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Vamos falar de Agressores

A civilização humana comporta desde sempre a matriz da violência, em todas as suas


manifestações e qualidades, abrangendo desde as formas de maior crueldade até às
mais dissimuladas, mas profundamente brutais.
À medida que a sociedade e os meios tecnológicos evoluem, também o crime se
torna mais adaptado, ora veja-se o aparecimento dos meios de comunicação, como o
telefone e a rede de internet que promoveram a dinamização de práticas criminosas.
Poderemos definir violência como qualquer forma de uso intencional de força, coação
ou intimidação contra terceiro ou toda a forma de ação intencional que de algum
modo, vai lesar os direitos e necessidades de uma pessoa. O Comportamento violento
divide-se em três grandes categorias: violência física, psicológica/emocional e sexual.
A violência física - “consiste no uso da força física com o objetivo de ferir/causar dano
físico ou orgânico, deixando ou não marcas evidentes”.
A violência psicológica/emocional - “consiste em desprezar, menosprezar, criticar,
insultar ou humilhar a vítima, em privado ou em público, por palavras e/ou
comportamentos”.
A violência sexual - inclui toda a forma de imposição de práticas sexuais contra a
vontade da vítima, podendo haver recurso à ameaça, coação, força física para obrigar a
vítima a levar a cabo atos de cariz sexual.
Só muito recentemente a violência foi encarada como um problema de saúde pública.
Lopes e Gemito (2015) especulam três razões para esse facto:
 Preocupação crescente de várias instituições;
 Pelas consequências para as vítimas e para a sociedade;
 A violência reconhecida pela sociedade como um problema.
A intervenção em agressores deve ser considerada complementar à intervenção em
vítimas e ter como finalidade:
 A proteção das vítimas;
 A responsabilização do agressor;
 A mudança de comportamentos abusivos;
 A prevenção da reincidência.
Se existe hoje uma consciência alargada sobre a necessidade de denunciar as
situações de violência e de apoiar as vítimas de violência, é necessário compreender
também que, dada a natureza deste fenómeno e as características psicossociais dos
agressores, uma das formas de proteger as vítimas e de prevenir futuras vitimizações
é, precisamente, favorecer a mudança nos agressores no sentido de um
comportamento relacional, atual ou futuro, não violento.
A Organização Mundial de Saúde, em 2003, considera este um problema de saúde
pública e do qual decorrem consequências que “[...] são devastadoras para a saúde e
para o bem-estar de quem a sofre [...] comprometendo o desenvolvimento da criança,
da família, da comunidade e da sociedade em geral”.
Do ponto de vista da avaliação, importa considerar os fatores de risco, preditores de
(re)ocorrência de violência ou crimes. Os fatores de risco não são as causas da
violência, apenas aumentam a probabilidade de que a mesma ocorra, podendo ser
estáticos (não mudam ao longo do tempo, p.e., problemas no passado com abuso de
drogas ou álcool) ou dinâmicos (alteráveis e podem ser alvo de intervenção, p.e, nível
educacional e residência estável). Importa ainda atender aos fatores de proteção,
“considerados mecanismos que um indivíduo dispõe internamente ou capta do meio
em que vive”, que o ajudam a superar situações de adversidade, ou ainda, que
modificam, melhoram e alteram as respostas do sujeito a determinados riscos de
desadaptação. À semelhança dos fatores de risco, a investigação tem encontrado
fatores de proteção estáticos (p.e., capacidade cognitiva e uma vinculação segura na
infância) e dinâmicos, tais como: características pessoais (p.e., autocontrolo,
estratégias de coping); atributos pessoais motivacionais (p.e., trabalho e lazer);
motivação para o tratamento; fatores ambientais externos (p.e., suporte informal e
formal – redes de apoio); e, mudanças situacionais (p.e., falta de oportunidades para
cometer crimes) ou a maturidade do individuo.
Para concluir, “no que toca ao terapeuta, importa consciencializar-se que, em muitos
casos, a intervenção não é possível porque as condições do ofensor ou do contexto não
a aconselham e de que, noutros, o sucesso não surge tal como prevíramos, mas apenas
ocorrem modificações mais débeis… Enfim, entendemos que a intervenção e
tratamento dos ofensores é um dever e simultaneamente um direito, de todos os que
nos preocupamos com o bem-estar social e a segurança em geral. (Gonçalves, 2007)”
Proposta de filmes: Joker (2019) e The Suicide Squad (2021)
Proposta de livros: Até que a Violência nos Separe de Malvina Sousa (2019) e O Lado
Negro da Mente de Kerry Daynes (2020)

Bibliografia:
Azevedo, N. A. (2013). FATORES DE RISCO E TIPOLOGIAS DOS AGRESSORES CONJUGAIS.
Trabalho realizado no ambito do Mestrado em Criminologia. Faculdade de Direito,
Universidade do Porto.
Caldeira, C. T. (2012). Perfil Psicopatológico de Agressores Conjugais e Fatores de Risco .
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde. Universidade
da Beira Interior, Covilhã.
Ferraz, A. M. (2021). Avaliação e Intervenção Psicológica com Agressores. Leiria : ForYourMind,
Lda.
OLIVEIRA, S. M. (2016). O modus operandi de agressores sexuais adultos: diferenças entre
agressores sexuais de crianças, violadores e pedófilos. Dissertação de Candidatura ao grau de
Mestre em Medicina Legal. Instituto de Ciências de Abel Salazar da Universidade do Porto.

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