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Seminário I

Avaliando a efetividade da Lei Maria da Penha

Daniel Cerqueira

Tópicos

- Por que falar sobre: 1) violência doméstica é a mãe de todas as violências - atinge toda a
sociedade (passado para as crianças que vivenciam a violência doméstica em suas casas como
um aprendizado)  espiral de violência; 2) área liderada pelos psicólogos sociais: produção de
criminosos na sociedade - processo educacional dos jovens e adultos infratores.

Trabalhos mostram que jovens apresentam problemas comportamentais (TDAH),


ansiedade, problemas na escola e se relacionam com outros jovens em conflito com a
lei, originados por causas como características hereditárias (menor fonte de influência)
e ambientais (maior fonte de influencia), nesse último caso, especialmente problemas
na estrutura familiar.

IPEA: dois trabalhos: 1º Estudo: a institucionalização da spolíticas públicas de enfrentamento à


violência contra as mulheres no Brasil; 2º estudos: avaliando a efetividade da lei; 3º estudo: o
futuro da lei.

Lei Maria da Penha (LMP): uma lei revolucionária

- Antecedentes: Brasil patriarcal. Até a década de 1970, tribunais aceitavam a legítima


defesa da honra - era possível o cônjuge matar a mulher para “defender sua honra”.
Juristas debatiam se era possível ou não a mulher denunciar o marido por estupro. Até
1995, existia lei que proibia a mulher de prestar queixa na polícia por qualquer crime
que tenha sido vítima sem a expressa autorização do marido. Estupro era crime contra
os costumes.

- LMP surge num caso específico, da base dos movimentos sociais. É uma inovação
legislativa, pois não é apenas punitiva, mas prevê medidas protetivas para a mulher,
evitando que novas crimes ocorram contra a mesma mulher e tratam de forma
integral o problema

- Lei 9.099/95: crimes de baixo potencial ofensivo.

- Antes, apesar do alto número de denúncias relacionadas a violência


doméstica, o condenado apenas pagavam cestas básicas.

- Havia uma grande lacuna na literatura de estudos buscando medir a efetividade da lei
(exceto Garcia, 2013).

Um pouco sobre a LMP: objetivo d alei; definição de violência contra a mulher; meios de
prevenção da violência contra a mulher. O juiz julga a situação como um todo, assessorado por
um corpo jurídico - integra várias esferas do direito.

Canais teóricos de efetividade da LMP para fazer diminuir as agressões de gênero: aumenta a
pena para o agressor; aumentou o empoderamento e as condições de segurança, para que a
vítima pudesse denunciar. Fixou um marco simbólico sobre o fato de que violência de gênero é
crime (pesquisa do IBOPE afirma que mais de 90% da população brasileira conhece a LMP - lei
mais conhecida!); aperfeiçoou os mecanismos jurisdicionais, possibilitando a que o sistema de
justiça criminal atendesse de forma mais efetiva os casos envolvendo violência doméstica.

- A LMP modificou o tratamento do Estado em relação aos casos envolvendo casos de


agressão contra a mulher.

Modelo teórico: probabilidade de um agressor cometer a violência dependerá do quão bem a


lei está implementada pelo sistema jurídico dos governos estaduais e municipais.

- A distribuição dos serviços não se deu de maneira uniforme no território nacional -


Alguns exemplos de serviços criados (2013): Centros Especializados de Atendimento à
Mulher, DEAMs e Núcleos de Atendimento em Delegacias Comuns mais localizados na
região Sudeste e menos na região Norte.

As dificuldades de medir o efeito da LMP sobre violência doméstica: 1) obter uma medida de
violência de gênero (o homem que bate na mulher? O marido que bate na esposa? Problemas
com a base de dados); 2) desenvolver modelo contrafactual que isole as outras causas da
violência de gênero e que captem apenas o efeito da LMP.

1) Da violência doméstica à medida de violência utilizada neste trabalho:


condicionada a uma estrutura patriarcal, na qual a mulher tem o papel bem
definido, a de submissa ao homem.
Tipicamente, ciclos de violência com três fases: 1 - construção da tensão no
relacionamento, quando acontencem incidentes menores; 2 - fase crítica, em que
os incidentes mais graves ocorrem (nesta fase, pode ocorrer o feminicídio); 3 -
arrependimento, juras de paixão e promessas de regeneração.
Indicadores conhecidos: PNAD 2009: 1,2% das mulheres sofreu agressão em 2009
(1,3 milhão de mulheres vitimadas);
IPEA: 90% dos casos de estupros não são denunciados;
Venturi et al (2004), Fundação Perseu Abramo: 43% afirmaram ter sofrido algum
tipo de violência ao longo de sua vida, sendo que: as violências psíquicas e morais
foram as mais prevalentes; seguidas das agressões brandas (tapas e empurrões);
ameaças de espancamento; espancamento em si; ameaças com armas de fogo.
Parte dos homicídios que as mulheres sofrem são geradas pela violência comum à
sociedade. O objetivo do trabalho era separar a violência “comum” da violência de
gênero.
Há evidências nacionais e internacionais que a esmagadora maioria dos homicídios
dentro das residências é perpetrada por cônjuges, familiares ou conhecidos da
vítima  violência doméstica.
Homicídios (feminicídios) são só a ponta do iceberg!
2) Cenário contrafactual: e se a LMP não existisse? No cenário real, as taxas de
homicídio de mulheres (feminicídio) entre 2000 e 2011 tiveram uma queda no
início da lei e depois aumentaram (inefetividade da lei?); no exemplo (hipotético)
do cenário contrafactual, as taxas de homicídio teriam aumentado muito mais! O
respaldo teórico se dá no aumento (de fato) das taxas de homicídio de homens
entre 2007 e 2011, de forma muito superior a das mulheres, possivelmente pela
expansão do mercado de drogas ilícitas (suposição através da evolução das mortes
por envenenamento por drogas ilícitas na população entre 2000 e 2011).

- Vários fatores corroboram para esse cenário de aumento geral da violência.


Uma olhada superficial nos dados: diferenças nos homicídios de mulheres e homens.

- Mais alta concentração de homicídio de homens (principalmente e mulheres na


juventude.

- Homens solteiros são mais vítimas de homicídio que os casados; mulheres casadas
são maiores vítimas.

- Homens morrem mais por armas de fogo e acidentes de trânsito, mulheres morrem
mais por objetos perfurantes (domésticos!);

- Homens (principalmente) e mulheres morrem mais à luz do dia.

- (ver slide para restante dos exemplos)

Modelo de diferenças em diferenças para captar o efeito da LMP sobre os homicídios de


mulheres

- Questão: como construir um contrafactual usando dados gerais de homicídios?

- Homicídios de homens está relacionado a alguma coisa específica em um município


(organizações criminosas?). Diferença com os homicídios de mulheres estão
relacionados a um fator específico não explicado pela violência comum ao município.

- Uma primeira impressão: após 2006, o homicídio de homens aumenta, enquanto o


de mulheres se mantém relativamente constante.

- Entre 2000 e 2011, a distância entre as taxas de homicídio de homens e mulheres


aumenta, exceto na região Sudeste (possível efeito de políticas de redução dos
homicídios entre os jovens); no Sul, a política “aparentemente” não teve efeito nos
homicídios (possível efeito do forte patriarcalismo na região).

- Tentar capturar efeitos locais e contornar a raridade estatística do fenômeno:


trabalhar com microrregiões.

- Método espacial bayesiano para a estimação das taxas de homicídio nas microrregiões:
média ponderada da taxa de homicídios brutos em uma microrregião e os municípios vizinhos
 suavização das taxas lineares (brutas).

- Análise econométrica com base no modelo de diferenças em diferenças: proxy baseada em


pesquisas internacionais (incluem consumo de álcool, e difusão de armas-de-fogo em uma
população)

- Modelo demonstra que o coeficiente B3 representa a diferença não explicada entre


as taxas de homicídios de homens e mulheres.

- Interpretação: se não fosse a LMP, a taxa de homicídio de mulheres dentro das


residências teria aumentado 9,6%.

- Análise de robustez com dois exercícios adicionais: e se a LMP tivesse surgido depois (2009)?
Também: abordagem alternativa baseada no princípio de diferente exposição ao tratamento.

- A LMP afetou o comportamento de agressores e vítimas por quatro canais ... (ver slide)

Pontos para debate: homicídios “comuns a todos” são, de fatos, iguais para homens e
mulheres na sociedade? Como incluir ex-parceiros (algozes mais frequentes da violência contra
a mulher) na pesquisa? Entrada da mulher do mercado realmente cria uma relação de
independência das mulheres, reduzindo a violência contra a mulher, ou colaboram na criação
de conflitos (opinião convergente com a de criminólogas britânicas)? Como melhorar a coleta
dos dados? Como aproveitar o uso de registros administrativos?

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