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COTEQ162_03 (a)

A OCORRÊNCIA DE FALHA EM TUBO DE CALDEIRA


DEVIDO AO DANO POR HIDROGÊNIO
Antonio Sergio B. Neves1, Eduardo Rafael Bernasconi 2 (b)

Copyright 2003, 7a Conferencia sobre Tecnologia de Equipamentos

Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação na 7 a Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos, realizada no período de
09 a 12 de Setembro de 2003, em Florianópolis - SC. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pela Comissão Técnica
do Evento, seguindo as informações contidas na sinopse submetida pelo(s) autor(es). O conteúdo do Trabalho Técnico, como
apresentado, não foi revisado pelos patrocinadores do 7 COTEQ. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O
material, conforme apresentado, não necessariamente reflete as opiniões das Associações envolvidas, Sócios e Representantes. É de
conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho Técnico seja publicado nos Anais da 7 ª Conferência sobre Tecnologia de
Equipamentos.

Abstract

An Utility Boiler, rated for 450 t/h, pressure of 14,0 MPa and temperature of 538 ºC was placed in
service in 1960 burning fuel oil, until May 2001 when it was substituted by natural gas. On June 2002,
approximately after one year, three waterwall tube failures have occured. The diagnose made by a
metallurgical investigation has identified the occurence of hydrogen damage in two tubes.

Resumo
Uma caldeira a vapor de usina termelétrica, com capacidade 450 t/h, pressão 14,0 MPa, temperatura
do vapor superaquecido 538 ºC entrou em operação 1960, queimando sempre óleo combustível, até
maio de 2001, quando houve a alteração para gás natural. Em junho de 2002, após aproximadamente
um ano de funcionamento com o novo combustível, ocorreram três rompimentos em tubos de parede
de água. Uma investigação metalúrgica detalhada caracterizou a falha, em dois tubos, como sendo dano
por hidrogênio.
Palavra-chave: Corrosão em Caldeiras; Falhas em Tubos de Caldeira; Dano por Hidrogênio em
Tubos de Caldeira.

Introdução
O dano por hidrogênio é um tipo de falha em tubo de parede de água que ocorre em caldeiras de alta
pressão, acima de 7,0 MPa e que tem a sua origem no desenvolvimento de um processo corrosivo sob
depósito nas paredes internas.

______________________________
1
Engenheiro Eletricista – Consucal-Consultoria Química para Caldeiras S/C Ltda.
2
Engenheiro Metalúrgico – Labotest Consultoria e Tecnologia S/C Ltda.
COTEQ162_03
Nós descrevemos neste trabalho um caso de dano por hidrogênio que ocorreu numa caldeira de Usina
Termoelétrica, onde nós apresentamos o mecanismo básico para explicar a ocorrência da falha
juntamente com a existência de um processo corrosivo interno, uma descarbonetação do tubo de aço
carbono e o aparecimento de microtrincas nos contornos de grão.

Início do Trabalho
1.Mecanismo da falha dano por hidrogênio.
Este tipo de falha em tubos de parede de água de caldeira pode ser classificado em quatro etapas
distintas: processo corrosivo, difusão do hidrogênio, descarbonetação da perlita e aparecimento de
microtrincas nos contornos de grão.

1.1.Processo corrosivo.
O processo corrosivo ocorre nas paredes do tubo da caldeira, numa região de grande transferência de
calor, e sempre com a presença de depósitos. Trata-se de um tipo de corrosão denominada corrosão
sob deposito, em que há uma concentração de contaminantes corrosivos dentro dos depósitos, sobre a
parede interna do tubo.
Estes depósitos são oriundos de produtos de corrosão na água de alimentação, tais como ferro e
geralmente cobre, podendo conter, também, em pequenas quantidades outros elementos presentes na
água da caldeira tais como, cálcio, magnésio, silício, alumínio, sódio e fósforo.
Dependendo do tipo de contaminante que se concentra dentro do deposito, a corrosão na parede do
tubo pode ter um caráter fortemente ácido, baixo pH ou caráter fortemente alcalino, alto pH; entretanto
a ocorrência mais comum é aquela onde existe um pH ácido.
Independente do tipo de corrosão sob depósito, o importante é a geração de hidrogênio resultante
deste processo e que vai provocar o dano no tubo.
(1)
Não há consenso entre os autores sobre o exato mecanismo de corrosão responsável pelo geração
(2,3)
do hidrogênio. Alguns autores citam ambas as condições, ácida e alcalina, enquanto outros
reconhecem somente a condição ácida como sendo a responsável pelo desenvolvimento do hidrogênio.
No caso da ocorrência de um pH ácido, temos a reação:
Fe + 2HCl FeCl2 + H2
No caso da ocorrência de um pH alcalino, temos as seguintes reações:
4NaOH + Fe3O4 2 NaFeO 2 + Na2FeO 2 + 2H2O
Fe + 2NaOH Na2FeO 2 + H2

1.2.Difusão do hidrogênio.
A difusão do hidrogênio acontece na parede do tubo para dentro do aço, onde ele reage com o
carbeto de ferro, cementita para formar o gás metano.
O tempo para ocorrer o dano por hidrogênio, denominado tempo de incubação, é função da
temperatura e da pressão do hidrogênio, conforme apresentado na Figura N°1, conhecida como
(4)
diagrama de Nelson .
Neste diagrama estão traçadas as curvas para tempos de incubação de 100 horas, 1000 horas e
10000 horas. O dano por hidrogênio somente ocorre quanto o ponto de trabalho está situado acima da
curva considerada como tempo de incubação.
Pode ser visto no gráfico a importância da pressão parcial do hidrogênio, sendo que o dano por
hidrogênio ocorre, somente quando esta pressão é maior que 1,0 MPa.
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1.3.Descarbonetação da perlita.
O hidrogênio que migrou para dentro do aço vai reagir com o carbono, do carbeto de ferro da perlita,
no contorno do grão, para formar o gás metano segundo a reação:
Fe3C + 2H2 CH4 + Fe3
Devido ao grande volume molecular do CH4, ele não é capaz de se difundir para fora do aço e fica
acumulado nos contornos de grão.

Figura N°1 – Diagrama de Nelson

1.4.Aparecimento de microtrincas.
Quando uma quantidade de metano é formada nos contornos de grão, há o aparecimento de uma serie
de vazios intergranulares que coalescem, formando microtrincas, enfraquecendo o aço.
A Figura N°2, feita num microscópio eletrônico de varredura, mostra a formação de vazios no
contorno de grão de um tubo de aço carbono.

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Figura Nº2 – Formação de vazios no contorno de grão


1.5.Detecção do dano por hidrogênio.
Os métodos de inspeção disponíveis para a detecção de dano por hidrogênio em tubos de caldeiras
são limitados. Como o dano começa na parte interna do tubo, ele não é detectável pelo exame da
superfície externa como por exemplo réplica metalográfica.
Várias técnicas de ultra-som foram desenvolvidas para detectar a presença de microtrincas nos
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contornos de grão ; entretanto elas não detectam a extensão do dano.
Como o dano por hidrogênio é um processo localizado, as áreas afetadas só podem ser detectadas por
(6)
um ultra-som de varredura como o “B-Scan”

2.A ocorrência de uma falha do tipo dano por hidrogênio em tubo de parede de água caldeira.
A caldeira de 450 t/h e 14,0 MPa, funcionou durante 40 anos queimando sempre óleo combustível, até
maio de 2001, quando houve a alteração para gás natural. Em junho de 2002, após aproximadamente
um ano de funcionamento com o novo combustível, ocorreram três rompimentos em tubos de parede
de água divisória, na altura dos maçaricos.
A Figura Nº3 mostra um pedaço do tubo com a região da fratura.

Figura N°3 – tubo vertical da parede divisória com a ruptura na altura dos maçaricos
A Figura Nº4 mostra um detalhe da fratura do tubo.

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Figura N°4 – detalhe da ruptura de “lábios grossos”

2.1.Existência de um processo corrosivo.


O exame metalográfico, realizado na região da fratura, mostrou a existência de um processo corrosivo
localizado, do tipo pite com a presença de cobre metálico no depósito, conforme mostra a Figura N°5.

Figura N°5 – pite de corrosão com a presença de cobre metálico

2.2.A presença da uma descarbonetação e de trincas intergranulares.


O exame metalográfico, realizado na região do início da fratura, mostrou a existência de uma forte
descarbonetação e de trincas nos contornos de grão, conforme indicado na Figura N°6.

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Figura N°6 – descarbonetação e trincas intergranulares


3.Conclusões.
3.1.A falha ocorrida com o tubo da caldeira ficou bem caracterizada com sendo dano por hidrogênio.
3.2.A troca do combustível na caldeira, em nossa opinião, não foi a causa principal da ocorrência da
falha; entretanto ela acelerou o processo corrosivo na região próxima aos queimadores pelo aumento
da temperatura local resultante do elevação da taxa de transferência de calor.

4-Referências bibliográficas.
(1)HENDRIX, E. David. “The Influence of Water Cycle Chemistry in the Failure of Waterwall Tubes in
a High Pressure Boiler due to Hydrogen Attack”. In: Corrosion 95, Paper Nº 613. Cincinnati, Ohio,
NACE, 1995
(2)FRENCH, David D. Metallurgical Failures in Fóssil Fired Boilers, Second Edition, New York, John
Wiley & Sons,Inc., 1993, pg 335.
(3)PORT, Robert D.& HERR, Harvey M. The Nalco Guide to Boiler Failure Analysis, New York,
McGraw-Hill,Inc., 1991, pg 157.
(4)COHEN, Paul. The ASME Handbook on Water Technology for Thermal Powerr Systems, New
York, ASME, 1989, pg 941.
(5) VERELST, L. et alii. “Hydrogen Damage in Belgian Utility Boilers”. In: Third International
Conference on Boiler Tube Failures in Fossil Plants, Session 8: BTF Mechanisms, pg 8-25. Nashville,
Tennessee, EPRI, November 11-13, 1997.
(6) ARAÚJO, Mauro D. & BERNASCONI, Eduardo R “Análise de Falha em Tubos de Fornalha de
Caldeira por Ataque por Hidrogênio, Avaliação da Extensão dos Danos e Previsão de Vida
Remanescente da Fornalha. Pan-American Conference for Nondestructive Testing - PANNDT
ABEND, Rio de Janeiro, 02-06/06/2003.

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