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HARMONIZAÇÃO DE MELODIA CROMÁTICA

I. MELODIAS CROMÁTICAS ASCENDENTES

Uma linha melódica predominantemente cromática pode ser


harmonizada através do emprego de acordes alterados, especialmente aqueles
que têm função de dominante secundária.
O princípio geral básico para a harmonização de melodia cromática
através de acordes com função de dominante secundária consiste em se tomar
a nota alterada, que é conduzida por semitom, como sensível que irá resolver
em um acorde diatônico, isto é, pertencente à tonalidade.
Assim, a forma mais simples de harmonizar o segmento cromático do
ex. 1, que parte da tônica em direção ao II grau melódico através de um
cromatismo, seria considerar a nota dó# como sensível de ré e harmonizá-la
com um acorde de dominante da subdominante relativa.

Exemplo nº 1

Seguem-se os mesmos princípios de condução de vozes da resolução


de acordes de sétima da dominante, isto é, se o acorde de dominante
secundária está completo (com a quinta e a sétima), o acorde de resolução
será incompleto [cf. ex. 2(a)]; se o acorde de dominante secundária está
incompleto (sem a quinta ou a sétima), o acorde de resolução será completo
[cf. ex. 2(b)].
Exemplo nº 2

No segmento melódico a seguir, em que se obtêm quatro notas


cromáticas com apenas uma alteração,

Exemplo nº 3

a forma mais simples de harmonizar seria considerar a nota fá# como


sensível de sol e harmonizá-la com um acorde de dominante da dominante [cf.
ex. 4(a)].

Exemplo nº 4

Também é possível, no segmento melódico anterior, tomar-se a nota mi


como sensível de fá e harmonizá-la com um acorde de C7, isto é, dominante
da subdominante [cf. ex. 4(b)]. Note-se que, para compensar a aparente falsa
relação existente entre baixo e soprano, inseriu-se uma nota de passagem (mi).
Na verdade, não se considera esse tipo encadeamento como uma falsa relação
inadequada, pois na voz de soprano ocorre o movimento cromático que resolve
o problema da falsa relação.

Além do emprego de acordes de sétima da dominante, segmentos


melódicos cromáticos podem ser harmonizados com acordes de sétima
diminuta e com sextas aumentadas (italiana, alemã ou francesa), sempre que
isso for preferível por parte do harmonizador. Essas escolhas não mudam a
funcionalidade harmônica, pois tanto um acorde maior com sétima menor,
quanto acordes diminutos e de sexta aumentada têm função de dominante.
Assim, a nota fá# do ex. , poderia ser harmonizada como a fundamental
de uma sétima diminuta com função de dominante da dominante, ou seja,
como F#º em qualquer inversão [cf. ex. 5(a)]. Também seria possível
harmonizar essa nota com um acorde de Ab7, que seria uma sexta italiana [cf.
ex. 5(b)] ou uma sexta alemã [cf. ex. 5(c)]; se a mesma nota fosse harmonizada
com um acorde de Ab7(5b), seria entendida como uma sexta francesa [cf. ex.
5(d)].

Exemplo nº 5

Todos esses acordes têm a função de dominante da dominante.

No encadeamento a seguir, é realizada uma linha cromática, no baixo,


em movimento contrário ao soprano. Para isso, basta harmonizar o primeiro
acorde do segmento como sendo um C/Bb, ou seja, uma dominante da
subdominante com a sétima no baixo [cf. ex. 6].
Exemplo nº 6

Ao serem aplicados os mesmos processos descritos acima a qualquer


grau de uma tonalidade maior ou menor, tem-se a possibilidade de
harmonização de melodias cromáticas através de dominantes secundárias,
sétimas diminutas e acordes alterados de sexta aumentada.

EXCEÇÃO
Uma exceção comum no modo maior, na música tonal mais estrita, é a
harmonização do sétimo grau bemolizado da escala (nota: sib), que
normalmente é tratado como uma subdominante da subdominante, podendo
ser harmonizado com um acorde de Bb [cf. ex. 7(a)] ou com um acorde de Gm
[cf. ex. 7(b)], sendo o primeiro mais característico, porque evita a conversão da
terça menor em terça maior, no mesmo acorde, quando conduz para a
dominante cadencial.
Exemplo nº 7

No ex. 7(a), acima, o acorde de Bb/D poderia ser preparado por uma
dominante secundária em terceira inversão, conforme mostra o exemplo
abaixo.

Exemplo nº 8

ENARMONIA
O mesmo som que é entendido, nos exemplos acima, como um sétimo
grau bemolizado (nota: sib), poderia ser tratado enarmonicamente como se
fosse o sexto grau alterado ascendentemente (nota: lá#), o que é incomum na
música de caráter diatônico, pois se produz, dessa maneira, uma sensível da
sensível. Em passagens amplamente cromáticas, torna-se mais comum esse
tipo de harmonização, pois em vários segmentos há sensíveis que resolvem de
maneira incomum, com o sentido de produzir seqüência de dominantes.
Quando se entende a subtônica como sensível da sensível, pode-se
harmonizar o sexto grau sustenizado como uma dominante secundária, sendo
o acorde de sétima diminuta o mais comumente empregado nesse sentido [cf.
ex. ].
Exemplo nº 9

No exemplo acima, uma passagem amplamente cromática em que a


maior parte dos acordes é alterada, um acorde de sétima diminuta empregado
como dominante da sensível aparece de maneira natural, no início do quarto
compasso. Note-se que, no ex. 9, acordes de dominante secundária resolvem
através de movimentos deceptivos, no c. 2, no c. 3 e no c. 4. Esse tipo de
procedimento é bastante comum em segmentos cromáticos, especialmente
quando são extrapoladas as origens diatônicas de certas passagens.

EXERCÍCIO PARA O DIA 03/11/2006


Harmonizar uma escala cromática ascendente, em Sol Menor.

(Note-se que o segundo grau está escrito como láb e deve ser tratado
assim; o mesmo serve para as outras notas escritas com bemóis, assim como
o fá natural – a questão é: como harmonizar estas notas?).

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