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Atenção à saúde

da criança com
Paralisia Cerebral
Apresentação

Esta cartilha é um projeto do Programa de


Educação Turorial da Faculdade de Medicina
da Bahia (PET-Medicina UFBA) que tem por
objetivo a divulgação da paralisia cerebral
entre profissionais de saúde e de educação.
O intuito é introduzir conceitos importantes
sobre essa condição e alertar sobre as
oportunidades de intervenção de diferentes
profissionais para melhoria da qualidade de
vida das pessoas com paralisia cerebral. Este
projeto foi realizado com o apoio do Núcleo
de Atendimento à Criança com Paralisia
Cerebral (NACPC) e foi viabilizado pelo
financiamento da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB),
através do Edital Nº 28 / 2013.

PET-Medicina UFBA
Salvador, novembro de 2016
Novembro de 2016

Pesquisa científica e texto


Programa de Educação Tutorial PET-Medicina UFBA

Revisão
Programa de Educação Tutorial PET-Medicina UFBA
Daniela Matsuda
Daniela Caribé

Programação visual
Gustavo Paz

Ilustração
Mariane Ventura (desenho)
Gustavo Paz (cor e vetorização)

Fotografia
Núcleo de Apoio à Criança com Paralisia Cerebral

Programa de Educação Tutorial PET-Medicina UFBA


Faculdade de Medicina da Bahia, Universidade Federal da Bahia.
Anexo I da FMB - Dra. Rita Lobato Velho Lopes.
Av. Reitor Miguel Calmon, s/nº, Vale do Canela, CEP: 40110-100,
Salvador, Bahia, Brasil.
Email: petmeficinaufba@gmail.com.
Endereço web: petmedicinaufba.blogspot.com.br
Índice

Definição de Paralisia Cerebral 4

Etiologia e fatores de risco 5

Diagnóstico 6

Momento da notícia 8

Classificações 10

O tratamento e a equipe multidisciplinar 14

A escola e sua importância 22

A família 25

A Paralisia Celebral na Atenção Básica a Saúde 26

Fique atento 28

Referências 29
Definição de Paralisia Cerebral

A paralisia cerebral (PC), também conhecida como encefalopatia


crônica não progressiva da infância, é um dos mais importantes e
frequentes problemas neurológicos da infância, sendo a sua
prevalência de 2-2,5 por mil nascidos vivos em países deselvolvidos e
uma taxa de 7 por mil nos países em desenvolvimento. Atualmente é
definida como um grupo de distúrbios do movimento, do tônus e da
postura com etiologia pré, peri ou pós-natal que afeta o sistema
nervoso central em fase de maturação estrutural e funcional.

A desordem motora na PC pode ser acompanhada por


distúrbios sensoriais, perceptivos, cognitivos, de comunicação e
comportamental, por epilepsia e por disfunções muscoesqueléticas
secundárias.

Entretanto, nem sempre todos esses distúrbios estão presentes.


É importante ressaltar que não há correlação direta entre o
repertório neuromotor e o repertório cognitivo e a associação
inadequada destes pode gerar atitudes preconceituosas.

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ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO
As causas de Paralisia Cerebral estão divididas, esquematica-
mente, em três grupos: fatores pré-natais, perinatais e pós-natais,
onde os dois primeiros são os que possuem maior relação com a PC.

As etiologias mais comuns são as seguintes:


- Infecções congênitas, onde o grupo “TORCH” (toxoplasmose,
rubéola, citomegalovírus, herpes e outras, incluindo sífilis e varicela)
apresenta os agentes infecciosos mais prevalentes;
- Agressões hipóxicas ou isquêmicas agudas e crônicas, sendo
que a presença de asfixia anteparto pode estar relacionada a quase
50% das etiologias de PC;
- Hemorragia peri/intraventricular;
- Malformações no sistema nervoso central;
- Vasoespasmos e tromboembolia de diversas origens;
- Traumatismo craniano;
- Prematuridade, fator mais prevalente, encontrada em até 70%
dos casos.

Os principais fatores de risco identificados para paralisia cerebral


são o baixo peso ao nascer; a restrição de crescimento intra-uterino;
infecções e hemorragias anteparto, que são encontradas em até 28%
dos casos; além de patologias placentárias graves e multiparidade,
fatores encontrados em 20% casos.

Assim, é importante ressaltar, que o diagnóstico etiológico da


Paralisia Cerebral é de difícil determinação, devido ao grande
número de fatores de risco que podem estar associados, devendo-se
estar ciente de que essa é uma condição clínica que, normalmente,
apresenta etiologia complexa e múltipla.

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Diagnóstico

O diagnóstico é eminentemente clínico e feito pelo médico a


partir de desordens do movimento e da postura da criança. Um dos
marcadores importantes para o diagnóstico da paralisia cerebral são
os “movimentos globais anormais” em que há a presença de
repertório motor e padrões posturais diferentes do esperado para o
desenvolvimento típico da infância. Isso explica a importância da
atenção do médico na marcação dos sinais de desenvolvimento na
caderneta da criança, a fim de que as alterações sejam percebidas
precocemente. Inclusive, é importante estar atento a possíveis
déficits cognitivos, já que alterações motoras podem não ser
evidentes.

Alterações do tônus, como espasticidade, discinesia e ataxia são


os principais sinais clínicos da paralisia cerebral e, por isso, merecem
maior atenção durante a consulta da criança. Os principais
marcadores para o diagnóstico de paralisia cerebral são os seguintes:
hiper ou hipotonia; hiper ou hipocinesia; hiperreflexia; presença de
movimentos involuntários, recorrentes e incontrolados; perda da
coordenação; alteração de força e ritmo do movimento; e a presença
de reflexos patológicos. Movimentos atípicos e involuntários se
manifestam, normalmente, em braços, pernas, pescoço e tronco, em
sequências e velocidades variáveis, sendo eles uni ou bilaterais e, em
sua maioria, contínuos.

Em casos mais leves de PC, entretanto, nem sempre estarão


presentes alterações motoras evidentes e características. As crianças
podem apresentar epilepsia ou déficit cognitivo, com ou sem
distúrbios de comportamento.

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Exames complementares podem indicar causas da PC como por
exemplo, a sorologia TORCHS, na detecção de rubéola, toxoplasmo-
se, citomegalovírus, herpes, sífilis e outras doenças. Exames radioló-
gicos como a USG transfontanela, tomografia computadorizada, res-
sonância magnética podem ser utilizadas não só para confirmar
lesões neurológicas mas também para excluir outras patologias,
embora muitas vezes esses exames possam não apresentar lesões
compatíveis com os achados clínicos, sendo necessário manter o
diagnóstico inicial.

O diagnóstico deve ser realizado o mais precoce possível, para


que as diferentes terapias possam ser iniciadas, havendo assim o be-
nefício da grande capacidade que o cérebro tem de se “remodelar”
nos primeiros meses de vida da criança. A paralisia cerebral costuma
se manifestar antes dos 18 meses de idade, mas muitas vezes somen-
te após os 24 meses é que o diagnóstico pode ser consolidado,
devido à plasticidade cerebral típica desse período.

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Momento da notícia

Durante o nascimento de uma criança, toda a preocupação da


família é com o bem estar e a saúde. São muito comuns as perguntas:
“meu filho está bem?” ou “foi tudo certo no parto?”. E a cada consulta
de seguimento e acompanhamento, as perguntas se repetem
quanto ao desenvolvimento e crescimento da criança.

Quando o bebê está saudável, as perguntas são fáceis de serem


respondidas. Mas, por outro lado, quando existe algum sinal de
problema, aparecem as dificuldades, como a apreensão da família
pela necessidade de buscar respostas e acolhimento no profissional
que a atende, além da dificuldade do profissional que necessita dar a
notícia e atuar de forma acolhedora.

O momento da notícia é de grande delicadeza para a equipe de


saúde e a família da criança. O profissional deve oferecer informações
suficientes quanto ao diagnóstico, permitindo melhor aceitação e
abrindo horizontes para as terapias. É importante informar os dados
sobre o tratamento e as instituições que o realizam.

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Os profissionais envolvidos devem ser muito cautelosos no mo-
mento de dar o diagnóstico aos cuidadores, de forma a ampará-los e
amenizar o choque, escolhendo o momento adequado para tal.
É importante salientar que a paralisia cerebral é uma doença de
múltiplos espectros que envolve diferentes quadros clínicos, e, por-
tanto, existem várias terapias, não cabendo ao profissional efetuar
qualquer tipo de prognóstico.
O Ministério da Saúde salienta quatro diretrizes para o momento
de dar a notícia:

1. O diagnóstico de paralisia cerebral deve ser feito pelo médico.

2. A comunicação à mãe deve ser feita preferencialmente na


presença do pai ou, na sua ausência, de outro familiar.

3. O local deve ser privado e estar livre de interrupções.

4. O pediatra deve ter tempo disponível para fornecer informa-


ções quanto ao diagnóstico, sinais, sintomas e tratamento.

ATENÇÃO!

O diagnóstico de paralisia cerebral pode não ser possível no


nascimento. Mas, diante de fatores pré ou pós natais predisponentes,
ou de sinais e sintomas clínicos, a família deve ser alertada.

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Classificações

A Paralisia Cerebral pode ser classificada de várias formas devido


às diversas apresentações. Podemos classificar quanto à topografia
da lesão, ao grau de comprometimento e às características
anatomoclínicas.

Distribuição topográfica

Distintas partes do corpo podem ser acometidas pela PC, sendo


que as consequências clínicas e funcionais dependem da área
acometida no cérebro, o que resulta em classificações topográficas
específicas, como quadriplegia, hemiplegia e diplegia.

Grau de comprometimento

O comprometimento neuromotor da criança também pode ser


caracterizado como leve, moderado ou severo a partir da análise do
seu padrão de locomoção.
A PC leve possui alterações consistentes, mas que não limitam as
atividades usuais; a moderada é definida como dificuldades claras
em atividades diárias; e a severa, como limitação para todas as
atividades de vida diária.

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Características anatomoclínicas

Essa divisão caracteriza a PC em 04 espectros:

A PC espástica é ocasionada por lesão no sistema piramidal,


sendo caracterizada por hipertonia, hiperreflexia, sinal de Babinski
positivo e diminuição da força motora de forma localizada ou
generalizada. É predominante em crianças pré termo, sendo o tipo
mais comum de PC.

A PC discinética se caracteriza por movimentos e posturas


atípicas, como coreoatetose. Essas manifestações involuntárias
acontecem principalmente no início dos movimentos, por exemplo,
quando o indivíduo tenta iniciar a marcha. Tem sua etiologia por
lesão no sistema extrapiramidal, especialmente nos núcleos da base,
substância negra e núcleo subtalâmico.

Já o tipo atáxico é caracterizado por disfunção cerebelar que


gera importantes alterações de equilíbrio e na coordenação, em
associação a hipotonia muscular generalizada. Os pacientes
habitualmente apresentam marcha com base alargada e tremor
intencional.

Nas formas mistas, pode-se encontrar a associação das manifes-


tações anteriores com combinação dos distúrbios: piramido-extrapi-
ramidais, piramido-atáxicos e piramido-extrapiramidais-atáxicos.

A ESCALA DE FUNÇÃO MOTORA


O GMFCS (Gross Motor Function Classification System) é a escala
funcional mais utilizada mundialmente e define cinco diferentes níveis de
função motora, levando em consideração as habilidades funcionais para as
seguintes faixas etárias: menores de 2 anos; entre 2 e 4 anos; entre 4 e 6 anos;
entre 6 e 12 anos e entre 12 e 18 anos.

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Abordagem biopsicossocial e a CIF

A definição de saúde dada pela Organização Mundial de Saúde


(OMS), no preâmbulo do seu estatuto refere: “A saúde é um estado de
completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a
ausência de doenças ou enfermidades”. Observa-se que a OMS res-
salta a saúde de modo interrelacional e não somente no aspecto bio-
fisiológico. A medicina moderna concentra-se cada vez mais em
partes especificas do corpo humano e isso muitas vezes afasta o foco
no paciente como um todo.

Nesse contexto, o modelo de Classificação Internacional de Fun-


cionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) foi desenvolvido em 2001
pela OMS em substituição à Classificação Internacional das Deficiên-
cias, Incapacidades e Desvantagens, publicada em 1976. Essa classifi-
cação anterior foi criticada por inúmeros motivos, dentre eles a falta
de relação entre as dimensões que a compõem e a não abordagem
de aspectos sociais e ambientais. A CIF é apontada pela OMS como
complementar à Classificação Internacional de Doenças (CID-10),
pois fornece o diagnóstico somado a funcionalidade do indivíduo, o
que permite uma descrição mais completa desse.

A CIF é utilizada para descrever a funcionalidade e a incapacida-


Componentes Definições o que a pessoa
de relacionadas
da CIF às condições de saúde, identificando
pode e não pode fazer na sua vida cotidiana de acordo com as fun-
ções dosdo
Funções órgãos Funções
corpo(ou sistemas), fisiológicas
estruturas do dos sistemas
corpo do corpode
e as limitações
(incluindo
atividade e de participação social as funções
no ambiente ondementais)
a pessoa vive.
Estrutura do corpo Partes anatômicas do corpo, como os órgãos

Atividade Execução de tarefas realizadas no dia a dia de um


indivíduo

Participação Envolvimento em uma situação da vida social

Fatores ambientais Fatores externos do meio ambiente onde a


pessoa vive

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A CIF objetiva uma linguagem em comum entre os diversos
profissionais de saúde no entendimento do estado funcional do
indivíduo, além de avaliar as condições de vida e proporcionar
subsídios para políticas públicas de inclusão social. A OMS, então, na
tentativa de facilitar sua aplicação, criou uma checklist composta por
152 categorias com os domínios mais relevantes da CIF.

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a equipe multidisciplinar E A SUA
ABORDAGEM

O tratamento da criança com Paralisia Cerebral é realizado por


uma equipe multidisciplinar em face dos múltiplos comprometimen-
tos. O princípio fundamental da terapia é atuar nas necessidades
específicas de cada criança, avaliando o seu quadro clínico. Através
disso, a equipe distribui as suas funções e monta o plano de cuidado.

A cada passo conquistado, a família deve ser motivada e, a cada


limite encontrado, os esclarecimentos devem ser fornecidos. O
objetivo central é fazer a família reconhecer e acreditar na evolução
da criança, fazendo-a conquistar independência.

Médico

O papel do médico generalista se inicia antes mesmo do


diagnóstico da paralisia cerebral. A possibilidade de existência de
danos neurológicos decorrentes de fatores de risco deve ser avaliada
e comunicada aos pais. Crianças com qualquer histórico que possa
estar associado à PC devem ter um acompanhamento mensal mais
detalhado e um neuropediatra deve ser consultado.

É importante lembrar que o médico é o responsável pelo


diagnóstico e por comunicar a notícia à família.

A meta terapêutica da PC envolve a conquista do desenvolvi-


mento através do estabelecimento da funcionalidade, melhorando
as capacidades e sustentando a saúde motora, cognitiva e social, a
fim de incentivar a independência e o máximo de autonomia.

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O médico deve estar atento também às deficiências associadas,
como o dano visual e auditivo, episódios epilépticos, problemas sen-
soriais, problemas gastrointestinais (vômitos, constipação, obstrução
intestinal), incontinência urinária e disfunções do desenvolvimento
cognitivo. O encaminhamento para especialistas deve ser feito
sempre que necessário.

Cabe ao médico, também, orientar ade-


quadamente a família sobre os cuidados neces-
sários no dia-a-dia, principalmente quanto às
deficiências associadas, reforçando a participa-
ção fundamental dos familiares na atenção à
criança.

Fisioterapeuta

O fisioterapeuta é responsável por desenvolver e colocar em


prática os planos de cuidado para avaliar e melhorar o movimento, a
força, a postura e a deambulação.

A abordagem da fisioterapia na rea-


bilitação objetiva desenvolver as funções
sensorial e motora, favorecer postura e
marcha mais adequadas e a atividade
funcional independente. Esse profissional
pode atuar melhorando os movimentos
existentes e prevenindo distúrbios e a ne-
cessidade de procedimentos cirúrgicos e
suportes ortopédicos.

O fisioterapeuta atua estabelecendo metas e prioridades


consistentes com a realidade da criança, o seu cotidiano e as suas
expectativas. Além disso, oferece estratégias para ajudá-la a alcançar
sua autonomia máxima em casa e na comunidade, aumentando a
sua qualidade de vida e a da sua família.

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Terapeuta Ocupacional

O principal objetivo da Terapia Ocupacional é maximizar o po-


tencial da criança, favorecer seu envolvimento em atividades signifi-
cativas e garantir maior autonomia no seu cotidiano. Nesse sentido, o
terapeuta ocupacional auxilia o indivíduo com Paralisia Cerebral a
desenvolver habilidades motoras, de processo e de comunicação/in-
teração que facilitem a sua atuação em diferentes ambientes, como
casa, escola, trabalho e comunidade. O profissional deve ainda
conhecer as potencialidades, as dificuldades e os interesses da crian-
ça e de sua família, assim como analisar de que forma esses fatores se
organizam no seu desempenho ocupacional.

Psicólogo

A atuação desse profissional envolve o indivíduo com paralisia


cerebral e sua família. O seu papel inicial deve estar centrado princi-
palmente nos pais, auxiliando-os no enfrentamento do diagnóstico
da Paralisia Cerebral. O psicólogo estimula o processo de aceitação
da criança e ajuda os pais quanto à adaptação das necessidades dela,
favorecendo a criação de condições para o seu desenvolvimento e
aprendizagem.

Ao atuar diretamente com a


criança, esse profissional pode con-
tribuir no desenvolvimento do “Eu”,
na compreensão da deficiência e
sua adaptação a ela, no estudo do
potencial cognitivo e na modela-
gem do seu processo de aprendiza-
gem, oferecendo suporte emocional
para seu processo de crescimento.

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Fonoaudiólogo

A atuação do fonoaudiólogo no indivíduo com Paralisia Cerebral


engloba diversos aspectos, dentre eles:

Mímica facial: proporciona a adequação da mobilidade da


musculatura da face, porque a criança com paralisia cerebral pode
apresentar ou mímica facial inexpressiva e pobre, ou uma mímica
facial com gestos bruscos exagerados e tiques.

Alimentação: estimula quanto aos padrões adequados de deglu-


tição e mastigação, minimizando os riscos de infecções pulmonares
por aspiração de saliva ou alimento, orientando quanto à alimenta-
ção. As alterações comumente encontradas são a protusão da língua;
o reflexo de morder prolongado e exagerado; o reflexo do vômito
normalmente forte; e a hipersensibilidade tátil na área da boca.

Saliva: estimula o controle da saliva, porque os pacientes com


paralisia cerebral podem apresentar escape pela boca e sialorreia.

Respiração: promove a adequação da movimentação muscular


durante a respiração, uma vez que podem ser encontrados nesses
pacientes o aumento do tônus, a falta de controle dos músculos da
respiração, o uso excessivo da musculatura torácica superior na
inspiração e o uso do ar residual.

Voz e articulação da fala: atua na perspecti-


va de diminuir os distúrbios articulatórios da
fala e facilita a vocalização espontânea. Além
disso, se o paciente apresentar uma disfonia, o
fonoaudiólogo trabalha a reeducação da voz.

Audição: avalia a necessidade do uso de


próteses auditivas e orienta os pais e professo-
res sobre como se comunicar com a criança, já
que nesses indivíduos a disacusia neurosenso-
rial e desordens do ouvido médio são encontra-
das com frequência.
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Linguagem: atua para que o desenvolvimento linguístico ocorra
próximo aos padrões de desenvolvimento para a idade cronológica
do indivíduo, já que há um atraso durante esse desenvolvimento, o
qual varia de acordo com a gravidade de cada caso. Quando não for
possível estabelecer a linguagem oral, cabe ao fonoaudiólogo buscar
uma comunicação alternativa, favorecendo uma melhor interação
social.

Odontólogo

A atuação do profissional odontólogo na


abordagem dos pacientes com paralisia cere-
bral inclui o acompanhamento e o tratamen-
to de patologias bucais prevalentes nessas
pessoas, além de orientações aos pais. Esses
devem ser informados quanto à higienização
correta dos dentes, adequada às necessida-
des da criança. O odontólogo deve enfatizar,
na sua abordagem, a importância das doen-
ças que podem ser evitadas como cárie e
doença periodontal.

As patologias bucais são importantes nesse grupo e merecem


tratamento especializado. Seguem as condições mais prevalentes:

Maior risco para cárie Maior propensão a


doença periodontal

Maloclusão Trauma oclusal e


bruxismo

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Assistente Social

É um profissional importante para orientar a família sobre os


direitos do indivíduo com paralisia cerebral. O assistente social atua
com o objetivo de promover a inclusão, a garantia de acessibilidade,
educação e saúde, ajudando a atender as necessidades não só da
criança com paralisia, mas de toda a família. É responsabilidade do
Serviço Social identificar as dificuldades e necessidades básicas da
família e mobilizar para que elas sejam solucionadas.

Por ter uma ação de caráter crítico, sócio-político e interventivo,


o assistente social busca orientar e respaldar a família para que ela
conheça os direitos à saúde e educação e tenha acesso às políticas
públicas para inclusão social.

Enfermeiro

O papel do enfermeiro abrange desde o auxílio hospitalar ao do-


miciliar. Na ação deste profissional estão implícitos cuidados relacio-
nados à alimentação, higienização, hábitos de vida saudáveis e ativi-
dades do cotidiano. Além disso, a enfermagem atua no estímulo à
prática de exercícios, ao desenvolvimento de habilidades de comuni-
cação e ao lazer, usando sempre a promoção da saúde.

A atuação do enfermeiro nos episódios de internamento é muito


relevante para o conforto e segurança do paciente e da família, fazen-
do dele um mediador importante entre a equipe e os cuidadores.

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Nutricionista

O nutricionista é responsável por analisar


a história dietética, as medidas antropométri-
cas e a avaliação bioquímica. Esse profissional
também deve se atentar para as informações
relacionadas aos medicamentos em uso e
dados socioeconômicos e ambientais, já que
podem revelar maior risco para formas graves
de desnutrição

Pacientes portadores de Paralisia Cerebral geralmente têm difi-


culdades na alimentação, dentre elas: disfagia, engasgos, tosses,
vômitos, regurgitações frequentes, resistência ao alimento, sialorreia
e prolongado tempo de alimentação. Nesse contexto, o profissional
da Nutrição exerce grande importância no cuidado dos indivíduos
com Paralisia Cerebral por adequar os tipos de alimentos que devem
ser ingeridos e as suas respectivas quantidades. Essa adequação está
relacionada com a consistência dos alimentos e a necessidade de
suplementação calórica, vitamínica e mineral, de acordo com a ne-
cessidade e a condição socioeconômica de cada paciente.

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A escola
e
sua importância

O papel da escola no desenvolvimen-


to da pessoa com Paralisia Cerebral, assim
como de qualquer outra, é fundamental.
O ambiente escolar propicia o desenvol-
vimento da comunicação, cognição e
habilidades motoras, sendo também um
complemento ao tratamento da pessoa
com paralisia cerebral.

A equipe de saúde pode atuar em


conjunto com os profissionais de educa-
ção no desenvolvimento de adaptações e
recursos tecnológicos que melhorem a
inclusão da criança na escola. Além disso,
a avaliação das habilidades motoras e
intelectuais é necessária para o desenvol-
vimento de estratégias pedagógicas ade-
quadas para o melhor aproveitamento
dos potenciais da criança na escola.

Cabe à equipe de saúde desmistificar


os estigmas sofridos pela criança discu-
tindo-os com estudantes e profissionais
da escola, além de estimular a pessoa
com paralisia cerebral a acreditar que
suas limitações não o tornam incapaz de
aprender.

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23
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A família

A forma como cada família lida com adversidades depende de


crenças, valores, experiências prévias, além da influência do espaço
que ocupam e dos papéis que desempenham. Conhecer como a
família se encontra é necessário para auxiliá-la a cuidar da criança no
cotidiano, assim como em intercorrências. A rotina da família deve
ser readaptada para que haja uma conciliação entre os cuidados com
a criança e a vida dos familiares.

Deve-se orientar sobre o acompanhamento da evolução da


criança, no que diz respeito à alimentação, ao crescimento e ao de-
senvolvimento. Além disso, é preciso explicar formas de atender as
necessidades diárias do paciente, levando em conta, a todo momen-
to, as dificuldades que os pais sentem.

Um aspecto importante do diálogo é o encorajamento da família


para acreditar no potencial do paciente, estimulando-o no cotidiano
a partir de brincadeiras, acompanhamento escolar e atividades
extras, como música e pintura. O brincar tem um papel essencial para
que as crianças desenvolvam habilidades cognitivas e sociais.

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A paralisia cerebral
na Atenção Básica a
Saúde

Assim como toda criança, os pacientes


com paralisia cerebral serão introduzidos na
rede de atenção à saúde através da assistência
básica, onde devem ser acompanhadas
seguindo a rotina de consultas recomendada
pelo Ministério da Saúde. É nesse nível que,
por meio da avaliação do desenvolvimento e
identificação dos fatores de risco, muitas
vezes levanta-se a suspeita diagnóstica nos
primeiros anos de vida e encaminha-se para
unidades especializadas quando necessário.

Durante toda a infância, a equipe da


Atenção Básica de Saúde deve garantir a atua-
lização do calendário vacinal, transmitir orien-
tações nutricionais (incluindo a promoção do
aleitamento materno) e atentar para a neces-
sidade de encaminhamento da família para
serviço social ou equipes de suporte multi-
profissional.

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27
Fique atento!

> É preciso incentivar a pessoa com paralisia a desenvolver o


máximo que for possível o seu potencial de realizar suas atividades
do dia-a-dia sozinha.
> A interação e o convívio com outras pessoas devem ser
estimulados para promover a inclusão social e o desenvolvimento de
habilidades.
> A chegada de uma criança com paralisia cerebral à família será
sempre um desafio. É importante que a equipe multiprofissional
estabeleça uma boa relação com os familiares, compreendendo as
dificuldades e incentivando a dedicação aos cuidados, à educação e
ao tratamento.
> A criança com paralisia cerebral não necessariamente terá a
inteligência prejudicada. E mesmo que tenha, o direito a frequentar a
escola é garantido. Muitas vezes, a criança que aparenta ter um
déficit intelectual, na verdade, apenas não teve oportunidade para
aprender e se desenvolver.
> É importante incentivar os cuidadores a zelar pelo próprio
bem-estar, já que muitos abdicam dos cuidados com suas
necesidades individuais, podendo prejudicar sua qualidade de vida.
> O lazer é algo essencial para a saúde da família e também não
deve ser esquecido. Momentos de diversão e relaxamento são
importantes para um convívio saudável e para o bem estar dos
membros da família.

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Referências bibliográficas

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Pinho GKO. Paralisia cerebral: alterações e atuação fonoaudiológicas


[monografia na Internet]. Curitiba: Centro de Especialização em Fonoaudiologia
Clínica; 1999 [acesso em junho de 2015]. Disponível em: .
http://www.clariah.com.br/systemfiles/article/27/PC_CEFAC.pdf.

Rezio GS, Cunha JOV, Formiga CKMR. Estudo da independência funcional,


motricidade e inserção escolar de crianças com Paralisia Cerebral. Rev. bras. educ.
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Roquim CA; Rossettini A; Andrade e Silva FS; Bevilacqua M. Orientações para


pais e cuidadores de crianças com Paralisia Cerebral [cartilha na internet]. Instituto
Mara Gabrilli, 2013 [acessado em junho de 2015]. Disponível em: .
http://img.org.br/images/stories/pdf/cartilhapc-site.pdf.

Sá SMP, Rabinovich EP. Compreendendo a família da criança com deficiência


física. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. v.16 n.1 São Paulo abr. 2006.

Tashiro BAF, Marsiglio AA, Miranda AF, Peruchi CMS. O atendimento


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Zanini, G.; Cemin, N.F.; Peralles, S.N. Paralisia Cerebral: causas e prevalências.
Fisioter Mov. v.22, n.3. p.375-381, jul/set. 2009.

30
O Programa de Educação Tutorial
PET-MEDICINA

O Programa de Educação Tutorial de Medicina da Uni-


versidade Federal da Bahia (PET MEDICINA UFBA) faz
parte de uma iniciativa do MInistério da Educação que
busca formar grupos de alunos que desenvolvam ativida-
des de ensino, pesquisa e extensão. O PET permite uma
formação global do estudante, favorecendo e enriquecen-
do a sua formação acadêmica e preparando-o como um
todo, sempre ciente do seu papel cidadão.

Os seguintes “petianos” estiveram envolvidos na


elaboração desta cartilha:
Ana Marques; Beatriz Leão; Camila Braga; Daniela
Fonseca; Diane Nunes; Gustavo H. Mendes; Gustavo Paz;
Itallo Oliveira; Jéssica Machado; João Jagersbacher; João
Paulo Ciacci; Larissa Macêdo; Lis Serafim; Lucas Souza;
Mariane Ventura; Mônica de Freitas; Natália Costa; Pedro
Rocha; Reinan Tavares; Renata Andrade; Sâmia Leal;
Sheila Neves; Tailana Paiva; Tayná Barreto; Valesca
Queirós; Victor Hugo Ribeiro; Victor Nóbrega; Victor
Porfírio.

Também contribuiu para esta cartilha o Professor


Tutor Pedro Hamilton Guimarães.
31
Núcleo de Atendimento à Criança
com Paralisia Cerebral

O Núcleo de Atendimento à Criança com Paralisia Cerebral


(NACPC), entidade sem fins lucrativos, localiza-se na comunidade
do Alto de Ondina, em Salvador- -BA. Atua há 15 anos no processo
de reabilitação e inclusão social de crianças, jovens e adultos com
deficiência, além do auxílio às suas famílias enquanto seus direitos
e potencialidades. Um trabalho especializado que tornou-se refe-
rência em reabilitação, na promoção da saúde, na educação e
inclusão , o qual vem contribuindo para que cada vez mais pessoas
com deficiência possam potencializar e desenvolver novas habili-
dades, superar limites e exercer a plena cidadania.

O NACPC compartilha e transmite a ideia e os valores de uma


abordagem que tem como centro de atenção o ser humano em suas
facetas biológicas, pisco-afetivas e sociais, adotando uma postura
mais positiva e universal referente à diversidade humana. Sendo
assim, trabalha-se em uma perspectiva conceitual com foco na
saúde e não com foco na doença, substitui-se o estigma da deficiên-
cia pela funcionalidade e defende-se a legitimidade da biologia
diferente.

As fotografias encontradas nessa cartilha retratam as instala-


ções do Núcleo, crianças e jovens atendidos e seus cuidadores.
Todas as imagens foram publicadas com a devida autorização dos
responsáveis.
32
Elaboração

Programa de Educação Tutorial


da Faculdade de Medicina da Bahia
(UFBA)

Apoio

Núcleo de Atendimento à Criança com


Paralisia Cerebral

Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia

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