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ANÁLISE DAS

DEMONSTRAÇÕES CONTABEIS.
AULA 03

Marcelo Daniel Araujo Ermel


CONVERSA INICIAL
Finalizamos a aula anterior com o termômetro de Kanitz (1978), que tem
como objetivo classificar empresas em solventes, penumbra e insolventes.
Contudo, dois anos antes, em 1976, Elizabetsky também desenvolvia sua
fórmula matemática para classificar empresas insolventes e solventes. Pouco
tempo antes, nos EUA, Altman também seguia a mesma linha de pesquisa.
Na segunda parte da aula, além das questões de solvência e liquidez,
podemos utilizar as demonstrações contábeis para obter informações acerca da
atividade empresarial, como o ciclo operacional, prazo médio que a empresa
leva até pagar seus fornecedores, prazo médio que a empresa leva até receber
de seus clientes. Quantos dias em média a mercadoria permanece em estoque,
e muito mais.

CONTEXTUALIZANDO
TEMA 1 – Termômetro de Insolvência de Altman
Um dos pioneiros na área de previsão de insolvência foi Altman (1968),
onde, por meio da investigação com uma amostra de empresas industriais que
foram a falência, e empresas muito parecidas que não incorreram em falência,
montou uma equação conhecida como Z-score.
O Z-score é amplamente utilizado no mercado e na academia, e desde
1968 vem sendo aprimorado e modificado para cada tipo de empresas –
ampliando para amostra que incluam empresas de serviços, etc. -.
Para empresas de capital aberto, a equação é a seguinte:

𝑍 = 1,2 𝑋1 + 1,4𝑋2 + 3,3𝑋3 + 0,6𝑋4 + 1𝑋5


Onde X1 é (Ativo Circulante – Passivo Circulante) / Ativo Total, X2 é a
parcela dos Lucros Retidos sobre Ativo Total, X3 é EBIT (LAJIR) sobre Ativo
Total, X4 é Valor de mercado da empresa sobre o Passivo Total, e X5 é Receita
Total sobre Ativo Total.
Racionalizando a equação, vemos que variáveis importantes para a
solvência da empresa é a parcela de investimentos da firma que está sendo
dedicada para o giro da empresa, ou seja, qual proporção do ativo total é
dedicada a diferença entre Ativo Circulante e Passivo Circulante, pois,
teoricamente, o investimento em curto prazo traz uma rentabilidade menor que
a de longo prazo, pois é mais líquido.
Já o X2, representa o reinvestimento dos lucros da firma, já que é a
parcela do lucro que não foi distribuída aos acionistas e assim foi reinvestida no
negócio, partindo do pressuposto que a empresa reteve o capital pois tem mais
oportunidades de investimento e que essas oportunidades de investimento dão
um retorno maior do que seria possível o sócio/acionista encontrar no mercado
de ações e de renda fixa.
Ademais, X3 é a lucratividade operacional da empresa, já que o Lucro
antes dos Juros e Imposto de Renda (LAJIR) é o lucro gerado utilizando os
ativos, e quando dividimos o LAJIR pelo ativo total, temos uma medida de
eficiência da firma em usar seus ativos para gerar lucro.
X4 retrata a alavancagem da empresa (veremos o significado de
alavancagem na aula 5) pois, utiliza a razão entre o valor de mercado da
empresa (ou seja, o valor da empresa para os acionistas) sobre o Passivo Total
(aquilo que é devido a terceiros), então, quanto maior a parcela que advém dos
acionistas (valor da empresa para os acionistas) em relação ao que advém de
terceiros (Passivo Total), menor a probabilidade da empresa vir a falência.
Por último, X5 é o giro do ativo (veremos isso com maior detalhe na aula
4). Ou seja, quão eficiente é a empresa em tornar o Ativo Total em receita no
período.
Isto posto, Altman (1968) diz que uma empresa com Z maior que 4,48 está
em situação em que a falência é improvável.
Com o passar do tempo, o Z score foi adaptado para incluir firmas de
capital fechado, resultando na seguinte equação:
𝑍 = 0,712 𝑋1 + 0,847𝑋2 + 3,107𝑋3 + 0,42𝑋4 + 0,998𝑋5
Onde, a única mudança frente a equação anterior é que em vez do valor
de mercado, se use o valor contábil do PL. Para essa equação, uma firma com
o Z maior que 2,9 não teria risco de vir a falência, e um Z menor que 1,23 indica
que a firma provavelmente está em dificuldade financeira. Entre 2,9 e 1,23 existe
uma zona cinzenta que demanda uma análise mais detalhada.
Entretanto, esses índices foram criados para o mercado americano e em
1979, junto a dois professores brasileiros, Altman, Dias e Baidya (1979)
adaptaram a logica para o mercado brasileiro, obtendo a seguinte equação para
firmas industriais.

𝑍 = −1,44 + 4,03𝑋2 + 2,25𝑋3 + 0,14𝑋4 + 0,42𝑋5

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A qual não inclui o X1. Assim, o Z desejado é acima de 0,20 para firmas
saudáveis e -0,34 para firmas em situação de possível falência.
Ademais, Altman também criou o Z score para firmas de mercado
emergentes, dados pela equação:

𝑍 = 3,25 + 6,56𝑋1 + 3,26𝑋2 + 6,72𝑋3 + 1,05𝑋4


Onde o desejável é um Z acima de 2,6, caso o Z esteja abaixo de 1,1, é possível
estar em dificuldades financeiras.

TEMA 2 – Termômetro de Insolvência de Elizabetsky


A partir das demonstrações contábeis de 373 empresas, Elizabetsky (1976)
classificou as empresas que atrasaram seus pagamentos com credores como
insolventes e estimou a seguinte equação:
𝑍 = 1,93 𝑀𝐿 − 0,20 𝑋33 + 1,02𝑋35 + 1,33𝑋36 − 1,12𝑋37
Onde, ML é lucro líquido/receita, X33 é disponível/Ativo Permanente, X35 é
Contas a Receber/Ativo Total, X36 é Estoque/Ativo Total e X37 é Passivo
Circulante/Ativo Total.
Assim, segundo Elizabetsky (1976), uma empresa com Z maior que 0,5 é
considerada solvente, enquanto com Z menor que 0,5 é considerada insolvente.
Assim, apesar de ser uma aplicação direta, é importante saber o raciocínio
por traz da equação, onde, quanto maior a margem de lucro, ou seja, quanto
maior for a parte da receita que a empresa consiga transformar em lucro, menor
a probabilidade da empresa se tornar insolvente.
Já quanto maior for o caixa em relação aos ativos fixos, mais provável a
empresa estará de enfrentar dificuldades financeiras, apesar de parecer contra
intuitivo, já que ter dinheiro em caixa diminui o risco da companhia, é importante
lembrar que dinheiro em caixa possui pouca rentabilidade, e ativos são os que
providenciariam maior rentabilidade.
Já as contas a receber e o estoque diminuem a probabilidade de a
empresa ficar insolvente devido sua característica de garantia e liquidez.
Por fim, não é inesperado que quanto maior for a proporção do passivo
circulante (aquele que a empresa deve pagar dentro dos próximos 12 meses)
frente ao ativo total, maior o risco de a empresa ir à falência.

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TEMA 3 – Índices de Atividade: PME, PMF e PMV
PME
Por meio das demonstrações contábeis somos capazes de estimar o
tempo médio (em dias) que a matéria prima permanece estocada. Isso é
particularmente útil para empresas industriais. Como também serve como um
parâmetro de eficiência na produção.
A formula do prazo médio de estocagem é a seguinte:

𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑡é𝑟𝑖𝑎 𝑝𝑟𝑖𝑚𝑎


𝑃𝑀𝐸 = 𝑥 365
𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝐴𝑛𝑢𝑎𝑙

Onde para sabermos o consumo anual, fazemos a seguinte aproximação:


consumo anual é igual ao estoque do início do ano, somado as compras naquele
ano, subtraído o estoque final, ou seja:
𝐶𝐴 = 𝐸𝑖 + 𝐶 + 𝐸𝑓
C_a é o consumo anual estoque inicial, C é a compra de estoques que
ocorreu no período e E, Ei é o f é o estoque final.

Por exemplo, vamos considerar as informações relativas a empresa ABC.

2018 2019
Matéria Prima 50000 70000
Consumo Anual 100000

(70000 + 50000)/2
𝑃𝑀𝐸 = 𝑥 365 = 219 𝑑𝑖𝑎
100000
PMF
O prazo seguinte ao consumo de matéria prima é a fabricação do produto.
Da mesma forma que estimamos o PMF, vamos agora estimar o prazo médio de
fabricação, onde necessitamos do estoque médio de produtos em fabricação, e
também dos custos de produção, a equação é a seguinte:
𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑓𝑎𝑏𝑟𝑖𝑐𝑎çã𝑜
𝑃𝑀𝐹 = 𝑥 365
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜
Assim, para a companhia ABC, que possui as informações abaixo

2018 2019
Estoque de produtos em elaboração 10000 20000

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Custo dos produtos produzidos 50000

Dessa forma:
(10000 + 20000)/2
𝑃𝑀𝐹 = 𝑥 365 = 109,5
50000

PMV
O prazo médio de vendas, conforme diz o nome, consiste em estimar o
tempo que o produto fabricado permanece estocado até o momento que ocorrer
a venda.
A sua formula é a seguinte:
𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 𝑎𝑐𝑎𝑏𝑎𝑑𝑜𝑠
𝑃𝑀𝑉 = 𝑥 365
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑜𝑠
De posse dos dados da ABC
2018 2019
Estoque de produtos terminados 30000 40000
Custo dos produtos vendidos 200000

(30000 + 40000)/2
𝑃𝑀𝑉 = 𝑥 365 = 63,9
200000

Assim, é possível inferir que da entrada da matéria prima até a venda do


produto a empresa ABC leva 219+110+64 = 392 dias. Mais uma vez, concluir
acerca desse número é perigoso, o ideal seria compara-lo com outras empresas
parecidas, ou seja, do mesmo setor e com tamanho similar.
Isto posto, é importante ter em mente a seguinte reflexão, em razão dos
219 dias que a matéria prima passa estocada, a empresa precisa de um
investimento médio de 60.000 ((50000+70000)/2), assim, caso a empresa
diminua o tempo de estocagem de matéria prima, a organização irá necessitar
de um menor investimento médio, e assim liberar caixa para investimento em
outras atividades que possam ser mais lucrativas. Esse raciocínio vale para o
PMF e PMV também, por isso, um modelo de gerenciamento que se tornou
rapidamente popular foi o Just in Time.

TEMA 4 – Índices de Atividade: PMC, PMDD e PMPF


PMC

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Muitas das vendas realizadas pela empresa são a prazo, assim, é
importante ter uma forma de estimar a quantidade média de dias que ocorrem
entre a data da venda e a data onde efetivamente ocorre o recebimento do
dinheiro.
A formula é a seguinte:
𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟
𝑃𝑀𝐶 = 𝑥 365
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 𝑎 𝑝𝑟𝑎𝑧𝑜
Utilizando as informações da ABC:
2018 2019
Contas a Receber 70000 90000
Receita a Prazo 260000

(70000 + 90000)/2
𝑃𝑀𝐶 = 𝑥 365 = 112
260000
Assim, a firma ABC leva 112 dias em média para receber o dinheiro
oriundo das vendas a prazo.

Contudo, uma empresa pode realizar o chamado descontos de duplicatas


em instituições financeiras, reduzindo assim o seu prazo médio de cobrança.
No caso, calculamos o prazo médio de desconto de duplicatas de acordo
com a seguinte fórmula:
𝐷𝑢𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟
𝑃𝑀𝐷𝐷 = 𝑥 365
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 𝑎 𝑝𝑟𝑎𝑧𝑜

A companhia ABC possui os seguintes dados referentes as suas


duplicatas a receber
2018 2019
Contas a
Receber 10000 30000
Receita a Prazo 260000

Dessa forma, o período em dias que a ABC reduz de seu prazo médio de
cobrança devido ao desconto de duplicatas é de:
(10000 + 30000)/2
𝑃𝑀𝐷𝐷 = 𝑥 365 = 28
260000

PMPF

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Até agora aprendemos a calcular prazos médios relacionados a gestão,
produção e venda de estoques, contudo, outro fator importante da atividade
empresarial é o tempo que se leva para pagar os fornecedores, ou seja, o prazo
que em média os fornecedores da empresa dão.
Assim, a formula é a seguinte:
𝐹𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑎 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑟
𝑃𝑀𝑃𝐹 = 𝑥 365
𝐶𝑜𝑚𝑝𝑟𝑎𝑠 𝑎 𝑝𝑟𝑎𝑧𝑜
Para a ABC, de posse dos seguintes dados, podemos verificar o tempo
que a empresa leva do momento da compra aprazo com fornecedores até o
efetivo pagamento:
2018 2019
Fornecedores 120000 150000
Compras a prazo 280000

(270000 + 150000)/2
𝑃𝑀𝑃𝐹 = 𝑥 365 = 176
280000
Dessa forma, a empresa leva 176 para efetuar o pagamento de seus
fornecedores.

TEMA 5 – Avaliação de Ciclos Operacionais


A operação da empresa vai desde a compra da matéria prima até o
recebimento de dinheiro advindo das vendas. Assim, nos podemos ter uma ideia
do quanto dura esse ciclo operacional ao somar o tempo de produção, ou seja,
somar o prazo médio de estocagem, prazo médio de fabricação com o prazo
médio de venda. Esta parcela seria quanto tempo dura a compra da mercadoria
até o momento da venda. Como sabemos que muito das vendas são feitas a
prazo, somamos também o prazo médio do contas a receber. Assim, nós temos
uma estimativa do Ciclo Operacional da empresa, ou seja, do tempo que leva
desde a produção da mercadoria, até o recebimento de caixa.
Ciclo Operacional = PME + PMF + PMV + PMC - PMDD.
Esta informação é importante pois revela uma medida de eficácia.
Ademais, o ciclo operacional poderia também funcionar como uma estimativa de
quanto tempo a empresa permanece sem capital de giro, afinal, se tivermos um
ciclo operacional de 90 dias, significa que dentro dos 90 dias - da compra da
mercadoria, até o recebimento de dinheiro – a empresa deve dispor de capital
de giro para as despesas que a de ocorrer nesse período.

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Assim, para a ABC esse ciclo operacional é de
Ciclo Operacional = 219+110+64+112-28 = 477 dias.
Nisso, é preciso ter em mente que para uma adequada conclusão acerca
desse valor, é necessário ter em mão dados de empresas comparáveis. Ainda
assim, é ideal pensar que esses 477 requerem um investimento médio que
poderia ser reduzido caso a companhia tivesse seus tempos médios reduzidos,
assim, liberando caixa para poder ser investido em outra atividade.
Contudo, temos que considerar que o pagamento de fornecedores não
necessariamente ocorre no mesmo dia da compra da mercadoria. Dessa forma,
para obter o ciclo de caixa, devemos subtrair do ciclo operacional o prazo médio
do pagamento a fornecedores.
Ciclo de Caixa = Ciclo Operacional – PMPF
De posse das informações anteriores acerca dos dados da ABC, temos um ciclo
de caixa de:
Ciclo de Caixa = 477 – 176 = 301.
Assim, temos uma real estimativa de quanto tempo – em dias – a firma
permanece sem receber caixa.
Isto posto, é possível concluir que a firma pode diminuir o montante
investindo em capital de giro ao menos de duas formas, sendo mais eficiente no
processo produtivo, reduzindo o tempo que concede de prazo nas vendas as
prazo, e talvez mais importante, nos prazos que consegue junto ao fornecedor,
pois, quanto maior o prazo concedido pelo fornecedor, menor o período que a
empresa permanece sem caixa.
Apesar de tudo que foi mostrado, muitas vezes não temos informações
tão detalhadas do processo produtivo da empresa, assim, muitos ajustes são
feitos, onde, apesar de aumentarem a margem de erro frente ao real ciclo
operacional e ciclo de caixa, ainda são melhores do que a ausência de
informação.
Dessa forma, podemos calcular o prazo médio de estocagem com a
seguinte formula geral:

𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 𝑀é𝑑𝑖𝑜
𝑃𝑀𝐸 = 𝑥 365
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑀𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟𝑖𝑎 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎
Na ausência da informação de compras parceladas, utilizamos o custo da
mercadoria vendida como uma aproximação, além disso, na ausência de
informações detalhadas como estoque de matéria prima, tempo de fabricação e
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tempo de venda, assim, esse indicador como um todo é uma aproximação da
soma do PME, PMF e PMV anteriormente apresentados.
Outra aproximação realizada se refere ao prazo que a firma concede aos
seus clientes para o pagamento, assim, a formula utilizada é a seguinte:

𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟 𝑀é𝑑𝑖𝑜


𝑃𝑀𝑅 = 𝑥 365
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠
Na fórmula acima é possível perceber que estamos aproximando as
vendas a prazo pelo total da receita de vendas, e que também não estamos
considerando o prazo das duplicatas descontadas, ainda assim, o PMR é uma
boa aproximação ao prazo que a empresa concede aos seus clientes.
Por último temos a aproximação do prazo médio concedido pelos
fornecedores, com a seguinte formula
𝐹𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑀é𝑑𝑖𝑜
𝑃𝑀𝐹 = 𝑥 365
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑀𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟𝑖𝑎 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎
Assim, o volume de compras é aproximado pelo custo total da mercadoria
vendida.
Dessa forma, o Ciclo operacional aproximado geral seria PME+PMR e o
ciclo de caixa seria o Ciclo Operacional – PMF.

TROCANDO IDEIAS
Nos nossos exemplos o ciclo operacional sempre foi maior do que o prazo
de pagamento de fornecedores, você conhece alguma empresa em que o
contrário acontece? O Famoso “trabalhando com o dinheiro de fornecedores”?
Ou seja, a empresa não precisar de investir na compra de estoque, nem no
processo produtivo, nem no financiamento das vendas a prazo, pois o espaço
entre a compra da mercadoria e o recebimento é menor do que o prazo do
pagamento dos fornecedores?
NA PRÁTICA
Muito do conhecimento aprendido nessa aula é aplicado na prática
buscando a análise da empresa. Como dito anteriormente, o objetivo seria
aplicar em empresas que tivéssemos toda a gama de dados para ter uma
aproximação melhor do ciclo operacional e de caixa, contudo, é difícil acesso a
tais dados. Por isso, iremos trabalhar com os indicadores gerais. Assim, é

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interessante buscar calcular o ciclo de caixa e ciclo operacional para duas
empresas de capital aberto e diretamente comparáveis, Renner e Guararapes.

Solução
Utilizando os dados públicos das empresas no site da B3 -
http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/renda-
variavel/empresas-listadas.htm -
Temos, para a Renner, a seguinte DRE

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E os dados do balanço – ativo circulante e passivo circulante –
necessários.
Assim, iremos calcular primeiro o prazo médio de estoques
𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 𝑀é𝑑𝑖𝑜 (923.176+782.266)/2
𝑃𝑀𝐸 = 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑀𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟𝑖𝑎 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎 𝑥 365 = 𝑥365 = 106
2.922.822

Em Seguida, Vamos Calcular O Prazo Médio De Recebimento, utilizando


a seguinte formula:
𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟 𝑀é𝑑𝑖𝑜 (2.696.993+2.266.291)/2
𝑃𝑀𝑅 = 𝑥 365 = 𝑥365 = 137
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 6.600.073

Lembrando que nesse cálculo estamos utilizando o contas a receber


inteiro, mesmo que dentro tenha algumas contas de natureza questionável,
entretanto, o volume dessas contas frente a conta clientes é irrelevante, e assim,
mantemos um padrão, em vista que algumas outras empresas podem não
realizar um detalhamento tão profundo.

E assim, o tempo médio em dias que a Renner leva até o recebimento de


suas contas a receber é de 137 dias.

Dessa forma, temos que o ciclo operacional da Renner S/A é de 137+106


=243 dias.

Por último, para calcular o ciclo de caixa, nos precisamos investigar o


tempo médio que a empresa leva até realizar o pagamento aos fornecedores.
𝐹𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑀é𝑑𝑖𝑜 (842.254+679.721)/2
𝑃𝑀𝑃𝐹 = 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑀𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟𝑖𝑎 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎 𝑥 365 = 𝑥365 = 137
2.922.822

Concluímos que os fornecedores concedem 137 dias em média para que


a Renner pague seus compromissos, e assim, o ciclo de caixa é 243-137 = 106.

Para a Guararapes S/A, buscando as informações no mesmo site -


http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/renda-
variavel/empresas-listadas.htm -

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Para a Guararapes S/A, a empresa tem em média 108 dias entre a compra
de matéria prima e a venda da mercadoria, conforme mostra a equação abaixo

𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 𝑀é𝑑𝑖𝑜 (730.258 + 662.271)/2


𝑃𝑀𝐸 = 𝑥 365 = 𝑥365
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑀𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟𝑖𝑎 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎 2.338.408
= 108

Já em relação ao prazo médio de recebimento de clientes, a empresa


concede em média 165 dias para a realização do recebimento das vendas a
prazo.

𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟 𝑀é𝑑𝑖𝑜 (3.127.141 + 2.708.325)/2


𝑃𝑀𝑅 = 𝑥 365 = 𝑥365 = 165
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 6.444.659
E assim temos um ciclo operacional de 108+165 = 273 dias, maior que o
da Renner S/A em 30 dias. Isso sugere que ou a empresa é ineficiente
produtivamente ou concede um prazo maior a seus clientes, comparando o PME
entre as duas, vemos que eles são extremamente similares, 107 contra 108, a
diferença no ciclo operacional se dá pela diferente no pra médio de recebimento
de clientes, PMR, o qual a Guararapes concede praticamente 30 dias a mais de
prazo para o cliente realizar o pagamento.

Já quanto ao ciclo de caixa, a Guararapes tem um prazo junto a


fornecedores de 58 dias, e assim, o ciclo de caixa é 273-58, 215 dias. Assim, o
ciclo de caixa da Guararapes é praticamente duas vezes maior do que o da
Renner, muito em razão da Guararapes conceder um prazo maior a seus clientes
e obter um prazo menor junto a seus fornecedores, e assim, a Guararapes
demanda um maior investimento em giro.
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𝐹𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑀é𝑑𝑖𝑜 (403.558 + 341.483)/2
𝑃𝑀𝑃𝐹 = 𝑥 365 = 𝑥365
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑀𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟𝑖𝑎 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎 2.338.408
= 58

Mais que isso, esse exemplo nos mostrou algum cuidado que
temos que ter a analisar empresas, na Renner, utilizamos a receita somente
oriunda de venda de mercados, em razão da própria Renner deixar essa
informação disponível, entretanto, para a Guararapes, somente temos a receita
total, e não sabemos se está incluída a receita com produtos financeiros e quão
relevante ela é, optamos por assumir que não é relevante, pois, se fosse, a
mesma teria a obrigação de separar, entretanto, é importante ter isso em mente.

FINALIZANDO
Prezados, nessa aula aprendemos mais acerca dos modelos de previsão
de falência, aprofundando a análise para o termômetro de Elizabetsky e também
para o Z de Altman.
Além disso, entramos na seara que tange os indicadores de atividade
empresarial, como os referentes ao processo produtivo e venda – PME, PMF e
PMV, como também aos de recebimento de clientes e desconto de duplicatas –
PMC e PMDD, e o referente ao prazo de pagamento a fornecedores – PMPF.
Assim, de posse desses dados aprendemos a estimar o ciclo operacional, ou
seja, a quantidade de dias desde a compra da matéria prima até o recebimento
de clientes, e o ciclo de caixa, que é o ciclo operacional descontado do prazo
concedido pelos fornecedores.
Ademais, é importante ressaltar que no calculo devemos considerar as
informações que nos são disponíveis, no caso de usuários externos da
informação, dificilmente teremos acesso ao estoque de matéria prima, estoques
de produtos fabricados, e assim em diante, por isso, calculamos versões
simplificadas que são estimações do real. E mesmo assim, quando comparamos
empresas diferentes, temos que julgar a informação contábil nos fornecida para
tomar a melhor decisão.
Nas próximas aulas iremos aprender alavancagem – financeira e
operacional – como indicadores relacionados a rentabilidade empresarial. Até lá!

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REFERÊNCIAS
ELISABETSKY, Roberto. Um modelo matemático para decisões de crédito no
banco comercial. 1976. 190 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia da
Produção) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1976.

KANITZ, Stephen Charles. Como prever falências. São Paulo: McGraw do Brasil,
1978.

ALTMAN, E. I.; DIAS, L. M. R.; BAIDYA, T. K. N. Previsão de Problemas


Financeiros em Empresas. RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 19,
n. 1, jan-mar, 1979.

ALTMAN, Edward I. Financial ratios, discriminant analysis and the prediction of


corporate bankruptcy. The journal of finance, v. 23, n. 4, p. 589-609, 1968.

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