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CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL

GABINETE DO DEPUTADO ROOSEVELT VILELA - GAB. 14

OFÍCIO Nº 106/2020-GAB DEP. ROOSEVELT VILELA


Brasília, 28 de julho de 2020.
Ao Senhor
Cel QOPM JULIAN ROCHA PONTES
Comandante-Geral
Polícia Militar do Distrito Federal
SPO AE Conj. 04, QCG, Palácio Tiradentes, Setor Policial Sul, CEP: 70.610-212 – Brasília – DF

Assunto: Solicita análise da Corporação quanto a normativos internos da PMDF que possam
restringir direitos de militares com restrições médicas temporárias ou permanentes.

Senhor Comandante-Geral,

Cumprimentando cordial e respeitosamente Vossa Senhoria, e considerando:


Que compete, privativamente, à Câmara Legislativa do Distrito Federal fiscalizar e
controlar os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta, nos termos no art.
60 da Lei Orgânica do DF;
Que o exercício do mandato do Deputado Distrital inicia-se com a posse, cabendo-lhe,
uma vez empossado, ter acesso às informações necessárias à fiscalização contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial do Distrito Federal e das entidades da administração
direta e indireta, nos termos do art. 15, inciso X, do Regimento Interno da Câmara Legislativa
do Distrito Federal - RICLDF;
Que este parlamentar vem buscando desde o início deste ano o diálogo com a PMDF no
sentido de buscar um melhor entendimento quanto aos normativos internos da Corporação que
podem restringir direitos de militares com restrições médicas temporárias ou permanentes;
Solicito análise e manifestação por parte da Polícia Militar do Distrito Federal, no prazo
de 20 dias, quanto às considerações abaixo em relação à constitucionalidade, eficiência e justiça
social dos normativos internos da Corporação que possam restringir direitos e impedir a
ascensão profissional de policiais militares que estejam com algum tipo de restrição médica,
temporária ou permanente, mas que continuam exercendo suas atividades profissionais no
serviço ativo adaptadas a sua restrição.
A Convenção da nº 161, da Organização Internacional do Trabalho, bem explicitou a
necessidade em se proceder a adaptação dos trabalhadores que possuam algum tipo de
restrição:
"Art. 5 - Sem prejuízo da responsabilidade de cada empregador a respeito da
saúde e da segurança dos trabalhadores que emprega, e tendo na devida conta
a necessidade de participação dos trabalhadores em matéria de segurança e
saúde no trabalho, os serviços de saúde no trabalho devem assegurar as
funções, dentre as seguintes, que sejam adequadas e ajustadas aos
riscos da empresa com relação à saúde no trabalho:
(. . .)
g) promover a adaptação do trabalho aos trabalhadores;
h) contribuir para as medidas de readaptação profissional;"
No mesmo linear, merece transcrição as considerações de Sebastião Geraldo de
in verbis
Oliveira, :
"O primeiro a ser considerado no ambiente de trabalho é o homem,
depois é que se acrescentam os equipamentos, as condições de trabalho e os
métodos de produção. A Convenção nº 155 da OIT, já apreciada, estabelece no
art. 5º que a política nacional de saúde dos trabalhadores deve adaptar
o maquinário, os equipamentos, o tempo de trabalho, a organização
do trabalho e das operações e processos às capacidades físicas e
mentais dos trabalhadores. No mesmo sentido, a Convenção nº 161 da OIT,
no art. 5º, alínea g, prevê como função dos serviços de saúde no trabalho
promover a adaptação do trabalho aos trabalhadores." (in Proteção Jurídica à
saúde do trabalhador, Editora Ltr, 6ª edição, p. 110).

A proteção à pessoa com restrição médica é destinada a assegurar e a promover, em


condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais, visando a sua
inclusão social e cidadania. Não de outra forma, aliás, é que a Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência - Lei n. 13.146/2015), tendo como
base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo,
ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de
2008, em conformidade com o procedimento previsto no § 3º do art. 5º da Constituição da
República Federativa do Brasil, em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de
agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de início
de sua vigência no plano interno, foi promulgada no Brasil a fim de amparar as pessoas que
encontram em tal condição. E, com tais finalidades, é que a pessoa com algum tipo de restrição
médica tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá
nenhuma espécie de discriminação, devendo ser protegida de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou
degradante.
A propósito, dentre os direitos fundamentais do cidadão, o Estatuto da Pessoa com
Deficiência evidencia o direito ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente
acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. In verbis:
"Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e
aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades
com as demais pessoas.
§ 1o As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qualquer natureza
são obrigadas a garantir ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos.
§ 2o A pessoa com deficiência tem direito, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas, a condições justas e favoráveis
de trabalho, incluindo igual remuneração por trabalho de igual valor.
§ 3o É vedada restrição ao trabalho da pessoa com deficiência e
qualquer discriminação em razão de sua condição, inclusive nas
etapas de recrutamento, seleção, contratação, admissão, exames
admissional e periódico, permanência no emprego, ascensão
profissional e reabilitação profissional, bem como exigência de aptidão
plena.
§ 4o A pessoa com deficiência tem direito à participação e ao acesso a
cursos, treinamentos, educação continuada, planos de carreira,
promoções, bonificações e incentivos profissionais oferecidos pelo
empregador, em igualdade de oportunidades com os demais
empregados.
§ 5o É garantida aos trabalhadores com deficiência acessibilidade em
cursos de formação e de capacitação.
Art. 35. É finalidade primordial das políticas públicas de trabalho e emprego
promover e garantir condições de acesso e de permanência da pessoa com
deficiência no campo de trabalho.
Parágrafo único. Os programas de estímulo ao empreendedorismo e ao trabalho
autônomo, incluídos o cooperativismo e o associativismo, devem prever a
participação da pessoa com deficiência e a disponibilização de linhas de crédito,
quando necessárias."

O Tribunal de Justiça de Goiás julgou procedente a ação ajuizada por um Capitão da


Polícia Militar do estado de Goiás (Processo: 5361502.64.2018.8.09.0051), que não poderia ser
promovido em decorrência de estar com restrição médica e, consequentemente, não conseguir
estar apto para a realização do teste físico, contudo continuava exercendo suas atividades de
maneira adaptada a sua restrição. A sentença conferiu o direito ao militar de ser promovido,
independente da aptidão no teste físico ou inspeção de saúde, tendo em vista o caráter
constitucional da Convenção da nº 161, da Organização Internacional do Trabalho, a qual
assegura igualdade de direitos e tratamento àqueles que possuam algum tipo de deficiência ou
restrição em relação aos demais.
"(...)
Relatados, decido.
(...)
Aliás, de forma mais direta, é que o art. 17-A, da Lei Estadual 15.704/2006,
aduz que "O Teste de Avaliação Profissional (TAP), realizado
independentemente em cada Corporação, por comissão designada por ato dos
respectivos Comandantes-Gerais, constitui um dos requisitos para inclusão em
Quadro de Acesso por Merecimento (QAM)".
A despeito de tudo isso, como já destacado na análise da tutela
provisória, aos dispositivos acima em destaque devem ser dados
interpretações conforme a Constituição, sob pena de violar
frontalmente o princípio da isonomia constitucional.
Isso porque, dadas as peculiaridades do caso concreto, não se vê
qualquer possibilidade de distinção ao deficiente físico - sobejamente
atendidos os demais requisitos exigíveis pela lei - em participar de
processo de promoção por antiguidade, e não ser possível da mesma
maneira por merecimento.
Ora, à pessoa com deficiência é destinada a assegurar e a promover,
em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades
fundamentais, visando à sua inclusão social e cidadania.
Não de outra forma, aliás, é que a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência - Lei n. 13.146/2015), tendo
como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu
Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto
Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, em conformidade com o
procedimento previsto no § 3o do art. 5o da Constituição da República
Federativa do Brasil, em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31
de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto de
2009, data de início de sua vigência no plano interno, foi promulgada no Brasil a
fim de amparar as pessoas que encontram em tal condição.
E, com tais finalidades, é que a pessoa com deficiência tem direito à
igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá
nenhuma espécie de discriminação, devendo ser protegida de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura,
crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante.
(...)
Sendo assim, é primordial à condição de deficiência a garantia de direitos
similares, sob pena de subverter o ideal isonômico imposto pela norma
constitucional e legal, em contraposição à evolução dos direitos sociais
consagrados pelo ordenamento jurídico.
(...)
Logo, seja pelo evidente ferimento aos princípios constitucionais em
vigor, pela manifesta guarida legal imposta pelo Estatuto da Pessoa
com Deficiência, ou pela ausência de proibição disposta pela
legislação que rege o cargo militar, não há outro desfecho a ser dado
aos autos senão a confirmação da tutela provisória de urgência antes
concedida.
Destarte, com essas fundamentações, tenho por prejudicadas quaisquer outras
indagações acessórias ou laterais levantadas pelas partes a respeito do caso
concreto.
Ao teor do exposto, julgo procedente o pedido formulado na inicial.
Custas e honorários a cargo do Estado de Goiás, fixando os últimos em 10%
sobre o valor atualizado dado à causa, nos termos do art. 85, §§2ª e 4ª, do
CPC. P.R.I.
Arquive oportunamente.
Goiânia, 18 de janeiro de 2019
Élcio Vicente da Silva
Juiz de Direito"

Na mesma seara temos o julgado da Justiça do Trabalho:


"ACIDENTE DE TRABALHO. RETORNO. EMPREGADO APTO COM RESTRIÇÕES.
READAPTAÇÃO. OBRIGATORIEDADE. SUSPENSÃO DO CONTRATO.
INDEVIDA. Embora a readaptação do trabalhador não tenha passado
pela esfera previdenciária, restou determinada por médicos
particulares, inclusive profissional da própria reclamada, haja vista
apresentar o empregado aptidão para o labor, com restrições. A
interpretação literal da alínea e, do item 7.4.4.3, da NR nº 7, do MTE, que
resultou na suspensão do contrato de trabalho por parte da ré, afronta
não só os princípios da proporcionalidade e da onerosidade, como
também a dicção do art. 5º, alíneas g e h, da Convenção nº 161, da
Organização Internacional do Trabalho. Recurso patronal conhecido e não
provido.
PROCESSO nº 0010986-93.2013.5.01.0037 (RO)"

Outro ponto que pedimos análise e que dê o encaminhamento que o caso merece, é em
relação ao normativo que regula o teste de aptidão física no âmbito da Polícia Militar do DF,
visto que na instituição co-irmã e que possuem as mesmas características militares, já se
avançou e evoluiu em relação aos militares que possuem algum tipo de restrição médica,
existindo para tanto a figura do teste físico adaptado para aqueles militares que possuem algum
tipo de restrição, trata-se da Portaria nº 8, de 8 de março de 2013. Transcreve-se abaixo a
parte da referida portaria que disciplina o teste físico adaptado:
"1.3.1 Tipos de Testes de Aptidão Física (TAF)
(...)
b) TAF II – militares com restrições médicas: Os militares que possuem
alguma restrição física realizarão o TAF II, mediante comprovação de parecer
médico da junta de inspeção de saúde do CBMDF e, publicado até 15 (quinze)
dias antes da data da realização do TAF.
O resultado do TAF II terá aplicação apenas de promoção ou inscrições em
cursos internos de aperfeiçoamento, altos-estudos e habilitação (CAEO, CAO,
CAEP, CAP, CHO – Saúde/Compl. e CHO – Adm/Esp). No TAF II o militar será
qualificado como apto (nota máxima de 7,0) ou inapto (abaixo de 7,0).“
Caso o militar queira se inscrever em cursos externos ao CBMDF, deverá,
obrigatoriamente, estar no serviço ativo há pelo menos 01 (um) ano sem
restrições médicas, devendo realizar o TAF I, obrigatoriamente, nas datas
previstas no cronograma publicado pela Comissão de Aplicação dos Testes
Físicos (CATAF).
O TAF II será dividido em quatro subgrupos:
- TAF IIA - Militares com restrições físicas em membros superiores:
será composto por 03 (três) exercícios obrigatórios. O militar deve alcançar o
índice mínimo 7,0 em todos os exercícios: * teste de impulsão horizontal; *
teste de abdominal com pés fixos; e * corrida de 12 minutos.
- TAF IIB - Militares com restrições físicas em membros inferiores: será
composto por 03 (três) exercícios obrigatórios. O militar deve alcançar o índice
mínimo 7,0 em todos os exercícios: * teste de flexão de membros superiores na
barra fixa; * teste abdominal com pés fixos; e * teste de natação 12 minutos.
- TAF IIC – Militares com restrições físicas na coluna vertebral e/ou
quadril: será composto por 02 (dois) exercícios obrigatórios. O militar deve
alcançar o índice mínimo 7,0 em todos os exercícios: * teste de supino reto do
Colégio Americano de Medicina Esportiva - ACSM; e * teste de natação 100
metros.
- TAF IID - Militares com restrições cardíacas ou militares gestantes:
será composto por um exercício obrigatório. O (a) militar deve alcançar o índice
mínimo 7,0 no exercício: * caminhada de 1.600m na esteira, com supervisão
médica obrigatória."

Note que o normativo do Corpo de Bombeiros Militares do Distrito Federal atende ao


que prescreve a nossa Constituição quanto à necessidade em se garantir tratamento
isonômico, as mesmas garantias e prerrogativas dos demais militares.
Pelo exposto, solicitamos análise detalhada das considerações aqui contidas e sua
aplicação quanto às normas da Polícia Militar que regem os cursos de formação, especialização,
aperfeiçoamento e altos estudos, além dos normativos de promoção, para que eles não criem
restrições aos policiais militares que estão com algum tipo de restrição médica, porém
continuam exercendo suas atividades laborais adaptadas as suas restrições, contudo estão
sendo impedidos de participarem de cursos e de serem promoções em consequência dessa
restrição.
O efeito de restrição à promoção imposto ao militar da ativa é nefasto e cruel, visto que
ele exerce as atividades policiais e está no serviço ativo, contudo fica condenado a ficar
estagnado em suas carreiras sendo preteridos e sem os adicionais de certificação profissional,
em virtude de estarem com algum tipo de restrição física temporária ou permanente. O efeito da
preterição na carreira militar é irremediável, visto que o mais moderno irá ocupar a posição
acima do mais antigo e terá mais tempo para permanecer no serviço ativo, condenando o
preterido até a sua passagem para a inatividade.
Desde já agradeço e coloco-me à disposição para maiores esclarecimentos que se façam
necessários.

Atenciosamente,

ROOSEVELT VILELA
Deputado Distrital

Praça Municipal, Quadra 2, Lote 5, 3º Andar, Gab 14 ̶ CEP 70094-902 ̶ Brasília-DF ̶ Telefone: (61)3348-8142
www.cl.df.gov.br - dep.rooseveltvilela@cl.df.gov.br

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