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Beat.
Design
-‐
uma
introdução:
o
design
no
contexto
social,
cultural
e
econômico.
São
Paulo:
Blucher,
2010.
Prefácio
A
palavra
design
está
na
moda.
Ela
desperta
associações
com
o
que
é
chique,
com
belas
formas,
com
ligar
a
vida
à
estética.
com
o
conforto
da
civilização.
O
design
fascina
—
sobretudo
as
pessoas
que
vivem
no
rico
hemisfério
norte
do
nosso
planeta,
mas
também,
e
cada
vez
mais,
os
habitantes
do
hemisfério
sul.
Os
objetos
de
design
conquistam
os
corações:
frequentemente
são
bonitos
e
práticos.
Alguns
deles
atingem
status
de
objetos
cult.
Para
muitos,
o
design
é
a
arte
mais
vivaz
e
popular
do
presente.
Ainda
mais,
é
um
fenômeno
de
cultura
de
massas,
que
marca
as
percepções
e
que,
por
isso,
participa
de
modo
decisivo
na
constituição
de
gostos
generalizados.
Bonés
de
Beisebol,
blue
jeans,
Coca-‐Cola,
Disney,
Hollywood,
McDonald's
e
Nike
têm
no
mundo
todo
efeitos
duradouros
sobre
o
gosto
coletivo,
e
a
Microsoft
fornece
o
design
digital
à
maioria
dos
usuários
de
computadores.
O
design,
pode-‐se
dizer,
generalizando,
tem
a
pretensão
de
conformar
o
mundo
para
o
bem
da
humanidade.
Mas
atrás
do
conceito
esconde-‐se
muito
mais
do
que
um
atraente
mundo
de
objetos.
O
design
configura
a
comunicação
e
cria
identidades.
É
um
agir
consciente
para
produzir
uma
ordem
sensata
e,
com
isso,
é
parte
da
nossa
cultura.
Por
outro
lado,
a
bela
conformação
do
cotidiano
é,
antes
de
tudo,
um
importante
fator
econômico,
numa
realidade
em
que
o
lucro
empresarial
se
constitui
na
medida
quase
exclusiva
para
o
sucesso
do
design.
Mas
será
que
a
grande
maioria
dos
objetos
do
design
não
entra
na
categoria
do
supérfluo?
Será
que
a
conformação
ágil
não
se
manifesta
apenas
como
um
truque
de
marketing,
com
cuja
ajuda
o
mundo
é
inundado
de
ofertas
tolas,
pelas
quais
ninguém
esperava?
O
design
dá
forma
a
brinquedos
de
luxo
num
mundo
esvaziado
de
sentido.
A
loucura
de
uma
sociedade
adicta
da
beleza
faz
com
que
objetos
de
consumo
se
transformem
em
fetiches
e
produz
uma
couraça
de
beleza
que
se
superpõe
à
fealdade
da
pobreza
existente
e
da
destruição
do
meio
ambiente.
Ao
mesmo
tempo,
as
normas
culturais
dos
impérios
industriais
são
exportadas
com
pretensa
naturalidade
para
as
sociedades
subdesenvolvidas.
O
design
é
produzido
predominantemente
por
homens
(brancos)
que
visam
sobretudo
às
mulheres
como
consumidoras
e
propagandistas.
O
design
tem,
portanto,
duas
faces
—
uma
negativa
e
outra
positiva.
Motivo
mais
do
que
suficiente
para
nos
ocuparmos
intensamente
com
este
tema.
A
face
negativa
impede
que
nos
ocupemos
apenas
benevolentemente
com
os
clássicos
do
design,
com
a
evolução
do
estilo
do
design
bom
e
belo;
porque
isso
conduziria
a
ingênuas
transfigurações
e
desfigurações
da
realidade.
O
que
se
requer
muito
mais
é
que
nos
digladiemos
criticamente
com
o
objeto!
E
isso
significa
conhecer
e
apresentar
o
design
no
seu
contexto
e
nas
suas
qualidades
sociais,
e
aguçar
o
entendimento
para
os
seus
nexos
mais
elevados.
Esta
é
a
missão
da
parte
histórica
e
da
parte
de
debates
do
presente
livro.
Eu
o
escrevi
nutrindo
a
esperança
de
dar
uma
pequena
contribuição
contra
a
constante
comercialização
do
visual
e
contra
a
alienação
dos
consumidores
—
em
última
instância,
contra
a
alienação
dos
designers.
[...]
No
que
se
refere
aos
objetos
de
design,
é
necessário
ter
consciência
de
que
todos
os
produtos
materiais
do
saber
humano
representam
sempre
também
manifestações
do
espírito
dos
homens,
a
saber,
por
dois
motivos:
1.
O
design
de
um
produto
consiste
num
ordenamento
específico
dos
materiais
para
determinadas
finalidades
humanas,
que
não
são
determinadas
pela
natureza.
2.
Toda
vez
que
produtos
são
comprados
e
usados,
eles
assumem
caráter
simbólico
ou
signico,
começam
a
transmitir
significados
e
valores.
Os
usuários
não
reagem
apenas
ao
valor
de
uso
de
um
produto
mas
também
à
sua
utilidade
emocional,
o
chamado
valor
emocional
agregado.
A
linguagem
de
produto
do
design
conforma
ambos.
O
processo
de
formação
dos
cânones
na
história
do
design
é
complexo.
Naturalmente
a
diferenciação
qualitativa
entre
os
diversos
designers
e
objetos
faz
parte
dele.
Mas
a
qualidade
do
design
não
é
objetivamente
mensurável,
nem
é
critério
único
para
a
incorporação
à
história.
O
certo
é
que,
uma
vez
que
um
cânone
ficou
estabelecido,
ele
adquire
uma
autoridade
que
as
gerações
seguintes
praticamente
não
mais
questionam.
Contudo,
há
motivos
para
se
defrontar
criticamente
com
um
cânone
estabelecido.
Na
história
do
design,
falta
quase
que
por
completo
o
"design
negativo",
aquele
que
foi
posto
a
serviço
de
finalidades
sociais
ou
humanas
negativas:
o
design
quantitativamente
imenso
dos
instrumentos
de
morte
da
indústria
mundial
de
armamentos,
dos
instrumentos
de
tortura,
de
vigilância
e
de
opressão,
o
design
de
todos
os
produtos
perigosos
—
e
há
más
línguas
que
entendem
que
os
automóveis
fazem
parte
destes
últimos.
A
história
do
design
omite
o
design
no
chamado
"Terceiro
Mundo".
Na
sua
limitação
ao
mundo
das
camadas
mais
ou
menos
ricas
nos
países
industrializados
capitalistas,
ela
não
se
ocupa
da
conformação
do
mundo
dos
produtos
e
da
comunicação
nos
países
do
"Terceiro
Mundo",
do
"design
da
periferia".
A
história
do
design
frequentemente
focaliza
o
design
exclusivamente
na
indústria
e
nos
produtos.
Mas
também
existe,
além
disso,
o
design
gráfico
que
até
mesmo
tem
uma
história
mais
longa.
O
comparecimento
separado
das
disciplinas
do
design
bidimensional
e
tridimensional,
em
todo
caso,
não
é
motivo
para
representar
suas
histórias
separadamente,
porque
ambas
se
localizam,
em
grande
medida,
no
mesmo
contexto
econômico,
social
e
artístico.
Nos
textos
que
tratam
de
design
de
produtos,
chama
a
atenção
a
preferência
geralmente
dada
ao
design
de
móveis
e
utensílios
domésticos.
Por
outro
lado,
faltam
exemplos
de
do
design
têxtil
e
de
moda,
de
relógios,
aparelhos
hospitalares
ou
automóveis.
Essa
limitação
tem
motivos
históricos,
pois
os
objetos
de
uso
doméstico
têm,
tal
como
a
arquitetura,
uma
forte
função
representativa.
O
modernismo,
por
exemplo,
a
Werkbund
ou
a
Bauhaus,
colocaram
a
questão
da
moradia
—
e
a
oferta
de
equipamentos
domésticos
cuidadosamente
fabricados
e
a
preços
acessíveis
para
amplas
camadas
da
população
—
no
centro
de
suas
atenções.
Assim,
o
design
de
móveis
transformou-‐se
numa
escala
de
medida
de
valor
aceita
até
os
nossos
dias.
Arrancados
do
contexto
da
história
de
sua
produção
e
recepção,
os
objetos
de
design
sucumbem
rapidamente
à
mistificação
estética
e
começam
a
desenvolver
uma
vida
própria.
Os
próprios
"artistas"
contribuem
para
tanto,
pois,
na
sua
relação
frequentemente
intensa
com
os
objetos,
tendem
a
negligenciar
os
nexos
mais
elevados,
o
contexto.
Mas
o
design
não
ocorre
no
vazio.
Uma
história
do
design,
que
quiser
tratar
do
seu
objeto
com
a
merecida
dignidade,
tem
de
mostrar
o
campo
de
tensões
dentro
do
qual
o
design
ocorre.
Tem
de
ter
consciência
de
que
as
formas
dos
produtos
refletem
de
modo
imediato
as
formas
de
produção
e
de
vida.
Tem
de
se
colocar
a
perguntar
a
respeito
dos
interesses
que
estão
por
trás
dos
produtos.
Os
interesses
econômicos,
as
inovações
tecnológicas
e
científicas,
as
condições
tecnológicas
de
produção,
as
mudanças
sociais,
as
exigências
da
sociedade
quanto
a
higiene
e
a
saúde,
as
exigências
ergonômicas
e
ecológicas
—
tudo
isso
determina
as
regras
da
utilizabilidade
de
um
objeto.
Trata-‐se
do
"húmus"
sobre
o
qual
crescem
as
flores
do
design.
Sem
"húmus"
não
há
flor!
A
qualidade
estética,
o
caráter
formal
e
o
estilo
do
design
não
podem
nem
de
longe
ser
interpretados
sem
se
considerar
o
pano
de
fundo
econômico
e
ideológico
diante
do
qual
ele
surgiu.
A
influência
dos
fatores
econômicos
sobre
o
design
é
sempre
dada,
e
de
forma
tal,
que
—
estes
permanecendo
invisíveis
—
frequentemente
não
se
torna
consciente
para
as
pessoas
que
trabalham
como
designers
profissionais
ou
para
os
docentes
da
área.
Por
isso,
a
história
do
design
não
pode
ser
escrita
do
mesmo
jeito
que
a
história
da
arte.
A
arte
reflete
processos
sociais
de
um
modo
diferente
—
de
modo
mais
independente
e
mais
subjetivo
do
que
o
design,
que
é
obrigado
a
acompanhá-‐los
de
forma
imediata.
O
design
é,
mais
fortemente
do
que
a
arte,
um
instrumento
para
a
produção
da
realidade
social.