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MERCOSUR en Revista

EDUCACIÓN, TECNOLOGÍA Y SUTENTABILIDAD

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E O SEU DESENVOLVI-


MENTO NA EDUCAÇÃO ESCOLAR

Adejalmo Moreira ABADI

RESUMO
Este Trabalho visa analisar as possibilidades do desenvolvimento da
Inteligência Emocional na Educação Escolar. Delimitou-se como pro-
blema, saber quais os aspectos que podem ser considerados como
fatores de desenvolvimento da Inteligência Emocional na Educação
Escolar. A pesquisa foi de natureza bibliográfica do tipo qualitativo
e método hermenêutico de análise dos conceitos referentes à Inteli-
gência Emocional e os princípios da Educação Escolar. A justificativa
é o desenvolvimento da Teoria da Inteligência Emocional com base
nas previsões da legislação escolar. A conclusão é de que a educa-
ção escolar contempla o desenvolvimento da Inteligência Emocional
através das suas práticas conforme previsto na legislação educacio-
nal básica.
Palavras – Chave: Educação Escolar, Inteligência Emocional.

RESUMEN
Este trabajo busca analizar las posibilidades del desarrollo de la In-
teligencia Emocional en la Educación Escolar. Se delimitó como pro-
blema, saber cuáles son los aspectos que pueden ser considerados
como factores de desarrollo de la Inteligencia Emocional en la Edu-
cación Escolar. La investigación fue de naturaleza bibliográfica del
tipo cualitativo y método hermenéutico de análisis de los conceptos
referentes a la Inteligencia Emocional y los principios de la Educación
Escolar. La justificación es el desarrollo de la Teoría de la Inteligencia
Emocional con base en las previsiones de la legislación escolar. La
conclusión es que la educación escolar contempla el desarrollo de la
Inteligencia Emocional a través de sus prácticas conforme a lo previs-

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to en la legislación educacional basica.
Palabras Clave: Educación Escolar, Inteligencia Emocional.

1 INTRODUÇÃO
Este trabalho de pesquisa bibliográfica tem como objetivo Analisar
as relações do desenvolvimento da Inteligência Emocional na Educação
Escolar e, como problema, saber quais os aspectos que podem ser con-
siderados como fator de desenvolvimento da Inteligência Emocional
na Educação Escolar?
A justificativa da pesquisa é relacionar a Teoria da Inteligência
Emocional com base nas previsões da legislação escolar, visto que
o homem como ser social necessita, desde o início ao final da vida,
construir-se como autônomo em termos de governança emocional e
autoconhecimento para enfrentar os obstáculos e os dilemas do de-
correr da existência, bem como das relações com seus semelhantes
e com a natureza de maneira geral. E, a escola e a educação escolar/
formal como instrumento do desenvolvimento humano pode tornar-se
a oportunidade de maior importância ao indivíduo.
Atualmente há diferentes modelos, modalidades e formas da Edu-
cação Escolar, cada uma com suas metodologias e currículos especí-
ficos, além do que, com o processo da globalização econômica, das
informações e da evolução do conhecimento, há que se considerar o
forte impacto das tecnologias nas ações educacionais, como fator de
geração de facilidades e possibilidades no processo de ensino e de
aprendizagem.
Entretanto, não é suficiente ter as melhores máquinas, equipa-
mentos, recursos financeiros, instalações, softwars, mídias e os mais
diferentes instrumentos e materiais didático-pedagógicos se não hou-
ver o desenvolvimento dos aspectos socioemocionais nos estudantes,
como motivação, domínio das emoções, compromisso e espírito de
cooperação e outros, através de exploração da Inteligência Emocio-
nal. Ou seja, quando a educação escolar não inclui sentimentos e o
autoconhecimento do ser humano, não vai além de ser instrução pura
e simplesmente.
Para o desenvolvimento da Inteligência Emocional através da edu-
cação, parte-se da convicção de que a escola deve promover situações
que permitam ampliar os aspectos de sensibilidade, caráter e auto-
conhecimento dos alunos, porque se pretendermos que as crianças e
jovens sejam bem sucedidas na vida, devemos começar o mais cedo
possível os processos de ensino e aprendizagem socioemocional,

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para que os resultados sejam melhores e mais sólidos ao longo da
existência e, não apenas dar ênfase aos conteúdos técnicos. Visto que,
se bem desenvolvidas as habilidades de Inteligência Emocional há o
desenvolvimento do pensamento, o sentido positivo da vida, o respei-
to, etc..., aspectos que vão permitir aos alunos não só a sobrevivência,
mas para fazê-la com sucesso. (GOMES 2011).
A Inteligência Emocional é conceituada basicamente como a habi-
lidade que uma pessoa possui de perceber e administrar suas próprias
emoções e também, de compreender as emoções de outras pessoas,
sendo um conceito relacionado à chamada inteligência social presente
na psicologia. Conceito este, criado pelo psicólogo americano Daniel
Goleman, o qual afirma que um indivíduo emocionalmente inteligente
é aquele que consegue identificar as suas emoções com mais facili-
dade. (GOLEMAN, 1996).
Para abordagem do tema Inteligência Emocional tem-se como re-
ferencial os seguintes autores: GOMES, 2011; GARDNER, 1999; SALOVEU,
WOOLERY e MAYER, 2001; GOLEMAN, 1996; BAR-ON, 1997.
Todavia, a Educação Escolar aliada à educação familiar consti-
tui-se em um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento
intelectual e da personalidade do estudante. Neste sentido, a edu-
cação é sinônimo de cultura, de formação e de construção do ser
humano, bem como proporciona-lhe mais opções para encontrar a
vocação profissional e de ser social, ao vencer o processo de ensino e
de aprendizagem. Além disso, esta modalidade (a educação escolar)
proporciona o empoderamento intelectual através do conhecimento
construído a partir da educação formal.
Na abordagem da educação escolar é necessário interpretar a le-
gislação que rege esta modalidade e diferenciar a educação familiar
da educação ministrada na escola, para se encontrar um “ponto de
ligação” da educação escolar com o desenvolvimento da Inteligência
Emocional, a partir da educação formal, uma vez que, que ao longo dos
textos legais é comum nas suas previsões e até mesmo por autores, as
referências que tratam da educação escolar, apenas como “educação”,
uma vez que não está em foco aqui o tema educação familiar que é
aquela realizada fora do ambiente escolar.
Entretanto, a educação familiar é fundamental pera o desenvol-
vimento socioemocional, porque acontece no seio da família e na
comunidade, onde são transferidos e aprendidos os valores familiares
repassados entre as gerações e carregados de significados, expressos
em valores sociais, morais e culturais, de acordo com cada família,

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portando, base para o desenvolvimento da Inteligência Emocional.
Para a abordagem dos aspectos da educação escolar e a relação
com o desenvolvimento da Inteligência Emocional, tem-se como re-
ferencial alguns autores e legislações que regem a Educação Básica
brasileira. Por exemplo: VASCONCELOS, 2010; CARNEIRO, 2011; VASCON-
CELLOS, 2013; BRASIL/CF, 1988; BRASIL/LEI, 9.394/96; BRASIL/BNCC, 2018.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
Em se tratando de uma pesquisa científica buscou-se base em
Demo (2000, p.33), porque, segundo o autor, “na condição de princípio
científico, pesquisa apresenta-se como a manifestação teórico-meto-
dológica para construir conhecimento.” Assim, a pesquisa realizada
teve a finalidade de responder ao objetivo e ao problema delimitados
e, intenta buscar de forma científica, sem esgotar o objeto de estudo,
novos conhecimentos ou contribuir para atualizar os já existentes.

2.1 Quanto a Natureza da pesquisa: bibliográfica


Justifica-se a sua natureza como bibliográfica por que amplia o al-
cance das informações, permitindo a utilização de uma gama de dados
publicados, além, de possibilitar a ampliação de definições e conceitos
sobre um determinado tema ou assunto a ser estudado (GIL, 1994).
A pesquisa bibliográfica diferentemente da revisão bibliográfica ou
revisão da bibliografia é requisito primordial para que seja efetivada
uma pesquisa científica e, portanto, estas revisões não podem ser
confundidas como procedimento metodológico, cujo processo requer
um conjunto ordenado e organizado de ações na busca de encontrar
informações e soluções para elucidar o objeto de estudo. Tanto que
para Lima e Mioto (2007):

[...] reafirma-se a pesquisa bibliográfica como um procedimento me-


todológico importante na produção do conhecimento científico capaz
de gerar, especialmente em temas pouco explorados, a postulação de
hipóteses ou interpretações que servirão de ponto de partida para outras
pesquisas. (LIMA e MIOTO, 2007, p. 43)

De forma que a pesquisa bibliográfica como um procedimento


metodológico da pesquisa faz com que, segundo Lima e Mioto (2007)
“A investigação das soluções também pode envolver a construção de
um instrumento que permita pinçar das obras escolhidas os temas, os
conceitos, as considerações relevantes para a compreensão do objeto

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de estudo”. De forma que, foi a partir da revisão bibliográfica e da
revisão da literatura referente ao objeto de estudo que esta pesquisa
foi realizada.
Quanto ao tipo: qualitativa, caracterizando-se como tal, pelo fato
da investigação buscar valores, motivações e causas que se traduzem
em dados e informações surgidas da pesquisa para a compreensão
do problema, sem a ideia da rigidez da quantificação em números ou
experimentos, porque “o enfoque qualitativo utiliza a coleta de dados
sem medição numérica para descobrir ou aprimorar perguntas de
pesquisa no processo de interpretação”. SAMPIERI, COLLADO e LÚCIO
(2013, p.33).
De forma que, os dados, conceitos e informações coletados na
pesquisa qualitativa serviram de subsídios para as conclusões desta
pesquisa, uma vez que o pesquisador teve a possibilidade de melhor
conhecer e interpretar o objeto de estudo de maneira geral, além de
compreender o contexto estudado.
Ainda, Para Bogdan apud Triviños (2008, p. 128): “A pesquisa quali-
tativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados [...].” Assim,
o contexto da legislação escolar traduzido pela legislação, a literatura
bibliográfica e os conceitos que abordam o objeto de estudo repre-
sentaram a fonte direta dos dados para esta pesquisa bibliográfica.
Quanto ao Método: Hermenêutico: como comunicação método
hermenêutico é a tradução, interpretação, atualização e leitura sobre
uma determinada realidade ou objeto de estudo, para se compreender
uma situação. “Por conseguinte, interpretar é um exercício de preen-
chimento dos sentidos ausentes no momento da ação e, ao mesmo
tempo, uma construção, no aspecto de presumir ou de ver aquilo que
não estava evidente na ação” (Ghedin e Franco, 2011, p. 160).
Além disso, este método valoriza o aspecto dialético e dialógico
da realidade e do que está previsto na literatura, buscando a apro-
ximação das ideias e o seu confronto com as teorias e práticas de
forma argumentativa e metodológica. Nesse aspecto, para (Ghedin e
Franco, 2011, p. 164) “[...] a hermenêutica se situa como instrumento
que permite o aclaramento dos horizontes de significados impostos
pela força do próprio questionamento da realidade.” Por esta ótica, o
método hermenêutico se fez o mais indicado para esta pesquisa, cujo
objeto de estudo é a Inteligência Emocional e o seu relacionamento
com a educação escolar.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Apresenta-se para esta seção o resultado da pesquisa realizada,
na intensão de suscitar uma discussão entre a teoria da Inteligên-
cia Emocional e possíveis possibilidades do seu desenvolvimento na
práxis curricular do ensino e da aprendizagem na educação escolar, a
partir das características e conceitos de ambos os temas do objeto de
estudo, quais sejam: a Inteligência Emocional e a educação escolar.

3.1 Conceitos e definições da Educação Emocional


Verifica-se que o termo Inteligência Emocional vem sendo abor-
dado desde o século XVIII, nas teses do naturalista Charles Darwin,
que foi um dos pioneiros a utilizar esta conceituação referindo-se à
importância da expressão emocional para a sobrevivência e a adap-
tação da espécie humana. GOMES, 2011
Como proposição por diversos autores, a Inteligência Emocional
pode ser definida como a capacidade pessoal e mental que o indivíduo
possui de compreender os eventos que ocorrem consigo e ao seu redor,
bem como de planejá-los e resolvê-los através dos conhecimentos
adquiridos pelas aprendizagens de vida e aprendizagens educacionais.
De forma que a Inteligência Emocional é a soma de muitas habilida-
des do intelecto humano não limitando-se a apenas um fator, mas a
diversos que envolvem a mente. (GOLEMAN, 1996).
Segundo Gomes, 2011 outros teóricos abordaram e Inteligência
Emocional por diferentes conceitos como: Thorndike, na década de
1920, faz uso do termo inteligência social, para descrever a Inteligência
Emocional o como a capacidade de entender e motivar outras pessoas.
Bem como David Wechsler, em 1940, descreveu a influência de fatores
não intelectuais sobre o comportamento inteligente, e sustentava,
ainda, que nossos modelos de inteligência não serão completos até
que não se possam descrevê-los adequadamente. Ou seja, os com-
portamentos que caracterizam o indivíduo como ser inteligente são
diversos e variáveis.
Na mesma linha de abordagem da Inteligência Emocional, em 1999,
Howard Gardner, em sua Teoria das Inteligências Múltiplas, inseriu a
inteligência interpessoal, como sendo a capacidade que o indivíduo
tem de compreender as interações, intenções, motivações e desejos
de outras pessoas. E a inteligência intrapessoal, como a capacidade de
compreender a si mesmo, apreciar sentimentos, medos e motivações
próprias. Para Gardner, indicadores de inteligência, como o Coeficiente
de Inteligência, por si só não explica a capacidade e as possibilidades

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cognitivas do indivíduo.
Bar-On (2000) por sua vez, apresentou outra definição de Inteli-
gência Emocional tomando como base Salovey e Mayer (1990) a des-
crevendo como um conjunto de emoções e habilidades emocionais e
sociais que influem na capacidade geral para enfrentar efetivamente
as demandas do meio em que se vive.
O modelo de Bar-On (2000) é composto por cinco elementos:
a) O componente intrapessoal: que reúne a capacidade de ser
consciente, de entender e se relacionar com os outros.
b) O componente interpessoal: o que implica a capacidade de
gerenciar emoções forte e controlar seus impulsos.
c) O componente de gerenciamento de estresse: que envolve a
capacidade de ter uma visão positiva e otimista.
d) O componente de estado de espírito ou de ânimo: que está
constituído pela habilidade para adaptar-se às mudanças e
resolver problemas de natureza pessoal e social.
e) O componente de adaptabilidade para o ajustar-se.
Em suma, os modelos de inteligência emocional sobre habilidade
mental e mista partem de duas bases distintas de análises. Os mode-
los de habilidades se centram nas emoções e suas interações com o
pensamento, ainda que as mistas alterem as habilidades mentais com
uma variedade de outras características.
Entretanto, foi por ocasião da publicação da obra de Goleman
sobre Inteligência Emocional em 1996, que surgiram numerosas publi-
cações que fizeram-na muito popular. Além disso, Foi um dos pioneiros
em nominar outro tipo de inteligência além da relacionada à educação
escolar. (GOMES, 2011).
Em seu estudo, Goleman definiu “Inteligência Emocional” como a
capacidade de reconhecer e gerenciar sentimentos próprios, motivar
e monitorar as relações pessoais. De forma que, o modelo de com-
petências emocionais, segundo o autor, compreende uma série de
competências que facilitam as pessoas a dominarem as emoções, em
relação a si mesmo e em relação aos outros, tendo base na cognição,
personalidade, motivação, emoção, inteligência e a neurociência que
acrescenta processos psicológicos cognitivos e não cognitivos ao in-
divíduo. GOMES (2011).
De forma que foi Goleman quem familiarizou a chamada Inteli-
gência Emocional. No entanto, Alejandro Vega, em 2010, a elevou ao

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mundo das emoções e aos níveis mais altos da sociedade, mostran-
do-a de uma maneira nunca vista antes em seu livro “Dicedir saber
vivir”, expondo o seu conteúdo de uma maneira experiencial, falando
do cérebro e suas manifestações em diferentes culturas e religiões.
GOMES (2011).
Ademais, Goleman concebe estas competências como caracte-
rísticas da personalidade do indivíduo. Entretanto, estas podem ser
consideradas componentes da Inteligência Emocional, especialmente
aqueles que envolvem a habilidade de se relacionar positivamente
com os outros.
Ou seja, aqueles encontrados no grupo de consciência social e
gestão de relacionamentos no universo humano e, ainda, apresenta
as seguintes habilidades positivas de um indivíduo como competên-
cias, relacionadas à Inteligência Emocional: consciência de si mesmo
e das próprias emoções e sua expressão; auto-regulação; controle dos
impulsos; controle da ansiedade; capacidade de deferir agradecimen-
tos; regulação do humor; motivação; otimismo diante das frustrações;
empatia; confiança nos outros e artes sociais. (GOLEMAN,1996).

3.2 Conceitos e definições da Educação Escolar


A educação escolar tem por base os preceitos legais, previstos a
partir da Constituição Federal do Brasil de 1988/CF, que estabelece
como responsabilidade do Estado brasileiro a educação escolar, con-
forme previsto no seu Art.205 como direito de todos, com o objetivo do
desenvolvimento pleno do indivíduo, preparo para o trabalho e para
o exercício da cidadania, com responsabilidade, também da família e
com a participação da sociedade.
Em termos de educação formal, aquela executada pela escola,
Carneiro (2011, p. 37) a caracteriza como: “A atividade da educação
escolar e de desenvolvimento humano, ou seja, de potencialização de
capacidades em quatro perspectivas claras e convergentes: realização
pessoal, qualidade de vida, participação política e inclusão planetá-
ria.” Neste aspecto pode-se dizer que a educação escolar contempla
o desenvolvimento da Inteligência Emocional.
Em se tratando de educação formal, Vasconcelos (2010) entende
que:

[...] a educação escolar é um sistemático e intencional processo de


interação com a realidade, através do relacionamento humano baseado
no trabalho com o conhecimento e na organização da coletividade, cuja
finalidade é colaborar na formação do educando na sua totalidade -,

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tendo como mediação fundamental o conhecimento que possibilite o
compreender, o usufruir, ou o transformar a realidade. (VASCONCELOS.
2010, p. 98).

De outra forma, o texto legal expressa que “Educação Escolar” é a


ação didático-pedagógica “Que se desenvolve, predominantemente,
por meio do ensino, em instituições próprias e deverá vincular-se ao
mundo do trabalho e à prática social.” (Art. 1º/§ 1º e 2º da BRASIL/
LEI 9.394/96).
Além disso, a previsão das Diretrizes definidas pela Base Nacional
Curricular Comum – BRASIL/BNCC (2018, p. 10) para a Educação Escolar
Básica é de que a educação formal possibilite ao estudante desenvol-
ver competências tais como: “Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua
saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana
e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e ca-
pacidade para lidar com elas.”
Não obstante, a determinação legal estabelece para a educação
escolar que o desenvolvimento intelectual do indivíduo seja ancora-
do em aspectos cognitivos e emocionais. Justificando-se, portanto,
uma abordagem educacional com base nos aspectos da Inteligência
Emocional como elemento metodológico que deve permear todo o
currículo escolar, a pesar de não estar definido claramente como edu-
cação pelo viés emocional. Porém, a BRASIL/BNC (2018) estabelece os
objetivos da educação escolar como educação integral, no sentido do
desenvolvimento peno do ser humano de forma geral e global:

[...], o seu compromisso com a educação integral. Reconhece, assim, que


a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano
global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade
desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que pri-
vilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva.
Significa, ainda, assumir uma visão plural, singular e integral da criança,
do adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos
de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu acolhimen-
to, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades
e diversidades. Além disso, a escola, como espaço de aprendizagem e
de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática coercitiva de não
discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades.
(BRASIL/BNCC, 2018, p. 14).

Assim, a legislação educacional brasileira deixa claro no seu texto


as características de uma educação formal e integral baseada nos

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princípios e conceitos do desenvolvimento da propalada inteligência
Emocional. Visto que, se assim o for tornar-se-á um dos principais
fatores de sucesso na educação escolar, na profissão, nas relações
interpessoais e para a automotivação do ser humano, porque o de-
senvolvimento da inteligência emocional gera autogestão, consciência
social e maior probabilidade no alcance de objetivos e metas de vida.
(GOLEMAN, 1996).
Todavia, a concepção da educação integral tem no currículo da
educação escolar sua abrangência de significados não somente do
ponto de vista da matriz curricular, mas do seu produto através das
ações didático-pedagógicas da escola no itinerário de ensino e de
aprendizagem, sendo o resultado de todo o processo de escolarização
e aquisição de saberes levado a efeito pelo ensino na formação dos
sujeitos. Neste sentido Vasconcellos (2013) afirma que:

[...], currículo abarca o conjunto de formulações (representações, sa-


beres, programas disciplinas, estruturas) e de experiências (atividades,
práticas, vivências) propiciado pela instituição de ensino para a forma-
ção dos sujeitos (educandos, mas também educadores e comunidade),
de acordo com as grandes finalidades que se propõe (expressas no PPP).
(VASCONCELLOS, 2013, P. 28).

De forma que o currículo, como prática e resultado da educação


escolar, traduz-se na sistematização de saberes, organização das pes-
soas no contexto escolar, na utilização dos recursos disponíveis e do
espaço e tempo da instituição, tendo em vista aos objetivos da escola
voltados ao desenvolvimento integral do aluno a serem alcançados,
não somente em função da proposta curricular, mas em decorrência
da execução desta, como produto das ações didático-pedagógicas
considerando e desenvolvendo o aluno como ser social e capaz de
auto gerir suas emoções de forma autônoma e socioemocional. 3.3 O
desenvolvimento de inteligência emocional na escola
O artigo 35-A/§ 7º da BRASIL/LEI 9.394 (1996) aprofunda ainda mais
a qualificação dos objetivos da educação escolar na intencionalidade
do currículo ao determinar que: “Os currículos do ensino médio deve-
rão considerar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua
formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.”
Além disso, não somente a integração do educando como parte do
contexto curricular, devem-se consideradas as condições necessárias
ao processo de ensino e de aprendizagem, com base na intencionali-

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dade, tanto para quem ensina quanto para quem aprende, em razão da
evolução da sociedade e das necessidades de aquisição de habilidades
sociais do indivíduo. Razão pela qual faz-se necessário considerar
as atitudes e as habilidades mentais dos sujeitos. E, ainda mais: o
interesse, a significação e a motivação para o aluno, para o professor,
para a própria escola e o contexto onde o estudante está inserido. Isto
impõe-se como obrigatoriedade das práticas do ensino e da aprendi-
zagem escolar, segundo as determinações da BNCC brasileira:

No novo cenário mundial, reconhecer-se em seu contexto histórico e


cultural, comunicar-se, ser criativo, analítico-crítico, participativo, aberto
ao novo, colaborativo, resiliente, produtivo e responsável requer muito
mais do que o acúmulo de informações. Requer o desenvolvimento de
competências para aprender a aprender, saber lidar com a informação
cada vez mais disponível, atuar com discernimento e responsabilidade
nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver
problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para iden-
tificar os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender
com as diferenças e as diversidades. (BNCC, 2018, p. 14).

Conforme GOMES (2011), atualmente, com a nova visão da escola


inclusiva, os modelos que categorizaram os alunos por seus níveis
de inteligência entraram em crise. A criança inteligente não é mais
identificada apenas como alguém que recebe uma pontuação alta em
testes de inteligência, por dois motivos:
1. Inteligência acadêmica não é suficiente para alcançar o su-
cesso profissional - As pessoas mais proeminentes em sua
carreira profissional não são necessariamente as mais inte-
ligentes, da mesma forma, as crianças que se destacam nas
aulas por suas realizações acadêmicas, nem sempre são as
que obtêm mais sucesso.
Ou seja, somente aqueles que souberam como conhecer suas emo-
ções e como governá-las de forma apropriada, colaborando com sua
inteligência, são aqueles que cultivaram o relações e conheciam os
mecanismos que motivam e promovem pessoas. Ou seja, são aqueles
mais interessados em
​​ pessoas do que para as coisas e que entendem
que a maior riqueza que possuímos é o capital humano.
2. Inteligência não garante sucesso em nossas vidas diárias - O
coeficiente intelectual das pessoas não contribui para o equi-
líbrio emocional nem para saúde mental. Outras habilidades
emocionais e sociais são responsáveis pela
​​ estabilidade emo-
cional e mental, bem como o ajuste social e relacional. Vis-

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to que, se explorarmos as capacidades, os pontos fortes dos
alunos e buscarmos por desenvolver a inteligência, melhorar
nossos planos e rotinas diárias na escola, o aluno aprenderá
melhor, de forma mais eficaz e motivada, já que sentirá que a
educação escolar se adapta as suas necessidades, preferên-
cias e gostos, pois o desempenho escolar do aluno depen-
de fundamentalmente do: aprender a aprender que parte da
educação escolar para desenvolver emocionalmente o aluno.
GOMES (2011).
Para Gomes isso implica que a escola deverá redefinir seus objeti-
vos no sentido de desenvolver diversas habilidades emocionais fun-
damentais e necearias ao indivíduo no seu dia a dia e que podem ser
construídas a partir da educação escolar, desenvolvendo por exemplo:
1. Confiança: A sensação de controlar e dominar o próprio corpo,
o próprio comportamento, controle do mundo em si, confian-
ça nas possibilidades de sucesso e crença no seu semelhante.
2. Curiosidade: a sensação de que o fato de descobrir algo posi-
tivo e agradável.
3. Intencionalidade: O desejo e a capacidade de realizar algo e
agir em consequência.
4. Autocontrole: a capacidade de controlar as próprias ações e
emoções.
5. Relacionamento: a capacidade de se relacionar e compreen-
der o outro.
6. Capacidade de comunicar: de trocar ideias, sentimentos e
conceitos com os outros.
7. Cooperação: a capacidade de harmonizar as necessidades
com os outros. GOMES (2011).
Neste sentido, a teoria encontra guarida na legislação quanto ao
desenvolvimento de uma educação escolar baseada nos princípios da
Inteligência Emocional, conforme os aspectos elencados por Gomes
(2011) como: confiança em si e no outro, curiosidade e criticidade,
intencionalidade e proatividade, desenvolvimento do autocontrole, ca-
pacidade de relacionamento, capacidade de comunicar-se compreen-
dendo a si a ao outro e o desenvolvimento do espírito de cooperação,
e acrescenta-se ainda, as previsões da Brasil/BNCC (2018):

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Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação,
fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos
humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos
e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialida-
des, sem preconceitos de qualquer natureza (BRASIL/BNCC, 2018, p. 10).

Como pode ser observado, a determinação legal quanto aos obje-


tivos e a intencionalidade da educação escolar que se prende integral,
prevê o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, para o
autogoverno e autonomia do indivíduo, capacidade de auto controle,
mas especialmente atitudes de respeito a si e ao outro com base no
exercício da empatia, do diálogo e da resolução de conflitos, principal-
mente próprios característicos de dotação de Inteligência Emocional
como resultado do processo de ensino e de aprendizagem através da
escolarização formal.

CONCLUSÕES
A pesquisa respondeu ao objetivo geral proposto que foi de ana-
lisar as relações do desenvolvimento da Inteligência Emocional (IE)
e a educação escolar. A IE propõe que o ser humano é dotado das
características socioemocionais, como motivação, domínio das emo-
ções, compromisso e espírito de cooperação e outros. Além disso, há a
possibilidade do desenvolvimento do pensamento no sentido positivo
da vida, aspectos esses que vão permitir ao indivíduo não só a so-
brevivência, mas para fazê-la com sucesso, porque é a habilidade que
uma pessoa possui de perceber e administrar suas próprias emoções
e também, de compreender as emoções de outras pessoas, sendo um
conceito relacionado à chamada inteligência social.
Por outro lado, é a capacidade pessoal e mental que o indivíduo
possui de compreender o que ocorre consigo e ao seu redor, com os
outros, bem como de planejá-los e resolvê-los através dos conhe-
cimentos adquiridos pelas aprendizagens de vida e aprendizagens
educacionais. Ou seja, a Inteligência Emocional é a capacidade de
reconhecer e gerenciar sentimentos próprios, motivar e monitorar as
relações pessoais.
Com relação ao desenvolvimento da IE através da educação formal
pode se dizer que as práticas educacionais de ensino e de aprendiza-
gens são pautadas por princípios baseados na legislação que rege a
educação escolar básica brasileira, que tem como objetivo o desen-
volvimento pleno do indivíduo, o preparo para o trabalho e para o
exercício da cidadania. De forma que a atividade da educação escolar

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e de desenvolvimento humano é voltada para a potencialização de
capacidades do estudante em perspectivas claras e convergentes para
realização pessoal, qualidade de vida, participação política e inclusão.
Propõe-se ainda, a educação escolar, conduzir o aluno a conhe-
cer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compre-
endendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções
e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas,
aplicando conhecimentos para resolver problemas, com autonomia
para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma
situação e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e
as diversidades.
Adota também, a educação escolar, um trabalho orientado para a
construção do projeto de vida do estudante, para sua formação nos
aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais. Além de estimular
exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação,
fazendo-se respeitar, promovendo respeito ao outro e reafirmando
o seu compromisso com a educação integral do aluno. Sendo assim,
a educação escolar contempla o desenvolvimento da Inteligência
Emocional através das suas práticas escolares conforme previsto na
legislação.

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