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Violência entre Torcidas nos Estádios de Futebol: uma questão de Saúde Pública

INTRODUÇÃO

A violência, no Brasil, é uma das principais causas de mortalidade,


principalmente entre os jovens. As instâncias governamentais trata dessa
problemática somente como uma questão de segurança. Somente no final dos
anos 80 passou a ser uma questão de saúde pública (Minayo,1994; Chesnais,
1999; Mello Jorge, 2001), com a justificativa do aumento estrondoso das
mortes e traumas ocorridos pelo viés da violência e pela influência que isso tem
nos anos de vida perdidos, denominado por Minayo (1994) de mortalidade
prematura.
Nos anos 90 a preocupação com a violência ganhou prioridade nas
organizações internacionais pelo número de vítimas e a magnitude das
consequências que produz, nos aspectos orgânico e emocional, obtendo
caráter de um problema de saúde pública em vários países (Minayo, 1994;
Souza e Minayo, 1994; Simões, 2002; Souza, 2005). Minayo (1994) aponta que
a violência afeta o setor da saúde do sistema público.

As vítimas da violência precisam de atendimento nos serviços de


urgência e de uma atenção especializada referente à reabilitação física,
psicológica e assistência, porém a saúde não deve continuar a focar somente
nos efeitos da violência, preocupados somente com equipamentos e recursos
humanos, falta preocupação quanto as medidas preventivas por parte da saúde
(Gawryszewski e col., 2004). A violência é um complexo fenômeno social, deve
ser pensar na sua especificidade histórica e o que vai além dela (Deslandes,
1993).

A violência engloba esfera política, econômica, da moral, do direito, da


psicologia, das relações humanas e institucionais e do plano individual, e nota-
se na sua relação dialética de interioridade/exterioridade, integrando a
racionalidade da história e a origem da própria consciência e não deve ser
encarada de uma forma fatalista, pois, na sua maioria, os eventos violentos não
são acidentais e nem fatalidades, podem ser prevenidos e para isso é preciso
haver intervenção lógica e racional para que sejam efetivamente evitados
(Domenach, 1981).
A complexidade do fenômeno implica em seus fatores de risco e nas
formas estratégicas para a sua prevenção, é preciso buscar apontar a
magnitude do fenômeno, suas características e tendências para tentar compor
um quadro diagnóstico direcionado para ação prática, é neste sentido que são
direcionadas as perspectivas deste trabalho.

A origem da violência humana tem diversas e controversas explicações,


desde fatores orgânicos, psíquicos e de história de vida, determinantes
sociais pertencentes à realidade socioeconômica e integrantes de uma
categoria classificatória que Minayo (1994) definiu como Violência Estrutural.
Para autora existem fatores situacionais que podem servir como
potencializador, uso de drogas, álcool, porte de arma, a participação em
subgrupos sociais, facções criminosas e torcidas de clubes de futebol, que
fazem parte do quadro da chamada Violência da Delinquência, manifestadas
em ações fora da lei e cuja análise também passa pela compreensão da
violência estrutural.
Para outros autores, como Denisov (1986), analisar a violência envolve
discussão sobre a capacidade dos indivíduos superarem as condições de
adversidade como resposta à violência estrutural e seu enfrentamento,
tentando restabelecer e defender a justiça, que no contexto da classificação
apresentada por Minayo (1994) é denominada de Violência de Resistência.
Focar a violência como problemática social reverbera na crise de valores
nas relações estabelecidas na sociedade atualmente. Segundo Costa (1984),
“a violência, ao contrário da agressividade animal, traz a marca de um desejo;
é o emprego desejado da agressividade, com fins destrutivos”.
Analisar dados sobre violência é problemático pela sua complexidade,
há dificuldade em entender, precisar e quantificar suas proporções,. Trata-se
de um controverso e dinâmico fenômeno biopsicossocial, criado e desenvolvido
na vida em sociedade, e isso se intensifica com a escassez e quase
inexistência de informações nos sistemas brasileiros sobre a morbidade por
violência. (MINAYO, 1994)
Para Minayo (1994) a categoria causas externas é rigorosa,
compreendendo no excesso de eventos e processos, incluindo todos os tipos
de acidentes, suicídios, homicídios e lesões intencionalmente infligidas,
intervenções legais, lesões resultantes de operações de guerra e lesões que se
ignora serem acidental ou intencionalmente infligidas. O conjunto desses
estudos é pobre em subnotificação, interferindo nas informações policiais e
médicas, ocasionando na perda significativa dos dados e, portanto, falha na
sua consistência.
Enfatizar a importância da identificação da violência a partir do seu
quadro gerador - apesar desse fenômeno quase nunca pode ser visto somente
sob uma ótica geradora -, é a proposta deste estudo, pretendendo debater a
questão da violência entre torcedores nos estádios de futebol, como algo
justificável para a nossa sociedade, uma vez que a violência, verbal e física é a
tradução de um dos principais códigos e símbolos sociais de grupos,
principalmente de jovens das chamadas torcidas organizadas (PIMENTA,
1997).

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