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RESENHA ACADÊMICA

MOITA LOPES, L. P. (Org.) Por uma Lingüística Aplicada Indisciplinar. São Paulo:
Parábola Editorial, 2006.

Nadja Eudocia dos Santos Lins 1

Essa resenha tem como objetivo à descrição de um apanhado sucinto do texto “Da
aplicação da Linguística à Linguística Aplicada Indisciplinar”, de Moita Lopes. Trata-se de
um capítulo com catorze páginas retirado do livro “Por Uma Linguística Aplicada
Indisciplinar” publicado em 2006. Além disso, acontecerá a integração de alguns comentários
críticos referentes ao texto em discussão. Esse assunto é de extrema importância pois o
capítulo em análise aborda questões da Linguística Aplicada como um ramo de estudo que
está associado aos mais diversos âmbitos de pesquisas, conhecer sua amplitude e relevância
na atualidade é algo essencial para desconstruir o ideal da LA voltada só para práticas de
ensino e aprendizagem, focada em linguística.

Sobre a obra “Da aplicação de Linguística à Linguística Aplicada Indisciplinar” de


Moita Lopes, o autor inicia falando a respeito do seu objetivo: historicizar alguns dos
discursos que construíram e constroem o campo da Linguística Aplicada (LA), procurando
compreender como tal área de investigação se constitui atualmente. Desse modo, o linguista
fará uma descrição de concepções da LA no passado e na contemporaneidade. Essa atitude irá
proporcionar possíveis comparações e novos conhecimentos a respeito de uma área de estudo
ampla e diversificada.

No tópico “Linguística Aplicada como aplicação de Linguística”, o autor diz que o


campo da LA é iniciado com enfoque na área de ensino e aprendizagem de línguas. A
linguística, por sua vez, tem sua atuação nessa questão; pois ela proporcionou duas
compreensões para a concepção da LA. O escritor diz que, por um lado aplicava-se
Linguística à descrição de línguas, e, por outro, ao ensino de línguas estrangeiras.

1
¹Acadêmica do terceiro período do curso de Letras-Português pela Universidade Federal de Alagoas. Resenha
para composição de parte da nota da AB1, da disciplina Linguística Aplicada, ministrada pela Prof.ª Dr.ª Lúcia
de Fátima.
Moita Lopes ainda fala a respeito de alguns livros importantes para a compreensão do
tema em questão, dentre eles é destacado o livro de Pit Corder de 1973, “Introducing Applied
Linguistics”. A obra do autor desse livro fala que as decisões sobre a elaboração de
programas e de materiais para o ensino de línguas que o linguista aplicado tem que fazer
devem ser guiadas “pela nossa compreensão atual da natureza da longitude” (corDer, 1973, p.
12). Moita Lopes ainda fala que, a primeira parte desse livro dá conta de teorização
linguística; a segunda focaliza a aplicação ao ensino e a terceira às técnicas para fazer LA só
com o ensino de línguas.

O autor ainda discute sobre o advento da Linguística Transformacional, a qual


provocou a consumição do percurso aplicacionista. No entanto, Chomsky fez algumas
advertências a respeito disso: “mesmo diante desse descrédito quanto à vertente aplicacionista
na LA, linguistas aplicados continuaram convencidos de que a validade de tal aplicação
acabou a eles próprios determinarem” ( pág.14).

Moita Lopes, no segundo tópico “A primeira virada: da aplicação de Linguística à


Linguística Aplicada”, inicia falando que a distinção entre LA e aplicação de linguística só
acontece com o trabalho de Winddowson. Ainda é falado duas características de suas
propostas: uma restrição da LA a contextos educacionais e a necessidade de uma teoria
linguística para a LA que não seja dependente de uma teoria linguística. Assim, segundo
Widdowson, o modelo que deve interessar ao linguista aplicado é aquele que capta a
perspectiva do usuário.

Outra questão pertinente descrita na obra em discussão foi que, “a compreensão


subjacente é que nenhuma área do conhecimento pode dar conta da teorização necessária para
compreender os processos envolvidos nas ações de ensinar/aprender línguas em sala de aula
devido a sua complexidade.” (pág.16). Desse modo, a questão interdisciplinar foi fortemente
defendida por Widdowson, pois, segundo ele, “A um só tempo nos livramos da relação
unidirecional e aplicacionista entre teoria linguística e ensino de línguas e abrimos as portas
para outras áreas do conhecimento de forma a se operar de modo interdisciplinar’’(pág.16). O
afastamento de tais relações corroborou para a construção de uma LA condizente com a
interdisciplinaridade, a qual interage com outras áreas de estudo possibilitando novos
conhecimentos.

No terceiro tópico “A segunda virada: Linguística Aplicada em contextos


institucionais diferentes de escolares”, ele fala outras questões pertinentes sobre o tema em
discussão. Nesse é descrito a virada da LA ao começar a pesquisar contextos de ensino e
aprendizagem de língua materna, no campo dos letramentos, e de outras disciplinas do
currículo, e em outros contextos institucionais. O autor ainda fala que, ao compreender a
linguagem como constitutiva da vida institucional, a LA passa a ser formulada como uma área
centrada em práticas do uso da linguagem dentro e fora da sala de aula. Além disso, é
abordado que essa formulação aumenta seus tópicos de investigação, assim como o apelo de
natureza interdisciplinar para teorizá-los.

No último tópico “Linguística Aplicada Indisciplinar”, o linguista fala da formulação


que ele chama de uma LA Indisciplinar e outros de antidisciplinar ou transgressiva
(pennycook, 2006) ou de uma LA da desaprendizagem (fabrício, 2006. Ele fala que essa LA
deseja falar ao mundo em que vivemos, no qual muitas das questões que nos interessavam
mudaram de natureza ou se complexificaram ou deixaram de existir. Uma LA que pode ser
mais entendida como transdisciplinar, como estivesse atravessando as fronteiras disciplinares,
sempre se transformando. O autor ainda fala que, tal ideal abandona definitivamente a
preocupação em se limitar com à Linguística como um componente teórico essencial.

Moita Lopes diz que, a perspectiva da indisciplinaridade em LA requer um modelo de


teorização inter/transdiciplinar, embora não seja absolutamente uma unanimidade.” (pág.
20).Ele, no tópico em questão, ainda destaca que as áreas de conhecimento são mutáveis e
outras formas de produzir o conhecimento são reinventadas, cabendo aos pesquisadores
escolher o caminhar a trilhar.

Concluída à síntese do capítulo, serão realizados alguns comentários a respeito de


algumas observações realizadas. No tópico “Linguística Aplicada como aplicação de
Linguística”, embora à Linguística tenha contribuído no desenvolvimento da LA,
proporcionando duas questões para sua compreensão, a limitação nesse campo do saber
durante anos atrasou o progresso da LA quanto à vasta possibilidade de interação com outras
áreas. Assim, a situação da LA como uma área interdisciplinar, a priori, não era bem vista,
isso desconsiderou a questão da interação que a linguagem tem com esse campo para além da
Linguística, mas também na relação de práticas sociais voltadas para a linguagem.

Outra questão pertinente discutida no capítulo em síntese foi sobre o advento da


Linguística Transformacional. Isso porque ainda existiram linguistas que continuaram
defendendo o percurso aplicacionista, “cabendo a eles o dia de parar”. Isso mostra a mente
fechada e ignorante desses indivíduos que se limitavam à ideais arcaicos, não permitindo
novas pesquisas e modos de trabalhar a LA.

Visto às considerações do texto em questão sobre Linguística Aplicada, fica nítido


que, diferentemente de como a LA foi iniciada, voltada apenas na área de
ensino/aprendizagem de línguas, tendo como enfoque principal à linguística, atualmente tal
questão já não é mais bem vista. Isso porque essa situação desconsiderou a possibilidade de
usar a LA como meio articulador com outras áreas de estudos, limitando ela apenas a um
campo. Assim, novas pesquisas, interações e descobertas da linguística aplicada com demais
áreas, a princípio, não eram muito bem consideradas.

Portanto, o capítulo descrito é útil para refletir a respeito da Linguística Aplicada,


observar algumas questões apontadas pelo autor e comparar/analisar com outros
pesquisadores que falam sobro o assunto. Por isso é relevante fazer a leitura dele para ter
maior conhecimento da LA. Por se tratar de um tema complexo que ainda envolve
questionamentos, o estudo minucioso dessa área é essencial para ter concepções sólidas e
embasadas em fontes/argumentos concernentes com à Linguística Aplicada.

Referência Bibliográfica

LOPES, Luiz Paulo da Moita. Contextos Institucionais em Lingüística Aplicada: Novos


Rumos. Revista Intercâmbio, São Paulo, v. 5, p. 3-14, 1996. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/intercambio/issue/view/303. Acesso em: 14 jul. 2021.

MOITA LOPES, L. P. (Org.) Por uma Lingüística Aplicada Indisciplinar. São Paulo:
Parábola Editorial, 2006.

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