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E se o casal reatar o relacionamento? https://emidiovictor.jusbrasil.com.br/artigos/858475221/e-se-o-casal-re...

jusbrasil.com.br
10 de Junho de 2020

E se o casal reatar o relacionamento?

Em outra oportunidade, já estudamos o chamado "princípio da bagatela


imprópria" (clique aqui, caso queira ver o vídeo no meu Instagram).

De forma bem resumida, segundo defendem alguns autores, haverá


bagatela imprópria sempre que a aplicação da pena for
DESNECESSÁRIA.

Ou seja, embora o fato seja relevante para o Direito Penal, não se justifica
a punição.

Assim, a depender do caso, o juiz pode deixar de aplicar a pena.


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O fundamento, segundo apontam, está no artigo 59 do Código Penal (na


parte em que diz que a pena deve ser necessária).

Para ficar mais fácil o entendimento, vamos ver um exemplo?

Se um sujeito furta um objeto que tem muito valor sentimental para


alguém, mas se arrepende antes do recebimento da denúncia e devolve tal
objeto, em vez de aplicado o instituto do arrependimento posterior (art. 16
do Código Penal), poderia ser reconhecida a bagatela imprópria, já que não
haveria mais lesão a ser reparada [1].

Assim, embora tenha praticado um crime (fato típico, ilícito e culpável), o


fato de devolver o objeto tornaria, em tese, desnecessária a pena. Ou seja, o
sujeito não seria submetido a punição alguma.

Sobre o tema, uma questão (bastante) polêmica surge nos casos de


violência doméstica e familiar contra a mulher.

Isso porque, nesses casos, é comum que, passado o calor de toda a


confusão que ensejou a prática da violência pelo agressor, o casal reate o
relacionamento.

As razões são diversas e fogem às pretensões do presente artigo. Para


aqueles que desejam um aprofundamento sobre o tema, recomendo a
leitura do livro “A paixão no banco dos réus”, escrito por Luiza Nagib Eluf.
Trata-se do melhor livro sobre crimes passionais que já li na vida.

Enfim, voltando à questão principal, o STF, no HC 130.124, AFASTOU o


reconhecimento da bagatela imprópria em um caso de violência
doméstica e familiar contra a mulher.

Na situação analisada, mesmo depois de o agressor ter sido condenado


pela violência, o casal reatou o relacionamento. Ainda assim, voltaram a
conviver normalmente.

Porém, como dito, o STF não concordou com a possibilidade de

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reconhecimento da bagatela imprópria.

Entendeu-se que o acolhimento da tese poderia desprestigiar o sistema


de proteção à mulher almejado com a elaboração da Lei nº 11.340/06 (Lei
Maria da Penha).

O caso é bastante interessante e permite um questionamento: se a


principal ofendida pela violência praticada por outra pessoa perdoou o
agressor e retomou o relacionamento e a convivência, o Estado tem o
direito de tomar para si a ofensa?

Em outras palavras, o Estado tem o direito de se ofender pelos outros?

Não creio que haja uma resposta correta para tal questão.

O entendimento do Supremo Tribunal Federal, ao que parece, procura


reforçar o alcance coletivo do Direito Penal.

Significa dizer que, quando a norma penal é violada, os danos não


recaem apenas sobre a vítima. Também afetam, ainda que
indiretamente, toda a coletividade.

Logo, seguindo-se essa linha de pensamento (sobre a qual tenho certas


ressalvas), mesmo que a vítima “perdoe” o agressor, isso não tem o
poder de afastar a ofensa sofrida pela coletividade.

A decisão em análise envolveu típica situação em que o interesse geral


prevaleceu sobre o interesse individual.

Qual a sua opinião sobre o tema, querido (a) leitor (a)?

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crime?

Existe assédio sexual entre professor (a) e aluno (a)?

Aplica-se o princípio da insignificância aos menores infratores?

A vítima e a lei penal

_________________________
Referência:

[1] Cunha, Rogerio Sanches. Manual de direito penal : parte geral (arts.
1º ao 120) / Rogerio Sanches Cunha . – 8. Ed. rev., ampl. e atual. Salvador:
JusPODIVM, 2020, p. 100.

Imagem: Diário de Taubaté

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