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CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

DISCIPLINA: TTP HUMANISMO-EXISTENCIAL

RESENHA CRÍTICA “ROGERS- ÉTICA HUMANISTA E PSICOTERAPIA”.

Juliany Rodrigues Sampaio – 2016105940-316.7

JUAZEIRO DO NORTE-CE

2019
A psicologia humanista contemporânea estabeleceu-se nos Estados Unidos da
América, na década de 1960 como um movimento de reação contrária ao behaviorismo
e a psicanálise. Carl Ransom Rogers foi um psicólogo estadunidense atuante na terceira
força da psicologia e que desenvolveu a Abordagem Centrada na Pessoa, que acabou
trazendo uma nova perspectiva no século XX para a prática do atendimento psicológico.

Amatuzzi (2010) publicou o livro, Rogers- ética humanista e psicoterapia. Para


Rogers a prática do psicólogo consiste em uma postura de confiança irrestrita no
potencial de cada um, para encontrar a superação de suas dificuldades. Diferente de
outros pressupostos que acreditava que o psicólogo era detento de todo o saber, para
Carl Rogers, o psicólogo iria facilitar o processo, e estava convencido de que isso seria
o suficiente.

A função do psicólogo seria, portanto, estabelecer uma relação acolhedora,


compreensiva e honesta. A psicologia humanista se baseia num pressuposto de
autonomia do sujeito, e não determinista como em outras teorias em que o caminho já é
pré-estabelecido.

A contribuição de Rogers não foi tecnológica, mas ética. Esse valor ético tem
como único critério o bem-estar do homem. Somente o homem pode determinar
segundo a sua consciência moral, o que deve ou não fazer.

Nietzche articula liberdade como sendo a execução de vontades, livre de


preconceitos, angustias, aversões ou apavoramentos. É afirmar o seu eu e produzir
comportamentos a partir disso. (BENTO,2010). A proposta de Rogers é como essa fala
de Nietzche, que o sujeito desenvolva sua autonomia sem sentir-se pressionado ou
seguir regras de autoridades que são impostas. O único critério de valor ético seria,
portanto, o bem-estar do homem.

Rogers gerou também afirmações paradoxais como, o saber do psicólogo de


nada serve, o psicodiagnóstico é uma forma de dominação, devemos abandonar todas as
técnicas e procedimentos padronizados, quem sabe o momento de encerrar o
atendimento é o próprio cliente, e por último, que existe uma sabedoria que emerge
quando as pessoas se encontram na comunicação aberta e plena.

Em discordância com uma das afirmações de Rogers seria a de que o


psicodiagnóstico é uma forma de dominação. O diagnóstico é visto, portanto como algo
negativo. Entretanto, há outra perspectiva sobre o diagnóstico, a de que é importante
haver uma aliança entre psiquiatria e psicologia. Visto que a medicina não ver como
cada patologia afeta o sujeito, e por isso a importância de auxiliar nesse caso. Há
sempre uma confusão entre uso de medicamentos e psicoterapia, de qual seja melhor,
mais eficaz ou mais rápido. Além de outra visão que é o sujeito se sentir compreendido
e não indiferente com aquilo que sente, de saber que tem um nome e que outras pessoas
também sofrem de sintomas parecidos. A perspectiva do diagnóstico não é diminuir o
sujeito a doença, mas de também fazer com que o sujeito saiba lidar a partir dessa
descoberta, traçando seu caminho.

No decorrer do livro ética humanista e psicoterapia, são apresentados quais os


valores humanos que definem a estrutura consciente dessa abordagem. De forma
sintetizada os pontos falam de empatia, da compreensão do outro, e que cada um seja
honesto naquilo que esteja sentindo. Sendo então necessário três valores básicos da
ACP: o valor da pessoa, o da comunhão inter-humana e o da honestidade em relação as
diferenças. Os termos usados nunca se referem a um sentindo moral, mas em uma via de
relação aberta, acolhedora, em que não omite aquilo que precisa ser exposto com
clareza para o próprio desenvolvimento da relação.

Todos estes aspectos que Rogers conceitua, são envolvidos sempre na empatia,
na perspectiva de que não são necessários valores, técnicas e complexidade na relação.
O diálogo, portanto, precisa ser intenso, em que o outro se sinta ouvido, acolhido.

Muitas vezes os clientes pagam para apenas serem ouvidos, em meio a uma
sociedade que apenas critica, julga, e não tem tempo de ouvir o outro. É por isso que a
ACP não é uma terapia ou uma linha psicológica, ela é um jeito de ser. Que consiste em
uma perspectiva de vida de modo geral positiva, uma crença numa tendência formativa
direcional, uma intenção de ser eficaz, um respeito pelo indivíduo e por sua autonomia e
dignidade, uma flexibilidade de pensamento e ação, uma tolerância quanto as incertezas,
senso de humor. São esses os setes pontos de Wood. Falando então de valores, tornando
assim a ACP uma ética.

Rogers centra-se por tanto na qualidade da relação, afinal, todas as teorias e


vertentes psicológicas tem os mesmos objetivos, entretanto, o meio para se chegar até
ele não necessariamente seria apenas por técnicas. A ACP é um modo de ser, a
psicoterapia centrada na pessoa é uma aplicação no campo da psicoterapia. A
psicoterapia seria definida como um processo intensivo de contato consigo próprio. A
contribuição de Rogers mais importante foi não ter criado técnicas, mas sim termos de
disposição. Não importa o que o terapeuta faça, o mais significativo serão suas reais
intenções naquele processo.

Portanto, Rogers acredita que uma relação necessita de acolhimento,


compreensão e honestidade. Onde a autonomia precisa ser desenvolvida, e que o sujeito
guie sua própria vida. Além disso o relacionamento é aberto e centrado na pessoa.
Acolher com empatia é a predisposição enraizada no terapeuta de aceitar a pessoa do
cliente de forma como ele se manifesta. É o que Rogers chamava de Consideração
Positiva Incondicional. Sem condições, apenas aceita-lo em sua totalidade e
compreendê-lo.

Outra modalidade importante que foi discorrida no livro é sobre a ludoterapia,


em especial a infantil, em que não se pode conversar e ter a mesma conduta com uma
criança como se tem com um adulto, obviamente. Onde o meio mais viável é o lúdico,
em que o terapeuta precisa adentrar no mundo da criança, vendo a partir de sua visão de
mundo.

O papel do psicólogo segundo Rogers, é reconhecer que nada está definido,


tendo que se apropriar apenas de autênticos valores humanos. O que ele quer dizer é que
quando as pessoas são ouvidas de modo empático, isto lhes possibilita ouvir mais
cuidadosamente o fluxo de suas experiências internas. O que mais chama a atenção
dentro de toda essa teoria rogeriana, é que não é necessário complexidade, técnicas
modernas, apenas ouvir. Sendo fundamental ser apenas um outro humano frente aquele
sujeito angustiado. E principalmente na forma em que a sociedade se encontra, onde as
pessoas não se ouvem mais, não se importam mais, onde o capitalismo e o
individualismo distanciam ainda mais as pessoas. Talvez Rogers mesmo sem saber
escrevia uma teoria tão necessária para a atualidade, em que se dispor a ajudar o outro
de forma integral é suficiente, não precisaria de muito, apenas vontade de ouvir.

Quaisquer que sejam as técnicas psicoterápicas, suas denominações ou seus


pressupostos teóricos, podem ser verdadeiras e efetivas na medida em que ocorram as
condições que foram discorridas e os clientes as percebam. Ser autêntico uma
característica definida por Rogers como veracidade e transparência. Portanto, diante de
abordagens diversas entre si, mesmo as que usam trabalho corporal, processos
comportamentais de condicionamento ou qualquer outro procedimento, podem ser úteis.
O principal fator concentra-se no tipo de relação cliente-terapeuta, nas atitudes que o
psicólogo realmente experiência demonstra no seu contato com as pessoas. (RAMSON,
1988).

Apesar das críticas que são feitas a Rogers, o processo como ele enxerga a
relação terapêutica é muito significativo onde afeta todo o campo do inter-
relacionamento humano, expresso pelo maior respeito à individualidade e busca pela
autonomia do sujeito. Em que como relatado por Amatuzzi (2010), talvez a melhor
preparação para ser psicólogo seja apropria-se de autênticos valores humanos. O que
não quer dizer que seja uma tarefa fácil, mas que o mais importante no processo é se
entregar de forma genuína ao outro e sem enquadrá-lo ao que enxergo como correto.
REFERÊNCIA
AMATUZZI, Mauro Martins. Rogers: ética humanista e psicoterapia. Campinas:
Alínea, v. 2, 2010.
BENTO, Luiz. Breves considerações sobre o conceito de liberdade na filosofia e sua
possível efetivação na práxis social da vida humana. Revista saber eletrônico. Ano 1
Vol.1 Nov / Jun 2010 ISSN 2176-5588. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/316329764/BREVES-CONSIDERAC-O-ES-SOBRE-
O-CONCEITO-DE-LIBERDADE-NA-FILOSOFIA-E-SUA-POSSI-VEL-EFETIVAC-
A-O-NA-PRA-XIS-SOCIAL-DA-VIDA-HUMANA
RAMSON, Carl. A importância da obra de C. Rogers. Psicol. cienc.
prof. vol.8 no.1 Brasília 1988. Disponívem em: www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1414-98931988000100018.

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