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SÉRIE ELETROELETRÔNICA

MANUTENÇÃO
DE SISTEMAS
ELETRÔNICOS
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI

Robson Braga de Andrade


Presidente

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA

Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti


Diretor de Educação e Tecnologia

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI

Conselho Nacional

Robson Braga de Andrade


Presidente

SENAI – Departamento Nacional

Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti


Diretor Geral

Gustavo Leal Sales Filho


Diretor de Operações

Regina Maria de Fátima Torres


Diretora Associada de Educação Profissional
SÉRIE ELETROELETRÔNICA

MANUTENÇÃO
DE SISTEMAS
ELETRÔNICOS
© 2013. SENAI – Departamento Nacional

© 2013. SENAI – Departamento Regional de São Paulo

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Unidade de Educação Profissional e Tecnológica – UNIEP

SENAI Departamento Regional de São Paulo


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FICHA CATALOGRÁFICA

S491g

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional.


Manutenção de sistemas eletrônicos / Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial. Departamento Nacional, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Departamento Regional de São Paulo. Brasília : SENAI/DN, 2013.
182p. il. (Série Eletroeletrônica).

ISBN 9788575196915

1. Eletrônica 2. Eletroeletrônica 3. Manutenção eletrônica 4. Diagnóstico


de defeitos e falhas em equipamentos eletrônicos 5. Componentes eletrônicos
I. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional de São
Paulo II. Título III. Série

CDU: 005.95

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Departamento Nacional Fax: (0xx61) 3317-9190 • http://www.senai.br
Lista de figuras, quadros e tabelas
Figura 1 -  Estrutura curricular do Curso Técnico de Eletroeletrônica.............................................................14
Figura 2 -  Diagrama em blocos de uma fonte linear............................................................................................21
Figura 3 -  Representação gráfica da tensão antes e depois do transformador..........................................21
Figura 4 -  Representação gráfica da tensão contínua pulsante.......................................................................22
Figura 5 -  Representação gráfica da tensão contínua com oscilações..........................................................22
Figura 6 -  Representação gráfica da tensão contínua estabilizada.................................................................23
Figura 7 -  Esquema elétrico de uma fonte de tensão linear..............................................................................23
Figura 8 -  Primário de bobina simples.......................................................................................................................25
Figura 9 -  Primário com derivação central...............................................................................................................25
Figura 10 -  Primário com duas bobinas independentes (bobina dupla)......................................................26
Figura 11 -  Secundário simples....................................................................................................................................27
Figura 12 -  Secundário com derivação central.......................................................................................................27
Figura 13 -  Exemplos de transformadores que encontramos na prática......................................................28
Figura 14 -  Retificador de meia onda.........................................................................................................................29
Figura 15 -  Retificador de onda completa center tape.........................................................................................29
Figura 16 -  Retificador em ponte.................................................................................................................................30
Figura 17 -  Representação gráfica da atuação de um filtro capacitivo..........................................................30
Figura 18 -  Oscilação com filtros de diferentes capacitâncias..........................................................................31
Figura 19 -  Diagrama de um circuito de interface com transistor bipolar...................................................38
Figura 20 -  Representação do transistor (Q1) saturado.......................................................................................40
Figura 21 -  Representação do transistor (Q1) no corte.......................................................................................40
Figura 22 -  Representação do resistor (R1)..............................................................................................................41
Figura 23 -  Transistor (Q1) no estado de saturação..............................................................................................42
Figura 24 -  Transistor (Q1) no estado de corte.......................................................................................................43
Figura 25 -  Diodo polarizado diretamente (A) e diodo polarizado reversamente (B)..............................44
Figura 26 -  Diodo (D1) conduzindo a corrente reversa IR...................................................................................44
Figura 27 -  Em destaque, representação do relé (K1)..........................................................................................45
Figura 28 -  Diagrama de um circuito de interface de potência AC.................................................................50
Figura 29 -  Representação do TRIAC no circuito eletrônico e aparência física desse componente....51
Figura 30 -  Formas de onda do sinal em um circuito que utiliza o TRIAC.....................................................52
Figura 31 -  Procedimento de teste do TRIAC..........................................................................................................53
Figura 32 -  Aparência física do optoacoplador MOC3020.................................................................................54
Figura 33 -  Teste de um optoacoplador....................................................................................................................55
Figura 34 -  Resistores R1 e R2 em destaque nesta representação..................................................................56
Figura 35 -  Teste de diodo com multímetro analógico.......................................................................................57
Figura 36 -  Gráficos das formas de onda de dois PWM ajustados com velocidades diferentes...........65
Figura 37 -  Circuito de interface de potência DC..................................................................................................67
Figura 38 -  Funcionamento do circuito de interface de potência DC............................................................68
Figura 39 -  Procedimento de teste do optoacoplador........................................................................................69
Figura 40 -  Modelos de optoacopladores................................................................................................................70
Figura 41 -  Comparador de tensão com interface de potência com relé.....................................................77
Figura 42 -  Representação dos terminais de um amplificador operacional................................................78
Figura 43 -  Comparação de fontes assimétrica e simétrica...............................................................................79
Figura 44 -  Exemplos de divisores de tensão com LDR.......................................................................................80
Figura 45 -  Tensão de referência com resistores fixos..........................................................................................81
Figura 46 -  Tensão de referência com diodo zener..............................................................................................81
Figura 47 -  Exemplo de tensão de referência com resistor ajustável.............................................................82
Figura 48 -  Variações de tensão de um sinal elétrico senoidal.........................................................................88
Figura 49 -  Variação de tensão de um sinal elétrico digital...............................................................................89
Figura 50 -  Exemplo de ruído elétrico em sinais analógicos e digitais..........................................................90
Figura 51 -  Representação dos níveis lógicos.........................................................................................................91
Figura 52 -  Combinações possíveis em relação à quantidade de bits............................................................92
Figura 53 - Representação de números que extrapolam a capacidade
dos algarismos decimais..........................................................................................................................93
Figura 54 - Outra representação de números que extrapolam a capacidade
dos algarismos decimais..........................................................................................................................94
Figura 55 -  Contagem no sistema numérico binário............................................................................................94
Figura 56 -  Equivalência entre números decimais e binários............................................................................95
Figura 57 -  Conversão de um número decimal para binário por meio de uma calculadora.................96
Figura 58 -  Relação entre sistemas numéricos decimal, hexadecimal e binário........................................98
Figura 59 -  Contagem no sistema numérico hexadecimal................................................................................98
Figura 60 - Conversão de um número hexadecimal em binário com o uso
de uma calculadora disponível em alguns computadores.........................................................99
Figura 61 -  Símbolo da porta lógica OU................................................................................................................. 101
Figura 62 -  Símbolo da porta lógica E..................................................................................................................... 102
Figura 63 -  Símbolo da porta lógica INVERSORA................................................................................................ 103
Figura 64 -  Símbolo da porta lógica NOU............................................................................................................. 104
Figura 65 -  Símbolo da porta lógica NE................................................................................................................. 105
Figura 66 -  Símbolo da porta lógica OU EXCLUSIVO......................................................................................... 106
Figura 67 -  Símbolo da porta lógica NOU EXCLUSIVO ou COINCIDENCIA................................................ 106
Figura 68 -  Circuito de um flip-flop do tipo RS assíncrono.............................................................................. 108
Figura 69 -  Exemplos de circuitos integrados da série 74............................................................................... 110
Figura 70 -  Diferentes tipos de cristais de quartzo............................................................................................ 120
Figura 71 -  Arquitetura interna de um microcontrolador do modelo AT89C2051................................. 121
Figura 72 -  Tecla atuando como entrada digital de um microcontrolador............................................... 122
Figura 73 -  LDR atuando como sensor analógico de um microcontrolador............................................ 123
Figura 74 -  Saída digital ativando uma lâmpada................................................................................................ 123
Figura 75 -  Funcionamento de um alto-falante.................................................................................................. 124
Figura 76 -  Dissipação de calor no regulador de tensão da fonte linear................................................... 132
Figura 77 -  Esquema demonstrativo do transistor MOSFET quando saturado....................................... 133
Figura 78 -  Esquema demonstrativo do transistor MOSFET no estado de corte.................................... 134
Figura 79 -  Diagrama em blocos de uma fonte de alimentação chaveada............................................... 134
Figura 80 -  Exemplo de filtro de linha para fonte de alimentação chaveada........................................... 135
Figura 81 -  Componentes do bloco de retificação primária........................................................................... 136
Figura 82 -  Dois tipos de transistor MOSFET e simbologia desse componente...................................... 137
Figura 83 -  Transformador isolador de alta frequência.................................................................................... 138
Figura 84 -  Optoacoplador......................................................................................................................................... 139
Figura 85 -  Alguns modelos de circuitos integrados utilizados em fontes chaveadas......................... 141
Figura 86 - O técnico da área de Manutenção trabalha como um detetive
para investigar falhas e defeitos......................................................................................................... 147
Figura 87 -  Ficha de acompanhamento de manutenção de uma máquina industrial......................... 149
Figura 88 -  Capacitor estourado e PCI com solda fria....................................................................................... 151
Figura 89 -  Interligação das placas internas em um computador................................................................ 155
Figura 90 -  Esteira transportadora de materiais para o forno........................................................................ 156
Figura 91 -  Exemplo de orçamento do serviço de manutenção................................................................... 163
Figura 92 -  O alto custo da manutenção pode inviabilizá-la.......................................................................... 165
Figura 93 -  Ajuste de parâmetros e configurações............................................................................................ 167
Figura 94 -  Estudo de melhorias para o equipamento..................................................................................... 169
Figura 95 -  A aceitação, por parte do cliente, do serviço realizado é essencial....................................... 170

Quadro 1 -  Possíveis falhas em componentes e sua influência no circuito eletrônico............................33


Quadro 2 -  Possíveis falhas em componentes e influência no circuito ........................................................46
Quadro 3 -  Possíveis falhas em componentes e sua influência no circuito eletrônico............................59
Quadro 4 -  Possíveis falhas em componentes e sua influência no circuito.................................................71
Quadro 5 -  Possíveis falhas em componentes e sua influência no circuito eletrônico............................84
Quadro 6 -  Controle da tensão de saída................................................................................................................ 140
Quadro 7 -  Possíveis falhas e defeitos de fonte chaveada.............................................................................. 142

Tabela 1 -  Tabela verdade de uma porta lógica OU de duas entradas....................................................... 101


Tabela 2 -  Tabela verdade de uma porta lógica E de duas entradas............................................................ 102
Tabela 3 -  Tabela verdade de uma porta INVERSORA....................................................................................... 103
Tabela 4 -  Tabela verdade de uma porta lógica NOU de duas entradas.................................................... 104
Tabela 5 -  Tabela verdade de uma porta lógica NE de duas entradas........................................................ 105
Tabela 6 -  Tabela verdade da porta lógica OU EXCLUSIVO............................................................................. 106
Tabela 7 -  Tabela verdade de uma porta lógica NOU EXCLUSIVO ou COINCIDÊNCIA........................... 107
Tabela 8 -  Tabela verdade de um flip-flop do tipo RS........................................................................................ 108
Tabela 9 -  Principais versões comerciais da família TTL................................................................................... 110
Sumário
1 Introdução.........................................................................................................................................................................13

2 Fonte de tensão linear..................................................................................................................................................19

2.1 Finalidade.......................................................................................................................................................20
2.2 Funcionamento............................................................................................................................................20
2.2.1 Transformador.............................................................................................................................24
2.2.2 Retificador....................................................................................................................................28
2.2.3 Filtro................................................................................................................................................30
2.2.4 Regulador de tensão.................................................................................................................32
2.3 Possíveis falhas..............................................................................................................................................33

3 Transistor como chave .................................................................................................................................................37

3.1 Finalidade.......................................................................................................................................................38
3.2 Funcionamento............................................................................................................................................39
3.2.1 Resistor (R1) ................................................................................................................................41
3.2.2 Transistor (Q1) ............................................................................................................................42
3.2.3 Diodo (D1) ...................................................................................................................................43
3.2.4 Relé (K1) ........................................................................................................................................45
3.3 Possíveis falhas..............................................................................................................................................46

4 Interface de potência AC..............................................................................................................................................49

4.1 Finalidade.......................................................................................................................................................50
4.2 Funcionamento............................................................................................................................................50
4.2.1 TRIAC .............................................................................................................................................51
4.2.2 Optoacoplador............................................................................................................................53
4.2.3 Resistores R1 e R2......................................................................................................................56
4.3 Teste com multímetro analógico............................................................................................................56
4.4 Possíveis falhas..............................................................................................................................................58

5 Interface de potência DC.............................................................................................................................................63

5.1 Finalidade.......................................................................................................................................................64
5.2 Funcionamento............................................................................................................................................66
5.2.1 Circuito de controle...................................................................................................................68
5.2.2 Optoacoplador............................................................................................................................69
5.2.3 Transistor MOSFET.....................................................................................................................70
5.3 Possíveis falhas..............................................................................................................................................71
6 Comparador de tensão.................................................................................................................................................75

6.1 Finalidade.......................................................................................................................................................76
6.2 Funcionamento............................................................................................................................................76
6.2.1 Amplificador operacional.......................................................................................................78
6.2.2 LDR..................................................................................................................................................80
6.2.3 Tensão de referência.................................................................................................................81
6.3 Possíveis falhas..............................................................................................................................................82

7 Introdução aos circuitos digitais...............................................................................................................................87

7.1 Eletrônica digital..........................................................................................................................................88


7.2 Sistemas de numeração............................................................................................................................93
7.2.1 Sistema de numeração decimal...........................................................................................93
7.2.2 Sistema de numeração binário.............................................................................................94
7.2.3 Sistema de numeração hexadecimal..................................................................................97
7.3 Portas lógicas............................................................................................................................................. 100
7.3.1 Porta lógica OU........................................................................................................................ 101
7.3.2 Porta lógica E............................................................................................................................ 102
7.3.3 Porta lógica INVERSORA....................................................................................................... 103
7.3.4 Porta lógica NOU..................................................................................................................... 103
7.3.5 Porta lógica NE......................................................................................................................... 104
7.3.6 Porta lógica OU EXLUSIVO................................................................................................... 105
7.3.7 Porta lógica NOU EXCLUSIVO ou COINCIDÊNCIA........................................................ 106
7.4 Flip-flop......................................................................................................................................................... 107
7.5 Famílias lógicas.......................................................................................................................................... 109
7.5.1 Família TTL................................................................................................................................. 109
7.5.2 Família CMOS............................................................................................................................ 111
7.6 Possíveis falhas........................................................................................................................................... 112

8 Microcontrolador......................................................................................................................................................... 117

8.1 Finalidade.................................................................................................................................................... 118


8.2 Funcionamento......................................................................................................................................... 118
8.3 Possíveis falhas........................................................................................................................................... 124
8.3.1 Falhas de software................................................................................................................... 125
8.3.2 Falhas de hardware................................................................................................................. 125

9 Fonte chaveada............................................................................................................................................................ 131

9.1 Finalidade.................................................................................................................................................... 132


9.2 Funcionamento......................................................................................................................................... 132
9.3 Possíveis falhas........................................................................................................................................... 141
10 Diagnóstico de falhas e de defeitos em sistemas eletrônicos................................................................... 147

10.1 Entrevista com o usuário..................................................................................................................... 148


10.2 Documentação técnica........................................................................................................................ 149
10.3 Levantamento de hipóteses............................................................................................................... 150
10.4 Inspeção visual........................................................................................................................................ 150
10.5 Coleta de dados (medidas de grandezas)..................................................................................... 151
10.6 Comprovação das hipóteses.............................................................................................................. 152
10.7 Comparação com outro equipamento........................................................................................... 152
10.8 Comparação com esquema elétrico................................................................................................ 153
10.9 Levantamento de circuito................................................................................................................... 154
10.10 Análise de funcionamento............................................................................................................... 156
10.11 Diagnóstico por software.................................................................................................................. 157
10.12 Registro de informações sobre causas de falhas e defeitos................................................. 157

11 Manutenção de sistemas eletrônicos................................................................................................................ 161

11.1 Providências antes da manutenção................................................................................................. 162


11.1.1 Equipamentos de terceiros............................................................................................... 162
11.1.2 Equipamentos da empresa............................................................................................... 164
11.1.3 Manutenção inviável........................................................................................................... 165
11.2 Manutenção em equipamentos eletrônicos................................................................................ 166
11.2.1 Substituição de componentes eletrônicos................................................................. 166
11.2.2 Ajuste de parâmetros ou configurações de funcionamento................................ 167
11.2.3 Registro de dados de manutenção................................................................................ 168
11.3 Testes de validação................................................................................................................................ 169
11.4 Encerramento da manutenção.......................................................................................................... 171

Referências......................................................................................................................................................................... 175

Minicurrículo dos autores............................................................................................................................................ 177

Índice................................................................................................................................................................................... 179
Introdução

Esta unidade curricular, Manutenção de sistemas eletrônicos, do Curso Técnico de Ele-


troeletrônica, faz parte do Módulo Específico II, que o qualifica para atuar como mantenedor
de sistemas eletroeletrônicos e subsidia o desenvolvimento das capacidades técnicas, sociais,
organizativas e metodológicas do Módulo Específico III, conforme figura a seguir.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
14

Entrada

Módulo Básico (300 h)


• Comunicação Oral e Escrita (60 h)
• Eletricidade (180 h)
• Leitura e Interpretação de Desenho (30 h)
• Qualidade, Saúde, Meio Ambiente e Segurança no Trabalho (30 h)

Módulo Específico I (300 h)


Instalação de Sistemas Eletroeletrônicos
Instalador de
Sistemas
• Instalação de Sistemas Elétricos Prediais (90 h) Eletroeletrônicos
• Instalação de Sistemas Eletroeletrônicos Industriais (90 h) (600 h)
• Instalação de Sistemas Eletrônicos (90 h)
• Gestão da Instalação de Sistemas Eletroeletrônicos (30 h)

Módulo Específico II (300 h)


Manutenção de Sistemas Eletroeletrônicos
Mantenedor de
• Manutenção de Sistemas Elétricos Prediais (60 h) Sistemas
Eletroeletrônicos
• Manutenção de Sistemas Eletroeletrônicos Industriais (120 h)
(900 h)
(60 h)
• Manutenção de Sistemas Eletrônicos (60h)
• Gestão da Manutenção de Sistemas Eletroeletrônicos (60 h)

Módulo Específico III (300 h)


Desenvolvimento de Sistemas Eletroeletrônicos

• Projeto de Sistemas Elétricos Prediais (60 h)


• Projeto de Sistemas Eletroeletrônicos Industriais (120 h)
• Projeto de Sistemas Eletrônicos (60 h)
• Projeto de Melhorias de Sistemas Eletroeletrônicos (60 h)

Técnico em Eletroeletrônica (1200 h)

Figura 1 -  Estrutura curricular do Curso Técnico de Eletroeletrônica


Fonte: SENAI-SP (2013)
1 INTRODUÇÃO
15

Este livro tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento de capacidades


relativas às técnicas de manutenção de equipamentos eletrônicos. Nele, serão
abordados ainda os aspectos sociais, organizativos e metodológicos inerentes à
atuação do técnico em eletroeletrônica em diversas situações de trabalho.
Assim, esta unidade curricular se propõe a apresentar os conhecimentos ne-
cessários para que você possa:
a) diagnosticar as causas de falhas e defeitos em sistemas eletrônicos;
b) identificar e requisitar equipamentos (inclusive EPI e ESD), ferramentas e
materiais necessários para realizar a manutenção de sistemas eletrônicos;
c) avaliar a necessidade de manutenção em sistemas eletrônicos levando em
conta os critérios técnicos e econômicos;
d) preencher orçamento de manutenção de sistemas eletrônicos;
e) definir sequência de atividades por intermédio da análise da documenta-
ção técnica;
f ) efetuar a manutenção em sistemas eletrônicos;
g) preencher relatório de manutenção de sistemas eletrônicos;
h) registrar os dados coletados nos processos de manutenção e validação;
i) validar a manutenção dos sistemas eletroeletrônicos;
j) registrar, em documentação própria, sugestões de alterações para o proje-
to decorrentes das falhas e dos defeitos identificados.
Para desenvolver essas capacidades, nosso livro didático foi dividido em onze
capítulos, e este é o capítulo 1.
Do capítulo 2 ao capítulo 9, estudaremos o princípio de funcionamento dos
principais circuitos encontrados em equipamentos eletrônicos, o que lhe dará
subsídios para diagnosticar e solucionar falhas e defeitos nesses circuitos. Saiba
que falhas e defeitos são coisas diferentes, mas neste momento não faremos essa
distinção, pois o nosso objetivo é que você compreenda o princípio de funcio-
namento desses circuitos, para que possa repará-los, independentemente de o
problema ser uma falha ou um defeito.
Veja a seguir os circuitos eletrônicos que estudaremos nos capítulos de 2 a 9
a) Capítulo 2: Fonte de tensão linear - Converte a energia elétrica das toma-
das para níveis de tensão compatíveis com os equipamentos eletrônicos.
b) Capítulo 3: Transistor funcionando como chave - Faz o acionamento de
circuitos eletrônicos de maior potência, a partir de sinais elétricos de pe-
quena intensidade.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
16

c) Capítulo 4: Interface de potência AC - Faz o acionamento de circuitos ele-


trônicos de corrente alternada de grandes potências, a partir de sinais elé-
tricos de pequena intensidade.
d) Capítulo 5: Interface de potência DC - Faz o acionamento de cargas em
corrente contínua. Funciona de forma semelhante ao transistor como cha-
ve, porém utiliza o transistor MOSFET.
e) Capítulo 6: Comparador de tensão - Faz o acionamento de dispositivos
eletrônicos a partir da comparação de sinais elétricos provenientes, muitas
vezes, de sensores.
f ) Capítulo 7: Introdução aos circuitos digitais - Trata dos conceitos da ele-
trônica digital, que envolve os sistemas de numeração e as portas lógicas.
g) Capítulo 8: Microcontroladores - Controla o funcionamento de equipa-
mentos eletrônicos modernos.
h) Capítulo 9: Fonte chaveada - Realiza as funções das fontes lineares, porém
com maior aproveitamento de energia elétrica.
Após conhecer os circuitos eletrônicos, estudaremos, no capítulo 10, as técni-
cas empregadas para o diagnóstico de falhas e defeitos em sistemas eletrônicos.
Já no capítulo 11, veremos as técnicas de manutenção e validação dos circuitos
e sistemas eletrônicos.
Preparado? Então, vamos lá!
1 INTRODUÇÃO
17

Anotações:
Fonte de tensão linear

Como você já viu em Instalação de Sistemas Eletrônicos, uma fonte de tensão é de extrema
importância na eletrônica, pois ela fornece energia elétrica adequada e necessária para o fun-
cionamento dos equipamentos.
Neste capítulo, estudaremos o funcionamento de um tipo de fonte bastante comum: a fon-
te de tensão linear - um circuito eletrônico que converte a tensão alternada das tomadas para
tensão contínua e reduz a tensão para valores compatíveis com o equipamento que o circuito
irá alimentar. Vamos analisar como isso ocorre e entender o que fazer para realizar a manuten-
ção nesse tipo de circuito.
Assim, ao final deste capítulo, você terá subsídios para:
a) analisar o funcionamento de uma fonte de tensão linear;
b) diagnosticar a causa de falhas e defeitos nesse tipo de fonte;
c) reparar falhas e defeitos em fontes de tensão lineares.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
20

2.1 FINALIDADE

Como já dissemos, a fonte de tensão linear serve para converter a tensão da


rede elétrica, presente nas indústrias e nas tomadas de nossas casas, para ní-
veis de tensão e de corrente compatíveis com o circuito eletrônico que a rede
irá alimentar. Praticamente todos os equipamentos eletrônicos que são ligados
na tomada possuem uma fonte, seja interna, quando o circuito fica embutido no
equipamento (exemplo: forno de micro-ondas), seja externa, quando fica em uma
caixa separada, fora dele (exemplo: notebook).
Basicamente, existem dois tipos de fontes: lineares e chaveadas. As chavea-
das são menores, mais modernas e eficientes e vêm, de modo gradativo, subs-
tituindo as lineares. Mesmo assim, as fontes lineares ainda estão presentes em
muitos equipamentos eletrônicos e, devido à simplicidade do circuito e ao baixo
custo, é muito provável que não desapareçam. Estudaremos as fontes chaveadas
no capítulo 9.

2.2 FUNCIONAMENTO

O princípio de funcionamento de uma fonte de tensão linear, assim como outros


circuitos eletrônicos, pode ser resumido por meio de um diagrama em blocos.
Você já ouviu falar em diagramas em blocos? Eles servem para simplificar o es-
tudo de um circuito eletrônico. Como verá na figura a seguir, cada um dos blocos
desse diagrama corresponde a um de seus estágios de funcionamento.
Para facilitar nosso estudo, neste capítulo veremos inicialmente o funciona-
mento do diagrama em blocos para, depois, associá-lo aos componentes eletrôni-
cos que o compõem.
A figura 2 ilustra o diagrama em blocos de uma fonte de tensão linear. Utilizare-
mos como exemplo uma fonte com saída de 5 V conectada a uma tomada de 220 V.
É muito importante compreender o que acontece em cada bloco, pois assim
será mais fácil diagnosticar falhas e defeitos na fonte de alimentação.
2 FONTE DE TENSÃO LINEAR
21

tensão alternada tensão alternada tensão contínua tensão contínua tensão contínua
reduzida pulsante com oscilações estabilizada
v v v v v

220 VAC
9 VDC 6,7 VDC 11,3 VDC 5 VDC
t t t t t

1 2 3 4
transformador retificador filtro regulador

entrada saída
(220 VAC) (5 VDC)

Figura 2 -  Diagrama em blocos de uma fonte linear


Fonte: SENAI-SP (2013)

Siga a numeração a seguir e acompanhe a explicação sobre o funcionamento


de cada um dos blocos representados no diagrama anterior.
1) Transformador: reduz a tensão alternada da tomada para um nível mais
próximo da saída da fonte. Nessa etapa, embora a tensão seja bem menor
que a de entrada, ela continua alternada. Observe, na figura 3, a diferença
na amplitude da tensão antes e depois do transformador.

antes do depois do
transformador transformador
v v

t t

Figura 3 -  Representação gráfica da tensão antes e depois do transformador


Fonte: SENAI-SP (2013)

2) Retificador: converte a tensão alternada em tensão contínua. Ocorre, po-


rém, que a tensão contínua, nessa etapa, tem um comportamento pulsan-
te, conforme você pode observar na figura 4.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
22

tensão pulsante
v

t
Figura 4 -  Representação gráfica da tensão contínua pulsante
Fonte: SENAI-SP (2013)

Embora a tensão seja contínua, ela precisa ser melhorada, pois a saída de
uma fonte de qualidade deve fornecer uma tensão estável, sem oscilações,
o que, graficamente, seria representado por uma reta.
3) Filtro: reduz de forma significativa as oscilações causadas pelo comporta-
mento pulsante. O resultado é uma tensão contínua de qualidade satisfató-
ria para a saída de uma fonte, conforme indicado na figura 5.

oscilações

t
Figura 5 -  Representação gráfica da tensão contínua com oscilações
Fonte: SENAI-SP (2013)

4) Regulador: estabiliza a tensão de saída da fonte, evitando que as variações


de tensão da rede elétrica reflitam na saída da fonte. Além disso, e embora
a tensão contínua mostrada na figura anterior seja considerada de boa qua-
lidade para a maioria dos equipamentos eletrônicos, o estágio regulador
remove as oscilações, garantindo uma tensão de saída de ótima qualidade.
Nesse caso, a representação gráfica da tensão é uma reta, conforme você
pode observar na figura 6. Note que não há qualquer oscilação.
2 FONTE DE TENSÃO LINEAR
23

tensão sem oscilação

t
Figura 6 -  Representação gráfica da tensão contínua estabilizada
Fonte: SENAI-SP (2013)

A resolução número 505 da Aneel (Agência Nacional de


Energia Elétrica), de novembro de 2001, determina que,
na rede elétrica de 220 V que recebemos na nossa casa,
VOCÊ as concessionárias de energia devem garantir uma ten-
são mínima de 201 V e máxima de 229 V. Isso significa
SABIA? que, nessa faixa de tolerância, a tensão sofre variações
ao longo do dia em razão de diversos fatores, como a
quantidade de consumidores utilizando energia no ho-
rário de pico.

Para que o regulador funcione adequadamente, a tensão do estágio anterior,


sem oscilações, deve ser obrigatoriamente superior à tensão de saída. O valor exa-
to depende do tipo e do modelo de regulador utilizado, mas geralmente precisa
ser 10% superior à tensão esperada na saída.
Agora que você conhece o princípio de funcionamento de uma fonte linear,
vamos associar os blocos vistos no diagrama apresentado anteriormente aos
componentes eletrônicos.
Veja, na figura a seguir, o exemplo de um circuito de fonte linear. Os pontilha-
dos representam os blocos de cada etapa da fonte, mas agora com seus respecti-
vos componentes eletrônicos.

1- transformador 2 - retificador 3 - filtro 4 - regulador


U1
F1 T1 LM7805
D2 D1
C2 + C1 C3
saída
entrada D3 D4 5 VDC
220 VAC

Figura 7 -  Esquema elétrico de uma fonte de tensão linear


Fonte: SENAI-SP (2013)
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
24

Você notou que, nesse esquema, existem dois componentes que não fazem
parte dos blocos? Se sim, diga quais são. Se não, acompanhe a explicação a seguir.
O primeiro componente, identificado como F1, é um fusível de proteção. Se
houver qualquer problema com a fonte, o fusível irá se romper, interrompendo,
assim, o funcionamento do circuito. Ao substituir um fusível interrompido, po-
pularmente conhecido como fusível queimado, você deverá utilizar um fusível
com a mesma especificação do original. Trocar por um de menor corrente fará
com que ele se rompa indevidamente, antes mesmo de a fonte atingir seu limite
de corrente. Substituir por outro de maior corrente pode ser perigoso, pois ele
poderá não proteger a fonte em caso de sobrecarga. Se, imediatamente após a
substituição, um fusível se romper novamente, é sinal de que existe alguma falha
ou algum defeito na fonte que precisará ser reparado antes da troca do fusível.
O segundo componente fora dos blocos, identificado como C3, é um capacitor
que serve para eliminar ruídos elétricos. A fonte é capaz de funcionar sem ele, po-
rém, como a maioria dos fabricantes de reguladores de tensão indica o uso desse
capacitor, você encontrará um na maioria das fontes.
Agora, vamos estudar os componentes eletrônicos que constituem os blocos
de um diagrama.

2.2.1 TRANSFORMADOR

Ao estudar Instalação de Sistemas Eletrônicos Industriais, você viu que existem


vários tipos de transformadores. As fontes de tensão lineares utilizam os rebaixa-
dores de tensão, ou seja, o transformador é usado para diminuir a tensão elétrica
da tomada.
As principais características de um transformador são: tensão eficaz de entra-
da, tensão eficaz de saída e corrente eficaz máxima de saída. Essas informações,
quase sempre, são indicadas em uma etiqueta que acompanha o transformador.
As tensões de entrada e de saída dependem, em grande parte, da configura-
ção das bobinas do primário e do secundário do transformador. Vejamos, agora,
as principais bobinas.

Primário do transformador

Os principais modelos de transformadores possuem os enrolamentos primá-


rios nas seguintes configurações: simples, com derivação central e com bobina
dupla. Entendamos.
2 FONTE DE TENSÃO LINEAR
25

• Primário simples: é composto de uma única bobina, com dois fios: um para
cada extremidade. Nessa configuração, o transformador só pode funcionar
com uma tensão de entrada, ou seja, existem modelos específicos para cada
tensão de entrada.
A próxima figura ilustra exemplos da configuração de um primário de bobina
simples no primário.

110 VAC 220 VAC

cada modelo permite apenas uma tensão de entrada


Figura 8 -  Primário de bobina simples
Fonte: SENAI-SP (2013)

Se, ligar um transformador com primário de 220 V em


FIQUE uma tomada de 110 VAC provoca um mau funciona-
mento do transformador, por outro lado ligar um trans-
ALERTA formador com primário de 110 VAC em uma tomada de
220 VAC causa danos ao equipamento.

• Primário com derivação central: também conhecido como center tape, em


inglês, é composto de uma bobina com três fios: dois para as extremidades
da bobina e um interligado no centro.
A figura 9 ilustra um primário com derivação central. Quando ligado entre o
centro e qualquer uma das extremidades da bobina, funciona em 110 VAC. Quan-
do ligado nas extremidades, funciona em 220 VAC. Os fios possuem cores dife-
rentes, para que possamos identificá-los. Assim, os fios da extremidade terão a
mesma cor; e o fio central, uma cor diferente.

110 VAC

220 VAC
derivação
central

Figura 9 -  Primário com derivação central


Fonte: SENAI-SP (2013)
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
26

Esse tipo de configuração permite que o mesmo transformador seja utilizado


tanto em tomadas de 110 VAC quanto de 220 VAC. Para isso, porém, é necessária
uma chave para configurar as bobinas de acordo com a tomada em que serão li-
gadas. Essa chave é aquela que vemos no painel traseiro de muitos equipamentos
eletrônicos para trocá-lo para 110 VAC ou 220 VAC.
• Primário com bobina dupla: possui duas bobinas independentes com quatro
fios: dois fios para cada bobina. De acordo com a ligação das bobinas, o mesmo
transformador pode ser utilizado em tomadas de 110 VAC e de 220 VAC.

junção das bobinas

110 VAC

220 VAC
110 VAC

Figura 10 -  Primário com duas bobinas independentes (bobina dupla)


Fonte: SENAI-SP (2013)

A seleção da tensão também é feita por meio de uma chave, que configura as
bobinas de acordo com a tensão da tomada. Note, na figura 10, que para tomada
de 110 VAC as duas bobinas são alimentadas em paralelo. Já para a configuração
de 220 VAC, as bobinas são configuradas em série.

Secundário do transformador

O secundário do transformador possui características semelhantes ao enro-


lamento do primário. As principais configurações são: secundário simples e com
derivação central. Vejamos, agora, cada uma delas.
• Secundário simples: possui apenas uma bobina, com dois fios: um para
cada extremidade. Assim, esse tipo de transformador possui apenas uma
tensão de saída.
2 FONTE DE TENSÃO LINEAR
27

9 VAC

Figura 11 -  Secundário simples


Fonte: SENAI-SP (2013)

• Secundário com derivação central: também conhecido como center tape,


em inglês, possui uma bobina com três fios: um para cada extremidade e
outro no centro da bobina. Nessa configuração, temos duas tensões de saí-
da, sendo que uma será sempre a metade da outra. Assim, em um transfor-
mador com 18 V nas extremidades, temos 9 V em cada parte da bobina. Por
essa razão, um transformador como esse é conhecido como 9 + 9. Da mesma
forma, existem transformadores 6 + 6, 12 + 12 etc. A figura 12 ilustra um
transformador 9 + 9.

Figura 12 -  Secundário com derivação central


Fonte: SENAI-SP (2013)

Cada fonte pode utilizar um modelo diferente de secundário, principalmen-


te em razão do tipo de retificador utilizado. Assim, se for necessário substituir o
transformador, você deve utilizar outro com as mesmas configurações do trans-
formador original.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
28

Agora que você conhece as principais características do primário e do secun-


dário de um transformador, vale citar que, na prática, podemos encontrar trans-
formadores com configurações diferentes, que misturam os conceitos que acaba-
mos de estudar.
Veja, na figura 13, alguns exemplos. Note, ainda, que o primário é sempre re-
presentado à esquerda; e o secundário, à direita.

110 VAC 12+12 110/220 VAC 15+15 110/220 VAC 6V

primário simples e secundário primário e secundário com primário com bobina dupla e
com derivação derivação central secundário simples

Figura 13 -  Exemplos de transformadores que encontramos na prática


Fonte: SENAI-SP (2013)

Por fim, saiba que a configuração do primário está relacionada à tensão da to-
mada em que o transformador será ligado. Já a escolha do secundário tem relação
com o tipo de retificador que será utilizado, como veremos a seguir.

2.2.2 RETIFICADOR

Como mencionamos, o retificador é o bloco responsável por transformar a cor-


rente alternada em corrente contínua. Essa função é realizada por diodos retifica-
dores, que podem ter três configurações diferentes: meia onda, onda completa e
em ponte. Conheçamos cada uma delas.

Retificador de meia onda

Formado apenas por um diodo, é a configuração menos eficiente de retifica-


dor. Como vimos, o resultado de um retificador é uma tensão contínua pulsante.
Para esse tipo de retificador, a distância entre um pulso e outro é maior. Isso ocor-
re porque a parte negativa da entrada é bloqueada pelo diodo, restando apenas a
parte positiva. Isso equivale à metade do ciclo da senoide, daí o nome “retificador
de meia onda”.
A figura 14 ilustra um retificador de meia onda e o gráfico da tensão pulsante
produzida por ele. Observe a lacuna entre um pulso e outro. Ela equivale à meta-
de da senoide que foi bloqueada.
2 FONTE DE TENSÃO LINEAR
29

tensão contínua
v pulsante
lacuna

T1 D1
+

-
t
retificador de meia onda gráfico de tensão resultante

Figura 14 -  Retificador de meia onda


Fonte: SENAI-SP (2013)

Retificador de onda completa center tape

composto de dois diodos, é mais eficiente que o retificador de meia onda, já que
não possui lacuna entre um ciclo e outro. Isso ocorre porque, enquanto um diodo
conduz, o outro bloqueia. Assim, os dois diodos intercalam a operação, fazendo
com que haja um pulso de saída em todos os ciclos da senoide. Daí o nome “retifi-
cador de onda completa center tape”. É importante citar que esse tipo de retificador
só funciona ligado a um transformador com derivação central no secundário.
A figura 15 ilustra um retificador de onda completa e o gráfico da tensão resul-
tante. Observe que não há lacuna entre um pulso e outro.

tensão contínua
pulsante
D1
+
T1
v

-
D2

t
retificador de onda completa gráfico de tensão resultante

Figura 15 -  Retificador de onda completa center tape


Fonte: SENAI-SP (2013)

Retificador em ponte

Formado por quatro diodos, produz a mesma forma de onda pulsante que o
retificador de onda completa center tape, porém não requer um transformador
com derivação central no secundário. Além disso, os quatro diodos podem ser
substituídos por um único componente: a ponte retificadora, que na verdade
contém quatro diodos em um único encapsulamento, como vimos em Instalação
de Sistemas Eletrônicos.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
30

Veja, na figura 16, um retificador em ponte e a forma de onda resultante.

tensão contínua
pulsante

T1
D2 D1 v
+
D3 D4

- t
retificador em ponte gráfico de tensão resultante

Figura 16 -  Retificador em ponte


Fonte: SENAI-SP (2013)

Como a tensão pulsante proveniente do retificador ainda não é adequada para


a saída da fonte, ela precisa passar pelo filtro, como veremos a seguir.

2.2.3 FILTRO

A função do filtro é reduzir consideravelmente as oscilações da tensão pulsante


entregue pelo retificador. Essa função é realizada por meio de um capacitor, uti-
lizando o princípio básico de armazenar cargas elétricas. Desse modo, quando a
tensão pulsante atinge o valor máximo, o capacitor se carrega com essa tensão. À
medida que a tensão pulsante diminui, a carga remanescente no capacitor alimen-
ta o circuito, suprindo, assim, o momento em que a tensão pulsante tende a zero.
Observe, na figura 17, o momento que o capacitor se carrega e o momento em
que ele vai se descarregando lentamente.

2
v o capacitor supre o momento que a tensão
1 pulsante tende a zero. A inclinação indica o
o capacitor se capacitor se descarregando lentamente
carrega com o
valor máximo da
tensão pulsante

t
3
o processo se repete a cada
ciclo, indefinidamente

Figura 17 -  Representação gráfica da atuação de um filtro capacitivo


Fonte: SENAI-SP (2013)
2 FONTE DE TENSÃO LINEAR
31

A forma de onda resultante possui uma pequena oscilação, que pode ser me-
dida entre o valor mínimo e o máximo de tensão. Essa tensão representa a osci-
lação, conhecida como ripple, do inglês. Quanto maior a capacitância do filtro,
maior sua capacidade de armazenar cargas elétricas. Assim, o capacitor consegue
permanecer carregado por mais tempo, reduzindo a inclinação do gráfico de des-
carga. Resumindo, quanto maior a capacitância do filtro, menor será a oscilação.
Observe os gráficos da figura 18 e compare as oscilações com filtros de capa-
citâncias diferentes.

v v
maior oscilação menor oscilação

t t

filtro com menor capacitância filtro com maior capacitância

Figura 18 -  Oscilação com filtros de diferentes capacitâncias


Fonte: SENAI-SP (2013)

Portanto, teoricamente, quanto maior a capacitância, melhor. Mas por que não
colocar em todas as fontes filtros com a maior capacitância possível? Existem vá-
rias razões para isso, como:
• custo do capacitor: quanto maior a capacitância, mais caro ele custa;
• tamanho do capacitor: a capacitância aumenta significativamente o tama-
nho do componente;
• preservação do retificador: capacitâncias altas exigem diodos retificadores
mais robustos, já que a primeira carga do capacitor pede uma corrente mais
alta, conhecida como corrente de surto. Assim, os diodos retificadores pre-
cisam estar preparados para isso. Consequentemente, além de aumentar o
custo, o circuito fica mais vulnerável a danos no retificador.
Por essas razões, os capacitores são calculados de acordo com a necessidade
de cada fonte. Caso seja necessário substituir um capacitor, você deve utilizar ou-
tro com a mesma capacitância do original. Fique atento também à tensão máxima
do capacitor, pois, como você já sabe, utilizar um capacitor com tensão menor
pode causar a explosão do componente.
Por fim, você precisa saber que algumas fontes possuem mais de um capacitor.
Além de reduzir a oscilação, um conjunto de capacitores pode auxiliar na remo-
ção de ruídos elétricos provenientes da tomada.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
32

2.2.4 REGULADOR DE TENSÃO

A principal função de um regulador de tensão é evitar que as variações de


tensão da rede elétrica afetem a saída da fonte. Assim, uma fonte de 5 VDC terá
sempre esse valor, mesmo que a tensão da rede elétrica oscile para mais ou para
menos. Além disso, o regulador melhora ainda mais a qualidade da tensão prove-
niente do filtro.
Antigamente, a função de regulador era realizada por meio de diodo zener,
às vezes com auxílio de um transistor. Atualmente, é difícil encontrar reguladores
nessa configuração, já que os circuitos integrados reguladores de tensão cum-
prem esse papel com muito mais eficiência e por um custo baixo.
Como a quantidade de modelos de reguladores de tensão é bastante grande,
podemos dividi-los em dois grandes grupos: fixos e ajustáveis. Vejamos.
Os reguladores de tensão fixos podem fornecer uma só tensão de saída. Existem,
no mercado, modelos para as mais variadas tensões de saída. Uma das linhas mais
conhecidas é a série LM78XX, que fornece 1 A (há alguns modelos com capacidade
maior). No lugar das letras XX aparece a tensão de saída. Seguem alguns exemplos:
• LM7805: regulador fixo de 5 V;
• LM7812: regulador fixo de 12 V;
• LM7815: regulador fixo de 15 V; e assim por diante.
Os reguladores de tensão ajustáveis trabalham com uma escala de valores
mínimo e máximo. Nessa escala, podem assumir qualquer tensão de saída, de
acordo com uma associação de resistores entre seus terminais. O cálculo dessa
associação varia conforme o modelo e pode ser consultado no datasheet. O regu-
lador de tensão ajustável mais conhecido é o LM317, que pode fornecer tensões
entre 1,2 V e 37 V, com corrente máxima de 1,5 A.
Como esse tipo de circuito integrado costuma aquecer bastante, muitos exi-
gem o uso de dissipadores de calor.

Para conhecer as características técnicas e a diferença entre os


diversos reguladores de tensão, pesquise na internet o data-
sheet dos modelos LM7805 e LM317. Veja quais são os limites
de tensão informados pelos fabricantes nos seguintes sites:
<http://www.fairchildsemi.com/>
SAIBA <http://www.ti.com/>
MAIS
<http://www.cotra.com.tw/>
Como esses componentes não são fabricados no Brasil, os
textos estão no idioma inglês. Porém, mesmo não dominan-
do o idioma, é possível compreender as informações, pois o
site utiliza termos técnicos.
2 FONTE DE TENSÃO LINEAR
33

2.3 POSSÍVEIS FALHAS

Ao analisar o funcionamento dos circuitos eletrônicos em separado, assim


como fizemos com a fonte de alimentação linear, você pode ver que a maioria
dos problemas está relacionada a falhas, e não a defeitos. Por isso, vamos nos
ater à apresentação das principais falhas que, normalmente, encontramos em um
circuito eletrônico.
Vale lembrar que a listagem de falhas serve para dar algumas dicas de manu-
tenção, mas tenha em mente que o mais importante é conhecer o funcionamento
de cada bloco do circuito. Assim, você pode fazer medições em cada um dos blo-
cos e avaliar se o comportamento do circuito está correto.
É importante saber, ainda, que uma das principais causas de falhas em equi-
pamentos eletrônicos está na fonte de alimentação. Por isso, quando um equi-
pamento não liga, a primeira coisa é assegurar-se de que há energia elétrica, e a
segunda é verificar o funcionamento da fonte.

Quadro 1 – Possíveis falhas em componentes e sua influência


no circuito eletrônico

POSSÍVEL FALHA INFLUÊNCIA DA FALHA NO CIRCUITO


COMPONENTE
DO COMPONENTE ELETRÔNICO

O regulador não exerce função no circuito, fazendo


Curto-circuito com que a tensão de saída da fonte seja nula ou
maior do que a esperada.
Regulador de
tensão
O regulador interrompe a passagem de corrente
Aberto
elétrica. Não há tensão na saída da fonte.

A corrente é toda desviada pelo capacitor, fazendo


com que não haja tensão na saída da fonte. Essa
Curto-circuito
falha pode, ainda, ocasionar danos ao retificador
devido à corrente mais elevada circulando por ele.

Capacitor

“Fuga” é um nome popularmente utilizado para se


referir a fugas de corrente. Quando um capacitor
Fuga
apresenta essa falha, o valor de sua capacitância
diminui, fazendo com que o ripple aumente.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
34

Para um retificador de meia onda, que é formado


apenas por um diodo, não há caminho para a cor-
rente e, por isso, a tensão de saída da fonte é nula.
Aberto
Para os retificadores de onda completa e em ponte,
a retificação se torna ineficiente e a tensão de saída
é inferior à esperada.
Diodo retificador

No primeiro momento, a tensão de saída da fonte


é instável, com muitas oscilações. Depois, outros
Curto-circuito diodos e o transformador podem ser danificados
devido ao excesso de corrente elétrica ocasionado
pelo diodo em curto-circuito.

Tanto para o primário quanto para o secundário, a


Aberto
tensão de saída da fonte é nula.

No primário: causa curto-circuito na rede elétri-


ca. O sistema de proteção da fonte (fusível) deve
Transformador
romper-se imediatamente. No secundário: embora
Curto-circuito não cause curto-circuito na rede elétrica, há excesso
de corrente no primário, levando à ruptura do
fusível da fonte.
Em ambos os casos, a tensão de saída da fonte é nula.

CASOS E RELATOS

A fonte é a alma do equipamento


Em seu primeiro emprego, um jovem técnico em eletrônica era o respon-
sável pela manutenção de vários tipos de equipamentos eletrônicos, desde
pequenos receptores de FM até sofisticados televisores 3D.
Ele ficou muito assustado quando recebeu seu primeiro equipamento: tra-
tava-se de um sistema de som de última geração, que tinha até conectores
para fibra ótica. Aquilo tudo parecia sofisticado demais para sua pouca ex-
periência e, por isso, decidiu chamar seu supervisor. Queria trocar o serviço
com outro técnico. O supervisor questionou sobre o problema que o equi-
pamento apresentava e, ao saber que estava completamente inoperante,
insistiu para o rapaz fazer o serviço.
 Você consegue! – disse.
Após não muito tempo, o técnico explicou ao supervisor que o problema
estava na fonte de alimentação. Foi só substituir o regulador de tensão que
tudo voltou ao normal.
2 FONTE DE TENSÃO LINEAR
35

Nesse momento, o supervisor disse ao jovem:


– Independentemente do tipo de equipamento, todos têm uma coisa em
comum: uma fonte de alimentação. Ela é a alma do equipamento. Não im-
porta quão moderno seja ele, sempre haverá uma fonte.
Assim, o técnico aprendeu a lição: não é preciso se assustar com a com-
plexidade de um equipamento. Muitas vezes, a falha ou o defeito está no
circuito mais simples, que é a fonte. E disso ele entendia muito bem.

RECAPITULANDO

Neste capítulo, nós vimos que a fonte de tensão linear serve para fornecer
energia elétrica para os equipamentos eletrônicos. O funcionamento desse
tipo de fonte é dividido em quatro blocos: transformador, retificador, filtro
e regulador.
O transformador reduz a tensão alternada da tomada para níveis de tensão
menores, mais próximos aos valores da saída da fonte.
O retificador, cuja função é exercida por diodos, transforma a tensão alter-
nada em tensão contínua pulsante.
O filtro, que tem a função exercida por capacitores, reduz significativamen-
te as oscilações da tensão pulsante e a deixa com qualidade satisfatória
para alimentar muitos equipamentos eletrônicos.
O regulador de tensão garante que a tensão de saída da fonte seja fixa,
mesmo que haja variações de tensão na rede elétrica. Na maioria dos casos,
essa função é exercida por circuitos integrados específicos para esse fim.
Por fim, vimos que a principal causa de falhas/defeitos em equipamentos
eletrônicos está na fonte de alimentação e, por isso, ela deve ser sempre
verificada quando o equipamento não ligar.
Transistor como chave

Como você já viu em Instalação de Sistemas Eletrônicos, o transistor pode ser utilizado
como amplificador para controlar correntes elevadas a partir de baixos valores de tensão e de
corrente.
Neste capítulo, aprenderemos como utilizar o transistor em sua função mais comum, a de
chave eletrônica. Conheceremos também um circuito de interface que utiliza o transistor como
chave, o resistor de polarização do transistor, o diodo de proteção contra correntes reversas e
o relé. E, por fim, estudaremos o que fazer ao detectar uma possível falha com um desses com-
ponentes.
Assim, ao final deste capítulo, você terá subsídios para:
a) analisar o funcionamento de um transistor como chave;
b) conhecer os componentes de um circuito eletrônico com transistor bipolar atuando
como chave eletrônica;
c) entender a finalidade, o funcionamento e as possíveis falhas que um circuito de interface
que usa um transistor como chave pode apresentar.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
38

1 CIRCUITO DE INTERFACE 3.1 FINALIDADE


Circuito capaz de fazer Muitas vezes, os sinais provenientes de um sistema eletrônico precisam ser
a interligação entre dois
sistemas com tensão e manipulados para acionar uma determinada carga, por exemplo, quando usamos
correntes diferentes.
a tensão de saída de um microcontrolador, que é de 5 VCC, para ligar uma lâmpa-
da de 127 VCA.
Nesse caso, temos duas tensões diferentes: uma de 5 V contínua, que é a tensão
de funcionamento do microcontrolador, e uma de 127 V alternada, que é a tensão
de funcionamento da carga. Para interligar essas duas tensões, precisamos utilizar
um circuito de interface composto por um relé e um transistor trabalhando como
chave eletrônica.
Nesse caso, temos um relé para ligar e desligar a carga, como se fosse um inter-
ruptor que você usa em casa para acender e apagar uma lâmpada. Veja que nessa
situação você não precisa tocá-lo, pois o acionamento é feito pelo transistor. E por
que usar um transistor? Porque a corrente elétrica para acionar o relé, geralmen-
te, é maior que a fornecida pelo circuito de controle. Ou seja, o transistor serve
para amplificar essa corrente, garantindo o correto funcionamento do relé. Desse
modo, o transistor liga e desliga o relé como se fosse uma chave.
A figura a seguir apresenta um exemplo de diagrama de um circuito de inter-
face com um transistor bipolar atuando como chave.

+5 VCC
lâmpada
K1
D1
127 VAC
microcontrolador

R1
Q1

Figura 19 -  Diagrama de um circuito de interface com transistor bipolar


Fonte: SENAI-SP (2013)
3 TRANSISTOR COMO CHAVE
39

Nesse diagrama, veja que o microcontrolador, que trabalha com uma tensão
de 5 VCC, deve ligar e desligar a lâmpada, que funciona com uma tensão alter-
nada de 127 VAC. Para que isso ocorra, é necessário o emprego de um relé e de
um transistor, permitindo, assim, ao microcontrolador ligar e desligar a lâmpada.
O transistor Q1, o resistor R1, o relé K1 e o diodo D1 são os componentes que
constituem o nosso circuito de interface.

3.2 FUNCIONAMENTO

Em Instalação de Sistemas Eletrônicos, você conheceu o transistor bipolar e viu que


ele é formado por cristais P e N intercalados, formando uma estrutura PNP ou NPN.
No caso de um transistor NPN, ao aplicarmos um potencial positivo na base
do transistor (cristal P) e potencial negativo no emissor (cristal N), vamos polarizar
diretamente a junção base-emissor, criando, assim, um fluxo de corrente elétrica
que atravessa o transistor. Nesse momento, com uma corrente de base adequada,
o transistor entra no modo de saturação e se comporta como uma chave fechada.
Se a base do transistor for desligada (0 V), não há polarização da junção ba-
se-emissor e o transistor eleva a barreira de potencial entre o coletor e a base,
fazendo com que o transistor permaneça no estado de não condução, ou seja,
desligado. Dizemos, nesse caso, que o transistor está no modo de corte.

Para aprofundar seus estudos sobre o funcionamento do


transistor como chave, consulte livros técnicos que tratam
SAIBA desse assunto. Uma sugestão é o livro Teoria e Desenvolvi-
mento de Projetos de Circuitos Eletrônicos, de Antonio Mar-
MAIS co V. Cipelli, Otávio Markus e Waldir Sandrini, editora Érica.
Nessa obra você encontrará o funcionamento detalhado do
transistor, incluindo aplicações práticas.

Veja, na figura 20, uma representação de como o transistor se comporta quan-


do saturado.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
40

2 SATURAÇÃO +5 VCC
Situação de um transistor lâmpada
que conduz plenamente
a corrente da carga. Essa
condição é equivalente a K1
uma chave ligada. D1
127 VAC
5V
microcontrolador
R1
3 CORTE

Situação de um transistor Q1 coletor-emissor do transistor


que não conduz corrente corrente se comportando como
elétrica. Essa condição é de base uma chave fechada
equivalente a uma chave
desligada.

Figura 20 -  Representação do transistor (Q1) saturado


Fonte: SENAI-SP (2013)

Se a tensão de saída do microcontrolador for de 5 V, ocorre uma corrente de


polarização que circula pela base do transistor, polarizando a junção base-emissor
diretamente e fazendo com que o transistor entre em saturação. Com o transistor
saturado, o relé é ligado ao potencial negativo por meio do coletor-emissor, acio-
nando o relé. Este, por sua vez, fecha os contatos e faz com que a lâmpada acenda.
Veja, agora, na figura a seguir, o comportamento do transistor no estado de corte.

+5 VCC
lâmpada

K1
D1
127 VAC
0V
microcontrolador

R1

IB = 0 mA Q1 coletor-emissor do transistor
se comportando como
uma chave aberta

Figura 21 -  Representação do transistor (Q1) no corte


Fonte: SENAI-SP (2013)

Observe que, se a tensão de saída do microcontrolador for de 0 V, não existe


corrente polarizando a base do transistor e este fica no corte. Com o transistor no
corte, o relé não é energizado e, consequentemente, a lâmpada não acende.
3 TRANSISTOR COMO CHAVE
41

VOCÊ Microcontroladores são componentes digitais que tra-


balham com dois níveis de tensão muito bem definidos,
SABIA? por exemplo, 0 V e 5 V.

Nos próximos tópicos, vamos estudar os componentes eletrônicos responsá-


veis pelo funcionamento de um transistor como chave.

3.2.1 RESISTOR (R1)

Quando você estudou os fundamentos de eletricidade, conheceu as caracte-


rísticas dos resistores e, em Instalação de Sistemas Eletrônicos, entendeu os resis-
tores fixos. Além disso, conheceu as características desses componentes e como
identificá-los em um circuito.
Vejamos agora, na figura 22, a função do resistor (R1) no circuito da interface.

+5 VCC
lâmpada
K1
D1
127 VAC
microcontrolador

R1
Q1

Figura 22 -  Representação do resistor (R1)


Fonte: SENAI-SP (2013)

Esse resistor limita a corrente de base do transistor (Q1), polarizando-a de for-


ma que a corrente de base fique dentro dos limites estabelecidos pelo fabricante
do transistor. Para saber quais são os limites que o componente suporta, consulte
sempre o datasheet do componente, fornecido pelo fabricante.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
42

VCC 3.2.2 TRANSISTOR (Q1)


(Voltage Commom O transistor (Q1) do circuito de interface tem as funções de amplificar a corren-
Collector, em inglês, ou
fonte de tensão positiva, te fornecida pelo microcontrolador e ativar o relé.
em português): identifica
as fontes de alimentação Quando existe corrente suficiente circulando na junção base-emissor, a tensão
em circuitos eletrônicos
que possuam transistores VCE do transistor fica próxima de zero, fazendo com que a bobina do relé receba
bipolares. toda a tensão da fonte VCC e ligue o relé.
Veja, na figura a seguir, o que ocorre ao transistor quando a saída do microcontro-
lador é ativada, criando uma corrente de base ao transistor, o que o leva à saturação.
4 VCE

(Volt Coletor Emissor, em +5 VCC


inglês): indica a queda de
tensão entre o emissor e o lâmpada
coletor de um transistor.

K1
D1
127 VAC
5V
microcontrolador

R1
VCE ~
= 0V
corrente de base Q1

Figura 23 -  Transistor (Q1) no estado de saturação


Fonte: SENAI-SP (2013)

Observe que, quando o microcontrolador leva a saída para 5 V, surge uma cor-
rente de base no transistor, levando-o a saturação. Nesse instante, a tensão VCE do
transistor é próxima de 0 V, o que faz o relé energizar-se e ligar, assim, a lâmpada.
Quando não houver corrente aplicada à base do transistor, a tensão VCC está
toda aplicada ao VCE do transistor e o relé não tem energia para ligar.
A figura 24 mostra o comportamento do transistor quando a tensão de saída
do microcontrolador não é ativada.
3 TRANSISTOR COMO CHAVE
43

+5 VCC
lâmpada

K1
D1
127 VAC
0V
microcontrolador

R1
VCE = VCC
corrente de base Q1
IB = 0 mA

Figura 24 -  Transistor (Q1) no estado de corte


Fonte: SENAI-SP (2013)

Verifique que, com a saída do microcontrolador em 0 V, não há corrente cir-


culando na base do transistor. Assim, o transistor permanece no estado de corte.
Nesse estado, a tensão VCE é igual à tensão aplicada ao circuito (+5 VCC) e o relé
não é ativado, o que faz com que a lâmpada fique apagada.

A corrente de coletor de um transistor sempre deve


ser maior do que a corrente drenada pela carga. Isso é
FIQUE necessário para que não haja a queima do transistor. O
ALERTA mesmo ocorre com a tensão entre coletor-emissor (VCE)
do transistor, a qual deve ser maior que a tensão aplica-
da ao circuito.

Para conhecer outras características dos transistores, con-


sulte o site <http://www.fairchildsemi.com/ds/BC/BC337.
SAIBA pdf>. Nesse endereço eletrônico, você encontra informações
importantes sobre os transistores, tais como VCE máximo, Ic
MAIS máximo, potência máxima e o tipo de encapsulamento dos
transistores. Além disso, pode conhecer outros tipos de tran-
sistores além dos expostos neste livro.

3.2.3 DIODO (D1)

O componente D1 é um diodo semicondutor. Você se lembra? Ele é formado


por dois cristais, um P e outro N, formando uma estrutura PN. O diodo conduz cor-
rente elétrica quando polarizado diretamente e não a conduz quando polarizado
reversamente.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
44

Na figura 25, temos um diodo polarizado diretamente, fazendo a lâmpada


acender (A), e um diodo polarizado reversamente, fazendo com que a lâmpada
permaneça apagada (B).

+ lâmpada + lâmpada
12 V 12 V

A B
Figura 25 -  Diodo polarizado diretamente (A) e diodo polarizado reversamente (B)
Fonte: SENAI-SP (2013)

O diodo (D1) protege o transistor contra picos de tensão que surgem quando
o relé é desligado. O diodo fornece um caminho para que as correntes induzidas
circulem, evitando que o pico de tensão seja aplicado ao transistor. Sem o diodo,
o transistor queimaria facilmente.
Observe, na figura 26, o caminho que a corrente elétrica induzida IR faz.

+5 VCC
lâmpada

K1
D1
IR 127 VAC
0V
microcontrolador

R1
VCE = VCC
corrente de base Q1
IB = 0 mA

Figura 26 -  Diodo (D1) conduzindo a corrente reversa IR


Fonte: SENAI-SP (2013)

Ao desligarmos o relé, surge no circuito uma corrente elétrica induzida pela bo-
bina e que possui o mesmo sentido da corrente elétrica fornecida pela fonte de ali-
mentação. Essa corrente induzida (IR) provoca a inversão do sentido da tensão sobre
o relé, a qual se soma à tensão da fonte, podendo provocar a queima do transistor.
É justamente o diodo (D1) que fornece um caminho para o escoamento dessa
corrente de retorno, evitando a queima do transistor.
3 TRANSISTOR COMO CHAVE
45

3.2.4 RELÉ (K1)

Você se lembra do relé que vimos em Instalação de Sistemas Eletrônicos? Nes-


te tópico, entenderemos a função que ele desempenha no circuito em que estiver
inserido.
O relé é formado por uma bobina que, quando energizada, cria um campo
magnético para movimentar os contatos. Ao desligarmos a bobina, esse campo
deixa de existir e os contatos retornam a sua posição original.
No circuito que estamos estudando, a função do relé é a de ligar a lâmpada,
quando o transistor for ativado pelo microcontrolador, e desligar a lâmpada,
quando o transistor estiver desativado.
A figura 27 ilustra o relé (K1). Veja.

+5 VCC
lâmpada
K1
D1
127 VAC
microcontrolador

R1

Q1

Figura 27 -  Em destaque, representação do relé (K1)


Fonte: SENAI-SP (2013)

Considerando que nos itens anteriores conhecemos os principais componen-


tes usados para acionar uma carga a partir de um sinal de controle, que são o re-
sistor (R1), o transistor (Q1), o diodo (D1) e o relé (K1), veremos agora quais falhas
esses componentes podem apresentar e como isso interfere no funcionamento
do circuito de interface.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
46

3.3 POSSÍVEIS FALHAS

No quadro a seguir, temos uma síntese de como cada componente interfere


no funcionamento da uma interface com um transistor operando como chave
eletrônica.
Acompanhe.

Quadro 2 - Possíveis falhas em componentes e influência no circuito

POSSÍVEL FALHA DO INFLUÊNCIA DA FALHA NO CIRCUITO


COMPONENTE
COMPONENTE ELETRÔNICO

Valor ôhmico acima do


A lâmpada não acende.
valor real
Resitor (R1)
Valor ôhmico abaixo do Pode danificar o transistor, prejudicando o fun-
valor real cionamento do circuito da interface.

Curto-circuito A lâmpada não apaga.


Transistor (Q1)
Aberto A lâmpada não acende.

Danifica o transistor, prejudicando o funciona-


Curto-circuito
mento do circuito da interface.
Diodo (D1)
Danifica o transistor, prejudicando o funciona-
Aberto
mento do circuito da interface.

Bobina interrompida A lâmpada não acende.

Contatos desgastados
Relé (K1) A lâmpada não acende.
ou oxidados

Contatos colados A lâmpada não apaga.

VOCÊ Podemos solucionar falhas em circuitos eletrônicos pro-


curando componentes chamuscados e/ou quebrados e
SABIA? conexões soltas ou desfeitas.

Antes de medir a continuidade de algum componente


FIQUE do circuito, desligue-o e desconecte-o da tomada, evi-
ALERTA tando, assim, choques elétricos ou danos no instrumen-
to de medição.
3 TRANSISTOR COMO CHAVE
47

CASOS E RELATOS

Manutenção corretiva de um alarme de automóvel


O professor de um curso técnico em eletroeletrônica entregou para os seus
alunos uma placa eletrônica de um alarme defeituoso, a qual continha
como elemento principal um transistor bipolar de uso geral. O professor
dividiu os alunos em quatro grupos com quatro alunos cada. Cada grupo
deveria identificar o componente defeituoso e apresentar a provável causa
da queima desse componente.
O docente, propositadamente, não forneceu um formulário com as
indicações da sequência e as observações das investigações, pois ele queria
observar se cada grupo elaboraria uma lista com as etapas para o teste de
investigação visual e o teste do componente com as colunas: “Componen-
te”, “Influência no circuito”, “Resultado” e “Ação”.
Os grupos identificaram com precisão o defeito colocado pelo professor,
apresentando em seus relatórios o defeito, a causa e a solução do proble-
ma, mas apenas um grupo criou e preencheu uma lista com os quatro itens
esperados pelo docente.
Desse acontecimento, aprendemos que a organização, a racionalização,
a iniciativa, o consenso e o cooperativismo são qualidades imprescindí-
veis para a realização de um trabalho em um grupo de pessoas que têm
como meta a realização impecável do objetivo proposto.

RECAPITULANDO

Neste capítulo aprendemos que o transistor pode funcionar como chave,


quais as possíveis falhas que ele apresenta e como isso influencia no funcio-
namento do circuito no qual ele está inserido.
Conhecemos também um circuito de interface em que o transistor tem a
função de operar como uma chave. Ficamos sabendo que os componen-
tes eletrônicos podem apresentar falhas e como essas falhas afetam o bom
funcionamento dessa interface de potência.
Interface de potência AC

No capítulo anterior, nós conhecemos um circuito de interface que utilizava um transistor


operando como chave eletrônica e estudamos os componentes desse circuito. Entendemos
ainda quais falhas cada componente pode apresentar e como isso influencia no funcionamen-
to do circuito.
Agora, veremos um circuito de interface de potência AC que utiliza o TRIAC e o optoaco-
plador. Caso você não se lembre desses componentes, faça uma revisão do capítulo 6 do livro
“Instalação de Sistemas Eletrônicos”.
Assim, ao final deste capítulo, você terá subsídios para:
a) analisar o funcionamento de um circuito de interface de potência AC;
b) testar e usar o TRIAC;
c) trabalhar com optoacoplador e multímetro analógico;
d) diagnosticar e identificar as falhas e os defeitos apresentados pela interface de potência.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
50

4.1 FINALIDADE

O circuito de interface faz a interligação entre o circuito de controle (um micro-


controlador ou um circuito digital) e a carga, isolando-os para evitar que o circuito de
controle seja danificado, caso haja curto-circuito ou sobrecarga de energia na carga.
Você encontrará esse circuito, por exemplo, em domótica, no controle da ilu-
minação e nas saídas dos controladores programáveis, um equipamento muito
utilizado na área de automação industrial em que um microcontrolador, por meio
de um programa, controla o funcionamento de um relé.

4.2 FUNCIONAMENTO

Para que você entenda o funcionamento do circuito de interface de potência


AC, vamos iniciar pela apresentação de um diagrama.

+ Vcc
Interface de potência AC

R2
microcontrolador

R1 CI 1 6 L1
1

2 5 127 V/60Hz
T1
3 4

Figura 28 -  Diagrama de um circuito de interface de potência AC


Fonte: SENAI-SP (2013)

Observe que nesse diagrama:


a) R1 limita a corrente do optoacoplador;
b) R2 limita a corrente de disparo do TRIAC;
c) CI 1 é o optoacoplador;
d) T1 é o TRIAC;
e) L1 é a carga (lâmpada).
Quando o microcontrolador leva sua saída para nível lógico 1, ele ativa o LED
do optoacoplador (CI 1). Este, por sua vez, dispara o TRIAC (T1), ligando a carga
(L1). A saída do microcontrolador, ao ser levada a nível lógico 0, desativa o optoa-
coplador e desliga a lâmpada L1.
4 INTERFACE DE POTÊNCIA AC
51

O microcontrolador não faz parte do circuito de interfa-


FIQUE ce de potência AC. Ele apenas envia um sinal para ligar
ALERTA ou desligar a carga e pode ser substituído por outro cir-
cuito eletrônico ou mesmo por uma chave comum.

Nos próximos itens, conheceremos os componentes eletrônicos responsáveis


pelo funcionamento da interface de potência AC.

4.2.1 TRIAC

Você já estudou o TRIAC em Instalação de Sistemas Eletrônicos, mas vamos


retomar o estudo desse componente, que é parte essencial ao funcionamento da
interface de potência AC.
O TRIAC é uma chave eletrônica bidirecional que pode conduzir a corrente elé-
trica em ambos os sentidos, o positivo e o negativo. Possui três terminais: MT1,
MT2 e gatilho.
Veja, na figura a seguir, o símbolo utilizado nos circuitos eletrônicos e a aparên-
cia física de um TRIAC.

MT2

gatilho
MT1
MT1
MT2
gatilho
Figura 29 -  Representação do TRIAC no circuito eletrônico e aparência física desse componente
Fonte: SENAI-SP (2013)

Ao circular uma corrente elétrica pelo gatilho, o TRIAC entra em condução e


assim permanece até o término do semiciclo da senoide de entrada, desligando-
-se automaticamente. Para que ele volte a ligar, é necessário que o gatilho receba
um novo sinal de disparo por meio de um circuito eletrônico.
A figura 30 ilustra as formas de onda da rede elétrica, do sinal de disparo e da
tensão entregue à carga, quando o TRIAC entra em funcionamento.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
52

VCA
t

VE
t

VRL
t

1 2 3 4 5 6 7 8
Figura 30 -  Formas de onda do sinal em um circuito que utiliza o TRIAC
Fonte: SENAI-SP (2013)

Observe que nessa figura:


a) VCA é a senoide da tensão de entrada, que corresponde à tensão da rede
elétrica (127 VCA ou 220 VCA);
b) VE é o sinal de controle para o disparo do TRIAC;
c) VRL é a senoide da tensão que o TRIAC fornece à carga.
Veja como se faz a leitura desses gráficos.
Quando o dispositivo de controle envia um sinal de disparo (1), o TRIAC entra
em funcionamento e conduz a corrente durante o resto do semiciclo positivo da
tensão VCA, enviando tensão para a carga VRL. Quando o sinal VCA, da rede elétrica,
muda de polaridade (2), o TRIAC desliga-se automaticamente. No instante seguinte
(3), um novo sinal de disparo ativa novamente o TRIAC e este passa a conduzir a
corrente no semiciclo negativo da rede elétrica até o próximo instante (4), quando
a inversão de polaridade da rede elétrica desliga-se. A partir do último instante (8),
não há mais o pulso de disparo e o TRIAC não entra mais em funcionamento.
A vantagem de utilizarmos o TRIAC nesse tipo de interface é que ele não possui
contatos móveis, como acontece com o relé. Por isso, não há o desgaste dos con-
tatos e nem os faiscamentos provocados pelo fechamento e abertura do relé. Diz-
se que o TRIAC é bidirecional, pois ele conduz o semiciclo positivo e o semiciclo
negativo da rede elétrica.

As interfaces de potência AC encontram grande aplica-


VOCÊ ção nos ambientes de atmosfera explosiva, pois podem
SABIA? ligar e desligar uma carga sem provocar faiscamentos,
como acontece com os relés.
4 INTERFACE DE POTÊNCIA AC
53

Como testar um TRIAC

Para verificar se o TRIAC está em boas condições de uso, devemos medir a re-
sistência dos terminais com um multímetro analógico na escala de resistências.
Entre os terminais MT1 e MT2, devemos encontrar um valor infinito de resistência,
indicando que não há curto-circuito entre esses terminais. Mantendo a polarização
entre MT1 e MT2 e aplicando um pulso ao gatilho, vamos encontrar uma pequena
resistência ôhmica, que não pode ser próxima de 0 Ω, pois isso caracteriza curto-
circuito entre os terminais e deve se manter após a retirada do pulso de gatilho.
A figura abaixo ilustra esse procedimento:

30 20 30 20
10 10
50 50
5 5
100 100
200 10 0 150 2 200 10 0 150 2
1k 00 1 1k 00 1
2k 5 20 30 2k 5 20 30
50 200 0 50 200 0
4 6 4 6
10 40 10 40
Ω 8 Ω Ω Ω
2 2 8

Com o gatilho
0 200 25 25
100 0 200

Com o gatilho
0 500 5 0 100 500 5
50
0

DCV A 10 1000 AC V 50

0
5 10 DCV A 10 1000 10 AC V
0 0 5
0

0
AC 10V AC 10V AC 10V AC 10V
0 2 1 15 0 1 15
hFE 0 IC/IB hFE 0 2 IC/IB

acionado há uma
D D
ICEO BA ? LI(μA mA) BA
ICEO ? LI(μA mA)

desligado a
GO 0 GO 0
+15 OD +15 OD
LV +20 LV +20
+10 LV(V) +10 LV(V)
dB 0 +2 BATTERY dB BATTERY
0 0 +2
0
20KΩ / V DC 9KΩ / V AC 20KΩ / V DC 9KΩ / V AC
2
-

2
-

pequena resistência
FUSE & DIODE FUSE & DIODE
PROTECTION PROTECTION

resistência é infinita.
DCV 1000 OFF 1000
ACV DCV 1000 OFF 1000
ACV
250 250 250 250
50 50 50 50
10 10 10 10

-AVΩ 2.5 X100K -AVΩ 2.5 X100K


1.5μA 1.5μA
0.5 X1K 0.5 X1K
150μA 150μA
0.1 X100 0.1 X100
50μA 1.5mA DC 10A 50μA 1.5mA DC 10A
! 2.5m ! 2.5m
X10 ! X10 !
-COM 15mA
10A MAX -COM 15mA
10A MAX
25m X1 25m X1
150mA hFE hFE
0.25 150mA
0.25
10 1.5V 9V 10 1.5V 9V
DCA BATT
Ω DCA BATT
Ω

MT1 MT1

MT2 MT2
gatilho gatilho
(desligado) (após o uso)

Figura 31 - Procedimento de teste do TRIAC


Fonte: SENAI-SP (2013)

O teste do TRIAC requer bastante cuidado, pois, dependendo das caracterís-


ticas de corrente e da tensão do componente, os resultados podem nos levar a
conclusões errôneas. Na dúvida, faça a substituição do componente por outro
novo e observe se o circuito volta a funcionar corretamente.

4.2.2 OPTOACOPLADOR

O optoacoplador é um circuito integrado que faz a transferência de sinal en-


tre dois circuitos por meio da emissão de luz proveniente de um LED. O receptor
pode ser um fototransistor ou um foto-DIAC. Como não existe contato físico entre
o emissor e o receptor, o isolamento é total.
A identificação dos terminais do optoacoplador se dá por meio de um chanfro
ou de uma marca de referência que há no componente, como vimos no livro “Ins-
talação de Sistemas Eletrônicos”.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
54

Observe o aspecto físico de um optoacoplador.

Figura 32 -  Aparência física do optoacoplador MOC3020


Fonte: SENAI-SP (2013)

É importante saber ainda que, pelo fato de a tensão de isolamento desse com-
ponente estar acima de 5000 V, o optoacoplador é muito indicado em aplicações
que envolvam circuitos sensíveis a descargas elétricas, tais como aqueles que uti-
lizam microcontroladores.

Como testar um optoacoplador

O teste de um optoacoplador pode ser feito com um multímetro analógico na


escala de resistências X1.
Inicialmente, medimos o LED interno, que deve conduzir corrente elétrica
quando polarizado diretamente e não conduzir corrente elétrica quando polari-
zado inversamente. Se o LED não se comportar dessa forma, significa que ele e o
optoacoplador estão queimados.
O próximo passo, com o LED em bom estado, é testar o receptor (foto-DIAC).
Para isso, procedemos da seguinte maneira: com o auxílio de um resistor limitador
de corrente e uma fonte de tensão contínua, acionamos o LED (emissor) e, com o
multímetro, verificamos se o receptor (foto-DIAC) entra em funcionamento.
O resistor que limita a corrente do LED deve ser calculado usando a fórmula
da Lei de Ohm:

U
R=—
I
4 INTERFACE DE POTÊNCIA AC
55

Em que:
a) R é o resistor necessário para acionamento do LED;
b) U é a tensão aplicada pela fonte VCC;
c) I é a corrente do LED, que deve ser consultada no datasheet do componen-
te fornecido pelo fabricante.
Verifique, a seguir, como fazer o teste de um optoacoplador com uma fonte de
alimentação e um multímetro analógico

fonte de alimentação multímetro


30 20
10
50
5
100
DC POWER SUPPLY MPL-3305M VOLTAGE CH1 CURRENT
1k 00
200 100 150 2
1
2k 5 20 30
50 200 0
4 6
10 40
CV OVER Ω 8 Ω
2
LOAD 25
0 10 0 200
VOLTAGE CURRENT CC 3A/5V 0 50
500 5

0
DCV A 10 1000 10 AC V
0 5

0
MASTER AC 10V AC 10V
CH1 0 2 1 15
hFE 0 D IC/IB
MASTER BA
V A ICEO
LV
+15 +20
?
GO 0
OD
LI(μA mA)

+10 LV(V)
TRACKING dB BATTERY
INDEP SERIES PARALLEL 0
0 +2
20KΩ / V DC 9KΩ / V AC

2
-
VOLTAGE CURRENT FUSE & DIODE
PROTECTION
VOLTAGE CH2 CURRENT
CH2
SLAVE
CV
ON/OFF
V A CC
OUTPUT
SLAVE

DCV 1000 OFF 1000


ACV
250 250
GND CH1 GND CH2 CH3
50 50
10 10

ON/OFF -AVΩ 2.5 X100K


1.5μA
0 32V, 5A 0 32V, 5A 5VFIXED3A
0.5 X1K
150μA
0.1 X100
50μA 1.5mA DC 10A
! 2.5m X10 !
-COM 10A MAX

resistor a ser
15mA
25m X1
150mA hFE
0.25
10 1.5V 9V
DCA BATT
Ω

calculado

optoacoplador
Figura 33 - Teste de um optoacoplador
Fonte: SENAI-SP (2013)

Observe que o multímetro é ligado ao receptor (foto-DIAC) do optoacoplador,


enquanto a fonte de alimentação é ligada ao emissor (LED) por meio de um resis-
tor. Caso o optoacoplador esteja em bom estado, o multímetro deve mostrar uma
baixa resistência ôhmica quando o LED for ativado e uma alta resistência ôhmica
quando o LED for desativado.

FIQUE Você não verá o LED do optoacoplador emitir luz, por-


ALERTA que ele está dentro do componente.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
56

1 ERRO DE PARALAXE 4.2.3 RESISTORES R1 E R2


Erro de leitura que ocorre A figura 33 mostra, em destaque, os resistores R1 e R2 do diagrama que esta-
quando o ângulo de visão
não é perpendicular ao mos estudando. Eles são responsáveis por limitar a corrente do optoacoplador.
ponteiro que registra o
valor medido, devido
à distância entre esse
ponteiro e a escala impressa + Vcc interface de potência AC
do instrumento.

R2
microcontrolador

R1 1 CI 1
6 L1

2 5 127 V/60Hz
T1
3 4

corrente de
gatilho
Figura 34 -  Resistores R1 e R2 em destaque nesta representação
Fonte: SENAI-SP (2013)

O resistor R1 tem a função de limitar a corrente que circula pelo LED. Como o
valor da corrente do LED varia em função das características do optoacoplador, é
preciso consultar sempre o datasheet fornecido pelo fabricante para saber o valor
correto desse resistor. Isso deve ser feito também no caso de ele queimar e o valor
ficar ilegível. Sem o R1 ou com o uso de um resistor com valor inadequado, pode
ocorrer a queima do optoacoplador.
O resistor R2 limita a corrente máxima que pode circular pelo optoacoplador.
Um valor abaixo do especificado pelo fabricante provoca a queima do componente.

4.3 TESTE COM MULTÍMETRO ANALÓGICO

O multímetro analógico tem a mesma função do multímetro digital, ou seja,


medir tensões, correntes e resistências ôhmicas. A diferença do multímetro analó-
gico para o digital é que aquele tem um ponteiro e uma escala impressa, na qual
podemos ler o valor medido. Isso você já sabe, pois estudou no livro “Eletricidade”.
Mas você pode estar se perguntando: por que usar um multímetro analógico
se posso usar um multímetro digital? A resposta é simples. O multímetro digital
possui uma impedância de entrada muito alta, o que reduz a corrente necessária
para fazer o teste de alguns componentes eletrônicos, entre eles, o TRIAC. Já o
multímetro analógico fornece uma corrente elétrica maior que o digital. Dessa
forma, com o multímetro analógico podemos testar o TRIAC com mais facilidade e
4 INTERFACE DE POTÊNCIA AC
57

verificar se funciona corretamente. Os demais componentes do circuito também


podem ser testados com o multímetro analógico ou o digital, se preferir.
O uso do multímetro analógico exige alguns cuidados, como:
a) evitar quedas do instrumento, pois a mecânica do ponteiro é muito delicada;
b) fazer o ajuste de 0 Ω da escala de resistências cada vez que alterar a escala
de resistências, para assegurar uma medição correta;
c) fazer a leitura das escalas olhando o instrumento de frente, para evitar erro
de paralaxe.
Quando usamos as escalas de resistência, as pontas de prova fornecem polari-
dade oposta ao indicado por suas cores. A ponta preta, negativa, fornece tensão
positiva e a ponta vermelha, positiva, indica tensão negativa.
Nos testes de diodos e LED, por exemplo, podemos identificar os terminais
ânodo e catodo pela polarização das pontas de prova do instrumento.
Veja, na figura 34, o teste de um diodo retificador com o uso de um multímetro
analógico.

30 20 30 20
10 10
50 50
5 5
100 100
200 10 0 150 2 200 10 0 150 2
1k 00 1 1k 00 1
2k 5 20 30 2k 5 20 30
50 200 0 50 200 0
4 6 4 6
10 40 10 40
Ω 8 Ω Ω 8 Ω
2 2
0 200 25 0 200 25
0 100 500 5 0 100 500 5
50 50
0

DCV A 10 1000 10 AC V DCV A 10 1000 10 AC V


0 5 0 5
0

AC 10V AC 10V AC 10V AC 10V


0 2 1 15 0 2 1 15
hFE 0 D IC/IB hFE 0 D IC/IB
ICEO BA ? LI(μA mA) ICEO BA ? LI(μA mA)
GO 0 GO 0
+15 OD +15 OD
LV +20 LV +20
+10 LV(V) +10 LV(V)
dB 0 +2 BATTERY dB 0 +2 BATTERY
0 0
20KΩ / V DC 9KΩ / V AC 20KΩ / V DC 9KΩ / V AC
2

2
-

FUSE & DIODE FUSE & DIODE


PROTECTION PROTECTION

DCV 1000 OFF 1000


ACV DCV 1000 OFF 1000
ACV
250 250 250 250
50 50 50 50
10 10 10 10

-AVΩ 2.5 X100K -AVΩ 2.5 X100K


1.5μA 1.5μA
0.5 X1K 0.5 X1K
150μA 150μA
0.1 X100 0.1 X100
50μA 1.5mA DC 10A 50μA 1.5mA DC 10A
! 2.5m ! 2.5m
X10 ! X10 !
-COM 15mA
10A MAX -COM 15mA
10A MAX

25m X1 25m X1
150mA hFE 150mA hFE
0.25 0.25
10 1.5V 9V 10 1.5V 9V
DCA BATT
Ω DCA BATT
Ω

diodo diretamente diodo inversamente


polarizado polarizado
Figura 35 - Teste de diodo com multímetro analógico
Fonte: SENAI-SP (2013)
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
58

Observe que o multímetro da esquerda está medindo a resistência do diodo


quando polarizado diretamente. A ponta vermelha está ligada ao catodo (identi-
ficado pela faixa branca), e a ponta preta do instrumento está ligada ao ânodo. Já
o multímetro da direita indica que o diodo não conduz corrente, pois está polari-
zado inversamente. A ponta preta está ligada ao catodo, e a ponta vermelha está
ligada ao ânodo.

Aprenda mais sobre o TRIAC e outros tiristores consultando


o livro “Utilizando Eletrônica com AO, SCR, TRIAC, UJT, PUT”,
SAIBA dos autores Romulo Oliveira Albuquerque e Antonio Carlos
Seabra, da editora Érica. Esse livro descreve alguns compo-
MAIS nentes eletrônicos, como os tiristores, e também suas aplica-
ções, e os principais dispositivos optoeletrônicos aplicados
na eletrônica industrial de potência.

4.4 POSSÍVEIS FALHAS

Os componentes eletrônicos podem apresentar falhas que comprometem o


funcionamento da interface de potência CA.
Mas como podemos identificar esses componentes e associá-los à falha ou ao
defeito apresentado?
Alguns desses componentes podem perder as características técnicas devido
a um aumento da temperatura, outros podem entrar em curto-circuito ou mesmo
se abrirem por causa de uma sobretensão ou sobrecarga. De acordo com a falha
apresentada, a interface de potência CA apresenta um comportamento diferente.
Veja, a seguir, a influência que cada componente pode causar no circuito ele-
trônico, de acordo com a falha detectada.
4 INTERFACE DE POTÊNCIA AC
59

Quadro 3 - Possíveis falhas em componentes e sua influência


no circuito eletrônico

POSSÍVEL FALHA DO INFLUÊNCIA DA FALHA NO


COMPONENTE
COMPONENTE CIRCUITO ELETRÔNICO

Aberto A lâmpada não acende.


TRIAC T1
Curto-circuito A lâmpada não apaga.

Queima do emissor (LED) A lâmpada não acende.

Queima do receptor (receptor


Optoacoplador IC1 A lâmpada não acende.
aberto)

Queima do receptor (receptor em


A lâmpada não apaga.
curto-circuito)

Não dispara o optoacoplador e a


Valor ôhmico acima do valor real
carga não é ativada.

Resitores R1 e R2
Pode danificar o optoacoplador,
Valor ôhmico abaixo do valor real prejudicando o funcionamento do
circuito da interface.

Além das falhas provocadas pelos componentes, podem ocorrer defeitos cau-
sados por conexões elétricas mal feitas ou curto-circuito nas trilhas da placa de
circuito impresso.
Uma inspeção visual à procura de componentes chamuscados, quebrados ou
com solda fria, antes de testar ou retirar um componente eletrônico, é uma prática
muito utilizada por profissionais para reduzir o tempo de manutenção dos equi-
pamentos que estão sendo reparados.

Antes de medir a continuidade de algum componente


FIQUE do circuito, desligue-o e desconecte-o da tomada, evi-
ALERTA tando, assim, choques elétricos ou danos no instrumen-
to de medição.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
60

CASOS E RELATOS

Manutenção corretiva de uma PCI


O mantenedor eletroeletrônico Sr. Alcides recebeu de seu chefe imediato
uma interface de potência defeituosa para realizar a manutenção. Antes de
alimentar a interface em VCC, ele olhou atentamente a placa, com o objetivo
de detectar algum componente carbonizado ou com algum terminal dessol-
dado da placa. Como não havia qualquer indício de carbonização e/ou termi-
nal solto de componente, anotou isso em seu relatório. Após o teste visual, Sr.
Alcides analisou cada trilha da placa de circuito impresso, para verificar se ha-
via interrupção de algum componente ou alguma trilha do circuito impresso.
A seguir, ele realizou o teste de continuidade em alguns componentes, para
constatar se havia ou não algum indício de curto-circuito. Nesse teste, de-
tectou continuidade entre os terminais MT1 e MT2 do TRIAC em ambos os
sentidos. Para ter certeza de que essa continuidade não estava relacionada
com outros componentes interligados ao TRIAC, resolveu retirá-lo da pla-
ca e repetir o teste, concluindo que, realmente, o TRIAC estava em curto-
-circuito entre MT1 e MT2.
Sr. Alcides é um desses técnicos curiosos que não se contentam em sim-
plesmente achar o defeito e repará-lo; ele procura investigar a causa que
levou ao defeito apresentado. Observando o código do TRIAC no encapsu-
lamento, notou que a corrente máxima suportável por aquele componente
era abaixo do valor solicitado pela carga que estava controlando. Antes de
trocar o componente, ele informou ao seu chefe que o TRIAC a ser usado
naquela interface deveria ser de corrente acima daquele defeituoso. Fez a
substituição do componente danificado e, assim, o circuito de interface vol-
tou a funcionar novamente.
Com base no relato apresentado, podemos ver que a manutenção de um
circuito eletrônico deve se iniciar por uma inspeção visual seguida pelo tes-
te dos componentes eletrônicos. Vimos também que, ao identificar o com-
ponente danificado, devemos pesquisar o motivo da queima, pois assim é
possível reparar o circuito e evitar o retorno à bancada de reparos.
4 INTERFACE DE POTÊNCIA AC
61

RECAPITULANDO

Estudamos, neste capítulo, a finalidade de uma interface de potência AC,


seu funcionamento, os componentes que fazem parte do circuito e as fa-
lhas por eles apresentados.
Além disso, vimos como essas falhas se apresentam no funcionamento da
interface.
Aprendemos também a testar o optoacoplador e o TRIAC, e estudamos as
características que os tornam muito utilizados nos circuitos de interface de
potência AC.
Interface de potência DC

Nos capítulos anteriores, vimos alguns circuitos utilizados para acionar dispositivos de
maior potência a partir de sinais de controle de menor intensidade, provenientes de sistemas
microcontrolados ou similares.
Neste capítulo, abordaremos mais um circuito que parte do mesmo princípio, porém que
tem a finalidade de acionar dispositivos de corrente contínua de potências mais elevadas,
como grandes motores elétricos.
Além disso, conheceremos os optoacopladores utilizados para esse fim, os quais têm algu-
mas diferenças em relação ao modelo apresentado no capítulo anterior, este utilizado apenas
em corrente alternada.
Assim, ao final deste capítulo você terá subsídios para:
a) analisar o funcionamento de um circuito para controle de potências em corrente contínua;
b) avaliar as características de um circuito de controle, de um optoacoplador e um transis-
tor MOSFET para corrente contínua;
c) identificar e reparar as principais causas de falhas e defeitos nesse tipo de circuito.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
64

5.1 FINALIDADE

Como já vimos no capítulo anterior, existem muitas situações em que se faz


necessário controlar o acionamento de dispositivos eletroeletrônicos de potên-
cias mais elevadas, tais como lâmpadas e motores. O circuito lógico que controla
o acionamento, como um microcontrolador, não tem capacidade de corrente ou
tensão para acionar esses dispositivos diretamente: é necessário um circuito in-
termediário para receber o comando de acionamento e que seja capaz de operar
correntes e tensões bem maiores.
Ao pensar no acionamento de um motor de corrente contínua, podemos con-
siderar o uso de um relé ou um contator. Mas como fazer quando esse aciona-
mento precisa ser muito rápido, com frequência de 200 Hz, por exemplo? Em uma
situação como essa, utilizamos um circuito de interface de potência DC, que pode
operar com frequências muito superiores a 200 Hz, ao contrário de um relé, que é
extremamente lento.
Neste ponto, você pode estar se questionando sobre o motivo para acionar
um motor 200 vezes por segundo (200 Hz). Será que existe alguma aplicação prá-
tica para isso? Sim, existe. Trata-se de uma técnica chamada PWM (Pulse Width Mo-
dulation, do inglês, ou modulação por largura de pulso, em português), utilizada
para controlar a velocidade de motores de corrente contínua.
Assim, a velocidade do motor é controlada de acordo com o tempo em que o
sinal elétrico permanece ativado. Se um PWM estiver operando a uma frequência
de 200 Hz, a frequência será mantida, alterando apenas a largura do pulso. Desse
modo, se a largura do pulso for maior, a velocidade será maior também.
Observe um exemplo, na figura a seguir, de dois PWM ajustados com veloci-
dades diferentes.
5 INTERFACE DE POTÊNCIA DC
65

v
10,0
o tempo ativado
8,0 equivalente a 20% velocidade=20%
período: 5 ms
do período
6,0

4,0

2,0

0,0
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 t(ms)

v
10,0
o tempo ativado
8,0 equivalente a 80% velocidade=80%
período: 5 ms
do período
6,0

4,0

2,0

0,0
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 t(ms)

Figura 36 -  Gráficos das formas de onda de dois PWM ajustados com velocidades diferentes
Fonte: SENAI-SP (2013)

Além de controle de velocidade, essa técnica também pode ser empregada para
controlar o brilho de um LED ou de uma lâmpada incandescente, por exemplo.

Para conhecer mais sobre o PWM, leia o artigo Controle


PWM de Potência (ART006), escrito por Newton C. Braga,
disponível em <http://www.newtoncbraga.com.br/index.
SAIBA php/artigos/54-dicas/375-controles-pwm-de-potencia-
MAIS -art006.html>. Nesse site, você encontra um comparativo
com o método de controle linear de velocidade, conhece as
vantagens e as desvantagens do PWM e as diferentes confi-
gurações de circuitos para gerar os pulsos.

Embora a velocidade de comutação seja um diferencial importante da inter-


face de potência DC, nada impede que essa tecnologia seja empregada em subs-
tituição ao relé, mesmo quando a velocidade de comutação não é importante.
Nesses casos, a interface de potência DC tem algumas vantagens, pois a ausência
de contatos mecânicos aumenta a vida útil do circuito e ainda elimina as faíscas
produzidas pelos contatos do relé.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
66

Assim, você pode encontrar circuitos que acionam lâmpadas e motores DC


que utilizam um relé ou uma interface de potência DC.

Devido ao risco de explosão, existem locais onde é proi-


bido o uso de dispositivos que produzem faíscas, como
VOCÊ relés convencionais, por exemplo. Isso ocorre em am-
bientes como refinarias de petróleo, devido aos gases
SABIA? altamente inflamáveis presentes no ar. Nesse caso, as
empresas utilizam relés especiais ou circuitos de interfa-
ce de potência transistorizados.

5.2 FUNCIONAMENTO

Para realizar a manutenção em um circuito de interface de potência DC, é im-


portante conhecer o comportamento de cada parte do circuito. Uma técnica in-
teressante é realizar testes na sequência em que ocorre o acionamento. Por isso,
vamos falar sobre o princípio de funcionamento da interface de potência DC.
O funcionamento é muito semelhante ao que vimos com o transistor bipolar
operando como chave. Agora, utilizaremos outro tipo de transistor: o MOSFET.
Além de ter maior capacidade de corrente, podendo chavear cargas de potências
mais elevadas, a corrente elétrica necessária para o acionamento do transistor é
praticamente nula, devido à sua alta impedância de entrada. Há casos em que um
transistor IGBT é usado no lugar do MOSFET, quando potências ainda mais eleva-
das são necessárias. Como o IGBT tem comportamento semelhante ao MOSFET,
vamos nos ater ao MOSFET.
Outra característica da interface de potência DC é o uso de optoacopladores.
Como vimos no capítulo anterior, eles isolam o circuito de controle do circuito de
potência, de modo que, se houver uma sobrecarga na parte da potência, o con-
trole permanece intacto. Embora o princípio seja o mesmo que já estudamos, os
optoacopladores utilizados em DC são diferentes internamente. Utilizam um LED
como emissor, mas como receptor têm um fototransistor em substituição ao fo-
to-DIAC. Alguns modelos utilizam portas lógicas com acionamento fotoelétrico,
no lugar do fototransistor. Independentemente de ser um fototransistor ou uma
porta lógica, o objetivo é o mesmo: acionar a saída quando o LED interno acender.
Estudaremos o funcionamento das portas lógicas no capítulo 7.
5 INTERFACE DE POTÊNCIA DC
67

Veja, a seguir, o exemplo de um circuito de interface de potência DC.

12 VCC

RL 12 VCC

circuito de controle
R1

MOSFET
R2

optoacoplador

R3

Figura 37 -  Circuito de interface de potência DC


Fonte: SENAI-SP (2013)

O resistor identificado como RL representa a carga, que pode ser um motor,


uma lâmpada ou outro dispositivo eletroeletrônico de corrente contínua que de-
sejamos controlar.
Quando o circuito de controle precisa acionar a carga, um sinal elétrico é en-
viado ao LED interno do optoacoplador. O resistor R1 serve para limitar a corrente
elétrica no LED, de modo que fique dentro dos limites de operação especificados
pelo fabricante, geralmente, em torno de 20 mA.
Nesse instante, o fototransistor é sensibilizado pela luz do LED e satura, cha-
veando a tensão aplicada ao coletor para a porta do MOSFET. Os resistores R2 e
R3 formam um divisor de tensão, garantindo que a tensão aplicada na porta do
MOSFET esteja dentro da especificação informada no datasheet.
Ao receber a tensão na porta, o MOSFET também satura, permitindo a circula-
ção de corrente pela carga.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
68

A figura 37 ilustra o funcionamento de um circuito de interface de potência DC.

12 VCC

1 - O circuito de
controle ativa o
RL led do
12 VCC optacoplador

circuito de controle
R1
3 - O MOSFET
satura e MOSFET
aciona
a carga
R2

optoacoplador
2 - O fototransistor
satura e libera
R3 corrente para a
porta do MOSFET

Figura 38 -  Funcionamento do circuito de interface de potência DC


Fonte: SENAI-SP (2013)

Para iniciar os testes de manutenção, uma boa ideia é começar pelo circuito de
controle. É necessário verificar se ele está enviando o sinal de acionamento para o
optoacoplador. O próximo passo é verificar se o optoacoplador está funcionando
para, então, testar o MOSFET.
Acompanhe, a seguir, as explicações sobre esses componentes e testes que
podem ser realizados com eles.

5.2.1 CIRCUITO DE CONTROLE

Vários são os tipos de circuitos utilizados como controle de acionamento. Sob


o ponto de vista da interface de potência DC, que é o nosso foco, não importa co-
nhecer detalhes sobre o controle. O que precisamos é verificar se ele está envian-
do o sinal de acionamento. Para isso, basta verificar a saída do circuito de controle.
Você deve encontrar a presença de um sinal elétrico de acionamento, que deve
coincidir com o momento em que a carga deve ser acionada.
Se for um acionamento simples, do tipo que serve para ligar ou desligar a car-
ga, você pode usar um multímetro para detectar a presença de tensão. Caso o
acionamento seja para controle de velocidade, devido à frequência do sinal, você
precisa de um osciloscópio.
5 INTERFACE DE POTÊNCIA DC
69

Tenha em mente que o sinal de controle é muito pequeno e serve apenas para
acender o LED do optoacoplador. Tipicamente, os circuitos de controle trabalham
com 5 V, mas há casos que utilizam tensões diferentes, como 3 V ou 12 V.

5.2.2 OPTOACOPLADOR

São necessários dois testes para constatar o bom funcionamento de um op-


toacoplador: verificar o funcionamento do LED e checar se o acionamento da saí-
da está ocorrendo. Na verdade, o teste do optoacoplador é o mesmo para os mo-
delos AC e DC. Assim, o procedimento que foi apresentado no capítulo anterior
pode ser aplicado neste caso.
Resumindo, você deve, inicialmente, testar o LED, utilizando a escala para teste
de diodo do multímetro. Ao certificar-se de que o LED está em boas condições,
você deve remover o optoacoplador e aplicar uma tensão sobre o LED. Lembre-se
de que é necessário um resistor em série para limitar a corrente, que deve ser cal-
culada conforme a especificação do fabricante. Depois de aplicar a tensão sobre o
LED, basta medir a saída e verificar se esta foi acionada.
A figura a seguir ilustra esse procedimento.

verificando o acionamento da saída


1 - O led é
acionado

470

0
5V

2 - A resistência
será zero ou
próxima de zero

verificando o desligamento da saída


1 - O led permanece
apagado

470

5V

2 - A resistência
será infinita

Figura 39 -  Procedimento de teste do optoacoplador


Fonte: SENAI-SP (2013)
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
70

É importante saber que existem encapsulamentos com mais de um optoaco-


plador embutido.
Veja, a seguir, um modelo com apenas um optoacoplador e outro com quatro.

TLP521-4
1 16
4N25
2 15

1 6 3 14

2 5 4 13

3 4 5 12

6 11
1optoacoplador em um
encapsulamento DIP 6 7 10

8 9

4 optoacopladores em um
encapsulamento DIP 16
Figura 40 -  Modelos de optoacopladores
Fonte: SENAI-SP (2013)

Por fim, você precisa saber que, além das configurações que vimos nessa ima-
gem, podemos nos deparar com outras, dependendo do modelo do optoacoplador.

5.2.3 TRANSISTOR MOSFET

O teste de um MOSFET com o multímetro não é totalmente eficaz. A diversi-


dade de modelos desse componente faz com que as medições sejam muito dife-
rentes. Mesmo assim, é possível utilizar o multímetro para identificar se o MOSFET
está em curto-circuito. É um teste que vale a pena fazer, pois essa é uma falha
bastante comum nesse tipo de componente.
O procedimento de teste consiste em medir a resistência entre os terminais
dreno e fonte. Se a resistência for zero ou muito próxima disso, certamente o
MOSFET está danificado.

Para fazer a medição da resistência, é necessário remo-


FIQUE ver do circuito o componente a ser medido. Assim, os
ALERTA demais componentes não interferem na medição, e esta
indicará os valores corretos.
5 INTERFACE DE POTÊNCIA DC
71

Caso você não detecte uma falha com essa medição, ainda assim é muito pos-
sível que o MOSFET esteja com algum tipo de problema, já que os testes ante-
riores verificaram o funcionamento do circuito de controle e do optoacoplador.
Desse modo, a chance de haver uma falha no MOSFET é bastante grande. Por isso,
convém substituí-lo e verificar se o circuito funciona.
Vale dizer, também, que um problema comum em transistores faz com que eles
funcionem de forma parcial. Nesse caso, dizemos que o transistor está com fuga de
corrente ou apenas com fuga. Nessa condição, mesmo quando não é acionado,
parte da corrente consegue circular por ele, e a carga é acionada indevidamente.

Alguns modelos de MOSFET são extremamente sensí-


FIQUE veis à ESD. Não se esqueça de utilizar os métodos de
ALERTA prevenção contra ESD ao manipular esse tipo de com-
ponente.

5.3 POSSÍVEIS FALHAS

Para ajudá-lo a investigar as principais falhas em circuitos de interface de po-


tência DC, vamos enumerar, a seguir, as principais causas. Acompanhe.

Quadro 4 – Possíveis falhas em componentes e sua influência no circuito.

POSSÍVEL FALHA DO INFLUÊNCIA DA FALHA NO CIRCUITO


COMPONENTE
COMPONENTE ELETRÔNICO

O sinal de acionamento não


O dispositivo de saída nunca é acionado.
é enviado.

Circuito de controle O sinal de acionamento é


enviado continuamente,
O dispositivo de saída fica acionado o
mesmo quando não deveria
tempo todo.
ocorrer o acionamento do
dispositivo de saída.

O LED não acende. O dispositivo de saída


Optoacoplador - LED Aberto ou curto-circuito
nunca é acionado.

Aberto O dispositivo de saída nunca é acionado.


Optoacoplador -
saída (transistor ou
porta lógica) O dispositivo de saída fica acionado o
Curto-circuito tempo todo, mesmo nos momentos em
que não deveria haver acionamento.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
72

POSSÍVEL FALHA DO INFLUÊNCIA DA FALHA NO CIRCUITO


COMPONENTE
COMPONENTE ELETRÔNICO

O MOSFET não faz o chaveamento. O


Aberto
dispositivo de saída nunca é acionado.

O dispositivo de saída fica acionado o


MOSFET Curto-circuito tempo todo, mesmo nos momentos em
que não deveria haver acionamento.

O dispositivo de saída fica parcialmente


Fuga energizado, mesmo nos momentos em
que não deveria ocorrer o acionamento.

CASOS E RELATOS

Defeito no controle de velocidade de motor


Uma academia de ginástica solicitou a presença de um técnico em eletroe-
letrônica para verificar um problema em uma das esteiras. Mesmo com o
controle de velocidade ajustado com a menor velocidade possível, o motor
continuava girando.
O técnico fez algumas perguntas ao responsável pela esteira e percebeu
que o controle de velocidade não estava completamente inoperante. Ao
variar a velocidade, era possível notar que ela aumentava e diminuía, con-
forme o ajuste era alterado, mas a velocidade mínima ainda era muito maior
que o normal. Ele pôde comprovar isso observando o funcionamento de
uma esteira idêntica, já que a academia possuía muitas delas.
Por se tratar de um controle de velocidade com PWM, foi necessário utilizar
um osciloscópio para monitorar o sinal de controle. Ao variar a velocidade,
o técnico verificou que a largura dos pulsos se alterava adequadamente,
inclusive na velocidade mínima.
O técnico fez os testes no optoacoplador, e tanto o LED quanto o fototran-
sistor estavam funcionando perfeitamente. Verificou, ainda, que o MOS-
FET não estava em curto-circuito. Com todas essas hipóteses descartadas,
a causa mais provável parecia ser o MOSFET com fuga. Como não havia
como testá-lo, resolveu substituí-lo. A suspeita do técnico foi comprovada
e o problema foi resolvido.
5 INTERFACE DE POTÊNCIA DC
73

Assim, a lição que podemos extrair desse caso é que, mesmo não sendo pos-
sível fazer os testes adequados no MOSFET, os testes anteriores serviram para
eliminar hipóteses. Por eliminação, foi possível chegar à causa do problema.

RECAPITULANDO

Neste capítulo, vimos que a interface de potência DC serve para acionar dis-
positivos de corrente contínua de potências elevadas, a partir de circuitos
de controle que não possuem níveis de tensão e corrente suficientes para
fazer o acionamento diretamente.
Verificamos que, ao contrário do relé, a interface de potência DC permite
altas velocidades de chaveamento e possui vida útil mais longa devido à
ausência de contatos mecânicos.
Conhecemos também a arquitetura interna desse tipo de circuito e como é
feito o acionamento dos optoacopladores utilizados em corrente contínua,
por meio do LED emissor e do fototransistor receptor.
Vimos, ainda, que não é possível fazer todos os testes em um MOSFET com
o multímetro, mas podemos, pelo menos, verificar se esse componente
está em curto-circuito.
Por fim, conhecemos as falhas mais comuns de um circuito de interface de
potência DC e as principais causas.
Comparador de tensão

Neste capítulo, vamos conhecer mais um circuito eletrônico presente em vários equipa-
mentos, por exemplo, em centrais de alarme e acendimento automático de lâmpadas notur-
nas. Trata-se de um circuito que ativa e desativa sua saída com base na comparação de duas ou
mais tensões presentes em sua entrada.
Diferentes circuitos são capazes de desempenhar essa função. Nosso estudo terá como base
um circuito que utiliza um componente eletrônico chamado de amplificador operacional.
Assim, ao final deste capítulo, você terá subsídios para:
a) analisar o funcionamento de um circuito comparador de tensão;
b) reconhecer as características de um amplificador operacional e de um LDR;
c) identificar e reparar as principais causas de falhas e defeitos nesse tipo de circuito.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
76

6.1 FINALIDADE

Como já mencionamos, os comparadores de tensão estão presentes em mui-


tas aplicações, como: centrais de alarme, para monitorar o sinal de um sensor; cir-
cuitos de luz noturna, para acender uma lâmpada automaticamente ao anoitecer;
e até mesmo geradores de sinais elétricos retangulares ou quadrados, semelhan-
te aos geradores de funções.
O objetivo de um comparador de tensão é controlar o acionamento de sua saí-
da a partir da comparação das tensões presentes em sua entrada. A maioria dos
comparadores possui duas entradas. Em uma delas é aplicada uma tensão fixa,
que serve como referência. Na outra, temos uma tensão variável, geralmente pro-
veniente de um sensor qualquer. Assim, podemos acionar a saída quando o sen-
sor ou qualquer outro tipo de entrada ultrapassar o valor da tensão de referência.

6.2 FUNCIONAMENTO

Como dissemos no início, podemos construir comparadores de tensão a partir


de vários circuitos diferentes. Os mais comuns têm como base microcontrolado-
res ou amplificadores operacionais.
Os microcontroladores são circuitos integrados programáveis, ou seja, o
funcionamento depende de um programa gravado em sua memória, que serve
como diretriz para as funções que irá desempenhar. Assim, além do hardware,
que é parte física de um circuito eletrônico, ele depende de um software, que é o
programa gravado em sua memória.
Além de servirem como comparadores de tensão, por meio das entradas analó-
gicas, os microcontroladores podem exercer muitas outras funções. Estudaremos
mais sobre esse tema no capítulo 8 e, depois, em Projetos de Sistemas Eletrônicos.
Os amplificadores operacionais, por sua vez, são circuitos integrados e foram
criados, inicialmente, para fazer operações matemáticas. As operações eram reali-
zadas com base nas tensões presentes nas entradas desse componente, e o resul-
tado era disponibilizado em sua saída, também na forma de tensão elétrica. Esses
amplificadores foram a base para os computadores analógicos. Atualmente com-
põem os comparadores de tensão, além de se prestarem a outras tantas funções.
Existem vantagens e desvantagens entre esses dois tipos de circuito. Os micro-
controladores possuem a vantagem de serem mais versáteis, já que um mesmo cir-
cuito integrado pode fazer várias e diferentes funções ao mesmo tempo, de acordo
com o software. Do mesmo modo, o software pode ser uma desvantagem, já que
precisamos considerar o tempo para desenvolvê-lo e gravá-lo no microcontrolador.
6 COMPARADOR DE TENSÃO
77

Como estudaremos os microcontroladores ao longo do curso, neste capítulo


vamos nos ater ao circuito comparador com base em um amplificador operacio-
nal. Utilizaremos como exemplo um circuito de luz noturna, que é utilizado para
acender uma lâmpada automaticamente, ao anoitecer. A figura a seguir ilustra
esse circuito. Note que o acendimento da lâmpada será feito por meio de uma
interface de potência com transistor e relé.

comparador de tensão interface de potência

R3 RL1
R1 1K

R5
9V + 10K
tomada +
- Q1
amplificador operacional L1
IC1 127 V/60 Hz

R2 R4
100K 1K

Figura 41 -  Comparador de tensão com interface de potência com relé


Fonte: SENAI-SP (2013)

A comparação da tensão é feita pelo circuito integrado amplificador opera-


cional, cujo símbolo é um triângulo. Os terminais identificados como + e - são as
entradas, chamadas de não inversora e inversora, respectivamente. No nosso
caso, a tensão aplicada na entrada inversora (-) é fixa, obtida por meio de um divi-
sor de tensão formado pelos resistores R3 e R4.
A tensão presente na entrada não inversora (+) varia conforme a luz do am-
biente, em razão da mudança de resistência do LDR, identificado como R1. Assim,
quanto menor a luminosidade, menor a tensão.
Quando a tensão aplicada à entrada não inversora (+) for maior que a da en-
trada inversora (-), a saída do amplificador operacional passa para nível lógico 1,
ativando, dessa maneira, a lâmpada.
Agora que conhecemos o princípio básico de operação desse componente,
vamos ver mais detalhes sobre os itens que constituem o comparador de tensão.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
78

6.2.1 AMPLIFICADOR OPERACIONAL

Já vimos que os amplificadores operacionais possuem duas entradas e uma


saída e que são representados simbolicamente por um triângulo. Ocorre, porém,
que além das entradas e da saída, existem outros terminais: um para alimentação
positiva e outro para alimentação negativa.
Veja, a seguir, a representação dos terminais de um amplificador operacional.

alimentação
positiva(+Vcc)

entrada não inversora +


saída
entrada inversora -

alimentação
negativa (-Vcc)
Figura 42 -  Representação dos terminais de um amplificador operacional
Fonte: SENAI-SP (2013)

As principais características de um amplificador operacional são: alta impedância


de entrada, baixa impedância de saída, alto ganho e baixo tempo de atraso.
a) Alta impedância de entrada: é a impedância em cada uma das entradas.
Uma impedância alta significa que o consumo de corrente na entrada de
um amplificador operacional é muito pequeno.
b) Baixa impedância de saída: a impedância de saída baixa significa que o am-
plificador operacional pode fornecer correntes elétricas bem superiores às
da entrada.
c) Alto ganho: o ganho representa quantas vezes a tensão de entrada é ampli-
ficada na saída. Quando exerce a função de comparador de tensão, a saída
opera apenas em nível lógico 0 e nível lógico 1, que são, respectivamente,
equivalentes a –VCC e +VCC. Assim, o ganho é um parâmetro irrelevante
para os comparadores de tensão, mas fundamental para outros circuitos
que utilizam amplificadores operacionais.
d) Baixo tempo de atraso: é o tempo decorrido entre a mudança na condição
de entrada e a saída, ou seja, é o tempo que o amplificador operacional
demora em acionar a saída, ao detectar alterações na entrada. Os amplifi-
cadores operacionais são muito rápidos. O atraso varia conforme o modelo,
mas está na ordem de nanossegundos ou até menos.
6 COMPARADOR DE TENSÃO
79

Os amplificadores operacionais foram inventados antes


VOCÊ do transistor, e tinham como base vários estudos que
aconteciam desde o início do século XX. No entanto,
SABIA? a primeira versão confiável veio apenas na década de
1960, com o lançamento do circuito integrado µA709.

Existem muitos modelos de amplificadores operacionais no mercado. O mais


conhecido é o 741, que serve para uso geral. Existem, porém, modelos específicos
para comparadores de tensão. O princípio básico de funcionamento é o mesmo,
mas os específicos para esse fim têm algumas vantagens, principalmente quanto
à alimentação.
Os amplificadores operacionais precisam de uma fonte de alimentação simé-
trica para funcionar, ou seja, necessitam de uma tensão positiva, uma referência (0
V ou GND) e uma tensão negativa. Já os modelos específicos para comparadores
de tensão podem funcionar com fontes convencionais, com apenas uma tensão
positiva e o GND.
Veja, a seguir, um exemplo de fonte de alimentação simétrica.

fonte simétrica
fonte convencional +9 V
(assimétrica)
+9 V 9V

0 V (GND)
9V
9V
0 V (GND)
tensão
-9 V negativa

Figura 43 -  Comparação de fontes assimétrica e simétrica


Fonte: SENAI-SP (2013)

Um dos modelos de amplificador operacional para comparador de tensão


mais conhecidos é o LM339, que possui quatro comparadores em um só encap-
sulamento.

Os amplificadores operacionais podem exercer funções


importantes em outros tipos de circuitos, tais como filtros
SAIBA ativos e amplificadores para pequenos sinais elétricos pro-
venientes de sensores. Para saber mais sobre essas e outras
MAIS aplicações dos amplificadores operacionais, consulte o livro
“Amplificadores Operacionais e Filtros Ativos”, de Antônio
Pertence Júnior, da editora Bookman.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
80

6.2.2 LDR

LDR é uma sigla do inglês que significa Light Dependent Resistor, ou resistor
dependente de luz, em português. A resistência do LDR varia, portanto, em razão
da quantidade de luz a que é exposto. Quanto maior a incidência de luz sobre ele,
menor é sua resistência.
Por isso, o LDR pode ser utilizado como sensor de luminosidade. Se ele for
ligado em um divisor de tensão, ocorre uma mudança na tensão à medida que
sua resistência varia.
Veja um exemplo: vamos considerar o LDR com uma resistência de 400 Ω,
quando submetido à luz intensa, e de 1 MΩ, quando no escuro. O cálculo da ten-
são sobre R1 é feito com a seguinte equação:

V R1 =VCC × 
 R1 

 R1+R2 

Em que:
a) VCC é a tensão da fonte;
b) R1 é a resistência de R1;
c) R2 é a resistência do LDR em cada situação.

R2 400 Ω R2 1 MΩ

9V 9V
+ +
R1 R1
100K 8,96 V 100K 0,81 V

Figura 44 -  Exemplos de divisores de tensão com LDR


Fonte: SENAI-SP (2013)

Por fim, vale saber que o tamanho e a resistência do LDR podem variar em fun-
ção do modelo, mas o princípio de funcionamento é sempre o mesmo.
6 COMPARADOR DE TENSÃO
81

6.2.3 TENSÃO DE REFERÊNCIA

Um comparador de tensão precisa de uma tensão fixa para ser utilizada na


comparação. No circuito que vimos anteriormente como exemplo, a tensão de
referência é obtida por meio de um divisor de tensão que utiliza resistores fixos,
como podemos observar na figura a seguir.

R1 R3
1K

R3 tensão de
1K 9V +
referência com
-
amplificador operacional resistores fixos
9V IC1
+
R4 R2
1K R4
100K 1K

tensão de referência com resistores fixos


circuito comparador de tensão com tensão de referência fixa

Figura 45 -  Tensão de referência com resistores fixos


Fonte: SENAI-SP (2013)

Podemos encontrar outras formas de obter essa referência. Há casos em que


a tensão de comparação é um fator crítico, pois qualquer variação poderia acio-
nar indevidamente a saída. Assim, é possível utilizar um diodo zener no lugar do
resistor de referência. O diodo zener mantém a tensão de referência estabilizada,
evitando qualquer tipo de variação.
A figura 45 ilustra um divisor de tensão com zener.

R1 R1
400

R1 tensão de
400 9V +
referência com
-
amplificador operacional diodo zener
9V IC1
+
D1 R2
100K D1

tensão de referência com diodo zener


circuito comparador de tensão com tensão de referência estabilizada

Figura 46 -  Tensão de referência com diodo zener


Fonte: SENAI-SP (2013)

Em outras situações, é importante que a tensão de referência possa ser ajus-


tada. Vamos imaginar novamente o circuito que acende a luz automaticamente
ao anoitecer. Para garantir que a lâmpada acenda com a quantidade de luz que
desejamos, é necessário adicionar ao circuito um meio para ajustar a sensibilida-
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
82

de. Isso pode ser feito variando a tensão de referência. Para tanto, utilizaremos um
divisor de tensão com resistor ajustável, quase sempre, um trimpot.
Veja um exemplo.

R1 R1
400

R1 tensão de
400 9V +

-
referência com
amplificador operacional resistores ajustável
9V IC1
+
VR1 R2
1K VR1
100K 1K

tensão de referência com resistor variável


circuito comparador de tensão com tensão de referência ajustável

Figura 47 -  Exemplo de tensão de referência com resistor ajustável


Fonte: SENAI-SP (2013)

O ajuste da tensão de referência pode ser crítico em


alguns circuitos eletrônicos, já que um ajuste inadequa-
FIQUE do pode interferir no funcionamento. Por isso, o ajuste
ALERTA deve ser realizado conforme as recomendações do fa-
bricante do equipamento. Caso não tenha acesso a essa
informação, evite alterar a tensão de referência.

6.3 POSSÍVEIS FALHAS

Um comparador de tensão funciona com potências muito baixas. Quando pre-


cisa operar potências maiores, conta com um circuito de interface de potência AC
ou DC, conforme o caso. Assim, o comparador de tensão faz o papel do circuito de
controle da interface de potência.
Além disso, o comparador é um circuito simples, formado apenas por um cir-
cuito integrado e alguns resistores.
Por tudo isso, os comparadores de tensão apresentam poucas falhas e/ou pou-
cos defeitos e, quando isso ocorre, não é difícil detectar a causa. Quase sempre o
motivo está associado ao amplificador operacional ou ao componente que está
atuando como sensor, seja um LDR, seja um sensor de temperatura ou ainda ou-
tro componente.
6 COMPARADOR DE TENSÃO
83

A melhor forma para diagnosticar uma falha e/ou um defeito é monitorando o


funcionamento do amplificador operacional. Para isso, basta medir as tensões de
entrada e verificar se a tensão da saída corresponde à condição das entradas. Lem-
bre-se de que, quando a tensão na entrada não inversora é maior do que na inver-
sora, a saída passa para nível lógico 1; e quando é menor, a saída deve ser 0. Assim,
se o amplificador operacional não se comportar dessa forma, basta substituí-lo.
Outra dica é verificar a temperatura do circuito integrado. Em funcionamento
normal, o circuito não aquece. Portanto, se perceber que ele está quente, é sinal
de que algo está errado. É possível que haja algum problema no circuito de po-
tência ligado à saída. Você deve verificá-lo, conforme vimos nos capítulos anterio-
res, sobre as interfaces de potência.
Caso o amplificador operacional esteja funcionado, o próximo passo é checar
se a tensão de referência está correta. É necessário verificar o funcionamento do
diodo zener ou do resistor ajustável, se existirem no circuito. Se o divisor for for-
mado apenas por resistores, você pode utilizar a equação para calcular a tensão e
medi-la para verificar se está correta. Caso a tensão de referência utilize um zener,
basta checar se a tensão está em conformidade com a informada pelo fabricante
do zener.
Por fim, você deve verificar se a variação de tensão proveniente do sensor está
funcionando. É difícil prever um método de teste, pois você pode encontrar vários
tipos de sensores ou outras fontes de tensão. No entanto, no caso do LDR, após
desligar pelo menos um de seus terminais do circuito, você pode medir a resistên-
cia e observar se, ao cobrir o sensor, a resistência aumenta.
Vale lembrar que os passos apresentados são dicas para auxiliá-lo na pesquisa
de falhas, pois não há como prever todas as situações possíveis.
O quadro a seguir traz um breve resumo das principais causas de falhas encon-
tradas nos comparadores de tensão.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
84

Quadro 5 - Possíveis falhas em componentes e sua influência


no circuito eletrônico

POSSÍVEL FALHA DO INFLUÊNCIA DA FALHA NO CIRCUITO


COMPONENTE
COMPONENTE ELETRÔNICO

A saída não é acionada, e o amplificador


Terminais de alimentação operacional se aquece. Isso pode levar a
em curto-circuito danos em outras partes do circuito, por
exemplo, na fonte de alimentação.

Amplificador opera- Saída aberta A saída nunca é acionada.


cional
Saída em curto-circuito A saída fica acionada indefinidamente.

Entradas inversora e/ou Dependendo da entrada que estiver com


não inversoras em curto- problema, a saída pode nunca ser aciona-
-circuito. da ou ficar sempre acionada.

A tensão de referência fica alterada,


Diodo zener da ten- modificando o comportamento da saída,
Aberto ou curto-circuito
são de referência que pode nunca ser acionada ou ficar
ligada indefinidamente.

A resistência não atinge o


Dependendo da configuração do circuito,
Resistor ajustável do valor máximo ou o valor
a saída pode nunca ser acionada ou ficar
divisor de tensão mínimo nas extremidades
sempre acionada.
do cursor.

Sensor Dependendo da configuração do circuito


As falhas variam conforme
(LDR, temperatura e da falha apresentada, a saída pode nun-
o sensor.
etc.) ca ser acionada ou ficar sempre acionada.

CASOS E RELATOS

Efeito em cascata
O Sr. Euclides tinha em sua residência uma central de alarme com sensor de
presença ultrassônico. Certo dia, uma falha na central fez com que a sirene
ficasse ativada continuamente, mesmo sem a presença de nenhum objeto
ou nenhuma pessoa por perto. Por isso, resolveu chamar um técnico.
Internamente, na central, um comparador de tensão controlava o aciona-
mento de uma sirene por meio de uma interface de potência DC, com MOS-
FET. O técnico mediu as tensões de entrada no amplificador operacional e
logo percebeu que a saída deveria estar desligada. Assim, facilmente diag-
nosticou a falha e substituiu o amplificador operacional.
6 COMPARADOR DE TENSÃO
85

Horas depois, o Sr. Euclides telefonou novamente para o técnico, pois a cen-
tral estava com a mesma falha. Chegando ao local, o técnico fez os mesmos
testes e, mais uma vez, o amplificador operacional estava com problema.
Ao substituí-lo, o técnico resolveu observar o funcionamento do circuito.
Minutos depois, ao colocar a mão no amplificador operacional, percebeu
que este estava quente. Diagnosticou, depois, que havia um problema no
circuito de interface de potência, fazendo com que o amplificador opera-
cional trabalhasse com uma corrente muito superior. Com o tempo, o am-
plificador operacional aquecia e queimava.
A lição que podemos tirar desse caso é que, muitas vezes, a causa primária
de uma falha não é aparente. O problema encontrado no amplificador ope-
racional deve-se a um efeito em cascata, originado em outra parte do cir-
cuito. Assim, sempre que solucionar uma falha ou um defeito, é importante
fazer uma inspeção em outras partes do circuito.

RECAPITULANDO

Neste capítulo, conhecemos um componente eletrônico chamado amplifi-


cador operacional, que, entre outras funções, pode servir como compara-
dor de tensão.
Vimos que um comparador de tensão pode apresentar em sua saída nível
lógico 1 (ativado) ou 0 (desativado), de acordo com as tensões presentes em
suas entradas. Em um comparador de tensão com amplificador operacional,
a saída é acionada quando a tensão da entrada não inversora for maior que
a da inversora. Quando essa tensão for menor, a saída é desativada.
Conhecemos algumas formas de obter a tensão de referência para o ampli-
ficador operacional, como divisores de tensão com resistores fixos, ajustá-
veis ou com diodo zener.
Vimos ainda que a tensão de comparação varia conforme o tipo de sensor,
tais como LDR, de temperatura, de ultrassom etc.
Analisamos, por último, as principais causas de falhas nos comparadores de
tensão, indicando uma sequência para o diagnóstico.
Introdução aos circuitos digitais

Não é de hoje que a palavra “digital” é comumente empregada quando falamos sobre al-
gum equipamento eletrônico. De fato, isso não é à toa. A maioria dos equipamentos eletrôni-
cos que nos rodeiam é digital.
Neste capítulo, vamos conhecer as principais características que envolvem a tecnologia di-
gital e entender o que a diferencia da tecnologia analógica.
Assim, ao final deste capítulo, você terá subsídios para:
a) identificar as diferenças entre circuitos digitais e analógicos;
b) conhecer os sistemas de numeração utilizados na eletrônica digital;
c) analisar o funcionamento das principais portas lógicas e dos circuitos flip-flop;
d) identificar as diferenças das famílias lógicas TTL e CMOS;
e) localizar e reparar falhas e defeitos em circuitos digitais básicos.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
88

7.1 ELETRÔNICA DIGITAL

A eletrônica digital está, inevitavelmente, associada a equipamentos mais mo-


dernos, de maior tecnologia. Nos casos em que é possível optar entre um mode-
lo analógico ou um digital, intuitivamente escolhemos o digital. Mas você já se
perguntou por que isso acontece? Para responder a essa pergunta, precisamos,
primeiro, entender as diferenças entre os equipamentos analógicos e digitais.
Vamos lá?
Imagine um sinal elétrico senoidal. Como vimos em Eletricidade, para atingir
seu valor máximo, a tensão da senoide aumenta gradativamente, passando por
todos os valores compreendidos entre o mínimo e o máximo.
A figura 47 ilustra essa condição.

tensão

+10 V

tempo

-10 V
aumento
gradativo
Figura 48 -  Variações de tensão de um sinal elétrico senoidal
Fonte: SENAI-SP (2013)

Quando um sinal elétrico possui variações gradativas, é considerado analógi-


co. A senoide nos serviu apenas de exemplo. Qualquer variação de tensão – que
pode assumir vários valores, ao longo do tempo – são sinais analógicos.
Diferentemente disso, temos os sinais digitais, que podem assumir apenas
dois valores. A transição entre o valor mínimo e o máximo ocorre quase que ins-
tantaneamente. Na verdade, o tempo de transição é tão pequeno que pode ser
desprezado.
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
89

A figura a seguir ilustra essa situação.

tensão

transição instantânea
+10 V

0V tempo

Figura 49 -  Variação de tensão de um sinal elétrico digital


Fonte: SENAI-SP (2013)

O valor mínimo da tensão é uma condição conhecida como nível lógico zero
(0) ou nível lógico baixo. Já a tensão máxima varia de um circuito para outro.
Independentemente do valor, essa condição é conhecida como nível lógico um
(1) ou nível lógico alto.
À primeira vista, com base nesses conceitos, a diferença entre os equipamen-
tos analógicos e digitais pode parecer insignificante, mas, na verdade, traz enor-
mes ganhos. Conheça as principais vantagens.
a) Tratamento de informações: é muito mais simples trabalhar com apenas
dois níveis de tensão do que com uma infinidade deles. Assim, os equipa-
mentos digitais precisam apenas distinguir os níveis lógicos zero e um, en-
quanto os analógicos precisam estar preparados para sinais elétricos mais
complexos, com várias tensões diferentes. Por isso, os equipamentos digi-
tais são capazes de realizar funções mais complexas com circuitos eletrô-
nicos mais simples. Veja: um multímetro digital possui muitas funções que
não são encontradas no multímetro analógico, como a seleção automática
de escala. Para realizar essa e outras funções, o multímetro analógico pre-
cisa de um circuito eletrônico bem mais sofisticado e, consequentemente,
mais caro.
b) Armazenamento de informações: é mais vantajoso armazenar informa-
ções no formato digital do que no analógico, pois o primeiro possibilita que
um dado seja facilmente localizado.
Como exemplo, podemos comparar um sistema de áudio em fita cassete
(analógico) e em CD (digital). No CD, as músicas podem ser facilmente sele-
cionadas, pois o leitor consegue localizar as informações. Na fita cassete, o
aparelho reprodutor não consegue detectar a mudança entre uma música
e outra. Por isso, não é possível selecionar a faixa desejada.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
90

1 CHUVISCOS c) Transmissão de informações: ao transmitir uma informação analógica, os


ruídos elétricos que chegam ao receptor podem ser confundidos com o
Termo popularmente
usado para representar sinal elétrico original, pois não há como diferenciar o que é sinal e o que é
pontos pretos e brancos ruído. Ao transmitir as informações digitalmente, apenas ruídos elétricos
que aparecem na tela de
um televisor que trabalha específicos podem interferir no sinal original.
no sistema analógico de
recepção de imagens. A Como exemplo, podemos citar o sistema de transmissão de TV por antenas.
quantidade de pontos
piscantes espalhados No sistema analógico, os ruídos elétricos são convertidos em chuviscos,
na tela ocorre de forma que aparecem na tela juntamente com a imagem original. Quanto maior a
aleatória, semelhante ao
que ocorre na chuva com quantidade de ruídos, mais chuviscos aparecem. No sistema de TV digital,
as gotas d´água. Esse efeito
ocorre, principalmente, ao não há chuviscos. A maior parte dos ruídos é simplesmente desprezada,
ligar uma TV analógica com pois o equipamento receptor consegue diferenciá-los do sinal original.
a antena desconectada.
Apenas há problemas quando a intensidade de ruídos é muito grande e,
nesse caso, a imagem simplesmente não aparece na tela ou apresenta con-
gelamentos momentâneos.
A figura 49 ilustra um sinal elétrico analógico e um digital, ambos com ruídos
elétricos.

tensão tensão
sinal elétrico analógico com ruídos sinal elétrico digital com ruídos

tempo tempo

pequenas ondulações presentes no


sinal são um tipo de ruído elétrico

Figura 50 -  Exemplo de ruído elétrico em sinais analógicos e digitais


Fonte: SENAI-SP (2013)

Agora que conhece as vantagens de um equipamento digital, você pode estar se


perguntando: como um equipamento sofisticado consegue fazer tantas coisas com
apenas um sinal elétrico de dois estados? A resposta para essa questão é: trocando
informações por meio de vários fios. Isso significa que a informação é composta pela
combinação desses fios. Quanto mais fios, maior a quantidade de combinações.
Veja um exemplo na figura 50. Os números 0 e 1 representam os níveis lógicos
baixo e alto, respectivamente.
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
91

FIOS: A B FIOS: A B C D

A B C D
0 0 0 0
0 0 0 1
0 0 1 0
0 0 1 1
A B 0 1 0 0
0 0 0 1 0 1
0 1 0 1 1 0
1 0 0 1 1 1
1 1 1 0 0 0
1 0 0 1
4 combinações diferentes 1 0 1 0
1 0 1 1
1 1 0 0
1 1 0 1
1 1 1 1
1 1 1 1
16 combinações diferentes
Figura 51 -  Representação dos níveis lógicos
Fonte: SENAI-SP (2013)

A quantidade de combinações dos fios reflete a capacidade de informações


ou funções que um equipamento digital consegue desempenhar, armazenar ou
processar.
Os fios que utilizamos como exemplo possuem, na verdade, um nome técnico.
Cada um deles é chamado de “bit”. Dessa forma, a maneira correta para represen-
tar tecnicamente a capacidade de um equipamento digital é por meio da quan-
tidade de bits.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
92

Veja um exemplo na figura 51.

bit A bit B bit C bit D = 4 bits

A B C D
bit A bit B =2 bits 0 0 0 0
0 0 0 1
0 0 1 0
0 0 1 1
A B 0 1 0 0
0 0 0 1 0 1
0 1 0 1 1 0
1 0 0 1 1 1
1 1 1 0 0 0
1 0 0 1
4 combinações diferentes 1 0 1 0
1 0 1 1
1 1 0 0
1 1 0 1
1 1 1 1
1 1 1 1
16 combinações diferentes

Figura 52 -  Combinações possíveis em relação à quantidade de bits


Fonte: SENAI-SP (2013)

Além da quantidade de bits, a capacidade de um equipamento digital depen-


de de outros parâmetros, que estudaremos no próximo capítulo e, depois, em
Projetos de Sistemas Eletrônicos.
Por fim, vale citar ainda que várias manifestações elétricas ao nosso redor são
puramente analógicas, como o som e as informações disponibilizadas por vários
tipos de sensores, por exemplo, pressão e temperatura. Para esses casos, as infor-
mações são convertidas do formato analógico para o digital.
O som de um CD, como vimos, é armazenado digitalmente. A informação que re-
presenta o som é lida e processada na forma digital e, no final, ela é convertida para
um sinal analógico, que é a forma que chega ao fone de ouvido. Para isso, existem
os conversores D/A, que transformam informações digitais em sinais analógicos.
O mesmo ocorre com um sinal analógico proveniente de um sensor de tem-
peratura; ele pode ser convertido para o formato digital e então ser processado
digitalmente. Essa transformação é feita por conversores A/D.
Assim, concluímos que os equipamentos digitais são capazes, inclusive, de
realizar operações com sinais que são de natureza analógica.
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
93

7.2 SISTEMAS DE NUMERAÇÃO

Os números estão presentes em quase tudo que fazemos, seja para quantificar
alguma coisa, seja fazer operações matemáticas.
Na eletrônica digital, eles também têm sua importância. As operações mate-
máticas em equipamentos digitais estão presentes desde a calculadora mais sim-
ples até os computadores mais sofisticados.
Mas será que esses números são iguais aos que usamos no dia a dia? Veremos
a seguir que existem diferentes sistemas de numeração empregados na área da
eletrônica. Por isso, estudaremos, a partir de agora, os principais: decimal, binário
e hexadecimal.

7.2.1 SISTEMA DE NUMERAÇÃO DECIMAL

O sistema de numeração decimal é o sistema com o qual estamos acostumados.


Como você sabe, ele é formado por dez algarismos, de 0 a 9. Daí o nome decimal.
Embora as afirmações sobre o sistema de numeração decimal que serão apre-
sentadas a seguir possam parecer óbvias, são importantes e precisam ser resgata-
das, pois facilitarão o entendimento dos outros sistemas de numeração.
Quando utilizamos apenas um dígito, o sistema de numeração decimal pode
representar os dez números diferentes. Ao passar para o número dez (10), estou-
ramos a capacidade dos algarismos, assim é necessário acrescentar mais um dígi-
to. O dígito inicial reinicia sua contagem em zero (0) e, à sua esquerda, é adiciona-
do um novo dígito, começando do número um (1).
A figura 52 ilustra essa situação.

..
.
7
8
9
Um novo dígito é adicionado 10 O dígito reinicia em zero
11
..
.
Figura 53 -  Representação de números que extrapolam a capacidade dos algarismos decimais
Fonte: SENAI-SP (2013)
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
94

À medida que os números da direita, que são os menos significativos, estou-


ram a capacidade dos algarismos, os números imediatamente à esquerda aumen-
tam, até que também extrapolem. Então novos dígitos são adicionados e, assim,
podemos representar qualquer número.
Veja um exemplo na figura a seguir.

.. ..
. .
17 97
18 98
Os dois dígitos
19 99
O dígito Estoura a O novo digito é estouram a
20 100
aumenta capacidade acrescentado capacidade
21 101
e reiniciam em
22 102 zero
.. ..
. .

Figura 54 -  Outra representação de números que extrapolam a capacidade dos algarismos decimais
Fonte: SENAI-SP (2013)

Esse conceito parece banal, mas nos ajuda a entender os sistemas de numera-
ção binário e hexadecimal, que veremos a seguir.

7.2.2 SISTEMA DE NUMERAÇÃO BINÁRIO

Já vimos que, na eletrônica digital, existem apenas dois níveis lógicos: zero e
um. Assim, os equipamentos eletrônicos digitais trocam informações ou realizam
operações matemáticas sempre com base nesses números.
O sistema numérico utilizado nesse caso é conhecido como binário, pois pos-
sui apenas dois algarismos: 0 e 1. A contagem é feita de forma semelhante ao
sistema decimal, ou seja, quando um dígito estoura a capacidade dos algarismos,
a contagem reinicia em zero e um novo dígito é acrescentado à esquerda.
Podemos observar um exemplo de contagem binária na figura 54.

0
À medida que
1 estoura a
10 capacidade,
11 novos dígitos
100 são adicionados
101 à esquerda
110
111
1000
..
.

Figura 55 -  Contagem no sistema numérico binário


Fonte: SENAI-SP (2013)
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
95

Os números binários podem ser convertidos em decimais e vice-versa. Des-


se modo, um determinado número binário sempre tem um equivalente decimal.
Podemos utilizar uma tabela, como apresentado a seguir, para relacionar os dois
sistemas numéricos. Veja que ambos iniciam a contagem juntos, a partir do zero.
Os números que aparecem na mesma linha são equivalentes, ou seja, têm o mes-
mo valor, mas em sistemas numéricos diferentes.

número número
decimal binário
0 0
1 1
2 10
3 11
4 100
5 101
6 110
7 111
8 1000
9 1001
10 1010
Figura 56 -  Equivalência entre números decimais e binários
Fonte: SENAI-SP (2013)

A figura 55 nos mostra o início da contagem dos dois sistemas de numeração


e torna mais fácil observar a equivalência entre eles. Mas você já pensou como
seria converter um número bem maior? Suponha que deseje converter o núme-
ro 512 em binário. Seria inviável construir uma tabela para fazer a equivalência.
Por isso, existem métodos matemáticos para fazer a conversão, tanto de decimal
para binário como de binário para decimal. Aliás, muitas calculadoras são capazes
de fazer essa conversão. A calculadora existente em alguns computadores possui
esse recurso, como podemos observar na figura a seguir.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
96

número 5,
em decimal

indicação
de número
decimal

número 101
em binário,
que vale 5
ao clicar na
indicação de
número binário,
o número
exibido na
calculadora é
automaticamente
convertido

Figura 57 -  Conversão de um número decimal para binário por meio de uma calculadora
Fonte: SENAI-SP (2013)

A forma de realizar a conversão varia conforme a calculadora. Consulte o ma-


nual de instruções da sua calculadora para saber se ela possui esse recurso e veja
como utilizá-lo.

A conversão do sistema decimal para binário e de binário para


SAIBA decimal pode ser feita manualmente, utilizando simples ope-
rações de divisões e multiplicações. Para conhecer esses méto-
MAIS dos, consulte o livro “Elementos de Eletrônica Digital”, de Ivan
Valeije Idoeta e Francisco Gabriel Capuano, da editora Érica.

Agora, observe um fato curioso: o número 100 em decimal vale 100, e o núme-
ro 100 em binário equivale ao número quatro em decimal. Embora sejam escritos
da mesma forma, os números podem representar valores completamente dife-
rentes, conforme o sistema de numeração. Como saber, então, se o número 100 é
binário ou decimal? Nesse caso, os números são acompanhados por um pequeno
número à sua direita, um pouco descolocado para baixo. Esse número indica a
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
97

base do sistema de numeração a que se refere. Assim, o número dois (2) indica
um número binário; e o número dez (10), um número decimal. Temos, portanto:
10010 = número decimal, que vale 100.
1002 = número binário, que vale quatro.
Sempre que o indicador de base for omitido, podemos considerar nosso siste-
ma de numeração padrão, que é o decimal. Nesse caso, ficaria assim:
100 = número decimal, que vale 100.
1002= número binário, que vale quatro.
Finalmente, vale citar que, no sistema de numeração binário, é comum a uti-
lização de zeros à esquerda. Embora matematicamente eles não tenham valor,
em eletrônica costumam ser representados de acordo com a quantidade de bits.
Dessa maneira, se um número tem quatro bits, todos os quatro serão indicados,
mesmo que valham zero. Veja alguns exemplos:
4 bits: 00002=0
8 bits: 001011012=45
16 bits: 00000111110101012 = 2.005

No sistema de múltiplos e submúltiplos, a letra K vale


VOCÊ 1.000. Em eletrônica digital, porém, a letra K vale 1.024.
SABIA? Isso equivale a um sistema binário de dez bits, que tota-
liza 1.024 possibilidades.

7.2.3 SISTEMA DE NUMERAÇÃO HEXADECIMAL

Já vimos que os equipamentos eletrônicos digitais utilizam o sistema numérico


binário, pois reconhecem apenas zeros e uns. Ocorre, porém, que a representação
de números com muitos bits pode ser complicada para nós. O excesso de números
pode dificultar a visualização e a compreensão de um cálculo, por exemplo.
Por outro lado, o sistema de numeração decimal também não é o ideal, pois
a quantidade de dígitos não tem correlação com a quantidade de bits. Veja: o
número 15 é igual a 11112. Os dois dígitos decimais equivalem a quatro binários.
O número 99 é igual a 11000112. Ainda com dois dígitos decimais, chegamos a
sete binários. Essa disparidade faz com que seja difícil visualizar os limites de um
número binário, ou seja, ao observar o número decimal, é difícil enxergar se o
número ultrapassou a quantidade de combinações imposta pelo número de bits.
Para facilitar a escrita e a compreensão das operações numéricas no mundo
digital, a alternativa mais utilizada é o sistema de numeração hexadecimal, que
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
98

possui 16 algarismos. Assim, podemos representar um número binário de quatro


bits com um único dígito hexadecimal.
Como os algarismos numéricos que conhecemos são apenas dez, o sistema
hexadecimal utiliza números e letras.
Veja, na figura a seguir, a relação entre o sistema numérico decimal, hexadeci-
mal e binário. Observe o uso das letras A, B, C, D, E e F para representar os números.

decimal hexadecimal binário


0 0 0000
1 1 0001
2 2 0010
3 3 0011
4 4 0100
5 5 0101
6 6 0110
7 7 0111
8 8 1000
9 9 1001
10 A 1010
11 B 1011
12 C 1100
13 D 1101
14 E 1110
15 F 1111

Figura 58 -  Relação entre sistemas numéricos decimal, hexadecimal e binário


Fonte: SENAI-SP (2013)

Dessa forma, a contagem dos números no sistema hexadecimal é feita confor-


me ilustrado na figura a seguir.

..
.
7
8
9 A partir do 9, as
A letras representam
B os números
C
D
E
A letra F estoura
F
Novo dígito é a capacidade.
10 A contagem é
acrescentado
11 reiniciada em 0
..
.
Figura 59 -  Contagem no sistema numérico hexadecimal
Fonte: SENAI-SP (2013)
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
99

Assim como ocorre entre os sistemas de numeração binário e decimal, os nú-


meros hexadecimais também podem ser convertidos para outros sistemas numé-
ricos. Isso pode ser feito por meio de métodos matemáticos ou com o auxílio de
uma calculadora que disponha desse recurso.
Veja um exemplo, na figura 59, que utiliza a calculadora disponível em alguns
computadores.

número
hexadecimal

indica o
sistema
numérico
hexadecimal

número
binário
convertido

ao clicar
no sistema
numérico
desejado, o
número é
automaticamente
convertido

Figura 60 -  Conversão de um número hexadecimal em binário com o uso de uma calculadora


disponível em alguns computadores
Fonte: SENAI-SP (2013)

A conversão entre os principais sistemas numéricos pode


ser feita manualmente, utilizando métodos matemáticos
SAIBA relativamente simples. Para conhecê-los, consulte os livros
MAIS “Elementos de Eletrônica Digital”, de Ivan Valeije Idoeta e
Francisco Gabriel Capuano, da editora Érica, e “Eletrônica Di-
gital”, de Mairton Melo, da editora Makron Books.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
100

Para identificar um número hexadecimal, utilizamos o número 16 no indicador


de base. Assim, temos:
10010 ou 100 = número decimal, que vale 100.
1002 = número binário, que vale quatro.
10016 = número hexadecimal, que vale 256.
Outra forma de identificação, que é mais utilizada na programação de softwa-
res, é escrever o número hexadecimal precedido de zero (0) e xis (x). Temos, ainda,
casos em que a letra H aparece como indicador de base. Veja alguns exemplos:
0xFF = FF16
0x10 = 1016
3FH = F16
Agora que você conhece os principais sistemas de numeração utilizados em
eletrônica digital, vamos falar sobre o princípio básico dos circuitos digitais, que
são as portas lógicas.

7.3 PORTAS LÓGICAS

Até este tópico falamos sobre as diferenças entre os sinais elétricos analógicos
e digitais. Vimos que os equipamentos eletrônicos digitais comunicam-se apenas
por meio de zeros e uns, e conhecemos os principais sistemas de numeração uti-
lizados na área.
A partir de agora, vamos conhecer a base, a origem dos sistemas eletrônicos
digitais: as portas lógicas. Tudo o que conhecemos hoje em eletrônica digital, de
alguma forma, se deve ao principio lógico que essas portas realizam. São opera-
ções que, baseadas nos níveis lógicos aplicados nas entradas, decidem qual será
o nível lógico da saída. Essa decisão depende do tipo de porta. Estudaremos as
seguintes portas lógicas: OU, E, INVERSORA, NOU, NE, OU EXLUSIVO e NOU EX-
CLUSIVO ou COINCIDÊNCIA.
Os primeiros circuitos eletrônicos digitais eram constituídos apenas por portas
lógicas. Atualmente, circuitos integrados mais sofisticados realizam a maior parte
das funções, como é o caso dos microcontroladores. Mesmo assim, as portas lógi-
cas ainda são utilizadas em alguns circuitos.
É importante que você conheça o princípio de funcionamento das portas lógi-
cas, pois, assim, é possível fazer testes e diagnosticar falhas/defeitos em circuitos
integrados com bases em portas lógicas. Falaremos um pouco mais sobre esses
circuitos integrados mais à frente, ainda neste capítulo.
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
101

Para facilitar o estudo, a relação entre os níveis lógicos de entrada e saída são
disponibilizados em forma de tabela, conhecida como tabela verdade. Essa ta-
bela indica o resultado ou a saída de um circuito digital qualquer em função das
entradas. Assim, a tabela verdade pode representar uma porta lógica ou qualquer
circuito digital que tenha sua saída alterada em decorrência das entradas.

7.3.1 PORTA LÓGICA OU

A porta lógica OU (OR, em inglês) faz com que sua saída seja colocada em nível
lógico 1, quando qualquer uma das entradas estiver em nível lógico 1.
Veja o símbolo da porta OU.

Símbolo Norma

IEEE Std 91

>1
IEC 60617

Figura 61 -  Símbolo da porta lógica OU


Fonte: SENAI-SP (2013)

No símbolo, as entradas aparecem à esquerda e a saída, à direita. A quantidade


de entradas pode variar.
Na tabela a seguir, apresentamos a tabela verdade para uma porta lógica OU
de duas entradas. Observe que a saída é 0 apenas quando as duas entradas tam-
bém forem 0. Note ainda que a saída é 1, se qualquer uma das entradas estiver
com nível lógico 1.

Tabela 1 - Tabela verdade de uma porta lógica OU de duas entradas


ENTRADA A ENTRADA B SAÍDA
0 0 0
0 1 1
1 0 1
1 1 1
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
102

7.3.2 PORTA LÓGICA E

A porta lógica E (AND, em inglês) tem sua saída em nível lógico 1 apenas quan-
do todas as entradas estiverem em nível lógico 1.
Veja o símbolo da porta lógica E.

Símbolo Norma

IEEE Std 91

&
IEC 60617

Figura 62 -  Símbolo da porta lógica E.


Fonte: SENAI-SP (2013)

A quantidade de entradas também pode variar, mas utilizamos uma porta de


duas entradas como exemplo. Para visualizar melhor a lógica de funcionamento,
vamos recorrer novamente à tabela verdade, conforme podemos observar na ta-
bela 2, apresentada a seguir. Note que a saída é 1 apenas quando todas as entra-
das também forem 1.

Tabela 2 - Tabela verdade de uma porta lógica E de duas entradas


ENTRADA A ENTRADA B SAÍDA
0 0 0
0 1 0
1 0 0
1 1 1
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
103

7.3.3 PORTA LÓGICA INVERSORA

A porta lógica INVERSORA (INVERTER, em inglês), também conhecida como


porta lógica NÃO (NOT, em inglês), possui apenas uma entrada e uma saída.
Veja o símbolo da porta lógica INVERSORA.

Símbolo Norma

IEEE Std 91

1
IEC 60617

Figura 63 -  Símbolo da porta lógica INVERSORA


Fonte: SENAI-SP (2013)

O objetivo dessa porta lógica, como o nome sugere, é inverter o sinal de entra-
da. Assim, se a entrada estiver com nível lógico 0, a saída é 1. Caso a entrada esteja
em nível lógico 1, a saída é 0. A lógica de funcionamento pode ser observada na
tabela verdade, a seguir.

Tabela 3 - Tabela verdade de uma porta INVERSORA


ENTRADA SAÍDA
0 1
1 0

7.3.4 PORTA LÓGICA NOU

A porta lógica NOU (NOR ou NOT OR, em inglês) é a junção de uma porta OU e
uma porta INVERSORA na saída, ou seja, temos o funcionamento de uma porta OU
com a saída invertida. Veja a seguir o símbolo de uma porta lógica NOU. Observe o
pequeno círculo existente na saída da porta. Ele representa a porta inversora.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
104

Símbolo Norma

IEEE Std 91

>1
IEC 60617

Figura 64 -  Símbolo da porta lógica NOU


Fonte: SENAI-SP (2013)

A tabela verdade seguinte ilustra o funcionamento de uma porta lógica NOU.


Note que o comportamento da saída é exatamente o inverso de uma porta OU.

Tabela 4 - Tabela verdade de uma porta lógica NOU de duas entradas


ENTRADA A ENTRADA B SAÍDA
0 0 1
0 1 0
1 0 0
1 1 0

7.3.5 PORTA LÓGICA NE

A porta lógica NE (NAND ou NOT AND, em inglês) é uma combinação da porta


lógica E com uma porta INVERSORA na saída.
Note que, no símbolo da porta NE, novamente há o pequeno círculo na saída,
o qual representa a porta INVERSORA.
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
105

Símbolo Norma

IEEE Std 91

&
IEC 60617

Figura 65 -  Símbolo da porta lógica NE


Fonte: SENAI-SP (2013)

A tabela verdade representada a seguir demonstra o funcionamento de uma


porta lógica NE. Note que o funcionamento é o inverso de uma porta E.

Tabela 5 - Tabela verdade de uma porta lógica NE de duas entradas


ENTRADA A ENTRADA B SAÍDA
0 0 1
0 1 1
1 0 1
1 1 0

7.3.6 PORTA LÓGICA OU EXLUSIVO

A porta lógica OU EXCLUSIVO (XOR ou eXclusive OR, em inglês) tem sua saída
em nível lógico 1 quando as entradas estiverem com valores diferentes entre si.
Assim, se as entradas forem iguais, a saída é 0.
Veja o símbolo da porta lógica OU EXCLUSIVO.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
106

2 ASSÍNCRONO
Símbolo Norma
É o que não ocorre ou não
se efetiva ao mesmo tempo.
Para o caso dos flip-flop,
significa dizer que os sinais IEEE Std 91
de entrada e saída não
dependem de nenhum
outro tipo de sinal para
funcionar.
=1
IEC 60617

3 SÍNCRONO

Figura 66 - Símbolo da porta lógica OU EXCLUSIVO


É o que ocorre ao mesmo
Fonte: SENAI-SP (2013)
tempo. Para o caso dos flip-
flop, significa dizer que os
sinais de entrada precisam
de um sinal de controle
Veja, a seguir, a tabela verdade da porta lógica OU EXCLUSIVO.
aplicado ao mesmo tempo.
A saída é alterada pelo
sincronismo entre os sinais Tabela 6 - Tabela verdade da porta lógica OU EXCLUSIVO
de entrada e o de controle.
ENTRADA A ENTRADA B SAÍDA
0 0 0
0 1 1
⁴ CLOCK 1 0 1
1 1 0
É um sinal elétrico digital
em forma de pulsos, que
serve como parâmetro
de sincronização para os
circuitos eletrônicos digitais 7.3.7 PORTA LÓGICA NOU EXCLUSIVO OU COINCIDÊNCIA
que dependem desse
recurso.
A porta lógica NOU EXCLUSIVO (XNOR ou eXclusive Not OR, em inglês), tam-
bém conhecida como COINCIDÊNCIA, faz a operação inversa da porta lógica OU
EXCLUSIVO. Isso se deve à porta inversora acoplada em sua saída, representada
no símbolo pelo pequeno círculo. Veja o símbolo da porta NOU EXCLUSIVO.

Símbolo Norma

IEEE Std 91

=1
IEC 60617

Figura 67 - Símbolo da porta lógica NOU EXCLUSIVO ou COINCIDENCIA


Fonte: SENAI-SP (2013)
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
107

A Tabela 7, a seguir, ilustra a tabela verdade da porta lógica NOU EXCLUSIVO


ou COINCIDÊNCIA. Note que o funcionamento é inverso ao de uma porta lógica
OU EXCLUSIVO.

Tabela 7 - Tabela verdade de uma porta lógica NOU EXCLUSIVO


ou COINCIDÊNCIA
ENTRADA A ENTRADA B SAÍDA
0 0 1
0 1 0
1 0 0
1 1 1

7.4 FLIP-FLOP

Os flip-flop são circuitos que servem de base para vários dispositivos digitais,
principalmente em memórias e contadores. Possuem duas saídas que se comple-
mentam, ou seja, uma é sempre o inverso da outra, as quais são conhecidas como
Q e Q (lemos “Q barra”).

Em eletrônica digital, o uso de uma barra sobre uma


VOCÊ letra representa um valor invertido. Esse artifício é uti-
SABIA? lizado para demonstrar que uma saída tem nível lógico
inverso da outra.

Os flip-flop se dividem em dois grupos: assíncronos e síncronos.


Os modelos assíncronos são mais simples, pois dependem apenas da com-
binação dos sinais de entrada para funcionar. Já os modelos síncronos são se-
melhantes aos assíncronos, porém mais sofisticados. Além dos sinais de entra-
da, dependem de um pulso de sincronização conhecido como clock. Os flip-flop
síncronos são a evolução dos assíncronos.
Existem alguns tipos diferentes de flip-flop, e os mais conhecidos são: RS, T, D e JK.
Como nosso objetivo é apresentar o funcionamento básico de um flip-flop, va-
mos nos ater ao tipo RS assíncrono, que é o mais simples.
Observe o circuito que representa esse tipo de flip-flop. Veja que ele é compos-
to de duas portas lógicas INVERSORAS e duas NE.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
108

S
Q

Q
R

Figura 68 -  Circuito de um flip-flop do tipo RS assíncrono


Fonte: SENAI-SP (2013)

A principal característica de um flip-flop do tipo RS assíncrono é que sua saída


é alterada conforme um sinal de entrada aplicado na entrada S (abreviação do
inglês, Set, que neste contexto significa “fixar”), e permanece nesse estado até que
um sinal seja aplicado em R (abreviação do inglês, Reset, que significa “reiniciar”).
De certa forma, podemos dizer que a saída do flip-flop armazena a informação
disponibilizada na entrada e só retorna ao estado inicial após o reset.
Veja, a seguir, a tabela verdade do flip-flop do tipo RS assíncrono. Observe que
existe uma condição que não é permitida.

Tabela 8 - Tabela verdade de um flip-flop do tipo RS


S R Q Q
0 0 Não muda Não muda
0 1 0 1
1 0 1 0
1 1 Não permitido Não permitido

Quando as entradas então em nível lógico 0, não há qualquer alteração nas


saídas, ou seja, ambas permanecem no estado anterior.
Com as duas entradas em nível lógico 1, as saídas estão em uma situação instá-
vel, de forma que as duas ficam em nível lógico 1. Essa condição não é permitida
para o funcionamento de um flip-flop do tipo RS e, por isso, nunca deve ser aplicada.
Assim como as portas lógicas, os flip-flop podem ser encontrados em alguns
circuitos integrados. Falaremos sobre os circuitos integrados a seguir, quando es-
tudaremos as famílias lógicas.
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
109

7.5 FAMÍLIAS LÓGICAS

Como falamos há pouco, as portas lógicas e os flip-flop podem estar contidos


em circuitos integrados. Logo, encontramos circuitos integrados específicos para
cada porta lógica e até mesmo para cada flip-flop, ou seja, existem circuitos inte-
grados que contêm portas OU, outros portas E, e assim sucessivamente.
Os circuitos integrados que realizam essas funções são divididos em vários
grupos, conhecidos como famílias lógicas. O princípio de funcionamento das
portas lógicas ou dos flip-flop não se altera em função da família lógica. A diferen-
ça está na tecnologia de construção dos circuitos integrados, que traz mudanças
na tensão de operação, no consumo e em outras características.
As principais famílias lógicas são: TTL e CMOS. Estudaremos, a partir de agora,
cada uma delas.

7.5.1 FAMÍLIA TTL

A sigla TTL vem do inglês Transistor-Transistor Logic, ou lógica transistor-tran-


sistor, em português. Significa que, internamente ao circuito integrado, a lógica
de funcionamento é baseada em transistores bipolares, ou seja, um arranjo de
vários transistores garante o funcionamento das portas lógicas que estudamos.
Essa família é pioneira e foi muito utilizada ao longo dos anos. Foi também
uma das primeiras a disponibilizar portas lógicas e circuitos derivados em séries
comerciais, facilmente encontradas no mercado.
Os circuitos integrados dessa família são produzidos em duas séries comer-
cias: 74XXX e 54XXX. A série 74 é a mais comum, para uso geral. A série 54 pode
funcionar em condições mais severas de temperatura, pois foi desenvolvida para
fins militares. No mercado, as letras X, que aparecem após a identificação da série
dão lugar aos diversos números encontrados comercialmente, os quais indicam a
função do circuito integrado.
Veja um exemplo na figura 68. Observe como as portas lógicas são disponibili-
zadas internamente no circuito integrado. Os blocos representam circuitos de 14
terminais.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
110

VCC B4 A4 Y4 B3 A3 Y3 VCC B4 A4 Y4 B3 A3 Y3
14 13 12 11 10 9 8 14 13 12 11 10 9 8

1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7
B1 B1 Y1 A2 B2 Y2 GND B1 B1 Y1 A2 A2 Y2 GND
circuito integrado 7408: TTL com 4 portas lógicas E circuito integrado 7432: TTL com 4 portas lógicas OU

Figura 69 -  Exemplos de circuitos integrados da série 74


Fonte: SENAI-SP (2013)

Para funcionar, o circuito precisa de alimentação elétrica. Observe que, além


dos terminais reservados para a porta lógica, existem mais dois, que são conec-
tados à fonte de alimentação. Nos circuitos integrados da figura anterior, são os
terminais 7 (GND) e 14 (VCC).
A tensão de operação da família TTL é de 5 V, com 5% de tolerância para a série
74 e 10% para a série 54. Tensões inferiores à tolerância não garantem o perfeito
funcionamento, e superiores podem danificar o circuito integrado.
Por fim, vale citar que existem algumas variações nas séries 74 e 54 que se di-
ferenciam, principalmente, pelo consumo de potência e pela velocidade, que é o
tempo de atraso entre entrada e saída.
Veja, na tabela 9, as principais versões comerciais da família TTL.

Tabela 9 - Principais versões comerciais da família TTL


CONSU-
IDENTIFI- FREQUÊNCIA DE
TEMPO DE MO DE
VERSÃO CAÇÃO DA CLOCK MÁXIMA OBSERVAÇÕES
ATRASO POTÊN-
SÉRIE PARA FLIP-FLOP
CIA

Standard 54/74 10 ns 10 mW 35 mHz Comum

Low power 54L/74L 33 ns 1 mW 3 mHz Baixíssima potência

High speed 54H/74H 6 ns 22 mW 50 mHz Alta velocidade

Altíssima veloci-
Schottky 54S/74S 3 ns 19 mW 125 mHz
dade
Altíssima velo-
Advanced
54AS/74AS 1,5 ns 8,5 mW 200 mHz cidade e baixo
Schottky
consumo
Low power Baixíssimo con-
54LS/74LS 10 ns 2 mW 45 mHz
Schottky sumo
Advanced Altíssima veloci-
low power 54ALS/74ALS 4 ns 1 mW 70 mHz dade e baixíssimo
Schottky consumo
Fonte: IDOETA; VALEIJE; CAPUANO, 1998, p. 455.
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
111

7.5.2 FAMÍLIA CMOS

A sigla CMOS vem do inglês Complementary MOS, ou MOS complementares,


em português. Significa que os circuitos são construídos a partir de transistores
MOSFET complementares, os quais são estruturas formadas por transistores MOS-
FET do tipo N e do tipo P, que se complementam entre si.
A família CMOS é mais moderna que a TTL e apresenta várias vantagens. Veja
as principais.
a) Maior capacidade de saída: a saída de um CMOS pode ser conectada a uma
quantidade maior de circuitos integrados. Toda porta lógica possui um limi-
te de saída, conhecido como fan out (feixe de saída, em português). Assim,
a família CMOS tem fan out superior à família TTL.
b) Baixo consumo: os circuitos integrados CMOS consomem muito menos
energia que os do tipo TTL.
c) Alta imunidade a ruídos elétricos: ruídos elétricos são capazes de causar
mau funcionamento dos circuitos integrados, fazendo com que as saídas
trabalhem de maneira errada. Os CMOS sofrem menos com esse problema.
d) Diferentes tensões de trabalho: enquanto os circuitos integrados TTL ope-
ram apenas com 5 V, os CMOS são bem mais flexíveis, podendo trabalhar
com tensões entre 1 V e 15 V.

Existem diferentes séries para os circuitos integrados do


FIQUE tipo CMOS. A tensão de trabalho varia de uma série para
ALERTA outra, por isso, é importante verificar no datasheet os
limites de tensão antes de realizar testes em CMOS.

As séries comerciais disponíveis para os CMOS são: 4000A, 4000B, 54C/74C,


74HC e 74HCT. As séries 54/74 na versão CMOS possuem pinagem semelhante
aos TTL, facilitando o intercâmbio de uma tecnologia para outra.
As principais diferenças de uma série CMOS para outra estão na tensão de
alimentação e velocidade.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
112

7.6 POSSÍVEIS FALHAS

A quantidade de portas lógicas, de flip-flop e de famílias lógicas existentes cria


uma combinação de características muito grande, o que dificulta a previsão das
principais falhas que podem ser encontradas. Na verdade, isso não é problema,
pois a maneira mais eficiente para diagnosticar falhas e defeitos em circuitos lógi-
cos dessa natureza é realizando testes de funcionamento. Assim, você deve medir
os níveis lógicos aplicados nas entradas e nas saídas e verificar se o comporta-
mento é condizente com a operação da porta lógica que está testando. Por essa
razão, é importante conhecer o princípio lógico de funcionamento de cada porta.
Além disso, você precisa saber que, para realizar testes em portas lógicas, as
entradas não podem estar soltas, desconectas. Isso pode causar um estado lógico
indefinido, conhecido como tri-state (terceiro estado, em português). Significa
que a entrada não está em nível lógico 0 nem em nível lógico 1. O comportamen-
to da saída, nesse estado, pode ser diferente em cada família lógica. Assim, tenha
certeza de que as entradas estejam conectadas ao positivo ou ao negativo da
fonte, conforme o nível lógico desejado.
Além disso, as diferenças que apontamos entre as famílias lógicas indicam que,
embora o funcionamento de uma porta lógica seja sempre o mesmo, outras carac-
terísticas devem ser observadas, como é o caso da tensão de trabalho, do consumo
e da velocidade. Você deve estar atendo à tensão utilizada nos testes e, ao substi-
tuir um componente defeituoso, utilize outro com as mesmas características.
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
113

CASOS E RELATOS

Circuitos equivalentes
Ao realizar a manutenção em um circuito eletrônico digital, o técnico perce-
beu que o circuito integrado que gerenciava o acionamento de um peque-
no motor estava danificado. Tratava-se de um circuito integrado 74LS00.
Para detectar o defeito, o técnico consultou o datasheet e, ao verificar que
o circuito integrado era formado por portas lógicas NE, mediu as entradas
e logo percebeu que o nível lógico da saída era incompatível com os níveis
lógicos aplicados na entrada.
Ao procurar um substituto, porém, encontrou apenas o modelo 74L00. A
dúvida foi muito grande: será que é compatível? Resolveu, então, consul-
tar novamente o datasheet para comparar as diferenças entre o 74LS00 e
o 74L00. Percebeu que esse último consumia menos energia, mas era bem
mais lento que o original.
Para decidir se realizaria a troca pelo similar, observou o funcionamento do
circuito. No caso, o pequeno motor controlado pela porta lógica era acio-
nado em intervalos de 5 s. Como a velocidade do motor era sempre fixa,
percebeu que não havia PWM.
Com essa análise, chegou à conclusão de que a velocidade da porta lógica
não era importante nesse caso, pois o intervalo de 5 s era longo se compa-
rado com o tempo de atraso ocasionado pela velocidade da porta. Além
disso, a ausência de um PWM mostra que o motor não é acionado por pul-
sos, o que poderia precisar de velocidade no acionamento. Portanto, fez a
substituição e tudo funcionou perfeitamente.
Nesse caso, podemos concluir que analisar o funcionamento de um circui-
to pode ser determinante na manutenção. Se o técnico não fizesse isso, o
equipamento iria permanecer inoperante até a chegada da nova peça. Mas
vale citar que é muito importante analisar com cuidado e fazer testes após
o reparo, para ter certeza de que tudo esteja funcionando perfeitamente.
Além disso, o tipo de equipamento também deve ser considerado, afinal,
jamais podemos correr riscos, ao substituir um componente de um equi-
pamento, que pode comprometer a saúde ou a segurança de uma pessoa,
por exemplo.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
114

RECAPITULANDO

Neste capítulo, conhecemos as diferenças entre sinais elétricos analógicos


e digitais. Vimos que um sinal elétrico digital possui apenas dois níveis de
operação, conhecidos como nível lógico 0 e nível lógico 1 ou, ainda, nível
lógico baixo e nível lógico alto, respectivamente.
Vimos que cada sinal digital corresponde a um bit e que a quantidade de
bits está relacionada ao número de possibilidades ou à capacidade de um
sistema eletrônico digital.
Conhecemos os principais sistemas de numeração utilizados em eletrônica
digital: binário e hexadecimal. O sistema binário é formado apenas pelos
números, os quais representam os níveis lógicos; o sistema hexadecimal é
formado por 16 algarismos, constituído de números e letras.
Estudamos as portas lógicas e analisamos o princípio lógico de funciona-
mento de cada uma, por meio da tabela verdade. Da mesma forma, anali-
samos o funcionamento de um flip-flop do tipo RS assíncrono, que é o mais
simples deles.
Conhecemos as famílias lógicas TTL e CMOS e vimos que, embora o funcio-
namento lógico das portas seja preservado, existem outras características
que devem ser observadas, tais como tensão de trabalho e velocidade.
Por fim, verificamos que a melhor forma para diagnosticar uma falha ou um
defeito em portas lógicas é realizando testes de funcionamento.
7 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS DIGITAIS
115

Anotações:
Microcontrolador

Neste capítulo, estudaremos um circuito integrado muito comum nos equipamentos ele-
trônicos modernos, conhecido como microcontrolador. Veremos que os microcontroladores
estão presentes nos mais variados tipos de equipamentos, desde brinquedos inteligentes até
centrais de alarme.
Você constatará que a inteligência e as funções realizadas por esses equipamentos se de-
vem justamente aos microcontroladores.
Por isso, nos dias de hoje é muito provável que, ao fazer a manutenção em um equipamento
eletrônico, você se depare com um circuito integrado desse tipo.
Ao final deste capítulo, você terá subsídios para:
a) reconhecer o princípio básico de funcionamento dos microcontroladores;
b) identificar as portas de entrada e de saída de um microcontrolador;
c) localizar e reparar falhas e defeitos em circuitos eletrônicos microcontrolados.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
118

8.1 FINALIDADE

Não é de hoje que podemos notar a grande quantidade de funções que os


equipamentos eletrônicos possuem. Desde um forno de micro-ondas, que per-
mite o acesso a vários recursos por meio de um teclado, até uma máquina de
refrigerantes, que reconhece o valor de uma cédula, devolve troco e ainda lhe en-
trega o produto escolhido, tudo de forma automática. O controle, considerado o
cérebro dessas funções, é feito por um único circuito integrado conhecido como
microcontrolador.
Com o avanço da tecnologia, a capacidade dos microcontroladores vem au-
mentando, permitindo que um número maior de funções seja executado e com
mais velocidade. Além disso, os microcontroladores estão cada vez menores e
mais baratos.
O preço desse componente varia de acordo com a capacidade, já que há mi-
lhares de configurações e existem vários fabricantes no mercado. Mas, para que
você tenha uma ideia, alguns modelos custam menos de US$ 1,00. Tudo isso faz
com que os microcontroladores estejam presentes em quase todos os equipa-
mentos eletrônicos atuais.
Veja alguns exemplos de onde eles são usados.
a) Televisores: ajustar o volume, sintonizar os canais, processar informações
recebidas do controle remoto e muitas outras funções.
b) Automóveis: controlar com precisão a quantidade de combustível necessá-
ria para o motor funcionar, na injeção eletrônica de combustível.
c) Centrais de alarme: monitorar sensores, ativar sirenes, verificar senhas de
acesso e outras funções.
d) Elevadores: controlar acionamento dos motores, abertura das portas, indi-
cação dos andares e outras funções.
Como podemos ver, o número de aplicações dos microcontroladores é muito
grande e, certamente, seu uso tende a ser cada vez mais frequente.

8.2 FUNCIONAMENTO

O que mais chama a atenção nos microcontroladores é a quantidade de fun-


ções que são capazes de desempenhar.
Mas como pode um mesmo circuito integrado executar tantas atividades di-
ferentes?
8 MICROCONTROLADOR
119

O segredo dos microcontroladores está no fato de que não dependem apenas


do hardware, ou seja, do circuito eletrônico em si, mas também do software - um
programa que passa todas as diretrizes sobre como ele deve funcionar. Isso traz
uma flexibilidade muito grande ao componente, pois um mesmo hardware pode
desempenhar diferentes funções simplesmente substituindo o software.

Em um microcontrolador, o software pode ser chamado


VOCÊ de firmware. Esse termo é utilizado para se referir a soft-
wares embutidos em equipamentos eletrônicos e que
SABIA? sofrem poucas atualizações no decorrer de sua vida útil,
como acontece com os televisores por exemplo.

Nos microcontroladores, o hardware está incorporando cada vez mais recur-


sos, integrando funções que, antes, dependiam de circuitos externos adicionais.
Como exemplo, podemos citar os conversores A/D. A maioria dos microcontrola-
dores atuais possui essa funcionalidade integrada, o que não ocorria antes. Além
dessa, podemos citar outras funções, como comunicação USB e PWM.
Além das funções internas, os microcontroladores possuem outros recursos,
os quais diferenciam um modelo do outro. Os principais são: frequência de traba-
lho e quantidade de memória.
A frequência, conhecida como clock, determina a velocidade de funcionamen-
to, de modo que microcontroladores mais velozes possuem frequências maiores.
O clock é um sinal elétrico essencial para o funcionamento de um microcon-
trolador. Na maioria dos casos, ele é gerado com o auxílio de um cristal quartzo,
também chamado apenas de cristal, que é um componente eletrônico acoplado
ao microcontrolador. Há casos em que o clock é gerado internamente no micro-
controlador, mas, como o cristal permite frequências maiores e melhor confiabili-
dade, é mais utilizado. Assim, a frequência é determinada pelo cristal e é indicada
no encapsulamento.
A figura a seguir ilustra os modelos mais comuns de cristal. A funcionalidade é
a mesma. A diferença entre eles está no tamanho e no preço.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
120

Cristal de 12 Mhz.
Observe a inscrição
no encapsulamento

Figura 70 -  Diferentes tipos de cristais de quartzo


Fonte: SENAI-SP (2013)

A memória é outro recurso importante dos microcontroladores. Existem dois


tipos: RAM e ROM.
a) Memória RAM: do inglês, Random Acess Memory, ou memória de acesso
aleatório, em português. Também chamada de memória de dados, serve
de apoio para os programas, ou seja, é utilizada como uma espécie de ras-
cunho para guardar informações momentâneas de funcionamento, como
o resultado de um cálculo ou o valor obtido em uma conversão A/D. As in-
formações são mantidas apenas enquanto o circuito estiver energizado, ou
seja, ao desligá-lo elas são perdidas. Todos os microcontroladores possuem
certa quantidade desse tipo de memória, que varia de um microcontrola-
dor para outro.
b) Memória ROM: do inglês, Read Only Memory, ou memória apenas para lei-
tura, em português. Também chamada de memória de programa, serve
para armazenar o programa em si, ou seja, é a memória onde é gravado o
programa que define o funcionamento do microcontrolador. Dizer que a
memória ROM serve apenas para leitura significa que, durante o funcio-
namento, o microcontrolador apenas lê o seu conteúdo, não sendo possí-
vel gravar nada lá. As informações desse tipo de memória são preservadas
mesmo quando o circuito não está energizado. Atualmente, quase todos os
microcontroladores possuem a memória ROM integrada, mas nem sempre
foi assim. Antigamente, essa função era exercida por um circuito integrado
exclusivamente dedicado a isso, externo ao microcontrolador.
Para executar essa função, existem algumas tecnologias diferentes de me-
mória. A ROM é apenas uma delas e, como característica, o programa pode
ser gravado uma única vez, durante o processo de fabricação. Isso quer di-
zer que, caso o programa precise ser atualizado, a memória deve ser subs-
tituída. Atualmente, a mais utilizada é a EEPROM, também conhecida como
memória flash. Esse tipo de memória pode ser reprogramado várias vezes
e encontra-se incorporado à maioria dos microcontroladores atuais.
8 MICROCONTROLADOR
121

Para conhecer outros tipos de memórias e saber como fun-


SAIBA cionam, consulte o livro “Eletrônica Digital: Teoria e La-
MAIS boratório”, de Paulo Alves de Garcia e José Sidnei Colombo
Martini, da editora Érica.

O conjunto de funções e recursos internos de um microcontrolador é conhe-


cido como arquitetura. Normalmente, a arquitetura interna é representada por
meio de diagramas em blocos, que podem ser encontrados no datasheet do mi-
crocontrolador.
Veja, na figura a seguir, o diagrama que representa a arquitetura interna de um
microcontrolador. Cada bloco indica uma função ou um recurso que ele dispõe.
Como mantenedor, não é necessário que você conheça a função de cada bloco. O
objetivo é que tenha uma ideia sobre a quantidade de recursos e funções que um
microcontrolador pode possuir.

VCC

RAM ADDR.
RAM FLASH
GND REGISTER

8 STACK PROGRAM
REGISTER ACC ADDRESS
POINTER REGISTER

BUFFER
TMP2 TMP1

PC
ALU INCREMENTER

INTERRUPT, SERIAL, PORT,


AND TIMER BLOCKS

PROGRAM
PSW COUNTER

TIMING INSTRUCTION
RST AND DPTR
REGISTER
CONTROL

PORT 1 PORT 3
ANALOG LATCH LATCH
COMPARATOR

OSC
PORT 1 DRIVERS PORT 3 DRIVERS

P1,0 - P1,7 P3,0 - P3,5 P3,7

Figura 71 -  Arquitetura interna de um microcontrolador do modelo AT89C2051


Fonte: SENAI-SP (2013)
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
122

Até aqui, nós vimos que os microcontroladores são capazes de executar inú-
meras funções, graças à quantidade de recursos incorporados em um único circui-
to integrado e ao modo de funcionamento programável, definido pelo software.
Você já parou para pensar em como as informações entram e saem dos micro-
controladores? Para isso, eles possuem portas de entrada e de saída conhecidas
como ports, em inglês, ou ainda I/O (Input/Output, em inglês, que significa “entra-
da/saída”, em português). Essas portas são disponibilizadas em vários terminais
do microcontrolador, e a quantidade varia conforme o modelo. As portas podem
exercer as seguintes funções.
a) Entrada digital: é uma porta por onde um microcontrolador recebe um
sinal elétrico digital, externo, proveniente de um sensor, uma tecla etc. Veja
um exemplo na figura 71, em que uma tecla é usada para enviar um sinal
digital ao microcontrolador.

5V

1 - Com o botão em repouso, a


R1 corrente passa por R1,
10K garantindo nível lógico 1

A2 A1
A3 A0
CH1 A4 A7
R A5
PIC - 18

V- +V
B0 B7
B1 B6
2 - Ao pressionar a B2 B5
B3 B4
tecla CH1, nível lógico
0 é aplicado à porta A2
CI1
Figura 72 -  Tecla atuando como entrada digital de um microcontrolador
Fonte: SENAI-SP (2013)

b) Entrada analógica: para os microcontroladores equipados com converso-


res A/D, um sinal elétrico analógico, externo, chega ao microcontrolador
através dessa porta. Por meio de software, o valor é lido e convertido inter-
namente para digital. Veja, na figura 72, como um LDR pode fornecer um
sinal analógico ao microcontrolador.
8 MICROCONTROLADOR
123

5V

A tensão varia conforme a luz sobre


o LDR, fornecendo um sinal elétrico
R1 analógico ao microcontrolador

A2 A1
A3 A0
A4 A7
R A6
PIC - 18

V- +V
R2 B0 B7
10K B1 B6
B2 B5
B3 B4

CI1

Figura 73 -  LDR atuando como sensor analógico de um microcontrolador


Fonte: SENAI-SP (2013)

c) Saída digital: quando um microcontrolador precisa ativar um dispositivo


externo qualquer, o sinal é enviado através dessa porta. Assim, ela pode ser
conectada a um circuito de potência para acender lâmpadas, acionar moto-
res, tocar sirenes etc. A figura 73 traz um exemplo de uma saída digital que
faz o acendimento de uma lâmpada de 220 VAC por meio de uma interface
de potência.

O microcontrolador
envia um sinal para
a interface de potência interface de
acender a lâmpada potência AC
A2 A1
A3 A0
A4 A7
R A6
+
PIC - 18

V- +V V1
B0
B1
B7
B6 BL1 220 V/60 Hz
B2 B5
B3 B4

CI1
Figura 74 -  Saída digital ativando uma lâmpada
Fonte: SENAI-SP (2013)
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
124

1 FILTRO DE LINHA d) Saída analógica: para os microcontroladores equipados com conversores


D/A, uma informação digital pode ser convertida para um sinal analógico,
Dispositivo que elimina
ou reduz a interferência por meio de software, e disponibilizada através dessa porta. Assim, é possí-
dos ruídos elétricos vel utilizar dispositivos que funcionam essencialmente com sinais analógi-
provenientes da rede de
alimentação. Ao invés cos, como é o caso de um alto-falante, por exemplo.
de serem conectados
diretamente à tomada,
os equipamentos são
conectados ao filtro de O microcontrolador amplicador de
linha, que funciona como
intermediário entre a rede envia um sinal analógico áudio
elétrica e o equipamento. para reproduzir sons
A2 A1
A3 A0
A4 A7
R A6
PIC - 18

V- +V alto-falante
B0 B7
B1 B6
B2 B5
B3 B4

CI1
Figura 75 -  Funcionamento de um alto-falante.
Fonte: SENAI-SP (2013)

Vale dizer que a maioria dos microcontroladores não possui saídas analógicas.
Para realizar essa função, circuitos eletrônicos externos ao microcontrolador cos-
tumam ser utilizados.
Uma única porta pode exercer qualquer uma das quatro funções, de acordo
com o modelo do microcontrolador e a configuração informada no software.
Por fim, vale citar que os microcontroladores possuem um recurso de reset,
que serve para reiniciar as operações. Embora seja opcional, muitos equipamen-
tos eletrônicos têm um botão para essa função. Ao pressioná-lo, o microcontro-
lador interrompe as atividades e reinicia as operações, como se o equipamento
fosse ligado naquele momento. O reset serve para recuperar o funcionamento
em caso de falhas/defeitos, ou como auxílio em testes, em que se faz necessário
observar o funcionamento em determinado momento de execução.

8.3 POSSÍVEIS FALHAS

As falhas encontradas em circuitos microcontrolados podem ter origem no


hardware ou no software. Vamos falar um pouco sobre suas principais causas e
origens. Acompanhe.
8 MICROCONTROLADOR
125

8.3.1 FALHAS DE SOFTWARE

Como o software define a sequência de operação do equipamento, não é raro


ocorrerem falhas de funcionamento ocasionadas por situações que não foram
previstas no software. Assim, correções e atualizações podem acontecer no de-
correr da vida útil de muitos equipamentos eletrônicos.
A criação de um software não costuma ser de responsabilidade de um
mantenedor. Geralmente, equipes de profissionais dedicados para elaboração de
software são os responsáveis por criá-lo e, quando necessário, corrigi-lo. Em Proje-
tos de Sistemas Eletrônicos, abordaremos a criação de software. Neste momento,
como mantenedor, você não precisa se preocupar com isso.
Embora não seja sua atribuição como mantenedor atuar na correção de sof-
tware, é seu dever mantê-lo atualizado, ou seja, garantir que o equipamento es-
teja com a última versão instalada. A causa da falha pode estar relacionada a um
problema conhecido e solucionado em uma nova versão. Portanto, a atualização
deve ser feita por você.
O modo como essa atualização é disponibilizada varia de um equipamento
para outro, mas, certamente, a versão do software possui uma identificação. Mui-
tos fabricantes disponibilizam as versões mais atuais e o procedimento de atua-
lização em seu site. Normalmente, a atualização é realizada por programas de
computador dedicados para essa função. Às vezes, é necessário um equipamento
para atuar na gravação ou um cabo de comunicação próprio para esse fim. Como
o procedimento varia bastante de um equipamento para outro, não é possível
descrevê-lo aqui. Mas não se preocupe: o procedimento só deve ser executado
com as orientações do fabricante, assim, as informações sobre como proceder
são fornecidas.

FIQUE Não execute uma atualização de software sem as orien-


tações do fabricante. Falhas na atualização podem dani-
ALERTA ficar o equipamento, deixando-o inoperante.

8.3.2 FALHAS DE HARDWARE

Como os microcontroladores não trabalham diretamente com altas potências,


não é muito comum haver falhas de hardware. Embora raras, as falhas acontecem.
Devido à quantidade de funções desempenhadas e às diferenças entre os mo-
delos, é muito difícil prever as falhas que podem ocorrer, mas podemos dar uma
ideia sobre como investigá-las.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
126

A maneira mais eficaz para pesquisar uma falha é conhecer como o


equipamento funciona. Veja: se uma lâmpada não acende no momento certo ou
se o acionamento de uma tecla não funciona, você pode investigar se as respec-
tivas portas no microcontrolador estão enviando o sinal para o acendimento da
lâmpada ou recebendo a informação da tecla. Isso pode ser feito medindo-se a
tensão em cada porta.
No caso da lâmpada, isso lhe dá subsídios para saber se o problema está na
ausência de sinal, caracterizado por uma possível falha no microcontrolador, ou
no circuito de potência, que recebe o sinal, mas não faz o acionamento.
Já para o exemplo do botão, você detecta se o microcontrolador está receben-
do a informação da tecla pressionada ou identifica uma falha no botão, fazendo
com que a informação não seja enviada.
O que você precisa saber é que, além das falhas propriamente ditas, problemas
podem ocorrer devido a influências externas, como ruídos elétricos ou oscilações
na tensão da rede elétrica. Os microcontroladores são muito sensíveis quanto à
alimentação elétrica. Portanto, quedas rápidas de energia elétrica, aquelas em
que a energia vai e volta em um instante, podem provocar mau funcionamento.
Nesses casos, o microcontrolador pode apresentar um comportamento total-
mente estranho ao funcionamento normal. Como exemplo, imagine um semáfo-
ro (em algumas regiões conhecido sinal, sinaleiro ou farol). As luzes podem acen-
der todas ao mesmo tempo ou, ainda, acender em uma sequência totalmente
diferente da normal. Geralmente, resetar o microcontrolador resolve o problema.
Além do funcionamento estranho, podem ocorrer casos em que o microcon-
trolador para de funcionar. Do mesmo modo, reiniciá-lo faz com que tudo volte
ao normal.
Ruídos elétricos provenientes de motores também podem ser prejudiciais. Fil-
tros de linha podem ajudar a remover ruídos elétricos indesejados.
Por fim, é necessário verificar as condições do aterramento, caso a tomada do
equipamento disponha de um. Um aterramento em más condições pode ser pre-
judicial, causando problemas semelhantes ao que descrevemos no exemplo do
semáforo. Para relembrar como fazer a verificação do aterramento, consulte o li-
vro “Instalações Elétricas Prediais”.
8 MICROCONTROLADOR
127

CASOS E RELATOS

E agora, o que eu faço?


No estacionamento de um grande shopping, um sistema automático micro-
controlado era responsável pela leitura dos tickets de estacionamento e libe-
ração da cancela. Ao detectar o pagamento, a cancela abria automaticamente.
Pela terceira vez na mesma semana, houve uma falha intermitente, que pa-
ralisou o sistema. Isso deixou o técnico intrigado, pois ele já havia atualizado
o firmware e substituído o microcontrolador duas vezes. Tudo parecia fun-
cionar muito bem, mas no dia seguinte o mesmo problema aparecia.
Após inúmeras tentativas, o técnico começou a pensar em outras coisas,
além do circuito eletrônico, que talvez pudessem interferir. Ao analisar a
situação, percebeu que o problema ocorria sempre após o almoço, por vol-
ta do mesmo horário. Resolveu entrevistar o segurança, que trabalhava no
local. Descobriu que, todos os dias, no horário do almoço, uma grande má-
quina de solda estava sendo utilizada no reparo dos portões. Resolveu vol-
tar ao local nesse horário, para acompanhar o funcionamento das cancelas.
No mesmo instante em que a máquina de solda foi acionada, o equipamen-
to das cancelas parou de funcionar.
O problema foi resolvido em conjunto com o eletricista do shopping, que,
após ser chamado, verificou um defeito no aterramento da tomada. Quan-
do a máquina de solda era ligada, uma grande quantidade de ruídos elétri-
cos chegava pelo aterramento, porque este estava fora das especificações.
Esse caso nos mostra que, para resolver um problema, muitas vezes, é ne-
cessário observar tudo o que acontece à volta. Nem sempre a situação a
ser resolvida está relacionada diretamente ao circuito eletrônico e, por isso,
fazer perguntas e levantar hipóteses sobre outras causas é essencial. Além
disso, o trabalho em equipe foi determinante para solucionar esse proble-
ma. Embora tivesse conhecimento para identificar a falha no aterramento,
o técnico não poderia interferir na rede elétrica do cliente e, assim, precisou
da ajuda de um eletricista.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
128

RECAPITULANDO

Neste capítulo, conhecemos o microcontrolador, que é um circuito integra-


do capaz de realizar muitas funções diferentes.
Vimos também que o funcionamento de um microcontrolador se divide
em duas partes: o hardware, que é o circuito eletrônico em si, e o software,
que é um programa que fornece as diretrizes de funcionamento.
Conhecemos ainda as portas de entrada e de saída, que são os terminais
do circuito integrado capazes de receber e enviar informações, tais como o
acionamento de uma tecla ou de um motor.
Aprendemos que a atualização do firmware é um procedimento importan-
te na manutenção, pois as versões mais recentes sempre trazem melhorias
que podem, inclusive, solucionar problemas.
E, por fim, observamos que os microcontroladores são muito sensíveis a os-
cilações de tensão da rede elétrica e ruídos elétricos e que esses problemas
podem causar um funcionamento inadequado do microcontrolador.
8 MICROCONTROLADOR
129

Anotações:
Fonte chaveada

Aprendemos, neste livro, que a fonte de alimentação linear é um circuito eletrônico que
converte a tensão alternada da rede elétrica para tensão contínua e, ainda, que reduz a tensão
para valores compatíveis com o equipamento que irá alimentar.
Neste capítulo, conheceremos a fonte de tensão chaveada, uma fonte de alimentação não
linear que é capaz de fornecer uma potência de saída bem maior, com tamanho físico bem
menor em relação às fontes lineares.
Assim, ao final deste capítulo, você terá subsídios para:
a) saber as diferenças entre uma fonte linear e uma fonte chaveada;
b) compreender o princípio de funcionamento de uma fonte chaveada;
c) identificar e solucionar as falhas em uma fonte chaveada.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
132

1 VDS 9.1 FINALIDADE


Tensão entre os terminais A fonte de alimentação chaveada é considerada não dissipativa, ou seja, gera me-
dreno (drain, em inglês) e
fonte (source, em inglês) do nos calor do que as fontes lineares. Desse modo, sua eficiência é maior do que das
transistor MOSFET.
lineares, chegando a 65% em projetos simples e até a 95% em projetos mais com-
plexos. Essa qualidade contribui para a redução de peso da fonte, custo e dimensões,
além de aumentar a confiabilidade e a segurança dos aparelhos eletrônicos.
Encontramos fontes de alimentação chaveadas em vários equipamentos, tais
como computadores pessoais, carregadores de celulares, equipamentos de áu-
dio, vídeo, fax, equipamentos médicos, equipamentos para telecomunicações,
carregadores de notebook e em muitos outros que fazem parte do nosso dia a dia.

9.2 FUNCIONAMENTO

Para entendermos como uma fonte chaveada é capaz de gerar menos calor,
vamos fazer uma comparação com a fonte linear, que estudamos no capítulo 2
deste livro.
A fonte de alimentação linear tem como componente ativo um regulador de
tensão, por exemplo, o LM7805, que tem a finalidade de manter a tensão de saída
constante. Nesse regulador, a tensão de entrada deve ser maior do que a de saída
para que o circuito possa funcionar corretamente. A diferença entre essas tensões
está retida sobre esse regulador. Como a corrente elétrica da carga circula através
do LM7805, a dissipação de potência é alta e isso contribui para uma baixa efi-
ciência e confiabilidade da fonte linear.
Observe, na figura 75, que a tensão no ponto A (entrada do regulador) é de 9
V e a tensão no ponto B (saída do regulador) é de apenas 5 V. A diferença entre os
pontos A e B é de 4 V e, ao circular uma corrente elétrica de 1,5 A, a dissipação de
calor no LM7805 é de 6 W.

6 W perdidos em forma de calor

9V 5V
F1 T1 I - 1,5 A
D3 D1 LM7805
entrada A B
C1 C2 + C3
AC carga
D2 D4

Figura 76 -  Dissipação de calor no regulador de tensão da fonte linear


Fonte: SENAI-SP (2013)
9 FONTE CHAVEADA
133

Agora, acompanhe o cálculo matemático da perda de potência no regulador


de tensão LM7805:

VAB= VA − VB
VAB = 9 − 5
VAB = 4 V

P VAB × I
=
P= 4 ×1,5
P = 6W

O princípio de funcionamento da fonte chaveada tem como base um transis-


tor trabalhando como chave. Como esse transistor opera apenas no corte ou na
saturação, a dissipação de calor por esse componente se torna nula.
Veja, na figura 76, que, se o transistor estiver na condição de saturado, a tensão
VDS será nula, logo não haverá dissipação de calor sobre o transistor MOSFET.

12 VCC
3 - A tensão
entre dreno 1 - O sinal de
IRL = 10 A controle ativa o
e fonte se
torna nula fototransistor
12 VCC
circuito de controle

R1

MOSFET
R2
VDS = 0 V
optoaclopador

R3 2 - O sinal enviado
pelo fototransistor
ativa o MOSFET
levando ele à
saturação

Figura 77 -  Esquema demonstrativo do transistor MOSFET quando saturado


Fonte: SENAI-SP (2013)

Acompanhe o exemplo a seguir para entender melhor a explicação.


Supondo que a corrente da carga IRL seja de 10 A, temos:

P VDS × I RL
=
P= 0 ×10
P = 0W
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
134

2 FILTRO Quando o transistor não recebe um sinal de disparo, ele se comporta como
uma chave aberta e faz com que a tensão VDS seja igual ao valor da fonte de ali-
Circuito elétrico cuja
finalidade é deixar passar os mentação VCC. Assim, não circula corrente elétrica para a carga (IRL = 0 A), não
sinais de uma determinada havendo, desse modo, dissipação de calor pelo transistor.
faixa de frequência e
impedir a passagem dos
sinais das demais faixas de Observe, na figura 77, que a tensão VDS é de 12 V, indicando que o transistor
frequência. Por exemplo: em está no modo de corte.
uma antena receptora de
rádio chegam os sinais de
todas as frequências, mas
12 VCC
você só ouve aquela que foi
3 - Com o MOSFET desligado
sintonizada pelo filtro do a corrente da carga é 1 -O controle não envia
circuito de seu rádio. IRL = 0 A sinal ao fototransistor
nula e a tensão está toda
sobre o transistor
12 VCC

circuito de controle
R1

MOSFET
R2
VDS = 12 V
optoaclopador

R3 2 - Sem o sinal do fototransistor


o MOSFET não é ativado

Figura 78 -  Esquema demonstrativo do transistor MOSFET no estado de corte


Fonte: SENAI-SP (2013)

Se comparada a uma fonte linear, a fonte chaveada possui uma quantidade


maior de componentes eletrônicos, que formam diversos circuitos e que devem
trabalhar todos juntos para o funcionamento adequado da fonte. Para que você
possa compreender e posteriormente efetuar reparos em uma fonte de alimenta-
ção chaveada, vamos dividi-la em blocos e estudar a função de cada bloco. Dessa
forma, é possível identificar mais facilmente uma falha na fonte, quando ela ocorrer.
A figura 78 ilustra o diagrama em blocos de uma fonte de alimentação chavea-
da. Vejamos nos itens que seguem a descrição de cada bloco.

1 2 3 4 5 tensão
tensão de
de entrada filtro transformador retificação
retificação circuito saída
de isolador de e filtro de
primária chaveador alta frequência
entrada saída

8 7 6

controle circuito circuito


de alta comparador isolador
frequência

tensão de
referência

Figura 79 -  Diagrama em blocos de uma fonte de alimentação chaveada


Fonte: SENAI-SP (2013)
9 FONTE CHAVEADA
135

Bloco 1: Filtro de entrada

O primeiro circuito em uma fonte de alimentação chaveada é o filtro de entra-


da, cuja função é evitar que transientes e ruídos gerados durante o chaveamento
prejudiquem o funcionamento correto da fonte e de outros aparelhos eletrôni-
cos. Nesse momento, é provável que você esteja se perguntando: como esse filtro
é formado? Basicamente, o filtro de entrada é formado pela união de dois outros
filtros, que são os seguintes:
a) um filtro de linha, formado por dois capacitores e um transformador, que
evita que transientes gerados pelo circuito chaveador prejudiquem o fun-
cionamento de outros aparelhos presentes na mesma rede de alimentação.
Na verdade, a proteção é bilateral, pois se um aparelho gerar um ruído elé-
trico, esse ruído não interfere no funcionamento da fonte chaveada;
b) um filtro passa-baixas, que você teve a oportunidade de conhecer no livro
“Eletricidade Básica”, em que um indutor e um capacitor têm a incumbência
de melhorar o processo de filtragem desenvolvido pelo filtro de linha.
Alguns modelos de fontes chaveadas apresentam uma proteção contra curto-
circuito e transientes de alta-tensão incorporada ao filtro de entrada. Para prote-
ger contra curto-circuito, há um fusível em série com uma das fases de entrada.
Para proteger contra transientes de alta-tensão, existe um varistor ou VDR (do
inglês, Voltage Dependent Resistor), que é um resistor dependente da tensão. Seu
funcionamento é bem simples: quando a tensão aplicada em seus terminais está
abaixo de certo valor (250 V, por exemplo), sua resistência elétrica é muito alta,
mas quando a tensão ultrapassa sua tensão de bloqueio (os 250 V), sua resistên-
cia cai a um valor muito baixo, provocando uma elevação da corrente elétrica e a
queima do fusível, o que faz com que a fonte de alimentação seja protegida.
Veja, a seguir, um exemplo de filtro de entrada, neste caso sendo usado em
uma fonte chaveada.

proteção filtro de linha filtro passa-baixas


fusível T1 L1

C1 C2
entrada saída
VDR C3

Figura 80 -  Exemplo de filtro de linha para fonte de alimentação chaveada


Fonte: SENAI-SP (2013)
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
136

Chamamos de “transiente” o intervalo de instabilidade


sofrido por um circuito elétrico quando há uma variação
brusca na energia.
Denominamos “ruído” as interferências ocasionadas
VOCÊ por emissões eletromagnéticas (EMI, Eletromagnetic
SABIA? Interference) e de radiofrequência (RFI, Radio-Frequency
Interference). As principais fontes de emissão de EMI são
os motores elétricos, as máquinas de solda e os relâm-
pagos. Já as fontes de emissão de RFI são normalmente
os transmissores de rádio, os radioamadores e a TV.

Bloco 2: Retificação primária

A maioria das fontes chaveadas faz a retificação direta da tensão disponível na


rede elétrica. Isso elimina a necessidade de um transformador no circuito, o que
reduz consideravelmente o tamanho e o peso da fonte.
No bloco de retificação primária, encontramos circuitos retificadores em ponte
ou em onda completa e também capacitores eletrolíticos, que servem de filtro
para a tensão retificada.
Na figura 80, você pode ver o retificador, indicado pela seta vermelha, e os
capacitores de filtro, indicados pelas setas azuis.

Figura 81 -  Componentes do bloco de retificação primária


Fonte: SENAI-SP (2013)
9 FONTE CHAVEADA
137

Os capacitores eletrolíticos usados nas fontes chaveadas


são de tensão de trabalho elevada (acima de 400 V).
FIQUE Mesmo com a fonte desligada, esses capacitores arma-
zenam energia elétrica, podendo provocar acidentes.
ALERTA Antes de manuseá-los, certifique-se de que eles estão
descarregados, usando um multímetro para medir a
tensão em seus terminais.

Bloco 3: Circuito chaveador

Esse circuito tem como componente principal um transistor MOSFET que fun-
ciona como chave eletrônica. O transistor MOSFET recebe um sinal de disparo
fornecido pelo controle de alta frequência (bloco 8) e isso faz com que o transistor
fique mais tempo ligado ou mais tempo desligado, controlando, assim, a tensão
que é aplicada ao transformador do bloco seguinte (bloco 4).
A figura 81 mostra um transistor MOSFET em dois encapsulamentos diferen-
tes, TO-220 e TO-220FP, usados em fontes chaveadas, e sua simbologia.

TO-220 TO-220FP D(2)

G(1)

3 3
1 2 1 2 S(3)

transistores MOSFET simbologia

Figura 82 -  Dois tipos de transistor MOSFET e simbologia desse componente


Fonte: SENAI-SP (2013)

Bloco 4: Transformador isolador de alta frequência

Esse transformador possibilita um isolamento entre a rede elétrica (entrada de


energia) e a saída da fonte de alimentação. Pode ser do tipo elevador (quando a
tensão de saída for maior que a tensão de entrada) ou do tipo rebaixador (quando
a tensão de saída for menor que a tensão de entrada).
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
138

O transformador isolador de alta frequência é projetado especialmente para


trabalhar em fontes chaveadas. Cada tipo de fonte possui transformador especí-
fico. Por isso, a substituição desse componente somente pode ser feita por outro
igual ao modelo original, que deve ser obtido diretamente do fabricante.
Veja, na figura 82, o transformador isolador de alta frequência, indicado pela
seta em vermelho.

transformador isolador
de alta frequência

Figura 83 -  Transformador isolador de alta frequência


Fonte: SENAI-SP (2013)

Bloco 5: Retificação e filtro de saída

Nesse bloco, encontramos um circuito retificador que transforma a tensão al-


ternada fornecida pelo transformador do bloco anterior (bloco 4) em uma tensão
contínua pulsante. No bloco 5, há ainda capacitores que atenuam as oscilações da
tensão fornecida pelo retificador. Assim, vamos ter na saída da fonte de alimenta-
ção uma tensão contínua livre de oscilações (ripple).

FIQUE Nessa etapa, os diodos usados são de comutação rápi-


da. Quando necessário, devem ser substituídos apenas
ALERTA por diodos originais.
9 FONTE CHAVEADA
139

Bloco 6: Circuito isolador

No bloco 9, vamos ter o optoacoplador, que já estudamos nos capítulos 5 e


6 deste livro. A função do optoacoplador é a de isolar a tensão de saída VCC dos
circuitos que controlam a tensão fornecida pela fonte, os quais serão detalhados
nos próximos blocos.
Antes disso, veja a localização do optoacoplador na fonte chaveada.

optoacoplador

Figura 84 -  Optoacoplador
Fonte: SENAI-SP (2013)

Bloco 7: Circuito comparador

Esse bloco faz com que a tensão de saída fornecida pela fonte tenha sempre
um valor constante, independentemente das variações da tensão de entrada VCA
ou da carga aplicada à fonte de alimentação.
O componente principal desse circuito é um amplificador operacional, que faz
a comparação entre uma tensão de referência e a tensão fornecida pela fonte de
alimentação. Se essas tensões forem diferentes, o amplificador operacional gera
uma tensão proporcional ao erro e modifica o ponto de trabalho do bloco 8 (con-
trole de alta frequência), que monitora o chaveamento do transistor MOSFET.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
140

Veja, a seguir, como o circuito comparador atua para manter a tensão de saída
constante.
Se a tensão de saída (VCC) diminuir, o circuito comparador faz o circuito de
controle de alta frequência aumentar a largura dos pulsos gerados. Assim, o tran-
sistor MOSFET permanece mais tempo ligado e a tensão induzida pelo transfor-
mador isolador se eleva, o que faz a tensão de saída da fonte voltar ao seu valor
correto. Agora, se a tensão de saída se elevar, o comparador diminui a largura
dos pulsos gerados e o transistor chaveador permanece menos tempo ligado, di-
minuindo a tensão induzida pelo transformador isolador. Com isso, a tensão de
saída da fonte de alimentação tem seu valor de saída corrigido. O quadro a seguir
exemplifica a ação do circuito comparador.

Quadro 6 - Controle da tensão de saída


TENSÃO
TENSÃO DE
CONTROLE DE TRANSISTOR INDUZIDA NO
SAÍDA
ALTA FREQUÊNCIA MOSFET TRANSFORMA-
VCC
DOR ISOLADOR

Mais tempo
Diminui Aumenta
ligado
Pulsos mais largos

Menos tempo
Aumenta Diminui
ligado
Pulsos mais estreitos

A ação do bloco comparador é muito rápida. Você não percebe a tensão de


saída variar.

Bloco 8: Controle de alta frequência

O último circuito da nossa fonte é tal que gera um sinal PWM para controlar o
tempo em que o transistor chaveador MOSFET permanece ligado e desligado. O
controle de alta frequência, como foi explicado anteriormente, recebe um sinal de
controle do circuito comparador.
9 FONTE CHAVEADA
141

Em alguns modelos de fontes chaveadas, há um circuito de proteção incor-


porado a esse controle. Mas você sabe para que serve um circuito de proteção?
Se ocorrer um curto-circuito na saída da fonte de alimentação, esse circuito de
proteção desativa o PWM, deixando o transistor chaveador no estado de corte e
interrompendo o fornecimento de energia pela fonte, o que evita a queima dos
componentes do circuito.
A maioria das fontes chaveadas utiliza um circuito integrado especialmente
projetado para as funções de comparação, oscilação, geração do sinal de PWM,
produção da tensão de referência e funcionamento como circuito de proteção,
simplificando o projeto final da fonte chaveada.
Segue alguns códigos de circuitos integrados utilizados em fontes chaveadas:
a) TDA 4601;
b) TDA 4605;
c) DPA 422;
d) TNY 274-280.
Observe o aspecto físico dos circuitos integrados utilizados nas fontes de ali-
mentação chaveadas.

Figura 85 -  Alguns modelos de circuitos integrados utilizados em fontes chaveadas


Fonte: SENAI-SP (2013)

Caso haja a necessidade de conhecer as especificações e as funções de cada


pino do circuito integrado, consulte o datasheet do componente.

9.3 POSSÍVEIS FALHAS

Agora que conhecemos o princípio de funcionamento de uma fonte chaveada e


de seus circuitos internos, vamos apresentar os defeitos e as falhas mais frequentes.
Vale lembrar que há no mercado vários modelos de fontes chaveadas e os circuitos
internos podem ser ligeiramente diferentes dos que estão sendo apresentados.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
142

Uma boa dica, caso precise reparar uma fonte chaveada, é consultar o manual
técnico do fabricante do aparelho eletrônico que você está consertando. Esses
manuais trazem informações importantes sobre as falhas que possam ocorrer e
quais os componentes que causam a falha apresentada, bem como informações
sobre segurança no manuseio desse tipo de fonte.
É importante lembrar que, quando um aparelho eletrônico não funciona, a fa-
lha pode não estar na fonte de alimentação. Portanto, se o aparelho não ligar, ve-
rifique se não falta energia elétrica e, se não for o caso, desligue a fonte do circuito
que ela alimenta, porque um curto-circuito na saída da fonte faz o circuito PWM
parar de funcionar como medida de proteção.
Mesmo assim, se a fonte ainda não fornecer energia, a causa pode ser um
problema em qualquer circuito visto anteriormente. Comece com uma inspeção
visual à procura de solda fria nas trilhas do circuito impresso, de componentes
soltos ou chamuscados, de capacitores estufados ou com vazamentos. Verifique
também se o fusível de entrada e o varistor não estão queimados.
O quadro a seguir ajudará você na investigação, quando a fonte não estiver
funcionando corretamente.

Quadro 7 - Possíveis falhas e defeitos de fonte chaveada

FALHA/DEFEITO CIRCUITO A SER


PROVÁVEIS COMPONENTES
APRESENTADO VERIFICADO

Circuito isolador Optoacoplador

Amplificador operacional
Tensão de saída acima ou
Circuito comparador Tensão de referência (diodo zener)
abaixo do valor nominal
Circuito integrado

Circuito de alta frequência


Circuito integrado
(PWM)

Varistor
Filtro de entrada
Capacitores

Diodos retificadores
Retificação primária
Capacitores de filtro
Fusível queima constan-
temente
Circuito chaveador Transistor MOSFET

Diodos retificadores
Retificação e filtros de saída
Capacitores de filtro
9 FONTE CHAVEADA
143

FALHA/DEFEITO CIRCUITO A SER


PROVÁVEIS COMPONENTES
APRESENTADO VERIFICADO

Filtro de entrada Fusível

Circuito chaveador Transistor MOSFET

Circuito isolador Optoacoplador


Ausência de tensão
na saída
Amplificador operacional
Circuito comparador Tensão de referência (diodo zener)
Circuito integrado

Circuito de alta frequência


Circuito integrado
(PWM)

Para conhecer mais detalhes sobre fontes chaveadas, possí-


veis falhas e defeitos e como solucioná-los, consulte o livro
SAIBA “Manutenção de fontes chaveadas”, de Arilson Bastos e
Sérgio Fernandes, da editora Antenna. Esse livro fornece
MAIS uma visão ampla dos vários tipos de fontes chaveadas exis-
tentes, bem como as falhas e os defeitos que podem apre-
sentar e as respectivas soluções.

CASOS E RELATOS

MANUTENÇÃO DE UM APARELHO DE DVD


O técnico em eletroeletrônica Júlio, ao começar o reparo em um aparelho
de DVD, observou que a fonte de alimentação estava inoperante. Sua pri-
meira atitude foi fazer uma inspeção visual e logo detectou dois compo-
nentes defeituosos: um fusível e um capacitor estourados. Como se trata-
va de um equipamento que ele nunca havia consertado, e sem saber das
causas que levaram os componentes a serem danificados, Júlio consultou
o manual técnico do aparelho de DVD e encontrou as prováveis causas e
a solução para a falha apresentada. Fez a substituição dos componentes
queimados e os procedimentos de teste sugeridos pelo fabricante a fim de
evitar futuros problemas.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
144

Ao entregar o aparelho, orientou o cliente a retirar os equipamentos ele-


trônicos da tomada elétrica em dias de trovoadas, para evitar a queima do
equipamento.
Com base nas ações tomadas pelo técnico, podemos concluir que não bas-
ta apenas substituir o que está danificado, devemos investigar as causas e
os motivos que levaram ao problema apresentado. Se isso não ficar claro,
é preciso consultar manuais técnicos para a solução correta do problema.
Orientar as pessoas leigas quanto ao uso e à conservação dos aparelhos
eletrônicos também é uma boa prática profissional.

RECAPITULANDO

Aprendemos, neste capítulo, que uma fonte de alimentação chaveada


é mais eficiente do que uma fonte de alimentação linear, porque aquela
aquece menos. Vimos que podemos encontrar a fonte de alimentação cha-
veada em vários aparelhos eletrônicos, como computadores pessoais, car-
regadores de celulares, equipamentos de áudio, vídeo, fax, equipamentos
médicos e equipamentos para telecomunicações.
Aprendemos também que uma fonte chaveada possui vários circuitos. Conhe-
cemos o princípio de funcionamento de cada um deles e como se interligam.
Finalmente, estudamos as possíveis falhas/defeitos que uma fonte chavea-
da pode apresentar e os componentes que devem ser verificados para so-
lucionar as falhas e os defeitos.
9 FONTE CHAVEADA
145

Anotações:
Diagnóstico de falhas e de defeitos
em sistemas eletrônicos

10

Nos capítulos anteriores conhecemos alguns circuitos que fazem parte de um sistema ele-
trônico, vimos seus princípios de funcionamento e as possíveis falhas que esses circuitos po-
dem apresentar.
Agora, vamos aprender como diagnosticar os defeitos e as falhas que um sistema eletrônico
pode apresentar.
Investigar e solucionar os motivos pelos quais um sistema eletrônico não funciona correta-
mente é uma das tarefas mais estimulantes para o técnico da área de manutenção. Para isso,
como todo bom detetive, você deve seguir algumas regras simples, mas eficientes, que o le-
varão a um diagnóstico rápido e eficiente, minimizando o tempo de parada dos sistemas ele-
trônicos e garantindo que o equipamento volte a operar corretamente dentro dos padrões de
qualidade preestabelecidos.
Assim, ao final deste capítulo, você terá subsídios para:
a) diagnosticar uma falha ou um defeito de um sistema eletrônico;
b) fazer o levantamento de hipóteses que possam estar causando a falha ou o defeito;
c) comprovar as hipóteses que causam o mau funcionamento em um sistema eletrônico.

Figura 86 - O técnico da área de Manutenção trabalha como um detetive para investigar falhas e defeitos
Fonte: SENAI-SP (2013)
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
148

10.1 ENTREVISTA COM O USUÁRIO

Vamos iniciar este item refletindo sobre as duas situações a seguir.


Primeira situação: você é chamado para consertar uma serra elétrica, em uma
marcenaria, que apresenta, durante seu funcionamento, um ruído no motor elé-
trico similar a um ronco.
Segunda situação: você é chamado para consertar uma serra elétrica, em uma
marcenaria, cujo motor elétrico não está funcionando.
Qual a diferença entre o primeiro e o segundo caso?
No primeiro caso, o motor da serra elétrica está funcionando, mas o ruído que
apresenta não é normal, ou seja, o ronco é uma característica de rolamento des-
gastado. Esse motor apresenta um defeito no seu funcionamento.
No segundo caso, o motor está travado, devido à quebra do rolamento, por-
tanto o motor está com uma falha. Ou seja, falha é quando um equipamento
não funciona e defeito é quando um equipamento funciona de forma errada ou
irregular.
Na manutenção de um equipamento, ao se deparar com uma das situações
apresentadas, procure, antes de iniciar os trabalhos investigativos, ter uma boa
conversa com o usuário do equipamento ou aparelho eletrônico a ser consertado,
a fim de conhecer as características de funcionalidade do item a ser reparado.
Pense rapidamente em uma pergunta que você pode usar em uma situação
semelhante à que foi exemplificada aqui.
Veja se a pergunta que você pensou está entre estas que o ajudarão no diag-
nóstico: o que esse equipamento faz? Como ele deve funcionar? O que ele não
deveria estar fazendo? O que aconteceu antes de ele parar de funcionar? Está
apresentando algum barulho? Se sim, como é? O equipamento tem lâmpada? Se
sim, deveria acender ou não? O aparelho está ligado na tomada elétrica?
Observe que essas perguntas são simples, não têm enfoque técnico algum e
devem ser feitas para que o usuário do aparelho possa respondê-las de modo
claro. Assim, você terá à disposição informações para começar uma investigação
a respeito dos motivos que fazem com que o item não esteja funcionando.
Veremos agora, nos documentos necessários para dar prosseguimento ao nos-
so diagnóstico.
10 DIAGNÓSTICO DE FALHAS E DE DEFEITOS EM SISTEMAS ELETRÔNICOS
149

10.2 DOCUMENTAÇÃO TÉCNICA

A documentação técnica é um dos principais materiais nos processos de ope-


ração e manutenção de qualquer equipamento elétrico ou eletrônico.
Essa documentação é composta de manuais técnicos fornecidos pelos fabri-
cantes e traz, além dos esquemas elétricos e eletrônicos do aparelho, os procedi-
mentos de testes e as calibragens que devem ser feitos antes de entregar o equi-
pamento ao cliente.
Tentar consertá-lo ou mesmo reparar o aparelho sem fazer uso da documenta-
ção técnica, torna-se uma tarefa árdua e complicada. Além disso, você não tem a
garantia de um trabalho bem realizado.
Além da documentação técnica fornecida pelo fabricante, conforme descrito
anteriormente, há a documentação técnica referente ao equipamento, a qual traz
detalhes sobre o número de vezes que ele apresentou defeito ou falha e quais fo-
ram as ações tomadas pelo mantenedor. Essa documentação auxilia no controle
das manutenções realizadas pelo técnico.
Veja a seguir um exemplo de documentação técnica, utilizada no controle de
uma máquina industrial, por exemplo, uma fresadora horizontal, a CNC.

Ficha de acompanhamento individual


Equipamento: Fresadora horizontal a CNC Local: Seção de usinagem geral
Técnico
Data Falha/Defeito Ação
responsável
Troca dos rolamentos do motor do
25/01/2012 Vibração do eixo longitudinal. Moisamir
eixo longitudinal.
Eixo transversal não para na
30/01/2012 Troca do sensor de aproximação s5. Mantene
posição correta.
Aquecimento no armário Limpeza dos acionamentos
05/02/2012 Moisamir
de acionamentos. eletrônicos dos eixos X e Y.
Fonte de alimentação (trocado
25/02/2012 Máquina não liga. Mantene
circuito retificador).
Troca do transistor MOSFET do circuito
30/04/2012 Alarme de erro não funciona. Mantene
de interface de potência AC.
Baixa pressão do sistema
15/06/2012 Troca do filtro de óleo. Moisamir
hidráulico.

Figura 87 -  Ficha de acompanhamento de manutenção de uma máquina industrial


Fonte: SENAI-SP (2013)

Há outras informações para inserirmos nesse documento? Por que é importan-


te apresentá-lo?
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
150

1 HIPÓTESE Observe que a ficha de acompanhamento individual é referente a um único


equipamento e contém como informações: a data que o equipamento apresen-
suposição que se faz de
alguma coisa possível ou tou o defeito ou a falha; as características desse defeito ou dessa falha; a ação
não, e da qual se tiram as tomada para a solução do problema; e o nome do técnico responsável pelo servi-
consequências a verificar.
ço. As informações que constam na documentação técnica de um equipamento
variam de acordo com a política de manutenção e de qualidade de cada empresa
e têm reflexo no comportamento e na vida útil do equipamento.
Veremos, nos tópicos a seguir, o que considerar para levantar as hipóteses que
podem nos ajudar no diagnóstico de falhas e dos defeitos em sistemas eletrônicos.

10.3 LEVANTAMENTO DE HIPÓTESES

Com as informações fornecidas pelo usuário sobre as características do defeito


ou da falha que o equipamento apresenta, podemos levantar hipóteses quanto
aos motivos que levaram o item a não funcionar corretamente.
Vamos, como exemplo, retomar o capítulo 9, em que aprendemos que, se o
equipamento alimentado pela fonte chaveada estiver em curto-circuito, o PWM
deixa de funcionar para proteger a saída da fonte.
Ao receber um aparelho de DVD que o usuário diz não estar ligando, você
pode levantar algumas hipóteses sobre o que acontece com esse aparelho, tais
como fusível queimado ou falha na fonte de alimentação.
Vejamos outro exemplo, mas agora apresentando um defeito: um aparelho de
televisão é enviado a uma oficina para ser consertado e, ao ser ligado, demonstra
que o seu funcionamento aparentemente está normal. Após alguns minutos liga-
do, o som do aparelho começa a diminuir até ficar muito baixo, quase inaudível.
Nesse caso, a hipótese levantada de que o defeito estava na etapa do circuito de
som é confirmada. Assim, fica mais fácil efetuar o reparo da televisão.

10.4 INSPEÇÃO VISUAL

Alguns circuitos são mais fáceis de consertar, por serem mais simples. Outros
são um pouco mais difíceis, porque têm uma quantidade maior de componentes.
Mas, nesses dois casos, a identificação de uma falha e/ou um defeito se inicia com
uma inspeção visual, ou seja, com a observação do estado ou do comportamento
dos componentes eletrônicos.
Assim, verifique se há resistores escurecidos, um indício de aquecimento exces-
sivo do circuito; capacitores estufados, que indicam uma sobretensão no compo-
nente; transistores ou circuitos integrados quebrados, que sugerem curto-circuito.
10 DIAGNÓSTICO DE FALHAS E DE DEFEITOS EM SISTEMAS ELETRÔNICOS
151

Como você já sabe, o aspecto da solda nos componentes deve ser na forma de
gota e brilhante, assim, soldas com aspecto irregular, trincadas e opacas, conheci-
das como solda fria, apresentam conexões irregulares entre as trilhas do circuito
impresso e o terminal do componente.
Também não podemos nos esquecer das ligações externas à placa de PCI, tais
como fios soltos de sensores, lâmpadas de sinalização e botões de controle, que
causam defeitos facilmente diagnosticados apenas com a inspeção visual.
Observe, na figura 87, dois exemplos do que podemos localizar com a inspe-
ção visual. Na imagem da direita, o terminal do componente está com solda fria,
sinalizada em vermelho, e, na imagem da esquerda, há um capacitor estourado,
também indicado em vermelho.

Figura 88 -  Capacitor estourado e PCI com solda fria


Fonte: SENAI-SP (2013)

10.5 COLETA DE DADOS (MEDIDAS DE GRANDEZAS)

Como vimos até aqui, o diagnóstico das falhas e dos defeitos em um sistema
eletrônico inclui, além das informações fornecidas pelo usuário, o levantamento
das possíveis hipóteses e a inspeção visual. O que precisamos acrescentar a essa
lista é a medição da tensão em pontos chaves do circuito. Esses pontos chaves
estão descritos nos esquemas eletrônicos que fazem parte da documentação téc-
nica e incluem os valores de tensão: na saída da fonte de alimentação; na base e
no coletor dos transistores; nos terminais dos circuitos integrados; e em pontos es-
tratégicos que determinam o funcionamento de cada etapa do sistema eletrônico.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
152

Em alguns circuitos, medir a tensão pode nos levar a valores errôneos devido
às características do circuito. Assim, o uso do osciloscópio se faz necessário, pois
além do valor do sinal elétrico, temos o formato desse sinal.
Tomemos como exemplo uma fonte chaveada, vista no capítulo 9. Lá apren-
demos que o circuito integrado gera um sinal PWM para o chaveamento do tran-
sistor MOSFET. Além disso, vimos que medir esse sinal com o multímetro não nos
fornece a indicação de que o sinal está correto.
Medir a corrente elétrica não é um procedimento comum, porque esse tipo
de medição requer que o circuito seja interrompido e o amperímetro ligado em
série ao circuito. Além disso, o valor da corrente elétrica nem sempre é fornecido.
Então o que fazer para confirmar as hipóteses levantadas? É o que veremos a
seguir.

10.6 COMPROVAÇÃO DAS HIPÓTESES

Aprendemos, nos capítulos anteriores, que um sistema eletrônico pode ser


formado por diversos componentes ou circuitos eletrônicos que trabalham inter-
ligados entre si. Vimos também que a queima de qualquer componente compro-
mete o funcionamento correto do circuito. De acordo com as características das
falhas ou dos defeitos apresentados, levantamos hipóteses sobre onde pode estar
localizada a causa do problema. Com a medição dos sinais elétricos e a compara-
ção com os valores fornecidos pela documentação técnica, podemos comprovar
as hipóteses levantadas, eliminando boa parte delas, e concentrar a atenção em
uma pequena parte do circuito ou em um determinado componente eletrônico.
Uma vez localizado o componente suspeito de causar a falha ou o defeito
apresentado, podemos testar esse componente ou mesmo substituí-lo por outro
novo e comprovar a hipótese levantada.

10.7 COMPARAÇÃO COM OUTRO EQUIPAMENTO

O que fazer se os dados obtidos com a medição dos sinais usando um mul-
tímetro ou um osciloscópio e a análise do funcionamento do circuito não nos
derem a certeza de que a troca do componente irá resolver a falha ou o defeito
do circuito?
10 DIAGNÓSTICO DE FALHAS E DE DEFEITOS EM SISTEMAS ELETRÔNICOS
153

Nos sistemas eletrônicos, a variedade de itens é muito grande e pode aconte-


cer de não haver um determinado componente em estoque para a substituição,
ou o preço ser elevado e/ou não ser possível comprá-lo sem termos a certeza de
que o problema será resolvido. Em situações desse tipo, existe uma técnica de
localização de defeitos em que utilizamos outro aparelho idêntico ao defeituoso,
de modo que podemos comparar os valores dos sinais elétricos de um aparelho
com o outro. Essa técnica também é muito utilizada quando não dispomos dos
circuitos eletrônicos do equipamento, o que não permite termos as informações
de tensão e formas de onda.
Medir a queda de tensão sobre os resistores, a tensão de polarização de um
transistor, as tensões presentes nos terminais dos circuitos integrados e seus si-
nais elétricos, quando for o caso, conforme já foi dito sobre o circuito PWM, são
pontos iniciais da pesquisa para solucionar uma falha ou um defeito. Assim, ao
encontrar um valor diferente do esperado, retire o componente e teste-o para
poder comprovar se está realmente com defeito. Essas medições são feitas sem-
pre considerando o negativo da fonte de alimentação como ponto de referência.

Ao fazer as medições dos sinais elétricos do aparelho de


FIQUE referência, tome cuidado para não provocar um curto-
-circuito por meio das pontas de prova do instrumento,
ALERTA principalmente nos circuitos integrados em que a dis-
tância entre seus terminais é pequena.

10.8 COMPARAÇÃO COM ESQUEMA ELÉTRICO

Os componentes são posicionados na PCI, formando pequenos blocos de cir-


cuitos independentes de modo a facilitar a elaboração do layout e a interligação
entre eles. Na placa, os componentes são identificados por uma letra e um núme-
ro sequencial, por exemplo, R1, Q1, C3. Essa mesma sequência está presente no
esquema elétrico do circuito. Isso é feito não apenas para orientar a montagem
da placa, mas também para que, durante a pesquisa de defeito, o técnico possa
acompanhar o circuito montado na PCI com o desenho feito do esquema elétrico.
Cabe ressaltar que, na maioria das vezes, a disposição dos componentes na placa
não é feita no mesmo formato em que eles estão dispostos no esquema, portanto
a identificação dos componentes na PCI é vital para sua correspondente identifi-
cação no circuito.
Essa comparação é muito importante por dois motivos.
a) Alguns componentes não ficam próximos do bloco ao qual pertencem de-
vido a restrições técnicas impostas pelo projeto. Por exemplo: um transis-
tor que dissipa muito calor pode ser montado externamente à placa, preso
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
154

a um dissipador de calor, ou ainda um capacitor de elevada capacitância


pode ser posicionado em outro local por questões de espaço.
b) Certos projetos de PCI são feitos para atender a diversos modelos de equi-
pamentos, mas nem todos os componentes são utilizados, ficando, assim,
espaços vazios na placa.
Se, no início do trabalho de reparo, não compararmos o esquema elétrico que
temos em nossas mãos com a placa do circuito impresso do aparelho, correremos
o risco de utilizar o esquema errado.

10.9 LEVANTAMENTO DE CIRCUITO

Todo circuito eletrônico possui esquema elétrico? Se você respondeu “não” a


essa pergunta, acertou. Alguns circuitos eletrônicos não têm o esquema elétrico
pelo fato de terem sidos fabricados há muitos anos; outros, por serem aparelhos
importados, não são disponibilizados no mercado; e outros devido à falta de or-
ganização de algumas empresas, que não guardam corretamente a documenta-
ção técnica. Assim, provavelmente agora você deve estar se perguntando: como
agir em casos como esses?
Nesses casos, a solução está em fazer o esquema do circuito eletrônico a partir
da placa de circuito impresso. Ao ver a ligação de um componente com outro
através das trilhas da placa de circuito impresso, você é capaz de descobrir como
eles estão interligados, formando o circuito eletrônico.
Esquematizar as ligações elétricas não é uma atividade que existe apenas nas
placas de circuito eletrônico. Ela ocorre em diversas áreas da Eletroeletrônica (In-
dustrial, Informática, Entretenimento, Eletromedicina), em que, além da placa
eletrônica, existem componentes elétricos interligados, por exemplo, sensores de
diversas finalidades, botões e chaves de comando, indicadores visuais e sonoros e
até mesmo equipamentos interligados entre si.
Acompanhe o exemplo a seguir para entender melhor o assunto: o computa-
dor, a impressora, o filtro de linha, o monitor de vídeo e a conexão com a internet
são aparelhos que estão interligados. Dentro de cada um deles a placa eletrôni-
ca principal está interligada à fonte de alimentação, aos conectores de entrada e
de saída, ao botão liga/desliga e a outras placas internas do equipamento, como
acontece com a placa mãe do computador.
Veja as interligações das placas eletrônicas que constituem um computador.
10 DIAGNÓSTICO DE FALHAS E DE DEFEITOS EM SISTEMAS ELETRÔNICOS
155

conectores
monitor
paralela
placa de
vídeo
serial

teclado

conector fonte

mídia
externa

disco
rígido

placa-mãe

Figura 89 - Interligação das placas internas em um computador


Fonte: SENAI-SP (2013)

Observe que, nessa imagem, a placa-mãe é interligada aos outros componen-


tes que formam o computador.

Para não inverter a ordem de ligação dos componentes


de um equipamento na hora da montagem, lembre-se
sempre de esquematizar as ligações elétricas dos apare-
FIQUE lhos e dos circuitos.
ALERTA
Veremos, no próximo item, como a análise de funciona-
mento de um equipamento pode ajudar na solução de
uma falha ou um defeito.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
156

2 ELETRÔNICA 10.10 ANÁLISE DE FUNCIONAMENTO


EMBARCADA
Para começar, imagine que esteja observando uma esteira trabalhando. Essa es-
(On-board electronics,
em inglês): É todo teira transporta material dentro de um forno para aquecê-los a uma temperatura
sistema eletroeletrônico
desenvolvido para de 450 ºC. Um detalhe chama a sua atenção: durante o movimento, uma pequena
aplicações em carros, mola fixada ao eixo do motor da esteira faz contato com um parafuso. Você obser-
navios, aviões, tratores
entre outros veículos va que, quando esse contato não é feito, a esteira para após alguns segundos, des-
automotores. ligando o aquecimento. Você percebe que, cada vez que o aquecimento desliga, o
operador da máquina precisa reiniciar todo o processo de operação. Observe, na
figura 89, o desenho da esteira, com a identificação da mola e do parafuso.

mola parafuso
forno 450oC
Figura 90 - Esteira transportadora de materiais para o forno
Fonte: SENAI-SP (2013)

O operador da máquina, ou seja, o usuário, diz a você que a máquina está com
defeito, pois ela para de funcionar sozinha de vez em quando.
Nesse momento, você já saberia dizer por que a mola e o parafuso estão no
equipamento? Acompanhe a análise de funcionamento da esteira para entender
o porquê disso. A mola, ao tocar no parafuso, aciona o circuito elétrico e envia um
comando para a parte eletrônica, informando que a esteira está em movimento.
Se não houver esse contato, a parte eletrônica desliga o aquecimento para que o
material dentro do forno não derreta e comprometa o funcionamento da esteira.
Isso acontece porque ela pode ficar travada se o material que transporta cair e
ficar preso em alguma parte do equipamento.
Com a análise de funcionamento e o descritivo da falha pelo operador, você,
como técnico, possui uma pista da provável causa do defeito, ou seja, sabe que o
aquecimento foi desligado porque houve um mau contato entre a mola e o parafuso.
10 DIAGNÓSTICO DE FALHAS E DE DEFEITOS EM SISTEMAS ELETRÔNICOS
157

10.11 DIAGNÓSTICO POR SOFTWARE

“Injeção eletrônica”, “freio ABS”, “direção assistida” são termos que provavel-
mente você já ouviu falar, pois são cada dia mais veiculados nos meios de comu-
nicação.
É a eletrônica embarcada que faz funcionar esses e os outros itens de seguran-
ça e de conforto em um carro. Essa eletrônica não é diferente da que aprendemos
até agora. A distinção está nos recursos disponíveis para os diagnósticos dos de-
feitos e das falhas apresentadas pela parte eletrônica dos carros.
Como a eletrônica embarcada depende não só do funcionamento do carro,
mas do seu movimento e dos sensores posicionados em diferentes localidades no
automóvel, para diagnosticarmos ou identificarmos a causa de um mau funciona-
mento é necessário o uso de instrumentos específicos com um software dedica-
do. Esse software simula o funcionamento do carro em diversas condições de uso,
indicando ao técnico qual componente deve se verificado.
O diagnóstico de problemas em placas de computadores também é um exem-
plo da aplicação desse tipo de software. Eles fornecem informações sobre o fun-
cionamento e as características do equipamento em teste, orientando o técnico
na solução do problema.

SAIBA Para conhecer mais a respeito de diagnóstico de falhas ou


defeitos por software, faça uma busca na internet: digite “lo-
MAIS calizador de defeitos” nos sites de busca de sua preferência.

10.12 REGISTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE CAUSAS DE FALHAS E


DEFEITOS

Você deve ter observado que identificar as falhas e os defeitos presentes em


um sistema eletrônico não é uma tarefa simples, pois a diversidade de circuitos
eletrônicos, aparelhos e equipamentos é muito grande. Mas não se assuste, pois o
processo de manutenção pode se tornar algo simples e prazeroso.
Para isso, siga mais algumas orientações:
a) sempre que você tiver de reparar um determinado sistema eletrônico, tra-
balhe com calma e observe atentamente as orientações descritas na docu-
mentação técnica, fornecida pelos fabricantes dos equipamentos;
b) crie o hábito de fazer suas próprias anotações, com a descrição do modelo
e tipo de aparelho ou equipamento, das características do defeito ou da
falha apresentada e de como você chegou ao componente defeituoso;
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
158

3 LOCAÇÃO c) registre quais foram os componentes substituídos;

O mesmo que alugado. d) converse e troque informações a respeito dos circuitos eletrônicos com ou-
tros profissionais da área, pois isso nos faz crescer profissionalmente, am-
pliando os nossos conhecimentos.

4 COMODATO
Precisamos também ressaltar duas orientações com relação às informações
sobre os tipos de defeitos e sua manutenção, pois são vitais para os processos de
Regime em que o gestão da manutenção.
equipamento é cedido
para uso de um parceiro,
sem a transferência de a) Se o equipamento estiver sob o regime de locação ou comodato, a ma-
propriedade e cobrança de nutenção é de responsabilidade de quem está cedendo o equipamento.
aluguel.
Porém, as falhas ou os defeitos podem estar sendo causados por uso incor-
reto do equipamento, gerando tanto custos adicionais como insatisfação
dos clientes. Esses fatos certamente comprometerão a imagem e a vida útil
do produto. A questão fundamental é que essa situação só pode ser confir-
mada mediante a comparação dos dados de manutenção do equipamento
com os resultados previstos ou encontrados em outros clientes.
b) Qualquer que seja o tipo de sistema de gestão da manutenção adotado, ele
só é eficaz se dispuser de dados a serem analisados. Caso contrário, não é
possível gerenciar de forma adequada os processos de manutenção.

CASOS E RELATOS

Três dias sem funcionar


Leonardo foi chamado para consertar uma máquina industrial que estava pa-
rada há três dias. Ao questionar o operador sobre o defeito apresentado, ele
disse que a máquina estava queimando fusíveis e que o técnico anterior já
havia trocado muitas peças, mas não havia conseguido resolver o problema.
Ao comparar o esquema elétrico da máquina com as ligações elétricas,
Leonardo reparou que as ligações estavam em desacordo com o original
e que havia componentes de valores diferentes do esperado. Sem saber o
que fazer, conversou com o técnico anterior, que disse que havia trocado
os componentes e as ligações na tentativa de solucionar o problema, mas
não conseguiu.
Diante da situação da máquina, parada há três dias, Leonardo resolveu re-
fazer as ligações elétricas e repôs os componentes originais, orientando-se
pelo catálogo técnico do equipamento. Ao ligar a máquina, os fusíveis quei-
maram novamente. Dessa forma, Leonardo resolveu medir a corrente elétrica
do motor e constatou um valor muito elevado, comprovando o motivo da
10 DIAGNÓSTICO DE FALHAS E DE DEFEITOS EM SISTEMAS ELETRÔNICOS
159

queima dos fusíveis. Resolveu analisar o funcionamento do equipamento an-


tes da substituição do motor elétrico e verificou que a aceleração do motor
estava muito alta; isso poderia ser o motivo da queima dos fusíveis. Ao ajustar
a aceleração do motor, o problema foi sanado: a máquina voltou a funcionar
corretamente e não houve a necessidade da substituição do motor.
Do exposto anteriormente, podemos perceber que, ao tentar consertar algo
sem fazer um diagnóstico das causas do defeito ou da falha, o tempo de
parada de um equipamento ou aparelho eletrônico pode ser muito longo.
Atitudes como manter as ligações e os componentes originais dos sistemas
eletrônicos, levantar e comprovar hipóteses são obrigações de todos os bons
profissionais que atuam na área de Manutenção dos sistemas eletrônicos.

RECAPITULANDO

Neste capitulo, aprendemos que os sistemas eletrônicos são susceptíveis a


falhas e defeitos. Além disso, entendemos a diferença entre uma falha e um
defeito de um sistema eletrônico.
Estudamos também os procedimentos necessários para diagnosticar os de-
feitos e as falhas em sistemas eletrônicos, a fim de facilitar a localização dos
componentes que causam problema ao equipamento.
Vimos que, na eletrônica embarcada e em manutenção de computadores,
há instrumentos e softwares dedicados que auxiliam no diagnóstico de fa-
lhas e defeitos.
Entendemos ainda que, por mais complexo que seja um sistema eletrônico,
um trabalho organizado, atento e de acordo com as orientações dos fabri-
cantes favorece a localização dos defeitos e das falhas que precisarão ser
consertados.
Finalmente, constatamos que o registro dos dados de manutenção é vital
para gestão dos processos de manutenção.
Manutenção de sistemas eletrônicos

11

Nos capítulos anteriores, estudamos o princípio de funcionamento dos principais circuitos


eletrônicos e falhas e defeitos comumente encontrados nesses circuitos. Além disso, falamos
sobre diversas técnicas para auxiliar no diagnóstico de possíveis problemas.
Neste capítulo, falaremos sobre o procedimento de manutenção propriamente dito, o qual
consiste nas ações necessárias para solucionar a causa de uma falha ou um defeito.
Assim, ao final deste capítulo, você terá subsídios para:
a) substituir componentes eletrônicos;
b) ajustar parâmetros ou configurações de funcionamento;
c) registrar as informações sobre a manutenção;
d) validar a manutenção.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
162

11.1 PROVIDÊNCIAS ANTES DA MANUTENÇÃO

Até aqui, tudo o que conhecemos nos capítulos anteriores nos deu subsídios
para diagnosticar a causa de falhas e defeitos em vários circuitos eletrônicos. As-
sim, após conversar com o cliente, analisar o equipamento e descobrir a causa do
defeito, podemos rapidamente solucioná-lo, certo? Na verdade, veremos que não
é bem assim. Entre a identificação e a solução do problema, é necessário tomar
algumas providências. É sobre isso que vamos falar agora.
As ações que ocorrem entre o diagnóstico e a manutenção dependem muito
da empresa em que você irá trabalhar. Por isso, vamos analisar as providências
que antecedem a manutenção sob diferentes pontos de vista.

11.1.1 EQUIPAMENTOS DE TERCEIROS

Vamos imaginar uma empresa que presta serviços de manutenção. Nesse ce-
nário, você faz a manutenção em equipamentos de terceiros, ou seja, o equipa-
mento é de propriedade do cliente, e não da empresa em que você trabalha.
Antes de realizar a manutenção, você deve fazer um orçamento no qual deve
discriminar:
a) dados pessoais do cliente;
b) marca, modelo e número de série do equipamento;
c) falha ou defeito informado pelo cliente;
d) lista das peças que precisam ser substituídas, com os respectivos custos ao
cliente;
e) valor da manutenção, algumas vezes chamada de mão de obra;
f ) prazo para execução do serviço, que deve considerar o tempo para enco-
mendar as peças, se for o caso, mais o tempo necessário para realizar a ma-
nutenção;
g) período e condições de garantia do serviço.
Lembre-se de que é importante fazer uma inspeção em outras áreas do equi-
pamento, pois você pode detectar algum problema iminente, ou seja, algum
componente pode estar prestes a apresentar defeito. É possível, ainda, que exis-
tam componentes para serem substituídos de acordo com a recomendação do
manual do fabricante. Tudo isso deve estar incluído no orçamento. O cliente pre-
cisa saber que a substituição desses componentes não está relacionada com a
falha ou o defeito, mas é aconselhável fazer a troca por orientação do fabricante.
11 MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
163

Esse detalhamento é muito importante, pois mostra transparência, profissio-


nalismo e respeito ao cliente.
Quanto ao valor do serviço, cada empresa pode adotar um critério diferente na
composição do preço, mas quase sempre está associado à quantidade de horas
gastas para executá-lo.
Veja um exemplo de orçamento preenchido. Observe as informações disponi-
bilizadas ao cliente.

Rua André Marie Ampère, 1.775


Jardim França – São Paulo, SP
informações
CEP: 01234-567
TEL.: (11) 1234-5678
sobre o cliente
ê é

ORÇAMENTO N.º 876/2012 VALIDADE 15 DIAS DATA 01/10/2012 FOLHA 1 DE 1


dados do
CLIENTE SR. FELIZARDO AFORTUNADO RICO
ENDEREÇO RUA ALESSANDRO GIUSEPPE VOLTA
BAIRRO JARDIM DOS ITALIANOS
N.º 1.745
CIDADE SÃO PAULO
COMPLEMENTO APTO. 1.827
ESTADO SP
equipamento
TELEFONE RESID. (11) 5678-0000 TELEFONE CEL. (11) 9876-0000 E-MAIL felirico@obah.com.br
EQUIPAMENTO CENTRAL DE ALARME
MARCA ROBTEC MODELO CA101 N. SÉRIE CYY123456
TÉCNICO RESPONSÁVEL
FALHA / DEFEITO
JOÃO DA SILVA
EQUIPAMENTO NÃO LIGA
falha/defeito
informado pelo
RECLAMADO

FALHA / DEFEITO
cliente
FONTE DE ALIMENTAÇÃO - DEFEITO NO PRIMÁRIO DO TRANSFORMADOR
CONSTATADO

falha/defeito
constatado pelo
VALOR VALOR
ITEM QUANT. DECRIÇÃO
UNITÁRIO TOTAL
1 1 TRANSFORMADOR 110/220 9+9 500mA R$ 15,00 R$ 15,00
2 1 MÃO DE OBRA - MANUTENÇÃO R$ 90,00 R$ 90,00 técnico

VALOR TOTAL R$ 105,00


discriminação das
CONDIÇÕES DE PAGAMENTO 15 DIAS peças e serviços
PRAZO DE CONCLUSÃO 2 DIAS

90 dias, restrita ao defeito constatado e aos compontes descriminados


GARANTIA
nesta ordem de serviço. condições de
AGUARDAMOS A APROVAÇÃO DESTE ORÇAMENTO
pagamento, prazos
e garantia
Figura 91 -  Exemplo de orçamento do serviço de manutenção
Fonte: SENAI-SP (2013)

Ao entregar o orçamento ao cliente, esclareça todas as informações que julgar


necessárias, tais como a causa da falha ou do defeito, ou o que fazer para evitar
que esse problema ocorra futuramente, caso seja possível. A maioria dos clientes
não possui conhecimento técnico, porém quer saber o que está acontecendo. As-
sim, evite entrar em questões estritamente técnicas e usar termos técnicos, por
exemplo. É importante adotar um vocabulário que permita ao cliente compreen-
der a situação. Imagine-se como um paciente que recebe um diagnóstico de um
médico. Talvez você não entenda nada de medicina, mas quer compreender o
que está acontecendo com sua saúde.
Ao certificar-se de que todas as dúvidas foram esclarecidas, antes de realizar
a manutenção, é necessário obter a aprovação do cliente, que deve ser feita me-
diante assinatura. Isso garante o consentimento acerca da manutenção. Evite
acordos verbais.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
164

A assinatura do cliente pode constar no próprio orçamento, em espaço próprio


para esse fim. Algumas empresas emitem uma ordem de serviço (documento es-
pecífico para a execução do serviço), em que constam, basicamente, as informações
coletadas no orçamento. Esse documento serve para registrar o que será executado.

11.1.2 EQUIPAMENTOS DA EMPRESA

Vamos agora imaginar que você trabalha no setor de manutenção de uma


empresa e que é responsável por garantir o funcionamento dos equipamentos
internos, ou seja, de propriedade da empresa.
O pedido da manutenção, nesse caso, deve ocorrer formalmente, por parte do
departamento que constatou a necessidade, o solicitante. Para isso, as empresas
possuem formulários próprios para requisição, normalmente preenchidos com o
auxílio de sistemas informatizados, que são programas de computador específicos
para essa finalidade. Independentemente da forma pela qual é feita, o pedido de
manutenção tem como objetivo registrar, no mínimo, as seguintes informações:
a) data e hora da solicitação;
b) dados do solicitante;
c) informações sobre o equipamento (marca, modelo e número de série);
d) falha ou defeito informado pelo solicitante.

O pedido de manutenção pode receber nomes diferen-


VOCÊ tes, de acordo com a empresa. Entre os mais comuns,
podemos citar o chamado técnico. Assim, o uso da
SABIA? expressão “abrir um chamado técnico” é o mesmo que
criar um pedido de manutenção.

As empresas utilizam essas informações para gerar relatórios que auxiliam na


gestão da manutenção, como verificar a reincidência de defeitos em um determi-
nado equipamento ou gerenciar o tempo de espera entre o pedido e a realização
do serviço.
Tenha em mente que você não deve executar nenhum tipo de serviço sem
uma requisição formal. É importante salientar essa informação, pois nas empresas
os usuários costumam ter pressa e, por isso, certamente você será solicitado a rea-
lizar um reparo sem o pedido formal de manutenção, para ganhar tempo. Agindo
assim, você desrespeita as solicitações dos outros usuários, além de omitir infor-
mações importantes para a empresa, que precisa ter o registro da manutenção
para gerenciar o setor adequadamente.
11 MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
165

Quando chegar o momento de realizar a manutenção, se for necessário solici-


tar a compra de algum componente para o reparo, você deve fazer a requisição
conforme o procedimento da empresa.

11.1.3 MANUTENÇÃO INVIÁVEL

Em alguns casos, o custo de manutenção, que envolve os componentes defei-


tuosos e a mão de obra, torna-se muito caro, se comparado ao preço de um equi-
pamento novo. Como mantenedor, você deve informar ao cliente ou à empresa
que o custo está excessivamente alto, indicando que o reparo pode ser inviável.
Note que a decisão sobre a realização ou não da manutenção não caberá a você,
mas, como profissional, é importante orientar o cliente ou a empresa quanto a
essa situação.

Figura 92 -  O alto custo da manutenção pode inviabilizá-la


Fonte: SENAI-SP (2013)

Além disso, repetidas manutenções em curto espaço de tempo podem indicar


que o equipamento está no fim da sua vida útil. Os componentes eletrônicos, em
geral, não se desgastam, mas os equipamentos podem conter partes mecânicas
ou outros tipos de componentes que, naturalmente, se degradam. Por isso, é ne-
cessário avaliá-los, para saber o estado geral do equipamento. Muitas vezes, essa
análise leva ao mesmo caso que citamos há pouco, em que a manutenção pode
ser inviável. Do mesmo modo que antes, não deixe de informar isso ao cliente ou
à empresa para a qual está prestando o serviço.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
166

1 ÁLCOOL ISOPROPÍLICO Por fim, a manutenção pode ser considerada definitivamente inviável quando
determinado componente não é encontrado no mercado. Você deve estudar a
Tipo de álcool praticamente
isento de água. Essa possibilidade de substituí-lo por um equivalente e, quando isso não for possível,
característica o torna o equipamento não poderá ser consertado. Existem componentes eletrônicos
adequado para a limpeza
de PCI e componentes que são criados especificamente para um equipamento, e, por isso, encontrar um
eletrônicos, já que a
ausência de água evita a substituto nem sempre é possível. Informe ao cliente ou à empresa sobre os mo-
oxidação. tivos que impossibilitam a manutenção, indicando que você esgotou várias alter-
nativas antes de condenar o equipamento.

11.2 MANUTENÇÃO EM EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS

Após tomar todas as previdências que antecedem a manutenção, chegou o


momento de, efetivamente, consertar o equipamento. Conhecendo os compo-
nentes que precisam ser substituídos, conforme detectado na fase de diagnósti-
co, partimos, agora, para a sua troca.

11.2.1 SUBSTITUIÇÃO DE COMPONENTES ELETRÔNICOS

O procedimento de substituição de um componente eletrônico consiste em


sua remoção, que envolve o processo de dessoldagem e instalação do novo com-
ponente, por meio do processo de soldagem.
Pareceu-lhe familiar? Como pode imaginar, os processos de dessoldagem e
soldagem ocorrem da mesma forma que estudamos em Instalação de Sistemas
Eletrônicos. Para resgatar as informações, vamos mostrar o procedimento de for-
ma resumida. Acompanhe.
a) Segurança: utilize o EPI necessário para o procedimento, no caso, os óculos
de segurança.
b) ESD: tome as precauções necessárias para prevenção contra ESD. Lembre-
-se da pulseira antiestática e da manta antiestática sobre a bancada.
c) Dessoldagem: tenha em mãos os equipamentos necessários para a dessol-
dagem, tais como sugador de solda e soldador. Lembre-se de que, depen-
dendo do componente eletrônico, você pode utilizar ferro de solda, estação
de solda ou estação de retrabalho SMD. Tome cuidado com o excesso de
temperatura sobre a PCI e o componente e remova todo e qualquer resíduo
de solda da ilha, para facilitar a inserção do componente novo.
d) Soldagem: utilize o soldador mais apropriado e faça a soldagem do novo com-
ponente. Fique atento à polaridade dos componentes e, novamente, com o
excesso de temperatura. Limpe o entorno da ilha com álcool isopropílico.
11 MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
167

e) Meio ambiente: não descarte em lixo comum os resíduos provenientes da


dessoldagem ou mesmo os componentes eletrônicos substituídos. Lem-
bre-se do impacto ambiental, sobre o qual falamos em Qualidade, Saúde,
Meio Ambiente e Segurança no Trabalho.
Após a substituição dos componentes, alguns equipamentos precisam ser
configurados para que funcionem corretamente. É o que veremos a seguir.

11.2.2 AJUSTE DE PARÂMETROS OU CONFIGURAÇÕES DE


FUNCIONAMENTO

Ao substituir alguns componentes eletrônicos, configurações ou parâmetros


de funcionamento podem ser perdidos. Ao substituir um microcontrolador, por
exemplo, é necessário gravar em sua memória o firmware do equipamento, pois
um microcontrolador novo vem com a memória em branco.
Além do firmware, parâmetros e configurações de funcionamento também
podem ser perdidos, pois residem em componentes eletrônicos que guardam
essas informações. Quando um componente desses é substituído, é necessário
ajustar o equipamento com os valores adequados ao funcionamento ou preferi-
dos pelo usuário.

Figura 93 - Ajuste de parâmetros e configurações


Fonte: SENAI-SP (2013)

Aliás, você pode estar se questionando: qual a diferença entre parâmetro e


configuração? Ambos se referem a informações armazenadas no equipamento.
Os parâmetros são informações essenciais para o funcionamento adequado de
um equipamento, e as configurações são informações definidas pelo usuário. Ge-
ralmente, os usuários não têm acesso aos parâmetros. Veja alguns exemplos.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
168

a) Ao substituir a memória de um televisor, várias informações são perdidas: a


sintonia dos canais precisa ser refeita; os ajustes de brilho, contraste e mui-
tos outros também precisam ser reconfigurados. Todas essas informações
são configurações definidas pelo usuário.
b) Ao trocar a placa principal de uma balança eletrônica, o ajuste que garante
a indicação correta do peso é perdido, ou seja, a balança fica descalibrada.
O ajuste de calibração é, portanto, um parâmetro.
Assim, independentemente do nome que seja dado, é importante verificar e
ajustar eventuais informações perdidas com a substituição de componentes.
Uma boa prática é anotar os valores configurados antes de substituir o com-
ponente. Evidentemente, nem sempre isso é possível, pois a falha ou o defeito do
equipamento pode impedi-lo de acessar esses valores. De qualquer modo, anote
sempre que for possível. Isso facilita o seu trabalho, pois, após a substituição do
componente, será possível configurar o equipamento da mesma forma que antes.

Alguns parâmetros precisam ser ajustados conforme


procedimento indicado pelo fabricante do equipamen-
to. Mesmo anotando os valores anteriores, é necessário
FIQUE seguir rigorosamente as instruções do fabricante. Um
ALERTA parâmetro pode ser essencial para o perfeito funciona-
mento de um equipamento médico, por exemplo. Assim
precisa estar perfeitamente ajustado para garantir a cor-
reta avaliação do paciente.

11.2.3 REGISTRO DE DADOS DE MANUTENÇÃO

Ao concluir a substituição dos componentes defeituosos e realizar o ajuste


dos parâmetros e das configurações, o equipamento está pronto para funcionar.
Antes de fazer qualquer teste, porém, é necessário registrar o serviço executado.
Você precisa anotar todos os dados referentes à manutenção, como defeito apre-
sentado, peças substituídas, configurações e parâmetros ajustados.
Os dados de manutenção garantem um histórico técnico do equipamento.
Como vimos no capítulo anterior, essas informações podem ser muito úteis no
diagnóstico de uma falha ou um defeito, já que podem fornecer pistas sobre um
problema intermitente ou reincidente.
Além de ajudar os mantenedores no diagnóstico, essas informações podem
gerar relatórios que contribuem para a melhoria do projeto, pois é possível ob-
servar as principais causas de falhas e defeitos, estudá-las e propor alterações que
possam, no futuro, minimizá-las ou mesmo evitá-las.
11 MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
169

Figura 94 -  Estudo de melhorias para o equipamento


Fonte: SENAI-SP (2013)

A forma como essas informações são registradas varia de uma empresa para
outra. Cada empresa pode criar o seu próprio padrão de formulário para coletar
dados de manutenção.

11.3 TESTES DE VALIDAÇÃO

Após concluir a manutenção e registrar os dados, é necessário realizar testes


de funcionamento para garantir que o problema foi solucionado. Mas os testes
devem ir além da constatação do término do problema: é preciso verificar todas
as funções do equipamento. A análise completa pode evitar a reincidência de ma-
nutenção e garante a satisfação do cliente/usuário. Veja alguns exemplos.
a) Falhas ou defeitos não percebidos: muitas vezes, o equipamento pode apre-
sentar falhas ou defeitos que não haviam sido percebidos pelo cliente/usuário.
b) Falhas ou defeitos não relatados: o cliente/usuário pode esquecer-se de re-
portar outras falhas ou outros defeitos do equipamento. Geralmente, são
pequenos problemas com os quais o cliente/usuário acostumou-se a con-
viver e, por isso, é comum não relatá-los.
c) Efeito colateral: ao realizar a manutenção, você pode criar uma nova falha
ou um novo defeito sem perceber. Exemplo: ao substituir uma memória,
você pode esquecer-se de ajustar um parâmetro que não esteja relaciona-
do com a falha ou o defeito que está tratando.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
170

Assim como vimos em Instalação de Sistemas Eletrônicos, o procedimento de


teste de manutenção também deve obedecer a uma rotina, definida pelo fabricante.
Embora tenham o mesmo propósito, as rotinas de teste pós-instalação e pós-
manutenção costumam ser diferentes. Os testes pós-instalação geralmente são
mais rigorosos e utilizam equipamentos específicos que, nem sempre, estão dispo-
níveis nos testes de manutenção. Como exemplo, podemos citar as gigas de testes.
É praticamente inviável um laboratório de manutenção ou um técnico de campo
possuir gigas de testes para todos os modelos de equipamento que consertam.
Ocorre, porém, que nem todos os fabricantes criam rotinas de teste específicas
para manutenção. Nesses casos, verifique o maior número possível de funcionali-
dades do equipamento.
Após certificar-se de que tudo está funcionando adequadamente, uma boa
prática é solicitar ao cliente/usuário que ele próprio faça um teste. Isso dá mais
credibilidade à manutenção realizada. Além disso, ao observar o cliente/usuário
utilizando o equipamento, você pode detectar falhas na operação. Instrua-o, caso
seja necessário.
O procedimento de teste pode ser concluído com o aceite do cliente, ou seja,
com a garantia de que ele aprovou o serviço realizado por você.

Figura 95 -  A aceitação, por parte do cliente, do serviço realizado é essencial


Fonte: SENAI-SP (2013)

Lembre-se de que o objetivo da manutenção é garantir o pleno funcionamen-


to do equipamento, em busca da satisfação do cliente/usuário.
11 MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
171

11.4 ENCERRAMENTO DA MANUTENÇÃO

Após realizar a manutenção, verificar o funcionamento do equipamento e ob-


ter a aprovação do cliente, é necessário finalizar a ordem de serviço.
A ordem de serviço, quase sempre, possui um local reservado para a assinatura
do cliente, que certifica o aceite quanto à manutenção executada. Não se esqueça
de coletar a assinatura, pois é a garantia formal de aceitação do serviço.
Assim como o registro de dados de manutenção, algumas ordens de serviço
possuem campos para que você registre tudo o que ocorreu durante o processo,
como a falha ou o defeito detectado, a causa do problema, as peças substituídas
e até mesmo as orientações dadas ao cliente. Anote tudo, pois a ordem de serviço
é o documento formal de tudo o que foi realizado.
Por fim, antes de entregar em definitivo o equipamento ao cliente, certifique-
se de que esteja devidamente limpo. É comum, durante a manutenção, que mar-
cas de dedo ou outro tipo de sujeira se impregnem no equipamento. É dever do
mantenedor entregá-lo limpo ao cliente/usuário.
Além da limpeza do equipamento, verifique se o ambiente está organizado:
todo o lixo descartado corretamente e as ferramentas guardadas e organizadas.
Tudo isso também dá credibilidade e profissionalismo à manutenção. Lembre-se,
sempre, de se colocar no lugar do cliente: quando solicitamos um serviço qual-
quer, esperamos sempre o melhor, e é exatamente isso que você deve oferecer
ao seu cliente.

Para conhecer mais sobre a importância da satisfação dos


SAIBA clientes e como buscá-la, consulte o livro “Satisfação do
MAIS cliente: a outra parte do seu trabalho”, de Dru Scott, da
editora Quality Mark.
MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
172

CASOS E RELATOS

Você não consertou direito!


Ao solucionar uma falha em um equipamento que não ligava, o jovem téc-
nico preencheu os dados de manutenção e depois ligou e desligou o equi-
pamento várias vezes, para certificar-se de que o problema estava, de fato,
solucionado. Por fim, finalizou a ordem de serviço. Como o equipamento já
estava bem limpo, poderia, portanto, entregá-lo ao cliente.
Pouco tempo depois, porém, o cliente mostrava-se furioso. Alegava que o
equipamento não havia sido consertado direito. Uma das teclas de acesso
às configurações não estava funcionando. O supervisor, experiente, acal-
mou o cliente e ouviu com atenção todas as reclamações. Comprometeu-se
a resolver o problema.
Quando o supervisor conversou com o técnico, percebeu que este não
havia feito todos os testes de validação. Isso foi uma lição valiosa para o
técnico, pois, embora tenha tomado todas as providências para solucionar
a falha reportada pelo cliente, esqueceu-se de realizar um teste de valida-
ção mais completo antes de concluir o serviço. Além disso, esqueceu-se de
perguntar ao cliente se havia mais alguma falha ou algum defeito, além do
fato de o equipamento não ligar.
Verificamos, portanto, que quando a expectativa do cliente não é atendida,
podemos nos tornar alvo de críticas e ter nossa imagem e a imagem da em-
presa comprometidas. Mesmo tendo solucionado a falha principal, o equi-
pamento não funcionava conforme a expectativa do cliente. Isso poderia
ter sido evitado com uma boa conversa, sondando o cliente sobre outras
possíveis falhas ou defeitos, ou solicitando que o próprio cliente realizasse
testes na presença do técnico. Além disso, o técnico poderia ter sido mais
minucioso nos testes de validação.
11 MANUTENÇÃO DE SISTEMAS ELETRÔNICOS
173

RECAPITULANDO

Neste capítulo, verificamos que o orçamento e a ordem de serviço são do-


cumentos essenciais para o serviço de manutenção, pois são as garantias
formais do serviço que será executado.
Vimos que o serviço de manutenção só pode ser feito após a autorização
do cliente.
Relembramos os cuidados com o processo de substituição de componen-
tes eletrônicos, o qual depende, basicamente, das técnicas de dessoldagem
e soldagem de componentes.
Vimos ainda que alguns componentes armazenam dados de configuração
ou parâmetros de funcionamento dos equipamentos eletrônicos. Assim, é
recomendável verificar todos esses ajustes antes de concluir a manutenção.
Analisamos a importância de realizar testes de validação antes de entregar
o equipamento ao cliente. Além disso, vimos que é recomendável que o
próprio cliente realize testes na presença do técnico.
Por fim, verificamos a importância de manter o local de trabalho organiza-
do e entregar o equipamento limpo ao cliente. O serviço de manutenção
é concluído mediante a assinatura do cliente, para confirmar aceitação do
serviço.
Com este capítulo, encerramos o livro de Manutenção de Sistemas Eletrôni-
cos. Esperamos que os estudos realizados até aqui tenham contribuído
para a sua formação de Técnico em Eletroeletrônica.
REFERÊNCIAS

3-TERMINAL adjustable regulator: check for samples: LM317. Texas Instruments. Disponível em:
<http://www.ti.com/lit/ds/symlink/lm317.pdf>. Acesso em: 30 out. 2012.
4N25, 4N26, 4N27, 4N28: optocoupler, phototransistor output, with base connection. Vishay
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out. 2012.
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CIPIELI, Antônio Marcos V.; MARKUS, Otávio; SANDRINI, Waldir. Teoria e desenvolvimento de
projetos de circuitos eletrônicos. 22. ed. São Paulo: Érica, 2006.
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www.fairchildsemi.com/ds/LM/LM317.pdf>. Acesso em: 30 out. 2012.
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datasheetcatalog.org/datasheet/fairchild/NE555.pdf>. Acesso em: 30 out. 2012.
LM7800 series: terminal low current: positive voltage regulators. FCI Semiconductor. Disponível
em: <http://www.cotra.com.tw/TRANSISTOR/LM7800.pdf>. Acesso em: 30 out. 2012.
LM78XX/LM78XXA: 3-terminal 1A positive voltage regulator. Fairchild Semiconductor. Disponível
em: <http://www.fairchildsemi.com/ds/LM/LM7805.pdf>. Acesso em: 30 out. 2012.
LM78XX series voltage regulators: check for samples: LM7805C, LM7812C, LM7815C. Texas
Instruments. Disponível em: <http://www.ti.com/lit/ds/symlink/lm7805c.pdf>. Acesso em: 30 out. 2012.
MARQUES, Angelo Eduardo B.; CRUZ, Eduardo Cesar Alves; JÚNIOR, Salomão Choueri. Dispositivos
semicondutores: diodos e transistores. 2. ed. São Paulo: Érica, 1996.
MELO, Mairton de. Eletrônica digital. São Paulo: Makron Books, 1993.
MULTÍMETRO analógico. Eletrônica digital. Disponível em: <http://www.eletronicadigital.com/
site/instrumentos-medicao/6-multimetro-analogico.html>. Acesso em: 10 out. 2012.
SCOTT, Dru. Satisfação do cliente: a outra parte do seu trabalho. Rio de Janeiro: Quality Mark, 1995.
SILVA, Marco Aurélio da. A lei de Lenz. Brasil Escola. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/
fisica/a-lei-lenz.htm>. Acesso em: 5 out. 2012.
TLP521−1,TLP521−2,TLP521−4. Datasheet Catalog. Disponível em: <http://www.
datasheetcatalog.org/datasheet/toshiba/2233.pdf>. Acesso em: 30 out. 2012.
MINICURRÍCULO DOS AUTORES

Carlos José Pereira Ferreira é técnico em Eletrônica e tecnólogo em Elétrica, com pós-graduação
em Administração de Marketing e em Educação a Distância. Atuou como técnico em Eletrônica
na Xerox durante seis anos, e foi supervisor técnico interino durante um ano na mesma empresa.
Na Kria Tecnologia, desenvolveu a integração de equipamentos eletroeletrônicos e softwares de
gestão e controle, visando à comunicação de equipamentos das áreas de automação comercial,
industrial e de equipamentos de inteligência para rodovias (ITS) com os softwares para operação e
gestão das informações disponibilizadas por esses equipamentos. Desde 2011, atua como docente
na área de Eletrônica no SENAI-SP. Integra a equipe de Eletroeletrônica no desenvolvimento de
cursos do Programa Nacional de Oferta de Educação Profissional na Modalidade a Distância (PN-
EAD SENAI).

Jair Pereira da Silva é Engenheiro Eletricista, técnico em Eletrônica e especialista em Matemática


e Estatística, com mestrado em Engenharia Elétrica. De 1979 a 1990, atuou como analista de
semicondutores na Philips do Brasil. No SENAI-SP, entre 1990 e 2010, lecionou em cursos de
aprendizagem profissional e técnicos, ministrando as disciplinas Eletrônica Analógica, Digital
e de Potência, Eletricidade, Instalações Elétricas, Gestão pela Qualidade e Relações Humanas.
Atualmente é professor na Universidade Cruzeiro do Sul, dos cursos de Engenharia Elétrica e
Mecânica, das matérias Circuitos Eletrônicos, Eletrônica Digital e Cálculo Diferencial e Integral.
Colaborou no desenvolvimento de conteúdo dos livros didáticos de Instalação e Manutenção de
Sistemas Eletrônicos, que integram o Programa Nacional de Oferta de Educação Profissional na
Modalidade a Distância (PN-EAD SENAI).

Moises Antonio Mazzarolo é técnico em Eletrônica e tecnólogo em Mecatrônica Industrial,


com pós-graduação em Educação a Distância (cursando). Atuou como técnico em Eletrônica na
manutenção e no reparo de placas eletrônicas na Seleconta Indústria e Comércio de Automação
Comercial. Nas Indústrias Filizola, atuou na implantação e manutenção de balanças eletrônicas,
de controladores de vendas e de semáforos inteligentes na cidade de São Paulo. Foi também
eletricista de manutenção nas Indústrias RCN. É docente do SENAI-SP desde 1990 e atualmente
integra a equipe de Eletroeletrônica no desenvolvimento de cursos do Programa Nacional de
Oferta de Educação Profissional na Modalidade a Distancia (PN-EAD SENAI).
ÍNDICE

A
Álcool isopropílico 166
Assíncrono 106, 107, 108, 114

C
Chuviscos 90
Circuito de interface 37, 38, 39, 42, 45, 49, 50, 59, 64, 66, 67, 68, 73, 82, 84
Clock 106, 107, 110, 119
Comodato 158
Corte 39, 40, 43, 133, 134, 141

E
Eletrônica embarcada 156, 157, 159
Erro de paralaxe 56

F
Filtro 22, 30, 31, 32, 35, 79, 126, 135, 136, 138, 142, 143, 154
Filtro de linha 124, 135, 154

H
Hipótese 72, 73, 127, 147, 150, 151, 152, 159

L
Locação 158

S
Saturação 39, 40, 42, 133
Síncrono 106, 107

V
VCC 38, 39, 42, 43, 54, 59, 78, 80, 133, 134, 140
VCE 42, 43
Vds 132, 133, 134
SENAI – DEPARTAMENTO NACIONAL
UNIDADE DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA – UNIEP

Rolando Vargas Vallejos


Gerente Executivo

Felipe Esteves Morgado


Gerente Executivo Adjunto

Diana Neri
Coordenação Geral do Desenvolvimento dos Livros

SENAI – DEPARTAMENTO REGIONAL DE SÃO PAULO

Walter Vicioni Gonçalves


Diretor Regional

Ricardo Figueiredo Terra


Diretor Técnico

João Ricardo Santa Rosa


Gerente de Educação

Airton Almeida de Moraes


Supervisão de Educação a Distância

Cláudia Benages Alcântara


Henrique Tavares de Oliveira Filho
Márcia Sarraf Mercadante
Coordenação do Desenvolvimento dos Livros

Carlos José Pereira Ferreira


Jair Pereira da Silva
Moises Antonio Mazzarolo
Elaboração

Cleber de Paula
Revisão Técnica

Marianka de Souza Gonçalves Santa Bárbara


Design Educacional

Alexandre Suga Benites


Juliana Rumi Fujishima
Ilustrações
Delinea Tecnologia Educacional
Editoração

Andréa Borges Minsky


Bárbara Seger
Laís Gonçalves Natalino
Tiago Costa Pereira
Revisão Ortográfica e Gramatical

Natália de Gouvêa Silva


Laura Martins Rodrigues
Cassiana Mendonça Pottmaier
Diagramação

i-Comunicação
Projeto Gráfico

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