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> Design digital: uma gráfica intangível

Francisco José Lucas Moutinho Rúbio

Desenho gráfico e design digital outros possíveis. Um sentido, entre vários sentidos. Quer
seja estático ou dinâmico, na Web ou no audiovisual, há
Quer seja na página, ou no écrã, o design é o processo de combinações de palavras com as imagens, e por isso, são
organizar e ordenar diversos elementos no espaço. Com também formas de desenho gráfico.
o Pós-Modernismo, as abordagens pós-estruturalistas,
vieram estabelecer novas tendências no equilíbrio entre No design para a Web e no écrã a regra é a analogia
figura e fundo, e na articulação entre as palavras e as visual: janelas, secretária, icone, ferramenta, tipo. Para
imagens. O contexto, a desconstrução, a citação, a apro- John Maeda, o design para a Web é uma camuflagem
priação, tornaram-se estratégias recorrentes, substituindo semântica (semantic camouflage). No passado, El
em alguma medida a ‘análise estrutural’ da forma gráfica, Lissitzky (1893-1941), já tinha afirmado que a composição
da composição tipográfica e da página: o quê? onde? tipográfica na página podia ser comparada à voz, e que
como? qual a sua ordenação e organização? De facto, o leitor deveria ‘ouvir’ as letras, do mesmo modo que
desde meados da década de 90, a questão era saber se as vozes podem mudar e transmitir diferentes emoções
as novas tecnologias iriam mudar o que se entendia até (White 2002).
então por desenho gráfico (Heller e Drennan 1997).
A transição do desenho gráfico para o design digital
A intencionalidade está sempre presente no desenho. na década de 90 verificou-se devido à generalização
Como ‘plano’ de uma ordem, implica separar através do do computador pessoal e à aplicação das tecnologias
pensamento, uma ‘visão’ mental, uma operação de visua- de informação e comunicação em diferentes domínios
lizar a forma gráfica. Desenhar é fazer um plano, dar uma profissionais, neste caso, aos processos de produção
ordem ao caos, um significado. Este é apenas um, entre gráfica e aos métodos de concepção do projecto gráfico.

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Esta transição entre os suportes de de autores como Cindy Shermann Israel anuncia que está iminente um
comunicação baseados na tinta sobre e Diane Arbus, entre outros, são cessar fogo unilateral na faixa de
o papel, para a luz emitida pelos algumas das estratégias que usamos Gaza. No final de Janeiro, terá lugar
écrãs dos computadores ou televi- frequentemente, como resistência em Davos, uma pequena e tranquila
sores (televisão, vídeo), implicou uma à ‘facilidade’ aparente e ilusória da cidade no centro da Europa, mas sem
mudança das técnicas de impressão fotografia digital, e como método estar na União Europeia, o Fórum
e reprodução gráfica em papel para crítico da ‘construção’ das imagens. Económico Mundial. A palavra ‘crise’
incluir as técnicas de programação tornou-se uma palavra-chave nestes
e construção de páginas dinâmicas últimos meses, com a falência em
na Web, gestão de bases de dados e cadeia de vários bancos em diferentes
sistemas interactivos, com imagem, Revoluçao do conhecimento, crise países, iniciada em Wall Street, em
textos, som e animações. É certo que global e digitalizaçao Outubro passado. Depois de várias
para os designers gráficos os suportes crises, da energia, do ambiente, dos
e dispositivos de apresentação visual Nos nossos dias, o modo como alimentos, agora é a financeira que
estão incluídos no próprio conteúdo, vivemos, trabalhamos, comunicamos alastra, ameaçando seriamente a
mas os novos media exigem uma uns com os outros e nos divertimos, economia mundial. Trata-se de uma
abordagem crítica que possa levar é o resultado da revolução científica crise global, com consequências ainda
em conta os modos como o design que começou há 300 anos. Mas o imprevisíveis. Num mundo cada vez
de informação podem dar forma ao conhecimento não é o mesmo que mais global, parece haver um final
conhecimento. E para isto, é preciso sabedoria. Esta ideia de Zacharia, de ciclo, e a transição para mudanças
compreender que “design was not para que a prosperidade das nações estruturais. Mas por estas razões, esta
just delivering information-it was possa ser duradoura e não efémera. crise poderá abrir novas perspectivas
information” (Drucker e McVarish O conhecimento pode igualmente para soluções, naturalmente, globais.
2009). Estas mudanças tiveram destruir a vida intencionalmente
como consequência uma reconfi- ou não, e também não pode por Para 2009, o último relatório do
guração da profissão do designer si só conseguir um mundo em Forum Económico Mundial apresen-
gráfico, gradualmente para a de Web que possamos “viver e prosperar tado recentemente apresentou um
Designer. As escolas e os sistemas de juntos, sem causar guerra, caos e ‘cenário negro’ sobre os riscos globais
formação nas áreas das artes visuais catástrofe”. Para Zacharia, o conhe- e as ameaças económicas, ambientais,
e do design também tiveram de se cimento oferece a possibilidade de geopolíticas e sociais, mas recorda
adaptar a estas mudanças, integrando uma “mudança e prosperidade em também “as oportunidades para
a utilização da tecnologia digital nos toda a parte”, pode “criar disposi- corrigir os erros do passado” e a
seus planos de estudos. Desde 2000, tivos e técnicas extraordinárias”, mas necessidade de “uma visão a longo
a minha experiência de professor de também “salvar vidas e melhorar prazo”. A previsão de que o cresci-
fotografia no curso de Design Multi- os padrões de vida”. De facto, um mento da China, segundo o Banco
media do Instituto Politécnico de “mundo baseado no conhecimento Mundial, diminua de 7,5%, para
Coimbra tem revelado que as técnicas será um mundo mais saudável e mais 6%, o facto de ser um dos grandes
de fotografia digital implicam uma rico” (Zacharia 2006). credores da dívida dos Estados
reformulação e redefinição do que Unidos da América, e o declínio
entendemos por uma ‘boa fotografia’ Enquanto estou a terminar de das suas exportações, poderá vir a
ou ‘um bom design’. A abordagem escrever este artigo, Barack Obama colocar em causa a sua importância
conceptual da fotografia, a encenação tomará posse como presidente dos como ‘motor da economia mundial’,
da imagem, e a citação de imagens Estados Unidos daqui a três dias e provocar tensões sociais internas e

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ainda aumentar os problemas da mais levada a sério por parte destas visto no écrã ou depois de sair numa
economia mundial. Recordemos que grandes empresas, fundações e impressora de jacto de tinta ou laser?
nos Estados Unidos, no ano 2000, multinacionais, enquanto clientes dos As possibilidades da produção da
com uma população equivalente a designers, e estes devem ser capazes fotografia digital, podem fazer crer os
3% da população mundial, estima- de construir e elaborar novas visões mais ingénuos de que ‘a máquina faz
tivas apontavam para o consumo de do futuro, consistentes com as novas tudo’. No mesmo sentido, os espaços
25% dos recursos disponíveis a nível necessidades. De facto, estas ‘visões virtuais da comunicação electrónica
mundial (Heskett 2002). Na verdade, do futuro’ quando vistas enquanto frequentemente dizem respeito a
George Soros foi um dos maiores imagens do passado, mostram as redes humanas complexas e necessá-
especuladores durante a década de marcas do tempo em que forma rias para a maioria dos processos de
90. Sendo um profundo conhecedor feitas, aquilo que se pode designar produção. O termo ‘global’ absorveu
da ‘globalização dos mercados’ e do como o ‘espírito da época’, ou todas as formas de diferenciação da
sistema financeiro internacional, nos ‘espírito do tempo’ (Zeitgeist). identidade cultural nacional ou local,
últimos anos tornou-se um dos prin- numa única entidade, e disfarçando
cipais críticos do ‘equilíbrio natural Com a tecnologia digital, a generali- os confrontos sociais e políticos.
dos mercado’ e das políticas neo- zação da ‘digitalização’ dos processos A crise financeira global poderá
liberais que defendiam a ausência de produtivos, a deslocalização indus- implicar mudanças nos modos de
regulação ou regulamentação dos trial e a globalização dos mercados pensar e fazer o desenho gráfico, e
mercados de capitais, iniciadas na e do comércio internacional, as novas práticas emergentes, adaptadas
década de 80 com Margaret Tatcher relações entre os elementos e as aos novos problemas.
e Reagan. Num artigo publicado narrativas usadas não são necessa-
na imprensa internacional no início riamente visíveis-não estão à vista
do ano, distribuído pelo Project nem são transparentes. Elas têm de
Syndicat, George Soros já tinha ser compreendidas em termos do Design digital ou
previsto que o colapso da bolha seu comportamento e traduzidas design intangivel
imobiliária nos Estados Unidos através da forma gráfica em formato
poderia provocar “a crise financeira digital, tendo como unidade mínima Com a Rede (world wide web)
mais grave desde a Segunda Guerra elementar, o pixel. todos os computadores podem
Mundial” e que o dólar deixaria de estar interligados através de linhas
ser “a moeda da reserva interna- A imagem fotográfica, vectorial ou telefónicas. Para isso, é preciso que
cional” (Soros 2008). O designer pode mapa de bits, tornou-se intangível, exista um protocolo normalizado
ter como clientes entidades públicas numa síntese entre imagem singular para a transferência dos dados e
ou privadas, governos ou associações e plural, num processo de reprodução da informação (hypertext transfer
não governamentais, bancos ou infinito, uma estrutura matricial protocol), conhecido pelo acró-
grandes empresas, meios de comu- de múltiplas camadas sobrepostas nimo HTTP. O hipertexto permite
nicação, mas também empresários no espaço e no tempo, como as estabelecer ligações entre palavras-
individuais, micro empresas, ou asso- descrições das cidades de Marco Polo chave, através da programação na
ciações empresariais em que muitas ao Kublai Kan no livro As Cidades linguagem HTML (hypertext markup
vezes, os interesses público e privado, Invisíveis, de Italo Calvino. language), um código independente
ou dos consumidores e produtores, da plataforma tecnológica que
possam entrar em conflito. O desen- O resultado final do trabalho do permite transferir texto, gráficos,
volvimento sustentável, a responsabi- designer gráfico deverá parecer ser audio, e video, entre computadores,
lidade ambiental e social, é cada vez ‘fácil’, ‘natural’ e ‘transparente’ ao ser sob a forma de ficheiros em formato

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digital. Em 1993, havia apenas 50 crítica, síntese, e ainda uma cultura mudança da ‘sociedade industrial’
sítios na Rede, em 2001 eram já 350 gráfica e visual. Isto é, ser capaz de para a ‘sociedade da informação’. A
milhões (Newark 2002). Resultado: compreender a cultura visual contem- era industrial foi baseada nas estradas
as novas tecnologias e os novos meios porânea, ser criativo e flexível na e na electricidade. A era digital
substituíram as técnicas tradicionais, exploração da imagem, do texto e do nasceu com as auto-estradas da infor-
provocando uma reconfiguração das som. Actualmente, as curvas de mação. A unidade base da economia
práticas no desenho gráfico, para o aprendizagem das ferramentas industrial era a empresa. Na nova
design multimedia. disponíveis para web design e para economia passou a ser o indivíduo e
animação, são mais curtas e mais os conhecimentos. A convergência
A crítica ao ‘multimedia’ foi iniciada poderosas em termos de resultados das indústrias da computação,
por Nicholas Negroponte (1996), do que no passado recente, como é entretimento, e comunicações criou
ao ficar surpreendido pela utilização o caso do Flash e da linguagem uma nova estrutura global para a
deste termo para ajudar a vender Action Script. economia. O sector económico domi-
computadores. Nesta transição nante está a nascer da convergência
do papel para o écrã, na passagem das tecnologias da informação, tele-
‘de átomos para bits’, para além Ser digital comunicações e o audiovisual que,
dos conhecimentos técnicos e por sua vez, criam a infra-estrutura
práticos dos diferentes processos de Ainda na década de 90, uma das para a criação de riqueza por todos
impressão, tipografia, convenções do vozes que resistia à vertigem e os outros sectores. Segundo Taps-
design editorial, teoria da cor, mate- euforia em relação às ‘novas tecno- cott (1996), o que está a mudar no
riais como papel e tinta, no design logias’, por exemplo, foi Paul Virilio trabalho é que este e a aprendizagem
multimedia (multimedia design), a (1996), para quem o multimedia é contínua são cada vez mais depen-
criação e produção de um projecto apenas um sintoma de uma civili- dentes; a aquisição de novos conheci-
multimedia, poderia incluir, de uma zação cega pela técnica e que parece mentos é agora um desafio para toda
forma integrada, os conhecimentos caminhar para a catástrofe. Assim, a vida; a ideia de que o trabalho para
de linguística, psicologia cognitiva, se a invenção do navio provocou o toda a vida está em declínio; os novos
cultura visual, linguagens de progra- naufrágio, o avião o despenhamento, media podem transformar o ensino,
mação, ou mesmo teoria da a electricidade a electrocussão, ligando o trabalho e a educação; mas
informação. também a Internet vai conduzir-nos também surgem novas formas de
para um acidente global e plane- stress no trabalho e existe um perigo
A convergência das técnicas de video tário. Segundo Virilio, o cibermundo real de isolamento e atomização das
digital, audio digital, animação, separa o corpo fisiológico do corpo pessoas.
texto, gráficos, estabeleceu um social, deslocaliza as cidades e ao
novo paradigma de comunicação da anular as distâncias retira aos países Com a generalização da utilização
informação, baseado na interactivi- e às pessoas as suas idiossincracias. do computador pessoal e das
dade, conectividade, banda larga, Afinal, a revolução tecnológica não ferramentas de produção e criação
e mobilidade. Porque a informação enriquece ou melhora a nossa relação visual (grafismo, fotografia, desenho
é mais complexa no design para o com o mundo, bem pelo contrário. técnico, tratamento de imagem),
écrã (textos, imagens, som, vídeo, emergiram práticas designadas por
animação) são necessários conheci- Uma das ideias mais divulgadas na arte conceptual ou virtual, perfor-
mentos de programação, fotografia, década de 90 foi a da ‘economia mance ou instalação, mas também
produção vídeo e áudio, mas também digital’, ou da ‘nova economia’, outros termos: digital art, computer
capacidade de análise conceptual, como um dos novos paradigmas da art, multimedia art, interactive art.

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que alguns designam como Geração Y, a internet é o meio
dominante das suas vidas, não rejeitando inteiramente o
ambiente das lojas de retalho, mas usando-as de modo
São termos frequentemente usados para designar a arte diferente, como consumidores muito mais esclarecidos
criada com a tecnologia digital disponível desde a década e exigentes. (“Buying the future”, The Economist, april
de 90 do séc. XX. De acordo com Nicholas Negroponte, 02-08/ 2005, pp. 15-16).
o ‘multimedia’ teria já quase um século, quando o
cruzamento entre computação, media e as telecomu- Quando milhões de utilizadores têm o poder de enviar
nicações permitiram uma “segunda revolução da infor- imagens, de um modo fácil e rapidamente, para serem
mação que está a fazer emergir a economia digital como vistas por qualquer pessoa em qualquer parte do mundo,
novo modo de produção”. Recorde-se que a ‘economia tal como uma forma de ‘telepatia global’, uma nova
digital’ terminou com a bolha especulativa das empresas força social, uma espécie de ‘besta com milhões de olhos’
tecnológicas, designadas por dot coms (.com). Uma das (Poniewozik 2007). Em 2006, a revista Time escolheu
prioridades no design passou a ser, não os produtos e com personalidade do ano o utilizador do YouTube. Na
comunicações, mas antes as ‘experiências’ dos utilizadores sua capa, cada leitor podia ver a sua própria imagem
(Heskett 2002). Nos últimos anos o crescimento do refletida numa superfície metalizada no lugar do écrã do
comercio electrónico é um facto do dia a dia. Os papéis computador, com a palavra: You. E prosseguia assim: “Yes,
dos produtores e consumidores parecem inverter-se. Se you. You control the Information Age. Welcome to your
na era industrial, a maioria dos produtos cada vez mais world.” Os números podem parecer impressionantes, mas
se pareciam uns com os outros, a vantagem estava do em apenas um ano o aumento do número de vídeos vistos
lado dos retalhistas que podiam escolher o que vendiam, por dia, passou de 10 milhões para 100 milhões, enquanto
na era da informação parece passar agora para os consu- eram enviados todos os dias 65.000 novos vídeos
midores que procuram antes o que querem comprar. (Cloud 2007).
Em 2004, segundo a uma sondagem da Goldman Sachs,
Harris Interactiva e Nielson/Net Ratings, foram gastos 23 Mais recentemente, com a explosão do Google e da
biliões, 25% mais do que no ano anterior, com as roupas Wikipedia, a ideia é a de as pessoas trabalharem em cola-
a revelarem uma larga vantagem com 16% das vendas boração, o que implica o fim da propriedade intelectual,
on line, seguido-se os brinquedos e jogos vídeo com tal como a conhecemos: “Temos vindo a defender que
11% e por fim os equipamentos electrónicos com 10%. a tecnologia digital e os novos modelos de colaboração
Os produtos de joalharia foram os que cresceram mais, obrigam a um reexame da propriedade intelectual. Não
com uma duplicação do valor das vendas, em relação proclamamos o fim da propriedade intelectual mas defen-
ao não anterior, com 1,9 bilião de dólares. Mais do que demos a necessidade de descobrir o seu novo papel como
qualquer outro grupo etário, é o de 18-34 anos que se possibilitador e não como inibidor da criação conjunta
liga à Internet em casa, escola e trabalho, mas também e da colaboração em Rede. No centro desta transfor-
em qualquer lugar, através do telemóvel. Para este grupo, mação está a Geração Net. O membros desta geração

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gostam de remisturar e re-objectivar particular o seu verdadeiro significado Fleming e Charles Landry, os consul-
os seus media, a sua publicidade, e do design na sociedade contem- tores convidados afirmam no estudo
os produtos para o consumidor, e porânea. Dos objectos e artefactos que se deverá reforçar ‘a massa crítica
sentem-se à vontade para partilharem até às diferentes formas de comu- do capital criativo da região’, através
as remisturas que fazem com todo nicação, seria necessário, de acordo de um plano de acção baseado nas
o mundo. Esta inevitabilidade cria com Heskett (2002): (I) humanizar apostas na capacidade criativa, no
conflitos e confrontos de proprie- a tecnologia; (II) beneficiar a maior planeamento e definição de políticas
dade intelectual com uma cultura de parte da humanidade; (III) os desig- e ainda na criação de uma Agência
negócio que salienta a importância ners terem consciência que são eles para o Desenvolvimento Criativo do
de um controlo apertado sobre os que determinam as interfaces em Norte de Portugal. A possibilidade
produtos e as marcas” (Tapscott e todas as suas formas; (IV) integrar a de um compromisso a longo termo
Williams 2006, p. 296). tecnologia com a vida quotidiana; (V) e o potencial criativo da região e das
e finalmente, harmonizar a ecologia e suas indústrias criativas podem ser
De acordo com o gabinete de a sustentabilidade com a viabilidade trunfos muito fortes para esta região.
coordenação do Plano Tecnológico comercial. (Público, 23/07/2008, p. 11).
do governo português, Portugal
tem a 7ª Internet mais rápida e a 9ª Outras ideias recentes são as ‘indús- O projecto InSerralves: Indústrias
mais barata, numa lista de 30 países, trias criativas’ e a ‘economia criativa’ Criativas, um concurso da respon-
segundo o relatório Explaining com vista a inverter o declínio das sabilidade da Fundação Serralves e
International Broadband Leadership, cidades e regiões que no passado apoio mecenático da EDP, tem como
publicado pela Fundação Ameri- foram centros industriais impor- objectivo “estimular a capacidade
cana para a Informação, Tecnologia tantes, como o Porto. A Fundação criativa, inovadora e empreendedora
e Inovação (ITIF), e conjuga-se Serralves encomendou um estudo de indivíduos e empresas através da
com aquele Plano, aprovado no para o desenvolvimento de um criação e gestão de uma incubadora
final de 2005, com “o objectivo de cluster criativo na região norte de capaz de acolher numa primeira
modernizar a sociedade portuguesa, Portugal à Creative Consultancy, fase até 12 empresas”. Mas o que
aumentar a competitividade e consultora especializada em indús- são afinal as ‘indústrias criativas’?
massificar a utilização de tecnologia trias criativas e no papel que estas Segundo o regulamento do concurso:
em Portugal”; ainda no final de 2007, podem desempenhar na revitalização “As Indústrias Criativas têm a
segundo dados da ANACOM, um de cidades deprimidas, tal como foi o criatividade como condição nuclear
número de clientes de banda larga caso de Sheffield, cidade metalúrgica para o negócio. São actividades que
fixa na ordem dos 15,4 por cento e de e em declínio na década de 80. Este têm a sua origem na inovação, nas
banda larga móvel na ordem de 13,6 estudo foca a sua atenção no centro competências e no talento individual
por cento (Público, 03/05/2008). histórico e na área metropolitana do e que têm potencial para a criação de
Porto, incluindo as cidades universi- trabalho e riqueza através da valo-
tárias envolventes: Braga, Guimarães, rização da propriedade intelectual”,
Vila Real e Aveiro. Pontos fortes são e que incluem ‘conteúdos de natu-
Design, vida quotidiana e indús- os centros de investigação e desenvol- reza cultural e intangível e também
trias criativas vimento da Universidade do Minho, a outros produtos ou serviços’, e ainda
classificação patrimonial pela Unesco ‘esforços artísticos e criativos’. As
Como ‘potencial humano’, o design do centro histórico de Guimarães e áreas destas actividades profissionais
ainda não é ainda compreendido o facto desta cidade vir a ser Capital podem ir “desde a arquitectura às
como algo que é vital para todos, em Europeia da Cultura (2012). Tom tecnologias da informação, design,

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vídeo, fotografia, moda, cinema bienal de Londres “dedicada ao Referencias bibliográficas:
e produção de conteúdos, entre mundo das imagens”. 2,6 milhões de
ANDRADE, S.C. “Câmara de Lisboa retoma o apoio
outros”, com “output que se direc- euros são os custos de cada edição da à Experimenta Design que vai passar a realizar-se em
ciona para o mercado, nacional e/ou Experimenta Design (Público, 24 de Portugal e Amsterdão”, in Público 24/01/2008, p. 13.
internacional”. Janeiro de 2008, p. 13). A aplicação ANDRADE, S.C. “As indústrias criativas são a ‘visão’ para
crescente de ferramentas de tecno- revitalizar o Norte de Portugal”, Público 23/07/2008,
p. 11.
Este concurso parece ser um enorme logia digital nas áreas da ilustração
CLOUD, J. “The YouTube Gurus”, Time 01/01/2007,
desafio para a elaboração de projectos e no cinema de animação, como pp. 48-54.
de micro-empresas formadas por disciplinas de criação visual e audiovi-
DRUCKER, J.-McVARISH, E. Graphic Design History: A
jovens licenciados, uma ligação entre sual, com afinidades com o desenho Critical Guide, Pearson Prentice Hall, New Jersey 2009.
o ensino/investigação no ensino gráfico, é hoje uma prática comum. FERNANDES, A. “Riscos globais acrescidos em
superior e o mundo do trabalho em 2009 exigem uma visão de longo prazo”, in Público
14/01/2009, pp. 2-3).
actividades com forte componente A produtora de filmes de animação
GORDON, B.- GORDON, M. O Guia Completo do Design
criativa, actividades educativas Sardinha em Lata, sediada em Lisboa,
Gráfico Digital. The Ilex Press, s.l. 2002.
com componente pedagógica e/ou com José Miguel Ribeiro, realizador
HELLER, S.-DRENNAN, D. The Digital Designer: The
lúdica, arquitectura de interiores para do filme de animação A Suspeita Graphic Artist’s guide to the new media, Watson-Guptill,
espaços museológicos, arquitectura (Prémio Cartoon d’Or, melhor filme New York 1977.
paisagista para espaços públicos, europeu de 2000), ou o projecto HESKETT, J. El diseño en la vida cotidiana, Gustavo Gili,
Barcelona 2002.
comunicação, marketing e animação Video Jack Studios, do ilustrador
cultural, conservação e restauro de de André Carrilho (Lisboa) e Nuno NEGROPONTE, N. Ser digital, Caminho, Lisboa 1996.

arte contemporânea, design (gráfico, Correia, programador e investigador NEWARK, Q. What is graphic design? Rotovision, Mies
2002.
de moda, de jóias, de interiores, no Media Lab, da Universidade de
webdesign), filmes, vídeo e outras Helsínquia. PONIEWOZIK, J. “The Beast with a Billion Eyes” Time
01/01/2007, pp. 46-47.
produções audiovisuais, fotografia,
RODRIGUES, J.N. “Being Nicholas” in Executive Digest,
software e conteúdos multimedia. As fotografias digitais de Ana núm. 17, março 1996, pp. 18-22.
Baptista e António Gomes revelam _“O novo paradigma de Don Tapscott” in Executive
Digest, núm. 17, março 1996, pp. 32-34.
A Experimenta Design, bienal novas abordagens da fotografia
_“No berço das ‘coisas’ que pensam”, in Expresso,
de design contemporâneo, uma criativa emergente. Quando ‘mudam 25/05/1996, p. 12.
iniciativa de Guta Moura Guedes, os tempos, mudam as vontades’ e SOROS, G. “A crise mais grave dos últimos 60 anos”, in
passará a realizar-se em Lisboa e ‘o mundo é composto de mudança’ Público 24/01/2008, p. 38.
Amsterdão. Esta Bienal foi retomada (Camões), estes podem ser alguns TAPSCOTT, D. “A economia digital” in Executive Digest,
núm. 17, março 1996, pp. 18-22.
em 2008 na cidade de Amsterdão, exemplos que demonstram soluções
TAPSCOTT, D.-WILLIAMS, A.D. Wikinomics: A nova
com o tema Place and Space (Sítio criativas e inovadoras, adaptados aos economia das multidões inteligentes, Quinovi, s.l. 2008.
e o Espaço). O apoio da Câmara da novos tempos de crise e incerteza, VIRILIO, P. Cybermonde: La Politique du Pire, Textuel,
cidade Lisboa, permitirá realizar nesta e que devem merecer a atenção da s.l. 1996.
cidade, as edições de 2009, 2011 e investigação.< WHITE, A.W. The Elements of Graphic Design, Allworth
Press, New York 2002.
2013. Segundo Guta Moura Guedes,
ZACHARIA, F. “The Earth’s Learning Curve”, Newsweek
“temos agora uma nova amplitude
Special Issue, december 2005/february 2006, pp. 6-8.
internacional para o projecto, uma _”Buying the future”, in The Economist 2-8/04/2005,
parceria com outra cidade europeia, pp. 15-16.
_InSerralves: Indústrias Criativas. Concurso para selecção
que lhe dá outro potencial e outras de ideias e projectos. Fundação Serralves.
perspectivas”. Em Lisboa, Setembro _”Portugal tem a 7ª Internet mais rápida da OCDE”, in
Público 03/05/2008.
será o mês da Bienal, antes da grande

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