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Resumo e Análise Crítica Do Estatuto Da Metrópole - Lei Federal #13.089 de 12 de Janeiro de 2015 - e Lei Complementar #1.166 de 9 de Janeiro de 2012.
Resumo e Análise Crítica Do Estatuto Da Metrópole - Lei Federal #13.089 de 12 de Janeiro de 2015 - e Lei Complementar #1.166 de 9 de Janeiro de 2012.
CLARA VANZELLA
7° SEMESTRE B
TAUBATÉ
03 DE ABRIL DE 2020
SUMÁRIO
3. ANÁLISE CRÍTICA
1. ESTATUTO DA METRÓPOLE
É uma lei federal, sancionada no dia 12 de janeiro, que tem o objetivo de criar regras para a
governança compartilhada de grandes aglomerados urbanos que envolvam mais de um
município, como já acontece nas principais capitais do Brasil. Ela fixa diretrizes gerais para o
planejamento, a gestão e a execução de políticas públicas em regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas instituídas pelos estados.
Não se pode confundir o Estatuto da Metrópole (Lei n. 13.089/2015) com o Estatuto da Cidade
(Lei n. 10.257/2001). Ambas estabelecem diretrizes gerais para o desenvolvimento urbano (art.
182 da CF/88), havendo, no entanto, diferença entre o âmbito principal de incidência de cada
uma delas:
Embora sejamos inclinados a considerar tal esforço teórico-conceitual não apenas positivo, mas
essencial, sua pertinência e qualidade são discutíveis, visão que será discutida, posteriormente,
na seção destinada à análise teórico-conceitual e crítica do Estatuto. Salientamos, nessa análise
descritiva do arcabouço conceitual apresentado no Capítulo I do Estatuto da Metrópole, os
conceitos de “aglomeração urbana, metrópole e região metropolitana”.
O Estatuto entende por aglomeração urbana uma “unidade territorial urbana constituída pelo
agrupamento de 2 (dois) ou mais municípios limítrofes, caracterizada por complementaridade
funcional e integração das dinâmicas geográficas, ambientais, políticas e socioeconômicas”
(ibid., art. 2, inciso I). Aqui, encontramos uma das primeiras inconsistências do arcabouço
conceitual do Estatuto, ao não definir o que seria uma “unidade territorial urbana”.
No caso da metrópole, o Estatuto a define como:
[...] espaço urbano com continuidade territorial que, em razão de sua população e
relevância política e socioeconômica, tem influência nacional ou sobre uma região que
configure, no mínimo, a área de influên cia de uma capital regional, conforme os
critérios adotados pela Fundação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (Ibid.,
inciso V)
Tal classificação tem como referência a área de influência de um único município sobre a região
em que se encontra. No entanto, o Estatuto procura aplicar essa definição para um “espaço
urbano com continuidade territorial”, sem definir, porém, o que seria continuidade territorial.
Por fim, para obter status de região metropolitana, é preciso ser, segundo o Estatuto,
“aglomeração urbana que configure uma metrópole” (Brasil, 2015a, art. 2, inciso VII). Tais
constatações nos levam a refletir sobre o que seria uma “unidade territorial urbana” que
configure um espaço urbano de “continuidade territorial”, algo que o dispositivo não define.
Ainda, supondo-se que seja possível compreender a forma urbana descrita pelo Estatuto, a
definição traz problemas de delimitação de escala, como será analisado mais adiante.
O Capítulo II trata dos requisitos para a formalização das RMs e AUs, determinando que estados
e municípios inclusos nessas unidades promovam a governança interfederativa (ibid. art. 3, §
único), modelo sobre o qual parece recair grande parte dos esforços desta lei. As leis
complementares estaduais, responsáveis por instituir essas unidades, deverão prever, além dos
municípios integrantes, as FPICs que justificam a medida, a estrutura de governança
interfederativa e os meios de controle social da organização, do planejamento e da execução
das FPICs (ibid., art. 5º, I a IV). No processo de elaboração da lei complementar, será exigido
embasar os critérios técnicos adotados para a definição dos municípios integrantes e das FPICs
que justificam a medida (ibid., art. 5, §1º).
• GOVERNANÇA INTERFEDERATIVA
No Capítulo IV, a lei trata dos instrumentos para sua efetivação, quais sejam: PDUI, planos
setoriais interfederativos, fundos públicos, operações urbanas consorciadas interfederativas,
consórcios públicos, convênios de cooperação, contratos de gestão e parcerias público-privadas
interfederativas (ibid., art. 9). Dentre eles, o principal destaque é o PDUI, que deverá ser
instituído por lei estadual revista, pelo menos, a cada 10 anos (ibid., arts. 10 e 11). Requisitos de
conteúdo e de procedimento do plano foram balizados no art. 12.
O Capítulo V, por sua vez, trata da atuação da União, principalmente no que concerne o apoio à
governança interfederativa. Exigir-se-á, nesse sentido, que a “unidade territorial urbana” possua
gestão plena, nos termos da lei (ibid., art. 14), para que seja reconhecida pela União. Além disso,
as RMs instituídas mediante lei complementar estadual, que não atenderem ao que é definido
como região metropolitana pelo estatuto (ibid., art. 2, inciso VII), serão enquadradas como
“aglomeração urbana”, para efeito das políticas públicas a cargo da União (ibid., art. 15).
1.6. CAPÍTULO VI - DISPOSIÇÕES FINAIS
Por fim, o Capítulo VI, que trata das disposições finais, aproveita para institucionalizar o já
bastante debatido Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano – SNDU. O Estatuto o identifica
como coordenador da implementação da lei, assegurando-se a participação da sociedade civil
(ibid., art. 20). Esse capítulo é também incisivo quanto a omissão ou mora na elaboração e
aprovação do PDUI (ibid., art. 21).
A Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte tem por objetivo promover o
planejamento regional para o desenvolvimento socioeconômico e a melhoria da qualidade de
vida; a cooperação entre diferentes níveis de governo, mediante a descentralização, articulação
e integração de seus órgãos e entidades da administração direta e indireta com atuação na
região, visando ao máximo aproveitamento dos recursos públicos a ela destinados; a utilização
racional do território, dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente, dos bens culturais
materiais e imateriais; a integração do planejamento e da execução das funções públicas de
interesse comum aos entes públicos atuantes na região; a redução das desigualdades regionais.
Fica o Poder Executivo autorizado a criar, mediante lei complementar, entidade autárquica de
caráter territorial, com o fim de integrar a organização, o planejamento e a execução das funções
públicas de interesse comum da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, sem
prejuízo das competências de outras entidades envolvidas, em conformidade com o disposto no
artigo 17, “caput”, da Lei Complementar nº 760, de 1º de agosto de 1994. Caberá à autarquia,
arrecadar as receitas próprias ou as que lhe sejam delegadas ou transferidas, inclusive multas e
tarifas relativas a serviços prestados; elaborar planos, programas e projetos de interesse comum
e estratégico, estabelecendo objetivos e metas, bem como fiscalizar e avaliar sua execução;
promover a desapropriação de bens declarados de utilidade pública, quando necessários à
realização de atividades de interesse comum; exercer outras atribuições que lhe sejam
conferidas por lei.
No Capítulo IV, a lei trata da criação do Fundo após definição de suas diretrizes pelo Conselho
de Desenvolvimento por meio de um novo projeto de lei a ser enviado pelo governo à
Assembleia. Ele será o responsável por dar suporte financeiro ao planejamento e as ações na
região metropolitana com financiamentos e investimentos em planos, projetos, programas,
serviços e obras. Os recursos do Fundo serão provenientes do orçamento do Estado, dos
municípios, transferências da União, doações de pessoas físicas ou de empresas e empréstimos
de organismos internos e externos, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
por exemplo. Está previsto ainda que no caso das contribuições dos municípios, o critério a ser
seguido poderá ser, entre outros, o da arrecadação da receita per capita de cada município.
O Capítulo V, por sua vez, trata da atuação dos Municípios e o Estado para compatibilizar, no
que couber, seus planos, programas e projetos com as diretrizes metropolitanas estabelecidas
em lei ou fixadas pelo Conselho de Desenvolvimento.
Por fim, o Capítulo VI, que trata das disposições transitórias, reforça que enquanto o Conselho
de Desenvolvimento não especificar as funções públicas de interesse comum, prevalecerão as
compreendidas nos seguintes campos funcionais: planejamento e uso do solo; transporte e
sistema viário regional; habitação; saneamento ambiental; meio ambiente; desenvolvimento
econômico; atendimento social; esportes, lazer e cultura; turismo; agricultura e agronegócio.
3. ANÁLISE CRÍTICA
A lei complementar número 1.166, que criou a RMVPLN, aprovada em 2012, previa a criação de
um Conselho e um Fundo de Desenvolvimento da RMVPLN, tendo ambos sido instituídos, o
Conselho em 2012 e o Fundo em 2013. Na sequência, por meio do Decreto número 61.256, de
08 de maio de 2015, aconteceu a aprovação do regulamento da Agência Metropolitana do Vale
do Paraíba e Litoral Norte (AGEMVALE), posteriormente implementada através da Lei
Complementar número 1.258, de 12 de janeiro de 2015.
Atualmente, verifica-se que a RMVPLN, em termos práticos, pouco avançou desde a sua criação,
considerando o prazo para a elaboração do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI),
anteriormente fixado pelo Estatuto da Metrópole (lei número 13.089/2015), para realizar- se
em 2018.
O Vale do Paraíba é cortado pela mais importante rodovia do país, a Presidente Dutra, que
somada às demais rodovias longitudinais e transversais que servem a região, ao que ainda resta
da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, ao Porto de São Sebastião e aos aeroportos de São
José dos Campos, Guaratinguetá e Ubatuba, constitui um complexo sistema de circulação de
pessoas e mercadorias com muito potencial e ao mesmo tempo com grandes problemas
estruturais e desafios a serem transpostos. Desafios esses que estão a demandar por ações
planejadas e desenvolvidas de forma integrada, preferencialmente com o envolvimento dos três
níveis de governo e com intensa participação dos representantes dos interesses locais.
A teoria urbana crítica, que leva em consideração os amplos contextos econômicos, geopolíticos
e históricos, afirma, entre outras coisas, que existe um permanente conflito por hegemonia dos
meios político-econômicos na sociedade, conflitos esses que se expressam nas formas
ideológicas e materiais, tendo a sociedade urbana como elemento comum e o urbano como um
tecido dinâmico, perpassado em todo território (LEFEBVRE, 2008; BRENNER, 2018).
O cenário urbano metropolitano pode ser interpretado como uma resposta à necessidade de
criar ambientes mais dinâmicos e modernos para atender os parâmetros de economia
globalizada e a demanda por medidas que amenizem os problemas sociais, econômicos e
ambientais. Na escala regional a dificuldade seria ainda maior, uma vez que, no território
policêntrico, as pressões populares são dirigidas diretamente aos governos locais, cobrando
soluções para problemas de alcance regional (FREY, 2007).
A questão da institucionalidade é importante nesse debate, por ser uma linha teórica que tem
dado contribuições para a compreensão crítica a respeito das maneiras como caminham o
planejamento das RMs ao longo do tempo, maneiras essas expressas nos meios, regras e
instrumentos utilizados pelos agentes governamentais ou não-governamentais dentro de uma
estrutura de poder, p. ex., a delimitação de escalas administrativas, criação de leis e
regulamentos, implementação de agências, formação de parcerias técnicas ou políticas,
regulamentação do uso do solo, planos diretores.
A relação entre o uso da terra (enquanto mercadoria) e o provimento de bens comuns, gera
conflito, pois os interesses são muito variados e os recursos e possibilidades, escassas. A maneira
de resolução dos conflitos, é particular de cada localidade, em termos da questão do uso da
terra. Por exemplo, as experiências de orçamento participativo, plano diretor participativo, etc,
ao pensar a questão do uso da terra, entre outras questões contingentes, passam pela reflexão
a respeito das disputas e conflitos de interesses.