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CRIMES E REPRESENTAÇÕES MEDIÁTICAS

Média e Justiça Criminal: uma introdução

Contextualização desta relação nas sociedades atuais. Que papel têm os média e os
novos média na produção, percepção e reacção à criminalidade? Caminhar no sentido de
desconstruir o discurso do senso comum sobre o assunto:

 O debate sobre os efeitos da violência na média;


 O debate sobre a relação entre os média e o sistema de justiça penal;
 As mudanças na paisagem mediática e as suas implicações para o redesenho das
relações/debate entre os média e a justiça criminal.

Violência nos média


Discurso do senso comum: média e crime violento estão “naturalmente” ligados.

 A sociedade tornou-se mais violenta desde o advento da indústria dos média.


 Os média são responsáveis por destruir os padrões morais, subverter códigos
consensuais de comportamento e corromper mentes jovens.

Desde os finais do século XIX, assistimos a ondas de medo e indignação pública com
ondas de crime percebidos como ligados a cada nova inovação nos meios de comunicação e
informação: cinema, fotografia, imprensa, rádio, TV, internet, etc.

As consequências de conteúdos violentos para os espectadores/leitores são bastante


desvalorizadas, mas a verdade é podem afetar os comportamentos individuais do público. Os
média valorizam e costumam colocar na primeira página sobretudo conteúdos violentos,
chocantes e aterrorizadores. Para além disso, existem consequências quanto às audiências,
alimentando a insegurança e o medo, sendo que é possível existir manipulação por parte dos
média ou outros para manipular a opinião pública: Exemplo: situações de guerra, que incitam
violência.

1. Acusação de incitamento - Representação de comportamentos violentos arrisca-


se a levar o espetador, em particular, jovem, a reproduzi-los na vida real. Por isso,
relação entre desenvolvimento da delinquência, em particular, da juvenil, e dos
média- média como escola do crime.
2. Cenas de violência são nefastas - Independentemente dos efeitos imediatos,
simplesmente por uma espécie de efeitos de acumulação- transforma a violência
num valor- não que se torne um terrorista, mas que se torne em alguém para
quem o terrorismo é banal e positivo: banalização e vulgarização da violência.
3. Efeitos das cenas de violência - Podem ser catastróficos em indivíduos menos
resistentes no domínio psicológico ou moral. O pressuposto é que os adultos
equilibrados não correm grande risco; mas os fracos, à frente dos quais crianças,
sim.

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4. Outros pensam que a violência é nociva simplesmente porque pode traumatizar,
especialmente as crianças mais novas. Poder atribuído sobretudo à televisão, às
imagens. Efeitos temidos não são da ordem do comportamento, mas da
perturbação psíquica.

Opiniões não desfavoráveis à passagem de cenas violentas nos média:

 O espectáculo é uma coisa, a vida é outra: Mesmo as crianças, depois dos


primeiros anos, sabem disso. Se há exceções, devem ser protegidos, mas não só
pelos média.
 Cenas de violência podem ter efeitos benéficos - catarse.

As cenas de violência são numerosas nos média e, quanto mais forem as cenas, mais
evidente é a sua natureza nefasta.

Questões levantadas pela investigação sobre média e violência:

 Mas há venenos que deixam de atuar para além de uma certa dose: sendo em
dose maciça, atua?
 Cenas de violência: o que compreendem?
 Nem todos os média contém conteúdos violentos; e há violência fora dos média,
na literatura, como por exemplo na bíblia.

Não é fácil medir a violência representada nos média. Não é fácil medir o
desenvolvimento da violência na realidade social. Aumento da violência pode ser devido a
muitos fatores. E mesmo que se pudesse demonstrar aumento concomitante da violência nos
média e na vida social, nem por isso ficaria demonstrado que uma causa o outro.

A violência nos média como uma questão de representação


A violência representada é um objeto cultural, não pode ser tratada como a violência
real, que é um fenómeno de outra ordem:

 A condenação da violência nos média assenta na ideia de que o sentido da mesma


é manifesto: é a delinquência, o ódio, a força brutal, o mal, etc.
 Na nossa cultura a violência pode significar tudo isso, mas pode ter funções
diferentes. Exemplo: uma atitude diferente perante o corpo e a expressão física.

A reflexão sobre as representações da violência nos média e o seu impacto deve levar
em conta os contextos em que elas são produzidas e interpretadas.

Contextos que se devem levar em conta:

 Género discursivo e tipo de média em que surgem as cenas de violência : O uso


que se faz da violência nos média é ambivalente: pode ser positivo e negativa- ao
serviço da lei/contra ela; herói é positivo e negativo, assassino sensível e bom, etc.
Depende de quem pratica, do género discursivo em causa, etc.
 De receção: Os efeitos das representações de violência nos comportamentos
individuais variam com o contexto social, psicológico e cultural em que as

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mensagens são recebidas. Não se pode inferir os efeitos a partir do conteúdo. O
seu sentido varia segundo a posição do telespectador face à mesma posição, essa
que por sua vez varia me função da idade, etnia, género, etc.
 Histórico, cultural e societal: As cenas de violência situam-se em obras ou géneros
que encontram o seu lugar no horizonte de uma cultura, num determinado
momento histórico.

É inegável o poder das representações mediáticas sobre os públicos, mas estes são
receptores passivos, mas intérpretes ativos, e essa influência exerce-se numa interação
complexa com outras práticas sociais e culturais. É necessário repensar e questionar o que está
em causa quando se fala no poder dos média em matéria criminal.

As mudanças nas representações mediáticas não veem de outro planeta. Fazem parte
de mudanças sociais maiores de perceções e práticas sociais. Há uma relação dialética entre
média, sociedade e cultura.

Relações entre média e justiça criminal


Os académicos criticam os média por produzirem uma visão estreita da criminalidade,
uma dieta altamente estandardizada:

 Explorador da imagem do criminoso como sendo um estranho violento e predador,


assente muitas das vezes em imagens com raízes históricas que incluem arquétipos
como: árabes como terroristas, ciganos como ladrões, imigrantes como
criminosos.

Esta relação é ambivalente (amor/ódio) porque se, por um lado, as instituições de


justiça criminal usam os média informativos para informar sobre assuntos ligados ao crime e
justiça para dissuadir o desvio, por outro lado, as instituições precisam dos média porque uma
cobertura positiva pode aumentar o apoio do público e reforçar assim a legitimidade das
mesmas. Os média precisam da informação dada por essas instituições porque a matéria
ligada ao crime e ao desvio está de acordo com os “valores-notícia” (foco no desvio e
negatividade, lucro, conflito, controvérsia, etc.). Mas os média, enquanto instituições, têm
políticas próprias e poder distinto das autoridades judicias: cooperam com as autoridades, mas
também são ativos na adequação de informação fornecida por essas fontes aos seus público-
alvo.

É difícil isolar os efeitos que os média têm sobre o sistema face a outras forças. O
visionamento de shows de crime está correlacionado com a perceção de que esse tipo de
programa tem uma função educativa (Hayes & Levett, 2012). Porém não se pode dizer que
esse hábito causa esse ponto de vista da mesma forma que não se pode dizer que o foco
mediático em assuntos de crime causa comportamentos criminosos.

Refletir sobre as relações entre média e justiça criminal

Ponto de partida - situar essa relação no contexto actual, quer em termos societais,
quer em termos de paisagem mediática, não esquecendo que o referente dessa discussão
tende a ser unilateral, que dizer, centrados nos chamados países do Norte.

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Traços dominantes da sociedade contemporânea
1. A sociedade em rede - as linguagens e as tecnologias digitais de produção e
comunicação de registo em imagem e a democratização do acesso às mesmas, em
contraponto com o aumento das desigualdades de todo o tipo, incluindo no acesso
às novas tecnologias.
2. Domínio da cultura visual, digital e móvel - Cultura dos ecrãs - privilégio da
imagem.
3. Sociedade de controle - Processos de reforço de vigilância, controlo e disciplina
associados à tendência crescente de visualizar a existência, aumentando a sua
visibilidade (Mirzoeff, 2015). Importa, portanto, perguntar, como o poder social,
incluindo os média e as empresas digitais, operam para controlar as imagens
expostas à sociedade. As culturas estão repletas de prescrições sobre o que se
deve obrigatoriamente ver, assim como sobre o que não se deve ver (caso em que
se converte em tabu), assim como prescrições sobre quem pode ou quem não
pode ver, e quem deve ou não deve ser visto. Exemplo: Nas sociedades talibãs a
imagem é altamente policiada quando estão em causa corpos femininos.
4. A estetização do quotidiano: Culto do corpo, da aparência, das pulsões e
sensações: padrões corporais, ou seja, importância física do ser humano.
5. Processos de globalização cultural: Protagonismo das indústrias culturais e globais
e os média fornecem-nos mediascape: “comunidades imaginadas”: “O aspeto mais
importante destas paisagens mediáticas é que fornecem especialmente sob a sua
forma de televisão, cinema e cassete, vastos e complexos reportórios de imagens,
narrativas e etnopaisagens a espetadores em todo o mundo, e nelas estão
profundamente misturados o mundo das notícias e da política”. Tendem a ser
explicações centradas na imagem, com base narrativa, de pedaços da realidade, e
o que oferecem aos que as vivem e as transformam é uma série de elementos
(como personagens, enredos e formas textuais) a partir dos quais podem formar
vidas imaginadas, as deles próprios e as daqueles que vivem noutros lugares.”
(Appadurai, 2004, pp. 53-54).

Mudanças na paisagem mediática


De que falamos quando falamos em média? Média enquanto meios ou suportes de
mensagens.

Clássicos:

 Médias impressos - Panfletos, romances, jornais, etc.


 Médias visuais - Televisão, filmes, etc.
 Médias sonoros - Rádio.

Novos média: Internet, redes sociais, jogos electrónicos e telemóvel.

Claro que há sobreposição: jornais impressos estão agora disponíveis nas redes sociais.

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Os média como indústrias culturais na sociedade em rede
Convergência do telefone, computador e média, integração de negócios e de
mercados.

Indústrias culturais: Instituições que, na nossa sociedade, usam os modos de produção


e de organização característicos das corporações industriais para produzir e disseminar
símbolos na forma de serviços e bens culturais, geralmente, e ainda que não exclusivamente
como mercadorias.

Na lógica capitalista dominante, os produtos culturais, em geral, e os produtos


mediáticos, em particular, assentam num sistema de mercadorias (produtos com valor de
troca) e na propriedade privada dos meios de produção, procurando a acumulação do capital.

A internacionalização de conteúdos (informativos/jornalísticos e de entretenimento) e


a concentração mediática soa movimentos observáveis desde o século XIX. Isto sofreu uma
forte intensificação com:

 O fim dos monopólios estatais;


 A abertura dos mercados dos média electrónicos (rádio e TV) à iniciativa privada;
 A privatização dos média estatais.

Estas transformações criaram condições para a emergência de grupos mediáticos de


grande porte e para a reconfiguração dos existentes.

Os serviços públicos enfrentam:

 A concorrência feroz dos média comerciais;


 A fragmentação das audiências, a deslocação da atenção dos públicos para os
“novos média”;
 A redução das receitas publicitárias;
 A diminuição dos investimentos dos Estados e as progressivas exigências da União
Europeia no sentido de garantir que os Serviços Públicos não façam concorrência
desleal aos canais privados.

Panorama mediático atual


Tipos de conteúdos mediáticos

 Publicidade;
 Notícias;
 Entretenimento;
 Infoentretenimento (o que era meramente informativo passou a ser
entretenimento com informação; notícias dos jornais, radio, TV, documentários,
ficção, séries, filmes, reality show.)

Os donos dos média em Portugal

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 Grupo Confina - Presidido por Paulo Fernandes, este é o maior grupo de Imprensa
português, detendo diversos títulos de informação, desde jornais diários (Correio
da Manhã, Record, Jornal de Negócios e Destak, a revistas como a Sábado, a TV
Guia e a Máxima, além de projetos exclusivamente online como Aquela Máquina e
Flash.
 Global Media - Em termos de imprensa e online, e além de participação em títulos
regionais como o Açoriano Oriental e o Diário de Notícias da Madeira, conta com
títulos como o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, O Jogo, Dinheiro Vivo, Delas,
Evasões e Volta ao Mundo. Detém ainda a Rádio Notícias que, através de várias
frequências, emite a rádio TSF Press. O grupo é ainda o maior acionista privado da
agência Lusa.
 Grupo Impresa – Presidência executiva Francisco Pedro Balsemão; detém oito
canais de televisão (SIC, SIC Caras, SIC Internacional, SIC K, SIC Mulher, SIC Notícias,
SIC Radical e DStv – estação emitida apenas em África), o jornal Expresso e as
publicações Blitz e Volante. A Impresa é também acionista da agência de notícias
Lusa, na qual tem uma participação de 22,35%. Alienou recentemente à Trust in
News uma série de publicações (Activa, Caras, Caras Decoração, Courrier
Internacional, Exame, Exame Informática, Jornal de Letras, Telenovelas, TV Mais,
Visão, Visão História e Visão Júnior).
 Grupo Sonaecom – Controlado em quase 90% por empresas do universo Sonae,
da família Azevedo, é o único acionista da Público - Comunicação Social, que detém
o jornal diário com o mesmo nome, além de 50% da Sociedade Independente de
Radiodifusão Sonora (SIRS), a empresa que controla a Rádio Nova (os restantes
50% são detidos, em partes iguais, pelos empresários Álvaro Covões e Luís
Montez) e 1,38% da agência Lusa. Tem 50% da Zopt (os restantes são da
empresária angolana Isabel dos Santos) que, por sua vez, controla 52,15% da NOS,
que tem 25% da Sport TV.
 Observador – Nasceu como um jornal generalista digital, uma linha que mantém
até hoje apesar de já ter colocado à venda nas bancas cinco edições especiais em
papel. A publicação online é detida pela empresa Observador On Time, que tem no
empresário português Luís Amaral o seu grande acionista. Através da Amaral e
Hijas Holdings, o dono do grupo polaco Eurocash controla mais de 45,6% da dona
do Observador que, de resto, conta com vários empresários portugueses no seu
capital.
 A Renascença – Com uma participação de 60% do Patriarcado de Lisboa e de 40%
da Conferência Episcopal Portuguesa, é um dos principais operadores de rádio em
Portugal, detendo diversas frequências que são utilizadas pelas suas rádios: RFM,
Renascença, Megahits e RádioSim.
 Grupo RTP – Detido a 100% pelo Estado português, é, em termos de dimensão e
recursos humanos, a maior empresa de comunicação social do País, detendo oito
canais de televisão (RTP 1, RTP 2, RTP 3, RTP Memória, RTP Açores, RTP Madeira,
RTP Internacional, RTP África) e oito emissoras de rádio (Antena 1, Antena 2,
Antena 3, RDP Memória, RDP Açores, RDP Madeira, RDP Internacional e RDP
África).

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 Media Capital – um dos maiores grupos de comunicação social portugueses.
Detida pela empresa espanhola Promotora de Informaciones (Prisa), através da
Vertix, detém 94,69% da (o também espanhol “Abanca” é dono de 5,05% das
ações) A Media Capital detém, a 100%, seis canais de televisão, dos quais o
destaque vai para a TVI, que emite em sinal aberto. No cabo, o grupo conta com a
TVI 24, TVI Ficção e TVI Reality, enquanto a nível internacional a aposta passa pela
TVI África e TVI Internacional. A nível editorial, e depois da venda em 2013 dos
seus últimos títulos em papel (Lux, Lux Woman e Revista de Vinhos), o projeto
editorial com mais notoriedade é a página online do Mais Futebol. O grupo é
também um dos maiores operadores de rádio em Portugal, controlando, a 100%,
cerca de 20 empresas detentoras de licenças de emissão radiofónica. As
frequências controladas por estas instituições estão ao serviço das diversas
emissoras do grupo: Rádio Comercial, M80, Cidade FM, Smooth FM e Vodafone
FM.
 Agência Lusa – Tem no Estado o seu acionista maioritário (50,14%). Apesar de
pública e de receber anualmente uma indemnização compensatória pelo serviço
que presta (em 2018 o valor foi de 15,838 milhões), a Lusa conta com vários
acionistas privados, acima citados.
 Sociedade Vicra Desportiva – Proprietária do jornal desportivo A Bola, a revista de
automóveis Autofoco.
 Sport TV – Nasceu em 1998, sendo o primeiro canal premium português. Inserida
no universo da Olivedesportos, Grupo detido por Joaquim Oliveira ficou com
“apenas” 25% da empresa de canais de desporto (oito estações, dos quais duas em
exclusivo para África). As operadoras de telecomunicações MEO, NOS e Vodafone
detêm, cada uma, uma fatia de 25% da Sport TV. Além dos canais em sinal
fechado, o grupo lançou há dois anos a Sport TV +.

Mudanças nas práticas de produção mediática e nos usos dos média


Em Portugal, lê-se pouca literatura, poucos jornais, poucas revistas e, com a internet
os poucos leitores de papel que existiam, diminuíram ainda mais: jornalismo de secretária -
crise motivada pela falta de venda de jornais, muitos jornalistas foram despedidos, sobretudo
os que tinham mais experiência porque eram os mais caros e, como tal, sobraram os
estagiários que possuem salários miseráveis.

Por um lado, verifica-se o declínio do negócio da imprensa escrita: Quem lê jornais ou


vê TV diariamente? Como acede aos mesmos? Mudanças nos hábitos de consumo de jornais e
TV. Por outro, a capacidade tecnológica dos média recolherem, reciclarem e disseminarem
informação nunca foi tão grande e os tipos de média nunca foram tão diversos:

 Estão disponíveis mais conteúdos, mais formatos por mais meios, incluindo
artefactos da realidade virtual;
 É cada vez maior a interação entre os média e as redes sociais.

Os hábitos de consumo dos média mudaram radicalmente devido à redução do


tempo de assistir a TV e ao maior consumo da visualização de séries, etc.

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Tipos de conteúdo mediático ou géneros discursivos associados ao
crime
Para além dos noticiários, existem os publicitários, os de entretenimento e os de
ficção.

 Ficção: Séries - o crime em programas televisivos: Talk shows, canais de acesso


aberto, etc.
 As redes sociais: Distinguem-se em termos tecnológicos dos média tradicionais na
medida do acesso, da facilidade e da velocidade em que a pessoa vê as notícias,
sendo que são canais baseados na internet que permitem aos utilizadores interagir
em tempo real (comentários).

Novos média face aos tradicionais

 Mais rapidez;
 Maior alcance;
 Encorajam reciclagem de conteúdos e convergência de tecnologias;
 Globalização da informação;
 Os alvos e os conteúdos são mais definidos;
 O consumo é feito pela escolha do consumidor;
 Interatividade: consumidor pode ser participante ativo no desenvolvimento do
conteúdo (jogos de vídeo);
 Interatividade em tempo real ou assíncrona.

Redes Sociais e Crime


Necessário estudar como estas se modelam:

 As percepções do sistema de justiça criminal;


 O funcionamento desse sistema (trabalho policial, dos tribunais);
 As ações criminosas;
 As ações dos cidadãos em geral face ao crime e ao controle do crime.

A Internet é vista, no senso comum, como particularmente criminogénica devido aos


seus elementos interpessoais e de massa:

 Possibilidade de o boato ter difusão global;


 Acesso a informação fundamental para a realização de crimes;
 Possibilidade de transmitir crimes em direto, de divulgar a versão de quem comete
os crimes, etc. Receios do chamados efeitos copycat.

A importância dos podcasts – ficção - O mais popular, em termos mundiais, “Serial”, é


sobre crime e justiça criminal (Ronson, 2014).

Impacto das redes sociais no trabalho da polícia

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Servem para:

 Antecipar concentrações, atividades desviantes;


 Seguir as nossas pegadas, em nome da segurança pública;
 Aumentar possibilidade de controlo (Surette 2015);
 Resolver crimes, como por exemplo, através do uso de dados do Facebook.

Novas formas de crimes antigos: a privacidade em risco na luta contra o crime feita via
vigilância das forças policiais.

Impacto das redes sociais na relação do público com as instituições de


controlo criminal
Os utilizadores das redes sociais podem ter um papel ativo no processo judicial: é visto
por uns como positivo, e por outros como pondo em causa pilares da democracia. Exemplos:

 Jornalismo cidadão ou participativo:


 Publicação de vídeos, fotografias, nomes de pessoas envolvidas;
 Gravação de crimes e transmissão ao vivo via Facebook. Em vez de ser a polícia
a controlar a narrativa, é o cidadão com vídeo transmitido em tempo direto;
 Denúncia da violência policial, como por exemplo, o George Floyd;
 Escrutínio das decisões judiciais;
 Mobilização para o protesto de rua.

Uso das redes sociais contra a vitimização e perceções da


vitimização
As mulheres, grupo que, segundo as estatísticas oficiais, constitui um dos grupos mais
vulneráveis em termos de crime, em conjunto com os das pessoas de idade, tem adotado, um
pouco por todo o mundo, uma posição de força que contrasta com a de passividade que lhe é
associada, como por exemplo, o movimento #metoo (assédio sexual no trabalho, 2017) ou o
movimento #somostodasmulheres (assédio de rua, cultura do estupro, 2015).

O papel dos média no processo de construção social do crime


Duas linhas de debate sobre média e crime:

 Média como ameaça à lei, ordem e moralidade - as representações do crime são


vistas como causa significativa do desvio, desde o século XVIII.
 Média como forma de controlo social - as representações do crime são vistas
como causa de alarme público exagerado sobre crime e desordem, provocando
apoio para o endurecimento político das soluções repressivas, sendo que surgiu na
criminologia radical dos anos 60 e 70, século XX.

O ponto de vista tradicional do ocidente é que a realidade e o conhecimento do


mundo são independentes dos processos humanos e totalmente fundamentados em eventos
autónomos e independentes: sob o construcionismo social, as pessoas criam a realidade - o

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mundo que acreditam existir - com base nas suas experiências pessoais e em conhecimentos
adquiridos através das interacções sociais.

O construcionismo social vê o conhecimento como algo socialmente criado pelas


pessoas. Assim, enfatiza os significados compartilhados que as pessoas têm - ideias,
interpretações e conhecimentos que os grupos de pessoas concordam.

O conhecimento social sobre crime e justiça advém da teoria da construção social da


realidade que reconhece 3 tipos de realidade:

1. Realidade experienciada - Primeira fonte de conhecimento. O mundo diretamente


experimentado - todos os eventos vividos. O conhecimento assim adquirido é
relativamente limitado, mas tem uma poderosa influência na realidade construída
de um indivíduo.
2. Realidade simbólica - Todos os eventos que não testemunhamos, mas
acreditamos que ocorreram, todos os fatos sobre o mundo que não vivemos
pessoalmente, mas acreditamos serem verdadeiros, todas as coisas que
acreditamos existir, mas não vimos, compõem a realidade simbólica de cada um de
nós. Quantos serial killers conhecemos pessoalmente? (livros, média, redes sociais)
– experienciada indiretamente.
3. Realidade socialmente construída - O conhecimento social que cada um de nós
partilha, que resulta de uma mistura de informação resultante do mundo
experienciado e do mundo simbólico. É a partir dessa mistura que cada um de nós
constrói o seu próprio “mundo”. A realidade socialmente construída resultante é
percebida como o “mundo real” de cada indivíduo, ou seja, o mundo em que cada
um acredita.

Há ainda a realidade subjetiva socialmente construída - essa realidade subjetiva difere


até certo ponto entre os indivíduos porque variam as suas realidades experienciadas e variam
as suas realidades simbólicas. No entanto, indivíduos com acesso a conhecimentos
semelhantes e que frequentemente interagem entre si tendem a negociar e construir
realidades sociais semelhantes. O resultado final é uma realidade subjetiva socialmente
construída que direciona as práticas da cada um de nós.

A maior parte do que acreditamos sobre o mundo vem da realidade simbólica:

 Na nossa sociedade, são os média que continuam a ter mais peso na formação
da realidade simbólica, suplementam e muitas vezes substituem o nosso
conhecimento limitado derivado da realidade que experienciamos e das
informações da realidade simbólica que recebemos de outras pessoas e
instituições.
 É porque muito do nosso conhecimento social é adquirido simbolicamente
através dos média que há preocupação com as representações do crime e da
justiça que produzem.
 Não esquecer, porém, o peso das redes sociais, se bem que, como dissemos
média e redes sociais estão interligados.

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Os discursos e as imagens mediáticas são hoje a principal fonte de experiência e
conhecimento social sobre crime e justiça:

 Receber uma multa de trânsito continua a ser a forma mais comum de contato
entre os cidadãos e as autoridades policiais.
 Entre as vítimas de crimes, ser alvo de um roubo é muito mais provável do que
a vitimização violenta.
 Para a maioria de nós, é preferível enfrentar crimes e justiça através dos
média, do que enfrentar diretamente eventos de crimes e justiça.
 Poucos procuram a experiência de serem vítimas de crimes, mas muitos
gostam de ver e ler sobre crimes.

Na abordagem construcionista social, os média são vistos como:

 O elemento mais importante na definição da realidade do crime e da justiça para a


maioria das pessoas;
 A arena onde se confrontam diferentes visões sobre crime e justiça, geralmente a
favor dos atores sociais como poder e estatuto;
 Encorajadores de um conjunto particular de atitudes e percepções sociais sobre
crime e justiça, contribuindo para modelar a gravidade de alguns crimes aos olhos
do público, como também para moldar sentimentos de insegurança. É a partir
dessa realidade mediada que as políticas de crime e justiça são pensadas e
implementadas.

Não sendo os únicos a exercer influencia nas leituras individuais do fenómeno, os


média são vistos como um elemento relevante na cristalização dos significados do crime, na
instituição da consciência do crime e da insegurança como experiências coletivas e na
legitimação de políticas.

Todas as visões da realidade são construídas, e estar ciente disso ajuda a decidir quais
as construções concorrentes de crime e justiça que adotamos. O processo de construção social
não é inerente pernicioso ou maligno, mas devemos reconhecer o processo para avaliar
cuidadosamente as políticas de justiça criminal resultantes:

Quem tem acesso privilegiado aos média nessa matéria?


Quem representam esses atores sociais e o que eles podem ganhar ou perder com
a aceitação ou rejeição das suas reivindicações?
Que traços têm as representações que produzem nos seus discursos sobre crime e
justiça?

As representações mediáticas do crime


Os média oferecem não a realidade do crime, mas representações do mesmo, sendo
que isso significa que é necessário entender o que está em causa quando falamos em
“representações” ou em “representar”.

O que se entende por representar?

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 É descrever;
 É mostrar, trazer à mente, por via da descrição, ou do retrato, ou da imaginação,
pessoas, objetos ou eventos;
 Colocar algo de semelhante à coisa em frente à nossa mente ou sentidos.
 Representar também significa simbolizar, estar em vez de, substituir. No
cristianismo, a cruz representa o sofrimento e a crucificação. Nos dois sentidos, o
de mostrar e o de simbolizar, “representar” significa tornar presente aquilo que o
não é - tanto pode tomar o lugar de uma ausência, como pô-la em exibição, como
nas representações políticas.
 Representar significa evocar alguma coisa, que existe ou não, ideal ou concreta,
real ou imaginária, que é passada ou presente, e torná-la presente por outros
meios diferentes dela.
 Representar também tem o sentido de apresentar em jeito de prova – apresentar
os documentos, ou apresentar várias vezes (representação teatral). “Mostrar-se
em representação de” não significa estar ausente, mas aparecer com ostentação.

O que tem a representação a ver com o significado e a cultura?

Representar é uma parte essencial do processo, através do qual os significados são


produzidos e comunicamos entre os membros de uma cultura.

Como damos significados às coisas, ao mundo, aos objetos, à nossa realidade social?
(Stuart Hall, 1997) Representar através de gestos, palavras aquilo que eu estou a sentir, a
realidade que estou a sentir por exemplo com um médico. Os média utilizam sistemas
simbólicos para construir uma ação de uma determinada maneira, seja a linguagem verbal,
imagem, som etc. é desse processo que resulta uma determinada representação.

Há dois processos ou sistemas de representação envolvidos:

1. Sistema através do qual objetos, pessoas e eventos estão correlacionados com


conjuntos de conceitos ou representações mentais.
 O significado depende então de conceitos e imagens que representam o
mundo nos nossos pensamentos, permitindo que façamos referências. Mas
também formamos conceitos de coisas obscuras, abstratas, que não
podemos ver, tocar, sentir. Conceitos de guerra, morte, amor...
 Mapa concetual que temos na mente - somos capazes de comunicar porque
partilhamos os mesmos mapas concetuais e damos sentido ao mundo de
modos similar- “pertencemos à mesma cultura”. Porque interpretamos o
mundo de modo semelhante, somos capazes de construir uma cultura
partilhada de significados e assim construir o mundo social em que vivemos.
Não basta um mapa concetual partilhado - temos de ser capazes de
representar ou trocar significados e conceitos. E só conseguimos fazer isso se
tivermos acesso a uma língua (ou outro código) partilhada.
2. Sistema de representação: a língua – a língua traduz o mapa concetual partilhado
em certas palavras escritas, sons falados ou imagens visuais, isto é, em signos.

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 Os signos estão em vez dos conceitos e das relações concetuais entre eles
que temos na cabeça; e juntos fazem os sistemas de significado da nossa
cultura;
 A relação entre coisas, conceitos e signos está no centro da produção do
significado na linguagem. Ao processo que liga estes 3 elementos chama-se
representação (Hall, 1990).

Representações mediáticas
Na abordagem cultural dos estudos dos média, o termo representação refere-se ao
processo social de representar: processo de pôr em formas ou signos concretos crenças,
valores, ideologias, estereótipos ou visões do mundo, através do uso da linguagem, da imagem
ou outros códigos. As representações são o produto desse processo.

Qualquer representação, porquanto fiel à realidade, é sempre uma interpretação e,


por isso, uma tentativa de explicitação da própria realidade. Nenhuma representação é uma
transcrição neutra, mesmo que parcial, de um dado a representar. Representar implica fazer
escolhas:

 Fazer opções, tomar posição;


 Enfatizar e ou excluir dados de uma realidade, fazer uma espécie de hierarquização
da realidade a representar;
 Selecionar um modo de conhecer e avaliar a realidade e, assim conferir uma
ordem ao mundo representado – construí-lo de uma determinada forma.

As representações são construções cujo valor social varia

Essas escolhas não são, porém, livres, nem puramente subjectivas, já que estão
intimamente ligadas à ordem social.

Nem todas as representações têm o mesmo valor ou eficácia social uma vez que estão
relacionadas com a questão do poder, de legitimidade social e de interesses. Quem detém
esse poder e legitimidade, detém os mecanismos que permitem controlar a produção e a
circulação das representações no discurso público.

Representações do Crime
Walter Lippman (1922) diz: “Na maioria das vezes, não vemos primeiro e depois
definimos. Definimos primeiro e depois vemos…. Escolhemos o que a nossa cultura já definiu
para nós e tendemos a perceber o que escolhemos na forma estereotipada que a nossa cultura
nos forneceu.” A verdade é que nem os cientistas escapam a este tipo de preconceito social
que existe para legitimar a falta de poder, como no exemplo do artigo publicado no Jornal
Público relativo aos videojogos.

Todos os fenómenos sociais podem ser construídos de muitas maneiras diferentes. O


crime pode ser construído como um problema social, individual, racial, sexual, económico,
penal ou tecnológico. Cada construção implica diferentes cursos de ação e soluções políticas.
Essas soluções fazem parte dos discursos concorrentes em jogo, que apresentam diferentes

13
estratégias e formas: diferentes factos sobre o que aconteceu; diferentes explicações;
oferecem cursos de ação para resolver a situação que definem como problema – políticas
públicas.

Uma estratégia habitualmente usada para que os públicos aceitem as definições de


situação propostas por grupos de poder ou instituições é a de ligar ou de estabelecer vínculos
com outras realidades.

Crime e justiça aparecem habitualmente associados com perigo e calamidade (perigo


para a saúde, bem-estar, famílias e comunidades). Também surgem associados a certos grupos
contra os quais já existem preconceitos negativos.

Os produtores desses discursos, habitualmente fontes instituídas, esperam que, por


essa via, as suas reivindicações sejam vistas como legítimas aos olhos da opinião pública.

Quais são os traços recorrentes das representações mediáticas do crime e da


justiça já identificados na literatura (anglo-saxónica)?

A abordagem dos frames ou enquadramentos:

 Um frame é um modelo mental que permite que os seus usuários categorizem,


rotulem e lidem com uma ampla gama de eventos;
 Os frames simplificam a maneira como lidamos com o mundo organizando
experiências e eventos em grupos e orientando o que é visto como política e ação
apropriada.

Com relação ao crime e à justiça, os enquadramentos cognitivos preexistentes na


memória social facilitam o processamento, a rotulagem e a compreensão dos crimes para
quem partilha esses enquadramentos legais.

Que enquadramentos estão mais presentes nos média anglo-saxónicos? Surette


(2011) defende que no discurso mediático sobre o crime são usados 5 frames ou
enquadramentos cognitivos: cada um deles explica o crime e procura a solução para o crime.

Os cinco enquadramentos disputam entre si a influência sobre:

 A forma como a criminalidade é entendida na sociedade;


 O apoio público a políticas de justiça criminal;
 A forma como são percecionados os novos tipos de crime e de criminoso.

5 frames:

1. Faulty system: Culpa o sistema.


2. Blocked opportunities: Refere que as oportunidades não são as mesmas para
todos, ou seja, o crime resulta da pobreza e da desigualdade e, portanto, será
necessário criar empregos, por exemplo.
3. Social breakdown: Falta de coesão social, ou seja, o crime resulta de famílias
disfuncionais e da quebra dos laços comunitários e, portanto, será necessário
restabelecer a comunidade.

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4. Racist system: Culpa o sistema de ser racista, ou seja, o crime resulta de uma
sociedade racista, sendo que a maior parte das pessoas que estão nas prisões são
afro-americanos e estão rotulados como indivíduos criminosos.
5. Violent media: Acusa os média de serem violentos e, portanto, será necessário o
controlo mediático pelo governo.

E qual o papel das narrativas na construção dessas representações?

As narrativas são centrais nos média de entretenimento, como por exemplo, séries,
mas também comum em notícias e infotainment (programas da manhã na TV portuguesa.

Surette (2011) - Narrativas recorrentes:

 O “inocente ingénuo” que tropeça na vitimização: acontece muito quando se fala


de drogas e do seu consumo porque há sempre uma justificativa;
 O “combate do crime, masculino e heróico” que não pode ser influenciado pela
corrupção ou pelas dificuldades;
 O “criminoso predador inaptamente maligno” destacado nos filmes de serial killers
- a narrativa mediática criminosa mais popular e de maior duração.

As representações mediáticas dos criminosos nos géneros informativo e


de entretenimento
Em geral, a representação do criminoso que os média informativos propagam é
semelhante à encontrada nos média de entretenimento: Segundo Surette (2011), os
criminosos nos média tendem a ser representados de duas formas ou em dois tipos:

1. Predadores violentos de rua;


2. Empresários e burocratas profissionais.

Mas é a criminalidade predatória que domina o mundo da criminalidade e justiça dos


média: figuras de criminosos animalescos, irracionais e predadores inatos, que cometem
crimes violentos, sensacionais e sem sentido.

O processo de construção social não é inerentemente pernicioso, mas devemos


reconhecer o processo para avaliar cuidadosamente as políticas de justiça criminal resultantes.

Importa perceber que também aquilo que é excluído nas representações, como por
exemplo, o crime de colarinho branco, não significa que tenham essa representação real
quando cometidos na sociedade, sendo que o impacto social de um crime nem sempre é igual
ao seu valor noticioso. Os retratos de crimes económicos são raros e, quando produzidos, são
enquadrados de formas diferentes aos crimes de rua.

Esta questão da exclusão é importante porque se não aparece nos média, parece que é
um crime que não existe. O crime é representado como amplamente causado por deficits
individuais e é importante perceber as explicações que põem em causa a estruturação social e
o seu papel na criminalidade, sendo que são secundarizadas ou excluídas.

15
Regra geral – o crime é representado como amplamente causado por deficits
individuais.

A questão da influência dos média


Modos como modelam as crenças, opiniões, comportamentos, perceções- pode ser
conceptualizado de forma negativa e de forma positiva, dependendo da perspetiva. Trata-se
de um assunto altamente contestado e sujeito a debate.

Nas Ciências da Comunicação, já foi provado que a ideia de uma possível relação
causal direta entre consumo dos média e resposta comportamental não tem fundamento
empírico.

Investigações pioneiras sobre este assunto: Estudos empíricos sobre os efeitos dos
média, desenvolvidas nos EUA, entre 1940 e 1960.

Aceita-se, no entanto, que os média influenciam a perceção pública:

 Do que é ou não é crime (das suas causas/soluções);


 De quem é ou não é criminoso ou vítima;
 Do sistema de controlo (funcionamento, eficácia, legitimidade).

Também se sabe que os média:

 Não cobrem, de forma sistemática, todas as expressões do crime e da vitimização;


 Tendem a responder ao desejo de voyeur das audiências, exagerando e
dramatizando crimes pouco usuais, e secundarizando aqueles que mais
provavelmente fazem parte do quotidiano do cidadão comum;
 Tendem a simpatizar com certas vítimas e a culpar outras.

Representações

O que os média oferecem ou constroem são representações, não é a realidade do


crime. Mesmo as notícias, que se apresentam como um espelho da realidade, relatos de
factos, não são relatos fiéis do crime, ou espelhos refletores:

• As notícias oferecem versões de acontecimentos - são construções linguísticas ou


semióticas que apresentam os acontecimentos a partir de um ângulo ou ponto de
vista particular: o jornalístico.

As representações do crime e do sistema de controlo que os média oferecem são


influenciados por dois fatores relacionados entre si, que nos remetem para os processos de
produção de notícias:

1. As práticas profissionais e rotinas organizacionais:


 Rotinas de recolha de informação - em espaços institucionais, como tribunais,
postos de polícia, etc.;
 Constrangimentos de tempo - necessidade de produzir histórias que
satisfaçam os prazos temporais;

16
 Preocupações com a segurança pessoal.

Excessiva concentração (dependência) do mesmo tipo de fontes de informação: as


oficiais/institucionais- representantes acreditados das principais instituições sociais, ou seja,
garantia de que a fonte é segura. Assim, são os definidores primários do crime.

Os definidores primários dos acontecimentos relacionados com o crime - a maioria das


histórias sobre crime são produzidos a partir das definições e perspetivas dos definidores
primários institucionais, sendo que quem controla o crime são as polícias, os tribunais, etc. e,
portanto, a informação dada por essas fontes está na base de três formatos na cobertura do
crime:

a) Relatos baseados nas declarações da polícia sobre investigações relativas a um


caso específico- envolve reconstrução da polícia do acontecimento e detalhes
da ação que estão a seguir;
b) Relatos baseados em documentos (relatórios e declarações oficias) onde se faz
o ponto da situação sobre a luta contra o crime;
c) Histórias baseadas em casos de tribunal.

2. As ideologias jornalísticas, na qual se incluem os critérios de noticiabilidade -


assunções que os jornalistas fazem acerca das preferências dos públicos, a partir
de um julgamento profissional acerca dos acontecimentos que são ou não são
noticiáveis.
 Na sua maioria, a cobertura do crime é vista pelos jornalistas como rotina,
como um fenómeno permanente e recorrente que marca a transgressão
das fronteiras normativas. Dada a natureza negativa do crime, ele é por
definição notícia.

Razões da dependência jornalística das fontes oficiais/institucionais de


controlo social:

1. Pressões de tempo, alocação de recursos e horários de trabalho – os


jornalistas têm pouco tempo para escrever as notícias, e agora que os
jornais são digitais, muito menos tempo têm. Portanto, isso faz com que,
de alguma maneira, aumentar o vicio de usar as mesmas fotos.;
2. A autoridade das fontes (derivada do poder institucional e, também do
facto de representarem ou falarem em nome do colectivo):
o Necessária para conferir objetividade e credibilidade ao discurso
informativo;
o Os valores ideológicos que regulam a prática jornalística-
imparcialidade, balanço, objectividade- orientam os jornalistas
para as definições do crime e do seu controlo que lhes chegam via
porta-vozes institucionais.

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3. O facto de o crime estar menos abertos do que outros assuntos públicos
a definições alternativas e competitivas:
o Não se contrabalança a declaração de um polícia com a de um
criminoso, embora, como já constatamos, a Internet, as redes
sociais e a tecnologia móveis tinham vindo a alterar este cenário.
4. O facto de os criminosos não serem vistos como fontes legítimas, nem
estarem organizados- assume-se que o criminoso, pelas suas ações,
perdeu o seu direito de cidadania de resposta até que que pague pela sua
dívida.

Por estes motivos organizacionais e ideológicos, os média tendem a reproduzir, no


plano simbólico, a estrutura de poder da ordem institucional societal. Howard Becker chamou
a este fenómeno “hierarquia da credibilidade”, ou seja, a probabilidade daqueles que ocupam
posições privilegiadas ou com alto estatuto que são opiniões sobre tópicos controversos verem
as suas definições aceites, porque são vistos como tendo acessos a mais informação, ou a
informação privilegiada que a maioria da população não tem.

O resultado da preferência estruturada que os jornalistas dão às opiniões dos


poderosos é que estes porta-vozes se tornam “definidores primários” das situações.

Quais as consequências do recurso exagerado, e quase em exclusivo, das


fontes institucionais como forma de informação?

1. Permite que os definidores primários estabeleçam a definição inicial do tópico em


questão:
 Esta interpretação comandará e delimitará os termos de referência em que
todo o debate posterior se realiza;
 Os argumentos contra a interpretação primária são forçados a inserirem-se na
definição que foi dada inicialmente do que está em causa, o que não só
invisibiliza outras possibilidades, como puxa o tratamento do crime para o
terreno pragmático.
2. Risco de criação de “aspirais de amplificação” (Hall et al., 1939) - os agentes de
controlo usam as representações de opinião pública construídas pelos média como
provas do que o público quer e pensa- quando, como vimos, os materiais que são
usados nas notícias derivam precisamente dessas fontes.
3. Tendência para um fechamento ideológico - muitos do que têm pontos de vistas
opostos não têm sequer acesso aos processos de definição da situação ou são
estigmatizados como extremistas e as suas ações vistas como irracionais.

Conclusão:

 Os jornalistas não inventam simplesmente as notícias, nem transmitem a ideologia


dominante em “conluio” com interesses instalados;

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 Eles não são, a maioria das vezes, os definidores primários dos eventos noticiados,
mas a relação estruturada que têm com o sistema de controlo do crime por razoes
organizacionais/profissionais, têm o efeito de lhes atribuir um papel secundário,
mas ainda assim crucial, na reprodução das definições daqueles que têm um
acesso privilegiado, como se de um direito se tratasse, aos média como fontes
credíveis;
 Daí que, na visão de muitos investigadores os média desempenham um papel
chave na reprodução da ideologia dominante, sendo, portanto, atires
fundamentais no exercício do controlo social;
 Tal não exclui a possibilidade de conflito de visões entre os média e as fontes
institucionais, que ocorre, na verdade de forma regular- a relação entre os média e
as fontes institucionais é uma relação amor-ódio.

Não devemos pensar, também, que os jornalistas se limitam simplesmente a


“papaguear” a informação que lhes é dada pelas fontes, embora tal aconteça, mais até do que
o desejável. Onde se pode verificar essa autonomia?

1. No processo de “gatekeeping”: Na escolha dos acontecimentos que merecem ser


noticiados. O que regula estas escolhas, que resultam na construção de uma agenda
(agenda-setting), não são visões subjetivas, nem ao acaso:
 Editores e jornalistas produzem e apresentam as notícias de acordo com um
leque de critérios de profissionais que são usados para determina a
noticiabilidade da história;
 “Faro jornalístico”; “furos”.
 São os chamados valores-notícia que regulam estas escolhas: julgamento de
valor que os jornalistas e editores fazem acerca do alegado apelo público de
uma história e do seu interesse público;
o Valores-notícia: Galtung e Ruge (1965) foram os primeiros
investigadores que tentaram identificar e categorizar os valores-
noticia que mais habitualmente determinam a escolha dos eventos;
preocupados não apenas com as notícias sobre crime, mas com as
notícias em geral:
 Valores-noticia: Natureza inesperada do acontecimento; a
proximidade; o impacto dramático; a essência negativa.
 Steve Chibnall (1977) - valores-notícia relacionados com a
cobertura do crime.
o Os valores-noticia não são fixos - vão sofrendo mudanças ao longo do
tempo, e um acontecimento não tem que preencher todos os critérios
para se tornar notícia.
o Os critérios de noticiabilidade variam segundo os países e culturas.
o Os valores que determinam a prática dos jornais variam também em
função do jornal por exemplo Correia da Manhã e Jornal Noticias,
assim como varia também de país para país.:
 Fronteira – notícias feitas a nível local, regional, nacional e até
internacional;

19
 Previsibilidade (um acontecimento tem maior probabilidade de
ser notícia pela sua imprevisibilidade), no caso em concreto. No
caso prático, este é improvável por estarmos a falar de uma
professora catedrática, ou seja, um caso imprevisível de
acontecer.
 Simplificação (notícias concisas, breves, o mais claro possível,
noticias em pirâmide, ou seja, primeiro o mais importante e
depois o menos importante). No caso prático, há várias
explicações para o assédio moral e laboral, poder desigual entre
trabalhador e patrão por exemplo (desigualdade de poder) bem
como fatores organizacionais. A notícia tem muito a ver com as
referências que o publico tem. Personalização e polarização
subjacente a este valor-notícia.
 Individualismo - neste caso prático já havia um precedente, a
instituição não fez nada. Culpa centrada na professora, sendo que
a Universidade já deveria ter feito algo há muito tempo.
 Risco associado à vulnerabilidade e as próprias emoções
associadas à insegurança. No caso prático, para os funcionários,
docentes. Passa a ideia de que nada se fez e que a professora
continua a trabalhar sem que nada tivesse sido feito, ou seja,
novamente a questão da insegurança.
 Sexo – estereótipos sexistas associados às expressões que a
própria professora utiliza.
 Celebridade ou pessoa com estatuto elevado – no caso prático,
associado à própria universidade, a segunda melhor do país e
depois pelo facto de ser uma professora catedrática o que agrava
e negatividade da eventual ação da senhora.
 Violência pelo teor da própria notícia e pelos próprios detalhes
incluídos.
 Proximidade - no caso prático pelo facto da proximidade cultural.
 Espetáculo e emergência gráfica - Violência de imagem mental,
no sentido, da forma como foi escrita a notícia, pela descrição
detalhada que é feita.
 Crianças – no caso prático não se aplica.
 Ideologia conservadora e diversão política – no caso prático sim
está presente, diferenças de poder associadas à personalização
que contribui para o desvio da responsabilização da pessoa para a
instituição.

2. No processo de redacção da notícia: Na transformação que os média fazem dos fatos


e interpretações que as fontes poderosas lhes fazem chegar. Cada jornal tem o seu
próprio sentido de noticiabilidade, a sua organização, quadro técnico e leitores - a sua
“personalidade social” (Hall et. al., 1973). Além disso, cada jornal constrói o seu
próprio público ou audiência, atribuindo-lhe determinados interesses, visões do
mundo, conhecimentos:

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 Em função da representação que fazem dos seus públicos, os jornais
apropriaram-se dos pontos de vista oficiais e sujeitam-se a um determinado
tratamento, tornando-o inteligível para as suas audiências;
 Stuart Hall fala a esse propósito no “idioma público dos média” e na “Retórica
do apelo” - que servem para naturalizar o discurso oficial dentro de um quadro
de compreensões prévias atribuídas aos públicos, o que tem o efeito de tornar
as notícias mais reais, ou seja, plausíveis. E, no longo prazo, serve para
consolidar o senso comum, ou seja, o conhecimento que se assume ser
partilhado por todos os membros de uma sociedade, o que obviamente tem
efeitos conservadores, podendo impedir a mudança social.

Serão os media criminogénicos?


Grau em que os média causam comportamento antissocial, desviante ou criminoso:

 Em que grau as mensagens dos média conduzem os indivíduos a terem


comportamentos antissociais, desviantes ou criminosos?

Desde os finais do séc. XIX assistimos a ondas de medo e indignação pública com ondas
de crime percebidos como ligados a cada nova inovação nos meios de comunicação e
informação: fotografia, imprensa, rádio, cinema, internet, TV.

Mcquail, 2003 (figura central no estudo dos média) apresenta as diferentes fases do
pensamento sobre esta questão dos média:

 1ª fase – séc. XX até 1930: os média tinham um poder limitado e direto sob os
comportamentos individuais, por causa das próprias características do momento
histórico que se vivia (processo de industrialização, anomia social, deslocação
para espaços urbanos), tudo isto contribui para criar um pânico em torno da
influência dos média. Importa focar o período da 1ª guerra mundial e depois a 2ª
guerra mundial e o papel da radio, cinema e imprensa nestes contextos.
Experiência de guerra, regimes ditatoriais (nazismo, união soviética), todo este
contexto económico, político e social contribuiu para alimentar o pânico moral em
torno da influência dos media sob os comportamentos individuais, daí a questão
dos média como o todo-poderoso.

 2ª fase – 1940-1950: surgiram investigações empíricas no quadro da sociologia e


psicologia que vieram pôr em causa este raciocínio linear de que os média afetam
os comportamentos individuais, os investigadores mostram os vários fatores que
medeiam a relação entre mensagem mediática e os públicos dos média. Sendo
que toda esta informação deve ser pensada no contexto em que atuam.

 3ª fase - 1960 - 1980: marca a ideia de que se calhar o mais importante não é
perceber como os média afetam diretamente os comportamentos individuais,
mas sim os efeitos a longo prazo e os efeitos cumulativos, ou seja, o modo como o
público vê o mundo e o avalia.

21
 4ª fase - 1980-2000: o papel dos média no processo de construção social da
realidade, os elementos que constituem o público dos média não podem ser
vistos como pessoas individuais, mas sim pessoas sociais, com identificações
sociais e que têm um papel ativo na receção das imagens.

Tipo de efeitos:

 Intencionais: sobre atitudes, valores e comportamentos individuais;


 Latentes: ou implícitos sobre os sistemas de conhecimento social.

Quadro temporal:

 Efeitos pontuais, ligados a contextos de campanhas;


 Efeitos cumulativos. Sedimentados no tempo, em interação...

Teoria hipodérmica dos efeitos dos média

Esta teoria consiste em usar os média de forma intencional, para mudar os


comportamentos individuais, diferente do consumo do quotidiano dos média. Que efeito têm
os média numa sociedade de massa?

1. Teoria implícita sobre a “sociedade de massa”;


2. Teoria comunicativa: teoria psicológica da ação;
3. Teoria sobre a propaganda.

Contexto histórico:

 Surgiu nos EUA e está associada às duas grandes guerras mundiais;


 Difusão em larga escala dos média havendo a euforia da novidade do fenómeno.
 Experiências totalitárias.

Os distúrbios sociais associados à industrialização, urbanização e Grande Guerra


fizeram as pessoas se sentirem cada vez mais vulneráveis. Para esta sociedade de massa
contribuiu muito a noção de multidão, a ideia de que de quando as pessoas estão todas juntas
podem se sugestionar umas as outras e levar a comportamentos de imitação que são
irracionais.

A noção de multidão surgiu na passagem do séc. XIX para o séc. XX (Gustavo Le Bon).
Assim, corresponde ao momento em que as pessoas se reúnem, são sugestionáveis a
influências externas e tornam-se irracionais e, até mesmo animalescas.

Com alargamento da cultura aos públicos mediáticos, as pessoas que estavam mais
ligados a cultura de elite, consideram que há uma cultura alta e outra baixa, lamentavam a
criação de uma cultura mediática porque a consideravam de menos valor do que a cultura
letrada.

1. Teoria da sociedade de massa:

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Tudo isto gerou o medo da “multidão” e precipitou a teoria da sociedade de massa.
Desenvolveu-se nos últimos anos do séc. XIX e início do séc. XX, tornando-se firmemente
estabelecida como uma teoria sociológica após a segunda guerra mundial.

Sociedade de massa: conjunto homogéneo de indivíduos; pessoas que não se


conhecem, separadas no espaço, com pouca possibilidade de se influenciarem mutuamente;
não possui tradições, regras, organização.

Exemplo: transmissão da Guerra dos Mundos, de Orson Wells, em 1938 exemplifica a


crença de que os média modernos são capazes de exercer influências prejudiciais, de
desencadear surtos de massa: Pânico experimentado por alguns ouvintes não estava isento de
contexto:

 Época da depressão nos EUA;


 Inicio da guerra na Europa.

Nesta época existam sentimentos de insegurança, mudança e perda eram comuns


entre os norte-americanos. Exemplo: O cinema a ser utilizado pelo regime nazi - Propaganda
nazi: exemplar pela sua eficácia. O rádio também era utilizado como instrumento de
propaganda assim como o cinema.

2. Teoria comunicativa dominante reforça teoria da sociedade de massas:

Teoria da ação da psicologia behaviorista:

 Estudo do comportamento humano com métodos de experimentação e


observação das ciências naturais e biológicas;
 Foco no comportamento do indivíduo;
 Modelo Estímulo-Resposta do comportamento individual (Pavlov) - Reforça
convicções sobre inevitabilidade dos efeitos.

Média como os únicos agentes ativos no processo e o público é apenas aquele que
recebe a mensagem e é passivo face às mensagens transmitidas e por isso a preocupação
neste tipo de representação do processo de comunicação tem a ver com o passar a mensagem
da forma mais rápida possível e com o mínimo de ruido possível. Isto foi pensado para a
comunicação entre máquinas sobretudo. Este modelo foi transposto para a comunicação
humana que acaba por ser mais complexo.

Experiência associada a Bandura, nos anos 60 - “Violência gera violência” – numa


experiência laboratorial colocou crianças a ver cenas violentas e, outro grupo em que crianças
não viram cenas violentas e fez uma comparação, constatando que as crianças ficaram mais
agressivas após assistirem a cenas de violência. Esta experiência foi usada para comprovar que
existe uma relação direta entre violência no ecrã e violência real.

É precisamente essa ideia, que entre os anos 40 e 60 começou a ser desenvolvida um


tipo de investigação que punha em causa a teoria hipodérmica dos efeitos dos média, ou seja,
como sendo uma influência direta nos comportamentos individuais, é apenas baseada em
especulações, preconceitos e suposições. Seria necessário ir para o campo e ter uma
observação direta.

23
 Abordagens empíricas de tipo empírico-experimental no quadro da psicológica
experimental – fenómenos psicológicos individuais que constituem a relação
comunicativa.
o Pesquisa administrativa – durante a Segunda Guerra Mundial, para o
exército americano, governo norte-americano ou de empresas. Carl
Hovland do Departamento de Psicologia de Yale fez um estudo dos efeitos
dos média em situações de campanha eleitoral (propaganda) e de
campanhas publicitárias.
o Interesse na comunicação persuasiva – o centro da questão era a
persuasão e como usar os média para mudar comportamentos individuais.

Esta abordagem do tipo empírico-experimental põe em causa os fatores da mediação


que medeiam a relação direta dos média e comportamentos individuais:

1. Características dos destinatários que interferem na obtenção dos efeitos


comportamentais - fenómenos psicológicos individuais que constituem a relação
comunicativa;
2. Pesquisa sobre a organização ótima das mensagens com fins persuasivos - como é
que os traços das mensagens interagem com os traços específicos das
personalidades dos elementos que constituem o público?

Fatores relativos à audiência

1. Interesse em obter informação: o êxito de uma campanha depende do interesse


do público pelo assunto e do tamanho dos setores da população não interessada.
2. Exposição seletiva: quem escuta o quê e porquê? – audiência tende a expor-se à
informação que está de acordo com as suas atitudes e o contrário. Informação de
acordo com a nossa visão do mundo e a rejeitar o contrário. Mesmo na informação
dissonante das nossas referências anteriores tendemos a distorcê-las, ou seja, há
mecanismos psicológicos de informação que não estão de acordo connosco.
3. Perceção seletiva: interpretação transforma e adapta significados da mensagem
recebida, fixando-as às atitudes e valores do recetor até mudar, por vezes,
radicalmente o sentido da mensagem. Efeito boomerang da mensagem: efeitos
contrários ao pretendido.
4. Memorização seletiva: aspetos de acordo com opiniões próprias são memorizadas
num grau mais elevado do que os outros. Efeito Bartlett: à medida que o tempo
passa, argumentos contra desvanecem-se.

Conclusões:

Os efeitos dos média sob os comportamentos individuais não são diretos, universais.
Há aspetos cognitivos que medeiam a relação e variam de indivíduo para indivíduo. Papel dos
recetores não é passivo. Logo, os efeitos dos média não são nem imediatos nem uniformes.

Fatores ligados à mensagem:

Estudos sobre a organização ótima das mensagens com fins persuasivos:

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1. Aquilo que se conhece sobre determinados assuntos influência claramente as
atitudes sobre os mesmos;
2. As atitudes sobre os temas influenciam o modo de estruturar conhecimento em
torno deles e a quantidade e qualidade de nova informação que se adquire sobre
eles;
3. Credibilidade do emissor: a reputação da fonte influência as mudanças de opinião.

Abordagem de tipo empírico-experimental – Balanço

Redimensiona crença na capacidade indiscriminada dos média para manipularem o


público, evidenciando:

 Complexidade de fatores que intervêm no processo de comunicação;


 Barreiras psicológicas;
 Natureza das mensagens.

Os média podem influenciar e persuadir. Mas influência e persuasão não são


indiferenciadas, nem constantes, nem e justificam apenas por ter havido uma mensagem. É
preciso estar atento ao público, às características psicológicas dos seus membros.

 Efeitos dos média sobre comportamentos individuais não são automáticos nem
mecânicos, mas potenciais;
 Realçam defesas individuais, analisam motivos de fracasso, realçam possibilidade de
obter efeitos de persuasão desde que mensagens estruturadas de acordo com perfil
psicológico.

Abordagem empíricas de tipo sociológico:


o Fatores de mediação entre indivíduo e os média;
o Hipóteses sobre as relações entre indivíduo, sociedade e os média.

Teorias da comunicação – Mauro Wolf

Articulação de teorias dos meios de comunicação de modo a esclarecer qual foi e


porquê do paradigma dominante em diferentes períodos, com base na análise de 3 fatores:

 Contexto social, histórico e económico em que um determinado modelo teórico


sobre as comunicações de massa apareceu/difundiu;
 Tipo de teoria social evocada pelas teorias sobre os mass media;
 Modelo de processo comunicativo que cada teoria dos meios de comunicação
apresenta.

Teoria hipodérmica

Cada elemento do público é pessoal e diretamente “atingido” pela mensagem


(Wright). A teoria hipodérmica coincide com o período das duas guerras mundiais e com a
difusão em larga escala das comunicações de massa. Os principais elementos que caracterizam
o contexto desta teoria são:

25
 A novidade do próprio fenómeno das comunicações de massa;
 Ligação desse fenómeno às trágicas experiências totalitárias do regime naquele
período histórico.

É uma abordagem global dos mass media. A principal componente desta teoria é a
presença de uma teoria da sociedade de massa, uma teoria da propaganda e sobre a
propaganda.

A sociedade de massa - A “massa” é tudo o que não se avalia a si próprio – nem no


bem nem no mal – mediante razões especiais, mas que se sente como toda a gente e não se
aflige por isso, sente-se à vontade por se reconhecer idêntico aos outros segundo Ortega e
Gasset. A massa subverte tudo o que é diferente, singular e individual.

 As ações da massa apontam diretamente para o objetivo e procuram atingi-lo pelo


caminho mais curto, o que faz com que exista sempre uma única ideia dominante,
a mais simples possível.
 É constituída por um conjunto homogéneo de indivíduos que, são essencialmente
iguais, indiferenciáveis, mesmo que provenham de ambientes diferentes e de
todos os grupos sociais. É composta por pessoas que não se conhecem, que estão
separadas umas das outras no espaço e que têm poucas ou nenhumas
possibilidades de exercer uma ação ou influencia recíprocas.
 Não possui uma estrutura organizativa.
 O isolamento do individuo na massa é o fator que explica o realce que a teoria
atribui às capacidades manipuladoras dos primeiros meios de comunicação. Os
exemplos históricos dos fenómenos de propaganda de massas durante o fascismo
e nos períodos de guerra.

O modelo comunicativo da teoria hipodérmica

Teoria da psicologia behaviorista – objetivo é o estudo do comportamento humano


com os métodos de experimentação e observação das ciências humanas e biológicas. Na
relação organismo – ambiente, o elemento crucial é o estímulo que inclui os objetos e as
condições exteriores ao sujeito, que produzem uma resposta.

O estímulo é a condição primária, o agente da resposta. Estímulos que não produzem


resposta não são estímulos. Estímulo → Resposta.

A teoria hipodérmica defendia uma relação direta entre a exposição às mensagens e o


comportamento: se uma pessoa é apanhada pela propaganda pode ser manipulada, levada a
agir.

O modelo de Lasswell e a superação da teoria hipodérmica

Um ato de comunicação é descrito da melhor forma respondendo às seguintes


perguntas:

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 Quem – controlo do que é difundido;
 Diz o quê? – analise do conteúdo das mensagens;
 Através de que canal? – análise dos meios;
 Com que efeito?

Pressuposto de que a iniciativa seja exclusivamente do comunicador e os efeitos


recaiam exclusivamente sobre o público. Implica: massa passiva de destinatários que, ao ser
atingida pelo estímulo reage; comunicação intencional: papeis de comunicador e destinatário
surgem isolados – psicologia behaviorista (privilegia o comportamento dos indivíduos).

A abordagem empírico-experimental ou “da persuasão”

Persuadir os destinatários é um objetivo pessoal que o destinatário ativa quando


interpreta a mensagem, ou seja, as mensagens dos meios de comunicação interagem de
maneira diferente tendo em conta as diferenças individuais e a credibilidade da fonte na
aceitação da mensagem.

Os fatores relativos à audiência

A natureza real e o grau de exposição do público ao material informativo são, em


grande medida, determinados por certas características psicológicas da audiência.

 Interesse em obter informação: escassez de interesse e motivação por certos


temas, dificuldade de acesso à própria informação porque nunca foram expostos à
informação referente a determinado assunto.
 Exposição seletiva: os componentes da audiência tendem a expor-se a informação
que está de acordo com as suas atitudes e a evitar as mensagens que estão
desacordo. A comunicação de massa não modifica os pontos de vista, é provável
que reforce opiniões pré-existentes.
 Perceção seletiva: a interpretação transforma e adapta o significado da mensagem
recebida fixando-a as suas atitudes e valores do destinatário, até mudar o sentido
da própria mensagem.
 Memorização seletiva: aspetos de acordo com os nossos interesses e valores são
memorizados num grau mais elevado em detrimento dos elementos culturalmente
mais distantes, por exemplo.

Fatores ligados à mensagem

 Credibilidade do comunicador – reputação da fonte fator que influencia a


mudança de opinião.
 Ordem da argumentação – numa mensagem que contém argumentos prós e
contra, verifica-se uma maior eficácia dos argumentos iniciais.
 Integralidade das argumentações – impacto da apresentação de um aspeto ou
ambos os aspetos de um tema controverso.
 Explicitação das conclusões – caráter não-linear do processo comunicativo
analisando-se a ineficácia de uma campanha, sendo que os meios de comunicação
podem exercer em princípio influência e persuadir.

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Contexto social e efeitos dos mass media

Depende das características do sistema social que os rodeia.

Certos indivíduos muito envolvidos e interessados no tema e dotados de maiores


conhecimentos sobre ele chamam-se: líderes de opinião (outros componentes dos grupos
sociais de que faz parte o líder de opinião). Por outro lado, temos os mass media e os efeitos
nos indivíduos isolados que constituem o público.

Falamos numa lógica de ambiente social totalmente sulcado por interações e processo
de influência pessoal em que a personalidade do destinatário se configura a partir dos seus
grupos de referência.

A eficácia da comunicação de massa está largamente associada e depende de


processos de comunicação não provenientes dos mass media e que existem no interior da
estrutura social em que o indivíduo vive.

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