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Empreendedorismo: Conceitos e Definições

Adelar Francisco Baggio


Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Daniel Knebel Baggio


Doutor em Contabilidade pela Universidad de Zaragoza, Espanha.

Resumo
O presente artigo tem como objetivo realizar uma discussão sobre o tema do empreendedorismo.
Buscou-se em diferentes estudos sobre os conceitos, definições e compreensões do tema. Trata-se ex-
clusivamente de uma pesquisa bibliográfica. Os resultados referem-se as discussões sobre os conceitos
de empreendedorismo, os tipos de empreendedores, as características dos empreendedores (homens) e
empreendedoras (mulheres), as diferenças entre ser um inventor, um empreendedor, um gestor ou um
líder e ainda sobre o processo de empreender. O presente estudo contribuiu na construção de referen-
cial teórico sobre empreendedorismo e inovação.
Palavras-chave: Empreendedorismo, Características dos Empreendedores, novação.

Introdução preender”, surgido na língua portuguesa no século


XV. A expressão “empreendedor”, segundo o Di-
Este artigo compila informações sobre o cionário Etimológico Nova Fronteira, teria surgi-
do na língua portuguesa no século XVI. Todavia,
tema do empreendedorismo. Aborda aspectos re-
a expressão “empreendedorismo” foi originada da
levantes relacionados com a origem da terminolo-
tradução da expressão entrepreneurship da língua
gia, conceitos, teorias do empreendedorismo, sua
inglesa que, por sua vez, é composta da palavra
importância na sociedade moderna, entre outros.
francesa entrepreneur e do sufixo inglês ship. O
Trata, também, dos tipos, características, habili-
sufixo ship indica posição, grau, relação, estado ou
dades e competências dos empreendedores. Traz
qualidade, tal como, em friendship (amizade ou
respostas às seguintes perguntas: o que se entende
qualidade de ter amigo). O sufixo pode ainda sig-
por ser empreendedor? o que motiva os empreen-
nificar uma habilidade ou perícia ou, ainda, uma
dedores? Qual a diferença entre ser um inventor e
combinação de todos esses significados como em
um empreendedor? Quais as diferenças entre os
leadership (liderança=perícia ou habilidade de li-
empreendedores homens e mulheres? Quais as di- derar) (Barreto, 1998, pp. 189-190).
ferenças entre empreendedores, gerentes e líderes?
Como ocorre o processo empreendedor?
A importância do empreendedorismo.

Resultados e discussões Os economistas percebem que o empreen-


dedor é essencial ao processo de desenvolvimen-
to econômico, e em seus modelos estão levando
Etimologia da palavra empreende- em conta os sistemas de valores da sociedade, em
dorismo. que são fundamentais os comportamentos indi-
viduais dos seus integrantes. Em outras palavras,
O vocábulo é derivado da palavra imprehen- não haverá desenvolvimento econômico sem que
dere, do latim, tendo o seu correspondente, “em- na sua base existam líderes empreendedores.

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Não adianta mais acumularmos um estoque está onipresente. Ele só precisa de estímulo, como
de conhecimentos. É preciso que saibamos apren- uma flor precisa do sol e um pouco de água para
der. Sozinhos e sempre. Como realiza o empreen- britar na primavera.
dedor na vida real: fazendo, errando, aprendendo O Brasil está sentado em cima de uma das
(Chagas, 2000). maiores riquezas naturais do mundo ainda re-
O bom empreendedor, ao agregar valor a lativamente pouco explorada: o potencial em-
produtos e serviços, está permanentemente preo- preendedor dos brasileiros. O Brasil é atualmente
cupado com a gestão de recursos e com os concei- um dos países onde poderia haver uma grande
tos de eficiência e eficácia. Drucker (1998) não vê explosão empreendedora. Só os brasileiros têm
os empreendedores causando mudanças, mas vê poder para que isso aconteça. Para tanto, deve-se
os empreendedores explorando as oportunidades superar um certo número de obstáculos. Pode-se
que as mudanças criam (na tecnologia, na prefe- identificar pelo menos seis deles: O primeiro de-
rência dos consumidores, nas normas sociais etc.). les é o da autoconfiança; o segundo obstáculo é
Isso define empreendedor e empreendedorismo: o uma consequência do primeiro e consiste na falta
empreendedor busca a mudança, e responde e ex- de confiança que existe entre os brasileiros; o ter-
plora a mudança como uma oportunidade. ceiro é a necessidade de desenvolver abordagens
“O papel do empreendedorismo no desenvol- próprias ao Brasil, que correspondem às caracte-
vimento econômico envolve mais do que apenas o rísticas profundas da cultura brasileira; o quarto
aumento de produção e renda per capita; envolve diz respeito à disciplina, ela se torna a condição da
iniciar e constituir mudanças na estrutura do ne- superação dos três primeiros obstáculos; o quinto
gócio e da sociedade” (Hisrich & Peter, 2004, p. 33). se refere à necessidade de compartilhamento e o
Empreendedorismo é um domínio específi- último obstáculo é o da burocracia (Lois Jacques
co. Não se trata de uma disciplina acadêmica com Filiou, 2000, p. 33).
o sentido que se atribui habitualmente a Socio- Segundo Chiavenato (2004, p. 11) uma pes-
logia, a Psicologia, a Física ou a qualquer outra quisa feita 2001, envolvendo cerca de 29 países,
disciplina já bem consolidada. Referimo-nos ao sobre a população entre 18 e 64 anos que se dedi-
empreendedorismo como sendo, antes de tudo, cam ao empreendedorismo, o Brasil aparece em
um campo de estudo. Isto porque não existe um 5º lugar com o percentual de 14,2% da população.
paradigma absoluto, ou um consenso científico. O Brasil ocupa a 15ª posição do Ranking
Sabemos que o empreendedorismo traduz-se num do Empreendedorismo por Oportunidades e a 4ª
conjunto de práticas capazes de garantir a geração posição no Ranking do Empreendedorismo por
de riqueza e uma melhor performance àquelas so- Necessidades, segundo pesquisa da GEM – Glo-
ciedades que o apóiam e o praticam, mas sabemos bal Entrepreneurship Monitor realizada em 2005
também que não existe teoria absoluta a este res- Em 36 países.
peito. Vale frisar que é de fundamental importân-
cia que se compreenda esta premissa básica para
que seja possível interpretar corretamente o que Conceitos de empreendedorismo e
se escreve e se publica sobre esta temática. de empreendedor.
Embora o empreendedorismo tenha sido um
assunto tratado há séculos, foi na década de oi- O empreendedorismo pode ser compreendi-
tenta que se tornou objeto de estudos em quase do como a arte de fazer acontecer com criativi-
todas as áreas do conhecimento em grande parte dade e motivação. Consiste no prazer de realizar
das nações. O empreendedorismo, em todos os com sinergismo e inovação qualquer projeto pes-
seus aspectos, vem assumindo lugar de destaque soal ou organizacional, em desafio permanente às
nas políticas econômicas dos países desenvolvidos oportunidades e riscos. É assumir um comporta-
e em vias de desenvolvimento. mento proativo diante de questões que precisam
ser resolvidas.
O empreendedorismo é o despertar do indi-
O povo brasileiro é empreendedor? víduo para o aproveitamento integral de suas po-
tencialidades racionais e intuitivas. É a busca do
Os brasileiros são vistos por muitos auto- auto-conhecimento em processo de aprendizado
res como potenciais empreendedores. A cultura permanente, em atitude de abertura para novas
do Brasil é a do empreendedor espontâneo. Este experiências e novos paradigmas.

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O comportamento empreendedor impulsio- características de personalidade e comportamen-
na o indivíduo e transforma contextos. Neste sen- to não muito comuns nas pessoas.
tido, o empreendedorismo resulta na destruição Ao nosso ver, os componentes comuns em
de velhos conceitos, que por serem velhos não têm todas as definições de empreendedor: tem ini-
mais a capacidade de surpreender e encantar. A ciativa para criar um novo negócio e paixão pelo
essência do empreendedorismo está na mudança, que faz; utiliza os recursos disponíveis de forma
uma das poucas certezas da vida. Por sito o em- criativa transformando o ambiente social e eco-
preendedor vê o mundo com novos olhos, com nômico onde vive; aceita assumir os riscos e a
novos conceitos, com novas atitudes e propósitos. possibilidade de fracassar.
O empreendedor é um inovador de contextos. As “O empreendedor é alguém que sonha e
atitudes do empreendedor são construtivas. Pos- busca transformar seu sonho em realidade” (Do-
suem entusiasmo e bom humor. Para ele não exis- labela, 2010, p. 25).
tem apenas problemas, mas problemas e soluções. A pessoa de qualquer idade pode ser em-
Empreendedorismo, segundo Schumpeter preendedora.
(1988), é um processo de ‘‘destruição criativa’’, atra-
vés da qual produtos ou métodos de produção exis-
tentes são destruídos e substituídos por novos. Já Teorias do empreendedorismo.
para Dolabela (2010) corresponde a um o processo
de transformar sonhos em realidade e em riqueza. Hisrich & Peter (2004) apresenta infor-
Para Barreto (1998, p. 190) “empreende- mações sobre o desenvolvimento da teoria do
dorismo é habilidade de criar e constituir algo empreendedorismo e do termo empreendedor a
a partir de muito pouco ou de quase nada”. É o partir da Idade Média até 1985, quando ele defi-
desenvolver de uma organização em oposição a ne o empreendedorismo como “processo de criar
observá-la, analisá-la ou descrevê-la. algo diferente e com valor, dedicando o tempo e o
Segundo Dornelas (2008) empreendedor é esforço necessário, assumindo os riscos financei-
ros, psicológicos e sociais correspondentes e rece-
aquele que detecta uma oportunidade e cria um
bendo as consequentes recompensas da satisfação
negócio para capitalizar sobre ela, assumindo
econômica e pessoal”.
riscos calculados. Em qualquer definição de em-
As principais teorias que abordam o em-
preendedorismo encontram-se, pelo menos, os
preendedorismo são: a teoria econômica e a teoria
seguintes aspectos referentes ao empreendedor: 1)
comportamentalista. A teoria econômica, tam-
tem iniciativa para criar um novo negócio e pai-
bém conhecida como schumpeteriana, demonstra
xão pelo que faz; 2) utiliza os recursos disponíveis
que os primeiros a perceberem a importância do
de forma criativa, transformando o ambiente so-
empreendedorismo foram os economistas. Estes
cial e econômico onde vive; 3) aceita assumir os
estavam primordialmente interessados em com-
riscos calculados e a possibilidade de fracassar. preender o papel do empreendedor e o impacto
Para Chiavenato (2004) espírito empreende- da sua atuação na economia. Três nomes desta-
dor é a energia da economia, a alavanca de recur- cam-se nessa teoria: Richard Cantillon, Jean Bap-
sos, o impulso de talentos, a dinâmica de ideias. tiste Say e Joseph Schumpeter.
Mais ainda: ele é quem fareja as oportunidades e A essência do empreendedorismo está na
precisa ser muito rápido, aproveitando as oportu- percepção e no aproveitamento das novas opor-
nidades fortuitas, antes que outros aventureiros o tunidades no âmbito dos negócios, sempre tem a
façam. O empreendedor é a pessoa que inicia e/ ver com criar uma nova forma de uso dos recur-
ou opera um negócio para realizar uma ideia ou sos nacionais, em que eles seja deslocados de seu
projeto pessoal assumindo riscos e responsabili- emprego tradicional e sujeitos a novas combina-
dades e inovando continuamente. ções. Uma das principais críticas destinadas a es-
“Pode-se dizer que os empreendedores divi- ses economistas é que eles não foram capazes de
dem-se igualmente em dois times: aqueles para criar uma ciência comportamentalista.
os quais o sucesso é definido pela sociedade e A teoria comportamentalista, refere-se a es-
aqueles que têm uma noção interna de sucesso” pecialistas do comportamento humano: psicólo-
(Dolabela, 2010, p. 44). gos, psicanalistas, sociólogos, entre outros. O ob-
Ser empreendedor significa possuir, acima jetivo desta abordagem do empreendedorismo foi
de tudo, o impulso de materializar coisas novas, de ampliar o conhecimento sobre motivação e o
concretizar ideias e sonhos próprios e vivenciar comportamento humano.

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Um dos primeiros autores desse grupo a Ainda, segundo Zarpellon (2010), o precur-
demonstrar interesse foi Max Weber. Ele iden- sor da Teoria Econômica – Richard Cantillon - as-
tificou o sistema de valores como um elemento sociou o empreendedor a oportunidades de lucro
fundamental para a explicação do comportamen- não exploradas e o risco intrínseco a sua explora-
to empreendedor. Via os empreendedores como ção, destacando que Adam Smith é considerado o
inovadores, pessoas independentes cujo papel de formulador da teoria econômica o qual vislumbra
liderança nos negócios inferia uma fonte de au- o empreendedor como aquele que deseja obter um
toridade formal. Todavia, o autor que realmente excedente de valor sobre o custo de produção.
deu início à contribuição das ciências do compor- O empreendedor apresenta um papel particu-
tamento foi David C. McClelland. lar, isto é, ele diferencia a função empreendedora e
Nessa linha, McClelland foi um dos pri- a função capitalista. Para Macedo & Boava (2008,
meiros autores a estudar e destacar o papel dos p. 7) a Escola Neoclássica de Economia – represen-
homens de negócios na sociedade e suas contri- tada por Alfred Marshall, caracterizava o empreen-
buições para o desenvolvimento econômico. Esse dedor como um indivíduo que assume riscos, por-
autor concentra sua atenção sobre o desejo, como tanto Schumpeter foi quem construiu as principais
uma forca realizadora controlada pela razão. bases econômicas do empreendedorismo.
Outros pesquisadores têm estudado a neces- Para Schumpeter (1988, p. 48) “o empreen-
sidade de realização, porém nenhum deles parece dedor promove a inovação, sendo essa radical,
ter chegado a conclusões definitivas sobre qual- pois destrói e substitui esquemas de produção vi-
quer tipo de conexão com o sucesso dos empreen- gentes. Baseado nessa premissa nasce o conceito
dedores. Alguns autores percebem que a necessi- de destruição criativa”.
dade de realização é insuficiente para a explicação Drucker (1998, p. 45) afirma que “Schum-
de novos empreendimentos; enquanto outros peter postulava que o desequilíbrio dinâmico
compreendem que ela não é suficiente o bastante provocado pelo empreendedor inovador, em vez
para explicar o sucesso dos empreendedores. de equilíbrio e otimização, é a ‘norma’ de uma
É importante observar que os autores da economia sadia e a realidade central para a teo-
teoria comportamentalista não se opuseram às ria econômica e a prática econômica”. Portanto, o
teorias dos economistas, e sim ampliaram as ca- enfoque predominante desta teoria é construído
racterísticas dos empreendedores. em torno do marco teórico da teoria econômica
Zarpellon (2010) apresenta a Teoria Econô- institucional.
mica Institucional de Douglas North, ganhador Segundo Zarpellon (2010, p. 52) “as mais
do Prêmio Nobel de 1993, como marco teórico do diversas sociedades têm demonstrado grande in-
empreendedorismo. Ele afirma que os estudos e teresse no processo de geração de emprego e ren-
publicações sobre empreendedorismo no Brasil, da, através da criação de empresas e no processo
de maneira geral, utilizam referencial teórico de de desenvolvimento econômico e social. Diante
autores ligados a duas correntes principais de es- dessa realidade, a Teoria Econômica Institucio-
tudo do empreendedorismo: os economistas e os nal nos proporciona um marco teórico adequado
comportamentalistas. para o estudo do empreendedorismo”.
O referencial teórico da teoria econômica Para Casero, Urbano & Mogollón (2005, p. 2)
diz que “os economistas associaram o empreen- “a Teoria Econômica Institucional destaca os fa-
dedor à inovação e os comportamentalistas que tores e os mecanismos criados pelas sociedades
enfatizam aspectos atitudinais, com a criativida- para conduzir as relações do comportamento hu-
de e a intuição (Zarpellon, 2010, p. 49). mano, através da utilização do conceito de Insti-
O empreendedorismo é visto mais como um tuição de maneira muito ampla”.
fenômeno individual, ligado à criação de empre- North (1990, p. 14) enfatiza que “as Institui-
sas, quer através de aproveitamento de uma opor- ções são as “regras do jogo” em uma sociedade e,
tunidade ou simplesmente por necessidade de so- formalmente, são as limitações idealizadas pelo
brevivência, do que também um fenômeno social homem, as quais dão forma e regem a interação
que pode levar o indivíduo ou uma comunidade a humana”. As regras do jogo podem ser compreen-
desenvolver capacidades de solucionar problemas didas como os direitos de propriedade, direito co-
e de buscar a construção do próprio futuro, isto mercial, trâmites burocráticos para a abertura de
é, de gerar Capital Social e Capital Humano (Zar- empresas, ideias, crenças, valores, atitudes em di-
pellon, 2010, p. 48). reção aos empreendedores, entre outras, afetam a

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criação e o desenvolvimento de novas empresas. econômicos, podem ver suas ações limitadas pela
North (1990) denomina essas limitações de estrutura institucional.
limitações formais e limitações informais. O au- A estrutura institucional determina de que
tor destaca que as instituições formais compreen- maneira ocorre a interação entre os diversos
dem as leis, os regulamentos, os procedimentos agentes – econômicos, sociais e políticos. De
governamentais. As instituições informais com- acordo com Toyoshima (1999, p. 99) a matriz ins-
preendem as ideias, as crenças, as atitudes e os titucional influencia diretamente o desempenho
valores das pessoas, e a sua cultura numa deter- econômico dos países de duas formas principais:
minada sociedade. reduzindo os custos de transação e reduzindo os
North (1990, p. 54) “ainda reforça que em custos de transformação (ou de produção, que
todas as sociedades, desde a mais primitiva até juntos somam os custos totais.
a mais avançada, as pessoas impõem limitações, Para Gala (2003, p. 93) “a grande distância
com o objetivo de estruturar as suas relações com observada ainda hoje entre países pobres e ricos
as demais”. Essas limitações reduzem os custos da encontra-se muito mais em diferenças entre ma-
interação humana em comparação com um mun- trizes institucionais do que problemas de acesso
do onde não haja instituições. Para Toyoshima a tecnologias”. Neste sentido, a Teoria Econômica
(1999, p. 98) “o papel principal das instituições é Institucional serve de fundamento e justifica o
o de reduzir as incertezas existentes no ambiente, vínculo entre Instituições e desenvolvimento eco-
cirando estruturas estáveis que regulem a intera- nômico, social e empresarial.
ção entre os indivíduos”. Para a análise do empreendedorismo, ela
As Instituições existem e reduzem as in- ajuda a entender melhor o ambiente institucio-
certezas próprias da interação humana. Para o nal que é, em última análise, o responsável pelo
autor, essas incertezas existem em consequência desenvolvimento e pelo desempenho econômico
da complexidade dos problemas que devem ser das diversas sociedades.
resolvidos (North, 1990). Dessa forma, cabe as instituições criarem
O resultado da interação entre as Institui- condições para o surgimento de um ambiente
ções e as Organizações é a evolução e a mudança que estimule o surgimento de organizações –
institucional. Para Casero, Urbano & Mogollón econômicas, sociais e políticas que levem as so-
(2005), se as Instituições, como já fora mencio- ciedades ao desenvolvimento social, econômico e
nado, são as regras do jogo de uma sociedade, as sustentável (Zarpellon, 2010).
organizações e os empreendedores são os jogado- “A percepção de que é desejável iniciar uma
res. As organizações ou organismos são grupos de nova empresa é resultado da cultura, da subcul-
indivíduos unidos por algum objetivo comum e tura, da família, dos professores e dos colegas de
comprometidos em atividades úteis. E, elas podem uma pessoa” (Hisrich & Peter, 2004, p. 31).
ser: organizações políticas (partidos políticos, se- Portanto, reduzir o empreendedorismo à
nado, câmaras, assembléias, agências reguladoras, visão econômica não é suficiente, pois segundo
cortes, entre outras), organizações econômicas Zarpellon (2010, p. 50) “o empreendedorismo,
(empresas, sindicatos, cooperativas...), organiza- visando à criação de empresas e geração de tra-
ções sociais (igrejas, clubes, associações desporti- balho e renda, também vem sendo questionado e
vas, etc.) e organizações educativas (escolas, uni- criticado por alguns outros autores”.
versidades, centro de ensino, etc.).
As restrições impostas pelo marco institucio-
nal determinam as oportunidades para o nasci- Tipos de empreendedores.
mento das organizações, assim como o tipo de or-
ganização que será criada pela sociedade, as quais Não existe unanimidade entre os autores
são determinantes para o desempenho econômico. quanto aos tipos de empreendedores. Apresenta-
As instituições afetam, positiva ou negativa- mos, a seguir, várias abordagens sobre o assunto.
mente, o desempenho econômico das sociedades Leite e Oliveira (2007) classifica em dois ti-
mediante as estruturas de incentivos e oportuni- pos de Empreendedorismo: o Empreendedoris-
dades em função dos diversos agentes – governos mo por Necessidade (criam-se negócios por não
e organizações - que atuam na sociedade. Para haver outra alternativa) e o Empreendedorismo
Casero, Urbano & Mogollón (2005) os empreen- por Oportunidade (descoberta de uma oportuni-
dedores e suas empresas, como um dos agentes dade de negócio lucrativa).

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Pessoa (2005) define em três os principais ciado pela ação das empresas privadas no campo
tipos de empreendedores: O empreendedor cor- social e público, assumindo, contudo, as suas pró-
porativo (intra-empreendedor ou empreendedor prias estratégias, num contexto de crescimento do
interno), o empreendedor start-up (que cria novos terceiro sector e da necessidade e procura de ações
negócios/empresas) e o empreendedor social (que de grande impacto e mudanças efetivas.
cria empreendimentos com missão social), são No epicentro deste cenário surgem novos
pessoas que se destacam onde quer que trabalhem. paradigmas que propõem uma abordagem dife-
O empreendedorismo corporativo pode ser renciada permitindo descortinar elementos con-
definido como sendo um processo de identifica- tidos na complexidade dos fenômenos sócio-eco-
ção, desenvolvimento, captura e implementação nômicos, como é o caso da Teoria da Mudança.
de novas oportunidades de negócios, dentro de A Teoria da Mudança é uma metodologia,
uma empresa existente. um conjunto de diretrizes, que orientam os em-
O empreendedor start-up tem como objetivo preendedores sociais a concretizarem o seu obje-
dar origem a um novo negócio. Ele analisa o ce- tivo último – mudança social. Os empreendedo-
nário e diante de uma oportunidade apresenta um res sociais fazem um mapeamento dos requisitos
novo empreendimento. Os seus desafios são cla- e condições necessárias para o seu fim, e desen-
ros: suprir uma demanda existente que não vem volvem indicadores para medir os progressos e
sendo dada devida atenção; buscar e apresentar resultados, avaliando assim o desempenho da sua
diferenciais competitivos em um mercado já exis- iniciativa de mudança.
tente; vencer a concorrência; conquistar clientes; e Conforme Bennett (1992) um novo estilo de
alcançar a lucratividade e a produtividade neces- empreendedor está surgindo, ele corresponde ao
sárias à manutenção do empreendimento. ecoempreendedor.
O processo de empreendedorismo social exi- Ser ecoempresário abrange uma grande va-
ge principalmente o redesenho de relações entre riedade de negócios, tais como: recolhem mate-
comunidade, governo e setor privado, com base riais recicláveis para fábricas que os transformam
no modelo de parcerias. O resultado final dese- em novos produtos; vendem para empresas e para
jado é a promoção da qualidade de vida social, o público produtos feitos com materiais recicla-
cultural, econômica e ambiental sob a ótica da dos; transformam óleo usado de motor, que seria
sustentabilidade. jogado em estradas sujas, em lubrificantes de alta
O empreendedorismo social é um misto de qualidade; reciclam os líquidos resfriados de apa-
ciência e arte, racionalidade e intuição, ideia e relhos de ar condicionado quebrados ou desmon-
visão, sensibilidade social e pragmatismo res- tados; transformam embalagens plásticas de leite
ponsável, utopia e realidade, força inovadora e em um plástico parecido com “madeira”, que não
praticidade. O empreendedor social subordina o apodrece nem exige manutenção; usam jornais
econômico ao humano, o individual ao coletivo velhos par afazer forragens baratas e resistentes
e carrega consigo um grande “sonho de transfor- a bactérias, para animais de fazendas; transfor-
mação da realidade atual”. mam sedimentos e restos de alimentos em fertili-
O empreendedorismo social difere do em-
zantes e corretivos de solo (Bennett, 1992).
preendedorismo propriamente dito em dois as-
Por fim, um último tipo de empreendedor
pectos: não produz bens e serviços para vender,
corresponde ao empreendedor tecnológico. O
mas para solucionar problemas sociais, e não é
empreendedor tecnológico tem o seu perfil ca-
direcionado para mercados, mas para segmentos
racterizado pela familiaridade com o mundo
populacionais em situações de risco social (exclu-
acadêmico, por uma busca de oportunidades de
são social, pobreza, miséria, risco de vida).
negócios na economia digital e do conhecimento,
Atualmente, o empreendedorismo social
por uma cultura técnica que o leva a arriscar-se
apresenta-se como um conceito em desenvolvi-
investindo em nichos de mercado em que a taxa
mento, mas com características, princípios e va-
de sobrevivência é baixa, e pela falta de visão de
lores próprios, sinalizando diferenças entre uma
negócios e conhecimento das forças de mercado
gestão social tradicional e uma empreendedora. O
(Instituto Euvaldo Lodi, 2000).
empreendedorismo social surge como uma forma
Formica (2000, p. 71) apresenta os traços
de solucionar problemas de pobreza e exclusão so-
mais importantes da personalidade do empreen-
cial. Inicialmente era uma derivação do empreen-
dedor tecnológico são:
dedorismo empresarial e foi fortemente influen-

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◆◆ Familiaridade com o mundo acadêmico; Welsh & White (1983) Sentimento de urgên-
◆◆ Buscar oportunidades de negócios na eco- cia, baixa necessidade
nomia digital e do conhecimento, sobretudo de status, autoconfian-
nos campos do ICT, eletrônica, computação te, conscientização e
e software, biotecnologia, tecnologia volta- atenção abrangentes,
das para o meio ambiente; objetivo.
Miller (1963) Ambicioso, robusto,
◆◆ Uma cultura técnica predominante que o le-
(física, mental e mo-
vam a arriscar-se investindo em um peque- ralmente), vitalidade
no nicho do mercado onde a porcentagem controlada, corajoso,
de sobrevivência é baixa; otimista, inteligente,
◆◆ Falta de visão dos negócios e conhecimen- articulado e íntegro.
Fonte: Barreto (1998, p. 191).
to inadequado das forças competitivas do
mercado.
Concluída esta etapa dos tipos de empreen- É muito comum o caso de empreendedor-
-herói nas organizações. Segundo Hasimoto
dedores, passamos agora para as características
(2006) as características de um empreendedor-
dos empreendedores e das empreendedoras.
-herói são as seguintes: Comprometimento, cria-
tividade, valores, habilidades específicas, conheci-
Características dos empreendedo- mento do negócio, princípios, atitudes positivas,
res e das empreendedoras. reconhecimento de oportunidades, autoconfian-
ça, sabedoria, coragem para enfrentar desafios,
perseverança e determinação, habilidades de re-
As características dos empreendedores de
lacionamento interpessoal, boa comunicabilida-
sucesso segundo Dornelas (2008) são: visionários;
de, liderança, facilidade de trabalhar em equipe,
sabem tomar decisões; são indivíduos que fazem a
automotivação, capacidade de tomar decisões ra-
diferença; sabem explorar ao máximo as oportu-
pidamente, pensamento crítico, visão estratégica,
nidades; são determinados e dinâmicos; são dedi-
foco em resultados, planejamento, fome de apren-
cados; são otimistas e apaixonados pelo que fazem;
der, familiaridade com o mundo dos negócios,
são independentes e constroem o próprio destino;
ótima rede de contatos, flexibilidade à mudança
ficam ricos; são lideres e formadores de equipes;
e aos ambientes dinâmicos, capacidade de reso-
são bem relacionados (networking); são organiza-
lução de problemas e conflitos, visão sistêmica e
dos; planejam; possuem conhecimento; assumem
holística, ousadia, receptividade a riscos, tolerân-
riscos calculados; criam valor para a sociedade”.
cia a erros e falhas, familiaridade com tecnologia,
O quadro abaixo representa um resumo das
capacidade de realização, habilidades de negocia-
características frequentemente encontradas nos
ção, integridade, honestidade, fortes princípios
empreendedores, segundo vários autores. éticos, eloquência, facilidade para absorção de no-
Quadro 1: Resumo das Característica dos em- vos conceitos, alta percepção do ambiente, retó-
preendedores rica, agilidade e dinamismo, forte personalidade,
Sexton & Bowman Energético, dominante, firmeza de caráter, enérgico, perfil voltado para
(1984) menos estimulante, so-
desenvolver talentos, grande experiência, empa-
cialmente habilidoso, in-
tia, persuasão, organização, rapidez de raciocínio,
teresses variados, menos
responsável, autônomo, autocontrole, sonhador realista, agressividade, in-
elevada auto-estima, dependência, pragmatismo, entusiasmo, proati-
baixa conformidade, vidade, iniciativa, forte presença pessoal, arrojo e
baixo associativismo, faro para negócios.
menos participativo, As mulheres estão ocupando espaços tam-
menos amparador, baixa bém na criação e desenvolvimento dos negócios.
tolerância. Muitas delas apresentam características de em-
Hornaday & Aboud Menor necessidade de preendedores, tendo especificidades com relação
(1971) apoio social. Maior às características dos homens empreendedores,
necessidade de inde- conforme demonstrado no próximo quadro:
pendência.
Quadro 2: Comparativo Empreendedores x Em-
preendedoras

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Características Empreendedores (homens) Empreendedoras (mulheres)
Motivação Realização – lutam para fazer as Realização – conquista de uma
coisas acontecerem; meta;
Independência pessoal – auto- Independência – fazer as coisas
-imagem relacionada ao status sozinhas.
obtido por seu desempenho na
corporação não é importante;
Satisfação no trabalho advinda do
desejo de estar no comando.
Ponto de Partida Insatisfação com o atual emprego; Frustração no emprego;
Atividades extras na faculdade, Interesse e reconhecimento de
no emprego atual ou progresso no oportunidade na área;
emprego atual; Mudança na situação pessoal.
Dispensa ou demissão;
Oportunidade de aquisição.
Fontes de fundos Bens e economias pessoas; Bens e economias pessoas;
Financiamento bancário; Empréstimos pessoais.
Investidores;
Empréstimos de amigos e fami-
liares.
Histórico profissional Experiência na área de trabalho; Experiência na área de negócios;
Especialista reconhecido ou que Experiência em gerência interme-
obteve um alto nível de realização diária ou administração;
na área; Histórico ocupacional relacionado
Competente em uma série de fun- com o trabalho.
ções empresariais.
Características de Dá opiniões e é persuasivo; Flexível e tolerante;
personalidade Orientado para metas; Orientada para metas;
Inovador e idealista; Criativa e realista;
Alto nível de autoconfiança; Nível médio de autoconfiança;
Entusiasmado e enérgico; Entusiasmada e enérgica;
Tem que ser seu próprio patrão. Habilidade para lidar com o am-
biente social e econômico.
Histórico Idade no início do negócio: 25-35; Idade no início do negócio: 35-45;
Pai autônomo; Pai autônomo;
Educação superior – administra- Educação superior - artes liberais;
ção ou área técnica (geralmente Primogênita.
engenharia);
Primogênito.
Grupos de Apoio Amigos, profissionais conhecidos Amigos íntimos; Cônjuge; Famí-
(advogados, contadores); lia.
Associados ao negócio; Grupos profissionais femininos;
Cônjuge. Associações comerciais.
Tipo de negócios Indústria ou construção. Relacionados à prestação de servi-
ços – serviço educacional, consul-
toria ou relações públicas.
Fonte: Hisrich & Peter (2004, p. 86).

O elenco de características apresentadas no ras. Evidencia, também, que a idade do início dos
quadro anterior evidencia que existem aspectos negócios das empreendedoras é superior a idade
comuns aos empreendedores e as empreendedo- dos homens. Outra observação relevante a ser fei-

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ta é que os recursos financeiros utilizados pelas a dianteira dele, mais esforço será necessário para
empreendedoras não apresentam menos riscos arrastar os outros com ele” (Barreto, 1998, p. 191).
do que dos homens. Outro aspecto que merece
destaque é o fato que os negócios dos empreende-
dores se voltam mais para a indústria e das mu- Habilidades e competências dos em-
lheres para serviços. preendedores.
“Devido à necessidade de mudanças, o em-
preendedor cria muita confusão à sua volta, pre- O quadro a seguir, apresenta o comparativo
visivelmente perturbadora para as pessoas que o das habilidades técnicas, administrativas e
ajudam em seus projetos. Por isso ele, muitas ve- empreendedoras das pessoas.
zes, adianta-se demais aos outros. Quanto maior

Quadro 3: Habilidades necessárias dos empreendedores


Habilidades Empreendedoras
Habilidades técnicas Habilidades Administrativas
Pessoais
Planejamento e estabelecimen-
Redação Controle interno e de disciplina
to de metas
Expressão oral Capacidade de tomar decisões Capacidade de correr riscos
Monitoramento do ambiente Relações humanas Inovação
Administração comercial
Marketing Orientação para mudanças
técnica
Tecnologia Finanças Persistência
Interpessoal Contabilidade Liderança visionária
Habilidade para administrar
Capacidade de ouvir Administração
mudanças
Capacidade de organizar Controle
Construção de rede de relacio-
Negociação
namento
Lançamento de empreendi-
Estilo administrativo
mentos
Treinamento Administração do crescimento
Capacidade de trabalho em
equipe
Fonte: Hisrich & Peter (2004, p. 39).

Para ser empreendedor não basta possuir ◆◆ Fatores pessoais: desejo de realização pes-
habilidades técnicas e administrativas. É neces- soal, insatisfação no trabalho, desejo de ga-
sário ter, também, habilidades empreendedoras, nhar dinheiro, desejo ardente de mudar de
conforme está evidenciado no quadro anterior. vida ou mesmo o fato de ser demitido de seu
Estas habilidades relacionam-se com a gestão de emprego;
mudanças, liderança, inovação, controle pessoal, ◆◆ Fatores ambientais: analisar e identificar
capacidade de correr riscos e visão de futuro. oportunidades de negócios ou a possibilida-
de entrar um projeto;
◆◆ Fatores sociológicos: possibilidade de ter um
Motivação dos empreendedores. grupo de pessoas competentes com caracte-
rísticas semelhantes, influência de parentes
“Motivação é o processo responsável pela in- ou modelos já desenvolvidos na família.
tensidade, direção e persistência dos esforços de Existem (2008) há pelo menos quatro mo-
pessoas para o alcance de uma determinada meta” tivos para o empreendedorismo: empreende-
(Robbins, 2005, p. 132). Entre os fatores que moti- dorismo por necessidade; empreendedorismo
vam os empreendedores, pomos citar os seguintes: por vocação; empreendedorismo inercial e em-

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preendedorismo pelo conhecimento. Mc Clel- ção formal, com diploma superior ou, com mais
land (1961) Identifica três necessidades do em- frequência, com pós-graduação.
preendedor: poder, afiliação e sucesso (sentir que Enquanto o empreendedor se apaixona pela
se é reconhecido). organização (o novo empreendimento) e faz qua-
O empreendedor é motivado acima de tudo se tudo para garantir sua sobrevivência e cresci-
por ascensão social, em função disto, conforme mento, o inventor apaixona-se pela invenção e só
Dantas (2010), a organização gerenciada por um relutantemente a modificará para torná-la mais
empreendedor tem o crescimento como seu prin- exequível comercialmente. O desenvolvimento de
cipal objetivo. um novo empreendimento com base no trabalho
de um inventor com frequência exige o conheci-
mento de um empreendedor e uma abordagem de
Diferença entre inventor e em- equipe para a criação do Novo empreendimento
preendedor. (Hisrich & Peter, 2004).

Há uma grande confusão quanto à natureza


de um empreendedor em relação a um inventor, Empreendedores ou gerentes?
bem como no que se refere às semelhanças e dife-
renças ente os dois. Este questionamento é feito por muitos em-
O inventor, o indivíduo que cria algo pela presários, já que percebem o insuficiente desem-
primeira vez, é alguém altamente motivado por penho dos gerentes com estilo tradicional. O pró-
seu próprio trabalho e ideias pessoais. Além de ser ximo quadro busca esclarecer as diferenças entre
muito criativo, o inventor tende a ter boa educa- estes dois indivíduos.
Quadro 4: Diferenças nos sistemas de atividades de gerentes e empreendedores
Gerentes Empreendedores
Trabalham com a eficiência e o uso efetivo dos Estabelecem uma visão e objetivos e identificam
recursos para atingir metas e objetivos os recursos para torná-los realidade
A chave é adaptar-se às mudanças A chave é iniciar as mudanças
O padrão de trabalho implica análise racional O padrão de trabalho implica imaginação e
criatividade
Operam dentro da estrutura de trabalho exis- Definem tarefas e funções que criem uma estru-
tente tura de trabalho
Trabalho centrado em processos que levam em Trabalho centrado na criação de processos re-
consideração o meio em que ele se desenvolve sultantes de uma visão diferenciada do meio
Fonte: Filion (2000, p. 3).

As diferenças apresentadas são muito claras, lação de seus mundos subjetivos. O que os em-
principalmente com a postura relacionada com as preendedores fazem está intimamente ligado à
mudanças, criatividade, organização do trabalho maneira como interpretam o que está ocorrendo
e visão de ambiente. em um setor em particular do meio.
Conforme Filion (2000), “Mintzberg (1975), Os empreendedores não apenas definem
Boyatzis (1982), Kotter (1982) e Hill (1992) exa- situações, mas também imaginam visões sobre o
minaram o trabalho dos gerentes. Esses estudos que desejam alcançar. Sua tarefa principal parece
revelam consideráveis diferenças nos métodos ser a de imaginar e definir o que querem fazer e,
operacionais de gerentes e empreendedores, quase sempre, como irão fazê-lo.
como demonstrado no quadro anterior”. Os ge-
rentes perseguem os objetivos fazendo uso efetivo
e eficiente dos recursos. Eles normalmente traba- Líder ou empreendedor?
lham dentro de estruturas previamente definidas
por outra pessoa. Segundo Wagner (2010) “As figuras do líder
As organizações criadas por empreendedo- e do empreendedor se confundem, pois, normal-
res, no entanto, são, na realidade, uma extrapo- mente andam juntas. Mas, se perguntarmos se
o empreendedor é sempre um líder ou se o líder

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precisa ser empreendedor, a resposta é: não ne- Oportunidades se originam do trabalho, do diá-
cessariamente”. logo entre pessoas, do contato com clientes, de
“Liderança e empreendedorismo têm a ver fornecedores, da moda e de viagens.
com poder. Entretanto, o poder do empreende- Uma vez detectada uma oportunidade, o
dor é fazer, enquanto o do líder é inf luenciar” empreendedor deve ouvir pessoas, tais como po-
(Wagner, 2010). tenciais clientes, amigos sinceros e potenciais for-
“O empreendedor precisa atentar para o fato necedores, com o intuito de testar a aceitação do
de que a presença de um líder é fundamental para negócio PR parte da sociedade.
o sucesso de qualquer negócio” (Jordão, 2010). Se as pessoas contatadas se manifestarem
“O líder empreendedor assume riscos cal- positivamente com relação ao novo negócio, o
culados; gosta de trabalhar com pessoas e acom- empreendedor deve analisar a viabilidade finan-
panha as mudanças tecnológicas que aparecem ceira das idéias e das oportunidades. Para tanto,
em uma velocidade estonteante, assim como de- utiliza a técnica denominada “Plano de Negócios”
senvolve sua competência técnica para formular (businessplan), que é, segundo Dornelas (2008,
conhecimentos necessários e imprescindíveis que p. 84) “um documento usado para descrever um
suportem as decisões estratégicas que ele terá que empreendimento e o modelo de negócios que sus-
tomar diariamente” (Ferruccio, 2010). tenta a empresa.
“Quanto mais velho for o empreendedor,
maior será a influência dos contatos com o meio
Processo empreendedor. de negócios ou da experiência prévia e das ativi-
dades de aprendizagem” (Fillon, 1999, p. 12).
“O coração do processo de empreendedoris- “O progresso depende da habilidade de ins-
mo – e o aspecto que melhor distingue o empreen- tituir métodos de trabalho e de se concentrar
dedor do gerente e do pequeno empresário – pare- em uma ou algumas visões emergentes” (Fillon,
ce recair no desenvolvimento e na implementação 1999, p. 13).
do processo visionário” (Fillon, 1999, p. 12). São fases do processo empreendedor segun-
Os empreendedores fazem acontecer. São do Hisrich & Peter (2004, p. 53): a) identificar e
criativos e sabem captar novas ideias das outras avaliar a oportunidade; b) desenvolver o plano de
pessoas e de outras fontes. As principais fontes de negócios; c) determinar e captar os recursos ne-
ideias segundo Hisrich & Peter (2004, p. 163) são: cessários; d) gerenciar a organização criada.
“consumidores (clientes); empresas; canais de dis- Não existe um modelo único de plano de
tribuição; governo e pesquisa e desenvolvimento”. negócios. Existem, sim, muitas estruturas, como
Podemos acrescentar ainda: consumidores; se pode observar em Dornelas (2008, p. 86-93).
empresas; canais de distribuição; fornecedores; Existem muitas pessoas que têm inibido o
governo; pesquisa e desenvolvimento; embate en- seu potencial empreendedor. Os principais fato-
tre pessoas; lazer; ensino (estudo, estágio, mono- res que ocasionam a inibição são segundo Dor-
grafia, teses, entre outras); incubadoras; métodos nelas (2008, p. 95): “imagem social; disposição de
para geração de novas ideias. assumir riscos e herança cultural”.
Podem, também, empregar métodos e técni- Muitas pessoas gostariam de abrir o seu
cas para geração de ideias, tais como: “grupos de próprio negócio. Dispõem de reservas financeiras
discussão, brainstorming, análise e inventário de para tal, contudo acham que a sua imagem so-
problemas” (Hisrich & Peter, 2004. p. 164) cial será denegrida pelo fato de ter exercido uma
“Assim que as idéias emergem a partir de função de destaque na sociedade e agora terá que
fontes ou da solução criativa de problemas, elas desempenhar tarefas marcas por outros padrões.
precisam de um desenvolvimento e aperfeiçoa- Não são todas as pessoas que têm coragem de as-
mento posteriores até o oferecimento do produto sumir riscos com financiamentos e riscos de não
ou serviço final” (Hisrich & Peter, 2004. p. 171). ter o produto do seu negócio aceito no mercado.
“Para detectar oportunidades de negócios, é Existem, ainda, outros motivos que dificul-
preciso ter intuição, intuição requer entendimen- tam a materialização do potencial empreendedor.
to, e entendimento requer um nível mínimo de São as causas de resistências às mudanças apon-
conhecimento” (Fillon, 1999, p. 11). tadas por Pinto (2007): ansiedade diante do des-
Uma oportunidade surge de uma ideia que conhecido; percepção distorcida; interesses pes-
representa potencial para um novo negócio. soais afetados e problemas de ajustamento.

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Conclusões Por fim, entende-se que este estudo con-
tribuiu para a teoria do empreendedorismo,
trazendo uma discussão sobre o assunto. Com-
A partir do presente estudo foi possível ana-
preende-se ainda que novos estudos poderão ser
lisar sobre o tema do empreendedorismo. Este
realizados, com referenciais mais atualizados, na-
artigo se focou em responder os seguintes ques-
cionais e internacionais.
tionamentos: o que se entende por ser empreen-
dedor? o que motiva os empreendedores? Qual a
diferença entre ser um inventor e um empreende-
dor? Quais as diferenças entre os empreendedo- Referências
res homens e mulheres? Quais as diferenças entre
empreendedores, gerentes e líderes? Como ocorre
Barreto, L. P. (1998). Educação para o empreen-
o processo empreendedor?
dedorismo. Educação Brasileira, 20(41), pp.
O empreendedor por ser visto como o indi-
189-197.
víduo que detecta uma oportunidade e cria um
negócio para capitalizar sobre ela, assumindo ris- Bennett, S. J. (1992). Ecoempreendedor: oportu-
cos calculados. Mesmo que o Brasil se destaque nidades de negócios decorrentes da revolu-
nas pesquisas de abrangência mundial sobre a ção ambiental. São Paulo: Makron Books.
quantidade de empreendedores, existe um gran- Casero, J. C. D., Urbano, D., & Mogollón, R. H.
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tais e sociológicos. Como a motivação pode ser Empresa, 11(3), pp.209-230.
entendida como um processo responsável pela
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pessoais para o alcance de uma determinada
Euvaldo Lodi. Empreendedorismo: ciência,
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cada indivíduo. Chiavenato, I. (2004). Empreendedorismo: dando
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faz quase tudo para garantir sua sobrevivência e
Drucker, P. F. (1998). Inovação e espírito em-
crescimento.
preendedor: práticas e princípios. São Paulo:
Conclusões semelhantes são obtidas com
Pioneira.
relação a diferença entre gerentes, líderes e em-
preendedores. Os gerentes perseguem os objeti- Dolabela, F. (2006). O segredo de Luisa. São Pau-
vos fazendo uso efetivo e eficiente dos recursos. lo: De Cultura.
Eles normalmente trabalham dentro de estrutu- ______. (2010). A corda e o sonho. Revista HSM
ras previamente definidas por outra pessoa. Lí- Management, 80, pp. 128-132.
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Entrepreneurship: Concepts and Definitions

Abstract

This paper aims to conduct a discussion on the topic of entrepreneurship. We sought in different stu-
dies on the concepts, definitions and understandings of the topic. It is exclusively a literature resear-
ch. The results refer to the discussions on the concepts of entrepreneurship, types of entrepreneurs,
the characteristics of entrepreneurs (men and women), the differences between being an inventor, an
entrepreneur, a manager or a leader and still on process to undertake. This study contributed to the
construction of the theoretical framework on entrepreneurship and innovation.
Keywords: Entrepreneurship, Characteristics of Entrepreneurs, innovation.

Rev. de Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia, 1(1): 25-38, 2014 - ISSN 2359-3539 38

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