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CALAZANS, M. Julieta Costa. Para compreender a educação do estado no meio rural.

Traços de uma
trajetória. In: TERRIEN, Jaques; CALAZANS, M. Julieta Costa. Educação e Escola no campo. Campinas:
Papirus, 1993. Disponível em: http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2001/cms/cmstxt1.htm. Acesso
em: 01/08/2010

Para compreender a educação do Estado no meio rural - Traços de uma trajetória*

Maria Julieta Costa Calazans**

Indicações preliminares

O ensino regular em áreas rurais teve seu surgimento no fim do 2º Império e implantou-se amplamente na
primeira metade deste século. O seu desenvolvimento através da história reflete, de certo modo, as
necessidades que foram surgindo em decorrência da própria evolução das estruturas socioagrárias do país.

A monocultura da cana-de-açúcar, que dominou a economia do país até a metade do século passado,
prescindia de mão-de-obra especializada. No entanto, com o advento da monocultura cafeeira e o fim da
escravidão, a agricultura passou a carecer de pessoal mais especializado para o setor. Outras culturas
secundárias, mas de alguma importância para o setor agrícola, também tiveram um desenvolvimento
crescente, decorrendo daí a necessidade de pessoal com a qualificação que se pretendia fosse dada pela
escola. Desse modo, o ensino da escola elementar, como a escola técnica de 2º grau, começou a impor-se
como uma forma de suprir as necessidades que se esperava fossem atendidas a partir do ensino escolar.

É essencial destacar que as classes dominantes brasileiras, especialmente as que vivem do campo, sempre
demonstraram desconhecer o papel fundamental da educação para a classe trabalhadora. As revoluções
agroindustriais e suas conseqüências no contexto brasileiro, principalmente a industrialização, provocaram
alterações que obrigaram os detentores do poder no campo a concordar com algumas mudanças, como, por
exemplo, a presença da escola em seus domínios. Assim, a escola surge no meio rural brasileiro tardia e
descontínua.

Essa indicação é um fenômeno complexo e está articulada a um conjunto de relações que necessitam ser
analisadas, para a compreensão do problema.

Essas breves indicações sinalizam para os aspectos centrais deste trabalho:

a) trajetória da escola pública no meio rural;

b) a produção de projetos e programas especiais, integrados no meio rural com propostas


educacionais explícitas, dentre as quais destaca-se a escola formal.

As tendências da origem e da organização escolar estão intrinsecamente vinculadas aos fatos de nossa
própria formação social e política: país de colonização, de trabalho fundado na escravidão e no latifúndio,
por largo tempo, Colônia, Império, República. As origens filiam-se por sua vez, às idéias da educação da
época trazidas da Europa, de onde procediam os colonizadores.

Alguns destaques que perpassam do século passado aos anos 30

Na trajetória da formação escolar brasileira, embora se possam destacar eventos dispersos que denotam
intenções do setor público, já no século XIX, de dotar as populações do meio rural de escola, sabe-se que só
a partir de 1930 ocorreram programas de escolarização considerados relevantes para as populações do
campo.
O ensino técnico agrícola surgiu na Bahia, no reinado de D. João VI, transformando-se depois na primeira
Escola de Agronomia do país.

A partir de 1930, consolidou-se a idéia do grupo de pioneiros do "ruralismo pedagógico", idéias em ebulição
desde os anos 20, predominando:

a) "Uma escola rural típica, acomodada aos interesses e necessidades da região a que fosse
destinada (...) como condição de felicidade individual e coletiva".

b) "Uma escola que impregnasse o espírito do brasileiro, antes mesmo de lhe dar a técnica do
trabalho racional no amanhã dos campos, de alto e profundo sentido ruralista, capaz de lhe
nortear a ação para a conquista da terra dadivosa e de seus tesouros, com a convicção de ali
encontrar o enriquecimento próprio e do grupo social de que faz parte (isto em oposição à
'escola literária' que desenraizava o homem do campo)".

c) Uma escola ganhando adeptos à "vocação histórica para o ruralismo que há neste país".

Quanto aos projetos especiais ou setoriais, a documentação disponível aponta-nos algumas iniciativas nos
anos 30 cujo surgimento se deu sob o patrocínio do Ministério da Agricultura, do governo Vargas. Dentro
desse quadro situam-se: a)colônias agrícolas e núcleos coloniais como organismos de fomento ao
cooperativismo e ao crédito agrícola (1934). "Cada um desses núcleos de colonização formará cédulas de
civilização nova, com todos os recursos indispensáveis a uma vida sadia (...) novas práticas agrícolas,
vivendas confortáveis, hábitos de higiene (...)"; b) o curso de aprendizado agrícola com padrões
equivalentes aos de ensino elementar, regulamentado em 1934, com o objetivo de formar capatazes rurais;
c) nos mesmos padrões foi criado o curso de adaptação, "destinado a dar ao trabalhador em geral uma
qualificação profissional".

A multiplicidade de projetos e programas nas décadas de 40 e 50

Na década de 40 surgiram programas de destaque, tanto sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura


como do Ministério da Educação e Saúde.

A "educação rural" sob o patrocínio de programas norte-americanos tomou um grande impulso a partir do
funcionamento da Comissão Brasileiro-Americana de Educação das Populações Rurais (CBAR). "O
progresso na nossa agricultura depende, em grande parte, da educação do homem do campo (...). Uma obra
de educação rural não pode, portanto, ficar 'adstrita' ao ensino técnico nas poucas escolas destinadas ao
preparo profissional dos trabalhadores da agricultura (...)."

Originário no plano de colonização, surge, em 1945, o projeto de "aldeia rural", oferecendo possibilidades
para atender às necessidades culturais, administrativas e industriais de toda a área ocupada pelo conjunto de
aldeias.

Nas décadas de 40 e 50, no quadro nacional do desenvolvimento, definem-se e realizam-se programas


educativos que pretenderam atingir as bases populares da maioria dos estados brasileiros.

Em 1947, o governo iniciou um movimento de educação popular denominado "Campanha de Educação de


Adultos". Procurava-se com isso, criar ambiente propício às providências educativas de maior profundidade,
entre as quais deveria figurar a experiência de "Missões Rurais de Educação de Adultos".

A idéia que fundamenta a prática de "Missões Rurais" é a de ação educativa integral para soerguimento
geral das condições de vida material e social de pequenas comunidades rurais (as CSRs). A primeira Missão
Rural de Educação, no entanto, só começou a funcionar em 1950, no município fluminense de Itaperuna.
Na década de 40 ainda estavam em vigência em algumas regiões do país as idéias do "ruralismo
pedagógico", que data de antes dos anos 20, como uma tentativa de resposta à "questão social", provocada
pela inchação das cidades e incapacidade de absorção de toda a mão-de-obra disponível pelo mercado de
trabalho urbano. A essa ameaça permanente, sentida pelos grupos dominantes, políticos e educadores
tentavam responder com uma educação que levasse o homem do campo a compreender o "sentido rural da
civilização brasileira" e a reforçar os seus valores, a fim de fixá-lo à terra, o que acarretaria a necessidade de
adaptar programas e currículos ao meio físico e à cultura rural.

O ardor com que se defende, ao longo do tempo, a causa da educação rural deu origem a providências
concretas e de grande alcance, ora por parte do poder central, ora por parte de educadores, particularmente
os "profissionais da educação". Já não se tratava de um movimento alfabetizador, mas de uma nova
concepção da expansão escolar, em que o rural e o agrícola fossem respeitados nas suas características
fundamentais e nas suas necessidades específicas.

A importância de que se revestiu a discussão do problema da educação rural para os "profissionais da


educação" levou-os a organizar e realizar, em 1942, um congresso nacional de educação, na  busca de
diretrizes e soluções: O Oitavo Congresso Brasileiro de Educação, sob o patrocínio do governo federal e do
governo de Goiás.

O exame dos Anais desse Congresso permite perceber o predomínio que tiveram, ao longo das exposições,
estudos e debates, as principais idéias do "ruralismo pedagógico": a substituição da "escola desintegradora,
fator do êxodo das populações rurais", por uma escola cujo objetivo essencial fosse o "ajustamento do
indivíduo ao meio rural" - caracteristicamente a escola do trabalho - cuja função fosse "agir sobre a criança,
o jovem, o adulto, integrando-os todos na obra de construção da unidade nacional, para tranqüilidade,
segurança e bem-estar do povo brasileiro".

A educação no meio rural no final dos anos 40 e década de 50 (1950) reflete, sem dúvida, a "tomada de
consciência educacional" expressa no Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, redigido em 1932 por
Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Carneiro Leão e outros.

A educação na escola e nos projetos integrados ou especiais nas décadas de 60 e 70

Ao final da década de 60, o "agravamento das disparidades regionais entre o Nordeste e o Centro-Sul
(regiões mais povoadas do País", a identificação da densidade do problema, segundo o qual o setor primário,
na região, seria o ponto de maior entrave para a absorção da "vigência de uma estrutura de poder
( principalmente no caso da Zona da Mata ) e de um regime semifeudal da propriedade e do uso da terra"
foram, entre outros, os pontos de partida para a criação do primeiro órgão do planejamento e
desenvolvimento regional brasileiro.

Ao lado disso, depois de 1960, os Estados Unidos passavam a se interessar prioritariamente por desenvolver
programas de ajuda financeira e assistência técnica na América Latina.

No primeiro plano da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste - Sudene - não se toca em projetos


educacionais. No segundo plano, 6% dos investimentos destinavam-se ao desenvolvimento de recursos
humanos mediante treinamentos vocacional agrícola e industrial, preparo de pessoal para os estados e os
municípios e programas universitários e pré-universitários.

Antes da criação da Sudene, o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) fez um
diagnóstico no qual estão sugeridas três linhas de ação - os denominados Projetos Integrados - para o setor
agrícola: a) utilização para irrigação, com o objetivo de estabilizar a produção de alimentos no sertão; b)
colonização das áreas úmidas do Maranhão; c) uma melhor utilização da terra na área fértil e bem servida de
chuvas da Zona da Mata.
Segundo Dirceu Pessoa, "os projetos integrados são empreendimentos envolvendo diversos setores e, como
tal, objeto de atividades multiprofissionais interdependentes que deverão ser conduzidas integradamente".

Com relação à educação, nessa conjuntura, pode-se dizer, genericamente, que ela é planejada, estruturada e
realizada a partir das "necessidades educacionais de cada região". Não há uma superestrutura válida para
todo e qualquer meio ambiente. As exigências de planejamento e efetivação da educação rural estão
correlacionadas à política do desenvolvimento e à transformação das estruturas do setor primário. O modelo
de desenvolvimento é uma variável que interfere no estabelecimento de diretrizes e políticas para a
educação rural, afirmavam os planejadores de educação e recursos humanos da época.

Na Região Nordeste, na década de 60, foram implantados alguns programas e projetos integrados em áreas
rurais, através dos quais agências governamentais atuantes na região procuraram desenvolver ações
educacionais de forma a melhor atingir as populações -Povoamento do Maranhão (1961); Grupo de Estudos
do Vale do Jaguaribe (1961); Grupo de Imigração do São Francisco (1960).

A tônica desses e de outros programas era o desenvolvimento de comunidade e educação de adultos,


considerada, esta última, como um processo contínuo integrado ao desenvolvimento, devendo imprimir as
seguintes características:

1. Conscientização da população de modo a permitir ao educando uma participação responsável e


produtiva mediante:

a) interpretação dinâmica dos nossos valores e hábitos, bem como reintegração dos valores
tradicionais referentes à vida pessoal e coletiva;

b) estímulo à participação na vida política do país.

2. Capacitação para assumir as novas formas correlatas de trabalho, bem como situações mais
complexas de organizações coletivas.

Na Região Sul, diversos projetos integrados foram executados pela Superintendência da Região Sul
(Sudesul), dentre os quais vale assinalar: o projeto integrado Sudoeste - I, situado na zona sudoeste do Rio
Grande do Sul, integrada por 19 municípios, incorpora atividades educacionais destinadas às populações
atingidas pelo mesmo.

As atividades educacionais desenvolvidas pela Sudesul, no âmbito dos projetos citados, emanam das
diretrizes do Plano Setorial de Educação e visam à coordenação e à vinculação dos diversos organismos
responsáveis por sua execução, na respectiva área.

Em âmbito nacional, as décadas de 60 e 70 foram de proliferação assustadora de programas para o meio


rural. Estamos nos propondo mapear os principais, fazendo breves indicações a respeito dos mesmos.

Nos setores de colonização e reforma agrária, tivemos a Supra (Superintendência da Política de Reforma
Agrária), em 1962; o Ibra (Instituto Brasileiro de Reforma Agrária ) e o Inda ( Instituto Nacional do
Desenvolvimento Agrário ), criados com a extinção da Supra, em 1964; e o Incra ( Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária ), que emerge no final da década de 60 da fusão do Ibra e do Inda. Embora
as orientações teórico-metodológicas das propostas educativas desses órgãos tenham sido diferentes - dadas
as condições estruturais e conjunturais de cada época perpassada pelos mesmos -, a tônica de trabalho que
empreenderam é pautada no desenvolvimento de comunidade, e na educação popular e de adultos - sob a
forma organizativa de projetos rurais integrados.

Outros programas que devem ser assinalados:


a) Pipmoa - Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra Agrícola (1963), fundido com o Pipmoa
em 1972;

b) Prodac (Programa Diversificado de Ação Comunitária), do Mobral, com incursão permanente no


meio rural;

c) Senar - Serviço Nacional de Formação Profissional Rural (1976);

d) Crutac - Centro Rural Universitário de Treinamento e de Ação Comunitária (1965) e Cimcrutac


(1969);

e) Projeto Rondon (1968);

f) No II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) - com recursos do Bird; Polonordeste,


Poloamazônia e Polocentro, todos com incursões em educação e treinamento de mão-de-obra.

No Ministério de Educação e Cultura, o II Plano Setorial de Educação (1975-79) estabeleceu, entre seus
objetivos e diretrizes, criar condições para o desenvolvimento de programas de educação no meio rural que
venham a repercutir na melhoria socioeconômica das populações dessas áreas.

A Secretaria Geral do MEC, com a participação do CNRH / Seplan e PNDU / Unesco - Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento - realizou cursos de formação para educadores do meio rural, tendo
lugar, o primeiro desses cursos, em Natal, com desdobramento em Caiacó-RN, onde foi iniciada a aplicação
da metodologia que o programa adotou.

Desde 1976 trabalhando, técnicos do MEC, CNRH/Seplan e PNUD/Unesco promoveram, além do projeto
no Rio Grande do Norte, um curso em Garanhuns - PE, encontros, seminários e uma reunião técnica sobre
Metodologia de Planejamento da Educação para o Desenvolvimento Integrado das Áreas Rurais, com a
participação de outras instituições congêneres latino-americanas e técnicas de programas internacionais.

Várias reuniões técnicas foram realizadas em função da implementação desse programa, produzindo vasta
documentação, especialmente referida aos aspectos metodológicos.

Os estudos indicam que a educação no meio rural deveria estimular:

a) aquisição de conhecimento que possibilite ao indivíduo e à comunidade a compreensão do


meio em que vivem e os instrumentalize para encontrar a melhor solução para as situações
que impedem ou dificultam o seu desenvolvimento;

b) aquisição de conhecimentos que leva a um aumento da produtividade e, em conseqüência,


a uma melhoria das condições de vida;

c) participação da comunidade no desenvolvimento, na transformação ou adaptação de


estruturas de natureza econômica e social, tais como: cooperativas, escolas, programas,
pelotões de saúde etc.

No III PSECD (Plano de Educação, Cultura e Desporto), do Ministério de Educação e Cultura - 1980, cujo
enfoque atribui à educação um importante papel na política social, surge o Pronasec, entendido como um
dos elementos significativos na luta contra a pobreza.

O tipo de serviço educacional proposto seria apoiado nas características e necessidades da população carente
e incorporaria o universo cultural da comunidade em que se insere.
A proposta educativa desdobra-se em: educação e trabalho produtivo, educação e vida comunitária,
educação e cultura.

Cabe dar ênfase às propostas educativas dos primeiros cinco anos da década de 60. Movimentos
educacionais e culturais relevantes como o MEB, o método de Paulo Freire, entre outros , desenvolveram
inovadoras concepções e estratégias de educação de adultos, educação de base e educação popular, e
destacaram-se pela criatividade e inovação teórico-metodológica.

É importante salientar que a vinculação que se estabeleceu entre educação e desenvolvimento a partir dessa
época pôs fim à oposição cidade-campo, alvo principal da luta ideológica do "ruralismo pedagógico".

Daremos destaque, a seguir, a alguns pontos de discussão em torno das concepções que nortearam os
programas no meio rural nas décadas de 60 e 70.

"Educação, que se propõe a ser fator de desenvolvimento, e que, de forma programada, inclui-se
numa planificação global, tem de estar atenta às solicitações feitas pelas estruturações específicas
já implantadas, equipando-se para uma capacitação específica de quadros; e também voltada para
a criação de uma mentalidade tecnológica (não confundir com a preparação das massas para a
tecnocracia) condizente com a atualização do homem no que diz respeito às relações da economia
moderna."

Pretendia-se tipificar uma "educação para o desenvolvimento", tomar posição em relação à educação de
adultos na perspectiva de educação de base, propor que a educação de adultos não se limite a um mero
"alfabetizar por alfabetizar". Objetivava-se preparar os indivíduos e os grupos para participarem,
responsável e produtivamente, de um processo de mudança cultural identificado como um processo de
desenvolvimento socioeconômico.

Tomava-se como conceito de desenvolvimento um processo de mudança cultural para um "melhor estar das
comunidades humanas no decurso do tempo". "O conceito de melhor estar se aplicava (...) a uma mudança
do ponto de vista cultural, no comportamento dos consumidores; e do ponto de vista econômico, a uma
variação na função-consumo. Mas, a cada nível de melhor estar deve corresponder uma mudança na função-
produção."

Nessa perspectiva, o processo de desenvolvimento só pode ser entendido quando considerado em relação ao
homem. É ele o agente da criação e mobilização de todos os eventuais fatores implicados no processo. Daí a
necessidade de capacitar o homem para assumir esse papel de agente propulsor do desenvolvimento, além
de a própria razão de ser do desenvolvimento ser a realização do homem e o aumento do seu bem-estar.

O papel da educação seria, pois, o de "propor elementos para que o homem, ao invés de subordinar-se,
ingresse nesse mundo inovado e consiga situar-se nele como no seu mundo, e definir o papel que nele lhe
compete". Isso exigiria a descoberta de novas categorias "que lhe permitirão uma nova compreensão de si
mesmo, do seu mundo de relações e das coisas".

Essa proposta de uma educação para o desenvolvimento e para o trabalho, preparando a população para o
"ingresso consciente" no processo político, através de suas organizações, não gerou consenso - nem nas
discussões acadêmicas em seminários e grupos de trabalho, e muito menos no estabelecimento de
estratégias para as ações programadas. Os defensores da educação como investimento estavam presentes a
esses debates, sobretudo na defesa das organizações externas que chegavam ao Brasil para suas prestações
de assistência técnica.

Considerações finais
A intenção do estudo da Prof.a Maria Julieta Costa Calazans é oferecer uma indicação de programas e
projetos governamentais de ações educativas que perpassaram momentos históricos da realidade brasileira e
neles deixaram suas marcas, registrando um mapeamento das ações "educativas e culturais" (programas e
projetos) no âmbito da educação e das escolas rurais. Apresentamos aqui um resumo dos pontos principais
deste estudo, que pode ser conhecido na íntegra em:

CALAZANS, Maria Julieta Costa. "Para compreender a educação do Estado no meio rural - traços de uma
trajetória". In: Jacques Therrien e Maria Nobre Damasceno (coords.). Educação e Escola no campo.
Campinas, Papirus, 1993.

Quanto à continuidade do mapeamento, inventário, ou estado da arte dos projetos e programas da área em
estudo, a partir de 1980, a autora sugere que sejam consultados os resultados do grupo de trabalho
"Educação e Movimentos Sociais no Campo", da ANPEd.

NOTAS:

* Este trabalho foi elaborado com base em informações armazenadas principalmente nos relatórios do
Estudo Retrospectivo da Educação Rural no Brasil 1975-1983, coordenado pela autora, com a participação
de outros docentes do Instituto de Estudos Avançados em Educação Iesae/FGV.

** Professora no Instituto de Estudos Avançados em Educação Iesae/FGV e no mestrado em Educação da


Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

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