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Júlio Cesar T.

Procopio
Como usar um Multímetro
Um Multímetro é um aparelho para testes e medição de grandezas elétricas,
extremamente popular entre técnicos e engenheiros eletrônicos devido à sua grande
utilidade, permitindo, mesmo nos modelos mais simples, efetuar a medição de Corrente,
Tensão e Resistência Elétricas, permitindo assim realizar diversos tipos de diagnósticos
em circuitos elétricos. Alguns modelos mais incrementados permitem realizar medições
adicionais, como Capacitância, Frequência, Temperatura, Indutância e outras.

Vamos utilizar neste artigo um Multímetro Digital, pois é o tipo mais amplamente usado
hoje em dia, em larga escala. Porém, existem também os multímetros Analógicos, dos
quais falaremos posteriormente. Os multímetros também podem ser de Bancada, que
geralmente possuem várias funções extras, mais alcance de escala e maior precisão, e
portáteis (de mão), muito úteis para carregar em uma maleta de ferramentas ou bolsa.
Vamos usar um multímetro portátil neste artigo para realizar medições.

Partes de um Multímetro
Um multímetro possui três partes principais:

 Display (Visor)
 Botão de Seleção (Chave Seletora)
 Bornes onde são conectadas as Pontas de Prova (Ponteiras)

O Visor é onde os resultados das medições são exibidos. Dependendo do modelo do


multímetro, pode ter 3 ou mais dígitos, e um dígito adicional para representar o sinal de
negativo.

O botão de seleção é um botão rotativo, de múltiplas posições, que usamos para


selecionar a função que desejamos medir, e a precisão da escala de medição, e também
para desligar o multímetro quando não em uso, para economizar sua bateria, que
geralmente é uma bateria de 9 V.

As ponteiras são conectadas em bornes específicos presentes no multímetro, sendo uma

ponteira geralmente na cor vermelha para representar a polaridade positiva, e outra


ponteira na cor preta, para representar a polaridade negativa. Comumente, um multímetro
possui mais de dois bornes de conexão para as ponteiras, os quais permitem a medição
de outras grandezas quando as ponteira são trocadas de conector.

Na foto abaixo podemos ver um exemplo de um multímetro típico (um Minipa modelo ET-
2020), o qual usarei nas medições apresentadas no artigo:
Multímetro Minipa ET-2020

Esse multímetro nos permite realizar medições de Tensão Alternada e Contínua,


Resistência, Corrente Elétrica (contínua apenas), realizar teste em baterias de 1,5 V e 9 V,
e testar o ganho (hFE) de transístores NPN e PNP, além de realizar teste de
continuidade. A figura abaixo mostra a localização de cada uma dessas funções na escala
do multímetro:
Grandezas medidas pelo multímetro e suas escalas

Para efetuar essas medições, é necessário conectar as pontas de prova nos bornes
corretos. A figura a seguir mostra as funções que são medidas em cada borne, lembrando
que a ponteira preta sempre deve ser conectada ao borne COM, e a vermelha, ao demais
bornes, conforme o teste que se deseja realizar:

Bornes do Multimetro e conexão das ponteiras

Efetuando Medições
Para efetuarmos medições, a primeira coisa a se fazer é determinar a grandeza a ser
mensurada. Vamos começar efetuando medição de Tensão Elétrica. Para isso, vamos
conectar as pontas de prova nos bornes conforme segue:

 Ponteira vermelha no borne VΩ


 Ponteira preta no borne COM

Agora, precisamos determinar que tipo de tensão elétrica vamos medir: Contínua (DCV) ou
Alternada (ACV) . Vou efetuar a medição de uma Bateria de 9V, que opera com Tensão
Contínua. Para isso, precisamos localizar no Multímetro a escala de tensão contínua, e
ajustar sua precisão para acomodar o valor que pretendemos medir, que é de
aproximadamente 9V. Para isso, escolhemos na escala o valor que for mais próximo e
acima do valor esperado na medição, para evitar danos ao multímetro. Se estiver com
dúvida com relação ao valor da tensão que será medida, coloque a chave de seleção no
valor mais elevado e depois vá baixando, para aumentar a precisão, até o valor máximo
ainda seguro para a medição.

No meu caso, o valor de escala mais próximo e acima de 9V é o de 20 DCV (tensão


contínua), que permite medir valores de 0 até 19,99 V. Veja a escala selecionada na figura
abaixo:

Vamos à medição. Após selecionar a escala correta no aparelho girando a chave seletora,
conecte as pontas de prova aos pólos da bateria, com firmeza, e verifique no visor do
multímetro o valor medido. Caso você inverta a polaridade das ponteiras, não haverá
problema, pois o multímetro mede a tensão em relação ao ponto comum (COM). Neste
caso, a única diferença que você verá é que o sinal aparecerá com o sinal de negativo no
visor.

Veja a medição realizada na figura abaixo:


Medindo a tensão elétrica de uma bateria de 9V com o multimetro

Note o valor medido: 9,81 V, um pouco acima do esperado para esta bateria, que é de 9 V.
Isso pode se dar por conta de ajustes de calibração do multímetro ou por conta de
variações na tensão da bateria em si. Note que esse multímetro possui uma posição
específica para medição de baterias, tando de 9V quanto pilhas de 1,5V. Mas muitos
multímetros não possuem essa opção, então a forma mais comum de efetuar essa
medição é a que acabamos de mostrar.

Medindo Tensão Alternada: Rede Elétrica

Vamos medir agora a tensão da rede elétrica, em uma tomada de 110 V. Essa tensão é
alternada, portanto vamos ter de alterar a posição da chave seletora para ACV,
escolhendo a escala de 200 V (neste caso sabemos o valor que será medido; caos não
soubéssemos se a tomada é de 110 V ou de 220 V, deveríamos colocar a chave seletora
na posição 750 V para não danificar o multímetro). Veja a medição na figura a seguir:
Medindo Tensão Alternada com um Multímetro

O valor medido foi de 116,3 V, dentro da normalidade para a rede elétrica convencional.
Lembre-se de que se for medir uma tomada de 220 V, ou se não souber a tensão da
tomada, coloque o multímetro na escala de 750 ACV (ou a mais alta que seu multímetro
possuir) para evitar acidentes.

Medindo Resistência Elétrica

Vamos efetuar agora a medição de Resistência Elétrica de um resistor. O resistor possui a


marcação de sua resistência em seu corpo, mas vamos supor que não houvesse tal
marcação, ou que ela fora apagada. Neste caso, vamos começar colocando a chave
seletora na escala de medição de resistência (Ω), no valor mais alto presente no
multímetro, que é a posição 200 M (200 MegaOhms). Não precisamos nos preocupar com
a polaridade para esta medição, e é importante notar que o componente deve estar
desconectado de qualquer circuito. Portanto, se você quiser medir um resistor que esteja
soldado a uma placa, será necessário soltar (dessoldar) ao menos um de seus terminais,
de modo que a medição não sofra influência dos demais componentes conectados ao
circuito.

Veja a medição inicial na figura a seguir:


Medindo Resistência: Posição 200 M

Na posição 200M (que mede até 200 MΩ), o multímetro mostra o valor 01,0. A precisão do
valor mostrado é muito baixa, e isso nos indica que a faixa da escala escolhida está muito
elevada. Vamos alterar a posição da chave seletora para 20M para conseguirmos maior
precisão nessa medição:
Medindo Resistência: Posição 20 M

Note que agora o valor mostrado é de 0,05, ainda muito impreciso. Vamos mudar
novamente a posição da chave seletora, abaixando um nível da escala, para 2000K (que
equivale a 2M):

Medindo Resistência: Posição 2000 K

Na posição 2000K temos uma precisão melhor. Veja que o multímetro agora mostra o
valor 051, e como a escala está em KΩ, isso indica que a resistência do resistor é de 51
KΩ. Podemos obter maior precisão nessa medição alterando novamente a escala, pois
temos uma posição mais próxima de 51 KΩ, que é a posição 200K:
Medindo Resistência: Posição 200 K

Conseguimos a melhor precisão possível para essa medição: 51,6 na posição 200K, o que
significa que a resistência medida é de 51,6 KΩ. Esse resistor é, na verdade, um resistor
de 47 KΩ, e o valor apresentado (um pouco acima) se deve à tolerância do valor da
resistência, que é de 10%. Portanto, o resistor pode ter sua resistência entre 42,3 KΩ e
51,7 KΩ (47 ±10%), o que indica que nosso resistor está em bom estado.

O que acontece se tentarmos medir esse resistor em uma escala mais abaixo? Vamos
medi-lo agora alterando a posição da chave seletora para 20 K:

Medindo Resistência: Posição 20 K

Veja que agora o multímetro não mostrou nenhum valor de resistência, e em vez disso,
mostrou o valor “I”. Interpretamos esse valor com sendo “Infinito”, ou seja, o valor medido
está além do valor máximo que pode ser medido nessa posição da escala. Neste caso,
basta alterar a chave seletora para uma posição acima, ou até que um valor concreto seja
mostrado no visor.

Vamos medir a resistência de um pedaço de fio de cobre agora.

Medindo a Resistência de um Fio de Cobre

Um fio de cobre é um excelente condutor de eletricidade, e justamente por isso esperamos


medir um valor de resistência muito baixa, tendendo a zero ohms. Na prática, fatores como
o comprimento do fio, seu diâmetro, se é sólido ou de fios trançados, sua temperatura,
etc. influenciam no valor da resistência medida. De qualquer forma, esperamos que o
valor medido seja muito baixo, e por isso vamos colocar a escala do multímetro no menor
valor possível, que no caso do meu aparelho é de 200 Ω (ou seja, mede até 200 ohms).
Veja na figura a seguir essa medição sendo realizada:
Medindo um fio de cobre com o multímetro

O valor medido foi de apenas 6,7 Ω e, na prática, pode ser até um pouco menor, devido ao
contato entre as pontas de prova e o pedaço de fio, que é imperfeito. Também usei uma
garra jacaré para fixar uma das ponteiras ao fio, pois precisei de uma das mãos para
disparar a fotografia!

Esse tipo de medição é muito útil para testar, por exemplo, cabos de força de
equipamentos, que podem estar rompidos e, assim, impedir que a energia elétrica chegue
ao aparelho, tornando-o inoperante. Caso a resistência medida seja maior do que alguns
poucos ohms, ou se aparecer o valor “I”, então o cabo estará com problemas –
provavelmente rompido.

Medindo Corrente Elétrica com o Multímetro


A medição de corrente elétrica com o multímetro deve ser realizada colocando-se o
aparelho em série com o ramo do circuito que desejamos medir, pois a corrente deve
atravessá-lo para que possa ser mensurada. Esse procedimento é diverso da medição de
tensão elétrica, na qual colocamos as pontas de provas entre os dois pontos cuja diferença
de potencial queríamos medir.

Vamos usar o circuito a seguir em nossos exemplos:


Temos uma fonte de tensão elétrica de 9V (uma bateria) e três resistores conectados a
ela, sendo R1 e R2 resistores de 100 Ω, e R3 um resistor de 10 KΩ. R1 e R3 estão em
série, assim como R1 e R2, e R2 e R3 estão em paralelo entre si.

Vamos às medidas. Primeiramente vamos determinar qual escala do multímetro usar. Para
isso, vamos determinar a corrente total neste circuito, usando a Lei de Ohm.
Primeiramente vamos calcular a resistência equivalente do circuito, que é dada por:

Com o valor de resistência equivalente de 199Ω, vamos agora calcular a corrente total que
passa pelo circuito:

Sabemos agora que a corrente total no circuito é de 45 mA. Podemos então selecionar a
escala mais adequada de medição no multímetro, que no caso é a escala de 200 mA,
corrente contínua. Claro que nem sempre será possível efetuar os cálculos de corrente
como fizemos neste exemplo, pois os circuitos podem ser muito complexos ou os valores
dos resistores podem estar ilegíveis, sem contar que podem haver outros tipos de
componentes conectados, como capacitores, indutores, integrados, etc.; Na dúvida,
sempre comece medindo pela escala mais alta.

Observação: a potência total dissipada pelo circuito é de P = U x I = 9 V x 0,045 A = 0,405


W. Portanto, procure usar resistores que suportem esse valor de potência (ao menos em
R1, por onde a corrente total irá circular), como por exemplo 0,5 W, sob risco de queimá-
los.
Veja o circuito montado em uma breadboard na figura abaixo:

Vamos às medições de corrente. Primeiramente, ajustaremos a escala do multímetro e


plugaremos a ponta de prova no borne correto, onde se lê “mA B”:

Medindo Corrente Elétrica: Escala do multímetro


Medição #01: Corrente que passa por R1

Para medir a corrente que atravessa R1, vamos desconectar um de seus terminais do
circuito e então colocá-lo em série com o multímetro (função de amperímetro, A), como
mostra a ilustração a seguir:

Veja a corrente que foi medida no multímetro:

O multímetro nos mostra o valor de 45,5 mA, muito próximo do valor calculado da corrente
total, que foi de 45 mA. Essa pequena diferença se deve às tolerâncias dos resistores e às
resistências dos fios (que não foram consideradas no cálculo), além da precisão do
multímetro. Esperávamos esse valor, pois toda corrente atravessa esse resistor, que está
ligado diretamente à fonte de alimentação do circuito.
Medição #02: Corrente que passa por R2

Agora vamos medir a corrente que passa pelo resistor R2. Conectamos de volta R1 e
desconectamos um dos terminais de R2 para efetuar a medição. Esperamos obter um
valor de corrente menor do que o que foi medido em R1, pois a corrente se divide entre os
dois ramos do circuito, onde estão R2 e R3 respectivamente. Veja como deve ser feita a
conexão no circuito para a medição:

Veja a corrente que foi medida no multímetro:

Agora o multímetro mostra o valor de 45,1 mA. Como sabemos, a corrente total é de 45,5
mA, portanto faltam 45,5 – 45,1 = 0,4 mA. Onde está essa corrente? Atravessando o
resistor R3 provavelmente. É o que veremos agora:
Medição #03: Corrente que passa por R3

Vamos medir a corrente que atravessa o resistor R3, cuja resistência é de 10 KΩ.
Reconectamos R2 e desconectamos um dos terminais de R3 para efetuar a medição,
conforme ilustra o diagrama esquemático abaixo:

Veja a corrente que foi medida no multímetro:

Eis os 0,4 mA que faltavam. Essa corrente circulou pelo ramo do circuito onde está R3,
mostrando que a corrente se divide ao encontrar resistores em paralelo. Estudaremos
esse fenônemo com muito mais detalhes nas lições sobre Análise de Circuitos, Leis de
Kirchhoff, Teorema de Thevenin, e outras.
É isso aí! Aprendemos a medir corrente com um multímetro nesta lição. Não se esqueça:
para isso, você deve colocar o multímetro em série com o ramos do circuito cuja corrente
deseja medir, frequentemente desconectando algum componente desse circuito.

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