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DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística

Teórica e Aplicada
Print version ISSN 0102-4450On-line version ISSN
1678-460X
DELTA vol.25 no.1 São Paulo  2009

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-44502009000100004 

ARTIGOS

O sistema de avaliatividade e os recursos para


gradação em Língua Portuguesa: questões
terminológicas e de instanciação*

Appraisal system and graduation resources in Brazilian


Portuguese: terminological and instantiation issues

Orlando Vian Jr

UFRN

RESUMO

Este artigo pretende, a partir da perspectiva da gramática sistêmico-funcional


(Halliday, 1985, 1994, 2004), discutir, em um primeiro momento, a questão
terminológica em relação ao Sistema de Avaliatividade (Martin and White, 2005;
Martin and Rose, 2003) para que, em seguida, encaminhemos a discussão sobre
como as instâncias avaliativas são realizadas no texto em português brasileiro.
Nosso foco será principalmente nos recursos para Gradação, e a avaliação negativa
utilizada pelo produtor textual para posicionar-se perante o que expressa e, para
tanto, recorremos também à noção bakhtiniana de dialogismo.

Palavras-chave: avaliatividade; avaliação; gradação; dialogismo; instanciação.


ABSTRACT

This paper aims to discuss, from Halliday's systemic functional grammar


perspective (1985, 1994, 2004), the problems related to the translation of the term
appraisal into Portuguese, as a way of discussing the lexico-grammatical
realizations of evaluative stances in texts in Brazilian Portuguese. We will focus on
Graduation (Martin and White, 2005; Martin and Rose, 2003), a resource used by
text producers to take stances towards what they express and we will also refer to
the Bakhtinian notion of dialogism.

Key-words: appraisal; evaluation; graduation; dialogism; instantiation.

" As palavras também têm a sua hierarquia,


o seu protocolo, os seus títulos de nobreza,
os seus estigmas de plebeu" .
José Saramago
As intermitências da morte, p. 196

1. As atitudes na linguagem

A maneira como o produtor de um texto oral ou escrito se posiciona em relação ao


seu leitor ou a seu interlocutor e a forma como julga o mundo concebido no texto
que produz traz à tona diferentes tipos de avaliação. Tais avaliações evidenciam,
em termos léxico-gramaticais, os tipos de atitudes negociadas no texto, bem como
a força dos sentimentos em relação ao objeto de avaliação.

Diversos são os recursos disponíveis na língua ao produtor de textos para


posicionar-se em relação àquilo que expressa e, dessa forma, emitir avaliações
sobre pessoas, objetos, entidades e todos os demais aspectos das relações sociais
que negociamos em nosso dia-a-dia e que são passíveis de avaliação em suas
variadas escolhas. Isso significa que, ao interagirmos, através de textos,
sinalizamos para o nosso interlocutor nossas atitudes em relação ao que
expressamos. Este, por sua vez, apreende (ou não) o papel a si atribuído para
assimilar (ou não) as avaliações nas atitudes emitidas; não se trata de um universo
textual, em nível léxico-gramatical, mas vai além disso: um universo extra-textual,
em nível semântico-discursivo.

A preocupação com esse universo de possibilidades de avaliação em níveis extra-


textuais tem levado pesquisadores à tentativa de compreensão dos mecanismos
disponíveis na linguagem a partir de diferentes perspectivas teóricas e
metodológicas. Prova disso é que os estudos sobre a avaliação na linguagem
remontam ao final da década de 1970 e início da década de 1980, principalmente a
partir dos trabalhos de Labov (1972, 1982, 1984, 1997) sobre avaliação e
intensidade em narrativas. Sob outras perspectivas teóricas, podemos citar, dentre
outros, os trabalhos de Hoey (1983, 2001) e também de Biber (2000). Pela
perspectiva sistêmico-funcional, diversos são os estudos em relação à avaliação na
linguagem; apenas a título de ilustração, cito o trabalho de Eggins e Slade (1997),
ao estudarem a avaliação na conversa cotidiana e os trabalhos de Hunston (2000) e
Hunston e Thompson (2000), além dos trabalhos de Martin (2000, 2002, 2003,
2004) e colaboradores, que serão focados neste artigo (Martin e Rose, 2003; Martin
e White, 2005).

Ao abordarmos o papel da avaliação na linguagem, duas premissas tornam-se


necessárias: primeiramente, é preciso que adotemos uma perspectiva dialógica
para se analisar o sistema lingüístico e as possibilidades nele disponíveis para
avaliação para que, em um segundo momento, analisemos, especificamente, os
mecanismos disponíveis em Língua Portuguesa para as instanciações dos recursos
de Gradação na linguagem.

Paralelamente a tais questões, encaminhamos o início de uma discussão sobre a


questão da tradução de alguns termos do sistema de Avaliatividade para o
português.

2. Avaliatividade e avaliação

Talvez o primeiro aspecto a ser discutido, antes enveredarmos pelas questões de


dialogismo e de instanciação propriamente ditas, diga respeito à utilização dos
termos relacionados ao Sistema de Avaliatividade e sua aplicação em língua
portuguesa.

O fato de se utilizar aqui avaliatividade, em vez de apreciação ou valoração, ou


simplesmente avaliação deve-se primeiramente ao fato de se evitar inadequados
posicionamentos teóricos, além da confusão terminológica, devida, em parte, à
rapidez com que os conceitos foram recebidos no Brasil e, como diversos estudos
proliferam em centros de pesquisa pelo país, algumas traduções optaram por
apreciação, outras por valoração.

Tal fato é mais do que corriqueiro quando se iniciam aplicações de uma teoria
produzida em língua estrangeira que é adaptada para o português. O mesmo
ocorreu, por exemplo, no final da década de 1990, com o uso da variável de
registro Tenor, em inglês, e sua tradução para o português. A tradução usada para
Tenor em Santos (1996) é Teor, assim como para Neves (1997: 75); na tradução
do texto de Wells (1998), utiliza-se Tom; Ramos (1997) usa o termo Participantes
e Vian Jr (1997: 17) sinaliza, em nota de rodapé, que utiliza o termo Relações "
pelo fato de esta variável tratar não só dos participantes do discurso, mas também
das relações entre estes e os papéis sendo desempenhados por eles como
produtores dos textos" .

Recentemente, parece ter se firmado o termo Relações, constante, inclusive, da


lista de termos sistêmico-funcionais em português1. Como se vê, à medida que a
teoria vai sendo utilizada, os termos vão sendo depurados conforme circulam na
comunidade discursiva, até que se chegue ao senso comum e a um item que
abarque todo o potencial de significado e de aplicação no idioma.

Nos casos dos termos apreciação ou valoração, há vários motivos para recusá-los.
No caso de apreciação, por ser o melhor correspondente a appreciation, um dos
três subsistemas de Atitude. Quanto à valoração, tem, primariamente, o sentido de
'atribuir valor a algo', o que reduz significativamente o escopo envolvido na
avaliação, uma vez que, juntamente ao valor, agregam-se crenças, emoções, afeto,
relações sociais e tantos outros aspectos; e ainda pelo fato de, no subsistema de
apreciação, haver o termo inglês valuation, que, em determinados casos, também
poderia ser traduzido por valoração.

A opção pela palavra appraisal2, em inglês, em vez de evaluation ou assessment,


reside exatamente no fato de diferenciar o sistema de outros estudos sobre
avaliação, como os de Labov, por exemplo. E avaliatividade, em português,
distingue-se ainda do termo valoração usado na análise de discurso de linha
francesa, em Maingueneau, por exemplo.

Embora o termo valoração tenha sido incorporado à lista de termos traduzidos para
o português como correspondente a appraisal, é provável que tal uso tenha
ocorrido pelo fato de o sistema como um todo e todos os subsistemas e categorias
envolvidos ainda não estarem sendo muito testados em língua portuguesa e de os
pesquisadores não estarem familiarizados com tantas variáveis.

O sentido do appraisal system, como se detalhará no item 5, vai muito além de


valoração, por isso a sugestão do termo Sistema de Avaliatividade, uma vez que
estamos considerando um potencial de significados avaliativos disponíveis no
sistema lingüístico e que envolvem, portanto, questões relacionadas à filogênese e
à ontogênese para que o nível logogenético se desenvolva em termos de
funcionamento lingüístico.

Suponhamos que o fato de tratar avaliatividade e avaliação como sendo o mesmo


fenômeno tenha dado origem ao problema da tradução dos termos appraisal e
evaluation e seus correspondentes em língua portuguesa. Antes de se pensar em
optar por um termo ou outro, é necessário que se estabeleça a diferença entre
ambos, em língua inglesa, para que não caiamos em novas falácias.

Vejamos: se considerarmos a escala3 de instanciação (Halliday e Mathiessen, 1999;


Halliday, 2004) e observá-la pela perspectiva macro dos potenciais de significados
disponíveis, teremos, conforme propõem Martin e White (2005: 163), em um pólo a
língua como SISTEMA, e, no pólo oposto, as situações ou contextos em que esses
significados são realizados individualmente, a língua como TEXTO.

Podemos reduzir o escopo e considerarmos apenas o nível do texto para


compreensão da avaliatividade e dos mecanismos lingüísticos para a realização
léxico-gramatical dos potenciais de significados disponíveis para realizarmos as
avaliações em nosso cotidiano.

Ao pensarmos na relação entre língua e texto em termos da escala de instanciação,


temos que a avaliação é apenas a instanciação das opções avaliativas de que a
língua dispõe como potencial de significados presentes no texto, ao passo que
avaliatividade está relacionada a todo o potencial que a língua oferece para
realizarmos significados avaliativos, ou seja, para expressarmos pontos de vista
positivos ou negativos, para graduarmos a força ou o foco do que expressamos e
para negociarmos a inter-subjetividade e assim por diante.

Pensando nas escalas e posicionando paralelamente a escala da língua e do texto,


temos a seguinte correlação:

 
 

Ao nos referirmos aos mecanismos de projeção (Halliday, 2004: 603-613), temos a


avaliação realizada de forma modal, estritamente relacionada à metafunção
interpessoal e projetada pela modalidade, pela polaridade ou pelo comentário e,
para essa ocorrência, Halliday usa o termo assessment. No texto, utilizado como
modelo para análise, apresentado em forma de quadro nas páginas 608 a 612
(Halliday, 2004), estabelece-se a relação, para o mesmo texto, entre os tipos de
modal assessment e o os tipos de appraisal. Reitero, com isso, a inapropriação do
termo apreciação ou valoração, reafirmando o uso de avaliatividade para nos
referirmos ao sistema de significados potenciais avaliativos disponíveis para uso.

Como este texto dará enfoque aos recursos para Gradação, sinalizo que o uso do
termo também sofreu alterações: no modelo de 2003, Martin e Rose utilizam como
as três opções básicas de avaliatividade: Atitude, Amplificação (Amplification) e
Fonte (Source) (pp. 24-25), ao passo que no modelo de 2005, Martin e White
utilizam Atitude, Gradação (Graduation) e Engajamento (Engagement) (pp. 37-38),
revelando o aspecto dos avanços no interior do sistema e as conseqüentes
mudanças terminológicas.

Indicadas essas questões, vejamos a relação entre o dialogismo e avaliatividade e,


em seguida, aspectos de instanciação no português do Brasil.

3. Dialogismo e avaliação

Para que compreendamos como os significados são realizados do ponto de vista


lingüístico, é necessário que partamos do pressuposto de que toda interação verbal
é dialógica, porque em toda e qualquer produção verbal cotidiana, seja oral ou
escrita, revela-se a assunção de um leitor ou ouvinte: interagimos em função do,
para e com o outro. O princípio dialógico de Bakhtin acentua exatamente a
natureza contextual da interação, bem como o aspecto sociocultural dos contextos
em que as interações são realizadas. O dialogismo, assim, torna-se o ponto de
partida para que se encaminhe a discussão sobre a relação entre dialogia e
avaliação.
É importante lembrar que, ao discutirem os recursos lingüísticos de que o produtor
textual utiliza-se para se posicionar em relação aos valores que expressa em seus
textos, Martin e White (2005: 92) informam que a abordagem que utilizam é
influenciada pelo conceito bakhtiniano de dialogismo.

Para que se entenda essa inter-relação é importante que se compreenda a


relevância do conceito de dialogismo, que permeia toda a obra de Bakhtin e para
quem o conceito é o princípio constitutivo da linguagem, pois toda a vida da
linguagem é impregnada de relações dialógicas e, conseqüentemente, na nossa
relação com o outro está o centro de toda interação verbal: é no exterior, no meio
social que está o centro organizador.

Bakhtin (1953/1992: 62) considera que " o signo e a situação social em que se
insere estão indissoluvelmente ligados. O signo não pode ser separado da situação
social sem ver alterada sua natureza semiótica" . Eis aqui, também, uma das
premissas da gramática sistêmico-funcional: a indissociabilidade na relação texto-
contexto.

A nossa consciência individual é exteriorizada pela linguagem, caracterizando-se,


dessa forma, como um evento eminentemente social e ideológico, daí o fato de o
dialogismo assumir, na teoria bakhtiniana, uma dupla função, como nos indica Brait
(1997: 98), com ênfases por mim adicionadas em negrito:

Por um lado, o dialogismo diz respeito ao permanente diálogo, nem sempre


simétrico e harmonioso, existente entre os diferentes discursos que configuram
uma comunidade, uma cultura, uma sociedade. É nesse sentido que podemos
interpretar o dialogismo como o elemento que instaura a constitutiva natureza
interdiscursiva da linguagem. Por outro lado, o dialogismo diz respeito às relações
que se estabelecem entre o eu e o outro nos processos discursivos
instaurados historicamente pelos sujeitos, que, por sua vez, instauram-se e
são instaurados por esses discursos. E aí, dialógico e dialético aproximam-se, ainda
que não possam ser confundidos, uma vez que Bakhtin vai falar do eu que se
realiza no nós, insistindo não na síntese, mas no caráter polifônico dessa relação
exibida pela linguagem.

O que se depreende, portanto, são dois aspectos relevantes.

• O primeiro é a correlação entre dialogismo e interação verbal, a partir da qual se


verifica uma interação permanente entre os participantes do diálogo.

• O segundo está na correlação entre dialogismo e intertextualidade; na qual


observamos a interdependência entre discurso e contexto e a relação dialética entre
ambos.

Já sugeri em texto anterior (Vian Jr., 2002) alguns possíveis diálogos, embora de
perspectivas espaciais, sociais e teóricas diferentes, entre Bakhtin e Halliday. Aqui,
reforço esse diálogo, pois, para que esse " permanente diálogo" a que se refere
Brait ao discutir a teoria bakhtiniana se realize léxico-gramaticalmente, serão
necessários mecanismos lingüísticos que reflitam as relações interpessoais entre os
interactantes, que são definidas pelas variáveis de registro, ou seja, o campo, as
relações e o modo do discurso determinam como a linguagem será realizada léxico-
gramaticalmente nos textos produzidos em dado contexto.

Em termos sistêmico-funcionais, também requer que se enfatize a importância do


contexto, uma vez que as teorias de Firth e, posteriormente, as de Halliday tomam
como ponto de partida a antropologia de Malinowski. Essa perspectiva estabelece
uma relação dialética entre linguagem e contexto, que é considerado tanto no nível
cultural (gênero), quanto no nível situacional (registro). É no nível do contexto de
situação que operam as três variáveis mencionadas acima (campo, relações, modo)
e que realizam, no nível léxico-gramatical, as escolhas dos usuários.

Assim, ao considerarmos o dialogismo bakhtiniano, preceituado, em seu trabalho,


frise-se, em relação à literatura, e vislumbrá-lo a partir de uma perspectiva
sistêmico-funcional, é preciso que se discuta, ainda, a noção de INSTANCIAÇÃO,
pois é este conceito que nos fornece a chave para a relação entre SISTEMA e
TEXTO: o sistema lingüístico é instanciado em forma de texto. Independentemente
do tipo de texto4 que se produza, do mais corriqueiro bom-dia a uma tese científica,
ou dos valores inerentes a tais textos, qualquer um deles será uma instanciação de
um sistema mais amplo.

O bom-dia, a forma mais trivial de se cumprimentar alguém pela manhã, por


exemplo, não terá existência se não como tal, ou seja, como texto instanciado
naquele contexto. Tome-se, a título de ilustração, o bom-dia utilizado pelo
irreverente e inconformado Adrian Conauer, vivido por Robin Williams, no filme
Bom dia, Vietnã, contrastando o aspecto da guerra iminente e a saudação de um
bom-dia em meio a tal cenário. Ou ainda, para ficar no terreno cinematográfico, o
filme Boa noite e boa sorte, bordão usado pelo âncora de TV Edward R. Morow para
encerrar seu programa de rádio nos anos 1950 em meio à perseguição comunista
de McCarthy: Morow deseja o boa noite e o boa sorte, indicando a incerteza do que
aconteceria de um dia para o outro, ou seja, ambos os cumprimentos são
impregnados de sentidos avaliativos, retirados do contexto do cumprimento diário e
inseridos em um novo contexto, assumindo, por conseqüência, novos significados.

O que se quer advogar aqui é que o texto não possui nenhum posicionamento
semiótico a não ser em referência ao sistema da língua a que pertence, ou seja,
estão imbricados no texto tanto um sistema lingüístico quanto um sistema social.

A relação entre linguagem e contexto e as possibilidades de avaliações que podem


ser feitas pelos usuários nos contextos em que interagem faz emergir o Sistema de
Avaliatividade como um sistema de recursos interpessoais à disposição do produtor
de textos para que se posicione em relação ao que expressa. E aqui a palavra
SISTEMA é de suma importância, não se tratando de uma teoria, mas um conjunto,
um sistema de opções em nível semântico discursivo à disposição dos usuários que,
no nível léxico-gramatical, será instanciado em um texto pelos mecanismos
lingüísticos de avaliação dos quais a língua dispõe. Estamos falando, portanto, de
atitudes, ou seja, a posição que assumimos perante algo ao avaliarmos o mundo
que nos rodeia, mesmo que, em muitos casos, façamos avaliações em
determinadas situações em que expressamos atitudes que possam parecer, a nós,
como corriqueiras ou inofensivas, mas que podem magoar, ofender, ferir nosso
interlocutor.

Muitas vezes, usamos itens lexicais, inclusive substantivos, que, em sua acepção
cotidiana, são desprovidos de qualquer avaliação, utilizados pura e simplesmente
para nomeação de algo, mas que, inserido em determinado contexto de situação e
dadas as relações entre os participantes, assumem características ofensivas ou
preconceituosas a partir da relação dialógica entre os participantes.

Tomemos um outro exemplo cotidiano, dessa vez ligado ao esporte, do comentado


caso ocorrido em São Paulo, em 2005, durante uma partida da Copa Libertadores
da América de Futebol entre o time brasileiro São Paulo e o time argentino Quilmes,
em que o jogador argentino Leandro Desábato foi acusado de racismo por chamar o
jogador brasileiro de macaco, o que levou o argentino a ser preso em São Paulo,
sendo indiciado ainda no estádio, o que virou notícia nacional e internacional.

Em tese, o item lexical macaco é utilizado em sua acepção cotidiana para


nomeação de um símio, mas, no contexto de situação em que a relação entre os
participantes é a de adversários em uma partida de futebol, acrescida da sugerida
rivalidade entre brasileiros e argentinos, assumiu proporções altamente avaliativas,
virando, inclusive, caso de polícia. Acresça-se o fato de o jogador, vítima de
preconceito, independentemente de qualquer avaliação ou julgamento, atender
pela alcunha de Grafite, o que por si só, faz referência a um racismo velado, mas
que, pare ele, supostamente, não soa como tal, ao passo que macaco, vindo de
onde e de quem veio, assumiu outras proporções.

Esses exemplos apontam para a relevância de se considerar o contexto quando se


trata de escolhas lingüísticas e das possibilidades de avaliação disponíveis na
língua, por isso é necessário que se entenda a relação entre SISTEMA e TEXTO e,
para tanto, é necessário também recorrer à noção de INSTANCIAÇÃO,

4. Instanciação

A noção de instanciação é de extrema importância para que se compreenda a


relação entre avaliatividade (no nível do sistema) e avaliação (no nível do texto),
isto é, a instanciação é a manifestação do sistema lingüístico no texto, o que deve,
da mesma forma, ser interpretado como um processo dialético, dado ao fato de que
a instanciação se manifesta, constrói e reconstrói os potenciais de significado de
determinada cultura.

O que se verifica, dessa forma, é a visão ampla de linguagem tanto como sistema
de escolhas disponível aos usuários como quanto texto, a materialização lingüística
desse sistema, bem como a relação entre o contexto de cultura e o contexto de
situação, como ilustra a Figura 2 a seguir, com base no sugerido por Halliday e
Mathiessen (1999: 8), indicando que a linguagem REALIZA o contexto e o texto
INSTANCIA o sistema:

 
A figura acima faz com que emirja o que talvez seja o primeiro problema que
enfrentamos ao tratarmos da questão dos dois termos em inglês
(appraisal/evaluation) e sua tradução para o português a partir de uma perspectiva
sistêmico-funcional e que está associado a uma questão primordial na relação entre
as duas perspectivas pelas quais podemos vislumbrar a linguagem: como SISTEMA
e como TEXTO.

A inter-relação sistema-texto pode ser considerada como uma das primeiras


dicotomias a ser enfrentada quando nos imbuímos da tentativa de explicar como a
língua se organiza e, mais que isso, de que modo essa organização está à
disposição do ser humano em sua utilização da linguagem no cotidiano. Outra
questão a se levantar é a de que talvez estejamos pensando nas duas perspectivas
simultaneamente ou em sobreposição, quando, na verdade, estamos tratando de
coisas distintas, conforme ilustrado na Figura 1, no item 2.

Halliday (2004: 26-27) metaforiza a relação sistema-texto a partir da relação entre


tempo (weather) e clima (climate), que não representam diferentes fenômenos,
mas sim o mesmo fenômeno visto de perspectivas diferentes. Em suas palavras,
traduzidas livremente por mim: " O tempo é o texto: é o que acontece ao nosso
redor o tempo todo, causando impacto, e às vezes, distúrbios em nosso cotidiano.
O clima é o sistema, o potencial que subjaz a esses efeitos variáveis" .

Glosando a relação clima-tempo estabelecida por Halliday, ofereço aqui um


exemplo lhano relacionado à nossa cultura, mas talvez bastante ilustrativo 5 com o
intuito de facilitar a compreensão da relação entre texto e sistema, pois essa
relação pode também ser metaforizada por meio do uso do exemplo de uma
padaria: há em sua cozinha todo um potencial de pães a serem produzidos, mas lá,
na cozinha, reduzem-se apenas à farinha, ou seja, a farinha é todo o potencial de
significado que, ao ser manuseado pelos profissionais, transformar-se-á em bolos,
pães, brioches, croissants, biscoitos, roscas, pães de queijo, e toda a gama de
espécies que podem ser produzidas, de acordo com o contexto de situação daquela
padaria.

Logo, essas diferentes espécies de pães são 'textos' instanciados a partir da


farinha: a farinha é o sistema, o pão é o texto. A influência do contexto, ainda, vai
definir a que gênero o pão-texto pertence, pois, para a mesma ocorrência temos,
em diferentes contextos de situação, diferentes tipos de pão, inclusive com nomes
distintos em contextos variados.

5. O Sistema de Avaliatividade

Ao considerarmos as formas como ocorrem os mecanismos de avaliação do ponto


de vista de sua realização léxico-gramatical, temos uma vasta gama de escolhas
disponíveis no sistema lingüístico. Podemos, por exemplo, ser mais ou menos
intensos, pouco ou muito enfáticos, mais ou menos distantes de nossos
interlocutores, muito ou pouco formais. Isso equivale a dizer que a linguagem
oferece mecanismos diversos para que atribuamos diferentes avaliações aos mais
diferentes aspectos de nossas atitudes em nosso cotidiano.

Mesmo considerando a pletora de opções disponíveis na língua das quais podemos


fazer uso ao avaliarmos algo, é possível categorizarmos os recursos léxico-
gramaticais utilizados nas avaliações.
Para a categorização das ocorrências desse sistema de avaliação, Martin e
colaboradores estabeleceram o Sistema de Avaliatividade, consubstanciado
principalmente em Martin e White (2005), mas apresentado em outros autores
anteriormente, como no próprio Martin (2000, 2002, 2003) e também em Eggins e
Slade (1997) e em White (2004a; 2004b), que nos permite analisar, a partir da
perspectiva sistêmico-funcional de linguagem, os recursos utilizados, sinalizando,
inclusive, para mudanças terminológicas, como já apontado.

Segundo os trabalhos difundidos por pesquisadores ligados à Escola de Sydney, são


três os principais tipos de atitudes: expressamos sentimentos e emoções,
julgamentos de caráter e avaliações, que podem ser, portanto, categorizados em
três tipos de recursos:

recursos utilizados para expressar


Afeto
emoção
Julgament
recursos utilizados para julgar o caráter
o
recursos utilizados para atribuir valor às
Apreciação
coisas

Paralelamente a estes três recursos, incluem-se, simultaneamente à Atitude, a


Gradação e o Engajamento. Ou seja, ao fazermos uma avaliação, também
selecionamos o quanto queremos amplificá-la, isto é, se pretendemos aumentar ou
diminuir o grau de nossa avaliação, assim como indicamos a fonte de nossa
avaliação. Pode-se assim dizer que as atitudes que expressamos distribuem-se por
três campos: afeto, julgamento e apreciação, além de, ao externarlizarmos
verbalmente nossas atitudes, optamos por graduá-las e o fazemos em relação ao
nosso envolvimento com nossos interlocutores e também em relação ao que está
sob avaliação. Estas opções, portanto, podem ser resumidas da seguinte maneira:

Em relação ao termo Engajamento utilizado na figura acima, estou utilizando


como tradução para Engagement; poderia também ser traduzido por Envolvimento,
mas o faço pelo fato de, no nível semântico-discursivo, Martin e White (2005)
apontarem três possibilidades de recursos para a transmissão de significados
interpesoais: Envolvimento (Involvement), Negociação (Negotiation) e
Avaliatividade (Appraisal), ou seja, é mais uma maneira de se evitar novas
confusões terminológicas.

As atitudes, a partir da perspectiva do Sistema da Avaliatividade, podem ainda ser


vistas como um sistema da semântica discursiva, que se realiza léxico-
gramaticalmente através de diferentes estruturas gramaticais.
Ao expressamos nossas atitudes, podemos vislumbrá-las como sentimentos
institucionalizados (Martin e White, 2005: 45), sendo que o julgamento refere-se ao
universo das propostas sobre o comportamento e a apreciação ao universo das
proposições sobre o valor das coisas. O afeto, dessa forma, é o centro das atitudes
que expressamos. Ontogeneticamente falando, os recursos lingüísticos para a
realização da avaliação são apre(e)ndidos nos primeiros estágios do
desenvolvimento lingüístico. Assim, o mecanismo da inter-relação entre afeto,
julgamento e apreciação pode ser visualizado na seguinte figura, traduzida de
Martin e White (2005: 45):

Na teoria sistêmico-funcional, a linguagem é concebida com um sistema semiótico


em três estratos: um de significados, um de fraseados e outro de letras/sons. É
relevante, neste ponto, estabelecer a relação entre os estratos da linguagem para
os níveis de realização lingüística. Temos, primeiramente, em um nível micro, o
estrato grafo-fonológico (letras/sons). Em um segundo plano, temos o nível da
oração, que é realizada pela léxico-gramática (fraseados) e, por fim, em um
terceiro nível, o semântico-discursivo (significados), localizado em um nível de
abstração que está além da oração. A relação entre os três estratos, conforme
preceitua a teoria sistêmico-funcional de Halliday, organiza-se da seguinte forma:

 
 

O Sistema de Avaliatividade, a partir das ilustrações apresentadas, localiza-se no


estrato da semântica do discurso e é realizado, em termos lexicais e gramaticais,
no estrato da léxico-gramática, oralmente ou escrito, de acordo com a interação
que se desenvolve, pelo estrato grafo-fonológico.

Ao selecionar o léxico avaliativo quando julgamos algo, partimos de sistemas


semânticos, que são realizados léxico-gramaticalmente de forma a reforçarmos,
ampliarmos ou minorarmos, reduzirmos, aquilo que avaliamos. Pode-se dizer,
assim, que o Sistema de Avaliatividade caracteriza-se como um sistema
interpessoal no nível da semântica do discurso que está articulado,
simultaneamente, a outros dois sistemas, Negociação e Envolvimento e, em um
nível superior em abstração, está relacionado à variável de registro Relações.
Poderíamos, assim, esquematizar as relações entre os elementos do contexto de
situação (registro, representada pela variável Relações), a semântica discursivo e a
léxico-gramática:

Reduzindo-se o escopo ao campo central do quadro acima e restringindo-nos


apenas aos recursos de avaliatividade (em negrito e sombreado), como uma das
áreas da semântica do discurso, chegamos, finalmente, ao Sistema de
Avaliatividade. Ao retomarmos e ampliarmos o modelo da Figura 3, representando-
o de outro modo, veremos que os três tipos de recursos à nossa disposição para
indicarmos as realizações léxico-gramaticais em subsistemas podem ser também
representados, com base no sistema mais amplo de significados disponíveis, da
seguinte maneira:

O que se observa na proposta de Martin e White (2005) é que os autores


pretendem desenvolver um sistema semântico-discursivo para a avaliatividade, o
que sugere uma gama de realizações em diferentes estruturas léxico-gramaticais.
Tais realizações, a partir da nomenclatura sugerida por Halliday (1994), realizar-se-
á através da modificação de participantes, processos e adjuntos, em diferentes
instâncias, podendo configurar-se no texto como qualidades, através de epítetos,
atributos e circunstâncias, através de diferentes processos, mas principalmente
comportamentais e mentais, ou como comentários, através de adjuntos modais. Ou
seja, trata-se de um sistema na interface entre semântica do discurso e léxico-
gramática, da realização dos significados no texto através dos recursos disponíveis
na semântica do discurso.

A proposta aqui, portanto, é discutir alguns tópicos relacionados ao uso da


gradação em português brasileiro e, pelo fato de a maioria dos recursos no Sistema
de Avaliatividade sugeridos por Martin e White (2005) serem aplicáveis ao idioma,
propomo-nos a discutir alguns casos típicos que caracterizam a tipologia do idioma,
através do uso de recursos não disponíveis ou diferenciados da língua inglesa,
como é o caso da ordem dos elementos no grupo nominal para aumento e
diminuição da força do que é expresso pelo usuário.

Reforço: trata-se simplesmente do levantamento de alguns aspectos tipológicos de


nosso idioma, que, como tal, está sujeito a críticas e alterações. Pretendo apenas
trazer à baila a relevância que mais estudos sobre o assunto têm para o estudo da
tipologia do português brasileiro em termos sistêmico-funcionais. Na verdade, estou
apenas seguindo os passos propostos por Martin e White e tentando aplicá-los ao
estudo do idioma, uma vez que se trata de uma área muita ampla, pois está ligada
à semântica do discurso e, todo aquele envolvido na análise sobre como ocorre a
avaliação no discurso deparar-se-á com tais aspectos, como bem sugerem os
autores (2005: 46):

Thus our mapping of feeling (for affect, judgement and appreciation) have to be
treated at this stage as hypotheses about the orgnization of the relevant meanings
– offered as a challenge to those concerned with developing appropriate reasoning,
as a reference point for those with alternative clasifications and as a tool for those
who need something to manage the analysis of evaluation in discourse.

Acrescemos, ainda, o fato de os autores estarem fazendo tal afirmação em relação


ao estudo dos três subsistemas (Afeto, Julgamento, Apreciação) relacionados ao
sistema de Atitude, ao passo que aqui são focados especificamente aspectos
relacionados à Gradação.

Vejamos, com base nesses conceitos, como tais ocorrências realizam-se em textos
produzidos em língua portuguesa, através dos exemplos que serão apresentados no
item subseqüente.

6. Recursos para Gradação no português brasileiro

Para discutir aspectos do SISTEMA DE AVALIATIVIDADE, bem como os RECURSOS


PARA AVALIAÇÃO disponíveis em Língua Portuguesa, dentro do subsistema de
Gradação e dos significados disponíveis na língua para enfatizar ou reduzir a força
das avaliações, utilizaremos exemplos retirados do livro Mundo Perdido, de Patrícia
Melo (2006).
Mundo Perdido compõe-se de 20 capítulos e, para a seleção das ocorrências,
optamos por recortes de diferentes capítulos, para que o leitor tenha uma visão
panorâmica de como a linguagem avaliativa permeia o texto.

A partir da seleção desses excertos, pretendemos discutir a maneira como a autora


seleciona recursos de gradação em seu texto, acentuando a avaliação negativa e
trazendo ao leitor o mundo marginal e, embutido nisso, uma sátira social. Nosso
objetivo, portanto, está em apontar aspectos semânticos e léxico-gramaticais da
variante brasileira da língua portuguesa em relação à Gradação e como esta se
realiza léxico-gramaticalmente, tomando-se por base a história narrada por
Máiquel, também protagonista de O matador (Melo, 1995), outro livro da mesma
autora transformado no filme O homem do ano, e que, na presente narrativa,
retorna, depois de 10 anos foragido, com o intuito de encontrar sua filha, Samanta,
e matar a segunda esposa, Érica, e o novo marido desta, Marlênio, um pastor
evangélico, que fugiram com a filha de seu primeiro casamento e com seu dinheiro.

Antes de tudo é preciso sinalizar que a avaliação já está presente no título do livro,
pois, ao retratar um mundo perdido, já se tem a pista de que vamos mergulhar em
um mundo sem solução, um mundo de crimes, irregularidades e ilegalidade.
Ressaltamos também que o item lexical 'foragido' é recorrente em todo o livro, de
forma a marcar a condição em que se encontra o protagonista. A narrativa inicia-se
com essa indicação, como a primeira oração da narrativa:

Sou foragido.(p. 9, grifo meu)

E, da mesma forma, após diversas recorrências para que fique bem claro o seu
posicionamento social e discursivo, encerra-se a narrativa, no último parágrafo:

Não quis nem saber. Sou foragido. Virei as costas e entrei no carro. (p. 205, grifo
meu)

As incursões do personagem ao mundo marginal são várias, uma vez que o périplo
para que encontre a filha inicia-se em São Paulo, cruzando o interior do Estado em
direção ao Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, passando por várias cidades desses
Estados, indo até a Bolívia e depois a Belém do Pará e encerra-se em Manaus,
cenários nos quais são apresentados ao leitor os mais diversos tipos de crime:
roubos de cargas e caminhões, narcotráfico, comércio ilegal de armas, exploração
ilegal de madeira, exploração de menores e diversos outros. Pelo fato de o mundo
ser visto e narrado pela perspectiva de Máiquel, um marginal matador, tem-se uma
visão marcadamente negativa do país e de seu povo. Dessa forma, podemos
verificar os mecanismos disponíveis em língua portuguesa e como estes funcionam
em relação ao léxico avaliativo de cunho negativo.

Assim como em língua inglesa, os mecanismos em língua portuguesa para


intensificação das avaliações são bastante amplos. Observemos o seguinte trecho
de Melo (2006: 9-10):

Vai amanhã bem cedo. Era o problema da Eunice, muito mandona. No início,
duvidava de tudo o que eu dizia. Uma vez, chegou a arrancar o telefone da
minha mão, para checar com a enfermeira a idade da tia Rosa. Expliquei milhões
de vezes que eu era o único sobrevivente da família, depois que meu primo
Robinson morreu, a tia Rosa ficou muito triste.

Os itens em negrito trazem diferentes tipos de avaliação, com modificações em


vários aspectos, relacionados às qualidades, aos processos e outras escolhas léxico-
gramaticais impregnadas de avaliação quando relacionadas ao contexto de situação
em que se desenvolve a narrativa de Patrícia Melo, ocorrendo os mais diversos
tipos de avaliação disponíveis no Sistema de Avaliatividade. Apresentarei e
discutirei aqui, como sinalizei, apenas alguns representativos de aspectos
tipológicos do português brasileiro em relação à gradação.

Primeiramente, é relevante mencionar a questão da ordem do epíteto no grupo


nominal: por ser primariamente um modificador do nome, ocorre, com maior
freqüência, posposto ao nome que qualifica:

gente escrota
gosto amargo
trens lotados
avenidas apinhadas

No entanto, para exprimir a qualidade que distingue ou que individualiza algo, pode
ocorrer anteposto ao substantivo:

bom negócio
bom agenciador
grande Máiquel

Quando procedemos a uma avaliação, o foco de nossas atitudes recai em


categorias que, vistas pela perspectiva experiencial, não apresentam escalas
gradativas, mas operam como forma de reconstruir categorias de gradação em
relação ao item que é avaliado. Como nos exemplos abaixo:

Brasileiro é assim, escroto mesmo.


Sou comprista mesmo.
Só xingando mesmo.

Esse mecanismo, portanto, é denominado Foco. Tem por função, ainda, acentuar
ou amenizar determinada perspectiva.

Além do mecanismo de Foco, os recursos de Gradação podem também ser


realizados pelo mecanismo de Força da avaliação, e a língua portuguesa dispõe de
diversos recursos para que possamos graduar e reforçar a nossa avaliação sobre
algo, dentre eles, os mecanismos de repetição e a utilização de prefixos e sufixos
que aumentam ou diminuem a força das avaliações.

A repetição de um mesmo item lexical é um recurso freqüentemente utilizado para


intensificarmos a força de algo. Nos exemplos a seguir, as personagens desejam
reforçar os aspectos negativos da cidade de São Paulo e da cidade de Campo
Grande e, para isso, utilizam o modificador repetidas vezes:

Mais cachorro. Mais barulho. Mais sujeira também.


Muito feia esta terra, muita gente, muita pobreza, muito dinheiro, muito prédio,
muita puta, muito lixo, muito trânsito...
... lá tem muita puta, muita droga e muito árabe.

Dentre os diversos prefixos gregos e latinos presentes no português, muitos são


utilizados com a função de intensificar a avaliação de acordo com o item que
antepõem:

... tem um shopping superlegal.


Já estava ultraligado no repórter...
O mesmo mecanismo pode acontecer pelo emprego de sufixos, através dos quais é
possível intensificar a característica de um nome adicionando-se o sufixo
aumentativo:

Corpão, toda malhada.


Eu tinha perdido um tempão
cada carrão
mulherão na TV.

Como a narrativa de Mundo Perdido é pautada pelas aventuras de Máiquel, um


matador de aluguel, e seu contato com o submundo, vale ressaltar a constante
referência a itens lexicais de linguagem chula ou tabuística utilizada no decorrer da
narrativa, principalmente na forma de nominalizações, quando este se refere a
outros personagens e ao contexto.

De bostas, como nossos políticos.


Desses merdas, que só pensam em roubar

Ou, ainda, como já mostrado anteriormente, através do uso de sufixos


aumentativos que adicionam um aspecto ainda mais avaliativo a um item chulo já
impregnado de avaliação:

você está fodidaço

E mesmo a repetição de itens de um mesmo campo semântico:

E são tantos os ladrões, os corruptos, os filhos-da-puta, os assassinos,


escroques, falsários
São corruptos, ladrões, cheiradores de pó.

Por outro lado, a força também pode ser reduzida por meio do uso de palavras de
aspecto avaliativo negativo, que, por sua vez, caracterizam as condições sub-
humanas de vida em locais periféricos, o que ocorre, por exemplo, com palavras do
campo semântico de casa, mas com um aspecto negativo, como ocorre com o
emprego de palavras como muquifo, buraco, barraco; ou palavras relacionadas ao
crime, como tramóias, esquema, sacanagem; além de outras ocorrências que
demonstram o preconceito de Máiquel:

Mas eu não mato corno. Nem trabalho para veado.


... não fique à noite zanzando por aí com preto. Porque primeiro ele vêm atrás dos
pretos.

A redução da força avaliativa pode também ocorrer através do acréscimo, a


determinados itens lexicais, do sufixo diminutivo, o que pode reduzir a força de
algo de diferentes maneiras:

(a) depreciativa
ele disse, o cara-de-pau, com um sorrisinho
fazendo um monte de gracinhas
esses caras fazendo piadinhas
aquela branquela
(b afetiva, carinhosa
) Branquinhos os dentes da Divani.
começar uma vida nova numa cidadezinha
Se eu estou assim, meio tristinha, é só comprar
uma blusinha nova, um brinquinho
As coisas estavam iguaizinhas.

O sufixo diminutivo tem um valor avaliativo bastante significativo, agregando-se


não só a epítetos e classificadores, mas também a nomes e modificadores.

Outro aspecto característico do português é que os sufixos flexionam-se em gênero


e número, traço tipológico do idioma:

masculino
novinhO
singular:
masculino
branquinhOS
plural:
   
feminino
blusinhA
singular:
feminino plural: iguaizinhAS

A alternância entre a intensificação e a redução da força revela aspectos grotescos,


como no exemplo abaixo, em que fica patente o aspecto esdrúxulo do que está
sendo avaliado.

o narigão, a boquinha, a testona, o dentinho

Outra forma de avaliação no texto de Melo ocorre através da seleção de processos


verbais, nos quais a autora tenta realçar aspectos negativos, utilizando processos
marcadamente avaliativos:

ela não sair cacarejando...


Aí desembestou a falar, foi o resto do trecho tagarelando.
A cabeça emperrou
meu cérebro pifa.
a multidão urrava

Ainda em relação aos processos, um recurso comum utilizado pela autora é a


recorrência ao léxico atitudinal, realizado muitas vezes pelo uso de processos
relacionais, tanto atributivos como identificativos em relação às características
negativas dos aspectos avaliados, como ilustram os seguintes exemplos:

 
 

Além dos processos, ocorre também a metáfora como recurso de avaliação, tendo
em vista que talvez seja um dos mecanismos mais utilizados no cotidiano, pois é a
forma que o produtor de textos encontra de fazer comparações e de usar termos no
lugar de conceitos que pretende criar. Observemos as seguintes ocorrências:

E faz a gente viajar que nem tartaruga


Tinha língua, o Josias
Josias tomou rebite, para ficar acordado.

Percebe-se, a partir desses exemplos, que o usuário, na falta da palavra que


expresse a atitude que quer transmitir, metaforiza o sentido, como na comparação
com a tartaruga para dizer que viajam devagar. No exemplo seguinte, ao dizer que
o Josias tinha língua, Máiquel usa 'ter língua' para dizer que a personagem não é
muda como ele pensava, pois não tinha falado até então, metaforizando a
capacidade da fala. A terceira ocorrência, tomar rebite, denotativamente uma haste
de metal cilíndrica e parte do cotidiano de caminhoneiros, é utilizada
conotativamente para se referir às drogas ingeridas para que se mantenham
acordados e cumpram os prazos de entregas de cargas.

Finalmente, ocorrem casos de intensificação em que modificadores são utilizados


para se reforçar algum aspecto negativo por meio do emprego de outros
modificadores ou intercalando-os ao epíteto, como nos exemplos abaixo:

Muito. Muito mesmo.


... ficou mais feio ainda.
Apareceu ainda mais gente.
... você está encrencado, bastante encrencado.

Ao observarmos as possibilidades de ocorrência dos recursos léxico-gramaticais


para a realização dos significados avaliativos apresentados até aqui, podemos
estabelecer, com base em Martin e Rose (2003: 48), mecanismos de força e de
foco, que podem ser acentuados ou amenizados. Dentre os mecanismos de força,
foram apresentados ocorrências por meio do uso de intensificadores, léxico
atitudinal, metáforas e linguagem chula, sendo que esses recursos podem ser
aumentados ou diminuídos, de acordo com a intenção avaliativa do interactante.

Os recursos para Gradação, no entanto, são mais complexos e apresentam diversos


desdobramentos possíveis que, devido ao escopo deste trabalho, não foram
apresentados aqui. O capítulo 3 de Martin e White (2005) apresenta um sistema
em rede para os recursos de Gradação.

O Sistema de Avaliatividade proposto por Martin e White (2005) em relação aos


recursos para Gradação mostra-nos que as categorias sugeridas pelos autores
podem ser aplicadas à língua portuguesa da mesma forma como são utilizadas na
língua inglesa, como originalmente proposto. As diferenças, no entanto, estarão nas
formas como as ocorrências serão instanciadas de acordo com os gêneros e com o
registro da cultura local, determinando a realização léxico-gramatical das
ocorrências. Emergirão, daí, ocorrências específicas do português brasileiro e, pela
relação dialética entre texto e contexto, teremos itens típicos do contexto, como os
aspectos relacionados ao crime nos exemplos apresentados.

A opção por apresentar exemplos de avaliação negativa se deu a partir da leitura


do texto de Melo e de toda a gama de ocorrências presentes no texto, que revelam
aspectos culturais da sociedade brasileira pela perspectiva da autora. Além disso, a
abordagem sistêmico-funcional desenvolvida por Halliday tem como ponto de
partida o contexto, que pode ser interpretado através do discurso, realizado léxico-
gramaticalmente. Além, é claro, de aspectos tipológicos típicos da língua
portuguesa, como o caso do diminutivo e outros aspectos que se refletem na
linguagem que, numa análise mais densa, fazem emergir aspectos da cultura do
jeitinho, do levar vantagem sobre o outro, da negação da cidadania, do
conformismo, e outros tantos aspectos da cultura brasileira que Resende (1992)
classifica como " doenças culturais que fragilizam a sociedade brasileira" , que,
embora não tenham sido demonstrados neste texto, podem ser desenvolvidos em
estudos futuros.

Essas " doenças" , portanto, são realizadas lingüisticamente pelo léxico presente
nos diferentes textos e mostram a relação texto-contexto, como pôde ser
observado através dos exemplos retirados de Melo (2006), e que abrem
perspectiva para um trabalho mais amplo, que mostre as relações entre as doenças
culturais apontadas por Resende (1992) e sua realização léxico-gramatical em
textos.

Os exemplos apresentados ilustram ainda as diversas possibilidades de Gradação


em língua portuguesa. Reforçamos o fato de que os itens aqui apresentados
pretendem ser apenas ilustrativos e não intencionam, de forma alguma, esgotar o
assunto, mas apenas apresentá-los para que se tenha uma dimensão dos aspectos
tanto práticos quanto teóricos sobre a utilização dos recursos no Sistema de
Avaliatividade, assim como as implicações teóricas desse sistema e que possam ser
ampliadas e levadas adiante, sendo aplicada a outros contextos.

Os aspectos aqui apresentados tentaram ilustrar os mecanismos utilizados por


Patrícia Melo em sua narrativa de Mundo Perdido, uma sátira, uma crítica social ao
Brasil e seu mundo do crime, o que imprime à sua narrativa uma profusão de itens
avaliativos que reforçam, a partir das escolhas feitas pela autora, os aspectos
negativos da cultura brasileira e do povo, tais como a corrupção e o mundo do
crime, que emergem a partir das escolhas lingüísticas feitas pela autora e a ênfase
no léxico avaliativo marcadamente negativo.

7. Considerações finais

Talvez o primeiro aspecto que se depreenda ao revisitar o Sistema de


Avaliatividade, conforme proposto por Martin e White (2005), é o quão complexo
ele se configura e as mais diversas nuances para a apreensão da avaliação e como
ela ocorre na linguagem através de mecanismos lingüísticos, tanto lexicais quanto
semânticos e gramaticais. Nossa proposta, aqui, foi o de utilizar o termo
avaliatividade para que se possa apreender a noção de SISTEMA em relação à
avaliação, realizada no TEXTO.

Argumentamos, ainda, em relação à não-utilização dos termos valoração e


apreciação para o sistema como um todo. O termo valoração por estar relacionado,
em um primeiro momento, apenas ao ato de atribuir valor, embora, certamente,
podem agregar-se a ele outros aspectos, mas trata-se de um sentido restrito que
não abarca todo o potencial de significados imbricados no potencial de significados
disponível para avaliarmos, uma vez que fatores como afeto, contato social,
crenças, representações, valores, elementos culturais e tantos outros
interpenetram a avaliatividade.
Pensando na questão polissêmica em relação à profusão de termos relativos ao
Sistema de Avaliatividade, teremos diversas palavras consideradas sinônimas do
verbo avaliar em português, como por exemplo, agaloar, ajuizar, apreçar, apreciar,
aquilatar, avaliar, avaluar, bitolar, calcular, computar, considerar, distinguir,
esmar, estimar, medir, orçar, suputar, valorizar. O mesmo ocorrendo para o inglês,
em que encontramos palavras do mesmo campo semântico, tais como appraisal,
appraisement, appreciation, assessment, calculation, estimate, estimation,
evaluation, interpretation, judgement, opinion, rating, reasoning, reckoning,
valuation. Tais palavras podem, sim, ser sinônimas de avaliação em determinados
contextos, mas absolutamente sem sentido em outro e, aqui, estamos tratando do
potencial de significados de avaliação, ou seja, um sistema com um escopo macro e
não micro, daí a relação avaliatividade/avaliação, no mesmo nível de relação entre
sistema/texto.

Ao considerarmos os aspectos dos potenciais de significados disponíveis no sistema


lingüístico ao usuário da língua e que se realizam léxico-gramaticalmente nas
interações cotidianas em forma de textos, propormos a seguinte figura como forma
de estabelecer a relação:

A inter-relação entre esses elementos, que coloca o Sistema de Avaliativade em


funcionamento, proposta na Figura 7 acima, desenvolve-se da seguinte forma:

(1) Inserido em um contexto sócio-histórico, cultural e institucional, está o


Interactante, determinado por suas relações sociais, que emite a avaliação sobre
algo ou alguém do mundo que o rodeia.

(2) Ao proceder a qualquer tipo de avaliação, utiliza o Item avaliado recorrendo a


um sistema de significados avaliativos em potencial que está à sua disposição e que
lhe permite realizar determinadas escolhas em detrimento de outras.

(3) As escolhas realizadas léxico-gramaticalmente a partir das metafunções


(experiencial, interpessoal, textual) pelos sistemas (transitividade, modo,
modalidade, tema) a elas inerentes, por sua vez, são determinadas pelo Contexto,
pelas variáveis de registro, ou seja, o contexto de situação em que o produtor de
textos se insere e as escolhas do texto que vai produzir, o modo como vai optar por
produzir esses textos e com base nas relações estabelecidas entre o indivíduo e seu
universo.

(4) A avaliação sendo feita, no entanto, só fará sentido se assumida pelo Outro, o
interlocutor, e percebida como tal, pressupondo-se que o interlocutor partilhe ou
pressuponha os mesmos valores sociais emitidos, assimilando assim a avaliação e
assumindo o seu papel, posicionando-se em relação a ela, implicando, além disso, o
aspecto eminentemente dialógico do Sistema de Avaliatividade.

A avaliatividade, dessa forma, está relacionada ao sistema e cada uma das escolhas
avaliativas feitas pelo usuário, permeadas por outros discursos, por suas crenças,
seus julgamentos, suas experiências de mundo, afeto e diversos outros elementos
contextuais e individuais serão instanciadas e realizadas no texto léxico-
gramaticalmente. Isso significa que uma avaliação pode não ser assumida como tal,
dependendo da relação entre os usuários, das diferenças culturais e sociais, pois
um item lexical pode assumir um significado avaliativo em um contexto e não em
outro.

Daí a necessidade de estabelecermos a correlação entre SISTEMA e TEXTO, para


que se compreenda o funcionamento das diferentes instâncias em que a língua
funciona, o que reforça ainda mais o caráter contextual da gramática sistêmico-
funcional de Halliday, evidenciando que as escolhas que fazemos são dialógicas e
ideológicas: fazemos determinadas escolhas em detrimento de outras baseadas em
nossas relações sociais, nos papéis sociais que desempenhamos naquele dado
contexto e em nossa relação com nossos interlocutores.

Há que se considerar, ainda, o fato de termos abordado neste artigo apenas o


recurso da Gradação, tendo apenas sinalizado, do ponto de vista teórico, os
recursos de Envolvimento, que compreendem os aspectos monoglóssicos e
heteroglóssicos e o recurso da Atitude, que envolve as categorias de Afeto,
Julgamento e Apreciação e que merecem ser mais amplamente discutidos.

O foco foi o uso da linguagem avaliativa marcadamente negativa em que o


protagonista de Mundo Perdido (Melo, 2006) apresenta suas visões, do lugar social
de um foragido da polícia, sobre um Brasil corrupto, ilegal, que infringe leis,
normas, regras para que se sobreviva em meio à pletora de irregularidades que o
caracteriza, mostrando a relação linguagem-texto-contexto e como a expressão do
conteúdo de nossas visões de mundo realizam-se léxico-gramaticalmente através
das avaliações que permeiam nossos discursos.

Em relação às diversas categorias propostas por Martin e White (2005), observa-se


que são absolutamente pertinentes ao português brasileiro, devendo-se levar em
consideração apenas os aspectos lexicais e determinadas marcas que não existem
na língua inglesa, como é o caso da afixação para aumentativo e diminutivo e
também da posição dos epítetos e classificadores que, em inglês, possui um
estatuto diferente do português. No mais os sistemas e subsistemas são
absolutamente correlacionados.

Os conteúdos levantados neste texto pretendem apenas servir como deflagradores


de novas e mais amplas discussões sobre os recursos de avaliatividade disponíveis
em língua portuguesa, bem como suscitar novas e mais amplas discussões sobre o
assunto, as quais, espero, possam ser cada vez mais densas e profícuas e possam
abrir veredas para os estudos da gramática funcional sistêmica de Halliday em
língua portuguesa.
 

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Recebido em abril de 2007.


Aprovado em fevereiro de 2008.

E-mail: orlandovianjr@uol.com.br
* Agradeço à Leila Barbara pela leitura da versão preliminar deste texto e ao
Rodrigo Esteves de Lima-Lopes pela leitura cuidadosa e pelas valiosas sugestões de
forma e conteúdo. Também a Carolina Ventura, Mauro Sobhie e Rodrigo Esteves
Lima-Lopes pelas discussões na tradução de alguns termos. Além dos instigantes e
significativos comentários dos dois pareceristas, a quem agradeço imensamente. As
falhas e inconsistências remanescentes, advirto, são de minha inteira
responsabilidade.
1 Há um grupo de discussão de gramática sistêmico-funcional em língua
portuguesa, da qual participam pesquisadores de vários centros de pesquisa do
país. Para filiação ao grupo, enviar mensagem para gsfemportugues-
subscribe@yahoogrupos.com.br. Para a lista de termos sistêmico-funcionais
traduzidos para o português, acesse: http://www2.lael.pucsp.br/~tony/sistemica/,
em " Termos" .
2 Conforme Jim Martin, em comunicação pessoal com o autor no 35th International
Systemic Functional Conference, Odense, Dinamarca, e no IV Simpósio
Internacional de Gêneros Textuais, Tubarão, Santa Catarina.
3 Estou utilizando 'escala de instanciação' como correspondente a 'cline of
instantiation'.
4 Enfatizamos aqui que a noção de texto preceituada por Halliday inclui qualquer
produção oral ou escrita.
5 Credito esse exemplo a Mauro Sobhie, de quem tomei emprestada a metáfora.
DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística
Teórica e Aplicada
Print version ISSN 0102-4450
DELTA vol.28 no.1 São Paulo  2012

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-44502012000100006 

DEBATE

Avaliatividade, engajamento e valoração

Appraisal, engagement and valuation

Orlando Vian Jr

(Universidade Federal do Rio Grande do Norte). E-mail: orlando.ufrn@gmail.com

RESUMO

A partir do arcabouço teórico da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), este texto é


uma réplica ao texto de Souza (2011), em que são discutidos aspectos sobre o
conceito de instanciação, assim como a tradução de alguns termos do sistema de
avaliatividade (Martin & White, 2005) para a língua portuguesa presentes no texto
de Vian Jr (2009). O objetivo aqui é (1) reforçar os argumentos apresentados em
Vian Jr (2009) para os termos avaliatividade, engajamento e valoração como
correspondentes a appraisal, engagement e valuation por um lado e, por outro, (2)
apontar para as incoerências no texto de Souza (2011), bem como suas posturas
em relação à teoria.

Palavras-chave: LSF, instanciação, sistema de avaliatividade, engajamento,


valoração.
ABSTRACT

Within the Systemic Functional Linguistics (SFL) framework, this text is a reply to
Souza (2011), and the aspects discussed by the author on the concept of
instantiation as well as the translation of some terms of the Appraisal system
(Martin & White, 2005) into Portuguese as suggested by Vian Jr (2009). The aim is
to (1) strengthen the arguments presented in Vian Jr (2009) for the terms
avaliatividade, engajamento and valoração as the corresponding translations for
appraisal, engagement and valuation on the one hand and, on the other, (2) point
to the inconsistencies in Souza's text (2011), as well as her positions regarding the
theory.

Key-words: SFL, instantiation, appraisal system, engagement, valuation.

Há palavras que se retraem, que se recusam - porque significam de mais para os


nossos ouvidos cansados de palavras.
José Saramago, Claraboia, p. 43

1. DIÁLOGOS IMPROVÁVEIS

O campo teórico, metodológico e aplicado da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF)


no Brasil, por lidar com uma teoria elaborada em língua inglesa e com vasta
produção tanto teórica quanto aplicada nessa língua, faz com que o pesquisador
brasileiro enfrente a questão do uso dos termos em inglês e sua tradução para a
língua portuguesa. Sem mencionar novos modos de observar fenômenos
linguísticos e a adoção de diferentes procedimentos analíticos.

Como é significativo o número de pesquisadores que não lêem os textos no original


e dependem de traduções ou de textos que discutam a teoria, um problema comum
é a maneira como termos em língua inglesa são veiculados em português.

Esse estado de coisas nos induz à seguinte pergunta: quem define a adequação da
tradução de um termo ou o modo como ele circula? A resposta é óbvia: a
comunidade discursiva que o utiliza, sem dúvida. Prova disso, é a lista de discussão
da comunidade de pesquisadores em LSF brasileiros, assim como outros fóruns de
discussão, como a lista de discussão da Associação de Linguística Sistêmico-
Funcional da América Latina (ALSFAL), em âmbito latino-americano, ou, em âmbito
regional, a lista de discussão do Grupo de Sistemicistas do Nordeste (GSN). Isso
aponta para o fato de que somente membros da comunidade, de modo coeso,
partilhado e familiarizados com a teoria e com sua aplicação é que estão aptos a
definir qual termo é adequado aos propósitos teóricos e metodológicos da pesquisa
no campo em que se inscrevem e se encarregam de sua circulação e disseminação;
independentemente de essa busca por um consenso soar para alguns como a
procura de um termo ideal, trata-se pura e simplesmente do estabelecimento de
uma linguagem comum a ser partilhada pela comunidade discursiva.
Tendo esse cenário como pano de fundo, e incomodado com o uso do termo
appraisal em português, produzi em 2009 (Vian Jr, 2009) o texto em que defendo o
uso do termo avaliatividade como possível correspondente em língua portuguesa,
em detrimento de outros que estavam sendo usados.

Inscrita no campo de estudos da tradução, Souza (2011) propôs-se a dialogar com


meu texto em que afirma que "estabelece um diálogo com Vian Jr (2009)" (2011:
73) e que seu artigo "se propõe a dialogar com esse autor, por meio de uma
reflexão teórica sobre as visões de tradução e de língua subjacentes ao seu
posicionamento, bem como apontar soluções alternativas" (2011: 74).

Essas "soluções alternativas", no entanto, tomam rumos inesperados e a autora


assume a tarefa de apontar equívocos, além de supostas visões de traduções, sem
apontar qual a relevância existente para o texto ou para os estudos da área a
discussão sobre as visões de tradução de Vian Jr. Ou como tal discussão pode
contribuir para o debate sobre instanciação ou para as sugestões de tradução
propostas pela autora, uma vez que tais visões não estão relacionadas quer ao foco
do texto, à LSF, à avaliatividade ou à instanciação.

Ao contrário, o texto da autora constrói-se sobre o argumento de que a tradução é


"uma renegociação de significados proposta pelo(a) tradutor(a) a partir de seus
repertórios nas línguas envolvidas" (Souza, 2011: 74). A fragilidade do argumento
reside no fato de que, se a tradução é baseada, pura e simplesmente, no repertório
do tradutor renegociador dos significados, não poderia existir "equívocos na
interpretação", pois a autora parece não considerar o caráter dialógico do texto e
do ato tradutório, ignorando a relação dialética entre texto e contexto ou as visões
de língua, linguagem e cultura tão caras à teoria sistêmico-funcional.

De todo modo, a renegociação de significados com base nos repertórios do tradutor


resvala para o que a autora critica como sendo a "busca por um termo ideal",
sendo que, ao final de seu texto, a autora propõe termos que, ela própria,
considera ideais, sem se preocupar com o uso já consagrado de tais termos pela
comunidade. Também não é apresentado ao leitor o que seja o modelo de re-
instanciação interlingual ou o porquê os termos por ela propostos seriam os
relevantes para o modelo ou de que modo a interpretação que a autora faz das
visões de tradução são baseadas neste modelo. Tampouco como o suposto modelo
embasa suas escolhas ou as de Vian Jr. Também não fica clara a idéia de que há
uma rejeição de Vian Jr pela teoria de Martin e White pelo simples uso do verbo
'pretender', mas, segundo a autora, "chega a ser explícita sua rejeição ao modelo"
(Souza, 2011, p. 88). São, ainda, impostas traduções de termos e o diálogo
insinuado entre tradução e LSF é perdido de vista, tornando-se um diálogo
improvável.

Como Souza (2011) posiciona-se como especialista em tradução, em cuja área não
me inscrevo, este texto adota única e exclusivamente os preceitos teóricos da LSF,
como já o fora no texto de 2009, mais especificamente a noção de instanciação, e
tem dois objetivos: (1) reforçar os argumentos apresentados em Vian Jr (2009) e
(2) apontar as posturas com caráter colonialistas e enviesadas da autora.

Sinalizo, por fim, que esses termos já vêm sendo utilizados pela comunidade de
pesquisadores em LSF no Brasil há algum tempo, como pode ser atestado em
publicações e em dissertações e teses em diversos centros de pesquisa no país.

 
2. A NOÇÃO DE INSTANCIAÇÃO NA LINGUÍSTICA SISTÊMICO-
FUNCIONAL

Como a noção de instanciação está diretamente relacionada às questões debatidas


nos textos de Vian Jr (2009) e de Souza (2011), ater-me-ei à discussão de tal
termo, deixando, por ora, a noção de realização de lado.

Para que se compreenda a noção de instanciação da LSF torna-se necessário que


sejam consideradas duas premissas: (1) a aceitação, na teoria hallidayana, da
relação saussureana de que o sistema da língua é representado por atos de fala
(Halliday, 2003: 195) e (2) a interpretação dessa relação conforme proposta por
Hjelmeslev, que concebe o texto como processo e a língua como sistema e
processo (Halliday, 1985: xxii).

Nessa perspectiva, a partir de Halliday (1985, 2002, 2003), Martin e White (2005)
e Matthiessen, Teruya a Lam (2010), instanciação pode ser considerada como a
relação entre o sistema e o que é instanciado em forma de texto, tratando-se de
uma relação intra-estratos (Halliday, 2002: 352), isto é, não pressupõe a relação
entre-estratos. A realização, por seu turno, é uma relação entre-estratos, ou seja,
os significados (estrato semântico-discursivo) são realizados em fraseados (estrato
léxico-gramatical), que por sua vez são realizados como sons/escrita (estrato
grafo-fonológico).

Muitos dos estudos em LSF no Brasil têm focado em um aspecto: analisam


ocorrências léxico-gramaticais sem se preocupar com os sistemas mais amplos. E
este foi o ponto de partida para minha discussão no texto de 2009.

Esse mesmo fenômeno, de não levar em conta a visão estratificada da LSF, tem
ocorrido com os estudos sobre o discurso, principalmente levando-se em
consideração os sistemas discursivos propostos em Martin e Rose (2003) e depois
ampliados em Martin e Rose (2005).

Em função de uma grande produção de estudos utilizando o sistema de


avaliatividade, muitos estudiosos focam apenas nesse sistema, sem levar em
consideração a simultaneidade de ocorrência, no nível discursivo, dos seis
sistemas: avaliatividade, negociação, periodicidade, identificação, ideação e
conjunção (Martin e Rose, 2005), assim como ocorre, no nível léxico-gramatical,
com as metafunções, porque mesmo alguns estudos atendo-se apenas à análise de
uma das metafunções, as demais não deixam de existir, pois isso feriria o princípio
metafuncional da linguagem base da teoria hallidayana.

Para que este ponto fique claro, retomemos o que Halliday (2003: 192-197, dentre
outros) considera como sendo características de sua proposta de uma teoria
sistêmico-funcional: (1) a língua é um potencial de significados, associado ao fato
de que (2) a estrutura constituinte no nível do conteúdo é parte de uma léxico-
gramática; (3) a léxico-gramática é a essência da língua, além do aspecto de que
(4) a língua é funcionalmente variável e que (5) o processo (o texto) instancia o
sistema e a expressão realiza o conteúdo; de acordo com o autor há, ainda, (6)
uma relação dialética entre texto e contexto e, finalmente, que (7) as diferenças
entre as línguas é que precisam ser compreendidas

Essas características indicam que a noção de instanciação só pode ser considerada


a partir da relação entre sistema-processo, sendo que o processo, isto é, o texto,
instancia o sistema. E, conforme sinalizado acima, Halliday faz essa distinção a
partir da aceitação da noção saussureana da representação do sistema pelos atos
de fala, no modo como foi interpretado pelo linguista dinamarquês Hjelmeslev.
No entanto, o autor (Halliday, 2003: 197) nos adverte que essas observações não
devem ser tomadas como atos de fé aos quais todos os sistemicistas devem estar
sujeitos, mas podem ser considerados como uma inclinação a adotar determinados
pontos de vista que podem levar as pessoas a explorar o potencial da teoria
sistêmica.

E este foi o objetivo do texto de 2009: explorar o potencial da teoria sistêmica para
a língua portuguesa, principalmente no que diz respeito à não-observância de
aspectos relacionados ao conceito de instanciação e a discussão do uso de termos
traduzidos para o português, mais especificamente, o termo appraisal.

Não obstante a sinalização desses aspectos no texto de Vian Jr (2009), Souza


imbuiu-se de uma tarefa inglória, produzindo um texto, no mínimo, extravagante.
Vejamos: a autora se propõe a discutir a suposta relevância para os estudos de
tradução de um inédito modelo de re-instanciação interlingual que em momento
algum é apresentado ao leitor. A autora se propõe a discutir os conceitos de
instanciação e de realização, mas, em vez de concentrar-se nisso e embasar-se na
teoria da LSF, passa a desconstruir os argumentos de Vian Jr, criticando-o por
apresentar uma visão tradicionalista de tradução, fruto de sua interpretação das
discussões feitas por Vian Jr sobre a não-observância ao fenômeno da instanciação
nos estudos no Brasil. Segundo a autora, tal interpretação é feita "por meio de uma
reflexão teórica sobre as visões de tradução e de língua subjacentes ao seu
posicionamento" (Souza, 2011: 74). Por fim, mesmo criticando a busca por termos
ideais, Souza afirma que os termos usados por Vian Jr são inadequados e apresenta
as suas próprias traduções ideais para alguns termos, num diálogo de surdos, com
um autor que se insere nos estudos de LSF e não nos estudos de tradução. Ao fim
do texto, o leitor perde-se entre dois assuntos, sem compreender de que modo as
interpretações da autora sobre as visões de tradução de Vian Jr estão relacionadas
à instanciação ou à realização ou qual a relevância dessa discussão para a
compreensão dos aspectos do sistema de avaliatividade.

Por outro lado, parece haver algumas impropriedades na leitura de Souza, sobre a
escala de instanciação. A autora (p. 78) afirma que, "embora [Vian Jr] cite Martin e
White (2005), ele toma não o modelo de instanciação desses autores, mas sim o de
Halliday e Matthiessen (1999, 2004)". A pergunta que se coloca é: como não
considerar o que propõem Halliday e Matthiessen (1999, 2004) se são esses os
autores que primeiro propõem o modelo? O que apresentam Martin e White (2005:
162) está baseado na visão do que apresentam Halliday e Matthiessen, como os
próprios autores sinalizam:

A abordagem da LSF, assim, leva-nos a observar a variabibilidade dos fenômenos


linguísticos a partir da perspectiva da língua como potencial para construir sentidos
e a partir da perspectiva da instanciação daquele potencial em textos específicos.
Isso nos leva a reconhecer o que Halliday e Matthiessen (1999) denominaram
'escala de instanciação'1.

É clara e explícita no excerto a referência ao que propõem Halliday e Matthiessen


em relação à escala de instanciação, ou seja, Martin e White estão usando o que já
fora proposto na teoria sistêmico-funcional. O que Souza chama de "o modelo de
instanciação desses autores" é uma releitura, ampliada e crítica, devemos sinalizar,
do que fora proposto anteriormente.

Mas a autora ainda vai além em suas acusações infundadas e incautas ao afirmar
que Vian Jr "começou adotando a escala de instanciação segundo Halliday e
Matthiessen (2004), e agora, de repente, considera a escala adotada em Martin e
White (2005), tomando a leitura como polo oposto ao sistema".
O fato de Souza (p. 79) afirmar que "até onde sei, as escalas a que Vian Jr se
refere (do sistema e do texto) nunca foram propostas seja no âmbito do modelo de
instanciação de Martin, seja no da LSF hallidayana" acende um sinal de alerta, uma
vez que a Figura 2 apresentada em Souza (2011: 79), corresponde à Figura 1 em
Vian Jr (2009: 104), que nada mais é do que a justaposição da Tabela 4.1,
apresentada em Martin e White na página 163 e a Tabela 4.2 da página 164.

A figura proposta por Vian Jr tenta apreender as duas perspectivas da escala de


instanciação: do sistema para a leitura e aquele que se refere ao potencial das
avaliações, como consta explicitamente nas páginas 163 e 164 de Martin e White
(2005) onde estão os termos, que não foram propostos por Vian Jr, são a tradução
para o português do que apresentam os autores.

Na continuação, Souza passa a criticar o exemplo citado em Vian Jr glosando o


exemplo de Halliday e Matthiessen (2004: 26-27): afirmando que o exemplo
"simplifica em excesso a relação como teorizada na LSF" (Souza, 2011: 80). Aqui,
parece haver a compreensão inadequada do que seja 'sistema', pois, como afirmam
Matthiessen, Teruya e Lam (2010: 121) "a escala de instanciação é um princípio de
organização sistêmica que opera nos sistemas de todas as ordens (físico, biológico,
social e semiótico)"2.

Ao sinalizar que está "glosando" a relação clima-tempo e que o exemplo oferecido é


"lhano", Vian Jr deixa bastante claras as limitações de seu exemplo, utilizado para
ilustrar a noção de instanciação àqueles que iniciam seus estudos na LSF,
principalmente pelo fato de o exemplo poder ser considerado como um sistema de
organização. Além do mais, no contexto em que estou inserido, o Nordeste
brasileiro, mais especificamente o Estado do Rio Grande do Norte, há mínima
variação climática, pois o clima é praticamente o mesmo o ano todo, logo, a
compreensão da metáfora sugerida por Halliday e Matthiessen fica comprometida
para este contexto, com apenas uma instanciação única durante a quase totalidade
do ano.

Metáforas, por seu turno, permitem a abertura para novas possibilidades, novas
leituras, novas maneiras de se compreender um conceito. Defendo o uso da
metáfora como postulada por Albuquerque Júnior (2009) no campo da História,
para quem as metáforas funcionam "no sentido de abrir o pensamento para novas
relações, chegando ao mais abstrato, através do mais concreto. É a imagem a
serviço do pensamento" (Albuquerque Júnior, 2009: 43). O autor argumenta ainda
que "neste discurso metafórico tudo significa e, no entanto, tudo é surpreendente.
Elas forçam a pensar o diferente, destroem as familiaridades dos conceitos
consagrados, surpreendem a seriedade do discurso acadêmico" (Albuquerque
Júnior, 2009: 44). A utilização de uma metáfora mais próxima ao cotidiano do
contexto em que estou inserido vai ao encontro da visão híbrida de descolecionar
proposta por García-Canclini (1995) que será exposta item 3 a seguir.

3. COLONIALISMO E TRADUÇÃO

A postura adotada por Souza (2011) em seu texto sugere uma visão colonialista
extremada, em que a autora coloca a teoria em um patamar de dogma, não
passível de ser discutida ou questionada.

García-Canclini (1995) apresenta uma noção bastante relevante para compreensão


do posicionamento de Vian Jr em relação à teoria proposta por Martin e White
(2005): descoleção. Para o antropólogo, as culturas pós-coloniais são híbridas e,
por essa razão, o autor propõe outros dois processos para explicar a hibridização:
descoleção e desterrritorialização (García-Canclini, 1995), ou seja, as coleções
impostas por culturas hegemônicas não se aplicam aos contextos híbridos atuais e
os territórios devem ser vistos de modos diferenciados daqueles que eram
considerados anteriormente, principalmente em função da globalização.

É essa a postura que adoto para discussão das teorias propostas em língua inglesa
no escopo da LSF, em sentido amplo, e do sistema de avaliatividade em sentido
restrito: uma postura pós-colonial e pós-crítica. Não é pelo fato de teóricos de
países e línguas hegemônicas terem proposto modelos ou teorias que estas devem
ser aceitas e usadas sem o menor criticismo, sem o menor posicionamento no
contexto sociocultural em que atuo, como deseja Souza. Somente a partir dos
elementos de minha cultura e de minha língua é que posso considerar tais teorias,
como tem sido feito na aplicação dos preceitos da LSF em língua portuguesa.
Como, por exemplo, as diferenças entre o português e o inglês no que diz respeito
a tema/rema, por exemplo, como discutem Barbara e Gouveia (2001) e Gouveia e
Barbara (2001). E foi essa a postura por mim adotada para discutir o sistema de
avaliatividade: considerando a língua portuguesa falada no Brasil e a cultura
brasileira, principalmente por estarem envolvidos elementos interpessoais e, mais
importante que isso, a solidariedade, elemento crucial para a compreensão das
avaliações em qualquer língua.

O que Vian Jr (2009) propõe é uma consideração bastante detalhada do modelo de


Martin e White e sua aplicação e adequação à língua portuguesa e, mais importante
que isso, o modo como os diversos termos que o compõem podem ser usados em
língua portuguesa.

A postura colonialista de Souza é reforçada pelo seu claro incômodo (Souza, 2011:
82) em relação à afirmação de Vian Jr (2009: 114) de que os autores "pretendem"
desenvolver um sistema. Ora, se uma teoria está em construção há algum tempo,
se os autores procedem a mudanças em seu modelo, se propõem novos termos
para outros outrora utilizados, é sinal de que os autores "pretendem" construir uma
teoria, que está em constante evolução. Mas Souza parece não aceitar o fato de
que um pesquisador brasileiro possa criticar os autores, como se tudo que
dissessem fosse a verdade absoluta, que não deve ser questionada, como um
dogma.

Um breve olhar sobre o que propõe Martin é suficiente para compreendermos por
que razão o autor "pretende" construir uma teoria que não está pronta. Talvez não
tenha sido levada em consideração a evolução histórica do sistema de
avaliatividade no escopo da LSF.

Historicamente, temos em English Text, a obra de Martin de 1992, uma proposta


explícita de uma introdução à análise do discurso no escopo da LSF (Martin, 1992:
1). O autor explicita que seu trabalho parte do trabalho seminal em Cohesion in
English, de Halliday e Hasan (1976) e, com base nessa obra, propõe quatro
sistemas discursivos: negociação, identificação, conjunção e ideação. Não há
menção alguma a um sistema para os recursos avaliativos nos textos.

Pode-se dizer, no entanto, que os aspectos relacionados à presença de elementos


avaliativos na linguagem estão sutilmente sugeridos no item intitulado Affect, no
capítulo 7, item 7.2.2.3 (Martin, 1992: 533) da referida obra. Posteriormente,
Poynton (1985, 1989, 1990) apresenta encaminhamentos para o estudo sobre o
afeto, assim como, em 1997, Eggins e Slade, em seu estudo sobre a conversa
cotidiana e o aspecto das avaliações na linguagem, afirmam ser uma das áreas
menos compreendidas e subpesquisadas na linguística (Eggins e Slade, 1997: 124).
Nessa obra, são propostas quatro categorias: apreciação, afeto, julgamento e
amplificação, indicando que se baseiam em um manuscrito de Martin. Afirmam
ainda que Martin vinha desenvolvendo "um arcabouço teórico para a análise dos
significados avaliativos nos textos"3 (Eggins e Slade, 1997: 125) e sinalizam, em
nota que, embora se baseiem nas análises desenvolvidas por Martin sobre
avaliatividade e envolvimento, seguem o que preceitua Halliday (1994) na análise
da modalidade como um sistema gramatical (Eggins e Slade, 1997: 168).

Na primeira edição de Working with discourse, Martin e Rose (2003) apresentam


cinco sistemas discursivos: avaliatividade, ideação, conjunção, identificação,
periodicidade e, na segunda edição (Martin e Rose, 2007), um sexto sistema é
considerado, além desses cinco: negociação. Esses seis sistemas são apresentados
como modo de interpretar o discurso por meio de sua análise (Martin e Rose, 2007:
1). Por fim, em 2009, ao discutir os estudos sobre o discurso no âmbito da LSF,
Martin (2009: 154) aponta esse percurso, discutindo a expansão dos recursos
semântico-discursivos, apontando, ainda, a inserção dos sistemas de avaliatividade
e periodicidade aos sistemas de identificação, negociação, conjunção e ideação
(Martin, 2009: 157).

Esse breve panorama nos indica o cuidado que devemos ter ao discutirmos uma
teoria que trata das avaliações na linguagem. Somente na obra de Martin e White
(2005) o sistema nos é apresentado como o conhecemos hoje. Por essa razão, fica
óbvio que a teoria vem sendo construída, debatida, discutida, ampliada,
redimensionada e não tem, de modo algum, esse caráter estanque e imutável que
Souza tenta imprimir aos estudos sobre avaliação na linguagem. Mencione-se ainda
que se trata de um outro modo de analisar as avaliações na linguagem em
comparação a outros existentes, como discutem Thompson e Hunston (2000).

Apenas a título de ilustração, cito os trabalhos de Oteíza (2003, 2010) sobre o


discurso político do Chile, pois, ao estudar as categorias propostas por Martin e
White na análise de seu corpus, a autora deparou-se com outros mecanismos de
avaliação ocorridos nos textos analisados, geralmente relacionados ao contexto de
cultura em que foram produzidos e, desse modo, propõe acréscimos ao modelo,
posicionando-se exatamente como sugere Halliday: explorar o potencial da teoria
sistêmica. O mesmo ocorreu com Bednarek no estudo do discurso da mídia
impressa (Bednarek, 2006: 5) e a adição do aspecto 'desejo' ao subsistema de
apreciação (Bednarek, 2010) e, posteriormente, no Brasil, com Cabral, ao estudar
textos de editoriais de jornais brasileiros sobre os supostos hábitos etílicos do ex-
presidente Lula em 2004: a análise empreendida pela autora (Cabral, 2007)
extrapola o que dizem Martin e White (2005) sobre a as vozes jornalísticas e
propõe uma categoria intermediária entre a voz do correspondente e a voz do
comentarista: a voz do articulista. Ou seja, Cabral (2007: 161) afirma serem
válidas as categorias para os jornais australianos sobre notícias sobre crimes,
outros casos policiais e desastres, mas não para os artigos de jornal brasileiros
analisados em seu corpus.

Esses três exemplos, e tantos outros presentes nos estudos sobre avaliatividade,
mostram que se trata sim de uma teoria em construção e que os autores
'pretendem' construir uma teoria, pois ela não está pronta.

Bednarek (2006: 8) afirma que o fenômeno da avaliação na linguagem só pode ser


compreendido, interpretado e analisado em referência ao contexto e Souza,
inadvertidamente, adota uma visão de que a teoria deve ser usada de modo
totêmico, intocável, contradizendo todos os princípios de uma teoria funcional de
linguagem.
Ora, se Souza traz para a discussão o argumento de que os significados são
potenciais e existe uma escala de instanciação, logo, todo texto é passível de
diferentes interpretações, como bem afirmam Martin e White (2005: 163): "pode
haver uma série de instanciações e, portanto, de interpretações"4.

O que mais chama a atenção nos argumentos de Souza é o fato de a autora


contrariar os princípios do funcionalismo ao optar pela tradução de termos de
acordo com o dicionário, pondo por terra os elementos que havia indicado no seu
texto de que "existe uma intrínseca relação entre o ato de traduzir, a visão do que
é tradução e a visão do que é língua" (Souza, 2011: 74).

Parece que língua passou a ser, de um instante para o outro, a palavra morta que
está no dicionário, ignorando o aspecto dinâmico e cotidiano das interações, pois a
cultura também não foi considerada na argumentação de Souza, como se a língua
acontecesse no vácuo e não em um contexto de cultura e em um contexto de
situação. Isso equivale a dizer que não se podem discutir termos, quaisquer que
sejam, a partir de visões pessoais ou preferências a este ou àquele termo sem levar
em conta o consenso da comunidade e, em uma comunidade, mesmo havendo
divergências, um pode eventualmente dominar.

É absolutamente contraditório o fato de a autora argumentar em favor de uma re-


instanciação interlingual e, no momento em que deveria usar tal teoria para
embasar seu argumento de escolha, recorre ao dicionário e apresenta suas opções
de modo taxativo, por vezes ingênuo, sem levar em consideração a produção pela
comunidade em LSF no Brasil, já não tão reduzida, apresentando as traduções que
julga ideais.

O que chama a atenção é o posicionamento colonialista, enviesado, intransigente e


monoglóssico expresso em um texto que, após dedicar todo o item 2 às supostas
visões de tradução de Vian Jr, e criticar que "nessa visão, não existem usuários
individuais nem possíveis leituras divergentes, mas apenas um 'senso comum', um
conhecimento aceito por todos como natural e inquestionável"; recém-chegada à
comunidade sistêmica brasileira, a autora impinge suas traduções, baseando-se em
senso comum e sem consideração a leituras individuais, apresentando, ainda,
termos como 'calibragem' e 'acoplamento', dentre outros, de modo impositivo e
sem a menor consideração a possíveis outras leituras, e sem considerar a
possibilidade de leituras divergentes. Além do mais, existe uma contradição maior:
se a visão culturalmente sensível insinuada por Souza em seu texto fosse
verdadeira, a autora deveria reconhecer quaisquer visões como uma possível
leitura divergente, não impondo apenas a sua como a tradução ideal para os
termos.

Afinal, é bastante comum no campo dos estudos linguísticos divergências em


tradução de termos. Tomemos como exemplo o caso de hedging (Lakoff, 1972;
Brown & Levinson, 1987), que até hoje continua sendo usado em sua língua de
origem, na falta de uma palavra em português que expresse seu sentido. Ou
termos como frame (da gramática visual de Kress e van Leeuwen, 1996), utilizado
por alguns como 'enquadramento' e por outros como 'moldura', ou ainda
affordance (utilizado na Análise de Discurso Crítica de Fairclough, 2003), em
estudos de gêneros digitais (por exemplo, Miller, Dionísio e Hoffnagel, 2009) ou em
estudos sobre aprendizagem (por exemplo, Paiva, 2010), que apresentam
diferentes traduções em língua portuguesa e, em alguns textos, permanecem em
sua língua original. Isso é uma prova cabal de que a comunidade procura sim um
termo ideal, independentemente do fato de alguns aprovarem a opção feita ou não.
Com a experiência, aprendemos que não é uma questão de gostar ou não, mas de
aceitar o que é consensual, quando se encontra um consenso.
 

4. O SISTEMA DE AVALIATIVIDADE NA LSF

A proposta de um arcabouço como o que se configura no sistema de avaliatividade


só pode ser compreendido a partir de duas perspectivas: (1) em sua evolução
histórica no escopo da LSF e em (2) sua inter-relação com os demais sistemas
discursivos.

Malinowski (2009: 161) propõe, como um dos axiomas gerais do funcionalismo, o


fato de que a cultura "é um conjunto uno em que os vários elementos são
interdependentes". Partindo-se desse axioma, e transpondo-o para a teoria
sistêmico-funcional, não se pode isolar o sistema de avaliatividade e considerá-lo
de modo estanque, pois ele não existe como tal.

Ao considerar a tradução de três termos isoladamente, portanto, incorre-se em um


risco bastante severo, pois avaliatividade possui relação de interdependência com
engajamento que, por sua vez, tem relação de interdependência com valoração,
sendo que todos fazem parte de um único sistema discursivo, o sistema de
avaliatividade, que, por sua vez, funciona em harmonia com os outros cinco
sistemas discursivos.

Por essa razão, reforço os termos apresentados em 2009, pois tais escolhas não
foram feitas por mero capricho ou de modo aleatório. Elas levaram em conta os
princípios da LSF de Halliday, os estudos de discurso de Martin (1992), Martin e
Rose (2003, 2005) e Martin e White (2005) e, desse modo, reitero avaliatividade
como correspondente ao termo inglês appraisal. Engajamento é usado como
correspondente a engagement e valoração correspondendo a valuation, o que
discuto nos itens 4.1, 4.2 e 4.3 a seguir.

Ao apresentarem o seu sistema de avaliatividade, Martin e White o fazem a partir


de um modelo sistêmico-funcional de linguagem, basta verificarmos o item 1.2
(Martin e White, 2005: 7), intitulado Appraisal in a functional model of language5,
do capítulo introdutório de Martin e White, para compreendermos que, como um
sistema, ele só faz sentido se considerado em relação aos demais sistemas e aos
textos em que os exemplos ocorrem. Ainda por razões metodológicas, é possível
focar em apenas um subsistema ou selecionar ocorrências lexicais indicativas de
algum aspecto relevante da língua naquele texto. Mas o sistema de avaliatividade
só pode ser considerado em relação aos demais aspectos da LSF, pois partilha dos
mesmos pressupostos semântico-discursivos, como também é sinalizado por Martin
e White (2005: 7):

Como indicado, nosso modelo de avaliação desenvolveu-se a partir do arcabouço


teórico da LSF. Eggins 2004/1994 fornece uma introdução acessível ao registro na
LSF de Sydney que embasa nosso trabalho. Para gramática, baseamo-nos em
Halliday 2004/1994 e Matthiessen 1995 e para análise do discurso usamos Martin
1992b (mais tarde recontextualizado como Martin & Rose 2003). A fonte mais
relevante de conceitos teóricos é Halliday & Matthiessen 1999 (para descrições
resumidas da teoria da LSF, veja os capítulos introdutórios em Halliday & Martin
1993 e em Christie & Martin 1997)6.

Como se vê, os autores sinalizam e reforçam: não se pode tomar o modelo


independentemente da LSF, pois está relacionado ao modelo de linguagem e
contexto social mais amplo da LSF e, por essa razão, minhas propostas partiram de
uma visão ampla da LSF, da língua e da cultura.
4.1. Avaliatividade

Souza sugere em sua nota de rodapé 6 (p. 76) que o termo avaliatividade "parece
ser cunhado a partir de transitividade (tradução de transitivity)". De fato ele o é,
pois é reconhecido que o sufixo -dade em português (assim como -ity/-ty em
inglês) é um sufixo nominal que se aglutina a um radical para formar substantivos
e adjetivos, para denotar ação, estado ou qualidade. São vários os exemplos em
português correntes no dia a dia, tais como acessabilidade, portabilidade,
sustentabilidade, empregabilidade, usabilidade, navegabilidade para citar apenas
alguns e, na LSF, outros termos como: polaridade, modalidade, transitividade e, na
própria teoria de Martin e White sobre os sistemas discursivos, temos o sistema de
periodicidade. Isso basta para explicar minha escolha por avaliatividade: um
sistema que engloba todo o potencial existente no sistema linguístico para
procedermos a avaliações em nosso cotidiano.

Isso reforça o fato de que o termo foi proposto tomando por base os repertórios
dos princípios da LSF e do funcionalismo, das línguas e das culturas envolvidas,
sem esquecer que foi obtido a partir da discussão com muitos colegas que
trabalharam com a teoria e com o próprio Martin, portanto, o termo não foi
sugerido aleatoriamente a partir de transitividade como a nota de rodapé 6 de
Souza (2011: 78) tenta sugerir: "O termo parece ser cunhado a partir de
'transitividade' (tradução de 'transitivity') que é o nome do sistema de significados
interpessoais [sic] no estrato da léxico-gramática". Percebe-se também aqui o
lapso da autora, já que o sistema de transitividade, como é sabido, trata dos
significados ideacionais e não interpessoais. O termo avaliatividade proposto se
coaduna com o potencial de significados existentes na língua que possam instanciar
avaliações nos textos.

Hjelmeslev argumenta que uma teoria "tem por objetivo elaborar um procedimento
por meio do qual se possam descrever, não contraditoriamente e exaustivamente,
objetos dados de uma suposta natureza", ou seja, ao estudarmos a linguagem da
avaliação em língua portuguesa, devemos utilizar os procedimentos metodológicos
oferecidos pela proposta de Martin e White (2005) relativos aos mecanismos
desenvolvidos em língua portuguesa e, portanto, produzidos em um contexto de
cultura e de situação específicos, e devem ser compreendidos a partir da teoria
proposta de modo a descrever como se processa a avaliação nossa língua e em
nossa cultura.

O autor ainda reforça o seu argumento sobre a teoria da linguagem enfatizando


(Hjelmslev, 2003: 19) que:

... a teoria não pode limitar-se a dar-nos meios de reconhecer um determinado


objeto; ela deve, além disso, ser concebida de modo a permitir a identificação de
todos os objetos concebíveis da mesma suposta natureza que o objeto dado. Uma
teoria deve ser geral, no sentido em que ela deve pôr à nossa disposição um
instrumental que nos permita reconhecer não apenas um dado objeto ou objetos já
submetidos a nossa experiência como também todos os objetos possíveis da
mesma natureza suposta. Armamo-nos com a teoria para nos depararmos não
apenas com todas as eventualidades já conhecidas, mas com qualquer
eventualidade.

O que se depreende do texto de Hjelmslev é a postura que devemos adotar, como


estudiosos brasileiros dos recursos para avaliação em língua portuguesa, quando
utilizamos uma teoria produzida em língua inglesa, além de estarmos atentos às
diferenças tipológicas e a necessidade de adaptação de termos à nossa língua.
Esse aspecto teórico também nos leva a refletir sobre o fato de que, por Martin e
White terem produzido um livro sobre apenas um dos sistemas, não significa que
os outros deixaram de existir ou têm importância menor. Trata-se apenas de uma
questão de precedência nos estudos e de desenvolvimentos da teoria, como afirma
o próprio Martin no prefácio de Vian Jr, Souza e Almeida (2011: 9):

Na década passada, ficamos surpresos pelo grande interesse gerado, especialmente


na América Latina e na China. Quando convidado a ministrar workshops em outros
países, descobri que a teoria da avaliatividade tinha suplantado a análise de
gêneros e o letramento como área de pesquisa que os colegas mais gostariam que
eu abordasse.

4.2. Engajamento

Para discutir o uso do termo engajamento e para não enveredar pelos diversos
corpora existentes em língua portuguesa e as vastas possibilidades de pesquisa
oferecidas pela Linguística de Corpus para verificarmos as ocorrências de engajar,
utilizemos um recurso bastante simples: uma busca no Google7. A busca da
ocorrência "engajar * conversação" nos fornece, na data em que a busca foi
realizada, 980.000 resultados.

É espantoso o fato de Souza afirmar que "Engajar(-se) no PB não tem exatamente


esse significado, mas um semelhante" e as evidências de uma ferramenta de busca
revelaram quase um milhão de ocorrências. Estranho o fato de ser uso corrente nas
mais diversas esferas sociais, como atestam as ocorrência no Google, e tal escolha
ser desconhecida e rechaçada por Souza.

Ainda são sugeridos por Souza (2011: 87) termos como comprometimento,
envolvimento e empenho da palavra. Ora, nenhuma dessas acepções está de
acordo com o que a autora afirma: "engagement é usado para nomear um sistema
que compreende recursos linguísticos destinados a orquestrar vozes no texto, isto
é, deixar entrar ou não, apoiar ou não o que essas outras vozes disseram,
compartilhar ou não a responsabilidade pelas ideias defendidas por outros". As
próprias palavras da autora são suficientes para que recusemos o termo
comprometimento, pois comprometer-se não implica a possibilidade de
orquestração de vozes, de nuances, de diferenças, posicionamentos de diferentes
vozes, sem que estas estejam comprometidas, mas apenas engajadas.

Um sistema de comprometimento não deixa abertas possibilidades para mudança


de posicionamento, ao passo que podemos nos engajar a algo e nos desvencilhar
quando assim o decidirmos. Um sistema que é usado para essas funções não pode
usar comprometimento mas somente engajamento, mudando nosso
posicionamento discursivo.

Além do mais, existem outras palavras na língua inglesa que tem o significado de
comprometimento, que não foram usadas pelos autores, o que, por si, já é
bastante significativo. E, por essa razão, reforço o termo engajamento em
português como correspondente ao termo engagement, e não comprometimento,
em contrário ao que diz Souza (2011).

4.3. Valoração

Ao situar a avalitividade no arcabouço teórico da LSF, Martin e White (2005: 33)


afirmam que o sistema pode ser localizado "como um sistema interpessoal ao nível
da semântica do discurso"8 e que, ao mesmo tempo, este sistema está coarticulado
com dois outros sistemas: negociação e envolvimento.
Se observarmos os três sistemas em conjunto, temos pistas para localizar a região
semântica das avaliações relacionadas a questões de poder e solidariedade, ou
seja, buscamos a solidariedade de nossos interlocutores em nossas interações e,
dessa forma, temos reforçada a escolha do termo engajamento para engagement,
já que a busca por solidariedade no discurso representa a busca pelo engajamento
nas interações, nas conversas, nos textos, nos discursos. Conforme ilustra a Figura
1:

Emerge dessa relação uma das razões para adotarmos o termo valoração como
correspondente a valuation, pois estamos tratando, no campo semântico da
apreciação, da avaliação de coisas e a valoração é um dos tipos de apreciação,
juntamente com reação e composição.

A sugestão de Souza de utilizar o termo valor social não é adequada, pois o sistema
de avaliatividade, como um todo, é usado para que possamos atribuir valores às
nossas experiências, por essa razão o termo valoração está mais adequado para o
mecanismo de valuation, afinal o campo semântico da apreciação está relacionado
a avaliações estéticas e valores atribuídos às coisas que avaliamos e esses valores
não se restringem tão-somente a valores sociais, mas também individuais,
econômicos, financeiros, estéticos, artísticos e toda e qualquer área em que nos
imbuímos da tarefa de apreciar algo. As apreciações podem ser divididas, de acordo
com o modelo de Martin e White (2005: 56), em três áreas: nossas reações às
coisas, a composição delas e seus valores. Tais valores abrangem toda a gama de
possíveis valorações que podem ser atribuídas às coisas que avaliamos e suas
realizações podem ser positivas ou negativas em um espectro muito vasto de
possibilidades, ultrapassando apenas o social, embora todos estejam imersos em
um contexto social mais amplo e, de modo dialético, constrói os valores, daí a
razão de Coffin (2002) usar o termo social value, que, para o tipo de corpus
analisado pela autora, o discurso da história e como as vozes são construídas, está
relacionado ao sistema como um todo, isto é, como as vozes são construídas em
diferentes textos de história e o modo como valores sociais são atribuídos às
experiências.

Fica assim reiterado o uso do termo valoração como correspondente ao termo


inglês valuation. Acresça-se ainda o fato de estarmos observando o sistema pela
sua perspectiva macro, como um todo, e não apenas pela perspectiva micro de
apenas um termo, mas de sua relação com o sistema mais amplo e, por
conseguinte, sua relação com os termos engajamento e avaliatividade.

O sistema de avaliatividade, portanto, deve ser visto como apenas um dos sistemas
relacionados à análise do discurso de base sistêmico-funcional e uma extensão das
propostas de Halliday e da LSF, como uma ampliação de abordagens anteriores e
que, por certo, ao passo que os estudos avancem, sofrerão novas alterações, como
é de se esperar.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nada mais válido do que debater teorias em sua aplicação ao nosso idioma, desde
que os debates sejam éticos, que visem ao reforço da comunidade e ao
enriquecimento da pesquisa na área. Tecer críticas infundadas e com argumentos
ingênuos e frágeis é demasiado arriscado ao pesquisador.

A teoria sistêmico-funcional tem sido amplamente divulgada e estudada no Brasil e


essa difusão requer que tenhamos uma linguagem em comum, que debatamos de
modo aberto os temas controversos e que cheguemos a acordos, como foi feito, por
exemplo, na elaboração da primeira lista de termos sistêmico-funcionais 9 em língua
portuguesa em que se visou a estabelecer uma linguagem comum a partir do
debate, do estabelecimento de uma meta comum: aplicar a teoria sistêmico-
funcional na análise de textos em língua portuguesa.

Não se constrói um campo de pesquisa sólido por meio do ataque aos colegas de
modo não ético. Há regras que devem ser respeitadas, há códigos que devem ser
seguidos, há um conhecimento tácito que circula na comunidade e que tem sido
respeitado sem deixar de haver debate. Mas, na comunidade sistêmica brasileira
não tem havido agressão ou falta de transparência.

Souza (2011) tentou sugerir um diálogo com um pesquisador que não pertence à
comunidade de tradutores e que não se propôs a discutir questões de tradução,
mas sim do status da pesquisa em LSF no Brasil a partir do momento em que
parece não haver um consenso entre os pesquisadores sobre quais termos devem
ser usados, o que pode causar transtorno aos pesquisadores iniciantes. Este fato
induziu-me a discutir a teoria, desde o que propõe Halliday e as diversas evoluções
e transformações pelas quais tem passado a teoria elaborada por Martin e White.
Embora Souza trate do que postulam Martin e White como se as propostas dos
autores não estivessem umbilicalmente ligadas à teoria hallidayana, sinalizada em
diferentes partes do livro dos autores, desde o seu prefácio, onde advertem (Martin
e White, 2005: xii):

É claro que nada neste trabalho teria sido possível sem a teoria da linguística
sistêmico-funcional, que orienta nossa empreitada. Desse modo, uma menção de
agradecimento também a Michael Halliday, por sua atenção especial ao significado
interpessoal na linguagem e pela elaboração da teoria ampla que inspirou nossa
pesquisa10.

E mais, a noção de dialogismo, tão importante para a compreensão dos aspectos do


sistema de avaliatividade é passada ao largo por Souza que deixa claro que o que
apresenta em seu texto é a verdade absoluta sobre a teoria, aliás, sobre duas: a
LSF e a tradução, embora adote, talvez sem se dar conta, uma postura que
demonstra sua inexperiência com a prática da teoria, uma vez que se trata de uma
pesquisadora neófita adentrando um campo vasto em que muitos aspectos práticos
ainda não foram vivenciados, o que pode tê-la induzido a agir de modo
monoglóssico, adotando posturas arredias em relação à comunidade da qual
pretende fazer parte.

Ao fim e ao cabo, retomo a afirmação de Halliday (2003: 197) apresentada no


início deste texto de que não devemos tomar o que diz a teoria como um ato de fé.
A sugestão vai ao encontro do que nos sugere Luís Fernando Veríssimo em sua
crônica O gigolô das palavras em relação à gramática: "A Gramática precisa
apanhar todos os dias para saber quem é que manda". Segundo o autor, "Um
escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria
tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel". Adoto essa
mesma postura e reforço: o fato de uma teoria ter sido produzida em língua
hegemônica, não significa que devo adotá-la sem o menor criticismo sem levar em
conta elementos de minha própria cultura e que interferem diretamente na
compreensão dos termos e em seu emprego. Minha crítica, frise-se, não é feita em
relação à teoria, com a qual trabalho há mais de uma década, mas ao modo como
ela é utilizada em minha própria língua, já que se trata de um outro sistema e a
noção de instanciação não pode ser considerada sem essa perspectiva em mente,
baseado no caráter indissociável de língua-texto-cultura. E, por isso, a teoria tem
que sofrer adaptações para adequar-se a outras línguas, contextos e culturas.

Os argumentos apresentados no texto de Vian Jr de 2009 foram, desse modo,


revisitados e reforçados em relação ao emprego dos termos avaliatividade,
engajamento e valoração como correspondentes a appraisal, engagement e
valuation, respectivamente, com o intuito principal de estabelecer uma linguagem
comum para os pesquisadores em LSF no Brasil de modo a considerarem os termos
como partes de um sistema discursivo inscrito em uma abordagem de análise de
discurso mais ampla, que deve, por seu turno, ser considerado em relação aos
preceitos da LSF propostos por Halliday.

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Recebido em dezembro de 2011


Aprovado em fevereiro de 2012

1. No original: The SFL approach, then, leads us to look at linguistic phenomena


variably from the perspective of language as meaning making potential and from
the perspective of the instantiation of that potential in individual texts. It leads us
to identify what Halliday and Matthiessen (1999) have termed a 'cline of
instantiation'.
2. No original: The cline of instantiation is a principle of systemic organization that
operates in systems of all orders (physical, biological, social and semiotic).
3. No original: "a theoretical framework for the analysis of evaluative meanings in
texts".
4. No original: there can be a range of instantiations and hence interpretations.
5. Em tradução: Avaliatividade em um modelo funcional de linguagem.
6. No original: As indicated, our model of evaluation evolved within the general
theoretical framework of SFL. Eggins 2004/1994 provides an accessible introduction
to the 'Sydney' register of SFL which informed our work. For grammar, we relied on
Halliday 2004/1994 and Matthiessen 1995 and for discourse analyses we used
Martin 1992b (later recontextualised as Martin & Rose 2003). The most relevant
reservoir of theoretical concepts is Halliday & Matthiessen 1999 (for thumbnail
sketches of SFL theory see the introductory chapters in Halliday & Martin 1993 and
Christie & Martin 1997).
7. Busca realizada em 31 de janeiro de 2012 em http://www.google.com.br
8. No original: As an interpersonal system at the level of discourse semantics.
9. Confira, por exemplo, a lista Termos de gramática sistémico-funcional em
português, disponível em http://ww3.fl.ul.pt/pessoais/cgouveia/docs
%5CTermosGSF.pdf, aprovados para utilização pelos participantes na lista de
discussão gsfemportugues@egroups.com.
10. No original: Of course none of this work would have been possible without the
systemic functional linguistic theory that guides our endeavour. So a note of thanks
as well to Michael Halliday, for his close attention to interpersonal meaning in
language and for his design of the roomy theory that inspired this research.

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