Você está na página 1de 50

1.

Introdução

A violência doméstica, ignorada e mantida no segredo da vida privada durante

muito tempo, foi transferida para o âmbito público durante a década de setenta com a

realização dos primeiros trabalhos, a nível internacional, sendo objecto de estudo em

Portugal apenas a partir da década de noventa. A violência doméstica tem sido definida

como um padrão de comportamentos abusivos que incluem uma variabilidade de maus-

tratos possíveis, desde físicos, sexuais e psicológicos. Estes comportamentos são

aplicados por uma pessoa a qualquer outra que habite no mesmo agregado doméstico

privado ou que, não habitando com o agente da violência, partilhe o seu contexto de

intimidade, com o objectivo de adquirir poder ou manter essa pessoa sob controlo

(Antunes, 2002).

A violência conjugal constitui uma parte do conjunto de maus-tratos associados

à definição de violência doméstica. Apesar de homens e mulheres poderem ser

responsáveis por actos violentos, as evidências estatísticas apontam para o facto de

existir uma maior incidência de violência sobre as mulheres, sendo a maioria dos

agressores homens e a maioria das vítimas mulheres, as quais possuem um maior risco

de vitimação no seio do casal (Manita, 2005). De acordo com o Instituto Nacional de

Estatística (INE) (2006), as vítimas do sexo feminino em processos com

arguidos/condenados do sexo masculino, especificamente no crime de maus-tratos do

cônjuge, eram no total 1435, enquanto que as vítimas do sexo masculino em processos

com arguidos/condenados do sexo feminino para o mesmo tipo de crime foram

totalizados em 4.

A definição de violência conjugal que consta no III Plano Nacional Contra a

Violência Doméstica (PNCVD) remete para qualquer acto, omissão ou conduta de uma

pessoa que serve para infligir sofrimentos físicos, sexuais ou psicológicos, directa ou

2
indirectamente, por meio de enganos, ameaças, coacção ou qualquer outro meio ao seu

cônjuge. Deste modo, tem por objectivo e como efeito intimidá-lo, puni-lo, humilhá-lo

ou mantê-lo nos papéis estereotipados ligados ao sexo, recusar-lhe a dignidade humana,

a autonomia sexual, a integridade física, psicológica ou moral, abalar a sua segurança

pessoal, o seu amor-próprio ou a sua personalidade, e diminuir as suas capacidades

físicas ou psíquicas (Sousa, 2002). De acordo com Matos (2002), a determinação dos

números deste fenómeno constitui um problema devido à dificuldade em apontar com

precisão tanto a incidência como a prevalência dos maus-tratos sobre o cônjuge. As

limitações das informações disponíveis nos serviços especializados e nas estatísticas

oficiais são devidas à resistência em denunciar os comportamentos violentos. Sendo

assim, os principais obstáculos responsáveis pela inexactidão dos números são a

vergonha, a relação próxima entre agressor e vítima, os sentimentos de impotência e o

desconhecimento dos seus direitos.

O interesse científico sobre a violência conjugal, a nível internacional, teve

início nos anos setenta. As mudanças que ocorreram ao longo desta década tiveram o

contributo da sociedade que revelou particular atenção para a dramática realidade do

abuso de mulheres e para a divulgação do papel dos movimentos feministas (Duarte,

1998). Com a constatação de que a violência conjugal seria um problema de saúde

pública e apesar das dificuldades em obter dados objectivos nesta área, uma das

consequências do trabalho efectuado consistiu na criação de revistas especializadas na

matéria, tais como Journal of Interpersonal Violence, Journal of Family Violence e

Violence Against Women. Os estudos existentes são maioritariamente de origem

americana, no entanto, esta tendência tem sido contrariada pelo interesse demonstrado

por outros países, nomeadamente da Europa, como é o caso de Portugal.

3
A nível nacional, os primeiros trabalhos sobre violência conjugal surgiram

durante os anos noventa e, ao longo desta década, o aumento da investigação constituiu

uma resposta à construção social desta temática como um grave problema. Os estudos

empíricos sobre a violência conjugal têm-se centrado nas suas formas e consequências,

sendo apontados três tipos de maus-tratos: físicos, psicológicos e sexuais. A violência

física pode provocar danos corporais (hematomas, desfigurações, lesões internas) ou até

mesmo a morte, e inclui comportamentos como empurrar, dar murros, pontapear,

esbofetear, arranhar, morder, atirar objectos, estrangular, raptar, assassinar, entre outros.

A violência psicológica tem como consequências principais a depressão e o suicídio,

envolvendo comportamentos como insultos, ameaças (incluindo as de morte),

humilhações, sarcasmos, proibições, chantagem, difamação, destruição de bens,

perseguições, expulsão e proibição de entrada em casa, impedimento de contacto com

os filhos ou outros familiares, privação de apoio económico, extracção de rendimentos

do próprio, entre outros. A violência sexual inclui, entre outros actos, a violação, o

abuso sexual, o incesto, a imposição de prostituição ou de outro parceiro, podendo ter

consequências semelhantes às referidas na violência física e psicológica (Lavadinho &

Câmara, 2005). Em qualquer acto de violência conjugal é necessário ter em conta a sua

intencionalidade, pois esta encontra-se ligada ao contínuo que existe entre os maus-

tratos psicológicos e físicos. Na grande maioria dos episódios violentos, estes começam

por ataques verbais e podem conduzir a outras formas de violência, tal como a violência

física, através de um processo de escalada em que os parceiros se acusam e injuriam

mutuamente (Costa & Duarte, 2000).

A determinação e a especificação de factores de risco associados à violência

conjugal são fundamentais e necessárias. Segundo Antunes (2002), são habitualmente

apontados três grupos de factores que contribuem para esse tipo de violência: o

4
isolamento, a fragmentação e o poder/domínio ou influência moral. Relativamente ao

isolamento, englobam-se os seguintes níveis: geográfico, físico, afectivo e social.

Quanto à fragmentação, isto é, os rótulos que se conferem à pessoa em concreto,

envolve a violência na família de origem e consequente funcionamento familiar

agressivo, a ausência de práticas educativas adequadas, a falta de competências de

resolução de problemas, os défices comportamentais, a psicopatologia e a precariedade

económica, apesar da violência ser transversal a todos os níveis sócio-económicos. Para

além disto, a fragmentação integra ainda os comportamentos aditivos, nomeadamente o

consumo habitual e excessivo de álcool e de drogas, e a desconsideração da importância

da auto-estima, do estatuto da relação, das experiências relacionais passadas e das

competências de comunicação interpessoal. No que diz respeito ao poder/domínio ou

influência moral, são incluídos os factores culturais, ou seja, normas patriarcais,

desigualdades de género, poder diferencial na relação, aprovação normativa da violência

e legitimação de certas formas de interacção, e a agressão generalizada, a qual remete

para a agressividade do agressor tanto dentro de casa como no espaço exterior. O

impacto específico de todos estes factores pode ser moderado pelo género (Caridade &

Machado, 2006; Matos, 2002).

1.1. Acções no domínio da violência doméstica e da violência conjugal

A visibilidade crescente que a violência doméstica e a violência conjugal têm

vindo a adquirir, associada à redefinição dos papéis de género e à construção de uma

nova consciência social e de cidadania, conduziram os poderes públicos a definir

políticas de combate a um fenómeno que durante muitos anos permaneceu silenciado.

A nível internacional, várias medidas têm vindo a ser definidas no combate à

violência doméstica e, nomeadamente, à violência contra as mulheres. Desde a 3ª

5
Conferência Ministerial Europeia sobre a Igualdade entre Mulheres e Homens, em

Roma no ano de 1993, o esforço do Conselho da Europa em tomar esse combate como

uma prioridade tem vindo a intensificar-se. Em 1997, esta acção foi apoiada pelos

estados membros, que afirmaram a sua determinação em combater a violência contra as

mulheres, sendo posteriormente elaborado um Plano de Acção para combater a

Violência contra as Mulheres.

Em Portugal, o conhecimento adquirido sobre o fenómeno desde os anos

noventa, através da realização dos primeiros estudos promovidos pela Comissão para a

Cidadania e Igualdade de Género (CIG), revelou uma realidade preocupante quanto ao

número de mulheres vitimadas e respectiva vulnerabilidade. Desde então, o nosso país

tem vindo a definir um percurso integrado e sistemático no combate à violência

doméstica, consubstanciado através da adopção e implementação do PNCVD. O I

PNCVD (1999-2003) e o II PNCVD (2003-2006) surgiram como instrumentos de

sustentação da acção política para prevenir e intervir sobre a violência doméstica,

desenvolvendo uma estratégia nacional com impacto na alteração das mentalidades, no

empowerment e auto-determinação das vítimas e na redução do risco de revitimação.

Actualmente em vigor, o III PNCVD (2007-2010), tal como é definido no Programa do

XVII Governo Constitucional, tem como objectivo a consolidação de uma política de

prevenção e de combate à violência doméstica, através da promoção de uma cultura

para a cidadania e igualdade, do reforço de campanhas de informação e de formação, e

também do apoio e acolhimento das vítimas numa lógica de reinserção e autonomia. Na

organização deste Plano procurou-se distinguir um conjunto de acções/intervenções que

se caracterizam pela sua natureza estratégica e instrumental, e que se divide em cinco

Áreas Estratégicas de Intervenção:

1 – Informar, Sensibilizar e Educar;

6
2 – Proteger as Vítimas e Prevenir a Revitimação;

3 – Capacitar e Reinserir as Vítimas de Violência Doméstica;

4 – Qualificar os Profissionais;

5 – Aprofundar o conhecimento do fenómeno da Violência Doméstica.

As Áreas Estratégicas de Intervenção 1, 2, 3 e 4 traduzem uma aposta na

produção de mudanças positivas estruturais, bem como na qualidade das respostas

prestadas. A Área Estratégica de Intervenção 5, mais instrumental, centra-se na

produção do conhecimento sobre o fenómeno da violência doméstica, bem como na

convergência, sistematização e actualização de indicadores e informações sobre o

mesmo.

Em cumprimento do disposto no artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 202/2006, de 27

de Outubro de 2006, compete à CIG a prossecução e execução das políticas públicas nas

áreas da cidadania e promoção e defesa da igualdade de género. Uma das vertentes

específicas acometidas à CIG encontra-se relacionada com o combate a todas as formas

de violência de género. Neste sentido, incumbirá à CIG a dinamização, o

acompanhamento e a monitorização de todas as medidas constantes deste Plano.

É necessário salientar igualmente o papel pioneiro das Organizações Não

Governamentais (ONG) portuguesas que se mobilizaram para estruturar respostas de

apoio às mulheres vítimas de violência doméstica. A essas ONG se deve o impulso para

a implementação das primeiras Casas de Abrigo em 2000 e dos primeiros Núcleos e

Gabinetes de Atendimento a Vítimas de Violência Doméstica.

Apesar de serem identificados vários sub-universos dentro da violência

doméstica, a realidade comprova que as mulheres continuam a ser o grupo onde se

verifica o maior número de situações de violência, que neste contexto se assume como

uma questão de violência de género. Independentemente da forma que possa assumir, a

7
violência contra as mulheres raramente se consubstancia em apenas uma situação ou

incidente. Geralmente, congrega um conjunto de comportamentos que se traduzem num

padrão comportamental de abuso e controlo, em que o agressor tem, como objectivo

último, o exercício de poder sobre a vítima.

Por estas razões, o III PNCVD tem como objectivo primordial de intervenção o

combate à violência exercida directamente sobre as mulheres, no contexto das relações

de intimidade, sejam elas conjugais ou equiparadas, presentes ou passadas. Este Plano

constitui-se ainda como um desafio à articulação entre as várias instituições que

trabalham nesta área, nomeadamente as que prestam apoio às vítimas e as que dirigem a

sua intervenção aos agressores.

De facto, a importância desta temática na actualidade e em Portugal é baseada e

apoiada pelas diversas associações existentes em todo o país, tais como a CIG em

Lisboa e no Porto, a União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) em Lisboa,

Associação de Mulheres Contra a Violência (AMCV) também em Lisboa, a Fundação

Bissaya Barreto em Coimbra, o Espaço Informação Mulher em Guimarães, o Serviço de

Apoio à Mulher Vítima nos Açores e a Associação Presença Feminina na Madeira. No

entanto, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) é o organismo mais

conhecido pela sociedade em geral, possuindo vários gabinetes distribuídos por todo o

país. Para além de todas estas associações, existe o Serviço de Informação às Vítimas de

Violência Doméstica, com atendimento telefónico a qualquer hora e dia da semana.

Devido ao trabalho efectuado e aos estudos realizados, a violência doméstica

tem vindo a apresentar uma maior visibilidade, decorrente de uma crescente percepção

social do problema e de um maior grau de consciencialização para os seus direitos por

parte das vítimas de crime. Os estudos nacionais sobre a violência conjugal incidiram

maioritariamente sobre a prevalência e dimensão do fenómeno e igualmente na sua

8
compreensão qualitativa. De uma forma geral, as suas amostras dividem-se em dois

grandes grupos: 1) adolescentes e jovens adultos em contexto escolar e universitário,

respectivamente, e 2) mulheres vítimas de violência conjugal.

Relativamente ao primeiro grupo, a investigação focou, por um lado, as crenças,

as atitudes e os comportamentos relacionados com a violência conjugal e, por outro

lado, a natureza, o papel e a função das relações românticas numa perspectiva

desenvolvimental e contextual (Machado, Matos & Moreira, 2003; Paiva & Figueiredo,

2004; Caridade & Machado, 2006; Matos, 2006; Matos, Machado, Caridade & Silva,

2006). De facto, os significados da dimensão romântica podem concorrer para o

processo de integração da identidade e da autonomia ao longo da adolescência, a qual

consiste num período fulcral e de muitas mudanças. Por esse motivo, as atitudes

tolerantes face à violência conjugal, os comportamentos violentos nas relações

românticas, com prevalência do abuso psicológico, e a sua desvalorização e legitimação

por parte do agressor e da vítima podem conduzir ao processo de escalada de tais

condutas e à sua perpetração, que se encontra associada à vitimação. Deste modo, as

acções de prevenção adquirem uma maior importância, nomeadamente para promover a

aquisição de conhecimentos sobre o fenómeno, capacitar o reconhecimento de situações

abusivas, desenvolver competências para gerir tais situações e informar sobre os

recursos na comunidade.

Quanto ao segundo grupo, o objecto de estudo residiu sobre a própria

experiência da violência sobre as mulheres na conjugalidade, nomeadamente nas suas

dinâmicas específicas e diferentes tipos de abuso (físico, psicológico e sexual), nos

factores de risco e na prevalência da perpetração e da vitimação (Matos & Machado,

1999; Neves, 2003; Dias, 2004; Coelho, 2005; Machado, 2005; Pereira, Matos &

Machado, 2006). As conclusões apontam para a disseminação da violência, sugerindo

9
uma co-ocorrência dos diferentes tipos de abuso e uma elevada prevalência do

fenómeno associada a determinados factores de risco, tais como as características da

família, precariedade económica e baixa escolaridade. As evidências referidas nestes

estudos contribuem para a identificação e protecção das vítimas, a avaliação da

violência, a preparação de profissionais e a promoção da igualdade de género, tanto no

contexto da intimidade como na sociedade em geral.

Assim, conclusões dos estudos nacionais sobre violência conjugal apontam para

a necessidade de não perceber este problema como exclusivo ao casamento nem como

algo que se está a desvanecer ao longo das novas gerações, pois a cultura da prevenção

é praticamente inexistente ao nível da caracterização do fenómeno, do desenvolvimento

de programas preventivos e de serviços específicos dirigidos a esta população.

De acordo com a Polícia de Segurança Pública (PSP) e a Guarda Nacional

Republicana (GNR), foram registadas as seguintes ocorrências de violência doméstica

entre 2000 e 2006:

Ano GNR PSP GNR+PSP

2000 4204 6958 11162

2001 5096 7601 12697

2002 6065 8006 14071

2003 7422 10005 17427

2004 7088 8453 15541

2005 8377 9816 18193

2006 8957 11638 20595

Fonte: Ministério da Administração Interna

Tabela 1 – Número de ocorrências de violência doméstica registadas pela GNR e PSP,

entre 2000 e 2006.

10
Neste período, a violência conjugal representou cerca de 85% do total das

ocorrências participadas e, tomando o ano de 2006 como referência, destacam-se as

mulheres como vítimas (87%) em comparação com os homens (13%). Também em

2006, o número de casas de abrigo para vítimas deste crime era de 34, com capacidade

para acolher cerca de 550 utentes.

A APAV é responsável pelos mais recentes dados estatísticos, fornecendo totais

a nível nacional que revelam um aumento na categoria de crimes de violência

doméstica, principalmente no que diz respeito à violência conjugal. No ano de 2007, a

violência doméstica salienta-se com 87,2% correspondente a 14534 crimes,

apresentando percentagens mais significativas os maus-tratos psicológicos (32%) e

físicos (30%). Relativamente às características dos intervenientes, as vítimas são

maioritariamente mulheres (89,5%) e os autores do crime são na sua maioria homens

(90,6%), identificando os valores mais elevados uma relação de conjugalidade entre

ambos (65,7%).

No âmbito da investigação sobre as mulheres, todos estes valores estatísticos

parecem justificar a pertinência do presente estudo, o qual pretende avaliar o estilo de

vinculação em mulheres vítimas de violência conjugal, no contexto da relação

romântica, assim como analisar a relação entre o estilo de vinculação e algumas

variáveis sócio-demográficas das mulheres estudadas. Deste modo, pode ser inserido na

Área Estratégica de Intervenção 5 do III PNCVD, actualmente em vigor, ao pretender

aprofundar o conhecimento sobre a violência conjugal.

11
2. Perspectivas explicativas da violência conjugal

A violência conjugal é um fenómeno complexo, especialmente por ocorrer no

seio da família, num contexto de intimidade em que a ambivalência da relação afectiva

dificulta a sua abordagem e intervenção técnica. Diferentes perspectivas têm sido

utilizadas para ajudar na explicação da violência conjugal.

2.1 Perspectivas biológica e psicofisiológica

As perspectivas biológica e psicofisiológica centram-se na explicação da

violência conjugal a partir do nível de ira/raiva que o agressor apresenta ou da reacção

ofensiva que não consegue controlar (Gottman, Jacobson, Rushe, Shortt, Babcock,

LaTaillade & Waltz, 1995; Marques-Teixeira, 2001; Queirós, 1997). Esta leitura tem-se

revelado insuficiente e fortemente determinista, sendo objecto de algumas críticas

(Margolin, Gordis, Oliver & Raine, 1995; Ornduff, Kelsey & O’Leary, 1995). Em

primeiro lugar, não está demonstrado cientificamente que os agressores de violência

conjugal tenham níveis de ira/raiva superiores aos dos não agressores e, em segundo

lugar, essa ira/raiva não conduz necessariamente ao comportamento violento. Assim,

muitos dos agressores apresentados como possuindo um défice de controlo da ira/raiva

canalizam apenas a sua agressão para as mulheres, dentro do contexto doméstico, e nos

restantes contextos e planos interrelacionais apresentam-se como indivíduos integrados

e controlados, na maioria dos casos. Estas teorias não constituem uma base sólida para

as causas da violência conjugal, contudo, são utilizadas em programas de auto-controlo.

2.2. Perspectivas sócio-culturais

As perspectivas sócio-culturais analisam os factores históricos, sociais, culturais

e políticos que contribuem para os maus-tratos à mulher e explicam a violência conjugal

12
como consequência de conceitos históricos e sócio-culturais, tais como as sociedades

patriarcais e as crenças emergentes das desigualdades de género (Dobash, Dobash,

Wilson & Daly, 1992; Yllo, 1993). As teorias feminista e pró-feminista representam um

dos modelos explicativos dominantes e mais desenvolvidos no âmbito dos estudos sobre

violência conjugal. Estas teorias salientam a natureza sócio-cultural, mas também

diádica e individual das dinâmicas relacionais, destacando duas dimensões que estariam

na base da violência conjugal: o poder e o controlo. Assim, é salientada a forma como o

poder é concebido e expresso, quer ao nível das suas bases (a influência), dos seus

processos (a dominação) e dos seus resultados (o poder propriamente dito). A violência

conjugal é vista como uma expressão de poder relacional ou como uma reacção à

percepção de redução de poder (Stanko, 1990). Deste modo, o género masculino apoia-

se na violência para preservar o status quo e para exercer as suas posições de poder e

controlo. Neste contexto, a violência reside na privação de poder por parte de outrem: o

indivíduo que maltrata recusa-se a aceitar a sua perda de poder e, na tentativa de o

preservar, recorre ao uso da força (Matos, 2002; Stanko, 1990; Yllo, 1993).

2.3. Perspectivas psicológicas

2.3.1. Teorias intra-individuais

As teorias intra-individuais centram-se na identificação das características

psicológicas do agressor e/ou da vítima e defendem a existência de défices

desenvolvidos e manifestados desde idades precoces que estariam na base dos

comportamentos violentos (Loeber & Hay, 1994). Algumas causas explicativas do

comportamento do agressor incluem perturbação psicológica, situações de stress, baixa

auto-estima, dificuldades de empatia e de controlo, pobres competências sociais,

13
consumo excessivo de substâncias e reduzida tolerância à frustração. Nas características

da vítima encontram-se igualmente a perturbação psicológica, o estado de stress e o

consumo excessivo de substâncias, mas também os sintomas depressivos (baixa auto-

estima, fraca concentração, fadiga e pensamentos negativos), a auto-culpabilização, a

maior tolerância ao locus de controlo externo e baixos níveis de intimidade e de

compatibilidade com o parceiro conjugal (Pagelow, 1984).

2.3.2. Teorias da aprendizagem social e dos sistemas familiares

As teorias da aprendizagem social e dos sistemas familiares podem ser

igualmente uma base de compreensão da violência conjugal. De acordo com a primeira,

a violência é um comportamento socialmente aprendido e que, da mesma forma, pode

ser desaprendido ou substituído por outro mais adequado (Carden, 1994; Mihalic &

Elliot, 1997). Embora seja criticada por não enfatizar suficientemente o impacto de

aspectos mais globais, designadamente as questões de género e poder na aprendizagem

social do indivíduo, é simultaneamente elogiada por ter em conta as questões do

desenvolvimento psicossocial para explicar a violência masculina e ainda por propor, tal

como a teoria dos sistemas familiares, a transmissão inter-geracional da violência

conjugal. Este modelo postula que a experiência de vitimação na infância favorece a sua

perpetuação no seio da família, ao longo das gerações (Machado, Gonçalves & Vila-

Lobos, 2002; Perrot, 1994). A ideia de que a violência gera futura violência, designada

por transmissão inter-geracional da violência, tem sido objecto de aprofundada

investigação e também de algumas críticas, pois, apesar de existirem dados empíricos

que remetem para a associação entre vitimação na infância e comportamento violento na

vida adulta, não parece ser assim tão linear (Gelles & Loseke, 1993; Pagelow, 1984).

Relativamente à violência na idade adulta, a construção gradual de sentimentos de

14
impotência e incapacidade para alterar as situações difíceis faz-se através da existência

de um ciclo de violência. No contexto de uma relação diádica com interacções

disfuncionais, o comportamento violento, a vitimização da mulher e o seu desânimo

aprendido, assim como a sua permanência na relação podem se explicados através de

um ciclo de violência (Walker, 1979). Este ciclo apresenta três fases que variam no

tempo e na intensidade para o mesmo casal e para diferentes casais: 1) fase da tensão

crescente, 2) episódios da agressão e 3) período de reconciliação/“lua-de-mel”.

Na fase de tensão ocorrem incidentes de maus-tratos mínimos com os quais a

mulher consegue lidar de diversas formas, acreditando que irá conseguir controlar o

aumento dos comportamentos violentos do parceiro e aceitando alguma

responsabilidade pelos mesmos. Por muito intensos que sejam os incidentes isolados, as

mulheres tendem a minimizá-los, pois sabem que o agressor é capaz de fazer pior,

atribuindo a “explosão” do parceiro a uma situação particular. Durante os momentos

iniciais desta fase, as mulheres possuem algum controlo limitado, contudo, à medida

que a tensão cresce, esse controlo é rapidamente perdido. Desta forma, as mulheres

tendem para o desânimo aprendido, assimilando que são incapazes de prevenir as

ocorrências posteriores do comportamento violento. Ao sentirem o aumento de tensão,

torna-se mais difícil lidarem com as situações, pois os incidentes de maus-tratos

mínimos são cada vez mais frequentes e a raiva consequente apresenta uma maior

duração, sendo impossível neste momento restaurar o equilíbrio.

A segunda fase é caracterizada pela inevitável descarga de tensões crescentes

durante a primeira fase, distinguindo-se o comportamento violento em si dos anteriores

incidentes mínimos de maus-tratos. No início, o agressor pode conseguir justificar o seu

comportamento, no entanto, acaba por não compreender o que aconteceu, aceitando o

facto de não conseguir controlar a raiva. Deste modo, o factor desencadeante desta fase

15
depende, na grande maioria dos casos, do homem. Esta fase apresenta uma duração

mais curta que a primeira e a terceira, e é caracterizada pela falta de previsibilidade e de

controlo, onde a antecipação do que poderá acontecer pode provocar stress psicológico

grave na mulher.

Quando o ataque termina, o período seguinte é marcado pelo choque, negação e

descrença de que aquilo tenha de facto acontecido. Tanto o agressor como a vítima

tentam encontrar formas de racionalizar a seriedade de tais actos violentos. Assim, o

período de reconciliação chega com a tão desejada “lua-de-mel”, caracterizada por uma

fase calma com comportamentos de amor, bondade e arrependimento por parte do

agressor. Neste momento, a vitimização da mulher fica completa. A tensão criada na

primeira fase e libertada na segunda desaparece, dando lugar aos comportamentos

afectuosos e atenciosos do homem, que acredita nunca mais magoar a mulher nem

perder o controlo sobre si próprio. A mulher, por seu lado, quer acreditar que nunca

mais vai ser agredida e que o parceiro conseguirá mudar o seu comportamento. Nesta

fase, a relação simbiótica dos casais violentos é evidenciada, encontrando-se

dependentes um do outro, e consequentemente o sentimento de falta que poderiam

sentir se alguém abandonasse o relacionamento é intensificado. A sua duração é,

habitualmente, mais longa que a da segunda, mas mais curta que a da primeira. A

passagem para a fase de tensão crescente é caracterizada pelo terminar do período de

calma, de afecto e pelo recomeço dos incidentes de maus-tratos mínimos.

16
3. Vinculação no adulto

A teoria da vinculação chama a atenção para a importância e implicações das

experiências vinculativas precoces no desenvolvimento futuro dos indivíduos,

particularmente ao nível do funcionamento sócio-emocional e cognitivo, e das relações

interpessoais. Deste modo, a relação de vinculação apresenta duas funções principais:

proteger os indivíduos de potenciais ameaças e regular os afectos. O modelo de

vinculação no adulto de Bartholomew (1990) considera que as experiências repetidas

relacionadas com as relações precoces criam modelos de funcionamento interno. Estes

modelos integram a visão do indivíduo sobre si próprio (modelo do self) e sobre os

outros (modelo do outro). A estrutura interna das experiências acerca do próprio e dos

outros influencia o modo como o adulto regula as emoções e a sua competência social.

Assim, determinaram-se quatro estilos de vinculação (Bartholomew & Horowitz, 1991):

Modelo do self
Positivo (dependência) Negativo
(baixo) (elevado)
Positivo SEGURO PREOCUPADO/ANSIOSO
(baixo) Confortável com Preocupado
a intimidade Ambivalente
Modelo do outro e a autonomia Muito dependente
(evitamento) DESLIGADO RECEOSO/EVITANTE
Negação da vinculação Receio da vinculação
Negativo Desligado da intimidade Evitante a nível íntimo
(elevado) Oposição à dependência Evitante a nível social

Tabela 2 – Modelo dos quatro estilos de vinculação do adulto (Bartholomew &


Horowitz, 1991).

1) seguro – o indivíduo possui uma visão positiva em relação a si e aos outros, apresenta

uma boa auto-estima, auto-confiança e uma dependência saudável face ao outro,

17
encontrando-se numa posição confortável em relação a si próprio e conseguindo estar

sozinho;

2) preocupado/ansioso – o indivíduo possui uma visão negativa face a si e positiva face

aos outros, sente-se desconfortável se não tiver uma relação íntima, precisa de estar

emocionalmente próximo dos outros, apresenta sentimentos de vulnerabilidade e

inadequação nas suas relações sociais, e o seu sistema de regulação é efectuado pelos

outros;

3) desligado – o indivíduo possui uma visão positiva em relação ao próprio e negativa

face aos outros, confiante em si e desconfiado dos outros, sente-se confortável na

ausência de relações íntimas, prefere não depender dos outros nem ter os outros a

dependerem de si, salientando a importância da independência e da auto-suficiência;

4) receoso/evitante – o indivíduo possui uma visão negativa face ao próprio e negativa

face aos outros, sente-se desconfortável com a proximidade emocional, é-lhe difícil

confiar e depender dos outros, apesar de precisar de relações íntimas, e apresenta

sentimentos de vulnerabilidade e inadequação.

Os estilos preocupado/ansioso, desligado e receoso/evitante fazem parte do

conjunto da vinculação insegura, na qual os elementos de sensibilidade, garantia e

confiança na relação estão reduzidos. Deste modo, o indivíduo torna-se ansioso ou

evitante, hipervigilante ou prematuramente independente, manifestando um défice na

regulação das emoções e nas competências sociais.

3.1. Vinculação e relações íntimas

A percepção do contributo da teoria da vinculação no desenvolvimento do adulto

exige a consideração das tarefas específicas deste período do ciclo de vida (Cavanhaug,

2005). O estabelecimento da autonomia e da intimidade assumem-se como as tarefas

18
nucleares do jovem adulto. Factor primordial para assegurar a autonomia inerente à

idade adulta, a consolidação da identidade integra e promove um sentido de

diferenciação face aos pais e aos outros. Simultaneamente ao processo de diferenciação

do self subsiste o imperativo de construção da intimidade, partilha e interdependência

no contexto das relações íntimas, enquanto relações de amizade e românticas. Deste

modo, no adulto, a consolidação da intimidade e autonomia constituem-se como os

alicerces para o assumir de novas tarefas desenvolvimentais, tais como o compromisso

no contexto relacional (Faria, Fonseca, Lima, Soares & Klein, 2007).

As relações de vinculação entre adultos são estabelecidas na base da simetria e

reciprocidade e por um equilíbrio contínuo e flexível entre a procura e a provisão de

segurança e conforto. Nas relações de amizade e românticas, a intimidade constitui um

elemento central e a noção de base segura assume-se como nuclear, permitindo ao

indivíduo a exploração “dentro” e “para além” da relação. É o experienciar a base

segura, perceber o outro como disponível e responsivo, no contexto das relações de

vinculação na idade adulta, que confere a percepção e a experiência de segurança,

pertença e partilha, reflectida no estabelecimento da intimidade (Cassidy, 2001; Crowell

& Treboux, 2001).

A conceptualização do amor romântico como um processo de vinculação

evidenciou as ligações afectivas nas relações entre um casal e os processos sócio-

emocionais complexos que envolve (Hazan & Shaver, 1987). A investigação

subsequente nesta área demonstrou que as relações românticas são as mais importantes

relações de vinculação na idade adulta e que os estilos de vinculação no adulto estão

associados a um conjunto de produtos relacionais, tais como a satisfação, a confiança, a

comunicação e a resolução de conflitos (Bartholomew, 1993; Hazan & Shaver, 1994;

Shaver & Hazan, 1993). Deste modo, após algum tempo de relação, o parceiro

19
romântico constitui a figura de vinculação principal. Ao longo deste período, o processo

de vinculação desenvolve-se por quatro fases (Mintz, 2004).

A primeira fase de pré-vinculação é caracterizada pelo período inicial de

atracção física. Se o objectivo do comportamento de sedução não for unicamente a

satisfação sexual, os comportamentos afectivos desta fase vão favorecer o

desenvolvimento de laços posteriores.

Ao longo da segunda fase, a proximidade física já não é motivada unicamente

pela atracção sexual, mas sim pela procura de uma intimidade mais geral, para alcançar

uma fonte de segurança. As trocas afectivas começam a implicar emoções mais fortes e

cada parceiro revela os seus sentimentos, fornecendo informações sobre a sua história

pessoal, incluindo as suas experiências dolorosas e os seus receios. Como consequência

destas trocas, é permitido testar as respostas do outro, de maneira a que cada um se

torne suporte emocional para o outro.

Na terceira fase assiste-se verdadeiramente à constituição de laços afectivos de

vinculação, sendo caracterizada pelo facto das pessoas se encontrarem apaixonadas. A

atracção sexual tem menos importância e as trocas emocionais ocupam o lugar principal

da relação. A partir da repetição das experiências, as quais buscam conforto e segurança

através das trocas de comportamentos afectivos, o vínculo romântico é associado à

redução de stress, à calma e à serenidade. Assim, o parceiro torna-se o “porto seguro”

em caso de necessidade, e surgem manifestações de preocupação e aflição à separação

deste.

A quarta fase é representada pelo período pós-romance e pela parceria, isto é, o

estabelecimento de uma relação de compromisso e estável. A necessidade de uma

proximidade física e todos os comportamentos que favorecem o desenvolvimento dos

20
laços diminuem, dado que existe a garantia de uma interdependência mais profunda da

ligação emocional.

No âmbito da investigação sobre a vinculação nas relações íntimas, é possível

identificar dois vectores metodológicos que recorrem a diferentes medidas de avaliação:

por um lado, medidas de cariz representacional que sublinham a qualidade da

organização da representação e, por outro lado, medidas comportamentais que se

focalizam na qualidade da interacção da díade (Faria et al., 2007). Deste modo, estudos

em Portugal apontam no sentido da pertinência de avaliação da vinculação na idade

adulta, no contexto das relações íntimas, pelo recurso à combinação de múltiplos

métodos, assumidos como complementares (Lima, Vieira & Soares, 2006).

21
4. Vinculação e violência conjugal

A teoria da vinculação constitui uma base importante para a compreensão tanto

da origem dos conflitos relacionais como das diferenças individuais em lidar com os

mesmos (Feeney, 1999).

No contexto das relações românticas, a investigação tem procurado reunir

evidências do papel da organização da vinculação no funcionamento interpessoal. A

crescente evidência empírica sugere que a qualidade da representação da relação de

vinculação com o parceiro está relacionada com a qualidade do comportamento

observável no contexto das relações íntimas, quer ao nível de dimensões gerais

(capacidade de resolução de problemas e comunicação assertiva), quer em componentes

específicos de vinculação (base segura e prestação de cuidados). Especificamente, os

indivíduos com organização de vinculação segura tendem a confiar no outro, vivendo as

suas relações românticas de uma forma mais positiva e pautadas pela expressão

recíproca de afecto positivo e por reduzidas expressões de afecto negativo, como raiva

ou hostilidade. A capacidade de negociação e o processo de resolução de conflitos

apresentam-se como satisfatórios para a díade, salientando-se igualmente a aceitação do

outro, não obstante os seus defeitos. Em contraste, os indivíduos com estilo de

vinculação desligado tendem a evitar o envolvimento com o outro, retraindo-se, e a

manifestar pouco afecto, preferindo evitar o conflito. As suas relações românticas são,

assim, caracterizadas pela ausência de intimidade ou proximidade e pelos níveis baixos

de expressividade emocional, dependência emocional, ciúme e ansiedade de separação.

A interacção em que um dos elementos da díade possui um estilo de vinculação

preocupado é caracterizada pela elevada manifestação tanto de afecto positivo como

negativo, não satisfazendo o seu desejo de proximidade. Nestes indivíduos sobressai o

intenso medo de abandono, antagonizado pelo desejo de fusão com o outro e pautado

22
pela desconfiança, ciúme e uma maior vulnerabilidade à solidão. Pelo contrário, os

indivíduos com estilo de vinculação receoso não lidam activamente com a sua angústia,

hesitam em demonstrar ao outro e não procuram apoio. O evitamento da intimidade

com medo da rejeição, a auto-culpabilização dos problemas e o evitamento dos conflitos

marcam a relação romântica, assumindo um papel passivo. Deste modo, no que diz

respeito aos aspectos específicos da vinculação, os indivíduos classificados como

seguros demonstram maior capacidade em solicitar e prestar cuidados ao parceiro

(Brennan & Shaver, 1995; Crowell, Treboux & Waters, 2002; Feeney & Noller, 1990;

Ribeiro, 2006; Roisman, Madsen, Henninghausen, Sroufe & Collins, 2001).

Ao focar a regulação da intimidade nas relações românticas, a teoria da

vinculação pode constituir um meio para compreender a relação entre a violência

conjugal e o amor e intimidade, pois uma perturbação na relação de vinculação pode

conduzir a um risco acrescido de problemas relacionais na idade adulta. Deste modo, o

sentimento de falta de amor perpetua-se ao longo da vida, provocando uma oscilação

entre um desejo intenso de fusão e disponibilidade permanente dos cuidados do parceiro

e o desejo de conseguir um espaço de autonomia e individuação.

A relevância da vinculação na etiologia da violência conjugal é indicada por

diversas evidências. Em primeiro lugar, as vítimas interpretam o abuso a que são

sujeitas como um sinal de amor. Em segundo lugar, a primeira situação de violência

tende a coincidir com períodos de transição de um nível de intimidade para outro,

nomeadamente quando a relação romântica adquire uma conotação mais séria, após o

casamento ou aquando de uma gravidez. Em terceiro e último lugar, a maioria dos

agressores não são violentos fora do contexto da relação conjugal, exercendo a violência

apenas sobre aqueles que lhe são mais íntimos (Roberts & Noller, 1998).

23
A vinculação na violência conjugal pode ser explorada por duas vias, a

perspectiva do agressor e a perspectiva da vítima, as quais têm de integrar quatro

aspectos básicos da teoria da vinculação: 1) um sistema vinculativo de controlo

comportamental, 2) o papel da raiva nesse mesmo sistema, 3) a função dos mecanismos

intersubjectivos e intrapsíquicos na assimilação e acomodação da experiência e

expressão de afectos vinculativos, e 4) a transmissão inter-geracional de padrões

relacionais (Lyons-Ruth & Jacobvitz, 1999).

Os níveis de ansiedade dos parceiros conjugais são muito importantes para a

explicação dos conflitos existentes no seio do casal, contudo, no que diz respeito à

violência conjugal, a explicação baseia-se maioritariamente na interacção entre um

parceiro conjugal que se preocupa com o abandono e um outro que receia a intimidade,

especificamente entre a ansiedade do agressor e o evitamento da vítima (Roberts &

Noller, 1998; Schachner, Shaver & Mikulincer, 2003). Deste modo, tomando o homem

como agressor e a mulher como vítima, os agressores demonstram maioritariamente

elevados níveis de stress e ansiedade, de raiva e angústia, e mínimos níveis de afecto e

apoio, apresentando um estilo de vinculação preocupado. Durante o comportamento

violento, assumem uma maior raiva e hostilidade perante a sua parceira conjugal e, após

esse mesmo comportamento, percepcionam tanto a sua parceira como a sua relação de

uma forma menos positiva no que diz respeito ao amor, ao compromisso, ao respeito

mútuo, à abertura e ao apoio. No entanto, a sua dominância e intrusividade reflectem-se

na necessidade de serem desejados, sentindo dificuldade em terminar a relação. Na sua

grande maioria, as vítimas possuem um estilo de vinculação receoso, isto é, não

demonstram nem assumem a sua angústia e não sentem raiva perante o seu parceiro

conjugal, logo não compreendem a sua relação de uma forma menos positiva. A

ansiedade de separação e o evitamento da proximidade conduzem em conjunto à

24
dificuldade em comunicar e exprimir os seus sentimentos. O papel passivo e o

evitamento face aos conflitos reflectem-se na dificuldade em terminar a relação, a qual

se baseia no medo de nunca mais serem desejadas por alguém no futuro. Enquanto que,

nas vítimas, o elevado evitamento íntimo é directamente proporcional ao apoio

prestado, nos agressores, quanto maior for o evitamento da intimidade, menor será o

grau de apoio e afecto para com a sua parceira (Dutton, Saunders, Starzomski &

Bartholomew, 1994; Roberts & Noller, 1998; Simpson, Rholes & Phillips, 1996).

Ao focar estudos com amostras constituídas apenas por indivíduos do sexo

feminino que tenham sido vítimas de violência conjugal, o estilo de vinculação seguro

na relação romântica encontra-se associado à experiência funcional da raiva perante

comportamentos negativos do seu parceiro, o que facilita a concretização dos seus

objectivos relacionais. Deste modo, quando confrontadas com problemas e conflitos,

respondem com flexibilidade, lidando activamente com a situação através de uma

variedade de estratégias de coping. Nestas mulheres, os níveis moderados de, por um

lado, dependência emocional, ciúme e ansiedade de separação, e, por outro lado,

intimidade, proximidade e envolvimento reflectem-se na sua capacidade de avaliar

realisticamente os seus parceiros e relações. As mulheres com estilo de vinculação

receoso face à relação romântica reconhecem um mal-estar interior quando se

encontram em situações desencadeadoras de medo ou em conflito, e quando não

recebem apoio do seu parceiro. Assim, reagem de uma forma emocional, mas não lidam

activamente com a sua angústia. A sua insegurança na relação reflecte-se na

culpabilização pelos problemas, apesar de evitarem os conflitos. As mulheres com estilo

de vinculação preocupado no contexto da relação romântica demonstram uma raiva

disfuncional, mas apenas durante o período de pós-stress e se o seu parceiro não

fornecer apoio aquando da situação em causa. No outro extremo emocional, a relação é

25
pautada pela paixão, havendo uma maior dependência e investimento por parte destas

mulheres. A relação romântica apresenta uma importância crítica, preocupando-se com

o facto de não encontrarem outro alguém para partilhar a sua vida e idealizando o

parceiro e a relação de forma irrealista. Em situação de conflito, as mulheres com estilo

de vinculação desligado na relação romântica abstraem-se das suas emoções e

desvalorizam a atenção dada aos problemas. Devido à importância que atribuem à

independência, preferem não revelar as suas preocupações e sentimentos pessoais aos

outros, não procurando apoio. A ausência de reacção emocional e os níveis baixos de

intimidade ou proximidade conduzem ao menor envolvimento com o parceiro e ao

evitamento de conflitos (Rholes, Simpson & Orina, 1999; Simpson, Collins, Tran &

Haydon, 2007; Simpson, Rholes & Phillips, 1996).

26
5. Objectivos

Apesar de ter um papel relevante na etiologia da violência conjugal e de poder

ser explorada tanto na perspectiva do agressor como da vítima, a vinculação não tem

sido muito estudada neste domínio, em Portugal.

Tal como foi referido na introdução deste trabalho, o objectivo do presente

estudo de natureza exploratória consiste na avaliação do estilo de vinculação em

mulheres vítimas de violência conjugal, no contexto da relação romântica. No contexto

da teoria da vinculação no adulto, foi adoptado o modelo dos quatro estilos de

Bartholomew e Horowitz (1991) – seguro, preocupado/ansioso, receoso/evitante e

desligado –, o qual integra a visão do indivíduo sobre si próprio (modelo do self) e sobre

os outros (modelo do outro).

Posteriormente, pretende-se analisar a relação entre o estilo de vinculação e

algumas variáveis sócio-demográficas das mulheres estudadas, nomeadamente a idade,

estado civil, número de filhos, duração da relação conjugal e período de vitimação. A

escolha destas variáveis justifica-se pelo facto de ser a informação requerida na grande

maioria dos estudos sobre violência conjugal e a mais relevante para a avaliação do

estilo de vinculação.

27
6. Método

6.1. Obtenção e selecção da amostra

A amostra de mulheres vítimas de violência conjugal a ser incluída neste estudo

seria obtida através das queixas apresentadas à APAV. O recurso às associações por

parte destas vítimas é, muitas vezes, a opção tomada, pois o contexto privado

envolvente confere-lhes anonimato e confidencialidade, e a maioria não possui coragem

para apresentar queixa na polícia. A APAV seria a associação escolhida por diversas

razões. Em primeiro lugar, é a mais conhecida pela sociedade em geral devido ao

trabalho que tem vindo a realizar e à sua divulgação nos meios de comunicação; em

segundo, oferece uma maior acessibilidade com a distribuição de gabinetes

especializados por todo o país; e, em terceiro, as suas campanhas publicitárias têm

surtido um grande efeito nas vítimas de violência, nomeadamente no contexto da

conjugalidade, com o aumento do número de queixas e consequentes processos de

apoio.

Para a constituição da amostra, seriam seleccionadas mulheres que 1) tivessem

sofrido maus-tratos físicos, psicológicos ou sexuais por parte do seu parceiro no último

ano e que 2) vivessem maritalmente com o mesmo, quer seja em união de facto ou

casamento. A caracterização sócio-demográfica da amostra seria efectuada pela recolha

de dados relativamente à idade, estado civil, número de filhos, duração da relação

conjugal e período de vitimação. Relativamente às variáveis estado civil, duração da

relação conjugal e período de vitimação, a definição dos seus níveis tem por base os

dados referentes à APAV (2007):

- estado civil – casada, união de facto;

28
- duração da relação conjugal e período de vitimação – menos de 1 mês, entre 1 e 3

meses, entre 4 e 6 meses, entre 7 e 9 meses, entre 10 meses e 1 ano, entre 2 e 5 anos,

entre 6 e 13 anos, entre 14 e 24 anos, mais de 25 anos.

6.2. Instrumentos de avaliação

Para avaliar o estilo de vinculação, aplicar-se-ia um questionário e uma

entrevista sobre a vinculação do adulto nas relações íntimas: Questionário de Estilo

Relacional (QER; tradução e adaptação de Moreira, Aguiar, Andrez, Bernardes, Moleiro

& Silva, 1996) (ver anexo 1) e Entrevista de Vinculação aos Pares (EVP; adaptação de

Matos, Barbosa & Costa, 1997) (ver anexo 2). Relativamente à combinação de métodos,

a associação entre os valores correspondentes a uma entrevista de vinculação e a um

questionário de auto-relato é significativa, e o seu padrão de correlações sugere uma

validade convergente e discriminante. A convergência dos resultados é substancial

quando o mesmo domínio é examinado por dois métodos conceptualmente paralelos

(Bartholomew & Shaver, 1998). Neste estudo, a escolha do QER e da EVP para medir a

vinculação justifica-se pela sua combinação adequada, pois tanto a entrevista como a

medida de auto-relato se baseiam no modelo dos quatro estilos de vinculação de

Bartholomew & Horowitz (1991) e pelo facto de medirem o mesmo domínio, a

vinculação do adulto no contexto das relações íntimas. Assim, seriam esperadas

correlações entre os estilos de vinculação correspondentes a ambos os métodos e a

convergência dos resultados tornar-se-ia possível.

O QER é composto por 33 itens que são avaliados através de 5 pontos, em que 1

indica “Não tem nada a ver comigo” e 5 “Tem muito a ver comigo”. O ponto 3

encontra-se igualmente definido (“Tem algo a ver comigo”) e os pontos 2 e 4 devem ser

considerados como pontos intermédios, de acordo com a sequência numérica. Os itens

29
que constituem o QER correspondem à tradução de dois questionários norte-

americanos: Relationship Style Questionnaire (RSQ; Griffin & Bartholomew, 1994) e

Adult Attachment Questionnaire (AAQ; Collins & Read, 1990). O RSQ é um

questionário composto por 30 itens resultantes da decomposição em frases dos

parágrafos que descrevem os quatro estilos de vinculação do adulto (Bartholomew,

1990; Bartholomew & Horowitz, 1991; Griffin & Bartholomew, 1994), tendo como

objectivo avaliar o estilo de acordo com o modelo proposto pelos seus autores. Os

primeiros 30 itens do QER foram originados a partir destes itens e os restantes, do 31 ao

33, resultaram da comparação sistemática entre o RSQ e o AAQ, pois a maioria dos

itens eram iguais ou praticamente idênticos. Dessa comparação constatou-se que apenas

3 itens do AAQ não se encontravam incluídos no RSQ com uma redacção análoga ou

quase, sendo seleccionados para inclusão no QER, agora composto pelos 33 itens. O

QER foi concebido para auto-aplicação e pode ser utilizado em aplicações colectivas,

isoladamente ou integrado com outros instrumentos. As instruções contidas no

cabeçalho deverão ser suficientes, no entanto, a questão da interpretação dos pontos 2 e

4 da escala de avaliação surge frequentemente. Nesses casos esclarece-se que devem ser

entendidos como respostas intermédias aos pontos 1, 3 e 5, os quais se encontram

definidos. A ausência de definição dos pontos 2 e 4 resulta da dificuldade em elaborar

descritores que assegurem a igualdade dos intervalos entre todos os pontos da escala de

avaliação. Por fim, quando a população alvo apresenta dificuldades em preencher

autonomamente o questionário, uma possibilidade a considerar consiste na aplicação

individual com o auxílio de um entrevistador (Moreira, 2000).

A EVP é uma entrevista semi-estruturada que tem como objectivo explorar as

relações íntimas e românticas do indivíduo, tanto do passado como do presente. As

questões colocadas aos participantes pretendem a descrição da qualidade das suas

30
relações, nomeadamente as suas experiências de aceitação e rejeição, de dar e receber

apoio, as suas respostas ao conflito e à ameaça de separação, e as suas expectativas para

o futuro. A sua base corresponde à 3ª versão de Peer Attachment Interview do original

de Bartholomew & Horowitz (1991). A EVP é constituída por diversas questões que se

encontram agrupadas em 13 temáticas específicas, entre as quais história das relações

românticas, relação actual, comunicação e apoio, resolução de conflitos,

arrependimentos e dissolução de relação, e relações sociais gerais. As questões

acrescentadas na versão portuguesa encontram-se devidamente assinaladas. Para além

destes conjuntos de questões, existem 22 escalas que devem ser codificadas entre os

valores 1 e 9, estando apenas descritos os números ímpares, e em simultâneo à aplicação

da entrevista. Alguns exemplos de escalas consistem na procura de proximidade,

dominância, base segura, evitamento, qualidade das relações, dependência emocional,

prestação de cuidados, afectuosidade, ansiedade de separação, confiança no outro e

auto-confiança. A única escala acrescentada na versão portuguesa consiste no

evitamento. As escalas constituintes da EVP dividem-se em bipolares, comportamentais

e emocionais. Relativamente às escalas bipolares, no total existem 6, as quais consistem

no self-disclosure, envolvimento relativo, dominância, expressividade emocional,

dependência emocional e prestação de cuidados. As escalas de natureza mais

comportamental correspondem, por exemplo, à procura de proximidade, dominância,

prestação de cuidados e self-disclosure; quanto às escalas de natureza mais emocional

apresentam-se, por exemplo, o envolvimento relativo, dependência emocional, ciúme e

ansiedade de separação. As escalas dividem-se igualmente de acordo com o modelo do

self, nomeadamente auto-confiança, dependência emocional, ciúme e ansiedade de

separação, e com o modelo do outro, tais como procura de proximidade e self-

disclosure. A dominância, o envolvimento emocional relativo, a expressividade

31
emocional e evitamento são outras escalas relevantes para as classificações dos estilos

de vinculação, e as escalas gerais baseiam-se na coerência e qualidade das relações.

Para além dos grupos de questões e das escalas, a EVP contém uma ficha de cotação a

preencher após a sua aplicação. Nesta ficha, os estilos de vinculação são classificados

através de uma escala de 9 pontos, em que 1 indica “Sem evidência deste padrão” e 9

“Ajustamento quase perfeito”, e apenas os números ímpares se encontram descritos

(Matos, Barbosa & Costa, 1998).

Tendo em consideração que os instrumentos a aplicar não incluem a recolha de

dados relativamente à amostra, teria de ser utilizado um questionário acerca das suas

características sócio-demográficas (ver anexo 3).

6.3. Procedimentos

No primeiro contacto realizado às mulheres que correspondiam aos critérios de

selecção da amostra, seria solicitada a sua participação no presente estudo e apresentado

o respectivo objectivo: avaliar o estilo de vinculação ou de ligação que as mulheres

vítimas de violência conjugal possuem relativamente ao seu companheiro/marido, na

sua relação romântica. Logo numa primeira abordagem à sua participação e antes da

recolha dos dados, o anonimato e confidencialidade seriam assegurados a todas as

participantes.

Com a aprovação da participação no estudo, seriam recolhidos os dados sobre as

características sócio-demográficas anteriormente referidas através do questionário. De

seguida, os instrumentos seriam administrados de forma individual, num gabinete

privado e na seguinte ordem: primeiro, seria preenchido o QER e posteriormente seria

aplicada a EVP. A ordem de aplicação dos instrumentos baseia-se no tempo de

realização que cada um implica e consequentes factores de cansaço: em primeiro lugar,

32
seria administrado o questionário por apresentar um conjunto de itens de fácil

preenchimento, num curto espaço de tempo, e posteriormente seria aplicada a entrevista

por ter uma duração mais longa. Durante a administração dos instrumentos, seriam

verificadas e elucidadas quaisquer dúvidas por parte das participantes.

Ao longo de todo este processo, é necessário ter em conta o estado de

vulnerabilidade das participantes por se encontrarem numa situação muito delicada, e

ter igualmente a preocupação em facilitar a compreensão dos objectivos de estudo e dos

instrumentos utilizados, nomeadamente adaptando a linguagem ao contexto

interpretativo e considerando o ritmo de resposta de cada participante, de modo a

diminuir ao máximo a intrusividade na sua aplicação.

6.4. Plano de análise de resultados

Como anteriormente referido, o estilo de vinculação seria avaliado por dois

instrumentos: o QER e a EVP.

A cotação do QER seria baseada em análises de primeira e de segunda ordem,

que remetem para uma solução de 6 factores e uma solução de 3 factores,

respectivamente. Cada factor é constituído por um conjunto de itens, cujo número é

variável entre si. Na primeira análise factorial, os 6 factores consistem na

“Preocupação”, “Desconforto com a proximidade”, “Outro negativo”, “Competência e

conforto com a proximidade”, “Conforto com o apoio” e “Auto-suficiência”. Na

segunda análise factorial, os 3 factores residem na “Preocupação”, “Conforto com a

proximidade” e “Auto-suficiência”. A realização da segunda análise justifica-se quando

várias correlações entre os resultados das escalas correspondentes aos factores da

primeira análise atingem valores importantes.

33
Relativamente à EVP, a codificação das escalas seria efectuada de acordo com

os códigos existentes no seu manual. Posteriormente, seria realizada a análise de

conteúdo das respostas às questões abertas de cada uma das temáticas da entrevista. Na

ficha de cotação, as escalas codificadas seriam agrupadas, as observações seriam

registadas e os estilos de vinculação seriam classificados a partir da sua relação geral

com as escalas específicas avaliadas na entrevista. Cada um dos estilos de vinculação

teria de ser codificado separadamente, pois as cotações de cada indivíduo indicam uma

combinação de mais do que um estilo.

Após a avaliação do estilo de vinculação, seria realizada a análise descritiva dos

dados através do cálculo da média e do desvio-padrão no estilo de vinculação e no

estado civil (variáveis nominais), e das frequências e das percentagens na idade, no

número de filhos, na duração da relação conjugal e no período de vitimação (variáveis

métricas). Deste modo, os valores obtidos permitiriam a caracterização sócio-

demográfica da amostra.

Posteriormente, proceder-se-ia à análise da relação do estilo de vinculação com a

idade, estado civil, número de filhos, duração da relação conjugal e período de

vitimação.

Para compreender a relação do estilo de vinculação com o estado civil, seria

necessário analisar as suas frequências numa tabela de contingência/tabela de dupla

entrada e realizar um teste de significância não paramétrico, o Teste do Qui-quadrado

(X2). No âmbito deste teste, seria aplicado o Teste de Independência, cuja hipótese nula

(H0) é uma hipótese de independência, isto é, as duas variáveis são independentes. Com

a rejeição de H0, existiria uma relação entre o estilo de vinculação e o estado civil.

Para compreender a relação do estilo de vinculação com a idade, número de

filhos, duração da relação conjugal e período de vitimação seria necessário, em primeiro

34
lugar, verificar se as variáveis métricas seguiam uma distribuição Normal ou não. No

primeiro caso, seria utilizado um teste paramétrico, a Análise da Variância (ANOVA),

cuja H0 se baseia na igualdade dos valores médios de cada grupo. Se a estatística de

teste (F) fosse significativa, H0 seria rejeitada, logo existiria uma tendência das variáveis

para um dos estilos de vinculação. Posteriormente à rejeição de H0, seria aplicado um

método de comparações múltiplas, o Método de Scheffé, para conhecer os níveis

responsáveis pela rejeição, comparando mais do que dois grupos simultaneamente. No

segundo caso, seria utilizado um teste não paramétrico, o Teste de Kruskal-Wallis, cuja

H0 é uma hipótese de igualdade na distribuição dos grupos. Com a rejeição de H0,

existiria um grupo com maior número de observações, indicando uma tendência das

variáveis para determinado estilo de vinculação. Após a rejeição de H0, seria aplicado o

método de Comparações Múltiplas para determinar qual ou quais os grupos com

tendência a diferir.

35
7. Discussão e conclusão

De acordo com a revisão de literatura, a vitimação da mulher na violência

conjugal é transversal aos quatro estilos de vinculação do adulto – seguro, preocupado,

receoso e desligado – no contexto da relação romântica.

O modelo dos quatro estilos de vinculação de Bartholomew e Horowitz (1991)

postula que uma pessoa com estilo seguro apresenta uma elevada coerência,

organização e auto-confiança, e sente-se confortável com intimidade e a autonomia nas

relações. O estilo preocupado caracteriza uma pessoa ansiosa com as relações,

incoerente e idealista quando fala das mesmas, muito dependente dos outros para a sua

auto-estima e com uma abordagem orientada para os aspectos relacionais. Segundo o

estilo receoso, uma pessoa manifesta uma baixa auto-estima e evitamento da intimidade

devido ao medo da rejeição, motivações conflituosas/ambivalentes, tais como o desejo e

o medo da intimidade em simultâneo, e uma elevada centração nos seus

comportamentos e pensamentos. Por fim, uma pessoa com estilo de vinculação

desligado apresenta baixa elaboração e coerência, elevada coerência, evitamento da

intimidade e confiança apenas em si própria de forma compulsiva, desvalorizando a

importância das relações.

O presente estudo poderá consistir numa forma de compreender a prevalência

dos estilos de vinculação em mulheres vítimas de violência conjugal, no que diz

respeito à apresentação de queixa numa associação.

Perante o comportamento violento do parceiro, as mulheres com estilo de

vinculação seguro experienciam afectos negativos, tais como raiva e hostilidade. A

experiência funcional desses afectos conduz à flexibilidade da sua resposta para lidar

com o conflito de forma activa, através da exibição de uma variedade de estratégias de

coping como, por exemplo, a procura de uma fonte de apoio. A sua prevalência poderia

36
ser justificada pela sua capacidade em avaliar realisticamente o seu parceiro e respectiva

relação, em solicitar e prestar cuidados e em concretizar os seus objectivos relacionais.

Após a conduta violenta do seu parceiro, as mulheres com estilo de vinculação

preocupado manifestam elevado afecto negativo, demonstrando raiva e revolta de um

modo disfuncional. Por não percepcionarem o parceiro e a relação de forma realista, a

sua idealização pode alcançar proporções emocionais extremas. A prevalência deste

estilo poderia ser baseada no facto destas mulheres apresentarem queixa no período de

pós-stress devido à ausência de apoio por parte do seu parceiro e à dificuldade em lidar

com os seus próprios problemas.

Quando sofrem maus-tratos, as mulheres com estilo de vinculação receoso

reconhecem um mal-estar interior pela falta de apoio conjugal, no entanto, não

demonstram nem assumem sentir angústia ou raiva pelo seu parceiro. A relação não é

percepcionada de um modo mais negativo e a auto-culpabilização pelos problemas

evidencia a sua dependência. A sua prevalência poderia ser fundamentada no

evitamento face a futuros conflitos devido à sua vulnerabilidade e na forma de reagir

emocionalmente.

Na situação de violência, as mulheres com estilo de vinculação desligado

desvalorizam a atenção dada aos problemas, abstraindo-se emocionalmente. A ausência

de intimidade e proximidade com o seu parceiro é complementada pela baixa ansiedade

de separação, preferindo não revelar as suas preocupações e sentimentos pessoais. A sua

prevalência poderia ser apoiada pelo evitamento quanto a futuros conflitos, pelo baixo

nível de envolvimento emocional com o seu parceiro e pela importância que atribuem à

independência, contrariando a sensação de estarem prisioneiras na própria relação.

Na literatura, alguns autores salientarem a prevalência do estilo receoso nas

vítimas. Resultado semelhante poderia ser obtido com o presente estudo, contudo, é

37
necessário considerar a diferença de populações das respectivas amostras: enquanto que

a informação empírica se baseia numa população anglo-saxónica, a amostra deste

estudo pertenceria a uma população latina. Deste modo, torna-se relevante salientar a

importância das diferenças entre as respectivas culturas.

Após a avaliação do estilo de vinculação, os profissionais de saúde mental

poderão auxiliar as mulheres vítimas de violência conjugal através da intervenção

directa sobre os aspectos centrais da relação romântica, nomeadamente o

estabelecimento de novos padrões de comunicação, o desenvolvimento de competências

ao nível da resolução de problemas e do processo de negociação, e a tomada de decisão

relativamente à permanência ou à saída da relação. A interacção da vinculação nos

parceiros conjugais, as suas respectivas inseguranças e a qualidade da relação consistem

igualmente em factores a ter em conta na intervenção. O apoio psicológico poderá ser

feito individualmente, com o casal ou em grupo, dependendo de diversos factores

pessoais, relacionais, sociais e do próprio estilo de vinculação dos elementos da díade.

Para contextualizar o estilo de vinculação da mulher no domínio da violência

conjugal, é necessário focar todos os seus aspectos fundamentais, especificamente as

funções principais de uma relação de vinculação, isto é, protecção de ameaças e

regulação de afectos, o estabelecimento da autonomia e da identidade na pessoa adulta,

e a constituição da intimidade e da base segura no contexto relacional. A partir da

revisão de literatura e considerando os grupos de factores de risco para a violência

conjugal, o estudo permitiria a análise a posteriori da relevância de determinadas

características, as quais se encontrariam relacionadas com a teoria da vinculação.

Dentro deste conjunto seria possível identificar a violência na família de origem, a falta

de competências para a resolução de problemas, a desvalorização da auto-estima,

38
estatuto da relação e experiências relacionais passadas, e a desconsideração da

importância de competências de comunicação interpessoal.

As variáveis idade, estado civil e número de filhos têm sido bastante

consideradas na literatura, no entanto, o mesmo não sucede para as variáveis duração da

relação e período de vitimação que penso serem fundamentais para o objectivo do

presente estudo.

De uma forma geral, a variável idade poderia indicar a faixa etária que,

provavelmente, incluísse a maioria das mulheres vítimas de violência conjugal.

Especificamente, se com este estudo se verificasse a sua relação com o estilo de

vinculação, poderia ser um possível meio para diferenciar os quatro grupos.

Com a variável estado civil definida pelos níveis “casada” e “união de facto”

pretendia-se garantir a vivência conjunta do agressor com a vítima, evidenciando uma

relação de compromisso, em coabitação. A oficialização ou a não oficialização da

relação poderá influenciar o estilo de vinculação da mulher, o qual se encontra

directamente associado aos produtos relacionais como a satisfação, a confiança, a

comunicação e a resolução de conflitos. Desta forma, seria pertinente verificar a

distribuição do estado civil das mulheres pelos quatro grupos.

A existência ou não de filhos na relação poderá apresentar um papel muito

importante na etiologia da violência conjugal e igualmente na tomada de decisão da

mulher em ficar ou sair da relação. Por um lado, o número de filhos poderia estar

relacionado com o estilo de vinculação e, por outro lado, não seria possível diferenciar

os quatro grupos de acordo com esta variável.

Pouco considerada nos estudos, mas muito utilizada para dados estatísticos, a

variável duração da relação conjugal poderá ser pertinente no estilo de vinculação da

mulher. De acordo com a revisão de literatura, após algum tempo de relação, o parceiro

39
constitui a principal figura de vinculação. Durante este período, são estabelecidas

ligações afectivas, as quais envolvem processos sócio-emocionais complexos. Ao longo

que a relação romântica progride, simultaneamente a vinculação desenvolve-se por

fases, as quais poderiam ser determinadas de acordo com os níveis definidos para a

duração da relação conjugal. O presente estudo permitiria verificar se o estilo de

vinculação se encontra relacionado com esta variável, por um lado, pelo menor período

de tempo ou, por outro lado, pelo maior período de tempo.

Igualmente considerada maioritariamente pelos dados estatísticos, a variável

período de vitimação encontra-se definida com níveis idênticos aos da variável anterior.

Associados à vitimação encontram-se o processo de escalada dos comportamentos e

episódios violentos e a sua perpetração. Relativamente ao processo de escalada, os

comportamentos vão adquirindo uma conotação cada vez mais violenta, começando por

ataques verbais e conduzindo à agressão física, e os respectivos episódios vão

decorrendo através de um ciclo de violência constituído por três fases, cujo tempo e

intensidade apresentam variações à medida que a relação se desenvolve. Quanto à

perpetração, esta pode consistir numa desvalorização e legitimação dos comportamentos

violentos por parte tanto do agressor como da vítima. Deste modo, pretendia-se analisar

a relação do estilo de vinculação com o período de vitimação como medida de

diferenciação dos quatro grupos.

Se as variáveis apontadas no presente estudo não se encontrarem relacionadas

com o estilo de vinculação da mulher vítima de violência conjugal e consequentemente

não permitirem a diferenciação dos quatro grupos, é possível a existência de limitações

metodológicas na avaliação do estilo de vinculação e/ou no plano de análise dos dados,

nomeadamente nos testes estatísticos a aplicar, ou devido à presença de variáveis

estranhas.

40
Para além dos atributos que este estudo apresenta, existem alguns aspectos a

serem melhorados de futuro. Relativamente aos instrumentos, devido à ausência de

aplicação de ambos, não foram identificadas quaisquer falhas, no entanto, é de salientar

a necessidade de uma formação de um ano para poder aplicar a EVP, o que se poderá

tornar numa desvantagem. Quanto aos possíveis resultados, poderá ser importante

controlar outras variáveis que não as do presente estudo, mas que possam influenciar os

resultados, tais como a decisão de ficar ou sair da relação por parte da mulher, a vítima,

e o estilo de vinculação do parceiro, o agressor.

A relevância do sexo do experimentador é evidente num trabalho sobre o

domínio da violência conjugal, pois poderá enviesar os possíveis resultados de um

estudo que, neste caso, foca apenas o sexo feminino. Deste modo, devem ser igualmente

referidas algumas limitações ao nível geral do presente estudo. A informação empírica

revela que os maiores obstáculos consistem na resistência das vítimas em denunciar os

comportamentos violentos, na sua vergonha pelo facto de serem vitimizadas pelo

próprio parceiro, na relação próxima que mantêm com o mesmo, nos sentimentos de

impotência e no desconhecimento dos seus direitos. Este conjunto de factores conduz à

dificuldade em apontar rigorosamente qual a incidência e a prevalência dos

comportamentos violentos sobre o cônjuge.

Relativamente a implicações para a prática clínica, é de referir o potencial papel

do presente estudo para um dos factores da díade passíveis de prever comportamentos

violentos futuros, nomeadamente a interacção dos estilos de vinculação dos parceiros

conjugais. Neste caso, a terapia de casal é a mais recomendada, no entanto, não se

apropria a situações qualificadas como graves, em que a segurança da pessoa se

encontra em risco, assim como a sua integridade humana. Outro dos factores para o qual

o estudo poderá ser importante consiste no padrão de comunicação do casal, cujo

41
funcionamento disfuncional se baseia nas inseguranças da vinculação. Deste modo,

poderiam ser sugeridos e trabalhados novos padrões comunicacionais para a díade,

intervindo previamente em cada parceiro sobre as suas conflituosas noções do nível

óptimo de intimidade emocional. Por fim, o factor da satisfação na relação poderá

igualmente ter uma base neste estudo, visto que o estilo de vinculação é influenciado

pela qualidade relacional sentida pelo casal ou, pelo contrário, pela insatisfação e

carência evidenciadas por um ou por ambos os parceiros conjugais. Neste domínio,

destaca-se o desenvolvimento de competências ao nível da resolução de problemas e

processo de negociação.

O presente estudo poderá ser assumido como um processo complementar à

prática do time-out, uma das intervenções mais aplicadas nas pessoas que experienciam

violência nas suas relações românticas. Esta técnica designa-se para situações em que o

descontrolo se encontra eminente, sendo recomendado às pessoas que se retirem do

contexto relacional violento até adquirirem “controlo interno” suficiente. Quando é

utilizado adequadamente, o casal volta a reunir-se, desta vez com capacidade e controlo

para uma discussão saudável. Para o sucesso desta intervenção, é necessária a

compreensão e a concordâncias de ambos os elementos da díade, pois a aplicação

apenas a um parceiro transforma o time-out numa simples quebra no padrão de

interacção. Este resultado poderá ser prejudicial não só para a actual situação como

também para a ocorrência de futuros episódios violentos. Deste modo, os profissionais

de saúde mental devem ter um cuidado particular nesta matéria, sendo necessária muitas

vezes a assistência de técnicos especializados.

Tal como a informação empírica, espera-se com este estudo demonstrar que a

violência conjugal não consiste num problema exclusivo ao casamento nem em algo

que se está a desvanecer ao longo das gerações, caracterizando este fenómeno na

42
perspectiva da teoria da vinculação. De futuro, a política da prevenção deve ser

enraizada na nossa sociedade, nomeadamente no desenvolvimento de novos programas

e de serviços mais específicos à população.

43
8. Referências bibliográficas

Antunes, M. A. F. (2002). Violência e vítimas em contexto doméstico. In C. Machado

& R. A. Gonçalves (Ed.), Violência e vítimas de crimes, I: Adultos. Coimbra:

Quarteto Editora.

Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (2007). Violência doméstica: Estatísticas –

Totais nacionais.

Bartholomew, K. (1990). Avoidance of intimacy: An attachment perspective. Journal of

Social and Personal Relationships, 7, 147-178.

Bartholomew, K. (1993). From childhood to adult relationships: Attachment theory and

research. In S. W. Duck (Ed.), Understanding relationship processes 2:

Learning about relationships. London: Sage.

Bartholomew, K., & Horowitz, L. M. (1991). Attachment styles among young adults: A

test of a four-category model. Journal of Personality and Social Psychology, 61,

226-244.

Bartholomew, K., & Shaver, P. R. (1998). Methods assessing adult attachment: Do they

converge? In J. A. Simpson & W. S. Rholes (Ed.), Attachment theory and close

relationships. New York: The Guilford Press.

Brennan, K. A., & Shaver, P. R. (1995). Dimensions of adult attachment, affect

regulation and romantic relationship functioning. Personality and Social

Psychology Bulletin, 21, 267-283.

Caridade, S., & Machado, C. (2006). Violência na intimidade juvenil: Da vitimação à

perpetração. Análise Psicológica, 4(XXIV), 485-493.

Cassidy, J. (2001). Truth, lies and intimacy: An attachment perspective. Attachment and

Human Development, 3, 121-155.

44
Cavanhaug, J. (2005). Adult development and aging. California: Cole Publishing

Company.

Coelho, P. (2005). Violência conjugal: Violência física conjugal nas mulheres que

recorrem aos cuidados de saúde primários. Revista Portuguesa de Clínica Geral,

21, 343-351.

Collins, N. L., & Read, S. J. (1990). Adult attachment, working models and relationship

quality in dating couples. Journal of Personality and Social Psychology, 58,

644-663.

Costa, M. E., & Duarte, C. (2000). Violência familiar. Porto: Âmbar.

Crowell, J. A., & Treboux, D. (2001). Attachment security in adult partnerships. In C.

Clulow (Ed.), Adult attachment and couple psychotherapy. London: Brunner-

Routledge.

Crowell, J. A., Treboux, D., & Waters, E. (2002). Stability of attachment

representations: The transition to marriage. Developmental Psychology, 38, 467-

479.

Dias, I. (2004). A violência sobre as mulheres e os idosos. Psychologica, 36, 33-61.

Dobash, R., Dobash, R., Wilson, M., & Daly, M. (1992). The myth of sexual symmetry

in marital violence. Social Problem, 39, 1.

Duarte, C. (1998). Violência conjugal. Tese de Dissertação de Mestrado. Faculdade de

Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto: Porto.

Dutton, D. G., Saunders, K., Starzomski, A., & Bartholomew, K. (1994). Intimacy-

anger and insecure attachment as precursors of abuse in intimate relationships.

Journal of Applied Social Psychology, 24(15), 1367-1386.

45
Faria, C., Fonseca, M., Lima, V. S., Soares, I., & Klein, J. (2007). Vinculação na idade

adulta. In I. Soares (Ed.), Relações de vinculação ao longo do desenvolvimento:

Teoria e avaliação. Braga: Psiquilibrios.

Feeney, J. A. (1999). Adult romantic attachment and couple relationships. In J. Cassidy

& P. R. Shaver (Ed.), Handbook of attachment: Theory, research and clinical

applications. New York: The Guilford Press.

Feeney, J. A., & Noller, P. (1999). Attachment style as a predictor of adult romantic

relationships. Journal of Personality and Social Psychology, 58, 281-291.

Gelles, R. J., & Cavanaugh, M. M. (2005). Violence, abuse and neglect in families and

intimate relationships. In P. C. McKenry & S. J. Price (Ed.), Families and

change: Coping with stressful events and transitions. United States of America:

Sage Publications.

Gelles, R. J., & Loseke, L. (1993). Current controversies on family violence. Newbury

Park, CA: Sage.

Gerard, P. S. (1991). Domestic violence. In S. L. Brown (Ed.), Counselling victims of

violence. United States of America: American Counselling Association.

Gottman, J. M., Jacobson, N. S., Rushe, R. H., Shortt, J. W., Babcock, J., LaTaillade, J.

J., & Waltz, J. (1995). The relationship between heart rate reactivity,

emotionally aggressive behavior and general violence in batterers. Journal of

Family Psychology, 9(3), 116-131.

Griffin, D. W., & Bartholomew, K. (1994). The metaphysics of measurement: The case

of adult attachment. In K. Bartholomew & D. Perlman (Ed.), Advances in

personal relationships: Attachment processes in adulthood. London: Kingsley.

46
Griffin, D. W., & Bartholomew, K. (1994). Models of the self and other: Fundamental

dimensions underlying measures of adult attachment. Journal of Personality and

Social Psychology, 67(3), 430-445.

Hazan, C., & Shaver, P. R. (1987). Romantic love conceptualized as an attachment

process. Journal of Personality and Social Psychology, 52, 511-524.

Hazan, C., & Shaver, P. R. (1994). Attachment has an organizational framework for

research on close relationships. Psychological Inquiry, 5, 1-22.

Instituto Nacional de Estatística (2006). Vítimas do sexo feminino/masculino em

processo com arguidos/condenados do sexo masculino/feminino por processos-

crime e fases do julgamento em relação ao crime.

Lavadinho, C., & Câmara, M. (2005). A violência doméstica: Conceito, perspectivas e

características. In Contra a violência doméstica: O caminho percorrido 2002-

2005. Lisboa: Presidência do Conselho de Ministros e Universidade Lusófona de

Humanidades e Tecnologias.

Lima, V., Vieira, F., & Soares, I. (2006). Vinculação em casais: Avaliação da

representação da intimidade e da interacção conjugal. Psicologia, XX, 51-63.

Loeber, R., & Hay, D. F. (1994). Developmental approaches to aggression and conduct

problems. In M. Rutter & D. F. Hay (Ed.), Developmental trough life: A

handbook for clinicians. Boston: Blackwell Scientific.

Lyons-Ruth, K., & Jacobvitz, D. (1999). Attachment disorganization: Unresolved loss,

relational violence and lapses in behavioral and attentional strategies. In J.

Cassidy & P. R. Shaver (Ed.), Handbook of attachment: Theory, research and

clinical applications. New York: The Guilford Press.

47
Machado, C., Gonçalves, M., & Vila-Lobos, A. J. (2002). Crianças expostas a múltiplas

formas de violência. In C. Machado & R. A. Gonçalves (Ed.), Violência e

vítimas de crimes, II: Crianças. Coimbra: Quarteto Editora.

Machado, C., Matos, M., & Moreira, A. I. (2003). Violência nas relações amorosas:

Comportamentos e atitudes na população universitária. Psychologica, 33, 69-83.

Machado, C. (2005). Violência nas famílias portuguesas: Um estudo representativo na

região norte. Psychologica, 40, 173-194.

Manita, C. (2005). A intervenção em agressores no contexto da violência doméstica em

Portugal: Estudo preliminar de caracterização. Lisboa: Comissão para a

Cidadania e Igualdade de Género.

Margolin, G., Gordis, E. B., Oliver, P. H., & Raine, A. (1995). A physiologically based

typology of batterers: Promising but preliminary. Journal of Family Psychology,

9(3), 253.

Marques-Teixeira, J. (2001). Comportamento criminal. Perspectiva biopsicológica.

Lisboa.

Matos, M. (2002). Violência conjugal. In C. Machado & R. A. Gonçalves (Ed.),

Violência e vítimas de crime, I: Adultos. Coimbra: Quarteto Editora.

Matos, P. M. (2006). Relações românticas em adolescentes. Psychologica, 41, 9-24.

Matos, P. M., Barbosa, S., & Costa, M. E. (1998). Manual da entrevista de vinculação

aos pares e documentos adicionais. Instituto de consulta psicológica, formação e

desenvolvimento. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação –

Universidade do Porto.

Matos, M., & Machado, C. (1999). Violência conjugal e o modelo de intervenção em

crise. Psicologia: Teoria, Investigação e Prática, 4(2), 373-388.

48
Matos, M., Machado, C., Caridade, S., & Silva, M. J. (2006). Prevenção da violência

nas relações de namoro: Intervenção com jovens em contexto escolar.

Psicologia: Teoria e Prática, 8(1), 55-95.

Mikulincer, M., & Shaver, P. R. (2007). Attachment in adulthood. New York: The

Guilford Press.

Mintz, A.-S. (2004). Vinculação, casal e família. In N. Guedeney & A. Guedeney (Ed.),

Vinculação: Conceitos e aplicações. Lisboa: Climepsi.

Monteiro, F. J. (2000). Mulheres agredidas pelos maridos: De vítimas a sobreviventes.

Lisboa: Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.

Moreira, J. M. (2000). Manual do questionário de estilo relacional. Faculdade de

Psicologia e de Ciências da Educação – Universidade de Lisboa.

Neves, S. (2003). Amor, poder e violência(s) contra as mulheres: A importância do

género nas relações íntimas. Psicologia: Teoria, investigação e prática, 8(1),

133-144.

Ornduff, S. R., Kelsey, R. M., & O’Leary, K. D. (1995). What do we know about

typologies of batterers? Journal of Family Psychology, 9(3), 249.

Pagelow, M. D. (1984). Family violence. New York: Praeger.

Paiva, C., & Figueiredo, B. (2004). Abuso no relacionamento íntimo: Estudo de

prevalência em jovens adultos portugueses. Psychologica, 36, 75-107.

Perdereau, F., & Atger, F. (2004). Avaliação da vinculação no adolescente e adulto. In

N. Guedeney & A. Guedeney (Ed.), Vinculação: Conceitos e aplicações. Lisboa:

Climepsi.

Pereira, A., Matos, M., & Machado, C. (2006). Violência sexual na conjugalidade: Um

estudo exploratório sobre as narrativas da vítima. Psychologica, 41, 119-150.

49
Perrot, R. (1994). Working with men who abuse women and children. In L. Lupton &

T. Gillespie (Ed.), Working with violence. London: McMillan.

Presidência do Conselho de Ministros (2007). III Plano Nacional Contra a Violência

Doméstica 2007-2010. Diário da República, 1ª série(119), 3987-4002.

Presidência do Conselho de Ministros (2007). A igualdade de género em Portugal.

Lisboa: Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.

Queirós, C. (1997). A importância das abordagens biológicas no estudo do crime.

Revista do Ministério Público, 69, 37-53.

Rholes, W. S., Simpson, J. A., & Orina, M. M. (1999). Attachment and anger in an

anxiety-provoking situation. Journal of Personality and Social Psychology, 76,

940-957.

Ribeiro, M. T. (2006). Para a compreensão da relação entre padrões conjugais, estilos de

vinculação e papéis sexuais. Psychologica, 41, 65-82.

Roberts, N., & Noller, P. (1998). The associations between adult attachment and couple

violence: The role of communication patterns and relationship satisfaction. In J.

A. Simpson & W. S. Rholes (Ed.), Attachment theory and close relationships.

New York: The Guilford Press.

Roisman, G. I., Madsen, S. D., Henninghausen, K. H., Sroufe, L. A., & Collins, W. A.

(2001). The coherence of dyadic behaviour across parent-child and romantic

relationships as mediated by the internalized representation of experience.

Attachment and Development, 3, 156-172.

Schachner, D. A., Shaver, P. R., & Mikulincer, M. (2003). Adult attachment theory,

psychodynamics and couple relationships: An overview. In S. M. Johnson & V.

E. Whiffen (Ed.), Attachment processes in couple and family therapy. New

York: The Guilford Press.

50
Scharfe, E., & Bartholomew, K. (1994). Reliability and stability of adult attachment

patterns. Personal Relationships, 1, 23-43.

Shaver, P. R., & Hazan, C. (1993). Adult romantic attachment: Theory and evidence. In

D. Perlman & W. Jones (Ed.), Advances in personal relationships, 4. London:

Jessica Kingsley.

Simpson, J. A. (1990). Influence of attachment styles on romantic relationships. Journal

of Personality and Social Psychology, 59(5), 971-980.

Simpson, J. A., Collins, W. A., Tran, S., & Haydon, K. C. (2007). Attachment and the

experience and expression of emotions in romantic relationships: A

developmental perspective. Journal of Personality and Social Psychology, 92(2),

355-367.

Simpson, J. A., Rholes, W. S., & Phillips, D. (1996). Conflict in close relationships: An

attachment perspective. Journal of Personality and Social Psychology, 71(5),

899-914.

Sousa, A. I. (2002). As mulheres e a violência doméstica. União de Mulheres

Alternativa e Resposta.

Stanko, E. (1990). When precaution is normal: A feminist critique of crime prevention.

In L. Gelsthorpe & A. Morris (Ed.), Feminist perspectives in criminology. Open

University Press.

Walker, L. E. A. (1979). The battered woman. United States of America: Harper

Perennial.

Yllo, K. A. (1993).Through a feminist lens: Gender, power and violence. In R. J. Gelles

& D. R. Loseke (Ed.), Current controversies on family violence. California:

Sage.

51

Você também pode gostar