Você está na página 1de 17

330 POR UMA HISTÓRIA POLíTICA

ll ________________
~rost, Antoine. "Vocabulaire et typologie des familles politiques"
Cah1ers de lexicologie, 14, 1969, p. 115 _126 _ '
Religião e política
- · "Le_ra:port de Déat en faveur d'un parti national unique (juillet
Aline Coutrot
1940): essm d analyse lexicale", Revue Française de Science Politiq
5/1973, p. 933-965. ue,
.--:-· "Combattants et politiciens. Le discours mythologique sur la
As LIGAÇÕES íNTIMA'> entre religião e política durante muito
~;~~tque entre les deux guerres", Le Mouvement social, 4/1973, p. 117-
tempo foram desprezadas pela história do político, que se
interessava sobretudo pelas relações entre as Igrejas e o Estado
.-· Vocahulaire des proclamations électorales de 1881 1885 t 1889
Pans, PUF, 1974. ' e • e pelos períodos de crise. Contudo, desde a década de 20
Charles Seignobos se interrogava sobre os componentes reli-
Robin, Régine. Histoire et linguistique, Paris Colin 1973
~ . ' ' .. giosos do voto, e André Siegfried, no seu monumental Tahleau
oum.ter, Ma~rice. 1848. Des ouvriers et des mots, Paris, Presses de
politique de la France de !' ouest ( 1913), estudava os diferentes
la FondattOn Nattonale des Sciences Politiques.
tipos de atitudes políticas segundo os modos de ligação com
- · "Vi. e_:s une grammaire des dénominations socio-politiques au début
a Igreja católica, e depois analisava o voto protestante.'
de la Tr'~~stem~ République ( 1879-1905)", Mots, nº 2, 1981' p. 51-72.
- · e lextque des luttes et de l'organisation ouvrieres en France" Hoje, as forças religiosas são levadas em consideração
Mots, nº 5, 1982, p. 103-126. ' como fator de explicação política em numerosos domínios.
-· "Les jaunes: un mot-fantasme à la fin du XIXc stec
" Ie " , Mots, Elas fazem parte do tecido do político, relativizando a intransi-
o 8
n- , 1984 , p. 103-126. gência das explicações baseadas nos fatores sócio-econômicos.
- · "Cooccurrences autour de tramil (1971-1976)" M t º 14
1987,p.89-123. ' os,n '
Convergências
Esse aprofundamento da história só pôde ser realizado em
virtude da convergência de vários movimentos.
O mérito pertence em primeiro lugar à história religiosa,
que experimenta um notável desenvolvimento, como mostra
a obra dirigida por Jean-Marie Mayeur, Histoire relif?ieuse de
2
la France XIX''- XX'' s.: prohlemes et méthodes.

"A história religiosa não é mais estritamente eclesiás-


tica ou apologética, ela se estende a todos os domínios
da vida religiosa e de suas expressões culturais e
sociais, apreende a permanência e a mudança da Igreja
numa sociedade em transformação."'
332
POR UMA llJSTÓRJA POLíTICA
RELIGIÃO E POlÍTICA 333
"O cristão qualquer" se tornou tão digno de interesse quanto
os bispos ou as ordens religiosas. É revivificado nas condi- 1 s des re I lgwns,
. . d
por seu conteúdo e suas resenhas bibliográ-
ções concretas de sua existência. É nessa perspectiva que ~
ftcas, perrnt'tem avaliar a dimensão dos campos . , . explora
. . os.
François Lebrun dirige a Histoire des catho/iques en France, 4 . Iogta
. Política , ao integrar as .vanavels h.rehgtOsas,
A socto , · d
que completa e dá continuidade à Histoire du catholicisme também contribuiu grandemente para ennq.uecer a ts~ona o
en France de A. Latreille e R. Rémond. 1 A abordagem bastan- político, particularmente no que diz respet~o _aos feno~.~~o;
te rica mas tradicional de A. Dansette em sua volumosa His- eleitorais, a tal ponto que estamos em con~lçoes de tra d a.
toire relir;ieuse de la France contemporainé renova-se em com o médio prazo. Indiquemos para o penodo recente ai ob~a
sua última obra, Destin du catholicisme /rançais/ que des- coletiva France de gauche vote à droiteu como exern.p .o e
creve uma Igreja em estado de missão, marcando a sociedade uma grande fineza de análise da intervenção do fator religiOso.
francesa com suas intuições inovadoras. Os títulos relativos
No cruzamento do religioso e do político encontramos tra-
ao protestantismo na sociedade francesa do século XX são
balhos importantes, dos quats . o mats
. · marcante
. . .se deve
. a G..
menos numerosos, e o interesse maior está nos artigos. x A M . h I teM Simon Trata-se de Classe, rehgwn et ( ompm-
obra de S. Schram, Protestantism and politics in France, 9 tc e a . . - .t nte da
tement politique, 14 que constitui a dernonstr~ça~ gr_t a . .
situa-se no centro de nosso tema. Citemos também, de R.
ligação entre política e religiã~. A. obra constttut, alem dtsso,
Mehl, Le protestant français 10 e Crises et mutations institution- urna fonte bibliográfica de pnrnetra ordem.
nelles dans /e protestantisme /rançais. 11 Em relação à atua-
lidade, a obra mais recente de J. Baubérot, Le poui"Oir de Finalmente, um instrumento d e tnv · , . em muito
· estigação ·,.
12
contribuiu para o conhecimento das escolhas ettcas, soctdl.s
conteste r, apresenta uma brilhante análise de sociologia
e políticas dos cristãos: dispomos hoje .de séries de. pesq~t­
histórica que trata em ampla medida das relações entre cris-
sas de opinião, cujo principal inconvenlent~ era ~ ~tspersao
tianismo e política. O desenvolvimento da sociologia religio-
ate, que a recente tese d e 1· Sutter' La 1'/e rehgleuse
. . des
sa, que se esboça nos anos 30 com os trabalhos de G. Le Bras,
. ans c1e son da,~a e~· d' opinion , 11· e 1IITIIllOU
Français, trente-trms
de F. Boulard e de seus discípulos, contribui ao mesmo tempo
o obstáculo.
para o avanço da história religiosa e da história política. Im-
plica urna vontade de realismo no olhar voltado para as reali- . . _ tenarn
Essas contnbu1çoes . SI·d 0 e rn. vão . sem
' , . um alarga-
, .
dades religiosas, interessa-se pelas sociedades de crentes torna- rnento e um aprofundamento da pesquisa htstonc~. A. p:rtlr
das em sua globalidade e introduz a dimensão quantitativa do momento em que o historiador leva em considera?<~? a
pela contagem sistemática dos praticantes, fornecendo mate- · · rlllares, eln que
interdependência dos campos dtsctp . pnvtle-
.
rial tanto para a sociologia e para a geografia eleitoral quanto sia a longa d uraçao,
- '
ele descobre a força explicativa do
religioso.
para a história da sociedade. Numerosas monografias sobre
dioceses perscrutam todas as formas de vidas e engajamentos
cristãos. Hoje a sociologia se aventura em todos os domínios Mediações
das manifestações religiosas. Os Archi1·es de socio/ogie reli-
r;ieuse, que se transformaram em Archil'es des sciences socia- A. - d e fato , de que a história nos fornece
s sttuaçoes . · , tantos
Em
exemplos, não poderiam evitar uma pergunta prellrnlnttr.
334 335
POR UMA HISTÓRIA POLíTICA RELIGIÃO E POLÍTICA

~u~ o _r~ligioso, ~~rticularmente o cristianismo, pode interessar em nome de vários milhões de fiéis, têm uma influência
a his~ona do pol2t1co? O ~ue há de comum entre a religião, que política e não podem ser ignoradas pelo Estado, a influência
propoe a salvaçao no ~!em, e a política, que rege a sorte dos específica dos crentes não é evidente. Trata-se de uma popu-
home_ns ne~ta_ terra? A primeira vista, parece que uma diz lação até hoje numericamente muito importante, mas extre-
r~spe~to ao Intimo do ser, a outra ao coletivo. Religião e política mamente heterogénea pela idade, pelas características
na~ sao da mesma natureza se não adotamos as teses marxistas, sócioeconômicas e geográficas e pelas experiências humanas.
e e exatamente por serem distintas que podemos nos interrogar Ainda por cima, a vida das Igrejas e a crença cristã se ex-
sobre_ suas relações. Para alguns, não deve haver nenhuma primem no seio de um regime leigo e de uma sociedade
relaç~o: o pensamento liberal considera a religião como uma secularizada e descristianizada. No entanto, o religioso infor-
questao de ordem estritamente privada, e os autores da Lei de ma em grande medida o político, e também o político estrutura
Sepa_ração se empenharam para que ela voltasse a sê-lo. Se o religioso. Colocando questões que não se pode evitar,
con_sideramo_s que religião e política são distintas, é preciso apresentando alternativas, ele força as Igrejas a formularem
entao pesquisar as mediações que estabeleceriam entre elas expectativas latentes em termos de escolha que excluem toda
relações de interdependência. Da natureza e da amplitude destas possibilidade de fugir do problema. A política não pára de
decorrerá o interesse que lhes devotará a história do político. impor, de questionar, de provocar as Igrejas e os cristãos, a
O fundamento de todas essas mediações reside no fato de título individual ou coletivo, obrigando-os a admitir atos que
que_ a_ crença religiosa se manifesta em Igrejas que são corpos os comprometem perante si mesmos e perante a sociedade.
sociais dotados de uma organização que possui mais de um Os desafios do mundo moderno que provocaram muitas re-
tra~o. em comum com a sociedade política. Como corpos cusas e conflitos, se contribuem para marginalizar as Igrejas,
sociais · cnstas
. . • as, I g:~Ja~ · - d"f
1 undem um ensinamento que não não servem apenas para precipitar seu declínio. Um aprofunda-
se limita as Ciencias do sagrado e aos fins últimos do homem. mento do pensamento religioso engendra novos modos de
Toda a vida elas pregaram uma moral individual e coletiva presença na sociedade, sem contar as remanescências e as
a ser aplicada hic et nunc; toda a vida elas proferiram julga- permanências. A religião continua a manter relações com a
mentos em relação à sociedade, advertências, interdições, política, amplia mesmo seu campo de intervenção e diversi-
tornando um dever de consciência para os fiéis se submeter fica suas formas de ação, de tal forma que o assunto é de
,a eles. · D e f Initlvamente,
·· nada do que concerne ao homem e grande atualidade.
a socie~ad~ ~he~ é estranho, mesmo que de uma época para
outra a msistencia em certos preceitos tenha eclipsado outros.
Identidade Cristã e Atitudes Políticas
. Além disso, a religião vivida no seio das Igrejas cristãs se
mscreve ~m manifestações coletivas que marcam às vezes os Estudar as relações entre religião e política na França do
grandes ntos de passagem, que são portadoras de um conteúdo século XX nos leva a tratar de duas questões fundamentais. Em
cultural_ e agente~ de socialização. Mas se é fácil compreender primeiro lugar, como a filiação a uma Igreja modela as atitudes
que as mtervençoes das autoridades religiosas, exprimindo-se políticas dos cristãos? Em segundo, por quais vias as forças
religiosas intervêm no domínio do político a ponto de constituir
. .

336
POR UMA HISTÓRIA POLITICA
RELIGIÃO E POLÍTICA 337
I
uma dimensão deste? Historiadores e sociólogos estabeleceram
G. Michelat e M. Simon construíram, a partir de entrevis-
correlações bastante estreitas entre prática religiosa e atitudes
tas não diretivas, um modelo de sistema de valores próprio
políticas. Podemos nos espantar que o simples praticante, que
daqueles que se declaram espontaneamente cato']'1cos. IX E sse
tem como único alimento o culto ou a missa semanal, seja
modelo estrutura-se em torno da religião. Todas as pessoas
modelado pelo ensinamento da Igreja a ponto de nele se inspirar
entrevistadas explicam suas opiniões ou suas condutas em
em suas condutas sociais e políticas. É preciso então levar em
função de seu pertencimento religioso, ao passo que o con.m-
conta todo o seu itinerário. Em geral ele nasceu numa família
nismo constitui o principal pólo repulsivo, sistema destrutivo
praticante, e os trabalhos de A. Percheron 1" fazem aparecer de
daquilo que os católicos mais respeitam. O modelo privilegia
maneira gritante a influência da família nos processos de so-
enfaticamente a família, da qual a pessoa é indissociável, o
cialização. Os jovens praticantes com menos de 18 anos já
trabalho e a tradição. Existe uma ordem natural que compre-
indicam preferências partidárias diferentes das dos não prati-
ende inevitáveis desigualdades, e governar é, antes de tudo,
cantes da mesma idade. O praticante foi catequizado numa idade
gerir essa ordem natural. É certo que um sistema como esse,
em que o indivíduo é muito maleável, fez sua primeira comu-
para se tornar um fator sócio-histórico real, deve ser recebido
nhão, cerimônia de grande carga emotiva. A própria missa
e adotado por indivíduos concretos que se constituem como
semanal, ou o culto, é carregada de influências em função de
tais em ambientes de socialização caracterizados por subcul-
seu efeito repetitivo e sua grande valorização afetiva. Devemos
turas específicas. Contudo, ele é bastante revelador de uma
nos interrogar sobre o efeito produzido pelos ritos, o cerimo-
concepção do mundo amplamente compartilhada pelos cató-
nial, o cenário, os gestos obrigatórios, as posições prescritas,
licos e que os orienta para as forças de conservação.
tudo isso vivido no seio de uma comunidade consensual. Além
disso, a mensagem da Igreja não pode ser transmitida a não A crítica que se pode fazer ao modelo de Michelat e Simon
ser por expressões culturais próprias de cada época. A homilia, é de ser único e não dar conta da pluralidade das culturas
os cantos, a prece universal são assim atualizações da mensa- religiosas. Foi a isso que se dedicou René Rémond quando
gem que reúnem os crentes na sua vida quotidiana. Não é por escreveu em 1958 "Droite et gauche dans !e catholicisme
acaso, por exemplo, que o engajamento político repugna a tantos français contemporain", 1Y fruto de uma reflexão teológica, fi-
católicos: sob a luz do ensinamento sobre a unidade em Cristo, losófica e histórica. Da mesma forma que sempre existiram
eles adquiriram a certeza de que a paz entre os homens, a muitas correntes teológicas, há muitas espiritualidades modela-
reconciliação e a união eram valores supremos, diante dos quais doras de comportamentos profundamente dessemelhantes em
o combate político, que implica confrontos e lutas, aparece relação ao mundo e à sociedade política. A indiferença básica
como um mal, um lugar onde se "sujam as mãos". 17 pelas realidades temporais de cristãos que voltam todos os seus
pensamentos para a outra vida opõe-se a uma espiritualidade
Socializados por práticas coletivas _ seria necessário
da encarnação que leva a sério a prefiguração do reino a ser
evocar aqui todas as atividades das paróquias, das obras e dos
construído desde aqui embaixo, o engajamento na Igreja que
movimentos - , os cristãos adquirem um sistema de valores
une o homem ao Cristo, a salvação não individual, mas cole-
muito profundamente interiorizado que subtende suas atitudes
tiva, de toda a humanidade. No final, duas teologias, e as duas
políticas. Esse sistema de valores foi objeto de três abordagens.
espiritualidades correspondentes, mesmo se o católico médio
338
POR UMA HISTÓRIA POLíTICA RELIGIÃO E POLÍTICA 339
não leu santo Tomás de Aquino ou meditou sobre a natureza
sociedade fortemente estruturada por imagens paternais e, f~­
da verdade, se encarnam em dois tipos humanos de cristãos
o católico apolítico e o militante engajado. Se existem militan~
miliares. O prolongamento de uma tal atitude no domm10
político se deixa adivinhar. Esse tipo de c.rente será lev~do a
tes engajados na defesa da civilização cristã e da Cidade ca-
preferir os regimes que se apói.am numa. f1~ura .de autonda~e
tólica, uma corrente durante muito tempo minoritária impõe-
indulgente, será atraído pelos s1stemas hierarquicos nos quais
se desde a Segunda Guerra Mundial. Não mais guetos nem
cada um tem seu lugar sem tensões nem rivalidades.
lugares de segurança, mas o engajamento nas instituições co-
muns. Com o passar do tempo, alguns desses militantes são O modelo cristocêntrico é inteiramente diferente. Cristo é
levados a aderir aos valores da esquerda. Para René Rémond, Deus encarnado na história e, portanto, os homens reconci-
que está convencido da consistência própria e da autonomia dos liados com o tempo. Cada vida individual deve contribuir para
fatos da cultura, o religioso é o primordial. Na verdade, não o progresso coletivo da história, donde uma pr?~ensã~ a~
é por se ligarem à sociedade tradicional que católicos de direita engajamento. A atitude fundamental diante do divmo nao e
inclinam-se para o integrismo, é o inverso. Limitar-se, como marcada pela deferência, a devoção, o respeito, mas pelo
se faz às vezes, às posições políticas é deter o olhar na super- entusiasmo, o fervor e a identificação que se torna possível
fície. das coisas. Elas são inseparáveis de uma concepção de- pela aparência humana da divindade. Essa maneira de ver
termmada da verdade, das relações entre o espiritual e o tem- desenvolve o sentido do engajamento, a aceitação da mudan-
poral, e inexplicáveis sem isso. ça. Se o princípio da direita é a hierarquia natural e o princípio
da esquerda é a fraternidade, vemos as afinidades que os
No registro da investigação psicossociológica, J.-M. Doné-
cristãos podem manter com uma ou outra dessas grandes
gani2t1 está bastante próximo de René Rémond. Além da prá-
tendências da vida política francesa.
tica religiosa, cuja validade reconhece como critério de
pertencimento, lembrando que ela inclui sempre a crença em Sugerindo, enfim, a existência de uma corrente mais frou-
um "credo mínimo" e que não é portanto um simples pro- xa que associa ao Espírito todo um simbolismo que traduz
cedimento de conformismo social, ele constata com toda a valores e atitudes específicas, J.-M. Donégani associa a ela
razão que o abrandamento atual da disciplina cultural não práticas antigas, mas que vêm se desenvolvendo entre os leigos
traduz, obrigatoriamente um desligamento das crenças religi- na última década: movimentos espirituais, grupos de oração,
osas. E significativo, aliás, que 26% dos franceses se declarem tal como a Renovação Carismática, comunidades de base. Esse
praticantes regulares, enquanto a taxa de prática semanal caiu terceiro modelo, mais hipotético, tem o mérito de enfatizar
pam 1O ou 15%. Também pelo método das entrevistas, ele todas as inflexões possíveis das espiritualidades em resposta
d~fine três tipos de identidade cristã que correspondem a às necessidades de uma época e de abrir caminho à pesquisa
diferentes modos de relação com o mundo. Cada um desses de outros modelos à medida que o cristianismo se torna mais
três tipos finca suas raízes numa forma privilegiada de crença. pluralista.
A fé teocêntrica, submissão a um Deus todo poderoso, dá ao A existência de subculturas cristãs que veiculam diferentes
crente o sentimento da sua fragilidade. Ele se insere numa concepções da sociedade e predispõem a realizar escolhas sociais
ordem natural que é preciso respeitar, ligada à estabilidade da e políticas é prenhe de conseqüências para a explicação histórica.
340
POR UMA HISTÓRIA POLITICA 341
RELIGIÃO E POLITICA

.E.Ia dá conta ao mesmo tempo da força política, da filiação


Jrançais dans la mêlée de son temps, 23 mas a posição do
rehgwsa e da pluralidade de suas manifestações.
episcopado sob o governo de Vichy foi extensamente anali-
Mais que qualquer outro período, talvez o século XX . sada por J. Duquesne em Les catholiques sous I' Occupation, 24
v1ve a
c~xlstencw multas vezes conflituada entre as forças de conserva-
• A • • '

nos três colóquios consagrados aos cristãos durante a Segunda


çao e as de mudan.ça. Este século marca também o deslocamento Guerra MundiaF 5 e por um estudo dedicado à análise das
d?c~~tro de grav.Jdade da Igreja católica outrora contra-revolu- Semanas Religiosas. 2 ~ As contribuições de J.-M. Mayeur sobre
CIOnana e que hoJe se quer consciência da sociedade moderna. o período posterior a 1945 27 são um modelo de análise.
Muitas distinções deveriam ser estabelecidas entre as de-
. ~~a vez ~s.tabel,ecido~ os fundamentos das relações entre clarações coletivas e as declarações individuais, que não apre-
rehgJao e pohtJca, e preciso medir sua eficácia na sociedade sentam todas o mesmo tom. Muitas perguntas sobre as con-
francesa. As f~rças religiosas intervêm com mais fre üência dições de elaboração desses textos e suas repercussões con-
de forma colet1va _ aut 'd d . . . q tinuam sem resposta.
on a es re 11gwsas, mov1mentos im-
prensa
, confessional-
. _ . . . ' mas o voto e a adesa-o part'd, . I',
1 ana Jgam- Se nos contentamos em observar a tendência geral desde
se a decJsao mdJvJdual. Enfim, um único conflito continua a ·o início do século XX, constatamos que as declarações episco-
opor a Igreja católica ao Estado: é o conflito em relação à pais visaram a fazer da Igreja católica, num primeiro momen-
escola, que se transforma em alguns momentos no debate to, uma força de segregação e, num segundo momento, fruto
central da vida política francesa.
de uma lenta evolução, uma força de animação no interior da
Pode-se medir toda a · d , . sociedade francesa. O discurso, de imperativo, passou a ser
. . nqueza e uma anahse das forças
religiOsas católicas e t . incitativo. Força de segregação, a Igreja o foi até os anos 30:
. . pro estantes na obra coletlva Forces
reh'{teuses et attitude
., ,
1· · d
s po tftques ans la France contempo- as declarações episcopais exprimiam como que uma vontade
rmne"1qu · ·
, ' e constJtUJ um modelo na matéria, mas se limita ao de direção da sociedade, condenando a separação das Igrejas
penodo 1945-1960 M e do Estado, vilipendiando a República leiga e exercendo
. ) · enos aprofundada, mas remontando ao
fJm do. ~éculo. ~IX, a obra de A. Coutrot e de F.-G. Dreyfus, pressões sobre os cristãos a fim de que votassem no "candi-
Les foi( es relt!{1euses dans la société /rançai se, tem o mérito dato certo". Existem poucos textos tão virulentos quanto a
de levar em conta a evol - 'd , .. Declaração dos Cardeais e Arcebispos de 1925 condenando
uçao cons1 eravel das forças rellgJ-
osas ao longo do século xx.n as leis de laicidade e convidando os católicos a se constitu-
írem como grupo de pressão para combatê-las. A ação do
O Episcopado Intervém na Vida Social e Política episcopado tendia então a fazer da Igreja um corpo na defen-
siva e, dos católicos mobilizados por suas declarações, um
exército encarregado de exprimir no plano políüco reivindi-
~s .declar.ações da Hierarquia são uma das formas mais cações confessionais e a aspiração de retorno a uma sociedade
~o~aveJs de mtervenção da Igreja na vida da cidade. Uma contra-revolucionária. A evolução, precedida por muitas ini-
un1ca obra abordou esta questão: _ A. Deroo, L' épiscopat ciativas condenadas por Roma - a democracia cristã ( 190 I),
342 343
POR UMA HISTÓRIA POLÍTICA RELIGIÃO E POLÍTICA

o Sillon (191 O) - , foi favorecida pela Primeira Guerra MRP, e sua discrição se torna cada vez maior por ocasião das
Mundial e pela política de Pio XI. Mas a evolução religiosa campanhas eleitorais. A evolução se completa q~~ndo, em
não teria podido se produzir sem a existência de forças de 1972, a Assembléia plenária de Lou~de~,. no te:to . P.our .u~e
vanguarda e de um clima político favorável que distendeu as pratique chrétienne de la politique"' JUStlfi.c~ a nao-ImisC~Içao
relações entre a Igreja e o Estado. Léon Blum foi o primeiro dos clérigos em postos políticos e legitima o pluralismo
chefe de governo desde a separação a visitar o núncio, a Frente político dos cristãos. .
Popular não era anticlerical, e o legado do papa foi recebido Há desconexão em relação às formas passadas de mterven-
em 1937 com as honras devidas a um chefe de Estado. ção política do episcopado, mas certamente nã_o. há perda de
Conhece-se a adesão do episcopado ao regime de Vichy. sua influência nesse domínio, muito ao contrano.
Tendo-se tornado mais reticente sob a pressão dos aconteci- Desde antes do Concílio e mais ainda depois, o episcopado
mentos, nem por isso ele deixou de manter a constância de propõe elementos de reflexão mais que impõe soluções, mas
seu ensinamento sobre o respeito ao poder estabelecido, que estende seu campo de intervenção a todos os grandes proble-
constituía para o regime um trunfo inconteste. Se individu- mas da atualidade social e política. Na maioria das vezes el.e
almente alguns bispos ajudaram a Resistência, eles a ignora- assinala confrontos éticos, mas alguns bispos foram._ mais
ram coletivamente, a ponto de recusar capelães aos maquis. longe tomando o partido dos trabalhadores por oca~Iao de
Para René Rémond as posições do episcopado se explicam greves' ou se msurgmdo
. . contra as exp Josões atómicas ,. de
pela preocupação de manter a unidade entre os católicos, já Mururoa, o que originou uma verdadeira crise politica. A
que a Resistência era minoritária, e de não comprometer a justiça social e a paz estao- no pnmei · ·ro plano dessas decla- .
reinserção, adquirida recentemente, da Igreja no Estado e na . d tomou posições comedi-
rações coletivas do episcopa o, que
sociedade francesa. das mas firmes, durante a guerra da Argélia,2x descontentando
'
a direita · Propaganda
católica, e que, por uma ver d ad eira . . em
.
Insensivelmente, as declarações episcopais iriam desenhar
o perfil de uma Igreja que renunciava às suas prerrogativas de favor da cooperação com o Terce1ro · Mundo ' constitUIU
L
o ma1s
, •

~ireção da sociedade em proveito de uma animação do mundo. · ·


seguro baluarte contra o cart1ensmo. Há apenas um domtntO
. · maneceu intocável: o da
E nessa perspectiva que se situa a importante declaração da em que o ensmamento da 1grep per .
Assembléia dos Cardeais e Arcebispos em 1945, aceitando a moral sexual e familiar, embora ela seja ca~a vez mais
-· mesmo os praticantes. Res-
laicidade não como filosofia, mas como a expressão da auto- transgredida por alguns cato 11cos,
d 1 rações divulgadas pelas
nomia do Estado no seu domínio do temporal. A Igreja e o taria apreciar o alcance d essas ec a . ,
Estado iriam então viver em harmonia a maior parte do tempo. homilias os movimentos, a imprensa confesstonal e ate, em
'
casos importantes pelo ra'd'to e d epots
· pela televisão. Graças .
A partir da Segunda Guerra Mundial, René Rémond obser-
va uma "desconexão" entre o religioso e o político no nível à mídia, parece q~e os grandes momentos da vida da IgreJa
episcopal. Com exceção do problema da escola, o episcopado são mais conhecidos pelo público.
. ·- o
não tem mais reivindicações religiosas a fazer prevalecer, não A Igreja influencia, diretamente ou não, as opl~loes p -
apóia nenhum partido político, nem mesmo oficialmente o líticas dos franceses? Parece que, se no passado as mterven-
344
POR UMA HISTÓRIA POLITICA RELIGIÃO E POLÍTICA 345

ções episcopais eram geralmente interpretadas como uma diferente daquele dos partidos políticos, engrenagens impor-
marca de clericalismo, elas progressivamente parecem respon- tantes de uma sociedade democrática. 2Y Esses movimentos
der a uma expectativa da opinião pública, mais pronta hoje confessionais são muito numerosos e, em fase de desenvolvi-
a censurar na Igreja o seu silêncio que o próprio fato da mento desde o fim dos anos 30 - os anos 1945-1970 são
intervenção. Suas declarações suscitam em todo caso a curi- privilegiados - , representam muitos milhões de jovens e de
osidade e os comentários atentos dos grandes meios de co- adultos- a Ação Católica, seguida pelo escotismo, reúne os
municação, e na opinião de Jean-Marie Mayeur, como de maiores efetivos. Contudo, os movimentos numericamente
François Goguel, a autoridade moral da Igreja parece bem menos importantes, como o Sillon de Marc Sangmer;, • 111
a v·1e
mais considerável que no início deste século. Em compensa- Nouvelle oriunda do escotismo, 31 ou a Aliliance des Equipes
ção, ela se choca com a indiferença de uma parte da popu- Unionistes, protestante, foram viveiros de militantes particu-
lação, mas também com a de cristãos para quem a Igreja não larmente ativos na vida social e política.
deve "fazer política", seja por acharem que isso não é da sua
Algumas organizações são ligadas às formas tradicionais
competência, seja por lhe reprovarem aventurar-se a tratar de
da Igreja, que elas se empenham em defender, e há até mesmo
questões cujas injunções técnicas e políticas ela ignora.
uma corrente integrista minoritária mas muito ativa.
Mas os movimentos confessionais, católicos e protestantes,
Os Movimentos, Lugar de Socialização Política em sua maioria constituíram as tropas de choque da Igreja e
da sociedade francesa. Como movimentos nascidos para
Enquanto as declarações episcopais são uma constante da
evangelizar seus semelhantes ou educar jovens cristãos podem
história da Igreja, uma nova forma de expressão organizada
intervir no campo do político? É preciso remontar à fonte de
dos cristãos apareceu no século XX: os movimentos leigos.
sua inspiração, que corresponde exatamente ao modelo
Sem dúvida, os séculos passados conheceram uma multiplici-
cristocêntrico analisado por J.-M. Donégani. O Evangelho
dade de obras dirigidas por notáveis e de associações de
chama todos os homens à missão de salvação coletiva da
caridade, mas os movimentos confessionais são de uma outra
humanidade, salvação espiritual mas também prefiguração do
natureza. Criados e animados por leigos, mesmo que pastores
reino dos céus desde aqui na terra pela organização da soci-
e capelães exerçam neles uma função importante, são repre-
edade. Foi assim que a Associação Católica da Juventude
sentativos das aspirações espirituais e humanas de seus mem-
Francesa formou gerações de jovens republicanos sociais em
bros. Os movimentos como tais são lugares de formação. total,
uma época em que os católicos estavam pouco unidos e muitas
particularmente cívica, extremamente rica pois que ela se
vezes eram adeptos da Ação Francesa, que nos anos 30 os
encarna em ações concretas desenvolvidas em comunidade.
movimentos da Ação Católica e as juventudes protestantes
Suas atividades, que em geral não comportam engajamentos
vulgarizaram um ensinamento sobre o nazismo que abriu ca-
políticos, a não ser em períodos excepcionais, ultrapassam de
minho para a Resistência.-12 Do mesmo modo, durante a guerra
muito o quadro de seus membros; são com freqüência reco-
da Argélia os militantes cristãos engajados nos combates aler-
nhecidos como corpos representativos pelos poderes públicos.
taram a opinião metropolitana para os procedimentos degra-
Poderíamos facilmente demonstrar que são, num registro
346
POR UMA HISTÓRIA POLíTICA
RELIGIÃO E POLÍTICA
347
~~ntes da guerra e as torturas. 13 A ação mais bem-sucedida
e Incontestavelmente a da Juventude Agrícola Catól ·c · Católica assumem responsabilidades entre os quadros do MRP,
, _ . 1 a, CUJOS
metodos de formaçao e CUJa ação modernizadora no meio e hoje encontramos sua posteridade tanto no CDS quanto no
ruraP~ foram estudados por M.-J. Durupt, e que ocupa um RPR, na UDF e entre as forças de esquerda. Assim, o
lugar Importante, na Histoire de la France rura!e, dirigida por pluralismo político dos cristãos afeta também os militantes.
Georges Duby. A frente das transformações técnicas, a JAC Na verdade conhecemos mal, a não ser por alguns nomes
homologa o Centro Nacional dos Jovens Agricultores, e al- ilustres, os que militam na direita, e o fenômeno do cristão
guns de seus dirigentes assumirão a chefia da FNSEA, en- de esquerda vem chamando a atenção na última década, a
quanto_ outros, 3.000 ao que se diz, se tornarão prefeitos de ponto talvez de superestimarmos sua importância. De fato,
comun1dades rurais. sempre houve uma "esquerda de Cristo": Sillon, Jeune
~ais c?mumente, os movimentos formam militantes para République e, após a Segunda Guerra Mundial, uma extrema
a aça~ ~oc1al e ~olítica. Um movimento como a Ação Católica esquerda de cristãos progressistas, companheiros de estrada
O?erana faz d1sso uma obrigação para seus membros. Um do Partido Comunista - cisão do movimento operário da
n~ll_lero especial de Esprit35 apresenta com perfeição esses Ação Católica-, que se torna o MLP antes de aderir à UGS
m1htantes e analisa a variedade de seus itinerários. Os com- e depois ao PSU. 41 Não se poderia desprezar tampouco o
pr_o~issos sociais são os mais numerosos, e os militantes afluxo de eleitores e de militantes em torno de Pierre Mendes
~nstaos estão presentes em toda parte no movimento associa- France, apaixonado por uma política moderna, uma democra-
tivo que con:ribuíram para criar e em organismos parapúblicos. cia viva e uma linguagem da verdade, que deixou uma nos-
Sua formaçao os torna mais capazes que outros de assumir talgia duradoura e favoreceu numerosos engajamentos na
re~~onsabilidades e até mesmo de criar associações novas. Os esquerda. A atração pela esquerda acelera-se, no entanto, por
~lhtantes cristãos são também mais freqüentemente sindica- volta de 1965, tanto no interior de certos movimentos quanto
hzados que os outros franceses. O afluxo dos militantes da entre os militantes cristãos: alguns participam da campanha
3
JOC para a CFTC " amplia as ambições de uma Central presidencial de F. Mitterrand, outros entram para o PSU. M.A.
ex~remamente con_fessional, e a ação do grupo Reconstrução Poisson refaz o itinerário do movimento Vie Nouvelle, que
anrmado por P. V1gnaux, um dos pais fundadores da JOC, 37 adere ao Partido Socialista depois do Congresso de Épinay.

3
r~ple txo de joci~as, dos quais E. Descamps é o mais conhe- Em 1973 havia no congresso do PS 30% de delegados cató-
Cido, resulta nao somente na desconfessionalização da Cen- licos, dos quais 12% eram católicos praticantes. As reuniões
tral, mas na elaboração de temas novos da segunda esquerda. ~ 3 do socialismo de 1974 levam a novas uniões, e J.-M. Donégani
estuda os processos de encaminhamento para o Partido So-
Alguns militantes inclinam-se para a ação política. Seu
cialista.42 A atração pela esquerda obedece a motivações com-
afluxo para o MRP é considerável. A tese de F. Bazin demons-
plexas, e os itinerários são variados. Alguns se sindicalizam,
tra, sobretudo nos primeiros anos, que cerca da metade dos
~arlamentares eleitos em 1945 e 1946 saíram da Ação Cató- depois se filiam ao PS por solidariedade com o mundo ope-
rário; outros, após terem durante muito tempo denunciado no
hca.411 Além disso, até os anos 60, os militantes da Ação
seu movimento as injustiças da sociedade capitalista, procuram
na esquerda um novo modo de sociedade. Um número espe-
348 349
POR UMA HISTÓRIA POLITICA RELIGIÃO E POLITICA

c ia! da revista Autrement41 anal'Isa. os encammha. multiplicidade dos títulos, as tiragens que formam um impres-
e de outros. Mas o contexto f mentos de uns 44
avorece esse mo · sionante tota\.
d a Igreja e da sociedade q ue provoca os VImento: crise
· O nascimento de uma publicação é sinal da estruturação
sedução de um partido de o osi - .q~estwnamentos,
militantes a uma espe' . d p ça~. Assistimos, entre os de uma corrente de opinião: é assim que, desde o fim do
. ' · Cie e seculanza - d século XIX, às grandes tiragens dos títulos da Bonne Presse,
gwsos e a uma inversão d . çao, os valores reli-
as perspectivas. E no fo d - dirigida pelos assuncionistas, impetuosos inimigos da Repú-
que podemos reencontrar os valores , . go a açao
blica,45 vem se opor uma floração de publicações democratas
antigamente era um conJ'unto d evangehcos, enquanto
e crenças pou · cristãs, das quais o Ouest Éclair é a mais representativa. Após
que constituía a b d . •, co questionadas,
ase o engaJamento A a Primeira Guerra, as expressões mais intransigentes da direita
engajamento político constitui um . , ~ vezes, mesmo, o
de uma Igreja para a especie de transferência perdem terreno. René Rémond analisa a evolução considerá-
. . uma outra, encarnada pelo Partido. vel de La Croix4h que, no conjunto, segue a linha traçada por
HoJe muitos desses mTt - Pio XI, fazendo evoluir uma parte importante da opinião
Partido, no Parlament I I ante~ estao ~o. poder dentro do
no governo Mas . o~ nos gabmetes ministeriais e mesmo católica. É a época em que uma floração de revistas militantes
· · o VIVeiro const't 'd 1 democratas efetua uma abertura importante no seio do cato-
em alguns casos se tornaram I UI, o pe os m~:imentos, que
licismo francês. Cada uma tem sua vocação própria e não se
mais em condição d grupusculos pohticos, não está 47 4
e assegurar sua s b f · - poderia confundi-las, mas La Vie lnte/lectuelle, Sept, x Temps
mará os militantes cristãos de ama h~? s ItUiçao. Quem for- Présent, Esprit, 4 ~ Auhe, 51 ) procedem de uma mesma intuição:
n a.
dissociar o catolicismo das forças de conservação, remediar
Uma Imprensa Engajada as injustiças da sociedade capitalista e tomar parte nos grandes
debates de seu tempo. Essas publicações fundamentam tudo
aquilo de que viveria o catolicismo do pós-guerra, depois que
A imprensa confessional tem .
uma analogia Com _ com os movimentos mais de Vichy as obrigou a fechar as portas e que o clandestino
· o e 1es sao órg- T
fazer a mensagem . t- , aos mi Itantes que querem Témoignage Chrétien tornou-se a tocha da Resistência cristã,
cns a penetrar n l'd
contemporâneo· mant' . as rea I ades do mundo largamente difundida por democratas-cristãos e por militantes
, . em estreita relação com seus leitores,
que as vezes constituem v d d . das juventudes católicas. 51
difusores benévolos er a eiros movimentos, redes de No pós-guerra, La Croix permanece o único diário cató-
e que se reúnem
fluência da imprensa f . , em congressos. A in- lico. Jornal democrata, aberto a todos os grandes problemas
. con esswnal e tanto .
que seus leitores são em era! fiéis m~IO~ na ~edida em da época, difunde uma informação de qualidade. Mas não se
que o coeficiente de di'f ~ , I , na maiOna assmantes, e poderia esquecer que Ouest France, o primeiro diário francês
usao e e evado O . .
em família. O interesse d· . . Jornal cnstão é lido em tiragem, é dirigido por uma equipe de militantes cristãos.
· a Imprensa f ·
apreender o extensíssim I . con essiOnal é primeiro Nos dois extremos encontramos uma pequena imprensa
. o eque de posiçõe I, .
do cristianismo francês F -G s po Iticas e sociais integrista e alguns hebdomadários de esquerda- Témoignage
· · · Dreyfus e J M 't
estruturas dessa im · ai reestudam as Chrétien, 52 Réforme - , mas o principal fenômeno é o desen-
. prensa católica e protestante, a
350
POR UMA HISTORIA POLITICA
RELIGIÃO E POLITICA 351
volvimento de numerosos mensários e hebdomadários dirigi-
. . . motor de certos governos. Variável n~s
dos por militantes que se empenham em fazer a opinião
uniu mUltas mawnas, ~ 'd de o anticlericalismo se esvaiu
0- es e sua mtens1 a ' ·
evoluir. Freqüentemente discretos em matéria de tomadas de
suas express . a' s suas formas mais
posições políticas, a maneira como eles tratam alguns grandes · d'f ça renunciOu · · ·
em benefício da m I eren ' um futuro ao qual é
. -o morreu: tem mesmo
~~~~::~r:s;ta~a:te:~o
problemas da sociedade nacional e internacional, aqueles
relativos à ética e à cultura, é subtendida por um sistema de e que transparece na imprensa.
valores cristãos. Entre os mais lidos figuram Le Pe!erin, La
Vie, Panorama Aujourd'Hui e Clair Foyer para o meio rural. 0 Voto Cristão
Seria necessário acrescentar a estes todos os títulos destinados
O estudo das forças coletlvas ~a~ p d'lante de um aconteci-
às crianças, aos adolescentes, às pessoas mais idosas, e revis- . ' oderia fazer esquecer as
tas especializadas; as Informations Catholiques lnternationa- . d' ·d ·s dos cnstaos
determinações m lVI uaJ. .d . franceses: as eleições que
les, Croissance des Jeunes Nations. Reservadas a um público . 'd' mum a to os os
mento peno ICO co d d voto cristão é de uma
mais intelectual, revistas jesuítas, como as bem antigas Études · 1't' a O estu o o
escandem a VIda po I IC . ..A • dos efetivos envolvi-
e Projet, impõem-se por sua qualidade, mesmo fora dos meios . . 1 d ·do à 1mportanc1a
confessionais. importância cap1ta evl ·s de um quarto dos
, d b tante recente, mm
dos: até um peno o as I m contar os milhões de
Assim a imprensa, com exceção de alguns órgãos minoritá- franceses eram pratlcan · te s regu ares, se
rios, deve ser considerada hoje como agente de modernização praticantes irregulares.
política; entendamos por aí que ela adota uma atitude crítica , . o - e tudo o que precede aponta nesse
mais receptiva em relação à mudança. Ha mu1to temp . . tl'nha relação com
. fT ação re 11g10sa
sentido - sabia-se que a I I d entes permitem medir
Isso não é tudo: muitos trabalhos se basearam, no todo ou 1 ·t 1 Estu os rec
o comportamento e el ora . -. AI . L ncelot em L' ahsten-
em parte, em análises da imprensa confessional. Com base nelas elaçao am a '
a intensidade dessa corr ·, d strou que os católicos
René Rémond escreveu Les catholiques /rançais des années , l France . 11 emon
53 tionnisme electora en . 'd f ceses e portanto, que
trente, que muito contribuiu para a história do período; o média os ran . ,
se abstêm menos que a . I .t ado Podemos pensar
mesmo ocorreu com estudos sobre as campan has ele1tora1s;
. . 14 · no 10
seu voto pesa mUJto · tenor do . .
e e1 _or d · 1 _ "abster-
a questão escolar, a descolonização, Maio de 1968. 55 Nem por que nesse ponto eles seguem as mJunçoes
, o -c ero
mais bem in-
isso se deve menosprezar a imprensa profana. Se há um do- se é uma falta grave" - , e tambem que sao
mínio entre outros em que ela é insubstituível, é o do tegrados socialmente que outros. tões
anticlericarismo, que não poderíamos separar do estudo das - ão é mais elevada nos can
Em compensaçao, a abstenç E lugar de invocar o
forças religiosas, das quais ele é de certo modo o reverso. Que . 1 t - 0 protestante. m
com forte 1mp an aça a explicação
ele foi um fator freqüentemente decisivo das lutas políticas, Alain Lancelot avança um
espírito da Reforma, . 'ta'rios voltados para si
toda a nossa história política o proclama. Ele provocou alguns . ,. de grupos mmon ,
socwpohtJCa: trata-se bstencionismo e um
dos debates mais turbulentos de nossas crônicas parlamentares. G D fus observa que o a
Consultas eleitorais o tiveram como objeto, ele foi a solda que mesmos.
, . E F.- . I rey
.t ado tra d'ICIOna
. !mente de esquerda,
. que
refug1o para um e el or partidos moderados.
se afasta mas am. d·a h esl'ta em votar em ·
352 POR UMA HISTÓRIA POLíTICA 353
RELIGIÃO E POLÍTICA

Mais importante ainda é que, desde os estudos de M. Bru)é.l7 ciçamente orientado para as formaçõe~ ~e di;ei.ta, do
e de Michelat e Simon, sabe-se que o critério de católico pra- integrismo contra-revolucionário, para a ~Hett~ ~lasstca e .o
ticante é o que tem a maior importância na determinação do gaulismo, tradições cujos componentes td~ologtcos. e ~UJÓ~
voto. Michel Brulé escreve que ele é aquele que tem o maior perenidade R. Rémond estudou em Les drmtes e n F1 am ~,
valor preditivo. Assim, mais que a idade, a filiação socioprofis- uma minoria sempre votou nos republicanos, e em segutda
sional, o local de residência, para citar apenas estas variáveis, nos democrata-cristãos.
a filiação religiosa é determinante. F.-A. Isambert, num estudo
Uma questão permanece: os católicos não têm a ~xclusi­
de correlação por departamento, verificou que a ligação entre
vidade do voto na direita nem da filiação aos parttdos de
voto e prática era mais ou menos estreita segundo as regiões,
direita. Será possível que exista secularização completa de
mas que subsistia sempre. 5x Michelat e Simon demonstram que,
alguns valores comuns aos praticantes e aos não-cren.t~s,
qualquer que seja a categoria socioprofissional, registram-se
herdados de um passado histórico comum e de uma expene~­
grandes variações do voto em função do nível de integração
religiosa: cia de vida comum? Encontramos aí fatos de cultura que sao
sem dúvida a explicação última do voto.
o fenômeno recente - que data de meados dos anos
Em todo caso, o apego ao catolicismo parece sempre 60 _ é 0 afastamento de uma parte dos católicos praticantes
prevalecer sobre as determinações sociodemográficas
das organizações de direita. Um em cada quatro aproAximada:
da orientação política. Os fatores sociodemográficos
travam ou acentuam os efeitos do fator religioso, mas mente vota hoje nas formações de esquerda. O fenom~no e
não o substituem, estão sempre em segundo lugar. difícil de interpretar, e está sem dúvida ligado à e:'?luçao da
sociedade e da Igreja e talvez à influência dos mthtantes da
Ação Católica.
Além disso, Michelat e Simon demonstram que o critério
A passagem de uma parte dos católicos para a esq~er?a
religioso também atua nos praticantes irregulares e mesmo
modifica substancialmente os critérios que separam a dtretta
nos não-praticantes que declaram rezar com freqüência.
da esquerda. René Rémond, em Les droites en France, reco-
O voto protestante é mais difícil de determinar. Outrora
nhece que não havia pedra de toque mais infalível para sepa:ar
considerado como um voto majoritariamente de esquerda,
direita e esquerda que a laicidade, mas acrescenta que tambe~
como o provam os estudos de André Siegfried, ele resvala
não há nada cuja função e significação tenham mudado mats
para a direita a partir das eleições de 1951, segundo os re-
em uma geração. Certamente, subsiste uma correlação entre
sultados estabelecidos por F.-G. Dreyfus,-'Y que evoca o
o grau de filiação à Igreja e o voto na direita. Contudo, o fato
declínio do liberalismo protestante fortemente ligado à ideo-
de que um em quatro de seus fiéis praticantes tenha dado seu
logia republicana e radical. Mas ocorre também o declínio do
voto a candidatos da esquerda constitui uma das mudanças
voto anticatólico e a recuperação dos votos pelo gaulismo.
mais fundamentais que o eleitorado francês operou em nossos
Assim, na análise do voto é preciso fazer intervir a di- dias.~> 1 A questão religiosa, a não ser sob seu aspecto escolar,
mensão temporal. Se o voto dos católicos sempre foi ma- não separa mais a direita da esquerda.
354
POR UMA HISTÓRIA POLÍTICA RELIGIÃO E POLÍTICA 355

Uma Questão que Continua a Dividir os Franceses: A Escola .


cnanças da escola
, particular ' se fossem escolarizadas pela
escola pública, custariam mais caro ao Estado, e p~r o~tro
Resta a questão escolar, que é tão atual em 1984 quanto
era em 1880, e que contradiz toda a evolução das relações I d o Estado subvenciona uma quantidade de orgamzaçoes,
a o I'. d m
religiosas ou não. A disputa é filosófica e po ltlca, po~ o e
entre Igreja e política, último vestígio da querela da laicidade
questão a concepção da verdade, do pluralis~o da sociedade,
e das reivindicações confessionais. Ela nasceu, contudo, em
dos deveres respectivos do Estado e dos pais.
condições bem diferentes das de hoje, quando o Estado re-
publicano, para realizar sua missão, não podia deixar de atacar A posição da Igreja permanece imutável ~m sua essên.cia.
os privilégios da Igreja. A única diferença considerável é que ela na~ ata~a mais a
escola pública, no passado qualificada por um bispo de .e~cola
São então dois sistemas de pensamento radicalmente an-
de impiedade e de crime"; ao contrário, marca sua solicitude
tagônicos que se defrontam. A hierarquia católica condena
em relação a ela, assim como em relação a seus nu~erosos
formalmente a laicidade tanto em seu princípio como em suas
. -
professores cnstaos. A pa I av ra epl'scopal não
. bastana,
_ sem.
aplicações. A lei de Deus deve informar o poder e as insti-
dúvida, se os pais ligados à escola confessiOnal nao co~~tl­
tuições políticas. É exatamente de ignorá-lo que se acusa a
tuíssem um formidável grupo de pressão de ~ 0 ~· 000 f~mlhas
laicidade, e o pensamento católico assume uma posição des-
constituídas em APEL, com freqüência maiS Intransigentes
confiada em relação ao domínio crescente do Estado. O pen-
que o episcopado, que usam de todos os meios para chegar
samento leigo forma um segundo sistema igualmente coerente
a seus fins: imensas reuniões de onde às vezes saem palavr~s
e totalmente estranho ao primeiro. A laicidade não é apenas
de ordem provocadoras como a de recusa d o 1mpo~· t o, pressao
.
um quadro jurídico. Ligada a uma filosofia de inspiração
junto a candidatos por ocasião das campanhas eleitoraiS, que
racionalista, a uma definição extensiva do papel do Estado e
. - d e um grupo de pressão parlamentar
acarreta a cnaçao . - a
a uma concepção unitária da comunidade nacional, ela con-
Associação Parlamentar para a Liberdade do Ensmo, que de-
sidera que o ensino leigo deve emancipar os espíritos sem
sempenhou um papel decisivo em 1951.
referência a nenhum absoluto, com exceção da razão, e cons-
tituir o cadinho unificador de bons cidadãos. As APEL tomam geralmente a iniciativa da reivi~dica!ão
e suscitam então a reação do Comitê Nacional de Açao Le.lga,
Paradoxalmente, é no momento em que todo o contencioso
bastante forte ele também para fazer pressão sobre os p~rtldos
entre a Igreja e o Estado é resolvido que a questão escolar
políticos e os parlamentares, organizar reuniões e reumr ~um
volta a ser um problema político de primeira importância, do
. . d o lO ml'lho-es de assinaturas de protesto apos a
ab a1xo-assma
qual René Rémond analisa todas as peripécias sob a IV
votação da lei Debré.
República, enquanto Aline Coutrot estuda a crise de 1958-
1959 que culmina na votação da lei Debré/ 2 posta em questão Há poucos assuntos que suscitam tantas paixões na popula-
a partir de 1972 pelo programa comum da esquerda e a seguir - . ·- pu'bl'1ca ten h a e v olu 1'do consideravelmen-
çao, embora a op1mao .
pelo governo socialista que chegou ao poder em 1981. te desde a Liberação, e hoje cerca de três quartos ~os fra~ceses
sejam favoráveis à escola particular. A defesa le1ga esta_ por-
O problema da alocação de fundos públicos para a escola
tanto se desacelerando, per d cu a pa rt I·d·a quando da votaçao da
particular, confessional em mais de 90%, não é financeiro: as
356 357
POR UMA HISTÓRIA POLíTICA RELIGIÃO E POLITICA

lei Barangé e da lei Debré, e em 1984 suas exigências fizeram . . foram analisadas, mas também através do
malograr o projeto de lei Savary. Muitas vezes despertada pelos cionats tats como s sugerido Ela responde,
. to o que pôde ser apena .
grupos de pressão, a batalha escolar é objeto de debates par- acontectmen ' durante algum tempo
I
ao f aze- o,
A 'as críticas que concorreram
lamentares tempestuosos ao final de negociações extremamente
Para desacreditá-la. _ _
complexas. Às vezes objeto de promessas redobradas, tal como . s escolhas políticas nao S10
Torna-se agora evidente que a , . A • e que elas
o RPF diante do MRP em 1951, carregado de conseqüências d relações socweconomJcas
políticas, como a ruptura entre o SFIO e o MRP em 1951 e simples decalqu~s as_ A , ria do olítico: a análise do voto
valorizam a consJstencJa prop p . olítica tem
a crise de 1984, o debate escolar opõe a esquerda (mas somente - I demonstram amplamente. a p
uma parte dos radicais, sinal entre outros de sua passagem para e a questao esco ar o . deixa de ter relações
, , · mas nem por tsso
a direita) à direita engrossada com votos radicais. São os seu carater propr,'~· né Rémond escreve como introdu-
socialistas, mais que os comunistas, que são os campeões da com outros dommws. Re , · · 1" e nada
dalidade da pratica socJa '
defesa da laicidade em matéria escolar. O fato merece que nos ção: "A política é uma mo_ - ue a análise dos movimentos
detenhamos nele. Como uma tal herança pôde manter sua ilustra melhor esta proposJçao q uma prática so-
. . rcem ao mesmo tempo
atualidade, apesar das mudanças profundas por que passaram confess10na1s que exe 'd - do religioso apreen-
a sociedade política e a Igreja? Permanência surpreendente das cial e política. Através da con:~ee~;;:~oletivos: epi,scopado,
ideologias leigas e anticlericais, mas também razões políticas. de-se as massas, os com_po~t os de ressão. Apre-
A esquerda não pode descontentar os grupos de pressão leiga, imprensa, movimentos, sm~Jcato~~;t~sp da cult~ra política na
ende-se também elementos lmpo . 1 ·cida-
em particular a Liga do Ensino e a FEN, que têm uma grande . I'tsmo, anticlericalismo;· mesmo a1 31
longa duração clenca ção ao
influência sobre os eleitores e que não sobreviveriam sem o ' - tas se defme em re a
de nas suas manifestaçoes concre I . os fenô-
elemento de ligação da laicidade. Os políticos tentaram pôr um . . . O , rio inconsciente tem seu ugar n .
fim definitivo à querela escolar que envenena a vida política. cnstwmsmo. prop 'r d e dos quais se
menos de socialização que foram ana Jsa os
Guy Mollet e Mauricc Deixonne não negociaram em segredo
esboçaram alguns modelos. .
durante cinco anos com a Santa Sé nos anos 50 e Alain Savary
Tudo isso só é possível por uma conver~ência de :Jferent~~
não procurou uma lei de conciliação? Apesar da presença de
d . . I. e métodos que caracteriza hoJe a abor a~em_
elementos moderados de um lado e de outro, os católicos estão tsc1p mas . d d d . s pnme1ras
mesmo francamente divididos em relação à questão, os acon- político e cuja importância era s.ublm_ha _a es e a s rimór-
tecimentos de 1984 mostraram a força dos grupos de pressão páginas, da sutileza da psicossocw_log.'a amda e: s~:~: estudo
e o peso da base sempre pronta a se mobilizar. Uma solução di os à necessária abordagem quantJtatJvl ~· dl.a .tdeodlegdas aborda-
dos meios de comumcaça . -o · Só a mu tlp ICJ a . , 1
que aparecesse como a vitória de um campo sobre o outro teria
poucas chances de ser duradoura. gens permite aprofundar uma realidade sempre mutave .
No último século, as relações entre re rJgJao ·- e política d' tnão-
. .
pararam de se modificar, mas .la ' -o é certo que
. . . se tenham ,. JSmor-
en
A história do político adquire dimensões novas ao levar
dido. Sem dúvida, algumas formas de rehgwsJdade estao
em conta o religioso, não somente sob suas formas institu-
rendo, mas a própria modernidade é um grande desafio em
358 POR UMA HISTÓRIA POLÍTICA

que as Igrejas podem desempenhar um papel. E. Poulat eleva Notas __________________________________


o debate em Une Éxlise éhranlée:

"Torna-se claro que se procura uma nova aliança não


I. André Siegfried, Géographie électorale de /'Ardeche sous la li/"
mais entre o homem e Deus, mas da humanidade com
ela mesma e com a natureza. E a religião em tudo Répuhlique, Cahier FNSP, Paris, Collin, 1948. Nesta e nas próximas
isso? E o cristianismo? Eles participam da imensa notas as seguintes siglas foram utilizadas: RFSP: Revue Française de
redistribuição em curso no planeta. Trunfo inesperado Science Politique; FNSP: Fondation Nationale des Sciences Politiques;
para a Igreja, para as Igrejas, para outros, antigos e e PFNSP: Presses de la Fondation Nationale des Sciences Politiques.
novos. Desafio fantástico pelos problemas inéditos de 2. Jean-Marie Mayeur (sob a direção de), L' histoire religieuse de la
todas as ordens que levanta. O jogo aparece incom- France X/X'-XX'' s.: pmhlemes et méthodes, Paris, Beauchesne, 1975.
paravelmente mais aberto que se imaginava há muito
3. Émile Poulat, Une Église éhranlée. Chanf!,ement, conflit et
pouco tempo."
continuité de Pie XII à .I ean-Paulll, Paris, Casterman, 1980.
4. François Lebrun (sob a direção de), Histoire des catholiques en
E o futuro das relações entre religião e política também. France du XV' siecle à nos jours, Toulouse, Privat, 1980.
5. André Latreille e René Rémond, Histoire du catholicisme en
France, époque contemporaine, 2ª ed. Paris, SPES, 1964.
6. Adrien Dansette, Histoire re/igieuse de la France contemporaine,
Paris, Flammarion, 1952.
7. Adrien Dansette, Destin du catholicisme français, Paris,
Flammarion, 1957.
8. Ver especialmente a bibliografia organizada por François-Georges
Dreyfus em Forces rc/igieuses et attitudes politiques dans la France
contcmporaine, Cahiers FNSP, Paris, Co1in, 1965. Ver também as orga-
nizadas por Jean Baubérot em sua obra Le pouvoir de contester, Paris,
Labor et Fides, 1984, e por Jean-Marie Mayeur, L' histoire religieuse de
la France X/X''-XX'' s., op. cit.
9. Stuart R. Schram, Protcstantism and politics, A1ençon, Corbiere
et Hugain, 1954.
I O. Roge r Mehl, Le protcstant ji·an~·ais, Paris, PUF, 1955.
11. Crises ct mutations institutionnel/es dans /c protestantisme
fi'ançais, Colloque de Sociologie du Protestantisme, Paris, Librairie Pro-
testante, 197 4.
12. Jean Baubérot, Lc pouvoir de contester, op. cit.
360
POR UMA HISTÓRIA POLITICA RELIGIÃO E POLÍTICA
361

13. Jacques Capdevielle, Élisabeth Dupoirier, Étienne Schweisguth


27. Jean-Marie Mayeur, "Documents de l'épiscopat", in Forces
e Colette Ysmal, France de f?Ouche vote à droite, Paris, PFNSP, 1978.
religieuses et altitudes politiques dans la France contemporaine, op.
14. Guy Michelat e Michel Simon, Classe, religion et comportement cit.; "L'évolution des positions des autorités religieuses en matiere
politique, Paris, PFNSP e Éditions Sociales, 1977.
politique", Politique etfoi, Strasbourg, Cerdic-Publications, 1972.
15. Jacques Sutter, La vie relif?ieuse des François, trente-trois ans
28. Marcel Merle (sob a direção de), Les ÉE?lises chrétiennes et la
de sondages d' opinion, Paris, Éditions du CNRS, 1984. décolonisation, Paris, Colin, 1967.
16. Annick Percheron,L' univers politique des enfants, Paris, PFNSP,
29. Aline Coutrot, "Les mouvements confessionnels", in Forces
1974.
relif?ieuses et altitudes politiques dans la France contemporaine, op. cit.
17. Henri Madelin, Les chrétiens entrent en politique, Paris, Éd. du
30. Jeanne Caron,Le Sil/on et la démocratie, 1894-1910, Paris, Plon,
Cerf, 1975.
1967.
18. Guy Michelat e Mie hei Simon, Classe, religion et comportement
31. Marie-Aude Poisson, La Vie noul'e/le, dissertação inédita, 1972.
politique, op. cit.
32. Georges Casal is, "La jeunesse protestante en zone non occupée",
19. René Rémond, "Droite et gauche dans le catholicisme français
in É'glises et chrétiens dans la Seconde Cu erre mondiale: la France, op.
contemporain", RFSP, nº 3 e 4, 1958.
cit.; A. Michel, "La jeunesse chrétienne face au nazisme", in ÉE?lises et
20. Jean-Marie Donégani, "L'appartenance au catholicisme français chrétiens dans la Seconde Guerre mondiale: la France, op. cit.
du point de vue sociologique", RFSP, abril de 1984.
33. Les Églisesfrançaises et la déco!onisation, op. cit.
21. René Rémond (sob a direção de), Fon·es relif?ieuses et attitudes 34. Marie-Josephe Durupt, Les mouvements d' action catholique
politiques dans la France contemporaine, Cahier FNSP, Paris, Colin, 1965.
facteurs d' évo/ution du monde rural, trabalho depositado na biblioteca
22. Aline Coutrot e François-Georges Dreyfus,Lesforces relif?ieuses da FNSP, 1963.
dans la société.fi'ançaise, Paris, Colin, 1966.
35. "Les militants d'origine chrétienne", Esprit, abril-maio, 1977.
23. André Deroo, L' épiscopat.fi'ançais dans la mêlée de son temps
36. Gérard Adam, La CFTC 1940-1958, histoire politique et
1930-1954, Paris, Bonne Presse, 1955.
idéologique, Cahier FNSP, Paris, Colin, 1964.
24. Jacques Duquesne, Les catlwliques sous I' Occupation, Paris,
37. Paul Vignaux, De la C FTC à la C FDT Syndica/isme et socialisme,
Grasset, 1966.
Paris, Éditions Ouvriêres, 1980.
25. Xavier de Montei os, M. Luirard, François Delpech e Pierre Bolle 38. Eugene Descamps, Militer, Paris, Fayard, 1971.
(sob a direção de), Églises et chrétiens dans la Seconde Cu erre mondiale
39. Hervé Hamon e Patrick Rotman, La deuxieme gauche, Histoire
dans la région Rhône-Aipes, Actes du Colloque de Grenoble, Lyon, intel/ectuel/e et politique de la CFDT, Paris, Ramsay, 1982.
Presses Universitaires de Lyon, 1978; ÉE?lises et chrétiens pendant la
40. François Bazin, "Les députés MRP élus les 21 octobre 1945, 2
Seconde Guerre mondiale dans /e Nord-Pas-de-Calais, Actes du
juin et I O novembre 1946", 1tinéraire politique d' une f?énération
Colloque de Lille, Lille, 1977, Lille, Revue du Nord, abril-junho, julho-
catholique, tese de 3º ciclo registrada na biblioteca da FNSP
setembro de 1978; Églises et chrétiens dans la Seconde Cu erre mondia/e,
41. Jean-Marie Donégani, "De MPF en PSU un mouvement entre en
Actes du Colloque de Lyon. Presses Universitaires de Lyon, 1982. socialisme", Autrement, Paris, fevereiro de 1977.
26. Claude Langlois, "Le régime de Vichy et ]e clergé d'apres les
42. Jean-Marie Donégani, "Itinéraire politique et cheminement
Sem a ines religieuses des dioceses de la zone libre", RSFP, agosto 1972. religieux ", RFSP, agosto-outubro de 1979.
362
POR UMA HISTÓRIA POLíTICA RELIGIÃO E POLITICA 363

43. "La gauche des chrétiens •·, Autrcment, Paris, fevereiro de 1977.
56. Alain Lancelot, L' ahstentionnisme électoral cn France, Paris,
44. Forces religieuses et altitudes politiques dans la France
Cahier FNSP, Colin, 1968.
contemporaine, op. cit.
57. Michel Brulé, Sondages, Paris, IFOP, 1965.
45. Jacqueline e Philippe Godfrin, Une centra/e de la presse
58. François-André Isambert, "Comportement politique et altitudes
catholique: la maison de la Bonne Presse et ses puhlications, Paris, PUF,
1965. religieuses", Politique etfoi, Strasbourg, Cerdic-Publications, 1972.
59. Aline Coutrot, François-Georges Dreyfus, Lesforces religieuses
46. René Rémond, "L' évolution du journal LaCroix et son rôle aupres
dans la société fi"ançaise, Paris, Colin, 1966.
de I 'opinion publique française 1919-1939", Bulletin de la Société
60. René Rémond, Les droites en France, Paris, 1982.
d'Histoire Moderne, 12 2 ano, sessão de I 2 de junho de 1958; vertam-
61. René Rémond, "La"icité et question scolaire dans la vie politique
bém André Metzger, "La Croix" et la vie politique fi"ançaise, trabalho
française sous la IVc République", La lai"cité, Université d'Aix-Marseille,
depositado na biblioteca da FNSP, 1970.
Paris, PUF, 1960.
47. Jean-Claude Delbreil, La Vie intellectuelle face aux prohlemes
de son temps, DES, 1965. 62. Aline Coutrot, "La lo i scolaire de décembre 1959", RFSP, junho
de 1963.
48. Aline Coutrot, Unjournal, un comhat, Paris, Ed. Cana, 1982.
49. Entre os numerosos trabalhos consagrados a Esprit, citamos
Michel Winock,Histoire politique de la revue "Esprit" ,1930-1950, Paris,
Éd. du Seuil, 1975.
50. Françoise Mayeur, "L'Auhe", étude d' un journal d' opinion,
Cahier FNSP, Paris, Colin, 1966.
51. Renée Bédarida, Les armes de I' esprit, "Témoignage chrétien",
1941-1944, Paris, Éditions Ouvrieres, 1977.
52. Jean-Pierre Gault,Histoire d' unefidélité: "Témoignage chrétien",
1944-1956, Paris, Éditions du Témoignage Chrétien, 1963.
53. René Rémond,Les catholiquesfi·ançais des années frente, Paris,
Ed. Cana, 1979.
54. Ver, por exemplo, René Rémond, "Les cathol iques et les élections ",
Le réf"érendum de scptemhre et les élections de novcmhrc 1958, Cahier
FNSP, Paris, Colin, 1960; e Aline Coutrot, "Les catholiques et la cam-
pagne électorale", "L'élection présidentielle, 5-19 décembre 1965",
Cahier FNSP, Colin, 1970.
55. Aline Coutrot, "Des catholiques s 'expriment à travers des
communiqués de presse ", Politique et prophétisme 1968, Desclée de
Brower, 1969.

Você também pode gostar