Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Grupo I
Parte A
Parte B
Lê o excerto d’Os Lusíadas.
19 Já no largo Oceano1 navegavam, 20 Quando os Deuses no Olimpo5 luminoso,
As inquietas ondas apartando; Onde o governo está da humana gente,
Os ventos brandamente respiravam, Se ajuntam em consílio glorioso,
Das naus as velas côncavas inchando; Sobre as cousas futuras do Oriente.
Da branca escuma os mares se mostravam Pisando o cristalino Céu fermoso6,
Cobertos, onde as proas vão cortando Vêm pela via Láctea7 juntamente,
As marítimas águas consagradas2, Convocados, da parte de tonante8,
Que do gado de Próteu3 são cortadas4, Pelo neto gentil do velho atlante9. […]
1 4 7
Oceano Índico. Cruzadas; sulcadas. estrada de Santiago.
2 5 8
Sagradas; santificadas. Morada dos deuses. Júpiter, deus dos raios e trovões.
3 6 9
Filho de neptuno, guardador dos seres marinhos. Céu estrelado. Mercúrio, mensageiro dos deuses.
(Precedem os antigos, mais honrados,
22 Estava o Padre10 ali, sublime e dino, Mais abaixo os menores se assentavam);
Que vibra os feros raios de vulcano11, Quando Júpiter alto, assi dizendo,
Num assento de estrelas cristalino, Cum tom de voz começa grave e horrendo: […]
Com gesto alto, severo e soberano;
Do rosto respirava um ar divino, 25 «Já lhe foi (bem o vistes) concedido,
Que divino tornara um corpo humano; Cum poder tão singelo e tão pequeno,
Com ûa coroa e ceptro12 rutilante, Tomar ao Mouro forte e guarnecido
De outra pedra mais clara que diamante. Toda a terra15 que rega o tejo ameno.
Pois contra o Castelhano tão temido
23 Em luzentes assentos, marchetados 13 Sempre alcançou favor do Céu sereno:
De ouro e de perlas, mais abaixo estavam Assi que sempre, enfim, com fama e glória,
Os outros Deuses, todos assentados Teve os troféus16 pendentes da vitória. […]
Como a razão e a Ordem concertavam14
DESAFIOS • Português • 9.º ano • Material fotocopiável © Santillana-Constância
29 «E porque, como vistes, têm passados
Na viagem tão ásperos perigos, 30 Estas palavras Júpiter dizia,
Tantos climas e céus experimentados, Quando os Deuses, por ordem respondendo,
Tanto furor de ventos inimigos, Na sentença19 um do outro diferia,
Que sejam, determino, agasalhados17 Razões diversas dando e recebendo.
Nesta costa africana como amigos; O padre baco20 ali não consentia
E, tendo guarnecido a lassa18 frota, No que Júpiter disse, conhecendo
Tornarão a seguir sua longa rota.» Que esquecerão seus feitos no Oriente
Se lá passar a Lusitana gente. […]
33 Sustentava contra ele vénus21 bela,
Afeiçoada à gente Lusitana
Por quantas qualidades via nela
Da antiga, tão amada, sua romana;
Nos fortes corações, na grande estrela
Que mostraram na terra tingitana22,
E na língua, na qual quando imagina,
Com pouca corrupção crê que é a Latina.
34 Estas causas moviam Citereia23,
E mais, porque das Parcas24 claro entende
Que há de ser celebrada a clara Deia25
Onde a gente belígera26 se estende.
Assi que, um27, pela infâmia que arreceia,
E o outro28, pelas honras que pretende,
Debatem, e na perfia permanecem;
A qualquer seus amigos favorecem. […]
36 Mas Marte29, que da Deusa sustentava
Entre todos as partes em porfia,
Ou porque o amor antigo o obrigava,
Ou porque a gente forte o merecia,
De antre os Deuses em pé se levantava:
Merencório30 no gesto parecia;
O forte escudo, ao colo31 pendurado,
Deitando pera trás, medonho e irado;
LUÍS DE CAMÕES, Os Lusíadas, edição de Álvaro Júlio da Costa Pimpão e apresentação de Aníbal Pinto de Castro,
2.ª ed., Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1989.
3
Júpiter, pai dos deuses. Deusa da beleza e do amor.
11 22
Filho de Júpiter e de Juno, deus do fogo. Tânger, por extensão, o norte de África.
12 23
Bastão régio, símbolo da autoridade. Epíteto (alcunha) atribuído a vénus.
13 24
Esmaltados. As três divindades que presidiam aos destinos do homem.
14 25
Determinavam. Vénus.
15 26
Alusão à conquista de Lisboa da estremadura. Guerreira.
16 27
Despojos das batalhas. Baco.
17 28
Acolhidos. Vénus.
18 29
Fatigada. Filho de Júpiter, deus da guerra. Amou vénus, de quem
19
Opinião. teve um filho: Cupido.
20
Filho de Júpiter, deus do vinho: era Senhor da Índia 30
Zangado.
31
e adorado no Oriente. Pescoço.
4 O narrador inicia o seu relato quando a ação já está a decorrer (estância 19).
4.1 Como se designa este processo de narração característica da epopeia? Justifica a tua resposta com
elementos textuais.
4.2 Refere o plano narrativo presente na estância 19 e a sua importância para o desenvolvimento
da epopeia camoniana.
7 Tendo em conta as estâncias 25 e 26, apresenta a decisão previamente tomada pelo «Padre […]
sublime e dino» bem como os fundamentos que a apoiam.
Parte C
9.1 Comenta a afirmação proferida, tendo em conta o contexto em que a obra-prima camoniana se
insere, a intenção do seu autor e as características da epopeia.
Num texto de 70-120 palavras, prova a veracidade da afirmação. O teu texto deve incluir:
• uma parte inicial, em que abordes a contextualização d'Os Lusíadas;
• uma parte de desenvolvimento, em que definas o conceito de epopeia e as suas características;
• uma parte final, em que refiras a intenção do autor.
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.
1 Substitui cada alínea por uma palavra adequada, de modo a obteres três famílias de palavras
constituídas por um nome, um verbo e um adjetivo.
2 Considerando o excerto d’Os Lusíadas, na parte B do grupo I, seleciona, para responderes a cada
item (2.1 a 2.3), a única opção que permite obter uma afirmação correta.
Escreve o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
2.1 Nos versos «Com ûa coroa e ceptro rutilante, / De outra pedra mais clara que diamante.» (estância 22),
está presente uma
(A) sinédoque.
(B) antonomásia.
(C) personificação.
(D) apóstrofe.
2.2 Na passagem «Estas palavras Júpiter dizia, / Quando os Deuses, por ordem respondendo, /
Na sentença um do outro diferia» (estância 30), o segmento sublinhado inicia uma oração
(A) subordinada adverbial temporal.
(B) subordinada adverbial final.
(C) subordinada adverbial consecutiva.
(D) subordinada adverbial causal.
2.3 Na passagem «Assi que, um, pela infâmia que arreceia, / E o outro, pelas honras que
pretende, / Debatem, e na perfia permanecem;» (estância 34), os segmentos sublinhados
desempenham a função sintática de
(A) sujeito composto.
(B) sujeito nulo expletivo.
(C) modificador do nome apositivo.
(D) agente da passiva.
Grupo III