Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tipologia de projetos em
educação aberta
e a distância
As instituições devem tomar uma série de decisões que envolvem aspectos admi-
nistrativos, financeiros, políticos e outros relacionados à viabilização da proposta
visando à obtenção de resultados positivos.
Nesse aspecto, a escolha das tecnologias, das mídias e das linguagens a serem utilizadas
no processo de ensino-aprendizagem é fundamental para o sucesso dele. Como o leque de
escolhas é muito amplo, abrange desde o já veterano ensino por correspondência às últimas
novidades tecnológicas do mundo digital, é importante ensaiar uma tipologia de projetos de
EAD baseada nas mídias empregadas.
Tipologia é, segundo o Dicionário Michaelis online, uma “caracterização [...] de realidades
quaisquer consideradas num estudo”. Portanto, tipologias não são classificações, pois com
elas não se busca definir classes ou ordens, mas identificar tipos dentro de um conjunto
maior, por meio de suas características distintivas e de seus componentes.
Uma tipologia de projetos de EAD é muito útil para que percebamos a relação exis-
tente entre os recursos didático-tecnológicos e uma proposta pedagógica. Em outras pa-
lavras: uma tipologia revela, para além do aspecto técnico, qual foi a diretriz pedagógica
pela qual se optou ao se instituir determinado curso, a qual contém em si o conceito de
educação que permeará as linhas mestras desse curso e que é coerente à aplicação da
tecnologia e mídias escolhidas.
Tomamos como ponto de partida a tipologia proposta por Gilbert Paquette (1998), da
Télé-Université canadense, e sua reelaboração por Simão Neto (2002) no artigo “Planejando
EAD”, publicado na revista digital Colabor@. Essa classificação trata dos tipos de propostas
de EAD de acordo com as formas de comunicação estabelecidas entre os agentes educa-
cionais, atentando para a intensidade e a natureza das trocas comunicativas que ocorrem
no processo de aprendizagem a distância. Não se trata de escolher qual é o melhor recurso
tecnológico, mas de compreender a especificidade de cada uma das formas comunicativas
utilizadas para os processos educativos.
Além da visão do autor já mencionado, vamos também relacionar os tipos de tendên-
cias da educação contemporânea que apontam para a superação dos espaços, dos agentes e
dos ambientes educacionais tais como os conhecemos.
Esse estudo busca, antes de tudo, contribuir para a reflexão crítica sobre as escolhas e
decisões feitas até este momento, referentes ao campo da educação a distância, bem como às
suas perspectivas que adotam, cada vez mais, novas e promissoras tecnologias.
Antes de começarmos a estudar os tipos de EAD, vale a pena fazermos algumas consi-
derações. A educação a distância é, muitas vezes, reduzida ao termo autoensino ou autoins-
trução. Pensa-se que estudar a distância é sempre um ato individual, isolado e solitário. No
entanto, isso não pode ser verificado quando observamos todo o universo da EAD, que
comporta também sistemas interativos, participativos e colaborativos. Contudo, essa moda-
lidade instiga o desenvolvimento da autonomia de seu aluno, tornando as formas autoins-
trucionais muito comuns ao âmbito da EAD.
É importante ressaltar que estamos entendendo como mediação direta a ação de pro-
fessores, orientadores e outros agentes realizada nos momentos presenciais, quando alunos
e docentes compartilham o mesmo espaço/tempo.
Uma das grandes áreas de pesquisa da psicologia educacional, chamada de aprendiza-
gem ativa, chama a atenção para as formas pelas quais as pessoas regulam e conduzem sua
aprendizagem, com ou sem a presença direta de instrutores e orientadores. Essa metodo-
logia, muito em voga a partir da década de 1990, enfocou a responsabilidade do estudante
para a condução de sua própria aprendizagem. Dessa proposta, decorreram outras como
a aprendizagem por descoberta e o ensino pela pesquisa, que não vamos discutir aqui por não
serem próprias da modalidade a distância.
Para este capítulo, além de conhecer alguns tipos de autoinstrução, vamos buscar com-
preender a relação entre a autoinstrução e a EAD. É importante destacar que nem todas as
formas de autoinstrução que veremos aqui correspondem à educação a distância. Antes
dessa modalidade ser elaborada, algumas formas autoinstrucionais já existiam, tais como
o antigo modelo instrucional de “faça você mesmo1” que não corresponde a uma forma de
EAD no sentido clássico do termo. No entanto, várias técnicas de redação e roteirização de
materiais didáticos para EAD se inspiraram em recursos usados em materiais do tipo D.I.Y.
A autoinstrução assume, pelo menos, dois significados que serão vistos aqui. O primei-
ro afirma ser a autoinstrução todo e qualquer processo de ensino aprendizagem a partir do
qual um aluno estuda sem o controle direto de um professor.
No entanto, o significado mais importante para este capítulo entende a auto-instrução
como um plano deliberado e de longo prazo, originado, planejado e levado a efeito pelo
próprio estudante, sem intervenção direta de professores ou supervisores.
Esse tipo de instrução possibilita ao aluno a capacidade de controlar sua aprendizagem,
posto que ele pode decidir qual o ritmo de sua instrução até o gerenciamento completo do
processo de sua aprendizagem, com o estabelecimento dos objetivos, a seleção dos materiais
didáticos, bem como a escolha do local e do momento que serão destinados aos estudos.
Vale notar que a certa autonomia que alguns tipos de autoinstrução concedem aos seus alu-
nos é um forte fator motivacional para os estudantes.
Nem todos os cursos permitem aos seus alunos definirem ou alterarem aspectos de
sua trajetória de estudos. Com uma autonomia parcial, um programa de ensino pode, por
exemplo, combinar elementos que contam com a autonomia do estudante apenas em cer-
tos momentos do processo de aprendizagem, mesclados com situações mais clássicas de
instrução ou ensino em que são utilizados recursos como aulas e exames. Nesse caso, as
atividades autônomas, que correspondem a uma parcela do curso, podem ocupar maior ou
menor espaço no processo como um todo. Isso também acontece na sala de aula presencial.
Já a autonomia é completa, os estudantes podem ter o controle total das decisões
sobre a sua própria aprendizagem e das ações que conduzem à sua formação integral.
Existem diversos projetos de EAD que visam à autoinstrução. Em seguida, vamos ver
alguns tipos e tecer alguns comentários que o ajudem a compreender o quadro maior da
educação a distância.
A educação aberta pode tomar formas que não são propriamente de autoinstrução ou
mesmo de educação a distância, pois é definida pelo grau de independência do aluno com
relação às estruturas formais de ensino-aprendizagem.
A aproximação entre autoinstrução, educação aberta e educação a distância se dá em di-
versas frentes, entre as quais pode ser citada a questão de o aluno poder escolher os recursos
tecnológicos, a concepção de educação e a produção dos materiais didáticos em formatos
que lhe permita estudar quando, onde e como desejar. Desse modo, o estudo das mídias
mais adequadas é um ponto de convergência entre as modalidades já citadas e outras.
Uma das objeções mais frequentes com relação à EAD é a de que nos faltaria (a nós,
brasileiros) a cultura da autoinstrução, que pode ser observada nos países que possuem
sistemas de EAD bem-sucedidos.
É fato que em alguns países, quando se deseja conhecer um pouco mais sobre determi-
nado a ssunto, geralmente se recorre à procura de um material autoinstrucional que pode
ser encontrado em uma biblioteca, em guias impressos vendidos em bancas de jornais ou
em um vídeo do tipo “faça você mesmo”, disponível em grande quantidade na internet,
em tutoriais do YouTube, por exemplo. Cursos são procurados geralmente quando não se
encontram recursos para a autoaprendizagem.
Muitos fatores limitaram a aceitação da autoaprendizagem e de suas formas no Brasil,
os quais não podem ser atribuídos somente a uma falta de cultura de autoestudo ou à nossa
pouca vocação para o estudo autodirigido ou autônomo.
Entre esses fatores podemos citar: falta de bons materiais autoinstrucionais, em quan-
tidade e qualidade; bibliotecas públicas com acervos desatualizados e pequenos (sem seto-
res dedicados à autoinstrução); EAD incipiente, sem programas consolidados de extensão,
atualização e formação continuada; custo relativamente alto de materiais, mídias e tecnolo-
gias, com consequentes restrições ao acesso a esses recursos.
Neste ponto de nossa reflexão, é recomendável fazermos um pequeno balanço compa-
rativo entre os benefícios que as formas autoinstrutivas podem trazer aos estudantes, aos
educadores, às instituições e à sociedade de uma forma geral. Também buscaremos com-
preender um pouco mais sobre as barreiras e limites impostos ao desenvolvimento desse
tipo de instrução.
3.3.2 Benefícios
Um esclarecimento inicial: evitamos aqui os termos vantagens e desvantagens, porque
não se trata do estabelecimento de uma competição entre modelos de educação excluden-
tes entre si. Por meio deste texto, buscamos identificar as potencialidades oferecidas pela
EAD, as quais possam ser aproveitadas, isoladamente ou em conjunto com outras prove-
nientes de metodologias diferentes, para a construção de propostas de EAD que levem a
bons resultados.
Dentre os benefícios que os processos autoinstrucionais podem trazer para a modalida-
de a distância, destacam-se os seguintes:
• a grande flexibilidade de estudos, pois o aluno pode trabalhar com seus materiais
autoinstrucionais a qualquer hora, em qualquer lugar, desde que tenha acesso às
tecnologias necessárias e que o design pedagógico dos materiais permita essa flexi-
bilidade – de forma linear ou não linear;
3.3.3 Limitações
Dentre as barreiras e limites encontrados pelos processos autoinstrucionais com conse-
quências de maior e de menor repercussão sobre a aceitação dessa forma de estudo, desta-
camos os seguintes:
• ausência de um professor ou tutor para incentivar, apoiar e facilitar a aprendiza-
gem de um estudante individual, assim como a falta de outros estudantes com
quem possa compartilhar experiências e trocar ideias, podem ser significativas
para os estudantes que ainda não desenvolveram autonomia suficiente para con-
duzir seus próprios estudos;
• pouca ou nenhuma interação entre os agentes educacionais, em especial profes-
sor-aluno, aluno-aluno e tutor-aluno pode dificultar a construção de conhecimen-
tos e atitudes que dependem do diálogo e da troca de ideias;
Vygotsky (1988) ensina ainda que não é suficiente ter todo o aparato bio-
lógico da espécie para realizar uma tarefa, se o indivíduo não participa de
ambientes e práticas específicas que propiciem esta aprendizagem. Desse
modo, estes ambientes só serão propícios à interação e interiorização do
conteúdo discutido, se bem orientado pelo professor, pois os agentes (alu-
nos) tem o contato através das discussões em grupo construindo um novo
conhecimento através desta interação.