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A LINGUÍSTICA APLICADA E AS SUAS APLICAÇÕES

Objetivos da Aprendizagem
 Estabelecer a relação entre a linguística teórica e a linguística aplicada.
 Definir a Linguística Aplicada e entender a evolução do conceito.
 Delimitar os vastos campos de aplicação da Linguística Aplicada
 Apresentar os temas possíveis de pesquisa nacionais e internacionais
no campo específico.

1 INTRODUÇÃO AOS NOSSOS ESTUDOS

Neste tópico vamos definir a Linguística Aplicada como ciência autônoma


e interdisciplinar. Para isso, inicialmente, vamos apresentar como evoluiu o
conceito desde o seu nascimento até os dias atuais, para depois apresentar os
distintos campos de aplicação da linguística de forma geral.

Por último, vamos deter-nos na aplicação mais pertinente para este curso:
a linguística aplicada ao ensino de línguas estrangeiras.

Desse modo, vocês terão oportunidade de compreender melhor o


conceito e ampliar os campos de aplicação que já foram apresentados no
capítulo 1.

Para começar sugerimos retomar as seguintes questões:

1) Já consegue definir que é Linguística Aplicada?


2) Poderia delimitar os seus campos de atuação e qual é o seu foco
de atenção?
3) Qual acha que é a contribuição dos estudos da Linguística Aplicada
para a sociedade?
4) Poderia indicar alguma situação do nosso quotidiano ou algum
problema que possamos resolver com a ajuda da linguística aplicada?
2 TECENDO O CONHECIMENTO

Nesta seção vamos apresentar delimitar o conceito da Linguística Aplicada


(LA) e apresentar um listado dos temas estudados nesta disciplina tanto a nível
mundial como especificamente no Brasil, com o intuito de que criem um contexto
histórico da disciplina e possam selecionar possíveis temas de interesse para
futuras pesquisas no âmbito desta pós-graduação.

2.1 A Linguística Teórica e a Linguística Aplicada.

Como já vimos no capítulo anterior a LA nasce como aplicação da


linguística teórica. Ambas as disciplinas vão estar interligadas e, como apontam
Buckingham e Eskey (1980), as duas precisam uma da outra, já que tanto a LA
precisa de teoria e dos linguistas como a linguística teórica vai precisar, em certo
modo, provar, verificar e testar as suas teorias em aplicações concretas.
Sendo assim, podemos iniciar dizendo que, seguindo a visão de
Buckingham e Eskey, por um lado, teremos os linguistas teóricos os quais se
encarregam do estudo da linguagem como sistema e, por outro lado, a linguística
aplicada se encarregaria das tarefas de comportamento linguístico.
Deste modo a linguística teórica se interessaria pela língua como um
construto abstrato ou internalizado e a linguística aplicada pelas manifestações
da língua externa, da língua em uso, da língua contextualizada.
A linguística teórica vai criar uma teria sólida sobre a língua, sobre a sua
estrutura e as suas funções, enquanto que a linguística aplicada vai se
encarregar de resolver problemas práticos aproveitando os achados da
linguística teórica. Esta última será útil especialmente para o ensino de línguas,
para melhorar processos como a tradução ou a robótica, entre outros.
A linguística teórica se ocuparia de investigar a língua como um fenômeno
enquanto que as pesquisas em linguística aplicada investigariam a língua como
uma prática. A principal diferença entre a linguística teórica e a linguística
aplicada estaria na orientação explícita desta última em direção à prática, aos
problemas do dia a dia relacionados com a linguagem e a comunicação.
Podemos concluir afirmando que, a pesar de que na atualidade existe
investigação e teoria no campo da linguística aplicada, à diferencia da Linguística
teórica, a finalidade ou objetivo principal da teoria é a de orientar a aquisição de
conhecimentos sobre um objeto de análise para uma resolução de problemas
práticos; quer dizer, na Linguística aplicada a concepção teórica está associada
e orientada à prática. Isto não quer dizer que a Linguística aplicada se posicione
hierarquicamente inferior ou subordinada à Linguística teórica. Ambas as
disciplina mantêm fortes relações, se complementam e, em diversos sentidos,
são interdependentes.
2.2 O que é a Linguística Aplicada?

A pesar da relação estabelecida no ítem anterior com a linguística teórica,


podemos afirmar também que incialmente a LA era concebida como sinônima
de Teoria de Ensino e Aprendizagem de Línguas. Nesta perspectiva limitadora
da LA, vinculada ao seu surgimento, a LA era concebida apenas como uma
tentativa de aplicação de linguística teórica e essa sua aplicação se limitava à
prática de ensino de línguas especialmente para questões de métodos e técnicas
de ensino e aprendizagem ou testagem.
No entanto, já em Anthony (1980), por exemplo, se começa a relacionar
a LA com outras disciplinas diferentes, entendendo esta como o conhecimento
acumulado da Linguística que os pesquisadores de uma outras disciplinas
consideram pertinente para o desenvolvimento das suas pesquisas.
Na mesma época da década dos 80 Campbell afirmava que a principal
tarefa do pesquisador em linguística aplicada se resumia à definição das
relações ou ligações entre teorias (visões, pressupostos) sobre a natureza da
linguagem assim como ao estabelecimento das condições otimizadas de ensino
e de aprendizagem de línguas, o que nos leva a concluir que a linguística
aplicada estava ainda limitada apenas à prática de língua ou ao seu ensino e à
aprendizagem.

Por outro lado, Kaplan (1980) estabelece os aspectos mínimos conceptuais


que precisam e determinam as linhas de atuação da linguística aplicada. Estes
são os seguintes:

a) a Linguística Aplicada é um mediador entre o campo da atividade teórica


e a prática;

b) a Linguística Aplicada é interdisciplinar;


c) a Linguística Aplicada é uma atividade orientada à resolução de
problemas.

d) a Linguística Aplicada é científica e educativa.

Até a época existia, então, uma visão muito restrita da LA, definida como
pesquisa em ensino e aprendizagem de línguas, mas começa a surgir também
uma outra visão mais ampla que vai entender a linguística aplicada como uma
resolução de problemas do mundo real.
Já afirmamos, no capítulo anterior, que a Linguística Aplicada nasce
vinculada ao ensino e à aprendizagem de segundas línguas o idiomas, e isso fez
com que incialmente fosse limitada a estas duas aplicações, mas posteriormente
vai encontrar outra utilidade prática como a elaboração de dicionários, a
tradução, a automatização de textos ou o ensino da língua materna, demandas
sociais que se relacionarão com a psicolinguística, a sociolinguística, a
antropologia linguística, a linguística matemática.
Neste interim, Menezes, Silva e Gomes (2009) diferenciam três maneiras
diferentes de classificar os trabalhos em linguística aplicada que nos podem
ajudar a entender os diferentes percepções do conceito por parte dos próprios
pesquisadores. Classificam os trabalhos nas seguintes categorias:
a) Como aplicação ao ensino e aprendizagem. Incluem aqui os trabalhos
sobre estratégias de aprendizagem de língua estrangeira,
b) Como aplicação da linguística, incluindo investigações sobre os princípios
e parâmetros da gramática gerativa na interlíngua de aprendizes de língua
estrangeira.
c) Como investigações aplicadas sobre estudos de linguagem como prática
social, por exemplo os estudos sobre identidade.

Esta classificação dos estudos em linguística aplicada sugerida por Menezes,


Silva e Gomes poderia ajudar-nos a entender os três campos de aplicação da
linguística aplicada que sugerimos em 2014.
1. Como uma rama da ciência cujos métodos e resultados são
empregados para ajudar a outras áreas de conhecimento, como, por
exemplo, a tradução.
2. Como uma rama da ciência cujos métodos e resultados são utilizados
para resolver problemas sociais e práticos. Sirvam como exemplo, o
ensino de línguas estrangeiras ou a linguística clínica.
3. Como aplicação dela mesma. Desde este ponto de vista, o professor
que ensina a um grupo de estudantes está implicado na LA

Na última década do século XX, a linguística aplicada dirige o seu foco à


orientação do problema como abordagem dominante dos seus estudos e vai
substituindo gradualmente a orientação da teoria linguística propriamente dita.

Sendo assim a sua preocupação agora será a de entender, explicar ou


solucionar problemas, objetivando a criação ou o aprimoramento de soluções
para tais problemas, tomados na sua contextualização, na sua relevância social,
o que confere às soluções condição de conhecimento útil a participantes sociais
efetivos. (ROJO, 2007, p. 1761)

Consequentemente, nasce uma nova linguística aplicada vinculada à


pesquisa científica mais evoluída no terreno teórico que, pouco a pouco, vai
constituindo novos modelos e paradigmas que permitirão ao pesquisador em
linguista aplicada ter uma compreensão mais abrangente e articulada do mundo
dos usos de linguagem, até derivar em uma LA que vai se relacionar com as
práticas sócias desses usos da linguagem, considerada, por sua vez, como uma
ciência autônoma que estuda criticamente os usos da linguagem nos mais
variados contextos sociais
Desta forma Moita Lopes sugere o seguinte:

Senhor diagramador:

Gostaria que esse texto abaixo ficasse em formato de citação.

A compreensão de que a LA não é aplicação da


Linguística é agora um truísmo para aqueles que atuam no
campo [...]. Tendo começado sob a visão de que seu objetivo
seria aplicar teorias Linguísticas [...], a LA já fez a crítica a
essa formulação reducionista e unidirecional de que as
teorias Linguísticas forneceriam a solução para os
problemas relativos à linguagem com que se defrontam
professores e alunos em sala de aula. O simplismo aqui é
claro. Como é possível pensar que teorias Linguísticas,
independentemente das convicções dos teóricos, poderiam
apresentar respostas para a problemática do ensinar e do
aprender em sala de aula? Uma teoria Linguística pode
fornecer uma descrição mais acurada de um aspecto
linguístico do que outra, mas ser completamente ineficiente
do ponto de vista do ensinar e do aprender línguas. (MOITA
LOPES, 2006, p. 18).

Para Moita Lopes a LA deve ser constituída por quatro aspectos essenciais:
1) o caráter mestiço ou nômade desta ciência para dialogar com o mundo;
2) a relação entre teoria e prática para as teorizações;
3) a compreensão dos sujeitos sociais como históricos;
4) e a existência de limites éticos para a ciência.

Entendemos assim, nos dias atuais, a Linguística aplicada como um


campo transdisciplinar, indisciplinar e intercultural, através do qual se realizam
investigações que procuram soluções concretas a problemas concretos que, por
sua vez, exigem respostas teóricas relacionados com a linguagem em um
contexto real.
Sendo assim, esta definição implica obrigatoriamente que não podemos
dissociar a linguagem e a vida social, pelo que esta disciplina também vai
dialogar direta ou indiretamente como outras áreas de conhecimento como a
educação, a antropologia, a política, a psicologia, a filosofia, a sociologia, entre
outras.
Como consequência, a Linguística Aplicada não seria mais a aplicação
das teorias linguísticas a algum objeto e sim uma área interdisciplinar que dialoga
com outras disciplinas que, por sua vez, tem como objeto de estudo problemas
linguísticos socialmente relevantes para os quais busca construir inteligibilidades
e que empreende um processo de ressignificação de seus próprios limites,
propondo interações com outras ciências, em razão da compreensão da
natureza necessariamente híbrida de seu objeto de estudo (RODRIGUES E
CERUTTI-RIZZATTI, 2011)
Os atuais estudos em Linguística Aplicada partem de problemas
concretos em que o uso da língua se considera central e, por sua vez, se
consideram também as interferências sociais destes em um meio específico,
pelo que a LA vai atender às vozes dos sujeitos que realizam essas práticas
sociais independentemente do papel que eles assumam, isto é, podem ser tanto
leitores, como produtores de texto escrito, falantes ou meros receptores de texto
oral em diferentes contextos de ensino e aprendizagem ou fora dele.
Deste modo alguns autores como WIDDOWSON (1996:125) vão
considerar a LA como um campo de investigação, cujo objetivo consiste em
aplicar os aspetos relevantes dos estudos teóricos sobre a língua aos problemas
quotidianos em que esta se vê implicada.
Por outro lado CRYSTAL (1991:22) considera a linguística aplicada como
uma rama da Linguística, cuja máxima preocupação reside em usar as teorias
linguísticas, os métodos e os achados para resolver os problemas linguísticos
que surgem em outros campos do conhecimento.
Estas definições entendem já a LA a linguagem como o vínculo a ser
utilizado para construir a nossa realidade do mundo e através da qual nos
situamos histórica e socialmente nele e, consequentemente, percebem a
linguística aplicada como um campo de conhecimento que é usado para
solucionar problemas.
Sendo assim, o principal interesse da Linguística aplicada seria o de
oferecer una base de dados teóricos que permita entender e ajudar a resolver
problemas, assim como a achar soluções relacionadas com a linguagem e as
línguas, pelo que podemos afirmar que a mesma estaria vinculada com as
necessidades sociais.
Entende-se, desde esta perspectiva, a linguagem como meio através do
qual construímos nossa realidade e pela qual nos situamos social e
historicamente, quer dizer, como algo necessário e essencial para mudar o
mundo e o modo como usuários dessa linguagem vivem e se compreendem a si
mesmos e a própria realidade em que estão inseridos.
Consequentemente, a LA terá como foco principal de pesquisa investigar
a relação existente entre a linguagem e os diferentes contextos de atuação
humana, isto é, como essa linguagem é utilizada nos mais diversos contextos
sociais, não limitando esses contextos apenas à sala de aula. Sendo assim, a
LA age na conscientização das pessoas sobre o poder e o impacto da linguagem
nas práticas cotidianas.
Sendo assim podemos dizer que a LA estuda como a linguagem acontece
nos mais variadas situações do mundo real, atendendo a diferentes contextos
pelo que vai procurar colocar em evidência como ela nos constitui como usuários
nas nossas interações com os outros, isto é, como fazemos uso dessa linguagem
para interagir em grupos sociais e que sentidos ela adquire nas mais
diversas circunstâncias de interação.
Esta visão implica uma mudança de perspectiva, pois aos estudos de
linguística aplicada passam a buscar de soluções concretas para problemas
linguísticos reais socialmente relevantes.
Dessa forma, a LA procura explicitar como, através da mais
diversificação de gêneros textuais, os usuários produzem, reproduzem,
desafiam ou alteram as estruturas sociais em que estão inseridos e como a
linguagem contribui para que algumas pessoas possam exercer domínio sobre
as outras nas práticas sociais.
Não estaríamos mais perante a dicotomia teoria linguística e uso ou
aplicação de essa teoria, e sim encarando problemas, procurando soluções e
resolvendo-os de forma interdisciplinar.
Deste modo o conceito de LA assume uma postura de diálogo com
diferentes ciências na investigação de problemas linguísticos sociais, culturais e
historicamente relevantes, e pela sua vez, vai transcender fronteiras disciplinares
e estabelecer relações com outras áreas do conhecimento, adquirindo, assim,
um caráter interdisciplinar, multidisciplinar, pluridisciplinar e transdisciplinar.
Sendo assim, a linguística aplicada seria uma rama da linguística que se
dedica à aplicação das teorias, métodos e conhecimentos próprios da linguística
com o intuito de resolver os diversos problemas sociais nos que está implicado
o uso da língua, mas também não podemos esquecer que se interessa pelas
aplicações da linguística noutras áreas da experiência humana, já que o uso da
língua é variado e diversificado pelo que a linguística aplicada vai atingir
disciplinas diversas, a maioria das quais se constituem como campos
interdisciplinares do saber.
Neste sentido, Rajagopalan afirma que:

Senhor diagramador:

Gostaria que esse texto abaixo ficasse em formato de citação.


[...] intervir de forma consequente nos problemas
linguísticos constatados, não procurando possíveis soluções
numa Linguística que nunca se preocupou com os
problemas mundanos (e nem sequer tem intenção de fazê-
lo), mas teorizando a linguagem e formas mais adequadas
àqueles problemas. [...] Dito de outra forma: a LA precisa
repensar o próprio lugar da teoria e não esperar que seu
colega “teórico” lhe forneça algo pronto e acabado para ser
“aplicado”. (RAJAGOPALAN, 2006, p. 165).

Podemos concluir, parafraseando a Cavalcanti (1986) que o percurso da


pesquisa em LA se inicia com a identificação de uma questão de uso da
linguagem (não apenas no contexto escolar), seguida de busca de subsídios em
áreas de investigação relevantes para depois empreender a análise da questão
prática e as sugestões de encaminhamento. A Linguística aplicada seria, pois,
uma disciplina integradora que concebe a pesquisa como um processo cíclico
que estabelece redes de ida e volta entre a teoria e a aplicação.
Finalizamos com a citação em espanhol de Francisco Adolfo Marcos
Marín que afirma que:

Senhor diagramador:

Gostaria que esse texto abaixo ficasse em formato de citação.

El término técnico Lingüística Aplicada alude al amplio


abanico de actividades cuyo objetivo es la solución de
problemas relacionados con el lenguaje o que enfrentan
alguna preocupación relacionada con el mismo, dentro de
un marco académico, con una metodología basada
primordialmente en la lingüística, como ciencia, más la
inclusión de los aportes de otras disciplinas y con desarrollo
autónomo. (MARCOS MARÍN, 2016, p. 25)

Com esta citação podemos destacar tanto a sua relação com a linguística,
a sua finalidade de resolução dos problemas, o seu caráter científico e
metodológico, a sua autonomia e a sua interdisciplinaridade.

2.3 Aplicações da linguística aplicada

São inúmeras as aplicações da linguística aplicada. Os problemas com que


ela lida vão dos aspectos da competência linguística e comunicativa do indivíduo
(a aquisição de primeira ou segunda língua, letramento, distúrbios de linguagem,
patologias da fala, etc.) até outros problemas relacionados com linguagem e
comunicação nas sociedades e entre as sociedades, tipo: a variação linguística
e a discriminação linguística, o multilinguismo, o conflito linguístico, a política
linguística ou o planejamento linguístico.

M.A.K. Halliday (1994) na sua gramática funcional já aponta algumas das


aplicações da linguística aplicada. Destaca, por exemplo como ela pode ser útil
e necessária para entender como uma criança desenvolve a linguagem e como
a linguagem deve desenvolver-se, para entender a variação linguística, para
entender a relação existente entre a língua e a cultura ou o contexto, para ajudar
no diagnóstico e no tratamento das patologias linguísticas, para ajudar os
tradutores, para ajudar as personas que apreendem uma língua estrangeira ou
a sua língua materna ou para ajudar os professionais que ensinam uma língua,
dentre outras.

Na atualidade compreende um número muito elevado de disciplinas, como a


fonoaudiologia que trata de resolver transtornos no uso da linguagem que afetam
à voz, à pronúncia e à linguagem oral em general; a planificação linguística que
se centra na determinação dos usos linguísticos que se consideram normativos
e na criação de um estándar); a lexicografia a qual estuda os fundamentos
teóricos que devem aplicar-se na elaboração de dicionários; a terminologia que
identifica e analisa os termos que se utilizam nas diversas áreas do saber, para
formular propostas de estandardização; a tradução assistida por computador
que desenvolve ferramentas informáticas que ajudam os tradutores; a fonética
aplicada a qual realiza síntese da fala e a reconhece desenvolvendo ferramentas
para que a comunicação entre o ser humano e as máquinas possa se realizar;
e, a linguística forense cujo objetivo pretende identificar a autoria de um texto
(escrito ou oral) com fins forenses.

É difícil estabelecer uma única taxonomia que classifique as diferentes áreas


de atuação da linguística aplicada. Em Cook (2003) se estabelecem três grandes
áreas gerais e, em cada uma delas, seriam incluídas outras especialidades:

(1) Em um primeiro lugar teríamos a linguagem e educação, que incluiria a


aquisição de língua materna e estrangeira, os estudos clínicos e a avaliação.
(2) Em segundo lugar, estaria a linguagem, o trabalho e as leis, que
abrangeriam a comunicação no trabalho, o planejamento linguístico, e a
linguística forense.

(3) Por último, em uma terceira classificação teríamos a linguagem, a


informação e os efeitos, incluindo a compreenderia estilística literária, a análise
crítica do discurso, a tradução e a interpretação, as questões de edição, e a
lexicografia.

Por sua vez, Tatiana Slama-Cazacu (1984) acrescenta que a linguística


aplicada pode ser dividida nas seguintes quinze áreas que sistematizamos nesta
tabela a seguir:

Senhor diagramador:
Gostaria que esse texto abaixo ficasse em formato de tabela e imagem. Foi eu que elaborei, por
isso acho que precisa da referência que vai em azul.

Tabela 01: Áreas da LA segundo Slama-Cazacu (1984)


• : 1. Elaboração e desenvolvimento teórico e metodológico das
bases da lingüística. Organización e desenvolvimento do domínio
e da colaboração interdisciplinar.
• 2. Ensino de línguas estrangeiras e educação e comunicação da
Slama-Cazacu(1984)

língua materna .
• 3. Aspetos linguísticos (codificação e estandarização grafica, etc.)
da aprendizagem e ensino da leitura da escrita
• 4. Aplicaçones da investigação lingüística en mateéias de
lexicografia, estilística e dialetologia.
• 5. Resolução de problemas linguísticos relacionados com
tradução.
• 6. Problemas linguísticos a nível de comunidade ou Estado.
• 7. Aspetos linguísticos na mídia.
• 8. Aspetos lingüísticos da comunicación nas empresas e, en geral
da actividade produtiva.
• 9. Aspetos linguísticos do diagnóstico e da terapia dos trastornos
da linguagem1
• 10. Aspetos linguísticos da relação médico/paciente, ou psicólogo/
paciente, ou psicólogo /sujeito experimental.
• 11. Aspetos linguísticos da transmissão mecánica da comunicação
• 12. Aplicación en diversos domínios das técnicas de análise
mecánico da fala.
• 13. Desenvolvimento de médios matemáticos formalizados e
técnicos destinados a resolver problemas de linguística aplicada
ou que a envolvam.
• 14. A linguística aplicada ao domínio jurídico.
• 15. Aspectos linguísticos da taquimecanografia, a imprenta, da
actividade dos corretores, etc.”

Outra forma de analisar quais são as áreas temáticas mais estudadas


dentro da linguística aplicada seria consultando o agrupamento de
pesquisadores que estabelece a própria Associação Internacional de Linguística
Aplicada como fazem Menezes. Silva e Gomes (2009). Até 2007, a AILA
abrigava 25 grupos de trabalho identificados como “comissões científicas” que
se organizavam em torno de investigações sobre os seguintes temas:

Senhor diagramador:
Gostaria que esse texto abaixo ficasse em formato de tabela e imagem. Foi eu que elaborei, por
isso acho que precisa da referência que vai em azul.

Tabela 02: Comissões científicas da AILA (2007)

.
COMISSÕES CIENTÍFICAS DA AILA

1 APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS POR ADULTOS


2 LINGUAGEM INFANTIL
3 COMUNICAÇÃO NAS PROFISSÕES
4 LINGUÍSTICA CONTRASTIVA E ANÁLISE DE ERROS
5 ANÁLISE DO DISCURSO
6 TECNOLOGIA EDUCACIONAL E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS
7 METODOLOGIA DE ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS E
FORMAÇÃO DE PROFESSOR
8 LINGUÍSTICA FORENSE
9 EDUCAÇÃO EM CONTEXTO DE IMERSÃO
10 INTERPRETAÇÃO E TRADUÇÃO
11 LÍNGUA EM CONTATO E MUDANÇA LINGUÍSTICA
12 LINGUAGEM E ECOLOGIA
13 LINGUAGEM E EDUCAÇÃO EM CONTEXTOS MULTILÍNGUES
14 LINGUAGEM E GÊNEROS
15 LINGUAGEM E MÍDIA
16 LINGUAGEM PARA FINS ESPECÍFICOS
17 PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO
18 AUTONOMIA DO APRENDIZ NA APRENDIZAGEM DE LÍNGUA
19 LEXICOGRAFIA
20 LETRAMENTO
21 EDUCAÇÃO EM LINGUA MATERNA
22 PSICOLINGUÍSTICA
23 RETÓRICA E ESTILÍSTICA
24 AQUISIÇÃO DE SEGUNDA LÍNGUA
25 LINGUAGEM DOS SINAIS

A esta lista, Menezes, Silva e Gomes (2009) sugerem acrescentar, após


advertir que nenhuma das taxionomias apresentadas consegue abranger todas
as possibilidades da linguística aplicada, outras áreas como as apontadas por
Candlin (2003) tipo: avaliação de programas, avaliação de linguagem, patologia
de linguagem, discursos institucionais, linguagem e identidades sociais,
linguagem e vida social ou as que sugere Bygate (2004) quem inclui também a
patologia da linguagem, perda da língua, linguagem e desenvolvimento
profissional, linguagem e família, linguagem e serviços públicos, linguagem e
saúde, linguagem e direitos humanos, e linguagem e desenvolvimento
internacional.

Menezes, Silva e Gomes (2009) após ter analisado 1446 artigos


internacionais de sete periódicos (Annual Review of Applied Linguistics,
International Journal of Applied Linguistics, International Review of Applied
Linguistics in Language Teaching (IRAL), System: An International Journal of
Educational Technology and Applied Linguistics, Language Learning, Modern
Language Journal e Studies in Second Language Acquisition) e 691 nacionais
de cinco periódicos (Revista Brasileira de Lingüística Aplicada; Trabalhos em
Lingüística Aplicada; ESPecialist, Linguagem e Ensino, e D.E.L.T.A. )
estabelecem quais são os temas mais comuns dentro da pesquisa científica em
linguística tanto internacionalmente como no Brasil. Os resultados são
apresentados nas seguintes duas tabelas:

Senhor diagramador:
Gostaria que esse texto abaixo ficasse em formato de tabela e imagem. Foi eu que elaborei, por
isso acho que precisa da referência que vai em azul.
Tabela 03: Temas de Pesquisa internacional em LA segundo Menezes,
Silva e Gomes (2009)

TEMAS DE PESQUISA EM PERIÓDICOS


INTERNACIONAIS
1 Ensino e aprendizagem de línguas 295
2 Aquisição de segunda língua 247
3 Interações orais 219
4 Vocabulário 124
5 Letramento (escrita 121
6 Reading 57
7 Pronúncia 53
8 Estratégias de Aprendizagem . 50
9 Gramática 49
10 Foco no Aprendiz 45
11 . Interação, comunicação e aprendizagem mediada por 37
computador
12 Teste e Avaliação 29
13 Compreensão oral 27
14 Gênero (masculino/feminino) 19
15 Crenças de professores e de aprendizes 16
16 . Linguística Aplicada: Reflexões sobre a área e sobre a 15
pesquisa
17 Tradução 13
18 Língua, Cultura e Ideologia 12
19 Currículo 11
20 Inglês como língua franca ou língua internacional 7
1446

Tabela 04: Temas de Pesquisa nacional em LA segundo Menezes, Silva


e Gomes (2009)
TEMAS DE PESQUISA EM PERIÓDICOS NACIONAIS
1 Aprendizagem de línguas por adultos 0
2 Linguagem infantil 1
3 Comunicação nas profissões 2
4 linguística contrastiva e análise de erros 5
5 Análise do discurso 121
6 Tecnologia educacional e aprendizagem de línguas 30
7 Metodologia de ensino de línguas estrangeiras e formação de 100
professor
8 Linguística forense 0
9 Educação em contexto de imersão 0
10 Interpretação e tradução 45
11 Linguagem e ecologia 0
12 Linguagem e educação em contextos multilíngues
13 Linguagem e gêneros 26
14 Linguagem e mídia 0
15 Línguas em contato e mudança linguística 0
15 Linguagem para fins específicos 2
16 Planejamento linguístico 3
17 Autonomia do aprendiz na aprendizagem de língua 7
19 Lexicografia 7
20 Letramento 28
21 Educação em lingua materna 17
22 Psicolinguística 2
23 Retórica e estilística 1
24 Aquisição de segunda língua 75
25 Linguagem dos sinais 2
Não classificados 168
Total 691
Para sistematiza, e já mais especificamente no campo das línguas
estrangeiras, concluiremos com a proposta de Celani (2000) quem estabelece
os temas mais habituais de pesquisa aplicada, destacando:
a) As estrategias de aprendizaje;
b) Observações sobre interferências da gramática nos falantes de LM
e LE;
c) Estudos sobre identidade sem se dissociar das contribuições da
linguística textual ou da análise do discurso;
d) Investigações em educação;
e) Estudos de tradução;
f) Estudos da análise do discurso;
g) Política linguística;
h) Alfabetização;
i) Aquisição da LM ou da L2; ou
j) Qualquer estudio que exprima preocupação com a implementação
de currículos que privilegiem as práticas.

Por sua vez Paraquet (2012:237) acrescenta à lista de Celani outros


temas também relacionados com a área de linguística aplicada e a formação
de professores de línguas estrangeiras que nos poderão servir de orientação
para futuras pesquisas ao longo desta pós-graduação. Seriam as seguintes:
 Seleção e produção de materiais didáticos
 Interação entre aluno e professor
 Definição de estratégias para a compreensão e produção de
textos
 Vinculação com políticas públicas
 Efetivação de um ensino que tenha fins específicos
 Qualquer aspeto relacionado com a formação de professores

3 RESUMINDO A AULA

Em resumo, nesta aula apresentamos várias definições da linguística


aplicada e as diferenças que podemos estabelecer com a linguística teórica.
Destacamos como o conceito foi evoluindo de uma disciplina vinculada a
própria teoria linguística para uma ciência autônoma interdisciplinar que se
preocupa com a resolução de problemas concretos no âmbito social. A
Linguística aplicada atualmente é vista como um campo transdisciplinar,
indisciplinar e intercultural, através do qual se realizam investigações que
procuram soluções concretas a problemas concretos que, por sua vez, exigem
respostas teóricas relacionados com a linguagem em um contexto real.
Sendo assim, o principal interesse da Linguística aplicada seria o de
oferecer una base de dados teóricos que permita entender e ajudar a resolver
problemas, assim como a achar soluções relacionadas com a linguagem e as
línguas, consequentemente a mesma estaria vinculada com as necessidades
sociais, pelo que podemos afirmar que a LA vai atender às vozes dos sujeitos
que realizam essas práticas sociais independentemente do papel que eles
assumam, isto é, podem ser tanto leitores, como produtores de texto escrito,
falantes ou meros receptores de texto oral em diferentes contextos de ensino e
aprendizagem ou fora dele. O foco principal de pesquisa em LA será o de
investigar a relação existente entre a linguagem e os diferentes contextos de
atuação humana, isto é, como essa linguagem é utilizada nos mais diversos
contextos.
Por fim, apoiados em Menezes, Silva e Gomes (2009) foram
apresentados alguns dos campos de atuação da Linguística Aplicada
desenvolvidos nas pesquisas científicas internacionais brasileiras com o intuito
de que o futuro pesquisador desta pós-graduação possa ir familiarizando-se com
possíveis temas de pesquisa.

Senhor diagramador:
Gostaria que esse texto abaixo ficasse centralizado como uma caixa de diálogo agregada à uma
imagem(lâmpada) tipo a que esta (essa eu peguei no google e deve ter direitos autorais, se for
possível criar algo parecido)

Aprofundando seu conhecimento


Caros alunos, seria muito interessante buscarem mais informações outras possíveis áreas de
atuação da linguística aplicada e sobre o tipo de problemas que ela tenta resolver. Para isso
podemos voltar a visitar os sítios da ALAB (Associação de Linguística Aplicada do Brasil), da
AILA (Association Internationale de Linguistique Appliquée), da Revista Brasileira de
Linguística Aplicada e da revista Applied Linguistics.

Ainda recomendamos, como leituras complementares, as seguintes obras de referência que


poderão encontrar na biblioteca da especialização:

BIAZI, T. M. D.; DIAS, L. C. F. O que é lingüística aplicada. Anais do Universidade em foco: o


caminho das humanidades. UNICENTRO, agosto, 2007.

MENEZES, V. L.; SILVA, M. M., GOMES, I. F. Sessenta anos de linguística aplicada: de onde
viemos e para onde vamos. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org). Linguística aplicada: um
caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 25-50.

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