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Sugestão de Análise e apontamentos interpretativos da obra Widmung:

Quando se analisa a
partitura original de Widmung
e se compara com a
transcrição de Liszt, poucas
diferenças se encontram no
que diz respeito aos detalhes,
nomeadamente ao nível da
melodia. A única diferença de
realçar encontra-se no
compasso 4 da transcrição
onde Liszt altera o ritmo da
Figura 1 - Início da obra Widmung Schumann/Liszt
primeira frase, escrevendo
uma semínima, uma colcheia com ponto e uma semicolcheia em vez de uma
semínima e duas colcheias como na original. Isto pode dever-se à vontade do
compositor de encaixar a primeira frase com o ritmo do acompanhamento.

No entanto, Liszt só diferencia este primeiro momento, todas as outras


apresentações deste tema são escritas com o ritmo do original.

Um problema, frequentemente encontrado nas transcrições e que será


abordado também na análise da próxima obra, é exatamente a proximidade de registo
entre a melodia e o acompanhamento que, uma vez que se trata do mesmo
instrumento, dificulta a diferenciação de timbres.

Em termos harmónicos a música começa em Lá b maior, num compasso


ternário simples. Liszt acrescenta na transcrição uma secção A’ na qual transporta a
melodia do tema A para a mão esquerda no registo do tenor, enquanto a mão direita
toca o acompanhamento, embora participe em diversas ocasiões com complementos
à melodia como nos exemplos seguintes, compassos 18 e 25:
Figura 2- A segunda metade do segundo tempo e o terceiro

Figura 3- Último tempo do compasso.

A parte A é acompanhada pelo seguinte texto (tradução em inglês de Richard


Stokes, autor do “The Book Of Lieder (Faber, 2005))

“You my soul, you my heart,


You my rapture, O you my pain,
You my world in which I live,
My heaven you, to which I aspire,
O you my grave, into which
My grief forever I’ve consigned!”

Esta secção termina com um acorde arpejado de Lá b maior.

A secção B começa com uma modulação a Mi maior. Nesta secção Liszt não
altera nada à obra original. Este tema possui o seguinte texto:

“You are repose, you are peace,


You are bestowed on me from heaven.
Your love for me gives me my worth,
Your eyes transfigure me in mine,”

Embora Liszt não tenha acrescentado nenhum pormenor específico à


transcrição, nesta secção a simples necessidade de tocar a melodia ao mesmo tempo
que os acordes em tercinas na mão direita é, só por si, uma dificuldade acrescida à
performance da passagem.
Figura 4 - Início do tema B

Nota de sugestão interpretativa:

“Aconselha-se o performer a estudar a mão direita da secção B com uma nota


da melodia presa enquanto repete as tercinas. Realizar com todas as notas de
melodia de modo a conseguir uma distinção clara entre o que é melodia e o que é
acompanhamento. Sugere-se ainda que se toque só o acompanhamento com os
reguladores de dinâmica propostos por Liszt, de modo a melhor percecionar como
deve soar a secção.”

Após a parte B a transcrição apresenta uma pequena ponte, que coincide


também com o fim do poema que serve de texto à melodia da obra:

“You raise me lovingly above myself,


My guardian angel, my better self!”

Aqui Liszt acrescenta pequenas sobreposições de mãos e em vez do


acompanhamento tradicional de grupos de 4 colcheias, utiliza 8 semicolcheias sendo
que a primeira de cada tempo é substituída por uma pausa de valor equivalente.

Figura 5 - Início da ponte

Após o término da linha melódica desta secção, Liszt aproveita para mostrar
um pouco das suas características virtuosísticas e aumenta a velocidade geral da obra
com arpejos na mão direita e acordes com a melodia na linha do tenor na mão
esquerda. Aqui atinge-se o ponto mais tenso da música com a repetição da primeira
estrofe do texto acompanhada por uma textura musical extremamente preenchida
pelos arpejos e acordes a somar ainda a dinâmica fortíssimo.
Por fim encontra-se a coda, com acordes notados de fff, em que se ouve
claramente a melodia do tema A oitavada na mão direita juntamente com uma
sequência de acordes que aludem ao acompanhamento da secção B, mas uma vez
mais, com a dinâmica fortíssimo na mão esquerda fazendo lembrar as secções
orquestrais típicas da ópera, quando o cantor termina a sua intervenção.

A música conclui com uma pequena secção que relembra a frase da famosa
música Ave Maria de Schubert.

Figura 8 - Tema da obra “Ave Maria” de Schubert na obra “Widmung”.

Nota de sugestão interpretativa:

“A melodia inicial tem um movimento ascendente, transmitindo uma sensação


de que a peça continuará. Nesta última frase, o movimento é oposto, transmitindo, a

Figura 7- início da coda

sensação de conclusão. O simples tomar consciência deste fator poderá ajudar o


intérprete com o fluxo de continuidade que pretende transmitir com a música.”

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