Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AQUISIÇÃO DA
LINGUAGEM E ESCRITA
Nancy Capretz Batista da Silva
1ª edição
Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2019
2
Autoria: Prof. Nancy Capretz Batista da Silva
Revisão: Prof. Giani Vendramel de Oliveira
Como citar este documento: SILVA, Nancy C. B. da. Aquisição da linguagem e escrita. Valinhos: 2019.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida
de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou
qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
3
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM E ESCRITA
SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 5
Pensamento e linguagem 6
Comunicação e linguagem 37
4
Apresentação da disciplina
Caro aluno,
5
Pensamento e linguagem
Autora: Nancy Capretz Batista da Silva
Objetivos
6
1. O desenvolvimento do pensamento e da
linguagem: Vygotsky e a perspectiva sociocultural
Você já se perguntou o que está por trás da aquisição da linguagem
e da escrita? Precisamos considerar que o desenvolvimento da
linguagem acontece a vida toda, mas adquire um nível suficiente para
a participação social ainda na infância. Na idade adulta tende a se
aprimorar e se modificar dependendo do contexto de vida da pessoa.
Quando os estudiosos da área tentaram elaborar uma compreensão
racional sobre a linguagem, se encontraram com outro processo
igualmente relevante, o pensamento.
7
• O pensamento precisa da palavra para se objetivar de maneira
clara e articulada.
• Ao pensar falamos com nós mesmos (linguagem interna).
• A linguagem é facilitadora e inibidora do pensamento
(Bernstein, Sapir, etc.).
• A linguagem é reguladora da conduta (Luria).
• A linguagem é elemento facilitador na tarefa de solução de
problemas.
• A linguagem participa da formação e expressão de conceitos e
raciocínios.
• A linguagem é indicativa do tipo de pensamento de um sujeito
(estilo cognitivo) e de sua capacidade mental (hipótese de partida
de muitos testes de inteligências) etc. (VÍLCHEZ, 2007, p. 154).
8
ASSIMILE
A teoria sócio-histórica, adotada aqui, coloca no significado
da palavra a relação de interdependência existente entre
os processos de pensamento e linguagem, pois se constitui
em pensamento verbalizado, possuindo, desta forma,
propriedades relativas aos dois componentes.
9
classe de objetos. Podemos nos referir com uma única palavra a toda
uma classe de objetos ou sensações. Por exemplo, ao nos referirmos
à palavra “árvore” permitimos a formação de toda uma gama imensa
de imagens de diferentes árvores que encontram-se reunidas sob um
único nome. Um outro exemplo seria a criança pequena olhar para o
cachorro da vizinha toda vez que o pai fala a palavra “cachorro”, que
inicialmente, para ela, refere-se somente a este ser; contudo, ao longo
do desenvolvimento desta criança, ela vai entrar em contato com
outros animais, com imagens de animais, vídeos de animais, e passará
a discriminar diferentes cachorros, usando o termo “cachorro” para
outros que não apenas aquele da vizinha e identificando o significado do
termo para todo um grupo que corresponde a uma espécie de animais.
Por isso que a palavra não se refere a um objeto isolado, porque
seu entendimento depende de uma construção mais abrangente de
conceitos compartilhados pelos falantes e ouvintes.
10
10
socialmente, influenciar as pessoas à sua volta. Em uma determinada
faixa etária a linguagem da criança pode ser mais dirigida para si do que
comunicativa, mas ambas são funções sociais. Este teórico acredita que
até mesmo a linguagem egocêntrica é social porque a criança transfere
para o campo das funções psicológicas pessoais as formas sociais de
pensamento e as de colaboração coletiva. Desta forma, na evolução do
pensamento durante a infância, existe uma fase pré-verbal e raízes pré-
intelectuais da fala, que são conhecidas como gritos, balbucios e até as
primeiras palavras, que diferem do desenvolvimento do pensamento.
Nesta fase já se manifesta a função social da fala.
11
Destaca-se entre as contribuições de Luria a importância da função
autorreguladora na construção do psiquismo, salientando-se as
interações sociais envolvidas neste processo:
12
12
Figura 1 – Crianças passam a nomear e comunicar por
meio dos signos por volta dos dois anos de idade
Fonte: SarahlWard/iStock.com.
13
De acordo com Corrêa, existem diversas evidências experimentais
na pesquisa em aquisição da linguagem sob uma perspectiva
psicolinguística (ou seja, especificamente sobre o processo de aquisição
da língua considerando como o material linguístico é processado pela
criança) quanto às habilidades de percepção e linguagem da criança
antes do aparecimento da fala (CORRÊA, 2006).
14
14
É interessante notar que o que se percebe no desenvolvimento da
linguagem da criança, no seu aspecto fásico (externo), é uma construção
das partes para o todo. A partir de uma palavra concatena-se duas ou
três palavras, depois tem-se uma frase simples e da concatenação de
frases tem-se proposições complexas e finalmente uma linguagem
coordenada e formada por uma série desenvolvida de orações. Assim, a
criança diz “au-au” para expressar que está vendo um cachorro passar
em frente à sua casa porque ainda não pronuncia outras palavras que
possam servir para expressar aquela situação e comunicá-la ao adulto
que lhe acompanha.
15
Retomando a linguagem egocêntrica, sua função é semelhante à
da linguagem interior: autônoma, ou seja, serve o pensamento da
criança quanto à orientação intelectual, tomada de consciência da
superação das dificuldades e dos obstáculos e reflexão. Ao longo do
desenvolvimento da criança, aproximadamente entre os três e os sete
anos de idade,
16
16
Resumindo, como pontua Corrêa (2006), bebês humanos aprendem
de forma bem-sucedida as palavras devido à sua capacidade de
descobrirem as unidades linguísticas e conceituais relevantes e a
sua correspondência. Desta forma, uma valiosa informação para
estimulação da criança é que, mesmo que o bebê ainda não fale,
nomear tem importantes consequências cognitivas.
TEORIA EM PRÁTICA
A educação brasileira estabelece a meta de aprendizagem
da escrita para os alunos na faixa etária de 6 anos, havendo
certa flexibilidade para que esta aprendizagem ocorra
dentro dos três anos seguintes. Imagine que você participará
de uma reunião com professores da educação infantil
de um município e precisa esclarecer a quais processos
importantes eles precisam se atentar no desenvolvimento
do pensamento e da linguagem de crianças para que
17
possam aprimorar habilidades que serão relevantes na
aquisição da escrita. Quais pontos você destacaria? Inclua,
entre outros tópicos, explicações sobre o momento no
desenvolvimento em que a fala se torna intelectual e o
pensamento verbalizado e a questão dos limites biológicos e
possibilidades histórico-sociais do desenvolvimento.
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Pensamento e linguagem, para Vygotsky:
a. Identificam-se, são o mesmo processo.
a. Medeia a linguagem.
c. É um sistema de signos.
18
18
3. Ainda sobre pensamento e linguagem, Vygotsky
afirma que:
Referências bibliográficas
COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. (Orgs.). Desenvolvimento psicológico e
educação: psicologia evolutiva. v. 1. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
CORRÊA, L. M. S. (Org.). Aquisição da linguagem e problemas do
desenvolvimento linguístico. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2006.
LEAVITT, J. Linguistic relativities. In: JOURDAN, C.; TUITE, K. (Ed.) Language, culture,
and society: key topics in Linguistic Anthropology. Cambridge University Press,
2006. p. 47 - 81. Cambridge Books Online. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1017/
CBO9780511616792. Acesso em: 5 nov. 2019.
OLIVEIRA, M. K.; REGO, T. C. Contribuições da perspectiva histórico-cultural de Luria
para a pesquisa contemporânea. Educação e Pesquisa, v. 36, n. especial, p. 107-
121, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v36nspe/v36nspea09.pdf.
Acesso em: 5 nov. 2019.
PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e
Paulo Sérgio Lima Silva. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
SKINNER, B. F. O comportamento verbal. São Paulo: Cultrix: Ed. da Universidade
de São Paulo, 1978.
VÍLCHEZ, L. F. Transtornos do pensamento e da linguagem: tratamento educacional.
In: GONZÁLEZ, E. e cols. Necessidades educacionais específicas. Porto Alegre:
Artmed, 2007. p. 154-170.
VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
19
Gabarito
Questão 1 – Resposta: D
Resolução: De acordo com este teórico, as investigações psicológicas
devem utilizar unidades de análise, as quais contêm propriedades
do todo. No caso da relação entre pensamento e linguagem,
acredita que a unidade que contém propriedades inerentes ao
pensamento verbalizado como uma totalidade pode ser encontrada
no aspecto interno da palavra, ou seja, no seu significado.
Feedback de reforço: Vygotsky apontou que enquanto componentes
interdependentes, os processos de pensamento e linguagem se
relacionam por meio de uma unidade específica de análise.
Questão 2 – Resposta: B
Resolução: A função da linguagem é comunicativa. Por meio
da linguagem é possível a comunicação social, enunciação e
compreensão. Desta forma, a linguagem, enquanto sistema de
signos, medeia a comunicação.
Feedback de reforço: Ao refletir sobre como a comunicação ocorre,
verificamos que existe um processo do qual ela resulta do próprio
do ser humano.
Questão 3 – Resposta: C
Resolução: Da mesma forma que as raízes genéticas de
pensamento e linguagem são diversas, estes processos não
caminham em paralelo o tempo todo, mas convergem e divergem
ao longo do desenvolvimento. No pensamento do adulto,
“a relação entre intelecto e linguagem não é constante e
idêntica para todas as funções e formas de atividade
intelectual e verbalizada” (VYGOTSKY, 2000, p. 114).
Feedback de reforço: Vygotsky enfatizou que pensamento
e linguagem seguem o desenvolvimento humano sem
constância ou igualdade.
20
20
Linguagem escrita e
linguagem oral
Autora: Nancy Capretz Batista da Silva
Objetivos
21
1. A linguagem no centro da educação
No dia a dia do ser humano a linguagem oral é amplamente usada,
salvo em situações em que a fala e/ou a audição está ausente
ou comprometida. Da mesma maneira, a linguagem escrita tem
presença constante nas sociedades letradas, desde a visualização da
hora no despertador até as placas de sinalização em um prédio de
circulação pública.
22
22
Ainda que, como salienta Sánchez, operar a linguagem escrita seja
uma condição de integração e cidadania na sociedade, muitas
crianças no Brasil podem ser consideradas como apresentando
distúrbios da aprendizagem ou como carentes culturais, quando
na verdade são vítimas da falta de oportunidades para aprender,
o que pode estar relacionado às políticas econômicas, sociais e
educacionais, cujas consequências as impedem de acessar bens
culturais como a escrita (ZORZI, 2003).
23
finas, coordenação motora e visual bem-estabelecida, noções espaciais,
noções de lateralidade, discriminação e memória visual e auditiva,
noções temporais, atenção, interesse, e outros (ZORZI, 2003).
Embora ter uma “boa fala” não seja pré-requisito para aprender a
escrever bem, na fala, uma série de aspectos e formalidades da escrita
são incorporados. Assim, falar bem é um produto de modificações
na linguagem oral produzidas por um processo de letramento. Neste
sentido, na sociedade existe uma atribuição de prestígio relacionada à
forma como a pessoa usa a linguagem oral (ZORZI, 2003).
24
24
ASSIMILE
A linguagem é aprendida nos diversos ambientes dos
quais a criança faz parte, mas na escola é objeto e
ferramenta de aprendizagem. Por isso, aprende-se o uso
formal da linguagem, visando o acesso ao conhecimento
em diferentes formatos linguísticos e um padrão de
entendimento convencionado numa determinada cultura.
25
simples apreensão da técnica da escrita” (VYGOTSKY, 2000, p. 312).
O desenvolvimento da escrita, enquanto uma função específica da
linguagem de pensamento, de representação, requer um nível elevado
de abstração. Além disso, a linguagem escrita não possui interlocutor
direto, havendo aí mais um grau de abstração, o que torna mais difícil
a aquisição desta, ainda mais se for somado o fato de não haver para a
criança a mesma motivação que a levou a desenvolver a fala, tanto pela
necessidade quanto pelo entendimento da sua função. As interações
que se estabelecem a partir de situações como necessidades, dúvidas,
curiosidades, pedidos e explicações motivam a situação da fala. Já
a relação com a situação na linguagem escrita é representada no
pensamento e implica consciência da estrutura sonora da palavra, seu
desmembramento e sua restauração de forma voluntária nos sinais
escritos (VYGOTSKY, 2000).
26
26
linguagem muito mais desenvolvida (VYGOTSKY, 2000). Seu domínio
depende da aquisição de “habilidades que permitem passar da
ortografia das palavras à sua fonologia e ao seu significado
(ou, no caso da escrita, da fonologia à ortografia)” (SÁNCHEZ,
2004, p. 90). Dessa forma, as habilidades de reconhecimento das
palavras são muito específicas.
O domínio da escrita também depende da utilização dessas
habilidades para a comunicação com os outros, a qual por não
ocorrer no tempo e espaço imediatos “requer o desenvolvimento de
recursos retóricos e cognitivos extremamente sofisticados que se
assentam nas competências linguísticas orais, ao mesmo tempo em
que as transcendem” (SÁNCHEZ, 2004, p. 90). Esses dois aspectos, de
reconhecimento das palavras e de comunicação, devem integrar-se
progressivamente um no outro (SÁNCHEZ, 2004).
27
A teoria da via dupla é a mais influente para explicar cognitivamente
como se dá o reconhecimento das palavras escritas: por meio da via
fonológica e por meio da via léxica. Pela via fonológica, os grafemas
(unidades da escrita) são transformados em sons, os quais são reunidos
em uma representação, que deve ser reconhecida, e os conhecimentos
semânticos associados à representação são atingidos. Pela via léxica o
reconhecimento da palavra acontece ao mesmo tempo que o acesso a
seu significado. Com o reconhecimento, chega-se à fonologia da palavra,
sendo possível lê-la em voz alta (SÁNCHEZ, 2004).
28
28
4. Conhecimento segmental: compreender que as palavras são
formadas por fonemas, uma sequência de unidades sonoras.
Este conhecimento desenvolve a escrita, assim como a escrita
desenvolve este conhecimento.
29
• Fase silábico-alfabética: a criança deixa de considerar a
sílaba como uma unidade, compreendendo que ela pode ser
segmentada em fonemas. Apenas ao escrever a criança começa a
prestar atenção nos elementos intrassilábicos.
30
30
Figura 1 – Os professores podem intervir junto aos alunos com
dificuldades no domínio do sistema ortográfico
Fonte: FatCamera/iStock.com.
31
qual é, essencialmente, dialógica, e possui características como
entonação, expressões faciais e conhecimento compartilhado sobre
um assunto. Por apresentarem desenvolvimentos diferentes, a
escrita tem sido alvo de atenção por constituir-se não só objeto
de aprendizagem como também instrumento de acesso a outros
conhecimentos. É preciso entendimento dos usos e funções da
escrita para aprendê-la, além de atribuir-lhe graus variados de
significações. Seu processo de aquisição envolve o que conhecemos
como consciência fonológica. Conclui-se que propostas educacionais
adequadas devem considerar a diversidade dos alunos e seu
conhecimento prévio.
TEORIA EM PRÁTICA
32
32
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
33
d. Falar bem é um produto de modificações na linguagem
oral produzidas por um processo de oralização.
Referências bibliográficas
SÁNCHEZ, E. A linguagem escrita e suas dificuldades: uma visão integradora. In:
COLL, C.; MARCHESI, Á.; PALACIOS, J. (Orgs.). Desenvolvimento psicológico e
educação: transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais.
Porto Alegre: Artmed, 2004. vol. 3. p. 90-112.
34
34
SARAIVA, A. Indicadores de educação avançam, mas desigualdades regionais e
raciais persistem. Agência de notícias IBGE. Estatísticas sociais. 2019. Disponível
em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/24852-indicadores-de-educacao-avancam-mas-desigualdades-
regionais-e-raciais-persistem. Acesso em: 5 nov. 2019.
VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
ZORZI, J. L. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita: questões clínicas e
educacionais. Porto Alegre: Artmed, 2003.
Gabarito
Questão 1 – Resposta: C
Resolução: Além das “funções básicas” ou “funções
neuropsicomotoras” que as crianças devem apresentar para
aprender a linguagem escrita adequadamente (habilidades motoras
finas, coordenação motora e visual bem-estabelecida, noções
espaciais, noções de lateralidade, discriminação e memória visual e
auditiva, noções temporais, atenção, interesse, e outros), devem-se
considerar as situações reais que atribuem sentido a essa linguagem,
para que possam compreender como se escreve, o que se pode
escrever, com que objetivos se escreve, para quem se escreve, quais
as situações em que se escreve e o porquê de se escrever.
Feedback de reforço: As situações em que a escrita faz sentido que
a criança observa em sua realidade a ajuda a aprender a linguagem
escrita adequadamente.
Questão 2 – Resposta: A
Resolução: Embora ter uma “boa fala” não seja pré-requisito
para aprender a escrever bem, na fala, uma série de aspectos e
formalidades da escrita são incorporados. Assim, falar bem é um
produto de modificações na linguagem oral produzidas por um
processo de letramento.
Feedback de reforço: O contato e a compreensão adequada da
linguagem escrita interferem na produção da linguagem oral.
35
Questão 3 – Resposta: B
36
36
Comunicação e linguagem
Autora: Nancy Capretz Batista da Silva
Objetivos
37
1. Interações como palco do desenvolvimento
linguístico
38
38
Assim, podemos empregar a linguagem para regular a conduta de outra
pessoa (venha; dê-me água; pegue a escova; chame-me às sete; etc.), para
informar sobre algo referente a nós mesmos (não gosto de água; vou
entrar em férias; estou cansado, etc.) ou para informar sobre algo que
nos cerca (o carro é vermelho; Maria não vem; é um lápis; o trem está
estragado; etc.). (VILLA, 1995b, p. 71)
39
Assim, a fala se desenvolve seguindo o seguinte ritmo (VILLA, 1995):
• A partir dos seis meses, os bebês prestam cada vez mais atenção
aos sons falados ao seu redor, os quais são imitados, ainda que
imperfeitamente – fase da lalação.
40
40
Quadro 1 – Níveis de estruturação linguística
UNIDADE ESTÁGIO DE
NÍVEL EXEMPLO
MÍNIMA DESENVOLVIMENTO
[ka], [dadadada]
Fonético Som Pré-Fala (0 – 1;0)
[da ‘da]
Fonológico Segmento Sonoro Primeiras Palavras [ka] = CARRO
Lexical Palavra (1;0 – 1;6) [da] = DÁ
Estágio Telegráfico DÁ CARRO
Sintático Frase
(1;6 – 2;0) CARRO PAPAI
Organização e expansão
FAZI
Morfológico Forma dos subsistemas
PICOLERES_
(a partir de 2;0)
JÁ FAZI
Narrativo
Discursivo Texto AMANHÃ
(a partir de 4 anos)
(Protonarrativas)
Fonte: Teixeira, 1995, p. 3 apud ALMEIDA, 2007, p. 34.
41
Desta forma, no trabalho pedagógico, o conhecimento que a criança
já possui deve servir de base e seu vocabulário deve ser estendido e
aperfeiçoado por meio de sua participação em atividades motivadoras e
contextualizadas nas quais a negociação dos significados fornecidos pelo
adulto aconteça (VILLA, 1995).
42
42
Com as experiências pré-escolares e o ingresso, mais adiante, na
escola, dos quatro aos sete anos, a diversificação dos contextos
da fala exige maior clareza e compreensibilidade do que se
produz verbalmente (VILLA, 1995). Quando uma criança chega
à escola, [se não antes] por volta dos quatro anos, já possui um
conhecimento significativo das normas por trás da comunicação
e da linguagem, adquirido paulatinamente nas interações em sua
casa (VALMASEDA, 2004).
Em seguida, dos sete aos doze anos de idade, novos modelos de uso
da linguagem são apresentados, tanto pelas experiências na escola
e com os amigos, quanto pelo acesso compreensivo aos meios de
comunicação e à leitura, os quais proporcionam grande variedade de
conhecimentos (VILLA, 1995a).
43
ASSIMILE
O input linguístico seria o uso que os demais falantes
fazem da linguagem em suas interações (VILLA, 1995),
ou seja, o uso da linguagem que se ouve e observa em
uma comunidade.
44
44
iniciais, além de “contar” histórias para as crianças, diversifique a escolha
dos autores da literatura infantil, de clássicos a contemporâneos, para
que possa haver contato das crianças com estruturas linguísticas e
vocábulos variados, com ajuda do professor para compreensão destes
(TULESKI, CHAVES & BARROCO, 2012).
45
que comecem a generalizar este uso em contextos não observados
anteriormente, o que parece referir-se à primeira noção conceitual.
Assim, contextos interativos diferentes apresentam estilos e modos
de uso da linguagem distintos. É importante ressaltar que a aquisição
e desenvolvimento da atividade linguística implica participação de
situações e atividades sociais motivantes. Por fim, observa-se que
crianças com menos recursos linguísticos percebem uma dificuldade
adicional para o êxito escolar no uso da linguagem. É preciso superar
essa adversidade e ofertar experiências mais significativas e diversas
nas escolas.
TEORIA EM PRÁTICA
46
46
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
a. A dialógica.
b. A pragmática.
c. A morfologia.
d. A ontogenética.
e. A filogenética.
a. A linguagem.
b. A protoconversação.
c. A comunicação.
d. A fala.
e. A lalação.
47
3. No processo de aquisição da linguagem, além
do desenvolvimento da comunicação, qual outro
progresso se observa na criança?
a. Pragmático.
b. Cognitivo.
c. Fonológico.
d. Semântico.
e. Sintático.
Referências bibliográficas
ALMEIDA, R. L. Aquisição das primeiras palavras: um estudo sobre aspectos
linguísticos em interação com ações intelectuais. Dissertação, Universidade Federal
da Bahia, 2007. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/28727/1/
DISSERTA%c3%87%c3%83O%20Risonete%20Lima%20de%20Almeida.pdf. Acesso
em: 5 nov. 2019.
ENRICONE, J. R. B.; SALLES, J. F. Relação entre variáveis psicossociais familiares e
desempenho em leitura/escrita em crianças. Revista Semestral da Associação
Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. v. 15, n. 2, 2011. p. 199-210.
LOMONACO, J. F. B. et al. Desenvolvimento de conceitos: o paradigma das
descobertas. Psicologia Escolar e Educacional, Campinas, v. 4, n. 2, p. 31-39,
dez. 2000.
TULESKI, S. C., CHAVES, M.; BARROCO, S. M. S. Aquisição da linguagem escrita e
intervenções pedagógicas: uma abordagem histórico-cultural. Fractal: Revista de
Psicologia, v. 24, n. 1, p. 27-44, 2012.
VALMASEDA, M. Os problemas de linguagem na escola. In: COLL, C.; MARCHESI, Á.;
PALACIOS, J. (Orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação: transtornos de
desenvolvimento e necessidades educativas especiais. Porto Alegre: Artmed, 2004.
vol. 3. p. 72-89.
VILLAVILLA, I. Aquisição da linguagem. In: COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A.
(Orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia evolutiva. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1995b. v. 1. pp. 69-80.
______. Desenvolvimento da linguagem. In: COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A.
(Orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia evolutiva. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1995a. v. 1. p. 149-164.
48
48
Gabarito
Questão 1 – Resposta: B
Resolução: Em meados dos anos setenta, atentou-se também para
o conhecimento sobre como usar regras fonológicas, semânticas e
sintáticas, ou seja, a pragmática. Aprende-se a falar aprendendo a
anunciar uma intenção e a compartilhar e comentar sobre um tema
com um interlocutor.
Feedback de reforço: Atenção foi dada à linguagem em diferentes
situações comunicativas.
Questão 2 – Resposta: D
Resolução: O bebê pronuncia sua intenção por meio de gestos,
balbucios ou arrastando o adulto até esse objeto antes de falar,
mas reconhece que a fala é mais econômica e eficaz do que os
métodos não verbais.
Feedback de reforço: Aprendemos a dizer as coisas em trocas
verbais, facilitando o entendimento das nossas intenções e o
atendimento das nossas necessidades..
Questão 3 – Resposta: B
Resolução: A interação social que acontece na rotina do bebê,
com regulação do adulto, e sua percepção de objetos a partir dos
três meses de idade, separados das pessoas, permitem que a
comunicação e suas regras se desenvolvam, assim como que haja
um progresso cognitivo.
Feedback de reforço: Os ganhos desenvolvimentais no processo de
aquisição da linguagem são percebidos para além desta área.
49
Metodologia e didática:
competências linguísticas e ensino
Autora: Nancy Capretz Batista da Silva
Objetivos
50
50
1. Competência linguística, desenvolvimento e
aprendizagem
Esta Leitura Fundamental apresenta uma breve discussão sobre
como a competência linguística se relaciona aos processos de
desenvolvimento e aprendizagem no sentido de estimular propostas
de ensino condizentes com o papel da escola, que é ensinar aquilo que
o estudante ainda não sabe. A aquisição da linguagem e da escrita se
dá num processo contínuo e pode se desenvolver a partir de diferentes
elementos pedagógicos.
51
Para entender como é possível modificar esta realidade e trabalhar de
forma apropriada junto à aprendizagem de um indivíduo (que é o foco
de atenção de profissionais da educação), precisa-se ir mais a fundo nas
relações entre o ensino e a linguagem.
52
52
consciente e arbitrária. Isso indica que teríamos o processo
de aprendizagem escolar e o desenvolvimento das funções
correspondentes sempre discrepantes e nunca se observaria o
paralelismo (VYGOTSKY, 2000).
53
Figura 1.1 | O professor dá acesso ao que a criança
ainda não sabe fazer sozinha
Fonte: SolStock/iStock.com.
54
54
1.1 Linguagem, ensino e propostas de trabalho
55
ASSIMILE
De acordo com o Curso de Linguística Geral (SAUSSURE,
2006, p. 80-81), “o signo linguístico une não uma
coisa a uma palavra mas um conceito a uma imagem
acústica [...] Propomo-nos a conservar o termo signo
para designar o total e a substituir conceito e imagem
acústica respectivamente por significado e significante;
estes dois termos têm a vantagem de assinalar a
oposição que os separa”.
56
56
Desde o ambiente familiar até a entrada na escola, o nome da criança
lhe proporciona elementos importantes, como marcas e referências
ao seu mundo. Primeiro, a interpretação de sua escrita (do nome)
não depende do contexto; segundo, facilita o entendimento sobre a
ordenação não aleatória das letras. Mas como a escrita está relacionada
ao que existe, ao fato físico real, como explicado por Emília Ferreiro
(1981, apud TEBEROSKY, 1991), as crianças por volta dos cinco anos de
idade têm dificuldade em aceitar que se escreva sobre a ausência ou
uma informação falsa, por exemplo, “não há flores”.
57
desejos de presentes, objetos para levar a um passeio, receitas de
cozinha; depois enumeram os signos do zodíaco, os países, filmes vistos;
então, listam países e cidades, personagens públicos, animais, como um
exercício de memória e uma prova de informação. Pode-se aproveitar
este interesse em propostas pedagógicas. É interessante observar que,
nesta fase, a disposição do texto é espontaneamente vertical quando
se trata de listas e horizontal quando se trata de diferentes elementos
sintáticos (TEBEROSKY, 1991).
58
58
são atividades importantes na aprendizagem de ler e escrever”
(p. 89), embora a criatividade e a originalidade sejam igualmente
importantes e façam parte da rotina de atividades em classe.
59
pelas suas potencialidades intelectuais. Desta maneira, a zona de
desenvolvimento imediato, proposta por Vygotsky (2000), representa a
possibilidade de a criança passar do que sabe fazer sozinha para o que
sabe fazer em colaboração. Conclui-se que, assim como na linguagem,
a princípio a escrita (conjunto de marcas gráficas), para a criança, é
um objeto, na forma de marcas que acompanham um objeto ou uma
imagem, e não é um objeto simbólico.
TEORIA EM PRÁTICA
Imagine que você foi contratado por uma escola para ajudar
os professores a estimular o aprendizado da escrita nas
crianças de uma forma interessante, ou seja, considerando
fatores motivacionais. Você logo pensa na escrita de nomes
de pessoas e de objetos. Uma professora comenta que já
tentou esta estratégia, propondo a atividade por meio de
escrita espontânea das crianças, mas não obteve sucesso
com parte delas, pois muitas fizeram desenhos e não
conseguiram escrever nada. Quais observações você faria a
esta professora no sentido de manter a atividade, mas alterar
a forma como ela foi proposta? Você poderia informar os
benefícios do uso de modelo como referência para a escrita.
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
60
60
c. Fazê-lo para aprender.
e. Fazê-lo despretensiosamente.
61
3. Para Teberosky (1991), qual a unidade da linguagem?
a. A palavra ou a frase.
b. O fonema ou a sílaba.
c. A letra ou a vogal.
d. A palavra ou o fonema.
e. O texto ou o discurso.
Referências bibliográficas
CORRÊA, L. M. S. (Org.). Aquisição da linguagem e problemas do
desenvolvimento linguístico. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2006.
KRAMER, S.; OSWALD, M. (Orgs.). Didática da linguagem: ensinar a ensinar ou ler e
escrever? Campinas, SP: Papirus, 2001.
MACHADO, M. A. M. P.; PEREIRA, A. F. F.; SPINARDI, A. C. P.; VITTI, S. V. Considerações
sobre a fonoaudiologia na educação infantil. In: LAMÔNICA, D. A. C. Estimulação da
linguagem: aspectos teóricos e práticos. [S.l.]: Pulso editorial, 2008. p. 287-314.
NATIONAL FILM BOARD OF CANADA. A menina que odiava livros. 2006.
Disponível em: https://youtu.be/y8hb5fsnrRM. Acesso em: 5 nov. 2019.
SAUSSURE, F. de. Natureza do signo linguístico. In: Curso de Linguística Geral.
São Paulo: Cultrix, 2006.
TEBEROSKY, A. Psicopedagogia da linguagem escrita. São Paulo: Trajetória
Cultural; Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1991.
VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
ZORZI, J. L. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita: questões clínicas e
educacionais. Porto Alegre: Artmed, 2003.
62
62
Gabarito
Questão 1 – Resposta: B
Resolução: Para Kramer (2001), experimentar a leitura e a escrita
reais é ler e escrever com autoria e fruição e não apenas ter
práticas de leitura e escrita circunscritas ao cumprimento de
exigências escolares.
Feedback de reforço: Aprender a ler e a escrever de verdade
envolve experiências próprias e naturais.
Questão 2 – Resposta: A
Resolução: As propostas de ensino-aprendizagem deveriam
estabelecer uma relação entre as “ideias das crianças” e os
“requisitos do ensino”, os quais seriam, respectivamente, “os
processos psicológicos de apropriação do conhecimento” e “o
imperativo do professor para fazer as crianças avançarem em uma
área particular” (TEBEROSKY, 1991, p. 13).
Feedback de reforço: É necessário um equilíbrio entre como as
crianças aprendem e o papel de ensino do professor.
Questão 3 – Resposta: E
Resolução: Para Teberosky (1991), a unidade da linguagem é o
texto ou o discurso, visto que grande parte dela não se desenvolve
por meio de uma palavra ou frase.
Feedback de reforço: A unidade da linguagem é aquilo com que
nos deparamos naturalmente nas interações, como um todo.
63
64
64