpos se baseia nos padrões de coloração por imuno-fluorescência de neutrófilos fixados por
etanol. Dois padrões principais são reconhecidos: um deles revela uma localização citoplasmática
da coloração (c-ANCA), e o antígeno-alvo mais comum é a proteinase-3 (PR-3), um constituinte
dos grânulos de neutrófilos. O segundo padrão apresenta coloração perinuclear (p-ANCA), sendo
geralmente mais específico para mieloperoxidase (MPO). Ambas as especificidades de ANCA
podem ocorrer em um paciente com vasculite de vasos de pequeno calibre, mas c-ANCA é
encontrada tipicamente na granulomatose de Wegener, enquanto p-ANCA é encontrada na maior
parte dos casos de poliangeíte microscópica e síndrome de Churg-Strauss. As doenças
caracterizadas por ANCA circulantes são chamadas vasculites associadas aos ANCA.
Os ANCA servem como marcadores diagnósticos quantitativos úteis para essas condições, e
seus níveis podem refletir o grau da atividade inflamatória. Os ANCA se elevam em recorrências,
sendo, portanto, úteis em sua administração. Além disso, a forte associação entre títulos de ANCA e
a atividade da doença, particularmente c-ANCA na granulomatose de Wegener, sugere que eles
podem ser importantes na patogênese dessa doença. Dados experimentais são compatíveis com um
mecanismo fisiopatológico para respostas auto-imunes contra ANCA e/ou antígenos de ANCA
nessas doenças, mas os mecanismos exatos são desconhecidos. No entanto, ainda não há provas
definitivas de que os ANCA exerçam um papel etiológico no desenvolvimento da vasculite
sistêmica.
Uma hipótese plausível para o papel dos ANCA como um fator etiológico na vasculite pode
ser resumida da seguinte forma. (1) Uma doença subjacente (e.g., uma infecção) induz citocinas
pró-inflamatórias como TNF e fator estimulador de colônias de macrófagos e granulócitos, e
produtos microbianos como endotoxinas, que juntos provocam a expressão de PR3 e MPO por
neutrófilos e outras células inflamatórias em suas superfícies. (2) Essas estimulam a formação de
ANCA. (3) Os ANCA reagem com neutrófilos marcados por citocinas circulantes, causando sua
desgranulação. (4) PMN ativados por ANCA provocam toxicidade celular e outras lesões teciduais
diretas. É interessante notar que ANCA direcionados contra outros constituintes dos neutrófilos,
além do PR3 e MPO, também são encontrados em alguns pacientes com amplo espectro de doenças
inflamatórias além de vasculite, como doença inflamatória intestinal, doença hepática auto-imune,
colangite esclerosante primária e artrite reumatoide, e em alguns pacientes com malignidades e
infecções.
Anticorpos anti-células endoteliais. Anticorpos contra células endoteliais, talvez induzidos
por defeitos na regulação imune, podem predispor a determinadas vasculites, como aquelas
associadas com LES e doença de Kawasaki.
Classificação. As vasculites sistêmicas são classificadas de acordo com o tamanho dos
vasos sanguíneos atingidos, com o local anatômicos e as características histológicas da lesão e com
a as manifestações clínicas da doença. Há uma sobreposição clínica considerável entre esses
transtornos.
Fenômeno de Raynaud
O fenômeno de Raynaud é caracterizado por uma palidez paroxísmica dos dedos das mãos
ou dos pés, sendo frequente o acometimento das extremidades do nariz ou das arelhas (partes
acrais) em decorrência da vasoconstrição induzida pelo frio das artérias digitais, arteríolas pré-
capilares e shunts arteriovenosos cutâneos. Caracteristicamente, os dedos mudam de cor seguindo
uma sequência branco-azul-vermelho. Alterações estruturais nas paredes arteriais estão ausentes,
exceto numa fase tardia da evolução, quando o espessamento da íntima pode surgir. O fenômeno de
Raynaud reflete um exagero das respostas vasomotoras normais centrais ou locais ao frio ou a
emoções. A prevalência na população geral é de aproximadamente 3% a 5%; a idade média dos
indivíduos atingidos é de 14 anos. Um quarto dos pacientes possui história familiar de fenômeno de
Raynaud em parentes de primeiro grau. O curso do fenômeno de Raynaud é geralmente benigno,
mas casos de longa data podem apresentar atrofia da pele, de tecidos sub-cutâneos e músculos.
Ulceração e gangrena isquêmica são raras.
Contrastando com o fenômeno de Raynaud não-complicado ou primário, o fenômeno de
Raynaud secundário se refere á insuficiência arterial das extremidades causada por diversas
condições, incluindo LES, esclerose sistêmica (esclerodermia), aterosclerose ou doença de Buerger.
De fato, uma vez que o fenômeno de Raynaud pode ser a primeira manifestação dessa condições,
todos os pacientes que manifestam a condição devem se submeter a avaliação, para eliminar uma
causa subjacente, que será aparente em sua apresentação ou irá se desenvolvimento posteriormente
em aproximadamente 10% dos pacientes. Características que sugerem fenômeno de Raynaud
secundário incluem idade de início da doença após os 30 anos, episódios mais severos, lesões
cutâneas associadas e aspectos clínicos de doença do tecido conjuntivo.
Veias e linfáticos
As veias varicosas e flebotrombose/tromboflebite juntas respondem por pelo menos 90%
das doenças venosas clínicas e são discutias mais adiante.
Tumores
Os tumores dos vasos sanguíneos e linfáticos compreendem um espectro que inclui desde
hemangiomas benignos (alguns considerados hamartomas) até lesões intermediárias, agressivas
localmente mas raramente metastáticas, e raros angiossarcomas altamente malignos. Além disso,
mal-formações congênitas podem se apresentar com lesões semelhantes a tumores, assim como o
fazem algumas outras proliferações vasculares reativas não-neoplásicas, com angiomatose bacilar.
Por essas razões, as neoplasias vasculares são difíceis de categorizar clínica e histologicamente.
Neoplasias desse grupo apresentam diferenciação celular endotelial (e.g., hemangioma,
linfangioma, angiossarcoma), ou parecem ser derivadas de células que sustentam ou circundam os
vasos sanguíneos (e.g., tumor glômico, hemangiopericitoma). A maior parte dessas lesões ocorre em
tecidos moles e vísceras. Tumores primários dos vasos de grande calibre, como a aorta, artéria
pulmonar e veia cava, são extremamente raros, sendo a maioria sarcomas do tecido conjuntivo.
Ainda que um hemangioma benigno bem diferenciado possa ser prontamente distinguido de
um angiossarcoma anaplásico de alto grau na maioria dos casos, a divisão entre benignos e
malignos não é nítida em alguns casos. No entanto, os seguintes critérios são úteis:
A derivação endotelial de proliferações neoplásicas que não formam lúmen vascular distinto
pode ser geralmente confirmada por demonstração imuno-histoquímica de marcadores específicos
de endotélio, como CD31, CD34 ou FvW. Como essas lesões constituem anormalidades de
proliferação vascular desregulada, a possibilidade de controlar esse crescimento com agentes
inibidores de formação de vasos sanguíneos (fatores anti-angiogênicos) é particularmente
entusiasmante.