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A ARTE TUMULAR: TÚMULOS DE ALCOBAÇA DE D. INÊS E D.

PEDRO A ESCULTURA GÓTICA


portuguesa tem uma infinidade de pontos de interesse, entre eles, os chamados TÚMULOS DE
ALCOBAÇA – referentes a D. PEDRO E A D. INÊS PIRES DE CASTRO. Não se sabe exactamente
qual a origem destes túmulos. A arte desta jóia da escultura tumular medieval portuguesa
pode ser francesa, italiano-gótica, castelhana, aragonesa, catalã, gótico, mudéjar ou
muçulmana. O mais provável é que nestas arcas funerárias trabalhassem vários mestres.
Observar Pedro e Inês assim coroados é poder desfrutar de uma das mais belas páginas da
nossa História. Religião/profano, amor/ódio, política/reino, mentalidade/execução artística, de
um século em crise. O ESTUDO DOS TÚMULOS DE ALCOBAÇA APOIAM-SE EM DIVERSAS
FONTES: documentais, cronisticas, literárias e monumentais ou tumulares. O MOSTEIRO DE
ALCOBAÇA, mandado construir por D. Afonso Henriques, foi o primeiro monumento onde se
afirmou o gótico. Neste monumento surgem os arcobotantes porque os contrafortes não são
suficientes para suportar a abóbada, frestas a iluminar a abóbada central, a nave central é o
lugar do culto, atrás do altar-mor temos o diambulatório, contrafortes, carácter defensivo, a
rosácea possui uma parte interior que não é originária, os andares superiores não são góticos
mas sim neoclássicos, a altura das naves e das absides cresce, abóbadas de nervuras de forma
a distribuir o peso pelas abóbadas, o pórtico tem arcaduras e capitel bastante simples, o arco é
quebrado. O QUE ESTA POR TRAS? Um PROBLEMA POLÍTICO LIGADO A UMA QUESTÃO
AMOROSA. Rei e Rainha encontram-se num espaço dedicado aos vivos mas também à
memória dos mortos. D. Pedro envolveu-se com D. Inês, envolvimento este que era
condenável. A família de D. Inês era poderosa. Começam a surgir rumores que a sua família
queriam que se casassem. Há quem diga que houve casamento em segredo. No entanto,
quando chamaram as testemunhas, ninguém sabia as datas do casamento, o que era muito
estranho. Na idade média haviam muitos casamentos clandestinos – CASAMENTOS A FURTO,
onde as pessoas fugiam para casar. Como foram muitos os casos, a certa altura, considerou-se
que como não há nada a fazer o melhor é aceitar esses casamentos. Então a pergunta era:
QUANDO É QUE SE CASARAM? Podiam não saber o dia, mas dizia-se sp a 01 de Janeiro. Neste
caso de D. Inês as testemunhas nem disso sabiam. A questão política é que se ele se casasse,
se matassem a Fernando (o que seria bem possível), poderia haver uma ligação com Espanha
o que por sua vez poderia provocar a perda da independência. Por isso, deu-se morte a D.
Inês. Os indivíduos que o fizeram foram recambiados para Espanha: Diogo Lopes Pacheco –
conseguiu fugir; Pêro Coelho; Álvaro Gonçalves.

O TÚMULO DE D. INÊS: Inês não está só no seu túmulo, tem a ladeá-la anjos e três cães que
são o símbolo da fidelidade e acompanham-na como certamente o fizeram em vida. O túmulo
assenta sobre seis animais, que têm o rosto humano e o corpo de animal, que representam
os homens que a mataram. Porém, há um que tem cara de macaco e simboliza a luxúria,
indicando que D. Inês foi uma dama da corte carregando toda a carga pejorativa que daí
advém. O túmulo de D. Inês é constituído por 12 nichos nos DOIS FRONTAIS, sendo ali
desenvolvido o tema da vida de Cristo desde o anúncio do seu nascimento até à crucificação .
Este é o 1° GRANDE TEMA que suporta o túmulo. O sofrimento de Inês recorda o de Cristo,
ambos sofreram e morreram por "uma causa justa". O FACIAL DOS PÉS retrata o grande dia,
o dia do Juízo Final e procura traduzir a seguinte mensagem: toca a todos os grupos sociais. Só
os de indivíduos: os bons e os maus. A RESSURREIÇÃO ESTÁ ELABORADA SEGUNDO 3
PATAMARES: a ressurreição propriamente dita está no PATAMAR INFERIOR que ocupa a parte
esquerda, no centro do PATAMAR INTERMÉDIO é feita a separação. O destino dos bons está
na esquerda e em direcção a JERUSALÉM CELESTE; os outros (maus) precipitam-se para a
direita e para baixo, para o abismo (inferno) aqui representado por LEVIATÃ. No PATAMAR
INTERMÉDIO, ao centro, está Cristo e na parte superior vemos a Jerusalém prometida, a
Virgem como testemunho de uma nova vida. D. INÊS TEM NA CABEÇA UMA COROA o que faz
retirar qualquer dúvida sobre a sua realeza. A fama da beleza de D. Inês fez com que O
TÚMULO FOSSE PROFANADO POR VÁRIAS VEZES. A primeira vez foi profanado por D. João III
e mais tarde por seu filho D. Sebastião. A última vez é profanado durante a invasão francesa.

O TÚMULO DE D. PEDRO: D. Pedro mostra um rosto austero, vigilante e atento, pronto a


intervir a qualquer momento, não permitindo que Inês corra novamente perigo. O seu túmulo
está ladeado de anjos e o seu fiel cão aos pés. Os NICHOS FRONTAIS retratam a história de S.
Bartolomeu que era o santo da devoção de Pedro. O FACIAL DOS PÉS está dividido em 2
nichos. D. Pedro recebe os últimos sacramentos. O FACIAL DA CABEÇA do túmulo de D. Pedro
representa uma rosácea em forma de roda da fortuna. Nesta rosácea existe uma "edicola"
onde D. Inês é decapitada. A representação da sua morte, no túmulo de D. Pedro, sugere que
D. Pedro também se sente culpado pela queda fatal da amada. NOTAS RELEVANTES: Assim,
D. Pedro ordena a construção de dois túmulos. Tudo isto retrata a história de um drama… É
um tema que incomoda… Encontramos a roda da fortuna ou a roda da sorte, onde temos o
apogeu e a decadência dos implicados. D. Pedro e Inês. Temos uma obra-prima internacional –
Tema que deve ser visto na perspectiva político-passional mas também do ponto de vista
artístico. CARACTERÍSTICAS E SIMBOLOGIA: Não se sabe quem são os autores. O túmulo de D.
Inês é concluído em 1361 e o túmulo de D. Pedro foi construído entre 1361-1366. Estátua
jacente, depois passa a jazente (aqui jaz). A temática principal destes túmulos é um hino à
inocência. Isto nota-se pelo tema principal desenhado nas edículas, que retratam a vida,
paixão e morte de Xto. A razão é que Xto amou e teve a morte, com Inês passou o mesmo,
fazendo assim, de certa forma uma referência ao martírio de Inês. Por isso, transmite-se a
ideia de uma Inês calma, serena, rodeada por anjos. Apresenta-se a Inês com um símbolo
régio chamado o BALDAQUINO (é um símbolo de majestade). Com este símbolo, de alguma
forma quis-se dizer que a senhora foi rainha, senão em vida, o é em morte. Há uma
REPRESENTAÇÃO DE UM MACACO (que representa a luxúria) o que de alguma forma foi uma
crítica e forma de dizer que ela tb foi culpada pela sua morte. Significa que alguém estava a
condenar a relação de D. Ines com o Rei… NA BASE DO TÚMULO ESTÃO OS CONSELHEIROS
DO REI que provavelmente estiverem presentes na morte. TOPO DOS PÉS (FACIAL DOS PÉS)
JUÍZO FINAL: por um lado a ressurreição (à direita em direcção a JERUSALÉM CELESTE) e em
baixo e à esquerda as pessoas estavam a cair para o LEVIATÃ (LEVIATÀ – monstro marinho
descrito no livro de Job – representa o inferno). Isto pretende transmitir uma mensagem na
época onde a PESTE NEGRA tinha devastado a muitas pessoas. Isto tinha como objectivo
trazer à lembrança a necessidade da proximidade com Deus porque de repente, com tantas
crises muita gente desaparece. Uma das interpretações que se fazia é que a peste era um sinal
enviado por Deus por terem morto a Xto inocentemente – a culpa era dos judeus.

D. PEDRO – tem um ar vigilante e atento pronto a intervir em qq momento para que Inês não
corra novamente perigo, pois sempre disse que não deixaria que ninguém fizesse mal à D.
Inês. Ladeado de anjos e com um cão (LEBRÉU – especialista em detetar lebres). Aparece
também na ESCULTURA S. BARTOLOMEU padroeira dos gagos pois dizia-se que D. Pedro era
bastante gago. NO FACIAL DOS PÉS aparece D. Pedro a receber os últimos sacramentos.
NUMA PARTE DO FACIAL DE CIMA percebe-se a forma como foi decapitada, um nobre é
nobre até ao fim, por isso, a morte de um nobre é sp a decapitação; não poderia ser o
enforcamento, etc. No entanto, a representação da sua morte, no túmulo de D. Pedro, sugere
que este tb se sentiu culpado pela sua morte. D. Pedro expressou a sua vontade que os dois
túmulos fossem colocados na igreja do mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, mas lado a lado,
como se de uma sepultura conjugal se tratasse. Houve um iluminado que nos anos 60 separou-
os e agora um está numa ponta e outro na outra. O TÚMULO DE D. INÊS FOI PROFANADO
POR TRÊS VEZES – profanar é muito forte porque na campa não se toca (uma no tempo de D.
Miguel; outra na época de D. Sebastião; e por fim pelos invasores franceses no inicio do século
XIX).

ANÁLISE CRÍTICA À PROSA DOUTRINAL DA CORTE. Com o advento da Centúria de


Quatrocentos, Portugal entrou num período extraordinário de produção literária extra-muros
universitários. O “império da oralidade”, que dominava até então, vai perder terreno face ao
incremento dos trabalhos escritos. Como prova disso é que, nesta altura, já estavam
implantadas as corporações de livreiros e de escribas. Para isto se tornar possível a Corte
desempenhou um papel fundamental, que está relacionado com o casamento de D. João I com
Dona Filipa de Lencastre (proveniente de um ambiente cultural mais evoluído e diversificado).
Assiste-se, deste modo, a algo de novo do ponto de vista cultural em Portugal. Antigamente a
Corte era vulgar, os serões baseavam-se em cantigas de amigo ou de amor; Dona Filipa de
Lencastre reage contra este estado das coisas pela sua cultura. Começou por introduzir um
clima intelectual bastante elevado, favorecendo que os temas nacionais fossem debatidos na
Corte (questões de índole teórica, doutrinária, político-moral, religiosa). O mesmo fazendo
com a educação de seus filhos. Chamou-se-lhes de “feliz geração” pela qualidade intelectual.
Desde os reis (D. João e D. Duarte) aos infantes (D. Pedro e D. Henrique) todos se tornaram
escritores ou homens empenhados na tradução direta ou indireta de obras. Até aqui muitos
dos reis assinavam com uma cruz, estávamos na época da pancada e da conquista, por isso o
importante era saber combater, pois escrever e interpretar cabia aos conselheiros do rei, que
eram os bispos. Estamos perante uma nova era de governação. Alguns trabalhos desta época
são:

“O LIVRO DA MONTARIA”, DE D. JOÃO I (um tratado sobre o desporto da caça, abordando a


sua atividade lúdica e a sua vertente paramilitar); “ENSINANÇA DE BEM CAVALGAR TODA A
SELA” (uma obra de instrução didática, pedagógica e social destinada à nobreza) e “LEAL
CONSELHEIRO” (considerado por muitos o primeiro tratado de filosofia em português, é um
repositório de conselhos de índole diversa, como ideias morais e filosóficas) de D. Duarte.

RUI DE PINA: D. DUARTE (CRÓNICA) D. Duarte esteve, desde muito cedo, associado ao ofício
da governação (Finanças e Justiça), estando ao lado do pai, D. João I e, desta forma, recebeu
uma vasta experiencia em matéria de funcionamento das alavancas do poder e do Estado que,
certamente, lhe foram úteis quando assumiu em definitivo o poder, a 15 de agosto de 1433.
Do ponto de vista literário e artístico, D. Duarte foi ainda mais importante que D. João I. Na sua
biografia, escrita pelo cronista Rui de Pina, este descreve D. Duarte da seguinte maneira: alto e
forte; homem muito humano; no campo da Corte, na paz a na guerra, um perfeito príncipe;
era uma pessoa ponderada e madura, com bastante sentido de humor; cavaleiro de ambas as
artes (brida e ginete); foi um príncipe muito católico e amigo de Deus. Contudo, este retrato
poderia ter sido pintado de outra maneira, pois o seu curto reinado foi marcado por algumas
vicissitudes menos favoráveis, nomeadamente a Batalha de Tanger, uma derrota profunda
para o reino português (D. Henrique, comandante da expedição, é obrigado a aceitar a
rendição imposta pelos mouros; D. Fernando é capturado e morto, D. Duarte sente-se culpado
pela morte do irmão, acabando por morrer pouco tempo depois). O rei acaba assim a sua vida
amargurado, triste e desiludido, algo não relatado pelo cronista Rui de Pina. Uma crónica
significa um trabalho em honra de alguém, um trabalho laudatório relativamente ao
personagem ali contemplado. É um trabalho que visa, essencialmente, o registo da memória
dos reis, tratando apenas dos elementos positivos do monarca, omitindo o que é menos bom.

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